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AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1843073 - SP (2019/0307482-9)

RELATOR : MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE


AGRAVANTE : APARECIDO BRAMBILLA
ADVOGADOS : STEPHANIE MIKA TAKIY - SP264632
JONAIR NOGUEIRA MARTINS - SP055243
AGRAVADO : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADOS : MATILDE DUARTE GONÇALVES - SP048519
MARGARETE RAMOS DA SILVA - SP055139

EMENTA

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REPETIÇÃO DE


INDÉBITO. IMPUTAÇÃO DE PAGAMENTO. POSSIBILIDADE, POIS AUSENTE
ÓBICE CONTRATUAL. ACÓRDÃO EM HARMONIA COM A JURISPRUDÊNCIA
DESTA CORTE SUPERIOR. SÚMULA 83/STJ, AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO.
1. Consoante a jurisprudência do STJ, a imputação dos pagamentos primeiramente nos
juros é instituto que, via de regra, alcança todos os contratos em que o pagamento é
diferido em parcelas, como o discutido nos autos (abertura de crédito em
conta-corrente/cheque especial), porquanto "objetiva diminuir a oneração do devedor.
Ao impedir que os juros sejam integrados ao capital para, só depois dessa integração,
ser abatido o valor das prestações, evita que sobre eles (juros) incida novo cômputo de
juros. É admitida a utilização do instituto quando o contrato não disponha
expressamente em contrário" (AgInt no REsp 1.735.450/PR, Rel. Ministra Maria Isabel
Gallotti, Quarta Turma, julgado em 2/4/2019, DJe 8/4/2019).
2. O Supremo Tribunal Federal, "ao julgar o mérito do RE n.º 592.377/RS (tema em
repercussão geral n.º 33), em acórdão transitado em 17/04/2015, firmou o
entendimento no sentido de que o art. 5.º da Medida Provisória n.º 2.170-36/2001 não
padece de inconstitucionalidade, na medida em que preenche os requisitos exigidos no
art. 62 da Constituição da República" (AgRg no RE nos EDcl no AgRg no AREsp
460.876/MS, Rel. Ministra Laurita Vaz, Corte Especial, julgado em 7/10/2015, DJe
10/11/2015).
3. Agravo interno desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo
Villas Bôas Cueva e Moura Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Moura Ribeiro.

Brasília, 30 de março de 2020 (Data do Julgamento)

MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Relator


Superior Tribunal de Justiça
AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.843.073 - SP (2019/0307482-9)

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE:

Trata-se de agravo interno interposto por APARECIDO BRAMBILLA


contra a decisão desta relatoria de fls. 1.959-1.962 (e-STJ), que deu parcial provimento
à pretensão recursal.

O recurso especial foi fundado nas alíneas a e c do permissivo


constitucional, no qual se insurgiu o recorrente contra acórdão do Tribunal de Justiça
de São Paulo assim ementado (e-STJ, fl. 1.712):

Ação de repetição de indébito - Contrato de abertura de crédito em


conta-corrente (cheque especial) - Limitação dos juros afastada -
Possibilidade de capitalização dos juros reconhecida - Prevalência das
cláusulas e condições, livremente, pactuadas pelas partes, no contrato -
Ação julgada procedente - Recurso provido.

Os embargos de declaração opostos foram rejeitados (e-STJ, fls.


1.745-1.758).

No recurso especial, o recorrente apontou, além de divergência


jurisprudencial, violação dos arts. 122, 352 e 591 do Código Civil; 1º, 6º, V, e 47 do
Código de Defesa do Consumidor; e às Súmulas 121/STF e 286 e 297 do STJ.
Esclareceu que se opôs ao acórdão que entendeu viável a capitalização
mensal de juros em contrato entabulado em março de 1986, anteriormente às MPs n.
1.963-17 e 2.170-36, destoando da Súmula 121/STF e dos arts. 122 e 591 do CC,
dispositivo este que deveria dispor sobre a questão em comento, por ser norma mais
recente acerca da matéria controvertida.
Sustentou a inconstitucionalidade da MP n. 2.170/60/2006, pois, além de
conter disposições desarrazoadas, não estariam presentes, para sua edição, os
requisitos de relevância e urgência. Ponderou que o art. 5º do referido normativo não
tem como objetivo regulamentar a matéria da capitalização de juros em períodos
inferiores a 1 (um) ano; mas sim a disciplinar a administração de recursos do Tesouro
Nacional.
Defendeu que a imputação de pagamento, primeiramente nos juros, não
está prevista no contrato, sendo certo que o julgador não pode aplicá-la de ofício.
Ademais, enfatizou que, ainda que existisse tal previsão, ela somente poderia incidir
Superior Tribunal de Justiça
em dívidas vencidas e líquidas, o que não ocorre no caso em questão (e-STJ, fls.
1.761-1.786).
Dado parcial provimento ao recurso especial, o recorrente maneja o
presente agravo interno. Questiona a manutenção da imputação em pagamento, pois
essa prática não faz desaparecer a capitalização de juros, mas apenas a camufla
contabilmente. Frisa que a imputação em pagamento não estava prevista no contrato,
logo, o Tribunal estadual não poderia aplicá-la de ofício. Sustenta que sua incidência
somente pode ocorrer com dívidas líquidas e vencidas, o que não ocorre no presente
caso, que se refere a contrato de conta-corrente/cheque especial (e-STJ, fls.
1.964-1.973).
Contraminuta apresentada.
É o relatório.
Superior Tribunal de Justiça
AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.843.073 - SP (2019/0307482-9)

RELATOR : MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE


AGRAVANTE : APARECIDO BRAMBILLA
ADVOGADOS : JONAIR NOGUEIRA MARTINS - SP055243
STEPHANIE MIKA TAKIY - SP264632
AGRAVADO : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADOS : MATILDE DUARTE GONÇALVES - SP048519
MARGARETE RAMOS DA SILVA - SP055139
EMENTA

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO.


IMPUTAÇÃO DE PAGAMENTO. POSSIBILIDADE, POIS AUSENTE ÓBICE CONTRATUAL.
ACÓRDÃO EM HARMONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE SUPERIOR.
SÚMULA 83/STJ, AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. Consoante a jurisprudência do STJ, a imputação dos pagamentos primeiramente nos juros é
instituto que, via de regra, alcança todos os contratos em que o pagamento é diferido em
parcelas, como o discutido nos autos (abertura de crédito em conta-corrente/cheque especial),
porquanto "objetiva diminuir a oneração do devedor. Ao impedir que os juros sejam integrados ao
capital para, só depois dessa integração, ser abatido o valor das prestações, evita que sobre eles
(juros) incida novo cômputo de juros. É admitida a utilização do instituto quando o contrato não
disponha expressamente em contrário" (AgInt no REsp 1.735.450/PR, Rel. Ministra Maria Isabel
Gallotti, Quarta Turma, julgado em 2/4/2019, DJe 8/4/2019).
2. O Supremo Tribunal Federal, "ao julgar o mérito do RE n.º 592.377/RS (tema em repercussão
geral n.º 33), em acórdão transitado em 17/04/2015, firmou o entendimento no sentido de que o
art. 5.º da Medida Provisória n.º 2.170-36/2001 não padece de inconstitucionalidade, na medida
em que preenche os requisitos exigidos no art. 62 da Constituição da República" (AgRg no RE
nos EDcl no AgRg no AREsp 460.876/MS, Rel. Ministra Laurita Vaz, Corte Especial, julgado em
7/10/2015, DJe 10/11/2015).
3. Agravo interno desprovido.
Superior Tribunal de Justiça

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE (RELATOR):

A decisão monocrática, proferida nesta Corte Superior, deu parcial


provimento ao recurso especial, apenas para afastar a capitalização de juros no
período anterior à edição da MP. 1.963-17/2000.
Neste agravo interno, questiona-se a manutenção da imputação do
pagamento.
Entretanto, razão não assiste ao recorrente. Isso porque, como não havia
vedação à incidência da imputação do pagamento e se travava de contrato em que o
pagamento é diferido em parcelas, não havia óbice à sua aplicação.
A imputação dos pagamentos primeiramente nos juros é instituto que, via
de regra, alcança todos os contratos em que o pagamento é diferido em parcelas, como
o discutido nos autos (abertura de crédito em conta-corrente/cheque especial),
porquanto tem por objetivo diminuir a oneração do devedor, para evitar que os juros
sejam integrados ao capital, para somente depois abater o valor das prestações, de
modo a evitar que sobre eles incida novo cômputo de juros.
Nessa linha é a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que
admite a utilização do instituto quando o contrato não disponha expressamente em
contrário, quadro fático que ora se verifica.

Nesse contexto, observe-se:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO


ESPECIAL. REGRA DE IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO. ARTIGO
354 DO CC/2002. AUSÊNCIA DE DISPOSIÇÃO DIVERSA.
APLICABILIDADE. DECISÃO MANTIDA.
1. "A imputação do pagamento primeiramente nos juros é instituto que,
via de regra, alcança os contratos em que o pagamento é diferido em
parcelas. Objetiva diminuir a oneração do devedor. Ao impedir que os
juros sejam integrados ao capital para, só depois dessa integração, ser
abatido o valor das prestações, evita que sobre eles (juros) incida novo
cômputo de juros. É admitida a utilização do instituto quando o contrato
não disponha expressamente em contrário" (AgInt no REsp
1.735.450/PR, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA
TURMA, julgado em 2/4/2019, DJe 8/4/2019).
2. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no REsp 1642949/MT, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 07/05/2019, DJe
15/05/2019)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO


Superior Tribunal de Justiça
ESPECIAL. REGRA DE IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO. ARTIGO
354 DO CC/2002. AUSÊNCIA DE DISPOSIÇÃO DIVERSA.
APLICABILIDADE. DECISÃO MANTIDA.
1. "A imputação do pagamento primeiramente nos juros é instituto que,
via de regra, alcança os contratos em que o pagamento é diferido em
parcelas. Objetiva diminuir a oneração do devedor. Ao impedir que os
juros sejam integrados ao capital para, só depois dessa integração, ser
abatido o valor das prestações, evita que sobre eles (juros) incida novo
cômputo de juros. É admitida a utilização do instituto quando o contrato
não disponha expressamente em contrário" (AgInt no REsp
1.735.450/PR, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA
TURMA, julgado em 2/4/2019, DJe 8/4/2019).
2. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no REsp 1642949/MT, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 07/05/2019, DJe
15/05/2019)

Por derradeiro, "o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o mérito do RE n.º


592.377/RS (tema em repercussão geral n.º 33), em acórdão transitado em 17/04/2015,
firmou o entendimento no sentido de que o art. 5.º da Medida Provisória n.º
2.170-36/2001 não padece de inconstitucionalidade, na medida em que preenche os
requisitos exigidos no art. 62 da Constituição da República" (AgRg no RE nos EDcl no
AgRg no AREsp 460.876/MS, Rel. Ministra Laurita Vaz, Corte Especial, julgado em
7/10/2015, DJe 10/11/2015).

Na mesma direção:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL EM


AGRAVO (ART. 544 DO CPC) - ACÓRDÃO DESTE ÓRGÃO
FRACIONÁRIO NEGANDO PROVIMENTO AO RECLAMO, ANTE O
ÓBICE DO VERBETE 83/STJ.
1. Ausência de omissão, contradição, obscuridade ou erro material do
acórdão embargado. Recurso dotado de caráter manifestamente
infringente.
2. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, na data de 04/02/2015, por
sete votos a um, deu provimento ao Recurso Extraordinário (RE)
592.377, reconhecendo, em repercussão geral, que o dispositivo da
referida medida provisória assentindo a capitalização mensal de juros no
sistema financeiro, é constitucional.
3. Embargos de declaração rejeitados, com aplicação de multa.
(EDcl no AgRg no AREsp 774.985/MS, Rel. Ministro MARCO BUZZI,
QUARTA TURMA, julgado em 17/03/2016, DJe 12/04/2016)

Ante o exposto, nego provimento ao agravo interno.

É o voto.
TERMO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
AgInt no REsp 1.843.073 / SP
Número Registro: 2019/0307482-9 PROCESSO ELETRÔNICO

Número de Origem:
91959151920098260000 7411824-2/00 2008.00000332 991.09.052586-9 7411824200 200800000332
991090525869 760120080008793 0760120080008793

Sessão Virtual de 24/03/2020 a 30/03/2020

Relator do AgInt
Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MOURA RIBEIRO

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : APARECIDO BRAMBILLA


ADVOGADOS : JONAIR NOGUEIRA MARTINS - SP055243
STEPHANIE MIKA TAKIY - SP264632
RECORRIDO : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADOS : MATILDE DUARTE GONÇALVES - SP048519
MARGARETE RAMOS DA SILVA - SP055139

ASSUNTO : DIREITO CIVIL - OBRIGAÇÕES - ESPÉCIES DE CONTRATOS - CONTRATOS


BANCÁRIOS

AGRAVO INTERNO

AGRAVANTE : APARECIDO BRAMBILLA


ADVOGADOS : STEPHANIE MIKA TAKIY - SP264632
JONAIR NOGUEIRA MARTINS - SP055243
AGRAVADO : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADOS : MATILDE DUARTE GONÇALVES - SP048519
MARGARETE RAMOS DA SILVA - SP055139

TERMO

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, decidiu negar provimento
ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva e
Moura Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Moura Ribeiro.

Brasília, 30 de março de 2020

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