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Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007

ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS NA
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
BRASILEIRA. UMA ABORDAGEM
SOBRE AS PERSPECTIVAS E
OPORTUNIDADES DA
BIOTECNOLOGIA

Ronaldo Ferreira da Silva (UFF)


ronaldorubano@ig.com.br
Armando P.Do Nascimento Filho (UFF)
gqiarma@vm.uff.br

O setor farmacêutico é um dos segmentos mais competitivos na


economia mundial. Grande parte é dominada por gigantescas
corporações transnacionais, entretanto, nos últimos anos houve
importantes modificações com a crescente participação dos
medicamentos genéricos e uma conseqüente descentralização do
mercado. Isso impõe a cada um dos competidores estabelecerem uma
estratégia clara e definida para manter e/ou aumentar sua
participação. Este estudo busca refletir sobre estas estratégias e
analisar a importância dos investimentos em biotecnologia para os
concorrentes do setor como vantagem competitiva e as oportunidades
geradas nesta área para pesquisadores e empresas do Brasil.

Palavras-chaves: Biotecnologia, Estratégia, Mercado Farmacêutico


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Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007

1. Introdução
A economia mundial atravessa um período de grande crescimento e a competição entre as
organizações é cada vez mais acirrada e complexa. Empresas de países emergentes investem
fortemente em altíssimos volumes de produção e custos baixos ao mesmo tempo em que
buscam nichos de mercado de alta tecnologia e melhores margens de lucro. Dentre as 10 áreas
de maior interesse estratégico, destacam-se pelo menos 3 relacionadas à saúde humana. Neste
sentido observa-se que alguns países voltam-se prioritariamente para a pesquisa e o
desenvolvimento de novas tecnologias enquanto outros apenas as absorvem via aquisição de
direitos de produção e comercialização (CRUZ, 2004)
O setor farmacêutico constitui um segmento que cresce com uma perspectiva de 8,1% ao ano,
Rossi (2001) e se caracteriza como um mercado monopolizado e/ou oligopolizado cujas
empresas líderes estão sediadas nos Estados Unidos e Europa com subsidiárias presentes em
inúmeros países (GADELHA, 2003).
No Brasil, as indústrias transnacionais dominam o mercado há muitos anos, porém, nos
últimos 20 houve mudanças importantes. Com a implementação da lei de Patentes, Brasil
(1997) e dos Genéricos, Brasil (1999), o mercado brasileiro começa a tomar um formato
diferente: ao lado dos conglomerados transnacionais desponta uma indústria nacional forte e
competitiva, Hanseclever (2004). Por outro lado, o crescente desenvolvimento da
biotecnologia se apresenta como uma oportunidade que pode gerar mudanças significativas
neste mercado. O objetivo deste estudo é analisar como os competidores avaliam a melhor
estratégia para disputá-lo e que perspectivas e oportunidades se apresentam neste contexto
para o setor de biotecnologia no Brasil.
2. Estratégia – Fundamentos
Porter (1999), afirma que “estratégia é criar uma posição exclusiva e valiosa, envolvendo um
diferente conjunto de atividades”. A essência do posicionamento estratégico consiste em
escolher atividades diferentes das exercidas pelos competidores, o que não garantirá, por si só,
uma vantagem sustentável já que aquela posição de valor conquistada atrairá outros
competidores para a mesma atividade.
Para Porter apud Canongia (2002), a tecnologia influencia a competição ao modificar a
estrutura de setores e negócios, abrindo oportunidades para novos entrantes. Desta forma, a
inovação ocupa um espaço importante no planejamento estratégico das organizações,
principalmente naquelas que buscam na diferenciação sua estratégia de competição no
mercado, entretanto, um produto terá lugar no mercado se satisfizer alguma necessidade do
consumidor e, se não existirem competidores que possam substituí-lo certamente manterá sua
posição ainda que com preço alto e baixa qualidade. (BETHLEM, 2002).
Segundo Porter (1989), a análise da cadeia de valor de uma organização permite desagregá-la
nas suas atividades de relevância estratégica, possibilitando distinguir, dentre as diversas
atividades executadas, aquelas que podem representar para a empresa um potencial de
diferenciação que a distinguirá no mercado em que atua. As diferenças entre cadeias de valor
concorrentes são uma fonte básica de vantagem competitiva, pois, se o valor a ser atribuído
pelo consumidor é o que ele percebe, a diferenciação se dará por meio de atividades
executadas estrategicamente no sentido de criar valor para aquele consumidor. Para o autor, o
grau de concorrência em uma indústria depende de cinco forças competitivas básicas, as

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conhecidas 5 forças de Porter (fornecedores, entrantes potenciais, substitutos, compradores e


concorrentes) cujo conjunto determina o potencial de lucro final na indústria.
O objetivo da estratégia competitiva de uma organização competindo em determinada
indústria é definir qual a melhor posição dentro daquele mercado na qual a empresa possa
lidar com estas forças de maneira a manter uma vantagem competitiva sobre seus
concorrentes.
3. O mercado farmacêutico global
Segundo Brandão apud Santos (2004), a indústria farmacêutica é considerada um dos setores
mais lucrativos da economia mundial. Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU)
indicam que os medicamentos respondem por 40 a 50 % dos gastos em saúde pública nos
países desenvolvidos. Nestes países o gasto com saúde por habitante pode chegar a U$ 1.500
e cerca de 75% deste total é financiado pelo estado (VELÁSQUEZ, 2004).
Poucos países do mundo conseguem dominar completamente a cadeia de atividades que
levam uma substância química a se tornar um medicamento, Falci (2005). Este seleto grupo
estava até então restrito ao eixo EUA-Europa, entretanto, nos últimos anos países emergentes
como Índia, China e Coréia estão superando as barreiras e inserindo no mercado global
empresas extremamente rentáveis que já dominam toda a cadeia em relação a alguns fármacos
(EXAME, 2006).
O mercado farmacêutico pode ser dividido em quatro segmentos principais: medicamentos de
referência (marca ou inovadores), similares, genéricos e OTC (Medicamentos de venda livre
sem necessidade de receita médica). Existem ainda no Brasil os medicamentos magistrais,
preparados em farmácias que não serão objeto deste estudo. Os medicamentos de referência
são produtos inovadores que normalmente são pioneiros no tratamento de determinadas
doenças, registrados na ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) através da
comprovação científica de sua eficácia, segurança e estabilidade. Os similares contêm os
mesmos princípios ativos do medicamento de marca, porém, não foram submetidos à testes de
bioequivalência que garantam uma eficácia igual ao medicamento de referência. Por este
motivo não podem ser intercambializados. Os medicamentos genéricos são aqueles aprovados
nos testes de bioequivalência podendo substituir o medicamento de referência. Os OTC são
produtos disponíveis aos consumidores sem a necessidade de prescrição médica (ROSSI,
2001).
De Paula (2001) afirma que o mercado é concentrado localmente e relativamente fragmentado
em nichos de mercado. Bermudez (2004) argumenta que ao se analisar o mercado como um
todo, observa-se uma competição razoável onde as 10 maiores empresas detém
aproximadamente 41% do total e nenhuma delas mais do que 10%. Por outro lado, ao se
proceder à análise por classes terapêuticas, verifica-se um alto grau de concentração neste
mercado, podendo chegar a mais de 90% sob controle de um só competidor num determinado
nicho do mercado, Hanseclever (2000). Para Gadelha (2003), as empresas farmacêuticas se
especializam em nichos em função da variedade e complexidade dos processos envolvidos.
Segundo Gadelha (1990), a indústria farmacêutica de referência se caracteriza como um
oligopólio diferenciado baseado na inovação, pois o lançamento de novos produtos é
prioritário em relação às economias de escala e custos de produção. Sua principal fonte de
diferenciação é a pesquisa e desenvolvimento. É necessário o lançamento de novos
medicamentos a cada patente expirada, pois, findo o prazo de proteção, os produtos

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farmacêuticos ficam expostos à concorrência dos genéricos e similares que utilizarão outras
estratégias de competição.
Este setor pertence ao complexo da química fina/especialidades e seu crescimento se baseia
no tripé pesquisa/desenvolvimento, produção e comercialização. Em função dos altos custos
de P&D, o setor é fortemente influenciado pela questão das patentes. Segundo a Pharma-
Pharmaceutical Research and Manufactures of America apud Canongia (2002), as grandes
empresas farmacêuticas investem 20% de seus ganhos em P&D. Além do custo elevado, o
investimento é de alto risco visto que a cada 10.000 medicamentos estudados, 1 é aprovado e
comercializado. Segundo De Paula (2001), enquanto ao final da década de 60 do último
século gastava-se cerca de U$ 60 milhões num lançamento, neste século este custo varia entre
U$ 250 e U$ 400 milhões.
Para Bekerman e Sirlin (2001), a indústria farmacêutica está sofrendo um processo de grandes
transformações. A entrada em vigor das leis de patente limitou as possibilidades de expansão
das empresas menores, principalmente nos países em desenvolvimento. Para muitas dessas
empresas as alternativas foram o investimento no mercado de genéricos, a associação com as
transnacionais ou a sua incorporação por outros grupos. De Paula (2001) acrescenta que as
fusões e aquisições são largamente utilizadas como instrumento de crescimento no curto
prazo, entretanto, para manter a liderança no longo prazo é necessário investir em novos
lançamentos para manter a posição conquistada.
4. O Mercado Farmacêutico Brasileiro
O mercado farmacêutico brasileiro conta com cerca de 300 indústrias em que as dez maiores
controlam mais de 40% do mercado e as trinta maiores cerca de 2/3 do total. Segundo a
Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Abifarma, 2002), em 1998 as 5 maiores
indústrias do setor detinham 28% do mercado e em 2002 esta participação caiu para 25%.
Neste período os grandes grupos transnacionais perderam mercado no país para produtos
similares e genéricos. De acordo com o anuário Exame Maiores e Melhores (2006), dentre as
500 maiores empresas brasileiras em vendas, estão 10 que operam no setor farmacêutico. Das
15 melhores empresas do segmento farmacêutico, higiene e cosméticos, 10 são farmacêuticas
e destas, 6 são de capital nacional. Dentre estas 15, oito estão entre as dez que obtiveram
maior crescimento de vendas e a que obteve maior crescimento foi uma empresa com forte
presença no mercado de medicamentos genéricos que, também, foi a primeira colocada em
rentabilidade.
Segundo a Abifarma, depois da estabilização monetária no Brasil a partir da introdução do
Real, pelo menos 20% da população da faixa E passou a consumir mais medicamentos,
entretanto, estima-se que 54 milhões de pessoas estão à margem deste consumo. Esta parcela
da população tem parte de suas necessidades atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e
pelo programa Farmácia Popular que respondem por cerca de 12% das vendas da indústria
farmacêutica e pela compra da produção dos 18 laboratórios públicos existentes no país que,
segundo a Associação dos laboratórios nacionais (ALANAC), detém cerca de 8,4% da
produção nacional de medicamentos (CRUZ, 2004).
As indústrias produtoras de medicamentos similares deverão sofrer forte ajuste nos próximos
anos em função de recente regulamentação que exige testes de bioequivalência para estes
produtos, Brasil (2003). A tendência é de que os medicamentos genéricos ganhem espaço no
mercado e que muitos similares desapareçam do mercado, pois o alto investimento exigido
para a realização dos testes somente será compensador para as marcas fortes com grande

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volume de vendas. Segundo Abreu (2004), a competição só existe de fato no mercado


farmacêutico brasileiro no segmento de medicamentos genéricos.
5. As Estratégias Competitivas do Setor Farmacêutico
Segundo Médici, Beltrão e Oliveira apud Rossi (2001), a estratégia predominante na indústria
farmacêutica é a da concorrência pela diversificação de produtos e não mediante preços, com
uma tendência de concentração por classes terapêuticas pelas empresas transnacionais.
A estratégia de diferenciação neste mercado se dá quando uma empresa, normalmente uma
transnacional, coloca no mercado um produto inovador, ou através de produtos similares em
que se busca a diferenciação através do nome comercial da embalagem, da forma
farmacêutica ou do canal de distribuição. A indústria de medicamentos genéricos opera com
embalagens padronizadas e formulações bioequivalentes aos medicamentos de marca. Sua
estratégia de posicionamento no mercado é a liderança total de custo e negociação com os
pontos de venda.
Reportagem recente mostra a competição acirrada entre as empresas nacionais produtoras de
medicamentos genéricos que aumentaram suas linhas de produção de forma exponencial,
diversificando a oferta de produtos e adotando uma política agressiva de descontos junto ao
varejo, proporcionando maiores margens de lucro às drogarias e conseguindo com estas
estratégias vantagens competitivas sobre gigantes transnacionais que operam neste mercado,
(EXAME, 2005).
Segundo Hanseclever (2004), a introdução dos medicamentos genéricos no mercado brasileiro
provocou forte efeito sobre a estrutura de mercado gerando um movimento de pulverização a
partir da substituição dos medicamentos de marca pelos genéricos, que também está
exercendo alguma influência na redução dos preços dos medicamentos ainda que não tão
significativa.
Falci (2005), relata a busca pela inovação em uma empresa brasileira. Num momento inicial,
buscou-se a produção de genéricos visando conquistar um maior espaço no mercado ao
mesmo tempo em que estabeleceu parcerias com empresas inovadoras com o objetivo de
lançar novos produtos. Numa segunda etapa estabeleceu parcerias com centros de pesquisa,
universidades e órgãos de fomento estatal para o desenvolvimento a médio prazo de novos
medicamentos. Para De Paula (2001), a vantagem competitiva no setor será das empresas
inovadoras, globais, com uma gestão eficiente de P&D, reestruturadas e envolvidas em fusões
e aquisições.
6. O Setor de biotecnologia
Há muitos anos se utilizam insumos obtidos de animais e vegetais na produção de
medicamentos, entretanto, nos últimos vinte e cinco anos a tecnologia utilizada nestes
processos evoluiu significativamente. Segundo Salles-Filho apud Bonacelli (1993), uma das
características da biotecnologia é a substituição de produtos tradicionais através de inovações
nos processos de produção. A biotecnologia tem ocupado um espaço cada vez mais
importante na geração de novos medicamentos. Em 2003, do total em fase de pesquisa clínica
no mundo, 27% eram de origem biotecnológica, Febrafarma (2005). Segundo Burril et Lee Jr
apud Bonacelli (1993), a área da biotecnologia que mais tem recebido investimentos é a da
saúde humana, principalmente os segmentos terapêuticos e de diagnósticos. Em 1992, 66%
dos investimentos em biotecnologia nos Estados Unidos foram direcionados a estas áreas.
Fernandez (2000) considera a biotecnologia como um dos principais processos que
constituem a terceira revolução industrial e aponta no sentido do estabelecimento de bases e

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princípios para o desenho dos sistemas de qualidade da indústria biotecnológica. Em 1992 o


escritório norte-americano de patentes emitiu 4446 patentes de biotecnologia em que quase a
metade (2094) foi da área de saúde.
Segundo Antunes (2005), a gestão em biotecnologia faz parte da cadeia produtiva de
fármacos e medicamentos ao envolver aspectos como patentes, a biodiversidade brasileira e as
estratégias de prospecção de novos medicamentos para doenças crônicas como as
cardiovasculares, câncer e diabetes. Porto (2000), observa que processos bioquímicos são
cada vez mais utilizados para a obtenção de produtos químicos. A futura utilização de
biocatalizadores deverá ampliar o espaço da biotecnologia em processos industriais abrindo
caminho para a engenharia bioquímica e de bioprocessos.
Para Yunes (2001), o desenvolvimento de novos medicamentos a partir de vegetais se
justifica por diversos fatores como menores custos de pesquisa, menores riscos de efeitos
colaterais, efeitos sinérgicos e associação de mecanismos por compostos agindo em alvos
moleculares diferentes. Segundo o autor, o Brasil apesar de dispor de uma rica biodiversidade,
detendo cerca de um terço da flora mundial, não tem uma participação destacada no mercado
mundial de fitoterápicos. Este mercado gira mundialmente cerca de 22 bilhões de dólares e se
coloca como alternativa estratégica para a indústria farmacêutica.
Caldas (2000), demonstra o quanto a biotecnologia impacta na economia de determinados
países, especificamente no segmento farmacêutico. A Coréia do Sul participava em 1999 com
20% do mercado mundial de aminoácidos e 40% do de vacina para hepatite B. O país conta
com uma infra-estrutura de apoio às ações de pesquisa e desenvolvimento em biotecnologia
constituída por 6 programas estratégicos como banco de genes, recursos biológicos, plantas-
piloto, informação em biotecnologia, avaliação de biossegurança e eficácia e testes clínicos.
Apesar de ainda não possuir uma indústria farmacêutica fortemente presente no cenário
internacional, a perspectiva é de que o país forme “joint-ventures” com os grandes
conglomerados do setor para ampliar sua participação no mercado em função dos expressivos
resultados obtidos em pesquisa e desenvolvimento na área de biotecnologia.
Sardinas et Martin (2000), abordam a questão da biotecnologia em Cuba onde é considerada
um campo estratégico para o desenvolvimento nacional tanto no sentido de suprir as
necessidades básicas da população quanto na perspectiva de competição internacional. A
partir da década de 80 do século passado, o governo cubano investiu no setor buscando
fomentar uma indústria de alto valor agregado, principalmente a médico-farmacêutica.
Segundo Possas (2004), as recentes conquistas na área de biotecnologia conferem à esta área
da ciência um papel crucial no processo de inovação tecnológica e de destaque em relação a
outras tecnologias de ponta. No setor farmacêutico, o impacto destas transformações tem sido
extraordinário propiciando um futuro promissor para a prevenção e tratamento de inúmeras
doenças desde o câncer, mal de alzheimer e AIDS entre outras. Tais avanços fazem com que o
mercado global da biotecnologia alcance cifras gigantescas, pois se estima que somente o
norte-americano chegue a U$ 3,5 bilhões em 2004. Para a autora, o Brasil desponta como um
grande potencial neste segmento em função não só de sua grande biodiversidade, mas também
pela competência de seus cientistas.
Scholze (1998), afirma que “a biotecnologia é um conjunto de conhecimentos, técnicas e
métodos, de base científica ou prática que permite a utilização de seres vivos como parte
integrante e ativa do processo de produção industrial de bens e serviços”. Para a autora, em
função dos elevados custos da pesquisa biotecnológica, o conceito de rentabilidade passa a
fazer parte do meio científico e o acesso às tecnologias disponíveis em países desenvolvidos

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se torna necessário e somente será obtido através de estratégias de cooperação internacional.


Por outro lado, o desenvolvimento do conhecimento nesta área somente é possível através da
associação de investimentos públicos e privados.
A IBM (2005), realizou um estudo concluindo que a biotecnologia atingiu a maturidade e que
as empresas do setor terão um papel mais importante no processo de desenvolvimento de
novos fármacos. Ao investir em alianças melhor planejadas e com maiores possibilidades de
êxito, estas empresas passam a exercer uma influência cada vez maior sobre a indústria
farmacêutica. O estudo aponta ainda na direção da necessidade que as indústrias
farmacêuticas terão de se aliar às empresas de biotecnologia que por sua vez, em função de
sua maior agilidade e flexibilidade, conseguem estabelecer entre si alianças estratégicas. O
grande desafio para estas empresas consiste em planejar e executar acordos de parceria cada
vez mais eficazes.
Falci (2005), cita projetos em andamento no país com a parceria entre centros de pesquisa,
iniciativa privada e financiamento público. Ele cita o exemplo do Centro de Pesquisa,
Inovação e Difusão (CEPID) em que 3 empresas privadas trabalham em conjunto com centros
de pesquisa com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP). Cita ainda o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) para tais
projetos. Para ele tais iniciativas podem levar o mercado farmacêutico nacional à outros
patamares de competição.
Palmeira (2006), cita a criação, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) do programa Profarma-P,D & I no qual a instituição sinalizou, pela primeira
vez em muitos anos com uma linha de financiamento diferenciada para as atividades de P &
D. Para ele, o processo de inovação somente irá acontecer no Brasil no momento em que se
tenha empresas robustas financeiramente no setor com condições de arcar com os custos deste
processo.
7. Considerações Finais
Os principais competidores no mercado farmacêutico no Brasil são as indústrias de
medicamentos de referência, de genéricos, de similares e de OTC. Cada qual estabelece sua
estratégia para aumentar sua participação no mercado, definindo o nicho em que possua
maiores vantagens competitivas para melhorar sua posição. Observa-se que as empresas
multinacionais têm uma estratégia bem definida optando por competir por diferenciação
através da inovação, enquanto as maiores empresas nacionais o fazem por liderança de custos
via produção de medicamentos genéricos.
Analisando-se as 5 forças de Porter, observa-se que a indústria farmacêutica transnacional tem
um grande poder de barganha junto aos fornecedores. Entretanto, em função do baixo poder
aquisitivo da população, cresce a participação dos genéricos no mercado favorecendo novos
entrantes que estão se tornando gigantes neste mercado neutralizando o poder de negociação
das transnacionais com alguns fornecedores. Além disso, o poder público vem aumentando a
oferta de medicamentos de baixo custo em todas as regiões do país e a intensa rivalidade entre
os competidores força à redução da lucratividade entre os concorrentes na indústria. A entrada
de produtos substitutos inovadores é uma alternativa para manter a rentabilidade.
A tendência de crescimento exponencial da participação dos medicamentos genéricos no
mercado deve ser atenuada nos próximos anos à medida que se aproximar dos patamares
observados nos países desenvolvidos. Para os grandes competidores neste segmento a
manutenção de suas receitas provavelmente passará também por uma estratégia de inovação,

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tal qual já o fazem seus pares indianos e chineses além da participação em fusões,
incorporações e join-ventures.
Porter (1999), identifica alguns requisitos fundamentais para as organizações que adotam a
diferenciação como estratégia genérica: grande capacidade em pesquisa básica, reputação da
empresa como líder em qualidade ou tecnologia, forte coordenação entre funções em P&D e
ambiente ameno para atrair mão-de-obra altamente qualificada, cientistas ou pessoas criativas,
entre outras. Nas empresas multinacionais estes requisitos são facilmente identificados e
fazem parte da cultura destas organizações, entretanto, o fator custo tem sido decisivo para
que muitas empresas busquem externamente os produtos inovadores que necessitam, De
Paula (2001). A tendência do mercado é a constituição de redes de cooperação envolvendo
instituições públicas e privadas que permitam às empresas menores atingir os mercados via
grandes indústrias já estabelecidas que utilizem as primeiras como via de redução em seus
custos de P & D (BONACELLI, 1993).
Este conjunto de fatores abre uma perspectiva de crescimento para o mercado brasileiro de
biotecnologia. O país forma um número razoável de mestres e doutores anualmente e conta
com uma quantidade expressiva de universidades públicas com tradição em pesquisa básica
além de diversos centros de desenvolvimento tecnológico. Algumas parcerias entre iniciativa
privada, universidades e órgãos de fomento já se tornaram realidade e, se bem administradas,
podem conduzir a pesquisa biotecnológica brasileira a um crescimento sustentável abrindo
caminho para a criação de um número expressivo de pequenas empresas de alta tecnologia
voltadas para o setor da saúde.
Não se pretende esgotar o tema, mas contribuir com as discussões acerca da participação dos
diversos atores envolvidos num segmento vital para o desenvolvimento do país.
Referências
ABIFARMA (2002). ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA. Cenário do
mercado farmacêutico. Embanews. São Paulo, fev. 2002.
ABREU, J.C. Competitividade e análise estrutural da indústria de medicamentos genéricos brasileira.
Dissertação de Mestrado, Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2004.
ANTUNES, Adelaide. A importância do observatório de atividades industriais vis-à-vis tendências em ciência,
tecnologia e inovação. Química Nova. São Paulo, v.28, supl. 0, nov/dez. 2005.
BEKERMAN, Marta; Sirlin Pablo. Impactos estáticos y dinâmicos del Mercosur. El caso del sector
farmacêutico. Revista de la CEPAL. Santiago, n.76, p. 227 – 243, dez. 2001.
BERMUDEZ, J. A. Z. Acesso a Medicamentos: Derecho Fundamental, Papel del Estado. 1 ed.Rio de Janeiro:
editora ENSP-FIOCRUZ, 2004.
BETHLEM, Agrícola. Estratégia Empresarial: conceitos, processos e administração estratégica. 4 ed. São
Paulo: editora Atlas, 2002.
BONACELLI, Maria. Determinantes da evolução da biotecnologia nos anos 90: a cooperação empresarial.
Cadernos de Ciência e Tecnologia. Brasília, v.10, n. 1/3, p. 72-92, 1993.
BRASIL, Lei 9787 de 10 de fevereiro de 1999. Altera a lei n. 6360 de 23 de setembro de 1976 que dispõe sobre
a vigilância sanitária, estabelece o medicamento genérico, dispõe sobre a utilização de nomes genéricos em
procedimentos farmacêuticos e dá outras providências.
BRASIL, Lei 9782 de 26 de janeiro de 1999, define como Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, cria a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária e dá outras providências.
BRASIL, Resolução de Diretoria Colegiada N.133 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, dispõe sobre o
registro de medicamento similar e dá outras providências.

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