Quando falamos da mãe negra no contexto brasileiro, precisamos
resgatar alguns conceitos que foram cruciais para sua definição nos dias atuais, além de traçar quais espaços a mesma ocupa na sociedade. Ao buscar trazer essas reflexões, é necessário fazermos a conexão com seu passado e as construções sociais ao longo dos séculos, além de traçar os simbolismos acerca de seu papel no plano social e sua forma de ocupação.
Uma vez definidos os estereótipos em torno da mulher mãe negra,
entenderemos, por meio da análise histórica, como eles se mantiveram, ocupando novos espaços e ganhando novas definições. Os objetivos traçados nesse artigo são trazer as definições dos estereótipos envolvendo as mulheres negras até chegarmos nas mães, expondo suas lutas, seu passado e buscando ressaltar os lugares ocupados pelas mesmas na sociedade atual brasileira.
Trazendo como base os estudos de Lélia Gonzalez, a qual foi intelectual,
autora, política, professora, filósofa e antropóloga brasileira, será exposto o perfil de uma mulher em torno de uma sociedade racista, patriarcal e capitalista. Além disso, com base nos conteúdos passados em aula, definiremos como a “Mater Dolorosa” do século XIX, descrita no poema de Castro Alves (1883), pode ser encontrada na nossa atualidade.
Lélia, em seu artigo intitulado “Racismo e sexismo na cultura brasileira”,
traz a reflexão de que o lugar que a mulher negra é colocada na sociedade brasileira é determinado fundamentalmente pela interpretação da nossa dupla opressão: de gênero e racial, ao mesmo tempo. Esses lugares se mostram nos três estereótipos que ela trabalha ao longo do texto: a mulher mulata, doméstica e a mãe preta. Ao longo da construção cultural brasileira, a mulher negra é geralmente vista como sendo domesticada, o que acaba colocando-a nesses distintos lugares de integração e rejeição. Lélia começa falando do estereótipo da mulata, que se idealiza fundamentalmente no carnaval brasileiro, colocando o corpo da mulher de forma estereotipada. A “Deusa do Samba”, a mulher desejada e admirada.
A figura da doméstica é traçada pelo mesmo sujeito ao definir a mulata.
Ao voltarmos ao nosso passado colonial brasileiro, vemos que anterior à definição de “doméstica”, veio a mucama. Mucamas eram as mulheres negras escravizadas escolhidas para trabalhar dentro das casas grandes. Elas não só cuidavam da prole dos senhores de engenho, como também executavam trabalhos domésticos e sexuais forçados.
Nesse contexto, vemos a criação de um caráter de servidão posta em
duplo caráter: braçal e sexual. Há a naturalização da concubinagem: ato sexual com alguém que não se casa, entre mulheres negras e os senhores brancos. Levando em conta que as mulheres eram tratadas como objetos desses senhores, elas muitas vezes não tinham escolha e sofriam de abuso sexual.
Faz-se necessário entendermos que o passado colonial é presente e
atuante. A ideia de que mulheres negras são ligadas à servidão, seja no trabalho ou sexualmente é basicamente a reprodução das violências sofridas pelas mucamas.
Lélia enfatiza como a figura da mucama se transformou na figura da mãe
preta, que cuida de todos, serve a todos e que vive única e exclusivamente pra servir seus filhos e marido. No brasil colonial, ela foi responsável por cuidar, amamentar e educar não só da prole branca, mas também de seus filhos.
No poema “Mater Dolorosa” (1883), de Castro Alves, é traçado um perfil
de uma mãe que vive a angústia de sua condição e que, segundo Julia Maria Fernanda Machado Fernandes, em seu artigo “As representações da escrava nos poemas de Castro Alves no livro ‘Os Escravos’ durante a segunda metade do século XIX”, pertencente a um segmento oprimido e submetido aos interesses comerciais, familiares e sexuais de seus proprietários.
Essas mulheres, para além de serem destituídas de sua humanidade,
eram alocadas em um espaço inteiramente servil. Ou seja, a sua existência tinha como propósito nutrir, educar e cuidar de crianças brancas. Infelizmente, na atualidade ainda há diversos resquícios desta prática, sendo as mulheres pretas e mestiças as maiores responsáveis por serviços de limpeza, cuidados infantis mal remunerados e empregos subalternos.
DISPOSIÇÕES FINAIS
O presente artigo será publicado no jornal da turma 8101B, do Colégio