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Resumo Introdução
O luto é conhecido como o sofrimento O processo de morte ainda é perce-
desencadeado pela morte de uma pessoa bido como um tabu, rodeado de valores,
com a qual se possui laços de afeto. Li-
dar com o processo requer suporte social crenças e rituais, de forma que a socieda-
e uma série de recursos emocionais para de em geral nega essa situação que nos
reorganizar os investimentos afetivos. Os espreita em algum momento da nossa
recursos externos e internos desempenham
vida. Do mesmo modo, a morte ainda é
uma combinação heterogênea de sentir o
luto e elaborá-lo, criando uma diversidade vivida como algo negativo e complexo de
de modos de experimentar a viuvez. Pen- entender. (LISBOA; CREPALDI, 2003).
sando em instrumentos de intervenção que O silêncio diante de algo esperado
contribuam para facilitar o luto na viuvez,
o objetivo do artigo de reflexão é buscar
pode ser um dos motivos culturais que
estratégias de intervenções baseadas nas tornam o luto, segundo Parkes (1998),
técnicas da Terapia Cognitivo-Comporta- um processo doloroso, temeroso, que pro-
mental. Para tanto, abordam-se os fatores move o desenvolvimento de dores físicas,
envolvidos no luto em virtude da viuvez,
as repercussões desse processo, as diferen- emocionais e psicológicas. A repressão
tes formas de sua expressão na mulher ido- das emoções e a não exposição para o
sa e as técnicas da abordagem cognitivo- ambiente externo dos sentimentos que
-comportamental para realizar um trabalho
circulam nos pensamentos do indivíduo,
de cunho psicológico com mulheres idosas
enlutadas em razão da viuvez. numa forma de aliviar essa tensão, de-
senvolvem a somatização e danificam o
Palavras-chave: Viuvez. Psicologia. Enve- sistema imunológico.
lhecimento. Morte.
A viuvez em idade avançada, dentre
os vários acontecimentos do ciclo de vida,
é um dos mais normativos e, simultanea-
*
Psicóloga com especialização em Terapia de Casal e Família (2011), especialização em Humanização e Ges-
tão do SUS (2009), mestrado em Psicologia Social e Institucional (UFRGS, 2004). Professora da Faculdade
Meridional – Imed e psicóloga da Secretaria Municipal de Saúde de Passo Fundo. E-mail: tatiboth@imed.
edu.br. Rua Senador Pinheiro, 304 - Passo Fundo, CEP 99070-220, Bairro Rodrigues.
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Graduandos em Psicologia pela Faculdade Meridional – Imed - RS.
Recebido em setembro de 2012 – Aprovado em outubro de 2012.
doi:10.5335/rbceh.2012.035
que, de acordo com Doll (2011), depen- positivos e sorrisos apresentam uma
dendo da sua estrutura, pode estar re- melhor adaptação à perda.
lacionada à tendência de ter um olhar Observa-se que viúvas sem ocupa-
mais negativo ou positivo para os acon- ções significativas tendem a ter difi-
tecimentos. Assim, segundo o autor, os culdade em trabalhar o luto, evitando
indivíduos que conseguem ter um olhar enfrentar o problema e adaptar-se a essa
mais positivo para os acontecimentos em nova fase de sua vida. Enquanto a viúva
sua vida, como a perda e as situações es- não começar a distinguir o que é seu e
tressantes do luto, conseguem adaptar- o que foi do outro, a sua mente ainda
-se melhor do que as que se envolvem em estará desorganizada e incapacitando
enfrentamento ruminativo. a elaboração do luto. (PARKES, 1998).
Quanto mais desenvolvidos os me- Além dessa distinção, é necessário
canismos de ajustamento psicológico, fazer uma avaliação do que foi possível
maior a chance de adaptação, presu- durante a união; caso contrário, a culpa
mivelmente, sem grande declínio na encontra um campo fértil. Krüger e
qualidade de vida do idoso. Outros fa- Werlang (2006) entendem a culpa e a
tores envolvidos no luto são as perdas sensação de abandono como elementos
inerentes ao processo de envelhecimento, presentes no luto. Como se supõe, a
ao potencial de mudança do indivíduo, imperfeição é característica do homem
à flexibilidade e resistência para lidar e em suas relações é possível fazer uma
com os desafios e as exigências que autoavaliação e encontrar muitos lapsos,
constituem a sua capacidade de reserva os quais são esperados em nosso compor-
e de autopreservação. (STAUDINGER; tamento imperfeito. Assim, os erros, os
MARSISKE; BALTES, 1995). atropelos, a falta de zelo, uma palavra
Para Benincá, Costella e Vivian mal dita atuam fantasmagoricamente no
(2006), as experiências positivas na vida imaginário diante da ruptura involuntá-
pregressa, como fatores de proteção, ria presente na viuvez.
contribuem para fortalecer a imagem O “e se eu tivesse...” gerado pela
que as idosas viúvas têm de si mesmas. culpa cria inúmeras alternativas para
Nesse sentido, elas podem apresentar preencher as falhas de nossa conduta, e
uma capacidade importante de enfrentar essas condições criadas na virtualidade
e resolver problemas relacionados com não encontram possibilidades de serem
o seu próprio jeito de ser e de encarar reparadas no presente. Portanto, reava-
a vida. O humor, por exemplo, é um re- liar junto a uma rede de apoio as atitudes
curso interno que pode ser considerado que teriam sido possíveis e agora não
um mecanismo de enfrentamento do são mais, além de trazer alívio, pela
luto conjugal, visto que as pessoas que externalização dos sentimentos, pode
se expressam por meio de sentimentos proporcionar uma devolução para o en-