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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA

EXCELENTÍSSIMO(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA


COMARCA DE PIQUET CARNEIRO, ESTADO DO CEARÁ.

PROCESSO N°: 0020137-44.2019.8.06.0147


REQUERENTE: MARIA ELENILDE ALVES DA SILVA
REQUERIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS

A PROCURADORIA GERAL FEDERAL, representando o Instituto


Nacional do Seguro Social - INSS, na forma da Lei 10.480/02 e LC 73/93, pelo Procurador
Federal adiante subscrito, ciente da r. Sentença prolatada e não se conformando, data máxima
vênia, com a conclusão do Julgado, vem à presença de Vossa Excelência, respeitosamente,
interpor recurso de APELAÇÃO, na forma autorizada pelo Art. 1.009 e ss. do CPC,
requerendo a oportuna remessa dos autos ao E. Tribunal Regional Federal da Quinta Região,
em conformidade com o art.1010, §3º CPC.

Termos em que pede deferimento.

JOSÉ ALDIZIO PEREIRA JÚNIOR


PROCURADOR FEDERAL
MATRÍCULA SIAPE Nº 1480258

LUCAS RIBEIRO CAVALCANTE


ESTAGIÁRIO DE DIREITO
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EGRÉGIO TRIBUNAL,
RAZÕES RECURSAIS.

O INÍCIO DE PROVA MATERIAL DE EXERCÍCIO


DE ATIVIDADE RURAL FOI BASEADA EM
DOCUMENTOS INAPTOS: DOCUMENTOS
RECENTES EM RELAÇÃO AO PERÍODO DE
CARÊNCIA;

BASICAMENTE SÃO PROVAS: DECLARAÇÃO


SINDICAL SEM DATA DE FILIAÇÃO; ITR EM
NOME DE TERCEIRA PESSOA.

AUSÊNCIA QUALQUER OUTRO DOCUMENTO


PÚBLICO IDÔNEO.

Impõe-se a reforma da v. decisão a quo, uma vez que não houve a


correta aplicação do direto à espécie, como passamos a demonstrar.

I - DO HISTÓRICO DO PEDIDO.

A parte autora postula a concessão de aposentadoria por idade,


alegando ter implementado a idade necessária para o deferimento do benefício e que exerce
atividade rural.

O pedido foi julgado procedente, condenando o INSS ao pagamento


do benefício desde a data do requerimento administrativo.

II - DA NÃO COMPROVAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ATIVIDADE RURAL NO


PERÍODO IMEDIATAMENTE ANTERIOR AO REQUERIMENTO DO BENEFÍCIO
– DOCUMENTOS RECENTES.

A comprovação de tempo de serviço, para efeitos previdenciários, terá


que se basear em início de prova material, sendo inadmissível a prova exclusivamente
testemunhal, segundo a clara dicção do § 3º do art. 55 da Lei nº 8.213/91, in verbis:

“A comprovação do tempo de serviço para os efeitos desta


lei, inclusive mediante justificação administrativa ou judicial,
conforme o disposto no art. 108, só produzirá efeito quando baseada
em início de prova material, não sendo admitida prova exclusivamente
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testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso


fortuito, conforme disposto no regulamento.”

Por ser assim, a jurisprudência pátria, aplicando os dispositivos acima


transcritos, já firmou o entendimento segundo o qual a prova exclusivamente testemunhal é
imprestável para a comprovação de tempo de serviço, consoante ilustram as Súmulas nºs. 27 e
149 do Tribunal Regional Federal da 1ª Região e do Eg. Superior Tribunal de Justiça,
respectivamente, verbis:

“Prova exclusivamente testemunhal não basta à


comprovação de atividade rurícola, para efeito de obtenção de
benefício previdenciário.”

“Não é admissível prova exclusivamente testemunhal para


reconhecimento de tempo de atividade urbana ou rural (Lei nº
8.213/91, art. 55, § 3º).”

Desse modo, a comprovação de tempo de serviço para fins


previdenciários deve ser alicerçada com o início de prova material, mostrando-se imprestável
a prova exclusivamente testemunhal, conforme expressamente determinado pelo art. 55, § 3º,
da Lei nº 8.213/91, sendo essa a correta posição perfilhada pela jurisprudência pátria.

III - MEIOS DE PROVA VÁLIDOS. SÚMULA N.34 DA TURMA NACIONAL DE


UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.

São considerados segurados especiais os produtores, parceiros,


meeiros e arrendatários rurais, pescadores artesanais e assemelhados, que exerçam a
atividade de forma individual ou em regime de economia familiar, ainda que com
eventual auxílio de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou companheiros e
filhos maiores de dezesseis anos, ou a eles equiparados, desde que exerçam a atividade
junto ao grupo familiar e residam na área rural.

Assim, deverá restar comprovado nos autos, através de prova


documental, o efetivo exercício de atividade rural pela parte autora no período anterior
ao requerimento da aposentadoria por idade. No entanto, não é qualquer prova que se
presta a tal desiderato. Os documentos devem ser contemporâneos aos fatos alegados;
nem antigos demais nem posteriores aos fatos controvertidos.

Nesse passo, a Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência


editou a seguinte Súmula:

Súmula nº 34: Para fins de comprovação do tempo de labor rural, o


início de prova material deve ser contemporâneo à época dos fatos a provar.
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Desta forma, a parte autora, no caso presente, deveria ter apresentado


documentos com datas compreendidas no período de carência previsto em lei, a fim de que
restasse comprovado o seu efetivo exercício de labor agrícola, o que não ocorreu.

A prova testemunhal, por seu turno, não foi convincente.

A Lei nº 8.213/91, em seu art. 11, § 1º, define que o regime de


economia familiar é a atividade em que o trabalho dos membros da família é indispensável à
própria subsistência e é exercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a
utilização de empregados.

Por outro lado, não deve ser considerado segurado especial aquele que
possui fonte urbana de rendimentos, a teor do art. 9º, § 8º, inciso I, do Decreto nº 3.048/99,
com a redação determinada pelo Decreto nº 4.032/01.

Analisando a legislação em comento conclui-se que só será


considerado segurado especial (fazendo jus aos direitos previstos nos art. 39 e 143 da Lei nº
8.213/91) o trabalhador que desenvolva a atividade rural, individualmente ou em regime de
economia familiar, dela extraindo os recursos necessários para o seu sustento, e sem o
emprego de mão-de-obra assalariada 1.

Da exigência de que o trabalho dos membros da família seja


indispensável à própria subsistência, infere-se que o labor agrícola deve constituir sua fonte
de renda.

O legislador, atendo à circunstância de que o trabalhador rural, até o


advento da Lei nº 8.213/91, encontrava-se vinculado a regime assistencial próprio, no caso o
Funrural, estabeleceu regra que dispensa o segurado especial da comprovação do
recolhimento de contribuições para a concessão de benefícios no valor mínimo, pretendendo
contemplar aqueles que estavam à margem do sistema da previdência social. Daí porque
descaracteriza o regime especial a posse de outra fonte dr renda. A excepcionalidade da regra
não permite o seu alargamento a ponto de alcançar também a pessoa que não viva das lides
campesinas.

Conjugada a norma do art. 11, VII e § 1° da Lei nº 8.213/91, com “a


disposição regulamentar que exclui a condição de segurado especial do membro do grupo
Familiar que possua fonte de rendimento decorrente do exercício de atividade remunerada ou
aposentadoria de qualquer regime (art. 9º, § 8º, inciso I, do Decreto nº 3.048/99), resulta que,
para a parte autora ser caracterizada como segurado especial, exige-se que o trabalho seja
indispensável à própria subsistência, seja exercido em condições de mútua dependência e

1
- Trechos do voto do recurso inominado ref. Proc. 2003.71.04.000764-3 , Relatora a Juíza
Vivian Josete Pantaleão Caminha da Turma Recursal Da Seção Judiciária do Estado do Rio Grande
do Sul.
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colaboração (regime de economia familiar) e que, sobretudo, não disponha de outra fonte
qualquer de rendimento.” “nesse contesto, perderia a condição de segurado especial, em
regime de economia familiar, o trabalhador que possuísse outra atividade remunerada ou
aposentadoria sob qualquer regime” (excerto do voto proferido pelo Ministro Hamiltom
Carvalhido no julgamento do Resp 246.844-RS).

É nestes termos a lição da remansosa jurisprudência do Superior


Tribunal de Justiça, verbis:

“PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE RURAL.


CUMULAÇÃO COM APOSENTADORIA DE CARÁTER URBANO.
REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR. EXCLUSIVIDADE.
1. Para caracterização do regime de economia familiar,
imprescindível à concessão de aposentadoria por idade de rurícola,
exige-se que a atividade exercida "absorva toda força de trabalho" do
obreiro (art. 1º, II, "b" do Decreto-lei nº 1.166/71). Na espécie, a
recorrente laborava como professora, atividade na qual foi
aposentada, não havendo falar em exclusividade do trabalho exercido
na propriedade familiar.
2. Recurso especial não conhecido.
(RESP 265705 / RS - DATA: 05/02/2001 PG:00144 Min.
FERNANDO GONÇALVES DO STJ)

RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO. CUMULAÇÃO.


APOSENTADORIA ESTATUTÁRIA. APOSENTADORIA POR IDADE
DE RURÍCOLA. IMPOSSIBILIDADE. ARTIGO 11, INCISO VII E
PARÁGRAFO 1º, DA LEI Nº 8.213/91.
1. Para que o trabalhador seja caracterizado como segurado
especial, por força do exercício de atividade laborativa em regime de
economia familiar, exige-se que o trabalho seja indispensável à
própria subsistência, seja exercido em condições de mútua
dependência e colaboração e que o beneficiário não disponha de
qualquer outra fonte de rendimento, salvo exceções expressas.
2. O estatuto legal da aposentação, contudo, é o vigente ao tempo da
aquisição do direito subjetivo ao benefício.
3. Recurso conhecido.
(RESP 246844 / RS - DJ DATA:12/08/2002 PG:00235 Min.
HAMILTON CARVALHIDO DO STJ)

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESTATUTÁRIA E RURAL.


CUMULAÇÃO DE BENEFÍCIOS URBANO E RURAL. DECRETO Nº
2.172/97. IMPOSSIBILIDADE. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL. SÚMULA 83/STJ.
- Descaracteriza a condição de segurada especial, nos termos do art.
11, VII, § 1º, da Lei 8.213/91, o fato da mesma possuir outra atividade
remunerada ou aposentadoria sob qualquer regime.
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- Estando o acórdão recorrido em consonância com o entendimento


proclamado por esta Casa, incide o óbice da Súmula 83 do Superior
Tribunal de Justiça ao conhecimento do recurso especial pela
divergência.
Recurso especial não conhecido.
(RESP 412227 / RS - DATA: 27/05/2002 PG: 00210 Min. VICENTE
LEAL DO STJ)”.

IV-TESES SUBSIDIÁRIAS

SÚMULA Nº 111 DO STJ.

Deve ser observada a súmula nº 111 do STJ no tocante aos honorários


advocatícios.

V-CONCLUSÃO

Em razão do exposto, pugna o apelante pela reforma da r. Sentença


recorrida na forma das razões aduzidas acima.

Na eventualidade, requer a integral aplicação da Súmula nº 111 do


STJ.

Fortaleza, 1 de dezembro de 2020.

JOSÉ ALDIZIO PEREIRA JÚNIOR


PROCURADOR FEDERAL
MATRÍCULA SIAPE Nº 1480258

LUCAS RIBEIRO CAVALCANTE


ESTAGIÁRIO DE DIREITO

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