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Autoria: Vera Maria da Motta Vieira, Pierre Ohayon, José Celestino Barros
Resumo
O artigo tem como objetivo discutir a capacidade de copiar e inovar como pressupostos para se
obter níveis crescentes de produção interna, garantindo o acesso da população aos medicamentos
de que necessita. Apresentam-se a utilização do poder de compra do governo como estímulo e
fortalecimento às empresas privadas, a produção pública de medicamentos e o desenvolvimento
de competências para inovar como alternativas para a resolução dessas questões. Em decorrência
da utilização dos licenciamentos compulsórios como política de promoção do acesso a
medicamentos pelo atual governo e através do estudo de caso de Farmanguinhos, o Instituto
Tecnológico em Fármacos, laboratório público produtor pertencente à Fundação Oswaldo
Cruz/Ministério da Saúde do Brasil enfatiza-se a importância do aprendizado tecnológico na
produção de anti-retrovirais (medicamentos para combate a AIDS), o que levou à redução dos
custos nas aquisições públicas, assim como a obtenção de poder de barganha em negociações
com fornecedores. Em conclusão, ressalta-se a necessidade de se investir em competências para
inovar como meio de promover a auto-sustentação, a competitividade e minimizar os efeitos
perversos do gap tecnológico no suprimento interno de insumos e no atendimento das demandas
de medicamentos para a promoção da saúde pública.
1. Introdução
O setor industrial farmacêutico é altamente estratégico para a saúde e o bem estar da população
de qualquer país, haja vista ser o medicamento ainda o principal meio de combater e curar as
doenças. Medicamentos são instrumentos imprescindíveis à assistência eficiente e segura à saúde;
portanto, instrumentos de inclusão social e soberania nacional (BARREIRO e FRAGA, 2005).
O aumento da expectativa de vida, proporcionado pelos novos medicamentos e tratamentos vem
causando impactos incomensuráveis, tanto no plano social quanto econômico das nações. A
indústria farmacêutica tem papel ímpar neste processo, curando, minimizando a dor, prevenindo
doenças e criando medicamentos inovadores (TAKAHASHI, 2005). Poucos setores influenciam
tanto os destinos da humanidade com suas descobertas e invenções (ZAGAMÉ, 2005).
Vários são os fatores, contudo, que contribuem para que a maior parte da população seja excluída
dos avanços terapêuticos através dos medicamentos: o alto preço praticado pelas transnacionais
no que se refere à comercialização de medicamentos patenteados; a ausência de medicamentos
para as chamadas doenças negligenciadas que acometem a população dos países pobres e em
desenvolvimento, para as quais a indústria farmacêutica não tem interesse comercial em
pesquisar e desenvolver, e o gap tecnológico existente entre os países inovadores e seus
seguidores, o que os impossibilita de produzir os medicamentos demandados por seus quadros
nosológico e epidemiológico específicos. Este fato configura uma “falha” de mercado (LALL,
2002) que deve ser reparada através da intervenção governamental, ou seja, através das políticas
públicas.
Assim, para que o Governo Brasileiro possa exercer uma de suas principais responsabilidades
constitucionais - a de garantir o atendimento às necessidades básicas de saúde de sua população -
deve promover não só políticas de universalização do acesso a bens e serviços de saúde, na busca
de maior equidade social, como também fomentar a produção interna e a inovação tecnológica
em saúde, especialmente em fármacos e medicamentos.
A saúde pública depende da geração de novos medicamentos para combater novas doenças,
assim como para erradicar aquelas que ainda perduram. Em um país como o Brasil, em que 60%
de sua população estão excluídos do mercado, porque não têm poder aquisitivo para obter o
medicamento na farmácia, é dever do Estado promover os meios para o acesso desta parcela da
população aos medicamentos de que necessita.
2. Inovações em Medicamentos
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As empresas brasileiras atuam no segmento dos similares e genéricos e ainda não alcançaram o
estágio tecnológico necessário para atuar no mercado global. Para nossas empresas saírem do
nicho do mercado de genéricos (cópias) só seria possível investindo em P&D, tornando-se
inovadoras. Essa condição permitiria ao País agregar valor aos produtos exportados, além de
gerar conhecimentos e riquezas para o crescimento econômico e social, permitindo à população
ter maior acesso aos medicamentos, ou seja, melhores condições de vida.
As empresas nacionais não possuem capacidade de investimento para competir com o forte
oligopólio internacional existente no setor. Desta forma, cada vez mais o mercado nacional é
dominado pelas transnacionais. Cada vez mais, o capital internacional se estabelece, o que não
necessariamente traz repercussões positivas para a economia e a sociedade. Cada vez mais,
nossas empresas se vêem segregadas no segmento dos genéricos (cópias) sem chance de inserção
no mercado global.
Em 1998, as vinte maiores empresas farmacêuticas respondiam por 63% do mercado nacional,
com sua líder (Novartis) dominando 6,5% deste mercado (FIUSA e LISBOA, 2003). Atualmente,
a maior empresa nacional é a Aché, com faturamento na ordem R$ 1,8 bilhões (FUZO, 2007).
Esta empresa investe 3,4% do seu faturamento, detendo 90 patentes em seu portfólio
(BRANDÃO et al., 2006, p. 37). O esforço de investir em pesquisa e desenvolvimento, embora
pequeno, resultou no estabelecimento de parcerias com universidades nacionais e pesquisadores
de renome internacional, tendo colocado no mercado, em 2005, seu primeiro medicamento
inovador, com P&D inteiramente realizados no País: o Acheflan - um antiinflamatório à base de
plantas, indicado para o tratamento de tendinites crônicas e dores musculares.
Por outro lado, políticas genéricas de cunho econômico, como o rebaixamento do valor das
alíquotas de importação, que favoreceram as transações comerciais internacionais de um modo
geral, causam sérios transtornos em um setor como o farmacêutico, que tem toda uma dinâmica
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própria e problemas estruturais específicos. Essas medidas vêm trazendo efeitos nefastos sobre o
setor produtivo farmacêutico nacional.
O monopólio da patente repercute no acesso por parte da população carente aos medicamentos
inovadores, já que cinqüenta milhões de brasileiros estão fora do mercado regular de
medicamentos devido a seu baixo nível de renda, dependendo exclusivamente dos medicamentos
dispensados pelo Sistema Único de Saúde – SUS (OLIVEIRA, 2005). Por meio da patente, a
empresa inovadora detém o direito garantido pelo Estado de ser o fornecedor monopolista de
determinado insumo ou produto, durante certo intervalo de tempo (ÁVILA, 2006), o que
proporciona a remuneração dos investimentos realizados em P&D e sem o qual não haveria
incentivo à inovação. As empresas podem então definir os preços e suas margens de lucro para
seus medicamentos patenteados e geralmente o fazem colocando esses preços nas alturas.
Dessa forma, o Governo Brasileiro tem possibilidade de atuar na implantação de uma política de
genéricos, na intervenção dos preços e benefícios desse setor, dentre outras medidas que venham
a contribuir na redução das falhas de mercado (BRASIL, Ministério da Saúde, 2003, p. 6).
A obtenção de novos princípios ativos (fármacos) é uma busca constante por parte das grandes
empresas, pois é o monopólio da tecnologia de fabricação do fármaco que traz lucros
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extraordinários, na medida em que esse componente representa de 55% a 99% dos custos de
produção de um medicamento (PINHEIRO et al., 2006).
A necessidade de criar uma capacitação tecnológica prévia rompe com a hipótese introduzida por
Arrow (1962) que aponta que os custos de transferência de conhecimento (custo da imitação e
custo do processamento da informação já criada) sejam pequenos em relação aos custos de criar
um novo conhecimento. Tal hipótese se fosse certa, caberia somente àqueles países mais
desenvolvidos gerar tecnologia; e aos demais, apenas ter a capacidade de absorção.
Apesar de o conhecimento científico ser publicado em revistas amplamente difundidas, este não
chega a ser um bem livremente acessível, uma vez que poucos possuem o conhecimento
científico especializado, ativamente implicado nesses temas. Além do fato de 70% das
tecnologias contidas na documentação de patentes serem descritas somente por este veículo
(OLIVEIRA et al., 2005), visto que para decodificar uma patente é necessário estar pelo menos
no patamar do estado-da-arte nela contida.
Frente ao argumento dos custos de transmissão nulos, Cohen e Levinthal, (1990) sugerem que,
em longo prazo, os custos da aprendizagem, no sentido amplo, é que asseguram a acumulação do
conhecimento e que podem ser elevados, já que a aquisição de capacidades tecnológicas é um
processo longo e custoso. Ademais, o custo de desenvolver a capacidade de absorção está ligado
notavelmente aos custos da aprendizagem.
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O caráter cumulativo do conhecimento afeta positivamente o incentivo a inovar e melhora a
capacidade das empresas de produzir e desenvolver inovações futuras (visão neo-
schumpeteriana).
Como se sabe, inovar em fármacos e medicamentos é uma atividade cara, complexa e intensiva,
geralmente não realizada por empresas de pequeno porte. Tendo em vista a falta de capacidade de
investimento em P&D das empresas nacionais, pelo seu baixo faturamento e por atuarem apenas
nos segmentos dos similares e genéricos, que não exige este tipo de atividade, compreende-se que
a afirmação do estudioso De Nucci possa fazer sentido para alguns. De fato, a inovação
farmacêutica nas empresas privadas nacionais é bastante rara, apesar de fundamental para sua
sobrevivência.
Entretanto, como já vimos, para que as empresas possam se inserir no mercado global é
necessário investir significativamente em desenvolvimento de competências para inovar, pois a
inovação é fator de competitividade em setores based science como o farmacêutico. Sem inovar,
não há como combater as doenças presentes no quadro epidemiológico brasileiro, doenças essas
que os laboratórios privados não têm interesse em pesquisar. Em 2000, das onze maiores
companhias farmacêuticas, oito não desenvolviam fármacos para o combate a doenças
negligenciadas. Entretanto, no mesmo período, oito medicamentos contra disfunção erétil, sete
contra obesidade e quatro contra distúrbios do sono encontravam-se em teste (EATON, 2001).
Torna-se, assim, fundamental para o Brasil desenvolver competências tecnológicas para chegar a
novos fármacos, para produzir os medicamentos necessários ao atendimento das necessidades
nacionais, sob pena de ser comprometida sua soberania.
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7. Poder de Compra Governamental como Instrumento de Política Pública
Nos países desenvolvidos onde a distribuição de renda é mais eqüitativa e a população tem alto
padrão de vida e salário, o acesso a medicamentos é feito por meio do seguro-saúde privado.
Assim, o cliente sai da consulta médica já com a medicação fornecida. As companhias de seguro-
saúde utilizam-se de empresas tipo Pharmaceutical Benefit Management – PBM que servem de
intermediários/negociadores com as indústrias e conseguem redução nos preços devido as
grandes quantidades de medicamentos comercializados.
As compras governamentais na área de medicamentos engajam cerca de U$D 1,125 bilhões por
ano, sendo 45% para o SUS, 20% em AIDS, 11% em produtos estratégicos (Hanseníase, Fator
VIII, Malária, Insulina, Tuberculose) e 24% em gastos excepcionais, saúde mental e farmácia
(BRASIL, MDIC, 2003).
Os laboratórios públicos podem ser utilizados para criar mercado para os fornecedores de
fármacos domésticos, direcionando suas licitações. Esses laboratórios podem ainda desenvolver
tecnologias de produção de fármacos e intermediários de síntese e licencia-las para os
laboratórios farmoquímicos nacionais, de modo a que eles possam ser parceiros fornecedores dos
insumos para a produção pública de medicamentos.
O Brasil dispõe de uma rede de laboratórios farmacêuticos públicos, ligados aos estados e ao
governo federal. Tal rede é um modelo sui generis no mundo. Este modelo de produção de
medicamentos por laboratórios públicos adotado pelo Brasil é bastante combatido por adeptos do
neoliberalismo econômico. Segundo De Nucci “Há um erro estratégico do governo: não é função
do setor público produzir medicamentos” (De NUCCI, 2004).
Entretanto, a teoria neoliberal que julga serem as livres forças de mercado que determinam a
competitividade entre as empresas e o receituário dos organismos internacionais não tem gerado
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riqueza para os países pobres e em desenvolvimento, visto estarem as empresas destes países
excluídas do mercado globalizado, atuando apenas no mercado interno. Caso este modelo não
funcionasse não haveria o prestígio alcançado em Programas Governamentais, como o da AIDS,
cujo modelo está sendo exportado para os países africanos.
As origens dos Laboratórios Oficiais (cf. QUADRO 1) foram as mais variadas, com distintas
missões e em distintos setores (Setor Público Estadual, Federal, Universidades, Forças Armadas),
atendendo basicamente às políticas ministeriais e estaduais para o desenvolvimento da produção
de medicamentos, a exemplo do Programa da Farmácia Básica no nível federal e dos Programas
de Assistência Farmacêutica em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, sinalizando novas
funções públicas.
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Fundação
Fundação para o Remédio Popular Secretaria de
SP 1972 pública de 3.903.840,5
(FURP) Estado de Saúde
direito público
Fundação
Estadual de
Laboratório Farmacêutico do Rio
Produção e RS 1972 Departamento 375.800,0
Grande do Sul (LAFERGS)
Pesquisa em
Saúde
Sociedade de
Laboratório Industrial Secretaria de
AL 1974 economia 1.728.144,0
Farmacêutico de Alagoas (LIFAL) Estado de Saúde
mista
Universidade
Laboratório de Produção de Autarquia
Estadual de PR 1989 96.000,0
Medicamentos (LPM) especial
Londrina
Universidade Órgão
Núcleo de Pesquisa em Alimentos
Federal do Rio RN 1991 suplementar 876,3
e Medicamentos (NUPLAN)
Grande do Norte da UFRN
Laboratório Industrial Sociedade de
Secretaria de
Farmacêutico do Estado da Paraíba PB 1997 economia 80.000,0
Estado de Saúde
(LIFESA) mista
Total 10. 972.679,2
* Em milhões de unidades farmacêuticas/ano.
Fonte: Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil, ALFOB 2005
Os recursos públicos são limitados para realizar as aquisições de medicamentos dos laboratórios
privados que praticam preços abusivos e faturam alto, além de utilizar mecanismos como preços
de transferência (superfaturamento dos insumos importados) e poder de monopólio do mercado,
durante a vigência da patente de seus medicamentos. Além de dotar o governo de poder de
barganha junto às empresas produtoras, os laboratórios oficiais (embora atuem apenas no
segmento público de mercado) têm importante papel na regulação, funcionando em caráter
supletivo, desempenhando também uma função de regulação de preços, pela aferição dos custos
de produção. Existem medicamentos no Brasil, além disso, que são fabricados somente pelos
laboratórios oficiais, que dessa forma suprem estrategicamente o mercado e o regulam, servindo
de instrumento de política pública.
A produção dos laboratórios oficiais permite ao governo brasileiro promover maior acesso da
população carente e diminuir o preço dos medicamentos no mercado nacional. O exemplo dos
medicamentos ARVs demonstra que esta política produz resultados concretos, a despeito de toda
a concertação que fazem na mídia contra os laboratórios públicos, tentando caracterizar como
“roubo” de patente algo legítimo e legal como é o licenciamento compulsório, uma prerrogativa
do governo brasileiro estabelecida na sua lei de patentes.
Nos últimos quatro anos, o Brasil ameaçou emitir licenças compulsórias de ARVs, utilizando
uma salva-guarda legal contida na nossa Lei de Patentes. Diversas Organizações Não
Governamentais – ONGs, juntamente com o Ministério Público Federal ingressaram com uma
ação civil pública na Justiça Federal com o objetivo de impulsionar o Poder Executivo a realizar
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o Licenciamento Compulsório do medicamento Kaletra. O pedido de liminar foi indeferido em
primeiro grau sob alegações pouco técnicas, pois assentam-se no argumento de que haveria a
probabilidade de um desabastecimento de ARVs em virtude da incapacidade de produção dos
laboratórios nacionais e na ausência de interesse público. Tal argumento é inconsistente na
medida em que o Brasil possui capacidade para produzir a segunda linha de medicamentos anti-
retrovirais . Esta é a conclusão do documento “ A produção de ARVs no Brasil, uma avaliação”
realizada pelo Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual da REBRIP- Rede Brasileira pela
Integração dos Povos, coordenado pela ABIA – Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS
(FORTUNAK e ANTUNES, 2006).
Os laboratórios oficiais, caso detenham tecnologia para realizar a engenharia reversa, podem
lançar mão do licenciamento compulsório para produzir medicamentos estratégicos para a saúde
pública, neutralizando o efeito da patente no setor farmacêutico, que impede o acesso a esses
medicamentos para quem não pode pagar o alto preço pelo qual eles são ofertados nas farmácias.
O licenciamento compulsório não seria a melhor medida adotada por um governo para garantir o
acesso de sua população a medicamentos essenciais. Entretanto, diante da falta de interesse das
empresas farmacêuticas em licenciar tecnologias de produção de fármacos, o insumo
farmacêutico, esta é a melhor solução encontrada.
O governo, exercendo seu papel constitucional de promover o bem estar da população e resolver
os problemas da saúde pública, promove e financia a fabricação oficial que, além de ser
altamente econômica (por não visar lucro e não ter os custos de marketing e comercialização
embutidos), ainda obtém informações, monitorando a política governamental de controle de
preços.
Laboratório de Referência para o SUS, adequado às boas Práticas de Fabricação e ISO 9002,
Farmanguinhos vem instruindo laboratórios de outros países em desenvolvimento para a inserção
competitiva na corrida da produção de anti-retrovirais.
Atualmente em Farmanguinhos são produzidos sete dos dezesseis medicamentos que compõe o
coquetel: Didanosina, Estavudina, Indinavir, Lamivudina, Lamivudina+Zidovudina, Nevirapina e
Zidovudina. Além destes, pesquisou também as fórmulas do Efavirenz, comercializado pela
Merck e do Nelfinavir, da Roche – o que possibilitou ao Brasil negociar a redução do preço
destes medicamentos junto às duas transnacionais em 59 % e 40%, respectivamente, que antes
somavam juntos 36% de todo o gasto na compra dos anti-retrovirais feita pelo MS.
Farmanguinhos tem tido papel fundamental na redução dos gastos públicos através da produção
de medicamentos para atendimento aos problemas de saúde pública do País e ao longo de sua
curta existência (1956-2007) vem realizando uma trajetória institucional e tecnológica que a
diferencia dos demais laboratórios públicos produtores. O fato de ser um instituto tecnológico
integrante do complexo Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz traduz sua vocação para o ensino, a
pesquisa e o desenvolvimento tecnológico em fármacos e medicamentos.
11. Conclusões
Os argumentos de que o gap tecnológico é tão grande que não convém desenvolver tecnologia e
sim importá-la; e de que é mais vantajoso comprar insumos e medicamentos acabados no
mercado externo do que produzi-lo internamente não se sustentam, pois sabemos quais poderão
ser as conseqüências para a saúde pública e segurança sanitária do País no futuro.
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A experiência do Brasil com os ARVs confirma que é justificável a existência de uma rede oficial
de laboratórios produtores de medicamentos nos países pobres e em desenvolvimento.O caso do
laboratório estatal Farmanguinhos e da produção de anti-retrovirais comprova a eficiência dessa
política, assim como o reconhecimento internacional da política brasileira de combate à AIDS e a
exportação do modelo para os países africanos.
O compromisso de posterior fabricação no País está sempre sendo adiado, tendo em vista os
entraves ao licenciamento de patentes e, também, as dificuldades políticas e tecnológicas para
lançar mão do licenciamento compulsório.
Por que deveríamos nos ater apenas a genéricos e a me toos, quando o País pode inovar?
Notas
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