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O corpo materno: da ficção romântica à realidade contemporânea

Sara Brandão do Amaral (8101B, 30)

No romance indianista de José de Alencar, Iracema (1865), é retratada a história


da índia Iracema e o soldado português Martim, com quem mantem relações
afetivas e dá à luz a um filho. Durante toda a obra, o corpo jovem feminino da
menina-mulher é exaltado, sendo o fio que conduz a trama.

Iracema (1865), retrata toda a sexualidade e, especialmente a identidade


feminina, a qual é pautada nos pilares: beleza, virgindade, erotismo e, por fim, a
geração de uma nova vida. Essa beleza da jovem índia, conforme os padrões
romântico-indianistas constituem-se de uma sensualidade natural e simples, em
harmonia com os elementos naturais nacionais, como a mata, suas árvores, seus
frutos, flores e odores.

Na obra, sua beleza consiste num conjunto de atributos válidos para os padrões
contemporâneos: “lábios de mel”, “cabelos mais negros que a asa da graúna e
mais longos que seu talhe de palmeira”, “era doce seu sorriso, seu hálito
perfumado”, “pé grácil e nu, mal roçando”, “alisava apenas a verde pelúcia”.

O corpo de Iracema, mesmo durante toda sua gestação, ainda carrega esses
mesmos ideais de sensualidade e jovialidade, mas agora, quando comparada à
natureza, acaba sendo, como esta, fonte dos distintos lugares de prazer e dor
extremos. Em todas as pinturas de representação de Iracema, a índia é sempre
retratada com suavidade e idealização.

No mundo contemporâneo, esses recursos discursivos presentes no texto


romântico ainda aparecem com frequência em vários formatos e situações do
cotidiano. A idealização da beleza feminina e seu corpo materno relacionada à
natureza pura e saudável é ainda objeto de muita retórica e eloquência,
enfatizando a sensualidade dos corpos sensíveis, delicados e agradáveis da
mulher atual.

Basta considerar o universo midiático dos comerciais de produtos cosméticos,


da moda, da alimentação entre outros que facilmente se percebe a continuidade
de valores e crenças discutidas no romance. Os cabelos sempre sedosos, a pele
refrescante, os corpos esguios e leves. Quando se trata de induzir consumidores
de forma mais convincente, apresentam-se as novas heroínas da pós-
modernidade, figuras consagradas que propagam o discurso de “corpo ideal” e
“padrão estético”, sendo, como era Iracema, a representação da sensualidade e
idealização de um corpo jovem, materno e natural.

Figura 1- Reprodução: Instagram/Mariana Sampaio Figura 2- Reprodução: Instagram/Boca Rosa

REFERÊNCIAS

SVIZZERO, Nelma. Sexualidade e identidade feminina em “Iracema” de José de


Alencar: da literatura romântica de vestibular à visão crítica dos vestibulandos.
2018. 167 p. Trabalho de dissertação de mestrado (Pós-graduação em
Educação Sexual da Faculdade de Ciências e Letras) - Unesp, Araraquara-SP,
2018.

STEVENS, Cristina. O corpo da mãe na literatura: uma ausência presente, p. 20,


2018.

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