Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SUMÁRIO TERAPÊUTICA
PARTE 1 - TERAPÊUTICA
BIOMECÂNICA DA
CURVA DE SPEE
|15 - 41|
ROTAÇÃO MOLAR E
EXPANSÃO SUPERIOR
|43 - 81|
REAÇÃO INVERSA
DA MANDÍBULA
|83 - 122|
CONTROLE VERTICAL
POSTERIOR
Uma abordagem biológica
|123 - 214|
10
PARTE 2 - BIOMECÂNICA
ELÁSTICOS
DE CLASSE II
|217 - 268|
PROPULSÃO
MANDIBULAR
|269 - 296|
DISTALIZAÇÃO
DOS MOLARES
SUPERIORES
|297 - 328|
ANCORAGEM
EXTRAORAL
|329 - 350|
PROCEDIMENTOS
CIRÚRGICOS
|351 - 379|
11
BIOMECÂNICA DA
CURVA DE SPEE
Parte 1 - TERAPÊUTICA
1a
Fig. 1 a-c – Tratamento da sobremordida profunda por intermédio de arcos de curva reversa.
16
O estímulo em promover a rotação da mandíbula em sentido horário no tratamento das sobre-
mordidas profundas teve o seu início quando Tweed32 descreveu uma técnica que usa arcos contínuos
contendo uma curva de Spee reversa para nivelar a arcada dentária inferior. Esse protocolo consistiu no
primeiro método de correção. Nesta técnica, o nivelamento é realizado por meio da extrusão de molares
e pré-molares e, para evitar que os incisivos inferiores inclinassem para a frente, elásticos de Classe III
eram preconizados juntamente com a ancoragem extraoral de “puxada” alta (high-pull) para minimizar
a extrusão dos molares superiores. Assim, o arco de curva reversa colocado nos dentes inferiores, com o
propósito de corrigir a curva de Spee acentuada, adquiriu notoriedade, principalmente pelo apoio que
recebeu com os trabalhos de Schudy28,29 e Merrifield18, o que incentivou e ainda determina os ortodontis-
tas a se utilizarem dessa prática. Schudy30 estabeleceu que os pacientes que apresentam a altura poste-
rior da face aumentada, altura dentoalveolar posterior diminuída e sobremordida profunda, o protocolo
de tratamento deve incentivar a extrusão dos dentes posteriores para criar harmonia com o crescimento
do ramo ascendente. Desse modo, essa abordagem de tratamento estimula a rotação da mandíbula em
sentido horário, na qual o autor escreveu, de forma incisiva, que deveríamos criar uma distância maior
entre o mento e o nariz.
1c
1b
17
Parte 1 - TERAPÊUTICA
Ricketts23,26,27, no início dos anos 50, em oposição a essa abordagem, criou um segundo método
de nivelamento da arcada dentária inferior para corrigir as sobremordidas profundas, baseado na
intrusão intencional dos incisivos inferiores no nível de pré-molares, mediante o uso do arco uti-
lidade inferior. O autor contestou a extrusão dos pré-molares, pois defende que esses dentes devem
irromper verticalmente até que a oclusão limite o seu movimento, para, desse modo, determinar a
altura do plano oclusal funcional.
A história nos mostra que tem havido considerável divergência na literatura sobre qual das
duas técnicas de nivelamento é mais efetiva7-10,19 não só para a correção, mas, também, para a manu-
tenção dos resultados obtidos, principalmente naqueles pacientes que apresentam padrão esqueléti-
co de sobremordida profunda.
Engel et al.15 relataram que existem quatro possibilidades de tratamento da curva de Spee
aumentada em pacientes portadores de sobremordida profunda.
»» Nivelamento da arcada dentária por meio da erupção dos pré-molares associado à rotação da
mandíbula em sentido horário e aumento severo da altura facial inferior.
»» Extrusão molar.
Porém, eles afirmaram em seu trabalho que a intrusão dos incisivos é a abordagem mais efetiva
na correção da sobremordida profunda, e que o ângulo interincisivo é fundamental para manter os re-
sultados da sobrecorreção da maloclusão original. Duarte acrescenta um quinto método que consiste na
correção do plano de referência, ou seja, promover a rotação do plano oclusal funcional, pois quando os
incisivos inferiores são avaliados dentro dos conceitos da proporção áurea, é comum eles se encontrarem
bem relacionados entre o ponto A na maxila e a protuberância mentual na mandíbula.
18
Woods34,35, que defende a intrusão dos incisivos inferiores como forma de tratamento da curva de
Spee aumentada, elaborou duas tabelas para esclarecer as divergências existentes nos métodos de trata-
mento da sobremordida profunda e, desse modo, preconizar uma mecânica adequada, atendendo às ne-
cessidades tipológicas do indivíduo em particular. Hellsing16 relacionou desordens craniomandibulares
com maloclusões, como também mostrou que existe uma correlação positiva entre clique da articulação
temporomandibular (ATM), desgastes dentários e sobremordida profunda. Ricketts20-22 relatou um posicio-
namento do côndilo (cabeça da mandíbula) mais para distal na fossa articular, em indivíduos portadores de
sobremordida profunda, principalmente nos pacientes com maloclusões de Classe II, divisão 2ª de Angle.
Os estudos em animais17 têm mostrado que as mudanças de carga consequentes a alterações oclu-
sais podem produzir alteração na forma das cabeças dos côndilos (cabeça da mandíbula), bem como
em suas respectivas fossas em consequência da remodelagem. Essas remodelagens nas ATM ocorrem
em qualquer período de vida do indivíduo, pois elas estão sujeitas a cargas durante a função. Altera-
ções articulares funcionais e/ou anatômicas podem induzir mudanças quantitativas e/ou qualitativas
dessas cargas, em conjunto com alterações temporárias ou permanentes da posição recíproca das cabe-
ças articulares e do disco entre elas.
2a 2b 2c
Fig. 2 a-c – Observe o posicionamento distalizado dos côndilos em suas respectivas fossas
articulares devido ao travamento anterior promovido pelo trespasse vertical excessivo dos
incisivos inferiores e superiores.
19
Parte 1 - TERAPÊUTICA
Embora esse posicionamento do côndilo para distal na fossa articular esteja relacionado a indi-
víduos dolicofaciais, isso também pode ocorrer naqueles com componente de crescimento horizontal e
portadores de sobremordida profunda, que cria uma propriocepção negativa que redireciona os côndi-
los em suas respectivas fossas articulares, redimensionando o espaço articular.
3a
20
3b
3c
21
Parte 1 - TERAPÊUTICA
Caso clínico 1
O caso clínico a seguir mostra a
correlação de sobremordida profunda
e disfunção articular, em que uma pa-
ciente com 27,9 anos de idade apresen-
tava um quadro acentuado de sobre-
mordida profunda, desgaste dentário e
relato de dor na região das ATM.
5a 5b
6a 6b
22
66
55
40 30
92
92
95
55
35 2
35 18 163
58 72 -4
-3,5
21
-4
10
7a
23
Parte 1 - TERAPÊUTICA
excessiva dos incisivos superiores (observe que o longo eixo do incisivo superior está localizado à frente
do olho), projetando, desse modo, um ângulo interincisivo de 163°. Pacientes com essas características
normalmente apresentam altura de ramo acentuada, o que não ocorreu nesse caso específico, pois a
medida era de apenas 58 mm, no qual a norma para uma mulher adulta com crescimento harmonioso
é superior a 61 mm. A altura de ramo na análise de Ricketts está representada pela distância do ponto
cefalométrico CF (Centro da Face) ao Gônio virtual. Nos pacientes braquifaciais (predomínio da com-
ponente de crescimento horizontal), é típico essa medida estar acima de valores padrão, projetando um
ângulo goníaco próximo dos 90°. Desse modo, esse valor de apenas 58 mm não era condizente com o
padrão morfogenético dessa paciente. Retornando ao fato de que o motivo principal do tratamento era
o desconforto que a paciente sentia nas ATM, essa inadequação de altura de ramo era um sinal alta-
mente significativo de pesquisa, pois, uma provável hipótese para essa desarmonia do ramo com o cor-
po mandibular era uma provável remodelagem disfuncional do côndilo devido ao travamento anterior
que a paciente foi acometida durante a fase de crescimento e desenvolvimento. Essas maloclusões colo-
cam os côndilos em uma posição mais para posterior nas suas respectivas fossas articulares. E, quando
isso ocorre, produz colapso morfológico dos componentes das ATM e subsequente diminuição na altu-
ra do ramo e, desse modo, pode ocorrer, em determinados casos, retrusão mandibular progressiva. Isso
explica porque apesar de a paciente ser braquifacial (VERT = 1,8), com altura facial inferior diminuída,
apresentar a altura do ramo diminuída, ou seja, incompatível com o padrão morfogenético da paciente.
Assim, o protocolo de tratamento nesses casos não deve induzir a mandíbula a uma rotação em sentido
horário, pois agravaria ainda mais o quadro sintomático da paciente (Björk, figura 3c). Portanto, apesar
do padrão dentoesquelético de sobremordida profunda, o objetivo maior desse tratamento consistia
em promover rotação da mandíbula em sentido anti-horário, a fim de restabelecer harmonia na relação
côndilo-fossa, diminuindo, dessa maneira, a pressão sobre as estruturas ligamentosas.
1,5 mm
8b
8a
24
7,5 mm
2,5 mm
8d
8c
Fig. 8 a-d
a – observe a relação posterior do côndilo na fossa articular na fase pré-tratamento da paciente.
b,c,d – onde que seria a posição satisfatória do côndilo na fossa articular, de acordo com os trabalhos laminográficos de Ricketts.
25
Parte 1 - TERAPÊUTICA
Essa abordagem, contrária ao dogma de afastar o mento do nariz, busca como grande desafio es-
tabelecer um ângulo interincisivo que promova a sobrecorreção da maloclusão original para compensar
a rotação da mandíbula em sentido anti-horário (Fig. 9b), com a finalidade de obter estabilidade a longo
prazo. Assim, foram estabelecidas as seguintes metas para a construção do VTO13.
10a
10b
26
11a 11b
12a 12b
27
Parte 1 - TERAPÊUTICA
Nessa fase do tratamento, é importante enfatizar um princípio que norteia o emprego dos
elásticos de Classe II, ou seja, nunca devem ser utilizados esses dispositivos quando há interferên-
cia dos incisivos, pois, dessa maneira, a ação dos elásticos sobre os molares inferiores promoverá
a extrusão desses dentes. Desse modo, devemos retirar previamente a propriocepção negativa dos
incisivos inferiores, antes de empregar os elásticos, para criar condições favoráveis de prover o
controle rotacional da mandíbula. Foi necessário colocar o arco seccional com alças de nivelamento
13a 13b
14a 14b
28
na arcada inferior do lado direito, pois este auxilia na estabilidade do molar inferior diante do uso
dos elásticos. A Ortodontia é uma ciência rica em detalhes, é um estado de arte. Assim, o ortodon-
tista em busca de resultados satisfatórios deve ter o critério e estar treinado o suficiente para per-
sonalizar a biomecânica para cada caso ou situação. E, não existe personalização com algo pronto,
mas, sim, com algo que tenha que ser produzido pelas mãos hábeis de um artesão.
15a 15b
15c
Fig. 15 a-c – Término da retração dos incisivos superiores.
16a 16b
Fig. 16 a,b – As fotos oclusais mostram o fechamento dos espaços na arcada superior.
29
Parte 1 - TERAPÊUTICA
17a 17b
17c 17d
30
64
55
40 30
94 94
94
54
36,5 0
121
35 18
-4
61 1,5
72
17,5 1
32
19a
31
Parte 1 - TERAPÊUTICA
Fig. 20 – A sobreposição dos traçados, inicial e final, no ponto CC (centro do crânio) mostra o fechamento do eixo facial de
Ricketts e o abaixamento do plano oclusal na região posterior.
32