Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Orientadora:
Profa. Dra Ana Maria Pereira Cardoso
Co-orientador:
Prof. Dr. Carlos Aurélio Pimenta Faria
BELO HORIZONTE
UFMG
2002
ESTADO, MERCADO E REDES TRANSNACIONAIS NA
CONSTITUIÇÃO DA ‘SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO’
Um estudo sobre os princípios norteadores das políticas para a
infra-estrutura de informação
Para Imara e Aiano, meus queridos filhos.
À memória de meus pais, José Nardelli e Maria da Conceição.
Para Nilo, meu neto, que um belo dia me chegou de presente.
ii
AGRADECIMENTOS
Este trabalho é fruto de uma teimosia que começou no momento em que decidi
aplicar-me para o programa de doutorado.
Cinco anos se passaram entre aquele dia e este momento. Cinco anos de muito
esforço para não sucumbir, muito cansaço, muitas dúvidas e muitas brigas. Mas cinco
anos também de frutífera convivência com professores e colegas, de quem tive a
amizade e o apoio. Foram, também, muitas as oportunidades de apresentar e debater os
resultados dos meus estudos, no Brasil e fora dele, em círculos acadêmicos e
profissionais. Foi um tempo em que pude contar com o apoio institucional – formal e
informal – do Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação, PPGCI/UFMG;
da Faculdade de Engenharia e Arquitetura, FEA/FUMEC; e da Empresa de
Informática e Informação do Município de Belo Horizonte, Prodabel. Sem esse apoio
seria, por certo, muito mais difícil chegar ao fim.
Fiquei velha. Muito mais velha do que estaria, se ao invés de ter teimado em
titular-me eu tivesse optado por desfrutar mais a vida. No entanto, sei que não havia
outra opção. Creio que a dita ‘liberdade de escolha’ resume-se, tão somente, à
liberdade de ‘escolhermos fazer exatamente aquilo que temos que fazer’.
Este trabalho é, também, fruto das mais diversas contribuições, pois que é
resultado da produção de conhecimento dos inúmeros outros autores nos quais me
apóio, embora por sua formulação final, caiba a mim responder. Resulta também da
soma de pequenos fatos e gestos cotidianos, e de outros, não tão pequenos e nem tão
regulares, os quais compuseram os meus vários humores ao longo desses anos. Muitas
iii
vezes esses humores foram fortes o bastante para matizarem meu olhar sobre o objeto
de pesquisa.
Há, entretanto, algumas pessoas cuja participação não pode deixar de ser
destacada. Quero, inicialmente, agradecer à professora Ana Maria Pereira Cardoso
que, além de orientadora, foi uma amiga e companheira, que esteve presente até
mesmo em momentos em que a situação estava mais para colo de mãe e, também, em
outros, em que o assunto estava mais para divã de analista. Agradeço também a
colaboração do professor Carlos Aurélio Pimenta de Faria, meu co orientador, por sua
detalhada revisão crítica e pela atenção amiga que me dispensou.
Por fim, quero desculpar-me com os meus filhos, pelas vicissitudes de terem
que conviver com uma ‘mãe em tese’. Acredito que deixei a desejar. Sei, porém, que
este é um tempo passado. E espero que, no futuro, possamos nos lembrar, em relação a
ele, como um tempo em que, em meio ao caos, nossas vidas seguiam seu curso.
v
SUMÁRIO
RESUMO............................................................................................................ xi
ABSTRACT........................................................................................................ xii
ABSTRACTO...................................................................................................... xiii
5 CONCLUSÕES................................................................................................ 206
6 REFERÊNCIAS............................................................................................... 221
LISTA DE SIGLAS
UE - União Européia
US - United States
RESUMO
ABSTRACT
This work discusses the origin and the diffusion, throughout the 1990s, of initiatives
for the constitution of a global ‘information society’. It focuses on the initiatives
proposed by the United States and by the European Union and their diffusion. The
hypothesis is that those initiatives are part of an asymmetric process of economic
internationalization and of extension of the consumption to contexts previously not
mercantile. In this sense, those initiatives are taken as a kind of ' communication and
information policy' that, based on an international regime, intends to assure a
technological platform capable to enable an economy free from territorial borders.
The adopted perspective includes these initiatives as part of the neoliberal ideology
and of the 'unique thought', oriented in order to promote – technologically – the
deepening, under the hegemony of the United States, of the processes of economic
internationalization and of the expansion of consumption. The theoretical framework
includes the perspectives that relate information and communication technologies with
social change, the globalization and the 'consumption society' concepts, the neoliberal
ideology and the emerging of the international governance regimes.
It is noted on the documents the presence of an ideological speech related to the 1970s
‘information society ideas’ and to the 'unique thought' forged in the 1980s. The
primacy of the market principles, the centrality of the international dimension and the
privatization of the public sphere are pointed out. The privatization of the public
sphere is observed, taking into consideration the new roles of the public sector. The
changes that moved the information superhighway from the 1980s towards the internet
technology are also discussed. Evidences are supplied that confirm the hypothesis that
the initiatives of the ‘global information society’ are oriented to deepening the
‘marketization’ of the society, to the formation of a consumer body and to the
confirmation of the asymmetric interdependent internationalization process.
ABSTRACTO
1. INTRODUÇÃO
Milton Santos
1
O pensamento único é considerado como a tradução, “em termos ideológicos, dos interesses
de um conjunto de forças econômicas, em particular do capital internacional, em ‘interesse
geral’ com pretensão universal. Suas fontes principais são as grandes instituições
econômicas e financeiras – Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Organização Mundial do Comércio,
Comissão Européia, Bundesbank, Banque de France, etc – que, através do seu
financiamento, alistam centros de pesquisa, universidades, fundações, a serviço de suas
idéias, os quais, por sua vez, aprimoram e difundem a boa palavra por todo o planeta”
(RAMONET, 1998).
2
2
A funcionalidade da ‘infra-estrutura de informação’ como tecnologia que redimensiona a
relevância do espaço e ‘elimina’ o tempo na economia capitalista é essencial aos
argumentos da globalização. Esse redimensionamento permite que o mercado financeiro
possa atuar em ‘tempo real’ e que a divisão internacional do trabalho seja reformulada em
virtude das inovações na organização e coordenação da produção.
3
Texto original em língua espanhola. Sua versão para o português assim como a versão das
demais citações lidas no original em língua espanhola ou inglesa foram feitas pela autora
desta tese.
4
Ver, a propósito, Cardoso (1996), Wersig (1991), Saracevic (1996), Araújo e Freire (2001).
3
DDD
5
Nehmy (2001) aborda o tema de ‘sociedade do conhecimento’.
4
6
Um processo de internacionalização que se dá, como destacam Keohane e Nye (2000) e
Canclini (1999), de forma interdependente e assimétrica.
5
Tal quadro, paradoxal, que busca estabelecer uma dimensão global para a infra-
estrutura de informação e requer a autoridade dos estados nacionais para impor a sua
regulação, evidencia a dimensão ideológica do discurso do ‘livre mercado’. Por sua
vez, a efetividade dessa dimensão ideológica revela-se na subordinação que impõe às
políticas nacionais, ao demandar dos governos que assegurem – no âmbito de cada
país – o cumprimento das suas regras de funcionamento.
7
Como colocado por Aun (1997), tais políticas estariam ganhando importância entre as
políticas públicas dos governos de países industrializados, que procurariam reorientá-las de
forma a facilitarem sua atuação no mercado global. Nesse sentido, seriam reveladoras da
tendência a “harmonizar as instâncias nacionais e suas especificidades culturais com as
demandas internacionais e sua perspectiva mercadológica” (p.45). Seus objetivos estariam
marcados pela tensão entre a “natureza de informação com significado de ‘bem público’,
característica original que lhe confere a propriedade de transferência e de livre acesso na
distribuição, e a informação como produto ou serviço de valor agregado”, ou seja como
‘bem mercadológico’. Por essa razão essas políticas vão incluir discussões relativas a
“acesso versus privacidade, serviços de informação universais, propriedade intelectual,
liberdade de expressão, além das considerações econômicas e técnicas, com o maior
envolvimento do setor privado” (idem).
7
8
O termo ‘tríade’ é utilizado por diversos autores, entre eles Fiori (1998a), Ramonet (1998),
Hirst e Thompson (1998), para referirem-se aos EEUU, Japão e União Européia.
8
necessário à regulação, tanto nos seus aspectos tecnológicos como comerciais e legais,
das redes de telecomunicações ‘liberalizadas e privatizadas’, elementos fundamentais
dessa infra-estrutura.
9
O “Novo Aurélio – Século XXI” (FERREIRA, 1999) e o “Oxford Advanced Learner’s
Dictionary” (COWIE, 1989) não contemplam o termo ‘societal’. Já o “Dictionary of
Sociology” (ABERCOMBIE et. al., 1994) define o mesmo como “referindo-se às
características de uma sociedade como um todo”, que é o sentido segundo o qual o termo
tem sido utilizado na literatura em inglês, no contexto das políticas de informação.
‘Societal’ refere-se, portanto, às instituições sociais mais gerais da sociedade e, assim,
engloba questões ‘sociais e culturais’. Portanto, tal como utilizado – e como estará sendo
usado no presente trabalho – refere-se às relações estruturais da sociedade, às regras mais
gerais que caracterizam a organização dessa sociedade, como, por exemplo, as relações
sociais de produção entre capital e trabalho, as relações entre indivíduo e sociedade.
10
Conforme Miranda et.al. (2000) “os recursos, produtos e serviços de informação são
identificados na internet com o nome genérico de conteúdos” (p.1). A despeito da
redundância, optamos por utilizar essa denominação acompanhada do qualificativo
‘informacional’ com vistas a tornar mais claro o termo, que não é auto explicativo e nem de
domínio geral.
11
Nesse sentido, como comentado por Aun (2001), do ponto de vista da União Européia seriam
indispensáveis, entre outras, as iniciativas de formação profissional inovadoras “a fim de
familiarizar os trabalhadores com as novas possibilidades profissionais oferecidas aos
participantes da Sociedade da Informação” (p. 99).
9
Vamos observar uma preocupação, tanto da União Européia como dos EEUU,
de incorporar a participação dos países periféricos nas suas iniciativas. Entretanto,
como alguns autores chamam atenção, as condições de participação destes países
foram, e têm sido sempre, explicitamente desiguais, o que se evidencia pela
desigualdade das trocas informacionais das quais participam (MATTELART, 1994;
BABE, 1995), pela sua participação secundária nos projetos de pesquisa e
desenvolvimento - P&D -, excluídos que são da pesquisa básica (TAKAHASHI,
2000), e pela inequívoca assimetria de poder, claramente desfavorável para esses
países, nas instâncias internacionais e transnacionais (HIRST; THOMPSON, 1998), na
definição dos termos comerciais e das diretrizes técnicas e tecnológicas relativas às
regras para a infra-estrutura de informação.
12
URL: http://www.unesco.org/webworld/future.
13
Trata-se do “Connecting the Globe – A Regulator’s Guide to Building a Global Information
Community”.
14
A ênfase nos aspectos sociais, societais e culturais específica dos documentos preparados
pela União Européia decorre do fato de constituir-se a mesma em uma entidade
supranacional da qual participam países de características culturais, linguísticas, econômicas
e sociais muito diversificadas.
15
A “USA National Information Infrastructure Virtual Library” (NIST, 1996d) é uma página
na internet destinada ao projeto “Global Inventory Project” (NIST, 1996c) a partir da qual
têm-se referências específicas para iniciativas e instâncias relacionadas com a ‘infra-
estrutura nacional de informação’, a NII dos EEUU. Tem-se aí, também, acesso ao conjunto
dos projetos integrantes do “G8 Pilot Projects” e, especificamente, àqueles desenvolvidos
nos EEUU, a saber, o “Global Inventory Project”, o “G8 SME” e o “G8 Global Marketplace
SME testbeds”, projetos estes definidos na Conferência do G7 em Bruxelas, 1995.
11
18
A adoção da ‘tecnologia internet’ nos termos postos por Takahashi e Bastos (2001) é
“refletida em conceitos e técnicas como ‘packet switching’, ‘voice over IP’, ‘IP over fiber’,
etc.”, segundo esses autores, permitem “vislumbrar para o futuro (e planejar concretamente)
uma única infra-estrutura física e lógica que servirá para tudo: voz, rádio, televisão e, até...
acesso à internet” (p.2, grifo nosso). Note-se que, tal como considerada, a ‘tecnologia
internet’ vai muito além do que é usualmente referido como ‘internet’. Neste último
sentido, como uma alternativa de comunicação e informação, entre várias outras, a internet
tem origem nos anos 1960.
14
Milton Santos
o qual, desde a Segunda Guerra, havia sido “sustentado por estratégias de ativa
intervenção estatal nacional e por um regime de administração multilateral da política
comercial e monetária, sob hegemonia dos Estados Unidos” (HIRST; THOMPSON,
1998). Foram elementos dessa crise o colapso do sistema Bretton Woods e a crise do
petróleo da OPEP, sendo um de seus resultados um processo acelerado de inflação. A
partir dessa crise, tanto o Estado como a organização da produção econômica serão
alvo de mudanças Significativas.
Como Afirmam Hirst e Thompson (1998), o consenso que havia sido difundido,
entre as décadas de 1950 e 1960, de que o “futuro pertencia a um capitalismo sem
perdedores seguramente administrado por governos nacionais atuando em conjunto”
(p.20), foi substituído nas décadas seguintes, de 1980 e 1990, pelo consenso
Assim, como resposta ao capitalismo em crise, vão ser retomadas antigas teses
do liberalismo econômico e, em seguida, atualizadas sob a forma de um
‘neoliberalismo’ que admite a presença do Estado na economia desde que para
assegurar os interesses de um mercado desregulamentado. Como algo suspenso entre o
tecido internacional e as corporações de empresas, esse mercado, que se afirma global,
demanda regras que não se limitem às fronteiras nacionais e que precisam ser
apreendidas como resultantes da harmonização dos múltiplos interesses envolvidos no
seu funcionamento. Um contexto como esse vai sugerir a instauração de regimes de
19
Estamos nos referindo como ‘literatura institucional’ à literatura produzida por instâncias e
órgãos vinculados ao setor governamental, tais como proposições, projetos, planos de ação,
agendas, etc.
16
20
Esse comentário tem, obviamente, como referência, as relações internacionais em tempos de
‘paz’.
17
Como colocado por Canclini (1999), trata-se de uma sociedade que, nas últimas
décadas, impulsionou um modelo no qual muitas das funções do Estado
desapareceram ou foram assumidas por corporações privadas. Para esse autor, a
participação social teria passado a se organizar mais através do consumo, permitindo-
lhe considerar, nesse sentido, o consumo como parte do processo de formação de
cidadania.
21
Discutindo as perspectivas que as novas tecnologias abririam para o socialismo, Garcia
(2001) aponta a privatização das telecomunicações, a ‘colonização das redes’ e o loteamento
do campo eletromagnético como formas de o ‘capital global’ controlar o acesso e a
exploração do ciberespaço. Conforme este palestrista, a economia vai passar a ter o seu
comportamento analisado por simulações cada vez mais complexas, não mais baseadas na
18
portanto, um papel ativo para o Estado, na economia. Segundo Fiori (1998b) “pode-se
dizer que foi dessa linha de rebeldia (...) que se abriram as condições de possibilidade
teórica, mais tarde transformada em vontade política, de estudar e propor estratégias de
indução do desenvolvimento econômico” (p.69).
na medida em que essa desigualdade era potencialmente superável. Os países que não
haviam crescido como as economias pioneiras poderiam vencer as desigualdades e
reduzir as distâncias econômicas e sociais, a partir da intervenção de fatores extra-
mercado, como forma de sustentar um crescimento a uma velocidade superior à gerada
espontaneamente pelo funcionamento do mercado.
para seus primeiros formuladores, era uma (...) heterodoxia dizer que
não só o Estado devia intervir no curto prazo para controlar o ciclo
potencialidade, ou ‘virtualidade’.
20
Esse autor faz referência, inclusive, a estudos nos quais se encontra a idéia “do
atraso como vantagem, como uma força que pode ser virtuosa do ponto de vista da
aceleração do crescimento” (p.70), dada a possibilidade de serem aceleradas rumo a
um estágio tecnológico mais avançado sem precisar reproduzir o caminho de seus
pioneiros.22
O laissez faire ressurgiu como ideário pelas mãos de economistas como Milton
Friedman, num quadro em que o setor público estatal era fortemente criticado por
ideólogos liberais e questionado pela opinião pública. Suas teses foram aplicadas de
forma rigorosa nos EEUU, por Ronald Reagan, e, no Reino Unido, por Margareth
Thatcher, no curso da década de 1980. Suas conseqüências sociais foram, entre outras,
o agravamento das desigualdades, o aumento do desemprego, a desindustrialização, a
degradação dos serviços públicos (RAMONET, 1998, p.25).
22
O que é conhecido como estratégia de catch up.
22
23
A partir de 1995 o GATT foi substituído pela Organização Mundial do Comércio – OMC
(RAMONET, 1998, p.53).
24
A força de trabalho organizado.
25
O governo do Estado do bem estar social.
23
Outro ponto que nos interessa são as relações internacionais, as quais são
sempre desiguais, assimétricas, hierárquicas. Como destacado por Fiori (1998b), “a
questão é como se particularizam, em cada momento histórico, essas assimetrias e
como se define o eixo central das relações entre os hierarquicamente diferentes” (p.
77). Chega-se, então, ao terceiro ponto a destacar, o qual se refere aos meios com que
esse poder diferencial é exercido, num contexto em que os interesses e relações
internacionais se imbricam, explicitamente, aos interesses e relações
interorganizacionais de setores da esfera privada e do ‘terceiro setor’. Esse contexto,
que tem sido referenciado como ‘globalização’, é o foco da discussão que se segue.
24
2.1.1 A ‘globalização’
Sua construção ideológica tem origem na turbulência dos anos 1970, após o
prolongado período de crescimento econômico e de pleno emprego nos países centrais
– o qual, como mencionamos, se sustentou com a ativa intervenção dos estados
nacionais e a partir de um regime multilateral de administração, sob a hegemonia dos
EEUU, da política comercial e monetária. Aquela década presenciou numerosas e
significativas mudanças, num quadro de colapso do sistema de Bretton Woods e crise
do petróleo da OPEP, com os esforços das instituições financeiras e dos setores
industriais para compensarem a incerteza doméstica buscando canais mais amplos para
investimentos e mercados adicionais; a aceleração da política pública de
internacionalização dos mercados financeiros; a tendência à ‘desindustrialização’ na
Inglaterra e nos EEUU; o desenvolvimento relativamente rápido de vários ‘novos’
países industrializados do Terceiro Mundo e sua penetração nos mercados do Primeiro
26
Neste trabalho estaremos utilizando o termo ‘exclusão’ para nos referirmos às “formas
anômalas e injustas de inclusão” social, como bem coloca José de Souza Martins. Esse autor
critica a concepção de ‘exclusão’ e da ideologia dela decorrente, por considerar que a
mesma “oculta o verdadeiro problema a ser debatido e a ser resolvido: as formas perversas
de inclusão social que decorrem de um modelo de reprodução ampliada do capital, que, no
limite, produz escravidão, desenraizamentos, pobreza e também ilusões de inserção social”
(MARTINS, 2002). Nesse sentido, a ‘exclusão’ ocupa o lugar da ‘marginalidade’, termo
utilizado nas décadas de 1960 e 1970, para referir-se ao processo desigual de
desenvolvimento econômico e urbanização ocorrido nos países do Terceiro Mundo.
25
27
A Rodada Uruguai de negociações do GATT, em 1994, bem como a formação da OMC entre
1994/1995 formalizaram o atual modus operandi do comércio mundial. (HIRST;
THOMPSON, 1998).
28
Como coloca Quéau (1998), a concepção de uma ‘civilização global’ é um “sonho sectário de
uma minoria extremamente privilegiada (“os senhores globais”), um grupo muito pequeno
26
deste planeta. A maioria esmagadora não vive, não compreende e menos ainda se beneficia
da globalização, embora esteja de fato sofrendo suas conseqüências e seja direta ou
indiretamente afetada por ela de modo efetivo e profundo” (p.198)
29
Esses autores fazem a distinção entre corporação multinacional e corporação transnacional,
entendendo que esta última refere-se à corporação que “não poderia ser controlada ou
27
mesmo restringida pelas políticas de Estados nacionais particulares. Ou melhor, ela poderia
praticamente escapar dos padrões de regulação internacionais comumente aceitos e em
vigor” (p.29).
28
mercados nacionais continuam preponderantes como, além disso, até as empresas que
operam intensamente no campo internacional continuam mantendo seu vínculo com os
países de origem, o que permite identificar claramente o centro de gravidade nacional
dessas empresas, não se podendo, portanto, considerá-las como ‘empresas
transnacionais’.
Por sua vez, em relação à globalização, Santos (2001) vai falar da necessidade
de serem levados em conta “três mundos num só” a saber, “o mundo tal qual nos
fazem vê-lo: a globalização como fábula; (...) o mundo tal como ele é: a globalização
como perversidade; e o terceiro, o mundo como ele pode ser: uma outra globalização.”
(p.18)
Visto como fábula, o mundo globalizado “erige como verdade um certo número
de fantasias, cuja repetição (...) acaba por se tornar uma base aparentemente sólida de
sua interpretação”, afirma esse autor. Ademais, para a grande maioria da humanidade,
essa globalização se impõe como uma perversidade que está na raiz da “evolução
negativa da humanidade [e que se relaciona] com a adesão desenfreada aos
comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas”
(SANTOS, 2001, p.20). Entretanto, esse autor acredita possível a construção de um
outro mundo a partir de uma “globalização mais humana”, obtenível tendo por bases
técnicas aquelas atualmente disponíveis, porém “postas a serviço de outros
fundamentos sociais e políticos” (p.20).
Com relação à unicidade da técnica, Santos (2001) destaca que a época atual
tem, como elemento representativo do seu sistema de técnicas, a técnica da
informação, por intermédio da cibernética, da informática e da eletrônica. Esta técnica
vai possibilitar que as demais técnicas existentes possam se comunicar e vai permitir,
em todos os lugares, “a convergência dos momentos, assegurando a simultaneidade
das ações” (p.25). Esse conhecimento instantâneo do acontecer do outro, que Santos
(2001) denomina de unicidade do tempo ou convergência dos momentos, é o chamado
‘tempo real’. Um tempo real que não existe para todos, mas apenas para uma parte dos
atores, ainda que potencialmente exista para todos. Quanto à ‘mais valia universal’,
Santos (2001) entende que a mesma tem como uma de suas formas de exercício a atual
competitividade das empresas:
A política passa a ser feita no mercado, mas esse ‘mercado global’ não existe
como ator e sim como ideologia, como símbolo. Atores são “as empresas globais, que
não têm preocupações éticas nem finalísticas” (p.67). Como destaca esse autor,
assiste-se a uma política feita pelas empresas, especialmente pelas maiores.
Destacando, como a grande mutação tecnológica, a emergência das técnicas da
informação, Santos (2001) é otimista quanto às possibilidades de democratização da
sua utilização. Nesse sentido, como técnicas constitucionalmente divisíveis, flexíveis e
dóceis, adaptáveis a todos os meios e culturas, esse autor acredita que “essas técnicas
doces (sic) estarão ao serviço do homem” (p.174).
Esses autores chamam atenção para o fato de que nem o globalismo significa
universalidade e nem a globalização significa o aumento da equidade ou a
homogeneização social ou econômica. Muito ao contrário, reconhecem que a
globalização tem sido acompanhada do aumento do hiato entre ricos e pobres.
30
As novas dimensões dessa ‘globalização’ estão relacionadas com a emergência de um
sistema mundial de interligações de redes privadas entre os principais bancos e empresas
manufatureiras e de serviços nos países da tríade.
35
das redes de informação (RAMONET, 1998). Nesse sentido, esse autor afirma ainda
que “a tecno-utopia da sociedade da informação serve à nova classe dirigente
planetária para afirmar e fazer aceitar a mundialização, isto é, a liberalização total de
todo mercado, por toda parte no mundo” (p.147).
Como afirma Mansell (1994), citado por Cassiolato (1997), “em todas as
variantes das teses sobre a inevitabilidade da globalização, o sistema de redes
telemáticas, de caráter global, é apontado como o eixo principal necessário ao
desenvolvimento dos novos paradigmas produtivos globais” (p.30). A partir dessa
infra-estrutura, tanto a produção e o marketing podem ser conectados no âmbito de
todo o globo, como se torna possível o desenvolvimento de novas estratégias de
interação entre fornecedores, clientes e concorrentes que resultem no aumento da
produtividade (CASSIOLATO, 1997).
Por sua vez, essa ‘sociedade da informação’ demanda uma forma de regulação
que não se restringe aos limites das fronteiras dos estados nacionais. Nesse contexto,
grupos privados, mais poderosos que estados, apropriam-se da informação, enquanto
grupos industriais lutam para controlar os recursos multimídia e as super autopistas de
informação, enquanto os governos submetem-se às instruções gerais da política
econômica definida pelo FMI, pelo Banco Mundial ou pela OMC (RAMONET, 1998).
Ao favorecerem o monetarismo, a desregulamentação, o livre-comércio, o livre fluxo
de capitais e as privatizações maciças, os governos transferem da esfera pública para a
esfera privada decisões essenciais para as sociedades nacionais, a exemplo das
decisões acerca dos investimentos da saúde e educação públicas, da proteção ao meio
ambiente.32 Como ressalta Ramonet (1998), “a globalização e a desregulamentação da
economia favoreceram a emergência de novos poderes que, com a ajuda das
31
Garcia (2001) destaca o maior interesse do capitalismo ‘de ponta’ no controle dos processos
em lugar do controle dos produtos. Com isso o capital, antes de tudo, o capital financeiro,
começa a deslocar-se para o campo do virtual.
32
Há, inclusive, aqueles como Fukuyama (1996), que afirmam que a principal tarefa do Estado
no mundo virtual da informação e das transações eletrônicas é a proteção dos direitos de
propriedade intelectual e a solução dos delitos internacionais.
36
33
Não se pode deixar de considerar aqui um outro aspecto de importância particular para os
EEUU em relação ao desenvolvimento e utilização das tecnologias de informação. Trata-se
de ser este um recurso que potencializa o poderio político e militar desse país. Na medida
em que liderem a ‘revolução da informação’, os EEUU serão mais poderosos que qualquer
outro, com base na “capacidade para recolher, elaborar, atuar sobre e disseminar
informação, uma vantagem que quase certamente aumentará durante a próxima década”
(NYE; OWENS, 1996). Ao dominar as tecnologias de comunicação e de elaboração de
informação, os EEUU podem manter a “vigilância do espaço, de transmissões diretas,
computadores de alta velocidade” e dispor de uma incomparável capacidade para integrar
sistemas complexos de informação, na medida em que haverá tecnologias com uma enorme
capacidade de reunir, classificar, elaborar, transferir e visualizar informação relativas às
mais diversas áreas geográficas, o que permite inovar as formas de comando, controle,
comunicações e processamento por computadores. Entre as vantagens daí decorrentes está a
capacidade de dissuadir ou derrotar ameaças militares tradicionais a um custo relativamente
baixo; o fortalecimento do vínculo intelectual entre política externa e poderio militar dos
37
EEUU porque grande parte do ímpeto para a ‘revolução da informação’ vem desse
país, no qual, adicionalmente, grande parte do conteúdo das redes de informação
globais é criado.34
evidencia que “os mercados globais de modo algum estão (...) fora da regulação36 e do
controle, ainda que o alcance atual e os objetivos da governabilidade37 econômica
sejam limitados pelos interesses divergentes das grandes potências e pelas doutrinas
econômicas que prevalecerem entre suas elites” (HIRST; THOMPSON, 1998, p.15).
36
Como conceito, o termo regulação apresenta um elevado grau de imprecisão, decorrente dos
seus diferentes modelos de apreensão. Pode significar tanto controle como equilíbrio e
mediação de conflitos e tem sido mais aplicado recentemente para justificar as recentes
mudanças no papel do Estado. Tal aplicação tem sido feita mais no sentido de legitimar as
reformas do que para sugerir um aumento da complexidade e sofisticação desse papel
(HEBER; FISCHER, 2000).
37
‘ Por ‘governabilidade’ os autores entendem “o controle de uma atividade, por alguns meios,
de modo que o conjunto de resultados desejados seja obtido (...) [sendo] uma função que
pode ser desempenhada por uma ampla variedade de instituições e práticas públicas e
privadas, estatais e não estatais, nacionais e internacionais” (HIRST; THOMPSON, 1998,
p.284). O sentido que dão a esse termo é, portanto, o de conjunto de instâncias, atores e
instrumentos através dos quais são estabelecidas diretrizes e rumos que orientam as políticas
públicas. Já a governança, esta é entendida por (KEOHANE; NYE, 2000) como “os
processos e instituições – formais e informais – que guiam e restringem as atividades
coletivas de um grupo”, dos quais o governo é o detentor da autoridade capaz de criar
obrigações formais. “A governança não precisa ser (...) conduzida, exclusivamente, por
governos e pelas organizações internacionais às quais estes delegam autoridade” (p.12).
Nessa concepção, empresas privadas, associações de empresas, organizações não
governamentais e associações de organizações não governamentais comprometem-se com a
governança, às vezes até mesmo sem a autoridade governamental. Por sua vez, conforme
definida por Eli Diniz, a governança é “a capacidade governativa no sentido amplo,
envolvendo a capacidade de ação estatal na implementação das políticas e na consecução
das metas coletivas”. Ainda segundo essa autora, a governance resultaria de pressões
internacionais como forma de governar com maior flexibilidade, ao descentralizar funções e
transferir responsabilidades a parceiros sociais (Diniz (1996), citada em Aun (2001, p.66) e
em (JARDIM, 2000, p.1)). Conforme colocado por este último, a discussão mais recente do
conceito de governança “teria ultrapassado seus aspectos operacionais, incorporando novos
elementos. ‘Incluem-se aí, não apenas os mecanismos tradicionais de agregação e
articulação de interesses, tais como partidos políticos e grupos de pressão, como também
redes sociais informais (de fornecedores, famílias, gerentes), hierarquias e associações de
diversos tipos’. Por outro lado, a ampliação do conceito de governance teria tornado mais
imprecisa, segundo alguns autores, sua distinção do conceito de governabilidade”
(JARDIM, 2000, p.2).
39
38
Esses argumentos estão presentes na teoria dos ‘mercados contestáveis’ de Baumol, que
afirma que a operação desses mercados é eficiente e reproduz os resultados da ‘concorrência
perfeita’ se não existem restrições institucionais, vantagem absoluta de custos, diferenciação
de produto ou qualquer outra restrição à entrada, se não existirem barreiras à saída e se o
tempo de resposta da firma já estabelecida à eventual entrada de uma concorrente for maior
do que o tempo que esta leva para iniciar suas operações (AZEVEDO, 2002). Essa
‘liberdade absoluta’ de entrada e saída das firmas em determinado mercado está associada à
‘perfeita contestabilidade’ do mercado.
42
Assim, embora mantendo o uso do termo, Keohane e Nye (2000) vão afirmar a
necessidade de uma forma coerente de governança, por considerarem que “sem
regulação – ou o que foi tradicionalmente denominado de ‘proteção’- a insegurança
pessoal para grande parte dos indivíduos poderá se tornar intolerável” (p.14).
39
Conforme colocado pelos autores, o “papel do Estado democrático como possuidor de um
território cuja população ele regula lhe dá uma legitimidade definida internacionalmente de
modo que nenhuma outra agência poderia ter, no que diz respeito ao que ele pode dizer para
aquela população” (HIRST; THOMPSON, 1998, p.264).
47
dos argumentos que falam de sua desterritorialização. Inicialmente porque, por si só, o
mercado não se regula, na medida em que não dispõe de qualquer mecanismo capaz de
estabelecer sequer um princípio original, para o que é preciso que alguma entidade,
dotada de poder, estabeleça as regras e seja capaz de as fazer cumprir.
Para serem válidas nos territórios, essas regras precisam do Estado, que é a
instância dotada de autoridade para impô-las. Além disso, o capital ainda mantém suas
bases territoriais - e, portanto, nacionais – até mesmo para dispor de uma instância
nacional para defender-lhe os interesses -, não sendo, portanto, como afirmam alguns,
um capital transnacional.
40
Seria, a nosso ver, uma ingenuidade acreditar na universalidade das ‘questões globais’ e na
neutralidade do elenco de prioridades delas decorrente, como se as mesmas não possuíssem
uma territorialidade na sua origem.
48
a produção humana é realizada é que passam a ser as ‘chaves’ para a constatação das
transformações (MALIN, 1994).
Entretanto, essa não é a única perspectiva que toma como foco específico as
tecnologias de informação e comunicação. Além da idéia de ‘sociedade da
informação’, outras abordagens, tendo também esse foco, vão buscar compreender as
intensas mudanças sociais que ocorrem a partir da década de 1970, cujo ‘momento
decisivo’ foi chamado de ‘revolução da informação e da comunicação’, com seus
impactos sobre o trabalho e as empresas, num quadro de crise das ideologias políticas
e das crenças culturais.
41
Uma consideração mais elaborada dessa perspectiva destaca a convergência e a imbricação
entre telecomunicações e computação. Seu argumento é o de que o barateamento das
tecnologias de armazenamento e processamento da informação associado com o
desenvolvimento das telecomunicações possibilitaram a interligação dos centros
computadorizados juntamente com o próprio desenvolvimento geral da computação,
resultando no aumento do gerenciamento e na possibilidade de distribuição extensiva da
informação.
42
Conforme Malin (1994), “os novos critérios de classificação estabelecidos para reagrupar a
estrutura produtiva da sociedade em quatro setores [os três setores tradicionais e mais um
quarto setor, o ‘setor informação’] pressupõem que a atividade de informação inclui todos
os recursos envolvidos na produção, processamento e distribuição de mercadorias e serviços
de informação. O resultado é um Setor Informativo amplo, incluindo atividades até então
consideradas díspares e pertencentes a mundos diferentes, como os serviços de jornalismo, a
pesquisa científica, a produção de computadores e a burocracia” (p.12). Alguns trabalhos
têm como categorias os setores primário e secundário da informação e o setor não
informacional. Outros autores, considerando a predominância funcional, utilizam como
critérios de classificação as ‘atividades de informação’ estabelecendo como categorias
educação, meios de comunicação, máquinas de informação, serviços de informação. O
conceito de ‘atividades em informação’ foi formulado por (PORAT, 1977) e deu origem a
uma linha de trabalho de análise e mensuração da ‘economia da informação’.
51
Por sua vez, Webster (1997), que argumenta não se tratar de ‘revolução’, busca
evidenciar os limites das análises que defendem tal perspectiva, destancando a
ausência de condições que, a rigor, confirmariam o caráter revolucionário das
mudanças. Esse autor destaca, nos argumentos apresentados em tais análises, a
ausência de qualquer possibilidade de transformação qualitativa, que aponte para
mudanças estruturais na organização da sociedade.
Tanto Webster (1997) como Kumar (1997) consideram que os argumentos dos
autores que falam do advento de uma ‘nova’ sociedade estão calcados em mudanças
quantitativas que não resultam em alterações estruturais, mas apenas aceleram ou
agudizam processos sociais já em curso, o que, portanto, não lhes confere o caráter
revolucionário atribuído às revoluções ‘agrícola’ e ‘industrial’.
De uma perspectiva que associa o que hoje tem sido chamado de ‘revolução da
informação’ à ‘revolução da comunicação’ dos anos 1960, Mattelart (1994) ressalta,
sobretudo, o fenômeno comunicacional. Para isso faz um histórico das idéias e das
estratégias que culminaram nesse fenômeno, tendo como eixo a amplificação dos
efeitos da ideologia43 pela via das comunicações de massa. Esse autor busca
compreender como se dá a banalização de processos sociais complexos através da sua
disseminação e popularização, sintetizada em palavras de ordem como
‘modernização’, ‘desenvolvimento’, ‘segurança’, ‘globalização’, ‘era da informação’.
43
Para esse autor, as ideologias – no seu sentido ´forte´, como distingue Bobbio (1995) - são
conformadas e disseminadas por intermédio da educação, treinamento, persuasão,
mobilização de certos sentimentos sociais e propensões psicológicas. São, adicionalmente,
52
Em um trabalho que tem como foco a análise dos principais gêneros de discurso
e correntes teóricas relacionados com o estudo da ‘computadorização’ da sociedade,
Sabbatini (1999) chama atenção para as concepções freqüentemente presentes em
discursos de divulgadores científicos e, implicitamente, propostas por muitos
especialistas, caracterizadas por apresentarem imagens populares ligando a
informatização à mudança social em grande escala. Uma dessas concepções está
associada ao determinismo tecnológico, às relações de causa e efeito entre tecnologia e
sociedade, cuja importância decorre do poder das imagens que são inculcadas no
público em geral. O determinismo tecnológico oferece apenas uma causa, ou variável,
independente, a partir da qual se fazem alegações que, quando justificadas, constituem
poderoso recurso de explicação e predição. Uma primeira vertente das teses do
determinismo tecnológico está relacionada ao mito da tecnologia autônoma. De acordo
com o mito da tecnologia autônoma, o desenvolvimento tecnológico é capaz de
influenciar significativamente a ordem social, ao passo que esse desenvolvimento
tecnológico ocorre independentemente de quaisquer fatores sociais; daí o qualificativo
‘autônomo’ a ele aplicado.
O realismo social, por sua vez, é um gênero que se caracteriza pelo uso de
dados empíricos para examinar como a computadorização é praticada e
experimentada. Baseia-se, portanto, na observação das realidades sociais nas quais as
44
George Orwell, em “1984”, e Aldous Huxley, em “Admirável Mundo Novo”, são exemplos
que ilustram essa perspectiva.
55
Por sua vez, Bell (1980)45 coloca o computador como centro da sua concepção,
o seu principal símbolo e ‘motor analítico’. Para esse autor, a possibilidade de
expansão do ‘conhecimento teórico’ está associada ao desenvolvimento das novas
tecnologias de informação e seu uso potencial por todos os setores da sociedade. A
“transformação revolucionária da sociedade moderna” (sic) é considerada como
45
Embora não se exprima explicitamente em termos de ‘sociedade da informação’, Daniel Bell
irá tornar-se o maior expoente dessa perspectiva. A introdução do conceito de sociedade
pós-industrial data de fins da década de 1960, quando esse autor, tomando como base as
modificações na estrutura de empregos nos EEUU após década de 1950, que apontavam que
o setor de serviços havia superado o setor industrial em termos de emprego, considerou que
se estaria vivendo uma ‘sociedade pós-industrial’.
57
46
Expressões como ‘sociedade da informação’, ‘trabalhador do conhecimento’, ‘máquina
inteligente’ e ‘autopista de informação’ estão entre as imagens mais divulgadas para
referirem-se à disseminação das novas tecnologias de informação e comunicação.
58
47
Conforme se verá adiante, estes requisitos estão presentes, de forma generalizada, nas
inúmeras iniciativas de construção de ‘sociedade da informação’ propostas.
59
Masuda (1985), citado por Kumar (1997), referiram-se, inclusive, a uma sociedade
sem classes, “isenta de um poder dominante” (sic) e organizada em torno de
comunidades voluntárias, anunciando o advento de uma democracia participativa e de
sistemas de administração local feitos pelos cidadãos.48
Entretanto, afirmativas tão caras a autores como Bell (1980) e Toffler (1981) de
que se esteja estabelecendo um novo princípio de sociedade ou de que se esteja diante
do advento de uma ‘terceira onda’ da evolução social têm sido contestadas com
argumentos de que as tecnologias de informação e comunicação tão somente
aceleraram processos que, em numerosas áreas, já haviam sido iniciados, facilitando
estratégias de administração de empresas, promovendo, em muitas profissões, a
mudança da natureza do trabalho e ensejando o desenvolvimento de novas tendências
em relação ao lazer e ao consumo (KUMAR, 1997). Como pondera esse autor, ainda
que estejam ocorrendo significativas mudanças no caráter da organização industrial e
na natureza do trabalho, como conseqüência da nova divisão internacional do trabalho
e do capitalismo em escala mundial, as mudanças identificadas não significam que o
advento das tecnologias de informação e comunicação tenha alterado os princípios
fundamentais do capitalismo.
48
A despeito do caráter fantasioso destes prognósticos, sua função ideológica é real, até mesmo
porque, como destacado por Kumar (1997), o advento das novas tecnologias de informação
e comunicação fez do cotidiano - que oferece os elementos para a apreensão da realidade
pelas pessoas - o alvo de inúmeras e bruscas mudanças.
60
A casa, como ‘espaço da vida’, vai se tornar um alvo claro para a expansão das
tecnologias de informação e comunicação, especialmente nos setores do lazer e
entretenimento. “A transformação do consumo (...) segue também a conhecida lógica
do capitalismo, isto é, está interessada em incluir um número sempre maior de áreas da
vida social e cultural em seu campo de atividades e na racionalidade do mercado”
(KUMAR, 1997, p.165). Para esse autor, “do ponto de vista da tecnologia da
informação, distinções entre escritório e lar, entre trabalho e ócio são, em grande parte,
secundárias. Na verdade a TI49 trabalha para torná-las irrelevantes” (p.42).
49
Tecnologia de informação.
61
Entre os autores dessa vertente, Lojkine (1995) dirige seu foco para as
tecnologias de informação e comunicação como possibilidade de criação, circulação e
estocagem de uma imensa massa de informações até então “monopolizadas (...) por
uma pequena elite de trabalhadores intelectuais” (p.15).
50
Esse autor se refere aos círculos viciosos das novas tecnologias de informação nas grandes
empresas capitalistas. Ele distingue quatro grandes fatores de crise no “ciclo da produção
informacional”, os quais se se conjugariam para produzir os círculos viciosos, a saber: 1- “a
oposição entre as regras gerais e as regras de detalhe passadas aos quadros subalternos”; 2-
“a oposição entre a centralização do poder estratégico (de ditar regras) e a desconcentração
das decisões operacionais”; 3- “a superposição de domínios de competência entre quadros
subalternos e operadores ‘requalificados’”; 4- “o desenvolvimento de relações de poder
paralelas exacerbadas pela concorrência entre assalariados submetidos à avaliação
individual” (LOJKINE, 1995, p.151/152).
63
capitalista mais ampla e a resistência das classes subalternas e dos movimentos sociais.
A segunda enfoca os conflitos de classe, destacando-se, aí, A. Mattelart, que busca
compreender a informação como uma das principais fontes de resistência ao poder
(MOSCO, 1998).
Mosco (1998) destaca, como categorias básicas a serem levadas em conta nos
estudos informacionais, a mercantilização, entendida como processo de transformar
uso em valor de troca; a espacialização, como transformação de espaço e tempo ou
processo de extensão institucional; e a estruturação, o processo de constituir estruturas
com os agentes humanos e sociais.
aumento da importância dos espaços dos fluxos e afirmar que o redesenho do mapa do
mundo está sendo feito de acordo com as fronteiras que os fluxos das pessoas, bens,
serviços e mensagens estão estabelecendo. Já Harvey (1994) vai afirmar que o mapa
do mundo está diminuindo pela compressão no espaço/tempo, para aqueles que
puderem usufruir. Por fim, Giddens (1991) vai destacar a redução da importância
dessas variáveis para aqueles que quiserem tirar proveito disso. Discorremos a seguir
sobre essas concepções.
O mais enfatizado por Castells (1999) é o aspecto espacial dos impactos das
novas tecnologias de informação e comunicação. Ele destaca dois pontos básicos para
argumentar a favor da natureza revolucionária destas tecnologias na sua interação com
o sistema social. O primeiro deles é o fato de estarem voltadas para processos. O
segundo ponto é o fato de a informação, nesses processos, ser utilizada, ao mesmo
tempo, como matéria prima e como seu principal produto. Castells (1996) destaca que
“enquanto a informação e o conhecimento foram sempre, por definição, elementos
essenciais em alguns processos do descobrimento científico e da mudança técnica, este
é o primeiro momento da história no qual o novo conhecimento é aplicado
principalmente aos processos de geração e ao processamento do conhecimento e da
informação” (p.11).
66
define como “dados que foram organizados e comunicados” (Porat, apud CASTELLS,
1999, p.45).
Como já mencionado, Harvey (1994) inscreve-se entre os autores que têm como
referência o modo de regulação da produção; ele vai reportar-se a um ‘modo de
acumulação flexível’, em relação ao qual as tecnologias de informação e comunicação
são indispensáveis, por possibilitarem a ‘compressão espaço-tempo’ necessária à
mobilidade do capital, a qual, por sua vez, é precondição para a acumulação flexível.
51
Como destaca Babe (1995), o trabalho online, feito a partir das casas dos trabalhadores
(telecommuting), que tem sido cada vez mais encorajado, envolve uma diversidade de
questões que demandariam o fortalecimento da organização dos trabalhadores. Essas
questões vão desde o emprego, pelos trabalhadores, de recursos financeiros para aquisição
de suas estações de trabalho para se manterem ‘empregáveis’ até o enfraquecimento da
própria organização sindical, em virtude do fato de que os trabalhadores deixam de estar em
contato uns com os outros.
68
apenas pela análise das transações de mercado. Para ele, a trajetória e a forma de
desenvolvimento capitalista decorrem da tensão entre, de um lado, os produtores
individualizados e, de outro, a capacidade de regulamentação e intervenção, através do
Estado, das instituições dotadas de poder. Nesse sentido, compreende, como estratégia
para fazer frente à crise de acumulação do capitalismo de 1974, o aumento na
velocidade de giro da produção e do consumo, de vários setores da economia.
Nesse sentido, a existência nos dias atuais seria refém de formas de organização
cada vez mais complexas, tendo tornado necessário obter informações sobre as pessoas
e suas atividades, sistematicamente. Com isso, Giddens (1991) pode afirmar que
organização e observação são irmãs gêmeas, em um mundo no qual a vida diária
precisa ser planejada e arranjada pelas instituições, de uma forma sem precedentes.
52
Por sistemas peritos (expert systems) Giddens (1991) refere-se “aos sistemas de excelência
técnica ou competência profissional que organizam grandes áreas dos ambientes material e
social em que vivemos hoje.” (p.35) Para esse autor, assim como as ‘fichas simbólicas’, os
sistemas peritos “removem as relações sociais das imediações do contexto.” (p.36)
53
Por ‘fichas simbólicas’ Giddens (1991) quer significar meios de intercâmbio que podem ser
postos em circulação sem ter em vista as características específicas dos indivíduos ou
grupos que lidam com eles em qualquer conjuntura particular.” (p.30)
71
Autor alinhado com essa vertente, Lyotard (1989) associa o ‘pós-moderno’ com
a incredulidade em relação às metanarrativas como efeito das ciências. Esse autor
destaca que o saber teria mudado de estatuto em fins dos anos 1950,
concomitantemente com a entrada das sociedades na chamada ‘era pós-industrial’ e da
cultura na era ‘pós-moderna’, quando passaram a incidir sobre a linguagem as ciências
e as técnicas de ponta:
Como destaca esse autor, essas transformações tecnológicas afetam o saber nas
suas principais funções como a investigação e a transmissão do conhecimento. No que
se refere à segunda função, “ao normalizar, miniaturizar e comercializar os aparelhos,
se modificam já hoje as operações de aquisição, de classificação, de distribuição e de
exploração dos conhecimentos” (...) O saber não pode passar pelos novos canais e
tornar-se operacional senão quando o conhecimento puder ser traduzido em
quantidades de informação” (p.17). Com isso, dois eixos interrelacionados orientariam
72
54
Importa chamar atenção, neste ponto, que o tratamento da informação como mercadoria,
como destacou N. Wiener – criador da cibernética - leva necessariamente a um impasse,
uma vez que o valor da informação está ligado à sua capacidade de circulação e à sua
transparência, sendo, portanto, prioritariamente não-mercantil. Outro aspecto diz respeito ao
fato de que o processo de troca de mercadorias assenta-se sobre a circulação de valores
abstratos, ao passo que a circulação de informações é, principalmente, um processo “vivo e
ininterrupto”, pelo qual se observa o mundo exterior e se atua sobre ele. (Wiener, 1962
citado por LOJKINE, 1995).
73
Até esse ponto, destacamos três perspectivas acerca das implicações das
tecnologias de informação e comunicação para a mudança social, a saber, as ‘idéias da
sociedade da informação’, a ‘perspectiva crítica’ e a ‘abordagem da pós-modernidade’.
No caso das idéias da ‘sociedade da informação’, tudo se passa como se as tecnologias
tivessem, per se, a capacidade de promover as mudanças. É uma perspectiva otimista,
que advoga o ‘progresso’ como um bem a ser perseguido a qualquer preço. Já os
autores que enfocam o advento das tecnologias de informação e comunicação de uma
perspectiva crítica, o fazem com vistas a identificar o seu papel como resposta do
capitalismo às suas crises cíclicas, ou a apontar contradições acirradas com a sua
adoção, as quais possam levar à superação do capitalismo. Por fim, no caso das teorias
da pós-modernidade, as tecnologias de informação e comunicação são também
tratadas como se fossem autônomas. Entretanto, seus impactos são vistos de uma
perspectiva negativa, na qual essas tecnologias são destacadas como recursos que
tendem a tornar a sociedade uma ‘sociedade do espetáculo’, expressão que enfatiza a
predominância das performances como elementos de valoração das atividades sociais.
55
Como políticas de comunicação e informação orientadas para o mercado, tais iniciativas
tendem a privilegiar, entre outras, situações em que empresas de alta tecnologia, capazes de
proporcionar velocidade de distribuição, acessos mais versáteis e alternativas de
disseminação, estarão aptas a agregar valor a um elenco de informações potencialmente
públicas, transformando-as em produtos de informação, num processo de crescente
mercantilização da informação. Nesse sentido, O relatório “Impact of the emerging
information society on the policy development process and democratic quality”, da OCDE
(1998), expressa preocupação com esta tendência, especialmente no setor governamental.
Aponta o risco de que os governos, na medida em que buscam novas fontes de renda e se
encontram em processo de reengenharia em relação aos seus papeis, passem a vender
informação bruta a agentes privados que, adicionando-lhe valor, transformam-na em
produtos comerciais, acessíveis através de seus sites. Some-se a isso que, como já
mencionamos, o domínio da informação a partir da mercadorização do conhecimento, o
jugo de interesses particulares sobre as instituições de serviços públicos, a ênfase nos
processos de persuasão e a escalada de uma mídia orientada para a publicidade têm
75
57
Refiro-me, como relatório, a trabalhos que, como os de Lyotard e o de Nora e Minc, foram
encomendados. No primeiro caso, o relatório foi apresentado ao Conselho das
Universidades/Governo de Quebec e, no segundo, ao Governo da França.
78
58
Políticas que aumentam as disparidades entre ricos e pobres e erodem a comunidade humana.
79
59
Como afirma esse autor, apoiando-se em autores como Ingrao & Israel, Abraham Kaplan e
Porat & Aleen, a noção de ‘mercadoria’ demanda que as unidades do bem em questão sejam
‘fisicamente idênticas’, ainda que disponíveis em diferentes locais e a diferentes tempos.
Essa padronização permite sua mensuração, o que não ocorre com a ‘mercadoria’
informação, impossibilitando a medida e a comparação, características das mercadorias.
60
Esse reconhecimento do predomínio do aspecto mercantil sobre o conteúdo da informação
coloca por terra as aspirações daqueles que imaginam que os conteúdos sejam o meio e o
fim da gestão da informação, do conhecimento e da aprendizagem na sociedade da
informação. Nesse sentido, as considerações de Miranda et. al. (2000), quando afirmam que
a operação de conteúdos seja um elemento estratégico nas políticas e programas de
promoção da sociedade da informação, são entendidas de uma perspectiva mercantil. Isso
pode ser confirmado mais adiante no texto desses autores, quando afirmam que “o uso
ubíquo dos conteúdos em rede, a sua produção, inovação, veiculação e intermediação no dia
80
“Da mesma forma como os trabalhadores em casa poderão vir a ser pagos por bit,
também os consumidores em casa irão pagar por bit” (BABE, 1995, p.206).
a dia das instituições e dos indivíduos” (p.10) é que irá fazer com que a sociedade da
informação vá se configurando.
61
Quando a UNESCO endossou a proposta do presidente da França, François Miterrand, de
estabelecer uma ‘Nova Ordem Mundial para a Informação e a Comunicação’ que ia contra
os interesses dos EEUU no ‘livre fluxo de informação’, este país retirou-se daquela
organização. Só veio a reintegrá-la quando, em 1988, Frederico Mayor, da Espanha, o novo
diretor da UNESCO, anunciou que a organização iria abandonar sua antiga demanda por
uma ‘Nova Ordem Mundial da Informação e Comunicação’ em favor do estilo
estadunidense de ‘livre fluxo’ (BABE, 1995), o que restabelecia os interesses dos EEUU em
comercializar, sobretudo com os países periféricos, suas informações em troca de recursos
como energia, recursos naturais, etc (MATTELART, 1994).
81
62
Um ponto para o qual Heber e Fischer (2000) chamam atenção é a participação ativa de
grupos de interesse nas fases de consulta pública e audiência acerca de decisões
regulatórias. Citando novamente Pires (1999), Heber e Fischer (2000) mencionam que o
“processo de tomada de decisões regulatórias é baseado na filosofia de ‘checks and
balances’ – princípio presente na tradição jurídica norte-americana que procura maximizar a
área de consenso na tomada de decisões – e está sujeito à pressão de ‘lobbies’ dos diferentes
grupos de interesse envolvidos” (p. 154).
63
Prazo este que não foi totalmente cumprido.
64
O termo ‘entrantes’ é utilizado na literatura sobre o assunto para fazer referência às empresas
que estão iniciando nesse setor após a sua liberalização/privatização. As ‘assimetrias pró-
entrantes’ referem-se às regras que visam a contrabalançar a situação privilegiada das
empresas operadoras que se tornaram proprietárias da infra-estrutura já instalada.
83
65
Para Babe (1995), isso esclarece e explica “porque o governo canadense entrou em acordos
de ‘livre comércio’ que erodem a própria soberania do governo federal, que aumentam a
pressão sobre o governo para reduzir a abrangência de uma legislação ambiental já
inadequada, os programas sociais, para reduzir ainda mais as taxas sobre as incorporações e
para perseguir políticas que colocam em desvantagem boa parte da sua força de trabalho”
(p.207).
84
Os autores identificam três fases nesse processo. Entre 1993 e 1994 alteram-se
os arranjos institucionais do processo de elaboração de políticas de comunicação,
tendo em vista integrarem suas estruturas às exigências da nova visão de ‘sociedade da
informação’. No período entre 1995 e 1996 acelera-se a transição, para o âmbito
internacional, do processo de definição de diretrizes relativas a essas políticas. Por fim,
a partir de 1997, a política de comunicação no Canadá vai ser dispersa em novas áreas
de solicitação e de expertise.
‘das tecnologias’, a partir do fato de serem ambos artefatos que atuam em conjunto,
quando se trata de operacionalizar os modelos de governança. Nesse encontro foram
estabelecidos os princípios para orientar as estratégias nacionais e os programas de
ação, sobretudo das nações líderes. “O modelo de ação do Estado elaborado em
Bruxelas foi parte do projeto para o processo maior de governança que ultrapassa o
Estado, mas para o qual o Estado desempenha um papel chave” (ABRAMSON;
RABOY, 1999, nota 14, p. 781). Nesse contexto, a representação do interesse público
passou a significar a ‘representação de consumidores’ e o Estado passou a exercer o
papel de ‘facilitador’ da implementação das decisões tomadas no âmbito internacional.
As mudanças decorrentes do encontro de Bruxelas tiveram por função tornar a
‘sociedade da informação’ um projeto político que, por ter suas definições decididas
no âmbito internacional e, ao mesmo tempo, demandar um desdobramento passível de
ser feito apenas em nível nacional, não pode ser inscrito integralmente nem no âmbito
doméstico, nem no transnacional (ABRAMSON; RABOY, 1999, p.783).
A conjuntura chave para produzir o ‘mundo em rede’, termo que é muitas vezes
referido nas iniciativas de ‘sociedade da informação’, foi a proposta da “Global
Information Infrastructure”, feita no encontro de Bruxelas pelo então vice-presidente
dos EEUU, Al Gore. Essa proposta é compreendida como ponto nodal de um projeto
maior, que gira em torno da conversão da informação digitalizada em nova fonte de
riqueza, projeto esse já acomodado na coordenação política internacional, cuja
expressão ideológica é o argumento do ‘livre fluxo de informação’. A ‘infra-estrutura
de informação global’, defendida na conferência de Bruxelas, representa, para
Abramson e Raboy (1999), a transição da retórica dos EEUU do ‘livre fluxo de
informação’ como necessidade democrática para argumentos de base econômica,
como necessidade comercialmente indispensável.
principais experiências de reforma regulatória no passado recente” (p. 158). Para essas
autoras, a liberalização foi, na verdade, uma etapa do processo de substituição das
regras de regulação até então vigentes por novas regras.
3. ‘SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO’
Milton Santos
do mercado capitalista aos demais setores da vida social, tais como a cultura, o lazer e
as relações entre governo e sociedade.
Essa sociedade pautada cada vez mais por relações mercantis é alimentada e, ao
mesmo tempo, alimenta uma concepção acerca do ‘bem comum’ como sendo a soma
de interesses individuais. Essa visão do bem comum, por sua vez, oculta a importância
que instituições como o ‘mercado’ ou o ‘estado’ têm para o estabelecimento das
relações de poder que conformam o ethos social e respondem pela própria
disseminação de valores que priorizam o individual sobre o coletivo, que estão na base
do processo de ‘mercadorização’ da sociedade.
atendidos, dependem da sua inclusão como parte das diversas políticas nacionais,
tenham ou não esses grupos privados qualquer ligação direta com os países que terão
que adotar as diretrizes políticas por eles propostas.
caso do G7, ambos vão ser utilizados para se referir a um mesmo conjunto de
iniciativas, na sua dimensão global.
Por sua vez, o termo ‘sociedade da informação’, adotado pela União Européia,
espelha a importância, para essa instância supranacional, de que a adoção generalizada
e planejada das novas tecnologias de informação e comunicação seja associada às
66
A expressão ‘família de técnicas’ é utilizada por Santos (2001) quando afirma que uma
técnica nunca aparece isolada, “o que se instala são grupos de técnicas, verdadeiros
sistemas”, a exemplo da foice, enxada e ancinho, os quais constituíram, em certo momento,
uma ‘família de técnicas’. Para esse autor, o “representativo do sistema de técnicas atual é a
chegada da técnica da informação, por meio da cibernética, da informática, da eletrônica.”
(p.24/25)
92
dimensões que são caras à sociabilidade européia. Daí decorre a preocupação em tratar
os aspectos ‘sociais, societais e culturais’. Assim, as considerações acerca dessas
iniciativas não vão limitar-se às questões tecno-econômicas, mas precisam expressar,
entre outros pontos, uma atenção específica para o quadro sócio-cultural e político da
região e suas características multiculturais e multilingüísticas, e a conseqüente
preocupação com o uso social da tecnologia. Como é sabido, a União Européia
apresenta-se como um conjunto de atores formalmente dotados de igual poder, os
quais, para poderem atuar em conjunto, demandam uma ‘partitura’ aceita por acordo,
fato que influi sumamente nas estratégias que precisam adotar. Nesse sentido, essa
opção reflete o fato de situar-se como instância supra nacional que envolve instâncias
politicamente autônomas. No caso em pauta, a União Européia atuou em resposta ao
movimento dos EEUU de formular uma agenda para a constituição da infra-estrutura
de informação, não apenas na sua dimensão nacional como, também, na dimensão
global. Para isso incluiu, como parte de sua estratégia para preservar um espaço de
contraponto a esse país, uma agenda de cooperação, inicialmente entre os países
membros e, em seguida, envolvendo os países da Europa Central e do Leste, da
Europa Mediterrânea e mesmo com países periféricos.
The challenges and ways forward into 21st Century”67 que, no próprio ano de 1993, vai
marcar a adoção da expressão ‘sociedade da informação’ pelas autoridades da
Comunidade Européia; a realização da “ITU World Telecommunications Development
Conference”68 em Buenos Aires, a divulgação, pelo Departamento de Comércio dos
EEUU, da “Global Information Infrastructure – Agenda for Cooperation” e a
apresentação, pela Comissão Européia, do “Bangemann Report- Europe and the global
information society: Recomendations to the European Council”, em 1994. No ano de
1995, destacamos a realização, em Bruxelas, do encontro ministerial dos integrantes
do G7, a “G7 Information Society Conference”, com o objetivo de “encorajar e
promover a inovação e o desenvolvimento de novas tecnologias, incluindo,
particularmente, a implementação de infra-estruturas de informação mundiais, abertas
e competitivas” (COMISSÃO EUROPÉIA, 1995a).
67
Também conhecido como relatório Delors, uma vez que foi coordenado por Jacques Delors.
94
Estado. Entre as características desse ‘novo’ regime está a atribuição, a uma parcela da
sociedade civil, da legitimidade de propor, em âmbito internacional, diretrizes para os
planos de ação ‘governamentais’. Outra característica, no âmbito das políticas
nacionais e subnacionais, é a substituição de questões de ‘interesse nacional’ por
questões do ‘interesse geral’, tais como entendidas pelos representantes de
organizações do setor privado diretamente interessadas, da academia e das
organizações não governamentais às quais os temas interessem particularmente.69
Passada quase uma década, tem-se, entre os resultados concretos das diretrizes
adotadas, a atuação dos grandes consórcios no setor dos meios de comunicação e o
alargamento de suas atividades clássicas para incorporarem a edição eletrônica e os
serviços de televisão digital, conformando conglomerados de perfil oligopolizado
como decorrência da liberalização e privatização70, o que, no caso de boa parte dos
68
Da qual resultou a “Declaração de Buenos Aires” sobre o desenvolvimento das
telecomunicações.
69
Essa modalidade de proposição de planos ‘governamentais’ parece decorrer da generalização
das práticas de policy making pela agregação de demandas dos grupos de interesse e que são
tornadas policies ’ao serem adotadas pelo poder público como políticas gerais. A adoção
deste procedimento em nível mundial, como é o caso das instâncias internacionais
elaboradoras das diretrizes e regras para pautar a atuação dos estados nacionais num
contexto de elevada e assimétrica interdependência, é deveras questionável, na medida em
que torna ainda maior o universo daqueles que não podem vocalizar seus interesses. No caso
da ‘sociedade da informação’, a prática de policy making à qual estamos nos referindo
revela-se, não apenas pela proliferação de ‘livros verdes’ como instrumento de ‘consulta
pública’, como também pela generalização do processo de delegação da formulação das
políticas concernentes, a grupos de interesses que, por sua vez, vão se orientar pelas
diretrizes das referências apresentadas pelas instituições internacionais, em geral dominadas
pelos interesses da tríade ou, no mínimo, dos países centrais.
70
Dores (1999) citado por Heber e Fischer (2000) destaca , no caso dos EEUU, a joint venture
que a AT&T formou com a Time Warner Inc para fornecer serviços de telefonia local via
95
rede de cabos em inúmeros estados dos EEUU. Essa associação se segue a um acordo em
que a AT & T compra a Tele-Communications Inc (TCI). Em 2000 ela estava adquirindo
também a MediaOne, provedora de TV a cabo, assim como a TCI e a Time Warner. “A
intenção da AT&T é garantir acesso a 60% das residências norte-americanas para concorrer
(sic) em escala nacional com as empresas de telefonia local e aumentar sua competitividade
global, oferecendo, em um mesmo ‘pacote’, serviços de telefonia local, longa distância, TV
a cabo e Internet” (HEBER; FISCHER, 2000, p.155, nota 15).
71
Como colocado por Heber e Fischer (2000), no caso dos países da América Latina, “a
maioria dos processos de privatização envolveu a compra das estatais locais pelas grandes
operadoras (européias, principalmente), tanto de forma isolada quanto em consórcios”
(p.157).
72
Pesquisas realizadas pelo NTIA apontam que o acesso às tecnologias de informação e
comunicação, em particular, o acesso a computadores e à internet é menor exatamente nos
grupos sociais que possuem as piores condições de inclusão social, a saber: população negra
e latina em relação aos demais, população rural em relação à população urbana; etc.
73
URL: http://www.unesco.org/webworld/future/index.shtml.
96
74
O gerenciamento do espectro de radiofreqüência foi considerado estratégico para evitar
restrições de acesso aos recursos da infra-estrutura de informação. Nesse sentido, ensejou a
iniciativa de fortalecimento e de adequação das estruturas do ‘Office of Information and
Regulatory Affairs’ (instância do Office of Management and Budget (OMB)), do National
Telecommunications and Information Administration (NTIA) e do Federal Communication
Commission (FCC), agências federais de políticas de informação e comunicação, para
lidarem com as novas questões decorrentes dessa política (UNITED STATES, 1993).
100
75
Após o anúncio da National Information Infrastructure – Agenda for Action, a Administração
Federal dos EEUU propôs uma reforma administrativa e legislativa para a política de
telecomunicação. Essa reforma foi apresentada pela administração federal através do
“Administration White Paper on Communications Act Reforms” (WHITE HOUSE, 1994).
Por sua vez, o Telecommunications Deregulation Act of 1996 (PL 104-104 de 8/2/1996)
expressou a reforma legislativa, contemplando um leque de provisões que afetam o
desenvolvimento da infra-estrutura de informação (MCLOUGHLIN, 2000).
76
Os termos privacidade, confiabilidade e segurança são assim definidos: “privacidade da
informação é a habilidade de um indivíduo em controlar o uso e a disseminação da
informação relacionada consigo mesmo. Confiabilidade é uma ferramenta para proteger a
privacidade (...) Segurança é a totalidade de salvaguardas em um sistema de informação
baseado em computadores. A segurança protege do acesso não autorizado, do mau uso e de
danos acidentais tanto o sistema. A segurança consiste de políticas de hardware, software e
de pessoal, de políticas de gerenciamento de informação e prevenção de desastres” (LEWIS;
MC CRACKEN, 1995). O termo confiabilidade está associada à idéia de estabilidade,
resistência a falhas, disponibilidade, etc. das redes.
77
Em meados de 1995, a discussão, pelo Senado dos EEUU, acerca da desregulamentação das
telecomunicações trouxe à tona a questão do acesso universal aos serviços via internet. Com
101
isso, o estabelecimento de fundos para viabilizar tal forma de ‘serviço universal’ foi
incluído no Telecommunications Act (MCLOUGHLIN, 2000 ).
78
Como parte de uma construção ideológica, não são discutidos e nem sequer enunciados os
impactos negativos dessas mudanças, a propósito das quais foram, inclusive, produzidos
alguns documentos, entre os quais , as considerações presentes no texto: “Serving the
Community: A Public-Interest Vision of the National Information Infrastructure” (CPSR,
1993).
102
DDD
79
A Information Infrastructure Task Force da presidência dos EEUU tem por função articular e
implementar a visão da administração federal em relação à infra estrutura nacional de
informação. É formada por representantes de alto nível de agências federais com um papel
importante no desenvolvimento e aplicação das tecnologias de informação e comunicação.
Foi estabelecida com a finalidade de trabalhar junto ao Congresso e ao setor privado
propondo políticas e iniciativas que interligassem as aplicações do governo ao setor privado,
resolvessem disputas pendentes e implementassem políticas da administração (UNITED
STATES, 1993).
80
O PITAC é vinculado ao National Coordination Office for Information Tecnology Research
and Development e presta assessoria ao Presidente, ao Congresso e às agencias federais dos
EEUU, envolvidas com P&D, em tecnologias da informação, nos esforços para acelerar o
desenvolvimento e a adoção das tecnologias de informação, vitais para a “prosperidade
americana no século 21”(sic). É constituído por experts em tecnologias de informação, da
indústria e da academia (NITRD, 2002).
81
URL: http://www.giic.org
82
Esse conselho foi constituído por representantes dos vários setores envolvidos: indústria,
sindicatos, universidade, meios de comunicação, escola, instituições de pesquisa,
parlamentares, etc.
103
Como se pode observar, esse conjunto de atribuições do setor público, que não
é desprezível, está praticamente voltado para criar condições favoráveis ao
desempenho do setor privado. Assim sendo, ainda que se insista em afirmar no
relatório que o sucesso do desenvolvimento da infra-estrutura nacional de informação
é o investimento privado e a competição aberta - “ingrediente essencial para o
contínuo investimento nas tecnologias e aplicações” (LEWIS; MC CRACKEN, 1995)
-, o conjunto das atribuições do setor governamental constitui o conjunto de
‘precondições’ para que esse ‘ingrediente essencial’ se faça presente.
83
Essa ‘infra-estrutura nacional de informação’ é referida por Mcloughlin (2000) como
consistindo “de um sistema físico de rotas de telecomunicações e conexões que transmitem
e recebem voz, vídeo e dados. Inclui também serviços orientados a consumidores e
negócios, fornecidos por intermédio e derivados das redes de telecomunicações, e os
recursos de informação acessíveis através dessas redes. Num sentido amplo, uma infra-
estrutura nacional de informação engloba uma teia de telecomunicações, informação e
tecnologias de computação” (p.2) ou, como destacam (KRUGER; GILROY, 2001 ) é
constituída pelo conjunto de redes interativas de alta velocidade, públicas e privadas, de
banda larga e estreita, as que existem e as que virão a existir, incluindo as tecnologias de
satélite, terrestres e de radiodifusão, que fazem chegar os conteúdos até as casas, escritórios
e outras instituições públicas e privadas e, ainda, pelos fluxos de conteúdo, os
computadores, televisões, telefones, rádios e demais produtos empregados para acessar a
infra-estrutura.
84
O relatório “Internet: An overview of key technology policy issues affecting its use and
growth” (SMITH et. al., 1998 ) apresenta um resumo das questões em debate no Congresso
dos EEUU, as quais estavam relacionadas com a privacidade na internet; a segurança dos
computadores contra os ‘ciber-ataques’; o acesso à internet de banda larga e outras, relativas
ao comércio eletrônico, tais como os procedimentos de criptografia para proteção das
transações comerciais eletrônicas e os impactos das políticas da União Européia e da OMC
sobre as atividades de comércio eletrônico dos EEUU. Além disso, encontravam-se,
também, em discussão questões acerca do papel da internet na economia política dos EEUU
(SMITH et. al., 1998).
106
Essa agenda teve por objetivo, primeiro, proporcionar “um foco mais acurado
para os objetivos da política de abertura dos mercados, de eliminação de barreiras
decorrentes de padrões incompatíveis e o exame de regulações internacionais e dos
85
Apesar de sua divulgação datar de 1995, como afirma Gore (1996), os princípios norteadores
dessa infra-estrutura foram previamente apresentados e defendidos, tanto na conferência da
UIT, em Buenos Aires, 1994, como na conferência do G7, em Bruxelas, 1995,
108
EEUU” (IITF, 1994), depois, apontar os aspectos específicos que interessavam aos
EEUU e, ainda, trabalhar em conjunto com os demais países.
86
Na realidade, esses princípios seguiam as prescrições do ‘Consenso de Washington’, que
recomendavam: “crescimento voltado para fora (outwarded oriented growth); liberalização,
privatização, desregulação; ‘prudência macroeconômica’ (equilíbrio fiscal)” como diretrizes
para as políticas de privatização e liberalização do setor de telecomunicações”. (HEBER;
FISCHER, 2000, P.157).
109
flexibilidade e, ao mesmo tempo, oferecer preços justos e uma ampla gama de opções
aos consumidores (GORE, 1996; IITF, s/d.a). O acesso aberto é defendido como
princípio básico fundamentado na chamada Lei de Metcalfe87, a qual é também
invocada para defender o empenho de todas as nações e lugares para se conectarem à
infra-estrutura de informação mundial: “o valor dessa infra-estrutura depende do
crescente número de pessoas conectadas” (GORE, 1996). Por fim, o serviço universal,
menos do que princípio, é considerado como uma conseqüência da aplicação dos
quatro princípios.
87
A Lei de Metcalfe, apresentada como um princípio conhecido na ciência da computação,
afirma que “o poder de uma rede de computadores aumenta aproximadamente na proporção
direta do quadrado da quantidade de pessoas conectadas a ela” (GORE, 1996).
110
O guia aponta as diretrizes gerais que devem nortear a ação dos reguladores
face a um ambiente ‘competitivo, liberalizado e privatizado recentemente’, a saber 1- o
encorajamento ao investimento, inovação e infra-estrutura privados; 2- promoção da
ampla competição; 3- gerenciamento eficiente dos recursos escassos89; e 4- promoção
do interesse público em situações em que o mercado não atenda, ficando a cargo do
regulador “prever e regular mecanismos que assegurem a neutralidade na oferta de
serviços de telecomunicações para as comunidades incapazes, redes para atenderem à
saúde e a interoperabilidade de todas as redes” (KENNARD, 1999, p.I3).
Em termos dos objetivos pretendidos com o guia, pela sua leitura é possível
afirmar que os mesmos estão relacionados à adoção de um desenho institucional para
as instâncias reguladoras e gestoras nos países periféricos, a qual permita o
estabelecimento de diretrizes para suas infra-estruturas nacionais de informação, que
atendam às necessidades econômicas da indústria e dos residentes estadunidenses e
possibilitem o desenvolvimento da internet nestes países de forma compatível com os
88
Como coloca Afonso (2000), além de lidar com questões como quem lucra com essa ‘nova
sociedade’ ou quem a controla, “é preciso monitorar como ela se propaga e como a
desigualdade social se reproduz nessa expansão”. Como bem destacado por este autor, “os
saltos de modernização são realizados em função das elites – beneficiárias diretas e
frequentemente únicas do desenvolvimento” (p.5)
111
O guia pode ser dividido em duas partes. A primeira delas descreve o modelo
das entidades reguladoras dos EEUU, como exemplo que ‘pode ser adotado’ pelos
países aos quais se dirige. A segunda trata das questões específicas da infra-estrutura
de informação e dos requisitos para sua conformação global, tanto em termos
comerciais – relativos à participação das empresas no seu provimento –, como em
termos técnicos e tecnológicos – relativos à padronização e especificações.
Como mencionado, a leitura do guia deixa claro como objetivo dos EEUU o de
fixar, a priori, as posições do seu interesse em relação às diretrizes para a liberalização
e privatização das telecomunicações, universalização dos serviços, estabelecimento
dos marcos relativos ao espectro de radiofreqüência e redes de satélites; e, por fim,
mas certamente não menos importante, para a discussão da que se tornou a rede das
redes, a internet.
89
Refere-se neste ponto exclusivamente às políticas para gestão do espectro de radiofreqüência.
112
90
Cabe destacar, aqui, o fato de que a União Européia conta com particularidades que não
fazem parte do quadro das demais potências integrantes da tríade, os EEUU e o Japão. Uma
delas é a enorme diversidade cultural e lingüística e a outra é o fato de se tratar de uma
‘federação’ de países politicamente independentes e ‘soberanos’.
115
91
No âmbito dos documentos da União Européia, o termo comunitário é utilizado para referir-
se à sua dimensão supranacional ou seja, da Comunidade de países que a integram.
92
A liberalização da oferta de equipamentos terminais de telecomunicações (tais como
aparelhos telefônicos, faxes, etc), em 1988, foi o marco inicial do processo de liberalização
das telecomunicações, o qual visava permitir que diversos operadores econômicos pudessem
oferecer os novos serviços decorrentes das novas tecnologias de informação e comunicação
(La SOCIEDAD..., 2001).
116
93
Cabe comentar que, na literatura dos projetos de sociedade da informação, ao termo
‘parceria’ é atribuído um poder quase mágico: setores público e privado tornam-se
‘parceiros’ e a sociedade da informação deslancha. Tudo se passa como se, num passe de
mágica, interesses conflitantes deixassem de ter relevância diante dos resultados positivos e
universais decorrentes da ‘parceria’ na gestão das mudanças e na compreensão de suas
implicações sociais. Observa-se que essa ‘parceria’ público-privada é um dos ingredientes
do novo ‘regime de governança’ internacional que tem acompanhado o projeto neoliberal de
‘globalização’.
117
94
Como mencionado anteriormente, o processo de liberalização das telecomunicações na União
Européia teve início na década de 1980.
95
O qual, como já mencionamos anteriormente, é o “White paper on growth, competitiveness,
and employment - The challenges and ways forward into 21st century”.
118
a União Européia deve confiar nos mecanismos de mercado como “força motriz para
conduzi-la à sociedade da informação” (BANGEMANN, 1994, p.3). Nos termos
postos no relatório, “o mercado irá dirigir, ele irá decidir os ganhadores e perdedores.
Dado o poder e a pervasividade da tecnologia, esse é um mercado ‘global’”
(BANGEMANN, 1994, p.7).
96
Esse grupo foi integrado por personalidades do setor industrial e por usuários, e coordenado
pelo vice presidente da Comissão Européia, Martin Bangemann.
97
O teletrabalho é destacado como importante fenômeno social em relação ao qual são
necessárias novas formas de proteção social. Outro aspecto ressaltado é a redução da
importância de fatores espaço-temporal em decorrência do advento das redes de
comunicação.
119
98
Estes novos mercados consumidores são identificados como sendo as empresas de negócios,
as pequenas e médias empresas, os consumidores finais e o comércio de audiovisuais
(BANGEMANN, 1994).
99
Para a indução do consumo, o desenvolvimento de aplicações experimentais envolvendo as
administrações públicas é destacado, entre outros motivos, pelo papel pioneiro que podem
assumir em relação ao uso massivo das tecnologias de informação e comunicação e pelo seu
efeito demonstrativo em relação às aplicações dessas tecnologias. Esse uso está sendo
chamado de ‘governo eletrônico’ ou ‘governo online’. O inventário e a disseminação dessas
práticas é uma das iniciativas relacionadas com a promoção da ‘sociedade da informação’.
120
Em relação aos riscos, afirma-se que os mesmos podem ser evitados atribuindo-
se às autoridades públicas a tarefa de salvaguardar a coesão da ‘nova sociedade’, de
assegurar o livre acesso à infra-estrutura de informação e a provisão de serviços
universais (BANGEMANN, 1994). Esses requisitos, por sua vez, podem, também, ser
lidos como parte da atribuição do poder público de garantir a “ampla aceitação pública
e o uso efetivo das novas tecnologias” através da educação, do treinamento e da
promoção da ‘sociedade da informação’.
100
É, sem dúvida, irônico, que uma iniciativa reativa à constatação da expansão estadunidense
sobre o mercado europeu em termos de produtos e serviços relacionados com as tecnologias
121
103
Criado em dezembro de 1994, o escopo e os objetivos do ISPO estavam voltados para
promover a penetração generalizada dos serviços da ‘sociedade da informação’ na vida
diária européia. Nesse processo, o ISPO teve, como atribuição, apoiar, promover e orientar
ações dos setores público e privado nas várias áreas com vistas a: 1- aumentar a consciência
pública e a compreensão das oportunidades, benefícios e riscos do desenvolvimento da
sociedade da informação; 2- otimizar os benefícios sócio-econômicos do seu
desenvolvimento por meio da promoção de sinergias e da cooperação para promover amplo
acesso e familiaridade com os seus serviços e aplicações; e 3- ampliar o papel dos europeus
e a visibilidade da Europa na sociedade da informação global emergente (CORREIA;
123
COSTA, 1999). Em novembro de 1998, o Information Society Project Office deu lugar ao
Information Society Promotion Office (ISPO) (COMISSÃO EUROPÉIA, 2001).
104
O trabalho desse grupo de especialistas teve como temas prioritários: 1- impactos
qualitativos e quantitativos na introdução de novas tecnologias no emprego; 2- impacto das
novas tecnologias na organização do trabalho; 3- conseqüências sobre a coesão social e
regional; 4- oportunidades para a adaptação dos sistemas de educação; 5- oportunidades
para melhoria dos sistemas de gerenciamento na área de saúde e qualidade da atenção
médica; 6- oportunidades para melhoria da situação do mercado de trabalho e
desenvolvimento de recursos humanos; 7- cultura; 8- mídia; 9- democracia; e 10- qualidade
de vida . Esse fórum, reunindo ‘todos’os setores e grupos de interesse envolvidos, foi criado
pela Comissão Européia com finalidade consultiva, para tratar questões relativas à
‘sociedade da informação’ [COM(96)395], (COMISSÃO EUROPÉIA, 1998). Seus
integrantes representam uma ampla gama de diferentes interesses, essencialmente de seis
áreas: 1- usuários, 2- grupos sociais, 3- provedores de informação e serviços, 4- operadores
de redes, 5- fornecedores de equipamentos, e 6- instituições (KAMINARA, 1996 ).
124
105
Essa afirmação é justificada, no texto, através da apresentação de algumas taxas relativas ao
crescimento dos setores de informação e comunicação e da sua participação no PIB
Mundial. Entretanto, esses dados nada informam sobre os impactos dessa participação e
desse crescimento na geração de empregos.
127
106
A liberalização plena das telecomunicações estava prevista para acontecer a partir do dia
01/01/1998, mas desde 01/07/1996 já se encontravam liberalizadas as comunicações móveis
e por satélite, a utilização das redes de televisão por cabo para as telecomunicações e a
infra-estrutura alternativa para os serviços já liberalizados.
107
As normas ‘de fato’, assim como os padrões ‘de fato’, referem-se às normas e aos padrões
cuja adoção é tão generalizada que, embora não sejam fixadas por alguma autoridade legal
ou normativa, acabam adotados como tal.
128
Como mencionado no início desta seção, um dos documentos que trata das
questões sociais relacionadas com a transição para a ‘sociedade da informação’ e com
os impactos das tecnologias de informação e comunicação sobre a organização do
trabalho e sobre a vida das pessoas é o “Green Paper on Living and Working in the
Information Society: People First”.
Nesse livro verde, que trata do trabalho, do emprego e da coesão para viver na
‘sociedade da informação’, esta é entendida como uma força positiva de mudança, na
medida em que se afirma que as tecnologias de informação e comunicação têm um
importante papel de apoio ao desenvolvimento e à promoção da integração, e de
fortalecimento local e regional, dada a sua capacidade de reduzir distâncias e melhorar
o acesso a informação e a serviços. Essa capacidade, por sua vez, possibilitaria levar
trabalho a áreas de alto desemprego e reduzir as desvantagens das regiões periféricas e
menos desenvolvidas (COMISSÃO EUROPÉIA, 1996b). Além disso as empresas
seriam bem sucedidas a partir de iniciativas que integrassem a adoção de tecnologias
de informação e comunicação, a promoção da educação e de treinamento, e a
transformação organizacional108.
108
Essa transformação organizacional refere-se à constituição de ’empresas flexíveis’, cujas
bases situam-se cada vez mais nos processos e menos no exercício de funções
especializadas. “De organizações hierárquicas e complexas, com tarefas simples, as
empresas estão sendo transformadas em organizações menos hierárquicas, mais
descentralizadas e orientadas como organizações em rede, com tarefas mais complexas.”
(COMISSÃO EUROPÉIA, 1996b)
132
109
Observe-se, nesse caso, que a perspectiva em relação ao ‘mundo do trabalho’ é voltada para
as ‘necessidades das empresas’: maior flexibilidade nos contratos de trabalho, associada ao
menor nível de seguridade dos empregos, como fórmula para que as empresas se ajustem às
mudanças na demanda. Essa perspectiva da empresa sugere uma incompatibilidade com
qualquer iniciativa de investimento em treinamento dos trabalhadores por parte das mesmas.
Um dos resultados pode ser, inclusive, o direcionamento dos investimentos apenas para
capacitação das principais parcelas da força de trabalho das empresas, reforçando as
desigualdades e aumentando a concentração dos empregos e da produção em algumas
regiões chave (VELZEN, 1997).
133
110
Segundo está expresso no “White Paper on Education and Training - Teaching and
Learning - Towards the Learning Society:”: “Examinar a educação e treinamento no
contexto do emprego não significa reduzi-los simplesmente a meios de obter qualificações.
O objetivo essencial da educação e treinamento foi sempre o de desenvolvimento pessoal e
da integração bem sucedida dos europeus na sociedade, por meio do compartilhamento de
valores comuns, da transmissão de uma herança cultural e do ensino da auto-confiança”
(COMISSÃO EUROPÉIA, 2002). Entretanto, nos termos postos no livro verde examinado,
as considerações acerca de educação e treinamento, longe de apontarem para a abrangência
mencionada no livro branco, em relação ao qual este livro verde é complementar,
restringem-se exclusivamente ao contexto do emprego.
134
Essas mudanças refletiram o novo enfoque que passou a ser dado pela União
Européia ao tema da ‘sociedade da informação’. O desafio passou a ser o de “manter a
Europa na vanguarda da nova sociedade da informação global e em rede, em benefício
136
111
A essa conferência compareceram ministros de 29 países da Europa, inclusive integrantes da
Europa Central e Europa do Leste, além de membros da Comissão Européia, ministros da
Associação Européia de Livre Comércio (European Free Trade Association), de
convidados, de nível ministerial, dos EEUU, Canadá, Japão e representantes de indústria, de
usuários e de organismos europeus e internacionais.
137
ampliar uma compreensão comum acerca da rede, a identificação de barreiras para seu
uso e a abertura de um diálogo, em âmbito europeu, sobre a cooperação internacional.
112
Em relação à promoção da expansão das tecnologias de informação e comunicação, EEUU e
Japão tinham a vantagem de possuírem um sistema de normas já harmonizadas e um único
idioma de integração nacional, ao contrário da União Européia, com sua diversidade de
línguas e dialetos.
139
Para a análise a seguir abordamos dois eventos pela sua importância para a
orientação das iniciativas nacionais e para a sua validação junto às principais
economias ocidentais. São eles, a “World Telecommunications Development
Conference”, promovida pela UIT , em particular a versão ocorrida em 1994 em
Buenos Aires, que resultou na “Buenos Aires Declaration on Global
Telecommunication Development for the 21st Century”, e a "G7-Information Society
Conference", realizada em Bruxelas em fevereiro de 1995 e seus desdobramentos.
113
Um exemplo de ‘capacidade de sugerir’ pode ser encontrado nas considerações de Peter
Knight (então Chefe do Centro de Meios Eletrônicos do Banco Mundial), em relação à
perspectiva do Banco Mundial para a ‘infra-estrutura de informação’ em países periféricos,
na qual ficam claras as condições para que haja aporte de recursos por parte do Banco
Mundial. Em 1996, ele declarou não considerar grande o investimento inicial para que
países periféricos participassem da ‘revolução da informação’, levando-se em consideração
as economias que poderiam ser obtidas em função da redução dos custos de
armazenamento, elaboração e transmissão de informação, do conhecimento e, inclusive, “do
saber” (sic) que as novas tecnologias iriam gerar. (...) Conforme afirmou, o aporte de capital
a esses países iria depender de serem eles capazes de promover uma ‘associação’ entre
empresas e setor público que permitisse estabelecer uma estrutura reguladora e constituir
um ambiente propício à informação, no qual o capital privado pudesse trabalhar. Por
‘ambiente propício’ referia-se a uma “estrutura que estimule o fluxo de capital, tanto interno
como estrangeiro, em vez de retardá-lo, como é o caso de muitos países na atualidade”
(KNIGHT, 1996, grifo nosso).
142
114
Essa possibilidade significa, muitas vezes, o aporte de recursos externos em economias
periféricas quase sempre debilitadas pela ação de outras instituições de dimensão mundial.
115
Entre as fontes de disseminação dessas ‘boas práticas’, experiências e projetos piloto, podem
ser mencionadas a publicação “Knowledge societies: information technology for sustainable
development” (MANSELL; WEHN, 1998), “Local e-government now – a baseline for
measurement” (FERGUSON; GREENWOOD, 2001), “Local e-government now – there for
the taking” (FERGUSON; GREENWOOD, 2002) “European survey of Information
Society: the Portuguese experience” (CORREIA; COSTA, 1999), “Developments in
Electronic Governance” (FERGUSON; RAINE, 2001), “A cidadania na Sociedade da
Informação” (FREY; SANTOS, 2002), “Local e-Government now- a Worldwide view”
(BARON et. al., 2002), a base de dados ESIS, do ISPO e o Global Inventory Project – GIP
do G7 Pilot Project. Outra fonte, mantida pelas Nações Unidas, é o “UNESCO Observatory
on the Information Society”, na URL:
webworld.unesco.org/webword/observatory/doc_policies/inter_org.shtml.
116
Participam dessa organização decisores políticos, reguladores, operadoras de redes,
indústrias de equipamentos, desenvolvedores de hardware e software, instâncias de
143
que vão servir de base para a operação dos serviços globais de telecomunicações.
Fundada há mais de cem anos, a UIT passou por um processo de reformulação nas
últimas décadas para incorporar as mudanças tecnológicas recentes. Possui três
setores, o UIT-R – Setor de Radiocomunicação, o UIT-T – Setor de Padronização das
Telecomunicações e o UIT-D – Setor de Desenvolvimento das Telecomunicações.
Através do seu Setor de Desenvolvimento das Telecomunicações – UIT-D -, a UIT
realiza conferências nas quais são preparadas recomendações, diretrizes, manuais e
relatórios, para orientar a elaboração de políticas de telecomunicações nos países
periféricos. Até o ano de 2002 haviam sido realizadas três conferências nesse sentido,
nomeadas como “World Telecommunications Development Conference”. A primeira
delas ocorreu em Buenos Aires, em 1994, a segunda em Valleta, Malta, em 1998 e a
terceira em Istambul, em 2002.
O endosso dos princípios propostos pelos EEUU vai revelar-se através das
diretrizes para o ‘sistema regulador’ a ser elaborado. Destarte, esse sistema precisaria
ser capaz de 1- criar um ambiente estável e transparente para atrair investimento; 2-
facilitar o acesso de provedores de serviço à rede, em um quadro que promova uma
competição adequada e mantenha a integridade da rede; 3- assegurar a provisão de
serviço universal para ajudar o desenvolvimento rural integrado e a promoção de
inovação; 4- promover a inovação e a introdução de novos serviços e tecnologias; 5-
garantir os direitos dos usuários, operadores e investidores.
são determinadas e conformadas pelo setor industrial ao qual serve (UIT, 2002).
145
Quatro anos após, em 1998, foi realizada em Valleta, Malta, a “2a. World
Telecommunication Development Conference”, cujas principais mensagens e
destaques foram consolidados em “The Valletta Declaration” (UIT-D, 1998).
defesa, mesmo sendo necessário proporem-se formas compensatórias para lidar com
os seus efeitos deletérios.
Como preparação para essa conferência, tanto os EEUU como a União Européia
produziram documentos nos quais explicitaram seus interesses em relação à ‘infra-
estrutura de informação’/‘sociedade da informação’ e, também, em relação à
conferência que iria se realizar. As considerações dos EEUU foram publicadas em
janeiro/1995, no “G-7 Ministerial Conference on the Information Society: Cooperation
on Applications and Test-Beds” (IITF, 1995). Por sua vez, a concepção da Comissão
Européia encontra-se delineada em “The Information Society Conference – 10 Key
questions”, que apresenta também as perspectivas dessa Comissão em relação à
conferência.
DDD
117
A expressão: “países em transição” tem sido utilizada para referir-se aos países integrantes
da ex-URSS que encontram-se em processo de adoção da ‘economia de mercado’.
154
118
O qual deveria ser dinâmico e flexível, para assegurar o acesso de todos aos sempre novos
serviços de informação.
119
O treinamento contínuo (life-long training) destaca-se como forma de aquisição de novas
habilidades e da adaptabilidade necessárias para uma economia baseada no conhecimento.
Coloca como necessidade o provimento de ferramentas para que os ‘cidadãos’ aprendam.
Entre estas destacam-se os serviços avançados de multimídia de informação como
complemento aos sistemas tradicionais de educação e treinamento. Nesse sentido, diversos
autores têm tratado da temática da capacitação e da qualificação, frente às questões
decorrentes das mudanças na organização do trabalho, em virtude do advento das novas
tecnologias de informação e comunicação, entre os quais Leite (1997), Castro (1997),
Bemfica (2000).
120
O entendimento do que seriam esses efeitos está relacionado com a melhoria da qualidade do
trabalho, melhoria nos cuidados com a saúde, lazer educativo, desenvolvimento urbano e
com uma maior participação de portadores de necessidades especiais nessa ‘sociedade da
informação’.
156
121
O Relatório Final do “G8 Pilot Projects”, que foi apresentado no Encontro de Cúpula do
G8 ocorrido em Colônia – Alemanha, em junho de 1999, reafirma a idéia do esmaecimento
das fronteiras nacionais, expressa na afirmativa de que “nós estamos nos tornando agentes
157
O estudo vai revelar que, para a maioria dos países membros, a “competição no
mercado das telecomunicações” é tida como o principal princípio. Os meios para
concretizar a ‘sociedade da informação’ são os preconizados no encontro do G7 e as
estratégias envolvem a promoção da interconectividade e interoperabilidade, o
desenvolvimento de mercados globais para as redes, serviços e aplicações, a garantia
Como se pode observar, há uma expressiva semelhança nas posições dos EEUU
e da União Européia em relação à ‘infra-estrutura de informação’/‘sociedade da
informação’, ainda que matizada por diferenças características de seus modelos de
Estado. Assim, em termos das proposições iniciais feitas pelos EEUU e União
Européia, observa-se que ambos colocam a ‘competitividade’ de suas indústrias como
foco central, em função do qual são estabelecidos princípios, recomendações e
definidas atribuições para o setor governamental.
123
Afirma-se que a ‘sociedade da informação’ irá proporcionar oportunidades e resolver
desafios sociais como os referentes ao trabalho e ao ambiente de trabalho (OCDE, 1996).
159
No que se refere aos princípios norteadores das iniciativas que são propostas, no
caso dos EEUU, os mesmos visam, explicitamente, viabilizar e preservar mercados
para a indústria estadunidense, para o que reafirmam os princípios do ‘Consenso de
Washington’ no que se refere à privatização, liberalização, ‘flexibilidade’ regulatória e
acesso aberto no setor de telecomunicações. Por sua vez, no caso da União Européia,
as recomendações que servem de diretrizes para seus planos de ação adotam, por um
lado, a mesma linha de princípios formulada pelos EEUU, refletindo a preocupação
em preservar espaço de mercado para a indústria européia, diante da crescente
liderança dos EEUU e do Japão. Por outro lado, são acrescentadas recomendações
voltadas para aspectos caracterizados, de modo amplo, como ‘sociais, societais e
culturais’, evidenciando preocupações adicionais com os impactos das mudanças
decorrentes da generalização do uso das novas tecnologias de informação e
comunicação como ‘família de técnicas’ dos agentes econômicos hegemônicos.
Nesse sentido, uma vez que os países periféricos não dispõem de recursos para
proteção interna de seus mercados ou para a negociação de seus interesses, os mesmos
vão se tornar objeto de disputa em termos de mercados de tecnologias de informação e
124
Como já apontamos anteriormente, os princípios formulados pelos EEUU para a infra-
estrutura de informação global encontram âncoras nas formulações do Consenso de
Washington.
162
125
Esses autores utilizam a categorização de Giovanni Arrighi, o qual, entre as categorias de
países centrais e periféricos, reconhece a presença de países ‘semi-periféricos para referir-se
a algumas economias que apresentam, ao mesmo tempo, características tanto de economias
periféricas como de economias centrais.
126
Com uma visão nada esperançosa acerca das conseqüências da globalização e do advento da
sociedade da informação, Angell (1995) chama atenção para os ganhadores e perdedores
nessa sociedade e para a esquizofrenia em que os governos se verão envolvidos para, de um
lado, buscarem atender às demandas para que os empreendimentos se estabeleçam em seus
territórios e, de outro, assegurarem que essa instalação resulte em benefício para os locais.
163
Até mesmo as redes de alta velocidade fazem parte dessa agenda, ao serem
apontadas como o meio para a disseminação do ‘tele-trabalho’ que, conforme consta,
iria resolver problemas importantes relacionados ao que é denominado de ‘welfare-to-
work’128, a saber, o cuidado das crianças e o transporte (UNITED STATES, 2000). Ao
mesmo tempo, entretanto, na perspectiva de como o tele-trabalho é colocado, não são
levadas em conta implicações, como sua regulação, a seguridade social ou os aspectos
sociais e culturais da imbricação entre os ambientes de vida e trabalho dele
127
Promovida pelo PITAC.
128
Entendido como o provimento, ao trabalhador, de condições para se liberar para o trabalho.
164
Como já mencionado, a UNESCO, que tem entre seus focos as questões sociais
e culturais da ‘sociedade da informação’, formulou e divulgou em maio/2000 o
“Information for all Programme” (UNESCO, 2000), com a finalidade de reduzir o
fosso entre os “ricos e pobres de informação”.
129
Ver, entre outros, CPSR (1993) e Velzen (1997).
165
A mercadorização da sociedade
Milton Santos
Assim sendo, sua dimensão econômica vai ser efetivada principalmente através
da regulação, em conformidade com a perspectiva neoliberal, na qual as iniciativas se
inscrevem. Sob essa mesma perspectiva, no entanto, é necessário atender à
precondição de ‘desatrelar’ a esfera econômica da sua dimensão nacional e, nesse
sentido, é preciso estabelecerem-se fóruns de dimensões internacionais, de
composição, em grande medida, independente do setor governamental dos países, nos
quais sejam traçadas as normas e regras referentes à dimensão econômica dessa
‘sociedade da informação’. Estamos falando, portanto, de uma dimensão
‘constitucional’ dessa sociedade, tendo em vista promover o trânsito das esferas
168
130
O sentido de política regulativa, tal como referida por Nadel, é o de política que envolve a
discriminação no atendimento das demandas de grupos, no sentido de controlar o
comportamento de grupos ou mesmo de indivíduos, tais como a política antitruste ou os
direitos de propriedade (MONTEIRO, 1982).
131
Por política de transferência, Nadel refere-se às políticas distributivas e redistributivas. Essas
políticas são entendidas, respectivamente, como a distribuição, pelo governo, de recursos a
uns, sem que, pelo menos a curto prazo, o faça em detrimento de outros; e o atendimento às
demandas de uns em detrimento das de outros, requerendo, para isso, a qualificação dos
grupos de indivíduos beneficiados (MONTEIRO, 1982).
132
Por política constitucional, Nadel menciona a política pública que estabelece as regras sob as
quais outras políticas públicas são selecionadas (MONTEIRO, 1982).
170
A regulação flexível, por sua vez, foi considerada como o meio de, ao mesmo
tempo, assegurar estabilidade, liberdade, flexibilidade e oferecer preços justos e uma
variedade de opções, uma vez mais em benefício dos consumidores. Entretanto, para
sua viabilização, tornava-se necessária a criação de agências reguladoras com
competência para “tomar decisões técnicas” e monitorar as condições instáveis do
mercado, cujo funcionamento fosse independente da política (GORE, 1996).
Uma evidência do que estamos afirmando pode ser observada, no caso da União
Européia, em documentos destinados a discutir a vida social, a exemplo do “Green
Paper on living and working in the information society”, que vão priorizar os
interesses e a perspectiva das empresas. Testemunhando o abandono da dimensão
humanística da sociedade, os indivíduos são considerados, sobretudo, como força de
trabalho e consumidores. Dessa feita, a concepção de educação presente vai se
restringir, de forma praticamente exclusiva, à capacitação dos indivíduos para serem
consumidores de tecnologias e à formação de recursos produtivos133.
133
A esse propósito veja-se Velzen (1997).
174
Como uma advertência a qualquer conduta recalcitrante por parte dos países
periféricos em relação a aderir aos princípios, afirma-se, ao mesmo tempo, que as
telecomunicações “poderão perpetuar – não intencionalmente” - esse hiato, se não
houver “uma abordagem integrada e estratégica para os desafios do desenvolvimento
das telecomunicações pelos governos, setor privado e organizações internacionais e
regionais” (sic) (UIT-D, 1994a).
134
Partindo das premissas do modelo de ‘mercado livre’, Schickele (1993) evidencia a internet
como um recurso que requer não apenas a intervenção do setor governamental, em especial
no que se refere a um nível de regulação, como, também, depende do investimento público
para que haja um adequado nível de produção e uso.
135
Membro do NTIA e coordenador do Comitê de Políticas de Telecomunicações da IITF, dos
EEUU.
136
Como colocado anteriormente, em termos de ‘capacidades técnicas’, essa conformidade
busca a conectividade das redes, a confiabilidade e autenticidade das transações e a garantia
de integridade dos dados que trafegam na rede.
178
Abramson e Raboy (1999) destaquem esse encontro como o ponto de interseção entre
as governanças ‘dos mercados’ e ‘das tecnologias’, afirmando que “o modelo de ação
do Estado elaborado em Bruxelas foi parte integrante do projeto de governança em
curso, o qual transborda os limites do Estado, embora este desempenhe nele um papel
chave” (nota 14, p. 781, tradução livre).
Essas mudanças vão se expressar, no caso em pauta, nas ações voltadas para a
geração do consumo e de consumidores e sua associação à melhoria da qualidade de
vida, o que é o tema da próxima seção.
geração de demanda de serviços de redes, inclusive das redes de alta velocidade, mas
não envolvem questões de acesso aos conteúdos, já que não levam em conta questões
relacionadas aos usuários – entre outras, a alfabetização formal, a ‘fluência’
linguística, o idioma, as necessidades informacionais -, cuja consideração é
indispensával tendo em vista uma efetiva ‘universalização’ do acesso à informação por
mídia eletrônica.
137
Sobre esse reconhecimento, veja-se Borgman (2000).
182
Por sua vez, a menção a um novo quadro regulatório das relações de trabalho
para lidar com os impactos advindos das tecnologias de informação e comunicação,
bem como a importância dada à gestão do processo de transformação dos postos de
trabalho são discutidos, igualmente, do ponto de vista da sobrevivência das empresas.
138
É interessante observar que, entre as iniciativas para a disseminação das ‘idéias da sociedade
da informação’ como projetos governamentais, diversas instituições dos países centrais ou
de organizações internacionais estão enfocando o tema do governo eletrônico. Entre outros,
podemos mencionar Papapavlou (2000), Ferguson (2000), Bellamy e Taylor (1998),
CLADES (1999), Baron et. al. (2002).
139
Uma universalização do acesso que permitiu o anúncio , em 1999, de um website do governo
federal dos EEUU (usgovsearch.com) com ligações para centenas de websites da
administração pública desse país, ao preço mensal de US$ 30. Conforme chama atenção
Cornella (1999), “tratava-se do primeiro caso importante de um sistema pago de informação
186
Ao final da década de 1990, essa infra-estrutura vai passar a ser nomeada como
‘internet’, referência que deixa de significar uma entre o conjunto das redes
componentes da infra-estrutura de informação, para passar a fazer referência à
‘tecnologia’ resultante da convergência tecnológica à qual nos referimos no parágrafo
anterior.
Podemos afirmar que, até 1998, grande parte dos esforços em relação à
estruturação da infra-estrutura de informação, base tecnológica à qual se associaria a
‘sociedade da informação’ mundial, estiveram voltados para transformar os sistemas
nacionais de telecomunicações existentes em uma rede global de telecomunicações de
propriedade privada, concomitantemente com a disseminação de uma tecnologia capaz
de fazer convergir os diversos sistemas de comunicação, a qual inclui a rede de
comunicação inteligente que se seguiu à desregulamentação dos sistemas de telefonia,
e as tecnologias a ela relacionadas, como as redes de televisão a cabo e por satélite
(BORGMAN, 2000).
141
Conforme colocado por Afonso (2000), a internet generalizou-se particularmente a partir de
1994, quando teve início o uso comercial em grande escala do protocolo HTTP para a
montagem de sites WWW.
191
142
O teletrabalho, destacado como algo amplamente generalizável, é apontado como recurso
que poderá resolver problemas relacionados ao ‘welfare-to-work’, tais como o cuidado com
194
143
A liberalização do setor de telecomunicações foi um requisito assumido como prioridade nos
países onde o mesmo era estatal.
196
global, que vai “encorajar um discurso social amplo com e entre todos os países”
(BROWN et.al., 1995). O interesse dos EEUU com relação a essa infra-estrutura
relaciona-se com o aumento da “demanda por bens e serviços de informação e
comunicação que poderiam decorrer a partir da demonstração dos benefícios dessas
tecnologias” (IITF, 1995).
organizações não governamentais e do setor privado, com uma composição que vai
acabar por pender a favor destes últimos.
144
Por tratar-se de documento publicado pelos EEUU, e, especificamente, voltado para os
países periféricos - “em desenvolvimento”, nos termos de Kennard (1999) -, com o objetivo
exclusivamente voltado para a constituição dos agentes reguladores nestes países, optamos
por considerá-lo isoladamente.
202
Atribuição Ação UE EU G7 CG
Atribuição Ação UE EU G7 CG
Por sua vez, o exame das atribuições em relação à origem da sua formulação
permite algumas considerações interessantes. No caso das atribuições relacionadas
com atividades regulatórias, observa-se que, de um total de 10 atribuições, sete
encontram-se em documentos dos EEUU145. No que se refere à geração de consumo
(GC), há um certo equilíbrio entre União Européia e EEUU, na medida em que, de um
total de 16 atribuições, 6 referem-se à União Européia (38%) e 8 aos EEUU (50%).
DDD
145
Se considerarmos que o guia (CG) foi elaborado por este país para os países periféricos,
chega-se a 80% de atribuições de regulação formuladas pelos EEUU.
205
5. CONCLUSÕES
Milton Santos
O liberalismo ortodoxo, que renasceu após a crise dos anos 1970 e que teve
como seus maiores expoentes os governos Ronald Reagan, nos EEUU, e Margaret
Thatcher, no Reino Unido, cedeu lugar, ainda na década de 1980, ao chamado
‘neoliberalismo’, cujo foco vai girar em torno de questões como a
‘regulação’/‘desregulação’ do mercado e o estabelecimento do perfil de agentes
reguladores, tendo em vista a manutenção da perspectiva privatista e globalizante
característica do pensamento que se tornara hegemônico. Idéias e práticas de
‘desregulamentação’ foram disseminadas ao longo dos anos 1980 e objetivaram
generalizar a crença de haver apenas uma forma de conduzir a economia dos países:
esta teria que estar orientada para o ‘mercado total’ e ser conduzida pela ‘concorrência
e competitividade’.
Nos termos postos por Canclini (1999) e reforçados nesta tese, assiste-se, a
partir de então, a uma política feita pelas empresas, especialmente pelas maiores, de
sorte que esse ‘mercado global’ só vai existir como ideologia. Para esse autor, as
macro empresas teriam constituído uma espécie de ‘sociedade civil mundial’ e, com
isso, remodelado o espaço público, subordinando a ordem social aos seus interesses
privados. Nesse contexto, a infra-estrutura de informação tornava-se a plataforma
tecnológica capaz de, ao mesmo tempo, constituir um ‘mercado sem fronteiras’ para
aquelas empresas e demonstrar a viabilidade de um ‘mercado global virtual’ nos
moldes preconizados pelo discurso neoliberal.
Como comentamos no segundo capítulo, a liderança dos EEUU vai ter, como
resultado, uma ‘globalização’ dominada por atividades baseadas nesse país
(KEOHANE; NYE, 2000, p.7), ensejando o denominado ‘poder brando’, vale dizer,
208
Por sua vez, abordagens como a utilizada pela OCDE, que se pautam por
concepções características da ‘economia da informação’, assumem o importante papel
de legitimar as iniciativas. Ao publicarem dados relativos ao crescimento,
principalmente das ocupações relacionadas com a criação e a manipulação de
informação e sua infra-estrutura de suporte, essas instituições proporcionam
argumentos para reiterar as iniciativas de ‘sociedade da informação’ como forma de
promover o desenvolvimento econômico.
No que se refere ao mercado, a sua centralidade vai fazer com que acabe sendo
considerado como viabilizador do ‘bem comum’. Por essa razão pode-se atribuir
prioridade à promoção do consumo, ainda que a mesma precise ser apresentada como
‘provimento de direito’, ‘democratização de informação’ e ‘transparência
administrativa’. Exemplo disso são os argumentos em favor de investimento público
na infra-estrutura em locais que não interessam ao setor privado, com base na
promoção da universalização do acesso. No entanto, os interesses mercantis acabam
ficando evidentes, na medida em que o discurso que defende iniciativas
governamentais nessa direção acaba por referir-se aos indivíduos como ‘usuários’ e,
muitas vezes, até como ‘consumidores’, mesmo nos casos de serviços proporcionados
215
Por sua vez, entendemos que a inclusão dos países periféricos nesse mercado
‘global’ decorre, prioritariamente, de duas necessidades. A primeira delas é a
necessidade da completa viabilização dos fluxos transfronteiras por todo mundo, o que
requer uma infra-estrutura de informação capilarizada, não apenas nos países centrais
como, também, nos países periféricos. A segunda é a necessidade de tê-los como
consumidores de tecnologias de informação e comunicação. Para tanto, o fundamento
para a abertura de seus mercados apóia-se no discurso, tomado emprestado da
ideologia desenvolvimentista, que afirma que a promoção de um ‘salto tecnológico’ é,
217
DDD
Por fim, um tema que consideramos da maior relevância refere-se aos impactos
do advento dessa ‘sociedade da informação’ sobre a exacerbação da alienação, não
219
6. REFERÊNCIAS
7. ____. The Information Society Conference: theme paper. 1995c. Disponível em:
<http://europe.eu.int/ISPO/incoop/g8/i_g8conference.html>. Acesso em: 08
maio 2002.
10. ____. Green paper on living and working in the Information Society: people
first. 1996b. Disponível em:
<http://www.europe.eu.int/information_society/index>. Acesso em: 29 mar.
2001.
11. ____. Europe at the forefront of the Global Information Society: rolling action
plan. 1996c. Disponível em: <http://www.europe.eu.int/ISPO>. Acesso em: 28
ago. 2001.
13. ____. eEurope 2000: an information society for all: action plan. 2000a.
Disponível em: <http://europa.eu.int/scadplus/leg/pt/lvb/124221.htm>. Acesso
em: 29 mar. 2001.
15. ____. Information society history: 1993 a 2000. 2001. Disponível em:
<http://www.europe.eu.int/ISPO/basics/i_history.html>. Acesso em: 29 mar.
2001.
223
16. ____. White paper on education and training: teaching and learning: towards
the learning society. Arquivo em PDF, 257 Kb. Acesso em: 31 jan. 2002.
20. HUBER. Green paper on public sector information in the Information Society.
1998. Disponível em:
<http://europa.eu.int/ISPO/docs/policy/docs/COM(98)585/gp>. Acesso em: 25
ago. 2001.
23. IRVING, L. Falling through the net: defining the digital divide. Introduction/
Executive Summary. 1999. Disponível em: <http://www.digitaldivide.gov>
Acesso em: 21 out. 2001.
224
24. KAMINARA, A. Europe's way to the Information Society. Update of the action
plan. 1996. Disponível em:
<http://europa.eu.int/ISPO/infosoc/legreg/dede.html>. Acesso em: 30 jan. 2002.
29. MINETA, N. Y. Falling through the net: towards digital inclusion. 2000.
Disponível em: <http://www.ntia.doc.gov/ntiahome/fttn00/contents00.html>.
Acesso em: 27 set. 2001.
35. NTIA. Americans in the information age: falling through the net. 2001.
Disponível em: <http://www.ntia.doc.gov/ntia.home/digitaldivide>. Acesso em:
27 set.2001.
37. SMITH, M. et al. CRS report for congress: Interne. An overview of key
technology policy issues affecting its use and growth. 1998. Disponível em:
<http://usinfo.state.gov/usa/infousa/tech/reports/98-67.pdf>. Acesso em: 27
set.2001.
39. ____. Plan de Accion de Buenos Aires para el desarrollo mundial de las
telecomunicaciones. 1994b. Disponível em: <http://www.igc.org/habitat/ics/gii-
itu/wtdc-apl-es-txt> Acesso em: 02 jun. 2002.
42. UNESCO (2000). Information for all programme: draft. 2000. Disponível em:
<http://www.unesco.org/webworld/future>. Acesso em: 08 abr.2002.
43. UNITED STATES. The National Information Infrastructure: agenda for action.
1993. Disponível em: <http://www.ibiblio.org/nii/toc.htm>. Acesso em: 13out.
2001.
226
44. ____. From digital divide to digital opportunity: the Clinton/Gore agenda for
creating digital opportunity. 2000. Disponível em:
<http://clinton4.nara.gov/WH/new/digitaldivide/digital2.html>. Acesso em:
21out.2001.
6.2 Referências
5. ANGELL, Ian. Winners and losers in the informational age. LSE Magasine, v.7,
n.1, p.10-12, Summer 1995.
13. ____. The social framework of the information society. In: FORESTER, T. The
microelectronics revolution. Oxford: Basil Blackwell, 1980. p.500-549.
20. ____. Belo Horizonte: identifying the requirements for universal internet
access. In: BARON, F. et al. Local e-government now: a worldwide view.
Northampton, UK: Socitm & I&DEA, 2002 a. p.45-47.
25. ____, BEMFICA, J.C., REIS, A.S. Entre a imagem e a ação: a produção de
informação governamental para gestão de políticas de assistência social.
Informática Pública, v.2, n.1, p.67- 79, maio 2000.
36. ____. Local e-government now, 2002: there for the taking. Northampton-UK:
Socitm-I&DeA, 2002. p. 68.
40. ____. Globalização, hegemonia e império. In: TAVARES, M.C.; FIORI, J.L.
Poder e dinheiro: uma economia política da globalização. Petróplis: Vozes,
1998a. p. 87-147.
44. ____. The nation-state and violence. Berkeley: University of California Press,
1987.
49. IANNI, Octávio. Teorias da globalização. 2.a. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1996.
50. KEOHANE, R. O.; NYE Jr., J. S. Introduction. In: NYE Jr., J. S.; DONAHUE,
J. D. Governance in a globalizing world. Cambridge, Massachusetts:
Brookings Institution Press, 2000.
52. KLING, R.; LAMB, R. Analyzing alternate visions of electronic publishing and
digital libraries. In: PEEK, R.P.; NEWBY, G.B. (Ed.). Scholarly publishing: the
electronic frontier. Cambridge: MIT Press, 1996. p.17-54.
55. LOJIKINE, J. A revolução informacional. Trad. José Paulo Netto. São Paulo:
Cortez, 1995.
60. MARTINS, J. S. Exclusão fora de foco. Caderno Mais, Folha de São Paulo,
15/09/2002, São Paulo.
231
65. NAISBITT, J. Megatrends: ten new directions transforming our lives. New
York: Warner Books, 1984.
70. PRESTON, W. J.; HERMAN, E. S.; SCHILLER, H. F. .Hope and Folly: the
United States and UNESCO 1945 – 1985. Minneapolis: University of
Minnesota Press, 1989.
82. WERSIG, G. Information science and theory: a weaver bird’s perspective. In:
INTERNATIONAL CONFERENCE ON CONCEPTIONS OF LIBRARY
AND INFORMATION SCIENCE, August 26-28, 1991, Tampere. Historical,
empirical and theoretical perspectives. Tampere: The University of Tampere,
1991. Paper.
<http://www.firstmonday.org/issues/issues5_8/borgman.index.html>. Acesso
em: 23 jan.2001.
16. IITF. The Global Information Infrastructure Mega Project. s/d.a. Disponível
em: <http://eff.org/GII_NII/govt_docs/iitf_acess.project>. Acesso em: 30
mar.2002.
25. ____. USA G-7 Global Inventory Project. 1996c. Disponível em:
<http://nii.nist.gov/g7/g7-gip.html>. Acesso em: 02 abr. 2002.
26. NYE Jr., J.S.; OWENS, W.A. La ventaja de la informacion de Estados Unidos:
la naturaleza del poder. Cuestiones Mundiales, v.1, n.12, 1996. EEUU midia
eletrônica, Publicaciones Electrónicas de USIS. Disponível em:
<http://usinfo.state.gov/journals/itgic/0996/ijgs/spancom6.htm>. Acesso em: 22
maio2001.
27. OCDE. Trends in the information economy. Paris: OECD, 1996. Disponível em
arquivo pdf. Acesso em: 2000.
28. ____. Impact of the emerging information society on the policy development
process and democratic quality. Paris: OECD, 1998.
31. SCHICKELE, S. The internet and the market system: externalities, marginal
cost, and the public interest. 1993. Disponível em:
<http://www.cpsr.org/cpsr/nii/Schickele_nii_economics_speech>. Acesso em:
30 mar.2002.
33. UIT. ITU Overview: role and work of the union. 2002. Disponível em:
<http://www.itu.int/aboutit/overview/role-work.html>. Acesso em: 09 set.2002.
34. VELZEN, W. Report on the Green paper on Living and Working in the
Information Society - People First. 1997. Disponível em:
<http://europa.eu.int/scadplus/leg/en/lvb/124193.htm>. Acesso em: em 29
mar.2001.
ANEXO
Instrumentos de coleta dos dados
DOCUMENTO ANALISADO
ITEM DESCRIÇÃO
País:
Título
Forma de acesso
Forma de apresentação
Local/Data publicação
Entidade responsável
Elaboração
Coordenador
Natureza da publicação:(*)
Finalidade
Abrangência geográfica:(**)
Validade (temporal)
Estruturação do documento
(*) Recomendação;Relatório; Plano de ação; Plano de Metas; Documento normativo;
Documento legal; Documento crítico.
(**) Global; Supranacional; Nacional Regional; Local.
238
País:
Título
Descrição (Conteúdo e enfoque
central)
Pressupostos (Bases conceituais
implícitas/explícitas)
Premissas
Temas tratados (amplitude e
abrangência)(*)
Diretrizes
Objetivos
Metas
Expectativas(**)
Riscos
Proposições
Recomendações
Atores sociais (papéis)(***)
Forma de financiamento(****)
Público alvo: (beneficiários)
Resultados
Resultados (forma de
mensuração)
Impactos (explicitados)
Responsabilidades dos atores
sociais
(*) Emprego, trabalho, empresas; Educação; Habilitação; Pesquisa e Desenvolvimento;
Infra estrutura; Conteúdos; Governo; Sociedade; Mercado produtor; Mercado
consumidor.
(**) Sociais; Políticas; Culturais; Econômicas
(***) Instâncias globais; Instâncias supre nacionais; Estados nacionais; Poder local;
Mercado global; Mercado nacional; Mercado local; Entidades da Sociedade CiviL.
(****) Fundos internacionais; Governo federal; Governo local; Fundos internacionais; Fundos
nacionais; Setor privado; Parcerias.