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MERCADO

Em sua acepção primitiva, a palavra Mercado dizia respeito a um lugar determinado onde os
agentes econômicos realizavam suas transações. Por tradição histórica, este conceito chegou até os
dias atuais e ainda é comum entender-se mercado como um “lugar” definido, especialmente edificado
para o encontro de produtores e consumidores.
Atualmente, o conceito de Mercado, em sua acepção econômica mais ampla, está bem
distante dessa definição tradicional. Mercado, agora, é uma abstração. Já não existe a conotação
geográfica. Assim, quando os executivos de grandes empresas industriais ou do setor financeiro
falam das dificuldades com que se defrontam no mercado eles não estão se referindo a nenhum
ambiente físico, mas a uma abstração econômica.
Considerando a essência do elemento de negociação, podemos classificar o mercado em
duas categorias de referência: O mercado de produtos e o mercado de fatores (ou de recursos). Nos
dois casos, o mercado se manifesta pela ocorrência simultânea de duas forças aparentemente
antagônicas: a da procura e a da oferta, cada qual com seu objetivo específico (satisfação de
necessidades através de utilidades ou lucro financeiro) frente ao bem (tangível ou intangível) que está
sendo negociado.
Quando existe procura por bens primários ou industrializados, ou por serviços como
transportes, comunicações, seguros e hotelaria; dizemos que há mercado para esses diferentes tipos
de bens e serviços. Genericamente, há aí um mercado de produtos. Podemos, ainda, nos expressar
mais especificamente rotulando o mercado de acordo com o produto que está diretamente em
negociação, como por exemplo: mercado de boi gordo, mercado de soja, mercado de café, mercado
de máquinas agrícolas, mercado de automóveis, mercado de seguros, etc. Assim, mais uma vez
pode-se observar que a referência a mercado é uma abstração pois não nos referimos aos “locais”
onde as transações ocorrem, mas às forças que definem a oferta e a procura correspondentes.

Tipos de mercados

Quando existe procura por trabalhadores e pessoas dispostas a trabalhar; ou então quando há
pessoas fazendo aplicações financeiras e outras procurando por empréstimos nos bancos; empresas
emitindo ações e pessoas procurando por esses títulos; etc. etc.; ou seja, quando recursos humanos,
financeiros e de capital são ofertados e procurados, pode-se dizer, genericamente, que há um
mercado de recursos (ou de fatores). Mais especificamente; mercado de trabalho, mercado financeiro
e mercado de capitais, respectivamente.
Algumas abordagens importantes sobre as características dos diversos tipos de mercados
dizem respeito à quantidade de participantes (ofertantes e consumidores), operacionalidade de
funcionamento, competitividade, poder de barganha e força mercadológica. A matriz do economista
alemão Heinrich Stackelberg (In: Marktform und gleichgewicht), apresentada a seguir, aborda a
diferenciação entre os mercados considerando apenas um elemento de caracterização: o número de
participantes em atuação (vendedores e o de compradores).

AS ESTRUTURAS DE MERCADO SEGUNDO O NÚMERO DE AGENTES ENVOLVIDOS


(Classificação de Stackelberg)
OFERTA UM SÓ VENDEDOR PEQUENO NÚMERO GRANDE NÚMERO
PROCURA DE VENDEDORES DE VENDEDORES____
Monopólio bilateral Quase-monopsônio Monopsônio
UM SÓ COMPRADOR
_______________________________________________________________________________
PEQUENO NÚMERO Quase monopólio Oligopólio bilateral Oligopsônio
DE
COMPRADORES_________________________________________________________________________
GRANDE NÚMERO Monopólio Oligopólio Concorrência perfeita
DE
COMPRADORES_________________________________________________________________________

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DE QUATRO ESTRUTURAS REFERENCIAIS DE MERCADO


(Síntese dos atributos diferenciadores)
_________________________________________________________________________
CARACTERÍSTICAS _ TIPOS DE MERCADOS____________________
CONSIDERADAS CONCORRÊNCIA MONOPÓLIO OLIGOPÓLIO CONCORRÊNCIA
PERFEITA MONOPOLÍSTICA
Número de Muito grande Somente um Pequeno Grande
Ofertantes________________________________________________________________________
Quanto ao objeto de Padronizado. Não Não há substitu- Pode ser padro Diferenciado
negociação há diferenças tos satisfatórios nizado ou dife- (a diferenciação
(produto) renciado_____ é fator-chave)__
Controle das empre- Não há possibilida Considerável, so Pode ser amplo Há possibilida-
sas sobre os preços des de manobras bretudo quando através de prá- des, porém limi-
pelos ofertantes não há interven- ticas conspirati tadas pela dife-
ções restritivas vas_____________renciação_____
Concorrência Não é possível e A empresa geral É vital, sobretu- É considerável,
extra-preço nem seria eficaz mente recorre a do quando o exercendo-se
campanhas ins- produto é dife- através de mar-
titucionais para renciado cas, patentes e
salvaguardar sua força mercado-
imagem lógica_________
Condições de in- Não há quaisquer O ingresso é im- Há consideráveis O ingresso é re-
gresso no mercado obstáculos possível obstáculos lativamente fácil_
Hortaliças, carne, Energia elétrica e Automóveis, ele- Refrigerantes,
EXEMPLOS legumes, etc água (Pi);petróleo trodomésticos, confecções, res
no Brasil (até1995) autopeças, etc___taurantes, etc. _
As funções do mercado

- Possibilita a formação dos preços: (Resultado do confronto entre a oferta e a procura)


- Uniformiza o modo de negociar: (Estabelecimento de regras e formas de negociação)
- Seleciona os bens: (Critérios de utilidade, qualidade, competitividade)
- Seleciona os permutantes: (Padrões de conduta ética de vendedores e compradores)

Formas usuais de Intervenções regulatórias do governo no mercado

- Co-participação do governo no processo produtivo, originalmente para a geração de


bens e serviços públicos. (Saúde, educação, segurança, etc.)
- Controle de preços. Fixação de tetos e mínimos. (Tabelamentos e fixação de limites)
- Fixação de quotas de produção: limitação de acesso aos recursos. (Controle de acesso
e de exploração dos recursos naturais: fontes de água, calcário, minérios, madeiras, etc.)
- Constituição de estoques reguladores. (Para equilibrar a oferta de produtos e o nível de
preços de produtos sazonais em períodos de entresafra)
- Controle de externalidades, notadamente as que conduzem à degradação ambiental.
(Exigências referentes a utilização de controladores e/ou inibidores de produtos ou ações que
possam degradar o meio ambiente: exigência de filtros de ar anti-poluentes, purificadores de esgotos
industriais, manejo de aterros sanitários, controle de desmatamentos e queimadas, etc.)
- Implantação de mecanismos redistributivos de renda, de efeitos indiretos e diretos.
(Política fiscal com tributação progressiva sobre a renda de pessoas físicas e jurídicas; penalização
tributária sobre supérfluos, bebidas alcoólicas, fumo, etc.)
- Repressão aos abusos do poder de mercado. (Políticas anti-monopólio e anti-truste)

Hipóteses de racionalidade econômica

A fim de que haja equilíbrio no sistema econômico, torna-se necessário partir de alguns
pressupostos fundamentais ou regras de comportamento, que chamaremos de hipóteses de
racionalidade econômica ou pressupostos de maximização:
a) O consumidor procura maximizar sua satisfação: Considerando-se que existe, de um lado,
uma oferta variada de bens e serviços, da parte do mercado e, de outro, uma renda
limitada, da parte dos consumidores, estes procurarão ordenar os seus gastos de forma a
que possam obter o máximo de satisfação. A explicação desse processo, na teoria do
preço, é o que se chama de teoria da procura ou do consumidor.
b) As firmas procuram maximizar os seus lucros: Considerados os custos dos fatores e as
possibilidades de venda de diferentes produtos, as empresas organizarão os seus
programas de produção de forma a que possam obter o máximo de lucro. A explicação
desse processo é o que se chama de teoria da firma.
c) Os proprietários dos fatores de produção procuram maximizar as suas rendas: Como os
fatores capital, terra e mão-de-obra podem ser utilizados alternativamente, em diferentes
empresas ou atividades, os seus proprietários (o capitalista, o assalariado e o proprietário
da terra) buscarão utilizar esses fatores naquelas atividades que possam proporcionar a
renda mais elevada possível. Assim, o trabalhador preferirá aquele emprego que lhe
assegura maior salário, e o capitalista aquele investimento que lhe garante o lucro ou o
juro mais elevado. A explicação desse processo é o tema da teoria da distribuição.
Todas essas preferências ou motivações se expressam em decisões e atos individuais de
consumidores, empresários e investidores, que se refletem de forma coletiva nos mercados de bens e
fatores, através das forças da procura e da oferta. Por isso, embora os preços dependam de uma
série de fatores, pode-se afirmar que eles são determinados pela oferta e procura.

Formação dos preços

As necessidades do homem são inúmeras e crescentes. A satisfação dessas necessidades,


portanto, depende de numerosos bens e serviços, uma vez que um só bem não é capaz de
satisfazer a todas elas. Assim, bens diferentes devem ser produzidos, em escala cada vez maior e
com maior grau de serventia ou utilidade técnica.
Por outro lado, como os bens tem custos e utilidades técnicas ou específicas diferentes,
torna-se indispensável compará-los em termos de valor econômico. O custo do pão não é igual ao de
um automóvel. A utilidade específica ou serventia do pão não é a mesma do automóvel, pois
enquanto um serve para satisfazer necessidades alimentícias o outro é útil para transportar
passageiros. Assim, para estabelecer ou fixar o valor econômico dos bens, o homem compara os
custos e as utilidades dos mesmos. Naturalmente, o critério ou base para fixar o valor ou comparar os
custos e as utilidades decorre da escala de suas necessidades, priorizando as mais importantes
segundo sua concepção de vida. Na sociedade civilizada, o valor econômico é traduzido ou
representado pelo preço. O Preço é o valor dos bens em termos de moeda.
Já vimos anteriormente que a produção de bens é efetuada pelas diversas indústrias, segundo
a divisão da produção, e que os homens trabalham nas diferentes ocupações profissionais, conforme
a divisão do trabalho, cada qual contribuindo para a formação de um bem. As indústrias dependem
uma das outras, e os homens também dependem uns dos outros. Na sociedade civilizada, cada qual
trabalhando ganha uma remuneração, e com ela compra os bens. Por sua vez, as empresas vendem
os bens que produzem. Deste modo, as necessidades de cada um e as utilidades e custos dos
diferentes bens formam um conjunto de ralações e comparações, de cuja teia econômico-social
surgem os preços. A formação dos preços nada mais é do que o confronto permanente ou periódico,
psíquico e social de uma escala de necessidades humanas, firmada -segundo um critério de
prioridades- com outra escala de bens, gerada conforme um critério duplo ou comparativo entre
custos e utilidades.
Diz-se que os preços se formam no mercado porque é nele que as necessidades dos
indivíduos e as utilidades e custo dos bens são comparados por meio da moeda, quando se realizam
as transações, isto é, as compras e vendas. Vendedor e comprador procuram transacionar nas
melhores condições possíveis, cada qual pretendendo vantagens econômicas. O comprador, para
satisfazer a necessidade que tem de certo bem, vai ao mercado para comprar esse bem pelo preço
mais baixo que encontrar, segundo certo tipo ou qualidade. De seu lado, o vendedor oferece o bem
pelo maior preço para o qual encontrar comprador. Da conciliação de interesses entre ambos a
transação é fechada ou realizada e daí surge o preço real do negócio.

As Leis da Oferta e da Procura

O consumidor procura comprar as mercadorias porque tem necessidade delas. É a utilidade


dos bens e a capacidade de satisfazer suas necessidades que o consumidor considera ou avalia
inicialmente. Mas ele só vai ao mercado para comprá-los se tiver moeda, isto é, se tiver renda para
esse fim. O vendedor, por sua vez, oferece ou comercializa a sua mercadoria de modo que o seu
preço de venda seja superior ao custo, a fim de obter o maior lucro possível. Entretanto, o preço de
uma transação não surge isoladamente da negociação de um vendedor e um comprador, mas sofre a
influência dos preços das outras transações, principalmente daquelas sobre o mesmo bem e no
mesmo mercado. Assim, o importante na formação dos preços não é a procura nem a oferta
individual, mas a procura e a oferta coletivas ou do mercado.
Procura coletiva (ou do mercado) de um bem é a quantidade desse bem que os compradores
estão dispostos a comprar a um certo preço.
Oferta coletiva (ou do mercado) de um bem é a quantidade desse bem que os vendedores
estão dispostos a vender a certo preço.
São Leis da Oferta e Procura as seguintes proposições:
- “O preço tende a subir quando, a um preço dado, a procura excede a oferta; inversamente,
tende a baixar quando a oferta excede a procura”.
- “Uma alta no preço tende, tarde ou cedo, a diminuir a procura e a aumentar a oferta.
Inversamente, uma baixa no preço tende, tarde ou cedo, a aumentar a procura e a diminuir
a oferta”.
- “O preço tende a um nível em que a procura é igual à oferta”.
A Procura

Procura é a busca que, no mercado, se verifica para determinado bem econômico, em uma
unidade de tempo.
Apesar de aparecer no nível das relações individuais, só quando tomada no sentido coletivo
(mercado) tem importância para a Ciência Econômica. apresenta-se como um fenômeno de
motivação, razão por que pode ser estimulada, criada ou alterada -em termos relativos, está claro-
pela propaganda.
Convém não confundir procura com desejo ou necessidade. Realmente há muitas pessoas que
desejariam ter um automóvel, mas, não o podem comprar; assim também muitas crianças necessitam
de leite e não o tomam porque seus pais não podem adquiri-lo. Por isso, devemos entender por
procura a busca efetiva que se faz no mercado, estabelecendo-se uma relação entre a quantidade do
bem de que o sujeito econômico necessita, e a capacidade aquisitiva do consumidor.
É pois, uma relação entre o desejo e o poder de compra.
Mas não é só. O indivíduo não é solicitado somente por uma necessidade. A ele se
apresentam sensações diferentes que exigem, em prazo relativamente curto, seu aplacamento.
Então, ele tem que decidir entre várias necessidades quais as que devem ser satisfeitas mais
urgentemente, o que só consegue no momento em que conhece sua capacidade econômica
(monetária) de compra. Daí depender ela de um confronto de preços de todos os bens que em um
tempo determinado estão no mercado. De fato, a procura de uma certa mercadoria não pode ser
considerada isoladamente; ela varia em função de outras.
A procura por um bem indica-nos, portanto, dados determinados condicionantes, a quantidade
do bem que os indivíduos desejam adquirir. Os principais fatores que influenciam a procura ou a
demanda por um bem são:
a) O Preço do bem em questão (Px): Esta é a variável mais importante para que o
consumidor decida o quanto vai comprar do bem: se o preço for considerado barato,
provavelmente ele adquirirá maiores quantidades do que se o preço for considerado caro.
b) Os preços dos bens substitutos ou concorrentes (Pz): Suponhamos que o preço de um
bem qualquer seja constante e que os preços dos bens concorrentes caiam.
Evidentemente, o consumidor racional reformularia seu padrão de consumo, passando a
preferir os bens cujos preços baixaram, já que são bens substitutivos ao bem antes
consumido. Se o consumidor deseja adquirir manteiga, por exemplo, ele não olhará
somente o preço desta mas também o preço dos bens que a substituem, tais como a
margarina, o requeijão cremoso, etc.
c) A renda do consumidor (Y): Embora muitas vezes o consumidor considere atrativo o preço
do bem X, ele pode não ter renda suficiente para comprá-lo, ou consumi-lo na quantidade
que desejaria. Porém, se a sua renda aumentar, provavelmente ele se arriscará a adquirir
maiores quantidades do bem. Assim, quanto mais alto o poder aquisitivo da comunidade,
maior será o montante de bens e serviços demandados.
d) Distribuição de renda entre os membros da comunidade (G): Supondo-se que cada grupo
sócio-econômico tenha seu padrão próprio de consumo, uma modificação na parcela da
renda total recebida por cada grupo afetará o consumo dos bens e serviços por ele
preferidos. Assim, uma redistribuição de renda a favor das classes de alta renda causaria
um aumento na procura por bens de luxo, ao passo que, se a redistribuição favorecesse
os grupos rurais de baixa renda, dificilmente o aumento na procura favoreceria aqueles
bens.
e) Hábitos e gostos dos consumidores (H): Esta é uma das variáveis das mais importantes
porque, embora o preço do bem X esteja adequado -inclusive comparado ao de bens
substitutos- e o consumidor possua renda para adquiri-lo, muitas vezes deixa de fazê-lo
por não estar habituado ou condicionado ao seu consumo.
f) População (J): O simples número de habitantes, desde que dispondo de poder aquisitivo,
afetará o montante procurado. Também a distribuição da população por idade determinará
o perfil da procura. Uma população jovem, por exemplo, certamente irá demandar uma
quantidade maior de produtos de consumo próprios à juventude.

Matematicamente, pode-se expressar a demanda do bem X através da seguinte expressão:

Dx = f(Px, Pz,Y,G,H,J, etc)

Onde: a letra f significa que Dx é função de... e a palavra etc abarca as outras possíveis
variáveis que influenciam o consumo do bem X, mas que não serão consideradas na análise.
A demanda do bem X é, portanto, a resultante da ação conjunta ou combinada de todas
essas variáveis. Entretanto para que se possa analisar o efeito na demanda de uma mudança no
valor de uma variável considerada isoladamente, os economistas recorrem à hipótese coeteris
paribus, expressão latina que significa tudo o mais permanecendo constante. Assim, por exemplo,
caso se deseja saber o que ocorre com a demanda do bem X se o preço do mesmo aumentar, é
preciso supor que todas as demais variáveis que influenciam a demanda permaneçam constantes, de
modo que a variação da demanda seja atribuível exclusivamente à variação do preço.
Nesse caso, podemos reescrever a demanda do bem X como sendo apenas a função do
preço de X, já que as demais variáveis ficam com seu valor inalterado.
Dx = f (Px) , sendo que: Y , Pz , G , H , J , etc. permanecem constantes
A esta relação denominaremos de função da demanda do bem X e à sua representação grá-
fica será chamada de curva de demanda do bem X.
A curva de demanda (ou procura) mostra a quantidade de um bem ou serviço que será
consumido, a cada nível de preço, durante um determinado período de tempo. Devemos lembrar que
somente o preço varia, determinando, assim, um novo nível de demanda.
Supondo-se que o bem X seja perfeitamente divisível, e portanto, possa ser consumido em
quantidades tão pequenas quanto se deseje (desse modo a função demanda será uma função
contínua), sua curva de demanda provavelmente assumirá o formato de uma curva descendente da
esquerda para a direita, evidenciando a lei da procura que pode ser assim traduzida: a quantidade
procurada do bem X varia inversamente ao comportamento do seu preço, ou seja, se o preço do bem
X aumentar, a sua quantidade demandada diminuirá e se o preço de X diminuir, a quantidade
procurada do bem aumentará. Matematicamente, pode-se dizer que a Demanda (ou Procura) do bem
X é uma função inversa ou decrescente do seu preço.

PX (R$)

22 - - - - - - -

10 - - - - - - - - - - - - -
8 -----------------

55 100 135 QX

Embora seja perfeitamente aceitável ao bom senso comum que a quantidade procurada do
bem X varie inversamente ao seu preço, os economistas justificam tal comportamento da demanda
em função de dois efeitos:
a) Efeito-renda: Considerando-se a renda do consumidor constante, quando o preço do bem
X aumenta, ele fica, em termos reais, mais pobre e portanto irá reduzir o consumo do bem;
o inverso ocorrerá se o preço do bem X diminuir.
b) Efeito-substituição: Se o preço do bem X aumenta e o de outros bens fica constante, o
consumidor procurará substituir o seu consumo por outro bem similar. Por outro lado, se
o preço do bem X diminuir, o consumidor aumentará o seu consumo às expensas da
diminuição do consumo dos bens sucedâneos.
Tudo o que foi exposto tomando por base o comportamento racional do consumidor individual
vale também para o mercado como um todo, já que a curva de demanda do mercado resulta da
agregação das curvas individuais. A curva de procura por um bem em uma comunidade é, portanto, a
soma das curvas de procura de todos os indivíduos que a compõem. Assim, por exemplo, se o
mercado for composto por dois consumidores (A e B) ter-se-ia:
Px Px Px

10 - - - - - - - - - - - - - - - -10 - - - - - - - - - - - - - - - - -10 - - - - - - - - - -
8 - - - - - - - - - - - - - - - - 8- - - - - -- - - - - - - - - - - - -8 - - - - - - - - - - - - - - - - - -

20 40 QX 15 28 QX 35 68 QX
Conaumidor A Consumidor B Mercado

Quando construímos a curva de demanda que acabamos de mostrar, consideramos que os


determinantes da demanda, exceto o preço, permaneceram constantes. Neste caso, observamos que
as variações nos preços e as respectivas variações nas quantidades demandadas ocasionaram
movimentos ao longo da curva de procura, sem contudo movimentá-la. Se, no entanto, houver
alteração em qualquer outra variável que não seja o preço, a curva de demanda mudará de lugar,
deslocando-se para a direita ou para a esquerda. Nesse caso, dizemos que estará havendo um
deslocamento da curva de demanda. Tais deslocamentos representam aumento ou quedas na
procura, ao passo que movimentos ao longo da curva representam aumento ou quedas nas
quantidades procuradas.
No gráfico a seguir está representado o caso em que houve um aumento na renda da
comunidade. Com a renda inicial de, digamos 2.000 unidades monetárias, a curva da procura é
representada pela reta DD. Quando a renda aumenta para, digamos, 3.000 unidades monetárias, em
vista do maior poder aquisitivo de que agora é possuidora a comunidade, espera-se que a curva se
desloque para a direita, representando, assim, um aumento na procura (D’D’). podemos notar que,
aos mesmos preços, as quantidades procuradas representadas pela reta D’D’ são maiores que as
representadas pela reta DD, ou seja, antes do aumento da renda. Ao preço de 10, a quantidade
demandada antes do aumento da renda era de 100 unidades e, depois do aumento da renda, ao
mesmo preço a procura aumentou e a quantidade demandada passou a ser, por exemplo, 150
unidades.
PX (R$)
D D’
10 - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
D’
D

100 150 QX
Considerando o mesmo caso, vamos supor agora que em vez de aumento tivesse acontecido
uma redução na renda da comunidade. Em nosso exemplo, com a renda inicial de 2.000 unidades
monetárias vimos que a curva da procura é representada pela reta DD. Supondo-se uma diminuição
na renda para, digamos, 1.500 unidades monetárias, em vista do menor poder aquisitivo de que
agora é possuidora a comunidade, espera-se que a curva se desloque para a esquerda,
representando, assim, uma diminuição na procura (D’D’). Constatamos então que, aos mesmos
preços de antes, as quantidades procuradas representadas pela reta D’D’ são menores que as
representadas pela reta DD, ou seja, antes da renda sofrer a diminuição. Ao preço de 10, a
quantidade demandada que anteriormente era de 100 unidades, agora, depois da diminuição da
renda, passou a ser de 60 unidades.

preço do bem x (R$) D’ D

10 - - - - - - - - - - - - -

D
D’

60 100 quantidade procurada do bem x

Há duas excessões à lei da procura: os chamados bens de Giffen e bens de Veblen.


Os bens de Giffen são bens de pequeno valor, porém de grande importância no orçamento
dos consumidores de baixa renda. Caso haja uma elevação em seus preços, seu consumo
paradoxalmente tende a aumentar, uma vez que, embora seu preço tenha sido majorado, são ainda
mais baratos que os demais bens; como ao consumidor após o aumento, sobra menos renda, ele não
poderá adquirir outros bens (por serem mais caros) e acabará consumindo maiores quantidades do
bem de Giffen.
Os bens de Veblen são bens de consumo ostentatório, tais como obras de arte, jóias,
tapeçarias e automóveis de luxo. Como o objetivo de seu consumidor é mostrar aos outros que é
possuidor de grande renda (e não o consumo do bem em si), quanto mais caros mais são
procurados.
Tanto os bens de Giffen como os de Veblen tem curvas de demanda com inclinação positiva,
ou seja, ascendentes da esquerda para a direita.

A Oferta
O segundo componente do mecanismo de mercado é a oferta, que representa o
comportamento dos produtores. A oferta por um bem indica-nos, dados determinados condicionantes,
a quantidade do bem que os indivíduos desejam produzir e oferecer no mercado.
Os principais fatores que influenciam a oferta de um bem são:
a) O nível de avanço tecnológico (T): Quanto maior for o avanço tecnológico, maior será o
aproveitamento dos recursos produtivos disponíveis e, portanto, maior poderá ser a oferta
por bens e serviços.
b) O preço do bem em questão (Px): Quanto mais alto for o preço de mercado do bem
produzido, maior será o incentivo aos empresários para aumentar a produção.
c) O preço dos outros bens (Pz): Os produtores, na competição pelo lucro, investirão seus
recursos na produção de bens que lhes proporcionarem os melhores retornos. Assim, o
nível do preço dos outros bens, principalmente aqueles que poderiam ser produzidos com,
aproximadamente, os mesmos recursos utilizados na produção de outros, poderá atrair
para este setor fatores de produção empregados em outras atividades.
d) Os preços dos insumos utilizados na produção (Pi): Alterações nos níveis de preço das
matérias-primas, dos combustíveis, da energia e de outros insumos terão como
consequência alterações na quantidade a ser ofertada no mercado.

Matematicamente, pode-se expressar a oferta do bem X pela seguinte função:

Ox = f(Px, Pz, Pi, T, etc)

Onde: a letra f significa que Ox é função de.... e a palavra etc. abarca as outras possíveis
variáveis que influenciam a oferta do bem X, mas que não serão consideradas na análise.
A Curva de Oferta mostra a quantidade de um bem ou serviço que será oferecido no
mercado, a cada nível de preço, durante um período determinado. Devemos ressaltar que somente o
preço do bem em questão varia, mantendo-se constantes todos os outros fatores que possam afetar
a oferta do bem. A curva de oferta de um bem de uma economia é a soma das curvas de oferta de
todos os empresários (produtores) da comunidade.
Matematicamente, pode-se dizer que a Oferta do bem X é uma função direta ou crescente do
preço. Assim, a oferta do bem X apresenta-se em forma de uma curva ascendente da esquerda para
a direita, mostrando que, quanto maior o preço, maior será a quantidade que os produtores desejarão
oferecer no mercado.
PX (R$)
22 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - -

10 - - - - - - - - - - - - - - -
8 ----------

65 100 155 QX
Tudo que foi exposto tomando por base o comportamento racional do produtor individual tale
também para o mercado como um todo, já que a curva de oferta do mercado resulta da agregação
das curvas individuais. A curva de oferta de um bem em uma comunidade é, portanto, a soma das
curvas de oferta do todos os produtores que a compõem. Assim, por exemplo, se o mercado for
composto por dois produtores (A e B) ter-se-ia:

Px Px Px

10 - - - - - - - - - - - - - - - - -10 - - - - - - - - - - - - - - - - 10 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
8 - - - - - - - - - - - - - - - - -- 8- - - - - -- - - - - - - - - - - 8 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

23 42 QX 17 35 QX 40 78 QX
Produtor A Produtor B Mercado

As curvas que acabamos de apresentar foram construídas considerando-se que os


determinantes da oferta, exceto o preço, permaneceram constantes. Neste caso, vimos que as
variações nos preços e as respectivas variações nas quantidades ofertadas ocasionaram
movimentos ao longo da curva de oferta sem, contudo, movimentá-la. Se, no entanto, houver
alteração em qualquer outra variável que não seja o preço, a curva de oferta mudará de lugar,
deslocando-se para a direita ou para a esquerda. Nesse caso, dizemos que estará havendo um
deslocamento da curva de oferta. Tais deslocamentos representam aumento ou queda na oferta, ao
passo que movimentos ao longo da curva representam aumento ou queda nas quantidades
ofertadas.
O gráfico a seguir ilustra estas situações. No primeiro caso, vamos supor que uma inovação
tecnológica introduzida na produção do bem A (café, por exemplo) trouxe, como consequência, uma
queda nos custos de produção. Observamos, então, que com a redução nos custos os produtores,
aos mesmos preços que anteriormente, oferecem agora quantidades maiores no mercado. Assim, a
curva original de oferta (OO) deslocou-se para a direita originando a curva O’’O’’. Da mesma forma,
se acontecer um aumento no custo de determinado insumo de produção (fertilizante, por exemplo) e
o preço do produto não se modificar, isto poderá ocasionar um desestímulo à sua produção. Haverá,
desta forma, um deslocamento da curva de oferta para a esquerda (de OO para O’O’). Igual
raciocínio poderíamos desenvolver considerando a ocorrência de problemas climáticos que afetam,
preponderantemente, a produção do café. Uma geada, por exemplo, também deslocaria a curva de
oferta de café para a esquerda.
PX
O’ O O”

p0 - - - - - - - - - - - - - - - - - --

O’ O O”

q1 q0 q2 QX

Oferta e Procura conjugadas : O equilíbrio do mercado

A ação conjunta das forças que orientam a oferta e a procura irá determinar o preço de
equilíbrio em uma economia de mercado. A este preço corresponderá uma quantidade de equilíbrio
de uma determinada mercadoria. Diz-se “de equilíbrio” porque, nestas circunstâncias, haverá
coincidência de desejos, igualando-se a quantidade que os consumidores desejam comprar com a
quantidade que os produtores desejam vender, a determinado preço.
Para visualização do equilíbrio de mercado, vamos transportar para um único gráfico os dados
já utilizados na elaboração individualizada das curvas de oferta e procura. Assim, constata-se que
o preço de equilíbrio seria 10 pois, a este preço, as quantidades de demanda e oferta se igualariam
em 100.

PX (R$)
22 - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - -

10 - - - - - - - - - - - - -
8 -----------------

55 65 100 135 155 QX

O ponto de equilíbrio é dado pela interseção das curvas de oferta e de demanda. A este ponto
corresponderá uma quantidade de equilíbrio Qe e um preço de equilíbrio Pe. Esta condição de
equilíbrio define uma situação duradoura, em que as coisas não tendem a mudar. Simboliza um ponto
de convergência em face das pressões de queda ou de alta sobre o preço. Analisando este aspecto
mais detalhadamente vemos que dificilmente seriam sustentáveis preços mais altos ou mais baixos
neste tipo de mercado competitivo. No gráfico a seguir podemos visualizar essa linha de raciocínio.
PX a b
D excesso de oferta O
P1
Pe = P2 E

P3
O c excesso de demanda d D

QX
Qe

Na interseção das curvas de oferta (OO) e de demanda (DD) fixamos o ponto de equilíbrio E a
partir do qual se estabelece, no eixo vertical, o preço de equilíbrio Pe e, no eixo horizontal, a
quantidade de equilíbrio Qe. Vamos supor que se tenha estabelecido um preço P1, num primeiro
momento. A este preço existirá um excesso de oferta, isto é, haverá uma quantidade sendo oferecida
no mercado em volume superior àquele que os consumidores estão dispostos a adquirir, a este nível
de preço. Esta oferta excedente é determinada pelo segmento ab do gráfico. De outra parte, para
qualquer preço inferior a Pe (por exemplo, P2) surgirá um excesso de demanda definido pelo
segmento cd do gráfico, indicando que, a este preço, os produtores não se sentem estimulados a
produzir e os consumidores, por seu lado, estão seriamente dispostos a comprarem a mercadoria.
Quais as consequências deste excesso sobre o preço?
Um excesso de oferta tem característica de exercer pressão no sentido de queda do preço,
devido ao aumento indesejado dos estoques, à concorrência entre os vendedores e à própria
percepção dos compradores, que forçarão rebaixamentos no preço tão logo percebam a existência
dos estoques.
Um excesso de procura força os preços para cima, em função da disposição dos compradores
diante da escassez da mercadoria e da disposição dos vendedores em se aproveitar desta escassez
sem o risco de queda no volume de vendas.
Embora os economistas refiram-se às curvas de demanda e oferta, estas também podem ser
expressas linearmente (ou seja, na forma de uma linha reta) como, por exemplo:

QDx = 280 - 4Px (demanda)


QOx = - 20 + 2Px (oferta)

Onde: QDx = quantidade demandada (ou procurada) do bem X


QOx = quantidade ofertada do bem X
Px = preço do bem X

Estas duas retas evidenciam as funções de procura e oferta do bem X. De fato, supondo-se
diversos possíveis níveis de preço no mercado, aplicando-se a função, obter-se-iam as respectivas
quantidades procuradas e ofertadas.

Px QDx = 280 - 4Px QOx = -20 + 2Px_____


30 280 - (4 x 30) = 160 -20 + (2 x 30) = 40
40 280 - (4 x 40) = 120 -20 + (2 x 40) = 60
50 280 - (4 x 50) = 80 -20 + (2 x 50) = 80
60 280 - (4 x 60) = 40 -20 + (2 x 60) = 100__

Observando-se a tabela acima, percebe-se facilmente que o preço de equilíbrio é 50, já que,
nesse caso, as quantidades ofertadas e demandadas são iguais em 80 unidades. Preços maiores
que 50 teriam como consequência um excesso de oferta no mercado e menores que 50, uma
escassez.
Para se obter o preço de equilíbrio, dadas as funções da oferta e da procura, basta igualar as
quantidades demandadas e ofertadas (já que o preço de equilíbrio é o que iguala as duas
quantidades):
PX (R$) OX
60 - - - - - - - - - - - - - - -
50 - - - - - - - - - - - - - 280 – 4Px = -20 + 2Px
40 - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
30 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- DX ⇒ 300 = 6Px
⇒ Px = 300 ⇒ Px = 50
6
20 40 60 80 100 120 140 160 QX

Interdependências na demanda e na oferta

Conforme já vimos, é através da Lei da Oferta e da Procura que decisões são tomadas no
sistema capitalista. A oferta e a procura, agindo livremente no mercado, estabelecerão preços que
orientarão os agentes econômicos em suas decisões. Abordaremos, agora, aspectos relacionados às
reações do mercado, face a modificações nas estruturas da oferta e da procura.

Demandas complementares

Certos Produtos são, muitas vezes, complementares de tal forma que a demanda por um,
automaticamente, cria demanda pelo outro. Por exemplo, automóveis e gasolina, a escova e a pasta
de dentes, o café e o açúcar, etc. Desta maneira, quando houver uma modificação qualquer na
demanda por um deles, a demanda pelo outro também será afetada.
Devemos notar que, embora bens complementares sofram efeitos de interdependência, os
aumentos ou quedas em suas procuras não são necessariamente iguais ou proporcionais. Por
exemplo, um aumento na procura por café em 10 kg não implica em um aumento de 10 kg por
açúcar; da mesma forma, um aumento em 10% na procura por automóveis pode não implicar em um
aumento de 10% na procura por gasolina, visto que os novos automóveis poderiam não ser usados
com a mesma intensidade que os existentes antes do aumento da demanda.

Demanda competitiva

Alguns produtos competem intensamente uns com os outros. Seria o caso de manteiga e
margarina, leite fresco e leite em pó, ir ao teatro X ou ao teatro Y, etc. Em certo sentido, todos os
bens produzidos numa comunidade competem com todos os outros, já que, sendo o poder aquisitivo
dos consumidores limitado, a opção por um produto qualquer implica a redução do consumo de
algum outro. No entanto, certos produtos concorrem de maneira tão direta que são chamados de
bens competitivos ou substitutos.

Oferta complementar

Em certos casos, para que se possa aumentar a quantidade ofertada de um bem, é


necessário que haja um aumento correspondente na oferta de outro. Tal seria o caso, por exemplo,
nos mercados de ovos e de carne de galinha; leite e carne de vaca; gasolina e gás, etc. Poder-se-ia
argumentar, no entanto, que seria possível aumentar a quantidade ofertada de leite sem um aumento
proporcional na oferta de carne, simplesmente aumentando-se a produtividade leiteira do rebanho
existente. Todavia, embora os aumentos possam não ser proporcionais, haverá sempre aumentos
correspondentes nos dois mercados.

Oferta competitiva

No exemplo anterior, um aumento na procura por leite acarretou também um aumento na


oferta da carne. No entanto, a produção de leite é competitiva com relação à produção de milho, por
exemplo. Num sentido mais amplo, poderíamos afirmar que todos os produtos são competitivos uns
com os outros, devido ao fato de que todos utilizam fatores de produção escassos e, portanto, o
aumento na produção de um bem acarretará, necessariamente, a queda na produção de um outro.
(custo de oportunidade). Assim sendo, o aumento no número de animais para a produção de mais
leite concorre com a produção de milho, visto que áreas antes cultivadas serão, agora, transformadas
em pastagens. Dessa forma, um aumento na quantidade ofertada de leite implicará em uma redução
da oferta de milho.

Elasticidade da demanda e da oferta

Conforme já observamos, tanto a demanda como a oferta são sensíveis a variações de preço.
Alterações nos preços provocam reações positivas ou negativas nas quantidades ofertadas ou
demandadas. Contudo, a relação de interdependência entre a procura, a oferta e o preço não é
rígida, isto é, a variação da oferta ou da procura em 30% nem sempre provoca uma variação igual ou
de 30% no preço. Uma alta ou uma baixa de preço de 20% nem sempre gera uma variação de 20%
na oferta ou na procura. O efeito da oferta e da procura sobre o preço pode ser igual, maior ou
menor. Da mesma forma, a variação do preço sobre a oferta e a procura pode ser igual, maior ou
menor. Desse fenômeno surge a noção de elasticidade da oferta e da procura que “é a relação entre
a variação percentual da quantidade ofertada ou procurada e a variação percentual do preço”
Na teoria econômica, o termo elasticidade significa sensibilidade. Assim, quando se afirma
que a demanda do bem X é elástica em relação a seu preço, o que se pretende dizer é que os
consumidores do bem X são sensíveis a alterações de seu preço; case este aumente, por exemplo,
os consumidores diminuirão de forma significativa a quantidade procurada do bem. Por outro lado,
quando se afirma que a demanda do bem X é inelástica, quer-se dizer que os consumidores desse
bem mudarão muito pouco a sua quantidade procurada mesmo que o preço se eleve
substancialmente.
Matematicamente podemos representar a elasticidade (da oferta ou da procura) através das
seguintes expressões:
Onde: E = Elasticidade (da demanda; ou oferta)
VQ ∆ Q = variação percentual na quantidade
E= ∆ Q ou; E = __Q__ ∆ P = variação percentual no preço
∆P VP VQ = variação absoluta na quantidade
P Q = quantidade demandada ou ofertada
VP = variação absoluta no preço
P = preço do bem

A procura e a oferta podem ter elasticidade igual a 1 e maior ou menor que 1. Quando o
coeficiente de elasticidade é igual a 1, a procura (ou oferta) é de elasticidade unitária. Sendo maior
do que 1, a procura (ou oferta) é elástica; menor do que 1, a procura (ou oferta) é inelástica ou rígida.
Assim, podemos resumir as reações da demanda e da oferta em relação às possíveis
variações nos preços dos bens através das seguintes expressões:
Se ΔQ > ΔP ⇒ E > 1 ⇒ A demanda (ou oferta) é elástica
Se ΔQ < ΔP ⇒ E < 1 ⇒ A demanda (ou oferta) é inelástica
Se ΔQ = ΔP ⇒ E = 1 ⇒ A procura (ou oferta) tem elasticidade unitária.

Os gráficos a seguir representam as seis possíveis situações de elasticidade da demanda e


da oferta em relação a variações nos preços.
PX PX PX
P2 - - - - -
p2 - - - p2 - - - - - -
p1 - - - - - - - - - - - -
p1 - - - - - - - - - p1 - - - - - - - - - - - --

q2 q1 QX q2 q1 QX q2 q1 QX
ΔQ > ΔP ⇒ E > 1 ΔQ < ΔP ⇒ E < 1 ΔQ = ΔP ⇒ E = 1
Procura elástica Procura inelástica Procura de elasticidade unitária

PX PX PX

p2- - - - - -- p2 - - - - - - - - ----
p2 - - - - - - - - - - -
p1 - - - - --
p1- - -- p1 - - - - -

q1 q2 QX q1 q2 QX q1 q2 QX
ΔQ > ΔP ⇒ E > 1 ΔQ < ΔP ⇒ E < 1 ΔQ = ΔP ⇒ E = 1
Oferta elástica Oferta inelástica Oferta de elasticidade unitária

Neste texto didático, estudaremos três conceitos de elasticidade, dois deles relativos à
demanda e um à oferta: Elasticidade-preço da demanda;
Elasticidade-renda da demanda;
Elasticidade-preço da oferta.

Elasticidade-preço da demanda

Elasticidade-preço da demanda: é o conceito que mede a reação dos consumidores às


variações de preço. Em outras palavras, a elasticidade-preço da demanda mostra a relativa
sensibilidade da quantidade às alterações dos preços.
Para que este conceito fique mais claro, vejamos um exemplo. Vamos considerar a curva do
gráfico a seguir, que representa a curva de demanda por carne.
PX (R$)

9-----------B
5----------------A

3 5 QX (1.000kg
Suponhamos que os consumidores estejam sobre o ponto A da curva de demanda, onde
adquirem, ao preço unitário de R$5,00 , 5.000kg por semana. Vamos Considerar, agora, que o preço
da carne suba para R$9,00 e examinar, com o auxílio do conceito de elasticidade, qual será a reação
dos consumidores a esse aumento de preço. Como se pode observar na figura, os consumidores
passaram para o ponto B sobre a curva de demanda, adquirindo apenas 3.000kg por semana. Vamos
calcular, então, a elasticidade-preço da demanda de carne.
Utilizando a fórmula que mede o coeficiente da elasticidade-preço da demanda (doravante
denominado Epd) teremos a seguinte relação:

Epd = ∆ Q ⇒ Epd = 40% ⇒ Epd = 0,5 Então, a elasticidade é igual a 0,5


∆P 80%

Pelo exemplo que acabamos de apresentar, poderíamos dizer que a procura da carne foi
inelástica em relação à variação de preço considerada. Neste caso, o valor da elasticidade resultou
menor que 1. Este coeficiente nos mostra claramente que a carne é um alimento de grande
importância na alimentação familiar e detém alto poder de resistência à substituição por parte dos
consumidores. Prova disso foi a reação da demanda à majoração do preço, pois enquanto este
sofreu um significativo aumento de 80% (passando de R$5,00 para R$9,00) a demanda recuou
somente 40% (caiu de 5.000kg para 3.000kg).
O valor da elasticidade é um critério interessante para se determinar o grau de essencialidade
dos bens. É de se esperar que um bem essencial à subsistência ou aos hábitos de consumo das
pessoas tenha uma demanda inelástica, isto é, menor que 1, significando que as pessoas não
reduzem consideravelmente o consumo desses bens, mesmo quando sofrem aumentos significativos
nos preços. É o caso, por exemplo, do sal. Por outro lado, quando a demanda de um bem apresenta-
se elástica, isto significa que as pessoas estão reduzindo seu consumo numa proporção maior do que
o aumento de preços, podendo-se considerar que este bem é supérfluo, ou, então, que há substitutos
próximos no mercado.
Embora rigorosamente somente se possa afirmar que a demanda do bem X é elástica ou não
em relação a seu preço a partir de uma comprovação empírica (ou seja, analisando-se variações de
preços e quantidades demandadas efetivamente ocorridas no mercado) existem algumas regras
práticas atribuídas a Marshall (Economista inglês autor de Principles of Economics) que permitem
uma avaliação “a priori” do valor de Epd.
- Quanto maior o grau de utilidade do produto para o consumidor, menos elástica será sua
demanda. De fato, se o bem X é um produto essencial para o consumidor, aumentos em
seu preço reduzirão muito pouco a sua quantidade adquirida e, ao reverso, diminuições no
seu preço aumentarão muito pouco o seu consumo. Desse modo, produtos de primeira
necessidade, tais como gêneros alimentícios, roupas e serviços de escola, tendem a ter
demanda inelástica e produtos de consumo supérfluo, tais como perfumes e jóias,
apresentam geralmente demanda elástica em relação a seu preço.

- Quanto menos substitutos tiver o bem, menos elástica será sua demanda. Novamente,
uma proposição bastante lógica: se o preço do bem X aumentar e houver substitutos para
o seu consumo, o consumidor poderá reagir adquirindo maiores quantidades dos bens
substitutos e menores quantidades do bem X. Caso, entretanto, isto não seja possível pela
ausência de substitutos, o consumidor terá que continuar adquirindo o bem X e sua
demanda será pouco afetada pelo aumento de seu preço.

- Quanto menor o preço do bem X e, portanto, seu peso no orçamento do consumidor,


menos elástica será sua demanda. Uma caixa de fósforos, por exemplo, custa R$0,40; Se
seu preço dobrar (aumentar 100%), é pouco provável que seu consumo diminua
significativamente já que continua a ser um produto muito barato, pouco representativo no
orçamento do comprador. Ao contrário, se o preço de um automóvel aumentar, é quase
certo que sua demanda será significativamente afetada.

Elasticidade-renda da demanda

O conceito de elasticidade-renda é semelhante ao de elasticidade-preço. Através deste


instrumental, procura-se medir quais as repercussões sobre a demanda, provocadas por variação na
renda do consumidor. A sensibilidade da quantidade demandada será função, portanto, das
alterações na renda do comprador.
A elasticidade-renda da demanda, doravante chamada de Erd, é dada por:

Erd = ∆ Q Onde: ∆ Q = variação percentual na quantidade demandada


∆R ∆ R = variação percentual na renda do consumidor

Sabe-se, intuitivamente, que quando há aumento de renda , normalmente há aumento de


demanda. Isto, no entanto, não ocorre necessariamente no caso dos bens inferiores. (Conforme já
vimos anteriormente, um bem é normal se sua demanda aumenta quando a renda aumenta. A
maioria dos bens é normal. Um bem é superior se sua demanda aumenta quando a renda aumenta e
sua participação na renda também aumenta. Os restaurantes que servem comida sofisticada são um
exemplo. Um bem é inferior se sua demanda diminui quando a renda do consumidor aumenta. Como
exemplo podemos apontar vinhos baratos.)
Por exemplo, se a renda dos consumidores se elevar de 1.000 para 1.300 e as quantidades
demandadas dos bens A, B, C e D apresentarem o comportamento exposto na tabela a seguir:
_____________________________
Quantidade demandada
Bens _______________________
_________R = 1.000 R = 1.300_
A 40 36
B 50 60
C 60 78
___D 20 30_____

Temos que: Erd (bem A) = - 10% = - 1/3


30%
Observe-se que a quantidade procurada do bem A diminuiu quando a renda aumentou. Logo,
A é um bem inferior. O coeficiente de elasticidade-renda dos bens inferiores é negativo, refletindo o
comportamento inverso entre QP e R.
Erd (bem B) = 20% = 2/3 (< 1)
30%
O Coeficiente do bem B é positivo (logo B é um bem normal). Entretanto, ele é menor que 1,
indicando que B tem demanda inelástica (pouco sensível) em relação à renda.
Erd (bem C) = 30% = 1
30%
Nesse caso, o bem C apresenta elasticidade-renda de demanda unitária.
Erd (bem D) = 50% = 5/3 (> 1)
30%
O bem D apresenta Erd > 1, logo sua demanda é elástica em relação à variação da renda.
Este tipo de bens são denominados de bens superiores (supérfluos ou de luxo).

Elasticidade-preço da oferta

A Elasticidade-preço da oferta (Epo) mede a sensibilidade da oferta a variações no preço do


bem X. Assim:
Epo = ∆ Q (variação % na quantidade ofertada do bem X)
∆ P (variação % do preço do bem X)

PX PX PX
6 - - - - - - - - ----
5----------- 6 - - - - ---
4 - - - - -- 4 ------
3 - - --
30 70 QX 20 30 QX 40 60 QX
Epo = 133% ⇒ Epo = 5,3 Epo = 50% ⇒ Epo = 0,5 Epo = 50% ⇒ Epo = 1
25% 100% 50%
(Oferta elástica) (Oferta inelástica) (Oferta com elasticidade unitária)
Observe que Epo é sempre positivo, pois o preço e a quantidade ofertada variam na mesma direção.
Oferta e procura no sistema socialista.

Sabemos que o Socialismo procura corrigir os defeitos do Capitalismo, constituindo erro a


crença de que pretenda ela destruir tudo quanto foi criado pelo sistema em que predomina o capital
privado. Ninguém pode negar que o progresso industrial, introduzido pelo capitalismo, contribuiu para
um enorme incremento da produtividade, através de uma crescente mecanização da indústria.
Ninguém pode contestar os benefícios que o capitalismo trouxe ao campo técnico, com suas
invenções, descobertas, aperfeiçoamentos mecânicos, padronizações de produtos, trabalho em série
e em grande escala e barateamento da mercadoria. Ninguém pode recusar ao capitalismo haver
contribuído para a obtenção de produtos cada vez mais abundantes com custo de produção cada vez
mais baixo. Por outro lado, temos de admitir que, baseando-se no princípio do lucro, o capitalismo se
apoia na propriedade privada dos meios de produção e não procura o bem-estar geral, mas o
individual.
O socialismo, por sua vez, procurando fazer da sociedade o verdadeiro dono da produção
com o fito exclusivo de abolir a exploração econômica, organiza a vida social considerando os
interesses coletivos, o que conduz à supressão do direito individual de apropriação. Assim, o que
difere, no campo da oferta-procura, o capitalismo do socialismo é que um é individualista por
excelência, enquanto o outro é coletivista. É natural, pois, que haja sensível diferença entre ambos
neste setor.
As necessidades humanas - mola da procura - não se modificam no socialismo. São elas que
determinam a oferta e estimulam a produção. Como o Estado tem interesse em atender a solicitações
humanas, busca meios de desenvolver uma oferta racional que atenda a uma procura desenvolvida,
porém equilibrada. Deste modo, o objetivo é tentar satisfazer as necessidades materiais e intelectuais
dos consumidores, sem a finalidade de proporcionar enriquecimentos. Isto afasta o problema de
procura efetiva, já que o Estado-produtor concentra sua atenção no desenvolvimento daquilo que
represente satisfação das necessidades dos consumidores pouco importando que tal tipo de produto
não seja lucrativo. Desde que seja necessário, o produto deve ser oferecido ao consumidor. O
problema de preparar a oferta, para que se possa dispor de meios capazes de prevenir as
solicitações dos consumidores é conseguido através da planificação. O Estado, controlando a
produção e suprimindo a anarquia fundamental do sistema produtivo capitalista, desenvolve
harmonicamente a oferta em função do consumo, tornando possível o controle efetivo dos preços.

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