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São Paulo
2014
ANA CAROLINA FERREIRA MENDES
São Paulo
2014
M538a Mendes, Ana Carolina Ferreira.
Transformações recentes na paisagem construída da
cidade de São Paulo: o eixo da rua Augusta, do Centro à
Marginal Pinheiros / Ana Carolina Ferreira Mendes. – 2014.
183 f. : il. ; 30 cm.
CDD 711.4098161
ANA CAROLINA FERREIRA MENDES
Aprovado em
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________
Prof. Dr. José Geraldo Simões Junior – Orientador
Universidade Presbiteriana Mackenzie
___________________________________________________________________
Profa. Dra. Ruth Verde Zein
Universidade Presbiteriana Mackenzie
__________________________________________________________________________________
Ao professor José Geraldo Simões Junior, meu orientador, com seu olhar
sempre otimista, pela preciosa orientação.
Aos professores do Stricto Sensu pelas oportunas correções de rotas do
percurso.
Ao escritório Biselli + Katchborian pelo constante incentivo a essa pesquisa.
Aos novos amigos que fiz ao longo do Mestrado, pelos debates
enriquecedores.
À meus pais, pelo apoio incondicional.
RESUMO
The research aims to survey, analyze and criticize the recent transformations taking
place in São Paulo urban landscape, specifically in a selected axis located in the
southwestern area of the city, historically it's most valued location. The selected axis
connects Downtown and Marginal Pinheiros, starting in Martins Fontes St.,
continuing through Augusta St., Colômbia St., Europa Avenue and, finally, reaches
Cidade Jardim Avenue. Several urban morphologies take place all over this axis,
formed and consolidated during the 20th century, and important mutations are
happening in this pre-existing urban fabric. Such transformations reveal themselves
as a result of the constructive laws, and also of the society action which in several
ways happens to encourage, through the products of the real estate market or the
way of life citizens chose. The built landscape throughout the Augusta St. axis is now
changing, specifically in sections Baixo Augusta and Cidade Jardim, through intense
verticalization and homogenization of architectural language and products offered,
compared to the pre-existing landscape.
Introdução.............................................................................................................p. 08
1 Eixo Rua Augusta – Avenida Cidade Jardim e a escala urbana...........p. 16
1.1 O eixo da Rua Augusta e as centralidades rumo ao sudoeste....................p. 17
2 Eixo Rua Augusta – Avenida Cidade Jardim e a escala local...............p. 38
2.1 Aspectos metodológicos.............................................................................p. 39
2.2 Aspectos históricos......................................................................................p. 42
2.3 Aspectos atuais............................................................................................p. 79
2.3.1 Setor 1 - Rua Martins Fontes e Rua Augusta, da Avenida São Luis à
Rua Caio Prado.................................................................................p. 85
2.3.2 Setor 2 - Rua Augusta, da Rua Caio Prado à Rua Matias Aires.......p. 88
2.3.3 Setor 3 – Rua Augusta, da Rua Matias Aires à Avenida Paulista.....p. 91
2.3.4 Setor 4 – Rua Augusta, da Avenida Paulista à Alameda Tietê.........p. 94
2.3.5 Setor 5 – Rua Augusta, da Alameda Tietê à Rua Estados Unidos...p. 97
2.3.6 Setor 6 – Rua Colômbia e Avenida Europa, da Rua Estados Unidos à
Rua Itália.........................................................................................p. 100
2.3.7 Setor 7 – Avenida Cidade Jardim, da Rua Itália à Marginal
Pinheiros.........................................................................................p. 104
3 Análise da paisagem construída atual..................................................p. 107
3.1 Transformações recentes no trecho Baixo Augusta..................................p. 111
3.1.1 Lançamentos imobiliários............................................................... p. 114
3.1.2 Paisagem construída atual, uma aproximação gráfica...................p. 118
3.1.3 Processo de transformação da paisagem.......................................p. 124
3.2 Transformações recentes no trecho Cidade Jardim..................................p. 132
3.2.1 Lançamentos imobiliários................................................................p. 135
3.2.2 Paisagem construída atual, uma aproximação gráfica....................p.144
3.2.3 Processo de transformação da paisagem.......................................p. 150
3.3 Transformações das paisagens em uma leitura comparativa...................p. 153
Considerações Finais........................................................................................p. 173
Bibliografia..........................................................................................................p. 179
8
Introdução
Apresentação
Como as transformações arquitetônicas recentes tem se concretizado em
territórios historicamente consolidados na cidade de São Paulo? Essa é a questão
principal da presente dissertação, que se propõe a investigar as mutações ocorridas
na paisagem construída no eixo da Rua Augusta, entre os anos de 2006 e 2014.
O eixo proposto para estudo configura-se como um dos vetores de ligação
entre o Centro e a Marginal Pinheiros, representando com grande diversidade de
tipos de ocupação o crescimento da cidade ao longo dos séculos XX e XXI. É de se
notar que mais dois eixos promovem essa conexão – Avenida Rebouças e Avenida
Nove de Julho – nenhum deles, porém, com tamanha diversidade (de morfologias de
quadra, tipo de ocupação do lote e usos) e abrangência temporal como o eixo que
se inicia na Rua Martins Fontes, passando pelas Ruas Augusta, Colômbia e
Avenidas Europa e Cidade Jardim.
O eixo da Rua Augusta, pode-se dizer, fica ao longo das décadas de certo
modo protegido das decorrências negativas dos grandes fluxos viários, pois estes
são absorvidos tanto pela Avenida Rebouças, como pela Avenida Nove de Julho. É
também fundamental lembrar que o desenvolvimento dos bairros-jardim, residenciais
de baixa densidade, contribuiu para a manutenção de certa escala local a este eixo
da cidade.
É possível a leitura da continuidade do eixo da Rua Augusta para além da
Marginal Pinheiros. Observamos, no entanto, que do outro lado do rio diversas
outras dinâmicas atuam na formação e consolidação das morfologias urbanas - do
mercado imobiliário à influência de outras regiões da cidade, mais a oeste - nos
levando a crer que o trecho selecionado entre o Centro e a Marginal Pinheiros já é
representativo da sucessão de centralidades que diversos autores elegem, e
portanto, suficiente para o presente estudo.
A pesquisa pretende incluir-se na escala entre a arquitetura e o urbanismo, no
âmbito do desenho urbano, ao investigar como o território do eixo insere-se na
lógica de crescimento da cidade, em um momento seguinte o compreendendo como
unidade territorial possível de ser estudada em si mesma e, finalmente, observando
como novos empreendimentos recentes se inserem na trama consolidada e repleta
9
Venturi, Brown e Izenour (2003, p. 25) abordam a paisagem urbana por outro
viés, mais radical, e enfatizam a oposição pós-modernismo/ modernismo na
construção das cidades, afirmando que os arquitetos têm muito mais a aprender
com a paisagem comercial e popular existente do que com os edifícios monumentais
e cidades planejadas e ideais.
Objetivos
O objetivo geral da presente pesquisa é investigar como a sucessão de
centralidades rumo ao Sudoeste, apontada por diversos autores como Frúgoli Junior
(2000) e Villaça (2001) se coloca como paisagem construída no eixo da Rua
Augusta.
O objetivo específico, por sua vez, é levantar as transformações recentes no
eixo da Rua Augusta, entre os anos de 2006 e 2014 (reformas, demolições e
construções), e seu impacto nas paisagens pré-existentes, principalmente do ponto
de vista morfológico.
11
Após uma análise geral do eixo, temos por meta estudar dois trechos nos
quais os novos empreendimentos do mercado imobiliário marcadamente têm
promovido mutações na morfologia urbana e paisagem pré-existentes; são eles o
trecho do Baixo Augusta e da Avenida Cidade Jardim, nas proximidades da Marginal
Pinheiros. Interessa-nos na aproximação desses dois setores analisar os edifícios
produzidos, do ponto de vista de sua linguagem e composição do produto, bem
como sua inserção na paisagem existente, no lote e em relação à rua.
Balanço bibliográfico
O deslocamento das centralidades no vetor sudoeste da cidade de São Paulo,
plano de fundo dessa pesquisa, é objeto de estudo de alguns autores. Elencamos
dois principais, a partir dos quais se desdobra o entendimento do eixo da Rua
Augusta no contexto da cidade.
Frúgoli Junior (2000) estuda especificamente o caso de São Paulo,
compreendendo tal deslocamento do ponto de vista dos deslocamentos dos centros
financeiros, do Centro para a região da Paulista, e em um segundo momento para a
região da Berrini.
Villaça (2001) aborda o tema a partir da tese de que a diferenciação da
ocupação dos territórios urbanos, e o consequente valor de uso que adquirem de
acordo com sua localização, são resultado dos deslocamentos possíveis e
viabilizados pelas classes dominantes; tais deslocamentos se referem às
mercadorias, ao capital, e consequentemente aos consumidores. Nessa relação, na
visão do autor, está o cerne da segregação espacial das cidades. Apesar de seu
estudo ter abrangência nacional, ao analisar outras cidades além de São Paulo, sua
visão será de interesse no entendimento das dinâmicas que consolidaram o eixo da
Rua Augusta ao longo das décadas.
Há também trabalhos elaborados a respeito dos trechos de cidade permeados
pelo eixo - seja sobre os bairros que o eixo cruza, seja sobre alguns dos edifícios
que o margeiam.
Pissardo (2013), por exemplo, estuda especificamente a história da Rua
Augusta, focando no trecho do Centro à Avenida Paulista, tendo por base o acervo
histórico de jornais – é na verdade o único trabalho de caráter histórico que
localizamos especificamente sobre a Rua Augusta. Stinco (2005), por sua vez, relata
com riqueza de detalhes a história do Conjunto Nacional.
12
Metodologia
Quatro métodos se estabelecem na produção da presente pesquisa.
14
1
Eixo Rua Augusta – Avenida Cidade Jardim e a escala urbana
Colégio) Luz (ao sul) e Santa Efigênia (à oeste). A Rua Quinze de Novembro era,
então, a espinha dorsal da cidade.
Segundo o mesmo autor, na década de 1870, dois eram os caminhos para
possível expansão da cidade, a partir do Triângulo Histórico: à leste (além
Tamanduateí) ou à oeste (além Anhangabaú). Em ambos os sentidos teriam de ser
enfrentadas dificuldades: para o leste, era necessário "[...] vencer a ampla e
inundável Várzea do Carmo e ainda cruzar a estrada de ferro." (VILLAÇA, 2001,
p.193), para o oeste, era necessário ultrapassar o vale do córrego do Anhangabaú,
mais estreito que o Tamanduateí a leste, e menos alagável.
Simões Junior (2004) associa a constituição da Companhia Cantareira e
Esgotos, que inicia a construção de um grande reservatório de água na Consolação,
e a inauguração do sistema de esgotos na cidade em 1883 à possibilidade de
crescimento da cidade. Antes arcaico, através de chafarizes, o abastecimento
domiciliar de água passa a ser um sistema moderno, do qual cada vez mais a cidade
pode usufruir e, dada a localização desse reservatório, "[...] a expansão dos novos
arruamentos podia tomar o rumo do espigão da Paulista, próximo à região do
Pacaembu. Esse seria o local escolhido para a implantação do loteamento de
Higienópolis." (SIMÕES JUNIOR, 2004, p. 59).
Figura 2. Os primeiros loteamentos rumo ao Oeste. As marcações cor marrom são do autor
da fonte. Norte aproximado, sem identificação de escala.
Fonte: SIMÕES JUNIOR, 2004, p. 59, com marcação em vermelho da autora.
Nas décadas de 1870 e 1880 os sítios elevados valorizam-se, por sua
salubridade e paisagem. Nessa época instalam-se nas proximidades da Paulista os
primeiros hospitais, e junto vinham as recomendações de clima saudável. "Não sem
razão, o segundo grande loteamento aberto para a aristocracia paulista chamou-se
Higienópolis, e localizava-se precisamente nos contrafortes da futura avenida
Paulista." (VILLACA, 2001, p. 193 e 194).
O cruzamento do Vale do Anhangabaú se dá com a inauguração do Viaduto
do Chá em 1892. São marcos da ultrapassagem do Anhangabaú, e consequente
expansão do Centro Velho rumo ao Centro Novo: a inauguração do Teatro
Municipal, em 1911, a mudança da Mappin Stores da XV de Novembro para a Praça
Ramos de Azevedo, em 1939, e a inauguração da Biblioteca Municipal, também nos
anos 30.1
1
Conforme visto em VILLAÇA (2001, p. 264) e em FRÚGOLI JÚNIOR (2000, P. 50 e 51).
20
A tese do papel determinante do sítio natural cai então por terra, mas
não a do controle do tempo de deslocamento, isto é, de
acessibilidade ao centro. Os casos desses loteamentos são
excepcionalmente importantes para a compreensão da conceituação
de uma estrutura territorial urbana, da inter-relação entre seus
elementos e de como seu processo de produção é comandado pela
classe dominante, tendo em vista manter o controle - em seu
benefício - dos tempos de deslocamentos espaciais. (VILLAÇA,
2001, p. 197).
23
Figura 5. Propriedades da Companhia City em São Paulo, 1912. Norte aproximado, sem
escala identificada.
Fonte: BACELLI, 1982, p. 39, com demarcação em vermelho da autora.
Deve-se atentar, contudo, que nem todos esses terrenos adquiridos foram
projetados como bairros-jardim. Muitos eram adquiridos já loteados com os padrões
da cidade, e revendidos. Um exemplo desse tipo de negócio dentro do eixo em
25
É o início da fase dos 'slogans' ufanistas como 'São Paulo não pode
parar'. [...] Esse clima contagia a todos; o crescimento vertical
assume proporções relevantes, de forma que a semelhança com as
cidades norte-americanas seja realçada: em São Paulo, a construção
não é apenas vertical, mas é também efetuada sobre a antiga
cidade; conforme a feliz expressão de Benedito Lima de Toledo, 'São
Paulo é um palimpsesto. (BACELLI, 1982, p. 23).
Data de 1930 a publicação do Plano de Avenidas, e cabe aqui inserirmos o
eixo em estudo nesse plano, que é "Sem dúvida o mais célebre dos planos
urbanísticos elaborados para São Paulo na primeira metade do século XX [...]"
(SOMEKH & CAMPOS, 2002, p. 56). O Plano importa para a pesquisa na medida
em que decretou o fim do transporte sobre trilhos baseado nas linhas de bondes
elétricos que, como uma continuidade linear dos bondes da Rua Augusta, foi o meio
de transporte base para lançamento e desenvolvimento inicial dos bairros jardim.
Estabelece-se assim o modelo sobre rodas, com destaque para o papel que o
automóvel passará a desempenhar no crescimento da cidade.
O ponto de partida ao Plano de Avenidas é o Perímetro de Irradiação, um
sistema de avenidas radial em torno do Centro Histórico. As vias radiais partiriam do
Perímetro de Irradiação, e destacam-se entre elas na ligação sudoeste, aqui em
estudo, a Avenida Brigadeiro Luiz Antônio (continuação da Avenida Anhangabaú,
iniciada por Pires do Rio, atual Avenida Nove de Julho) a abertura da Avenida Itororó
(atual 23 de Maio) e o alargamento da Rua da Consolação, prolongando-a pela
Avenida Rebouças. As perimetrais formam-se internamente pelas Avenidas Paulista
e Angélica e externamente pelas marginais do Rio Tietê, anteriormente traçadas.
Duas das radiais que conectam o Centro ao quadrante sudoeste, no entanto,
estabelecem uma conexão mais extensa ao cruzar o perímetro de irradiação,
ligando Norte e Sul da cidade através da atual Avenida Prestes Maia. São elas as
atuais Avenidas Nove de Julho e 23 de Maio que formam o sistema Y previsto no
Plano.
O eixo em estudo aparentemente consta no Plano de Avenidas, como um
eixo com obras viárias previstas. É notável que as radiais sejam de essencial
importância para o prosseguimento das centralidades rumo ao Rio Pinheiros.
26
Figura 6. Propaganda: o que é um Shopping Center? Interessante notar que para facilitar
assimilação do shopping Iguatemi, o anúncio vende para o consumidor a ideia do shopping
como um local de "Ruas e avenidas cobertas". Afinal, este era o referencial comercial que o
potencial frequentador deste shopping tinha, já que até então tinha o hábito de comprar na
Rua Augusta.
Fonte: O Estado de São Paulo, 31 de janeiro de 1965, p. 13.
30
2
FIX, Mariana. Parceiros da exclusão – duas histórias da construção de uma "nova cidade" em
São Paulo: Faria Lima e Águas Espraiadas. São Paulo: Boitempo editorial, 2001.
34
Figura 11. Mapa Sara Brasil, 1930. Em vermelho, eixo em estudo. Demarcação por ACFM.
Observa-se ocupação densa no trecho próximo ao centro, e cada vez mais rarefeita no
sentido Rio Pinheiros.
Fonte: Acervo FAU-USP.
É a partir do entendimento do desenvolvimento da cidade no quadrante
sudoeste, apresentado nesse capítulo, que iremos nos debruçar sobre o eixo da Rua
Augusta. O consideraremos uma unidade possível de leitura, analisando-o do ponto
de vista histórico através de marcos específicos de seu território, bem como do
ponto de vista contemporâneo, buscando uma leitura das transformações recentes
que tem ocorrido neste valorizado eixo da cidade.
38
2
Eixo Rua Augusta – Avenida Cidade Jardim e a escala local
Figura 12. Vista aérea, a partir da Avenida Europa, em direção à Marginal Pinheiros. A data
da foto não consta na fonte consultada.
Fonte: Acervo Cia. City.
39
Figura 13. Croquis com setores identificados, incluindo volumetria, morfologia das quadras e
ocupação dos lotes.
Fonte: Croquis ACFM.
41
Setor 1
Identificam-se no setor 1 dois grandes marcos no que tange à sua
constituição histórica e morfológica: o Velódromo e a Praça Roosevelt.
O setor 1 tem seu desenho estabelecido como o conhecemos hoje apenas
em 1930, o que demonstraremos através dos mapas históricos a seguir,
demarcando em vermelho os pontos de interesse para essa pesquisa.
Figura 14. À esquerda, planta de 1890 ("Planta da Capital do Estado de São Paulo e Seus
Arrabaldes").
À direita, planta de 1895 ("Planta da Cidade de São Paulo").
Fonte: PASSOS & EMIDIO, 2009, p. 33 e 35, com marcação nossa em vermelho.
43
Figura 15. À esquerda, planta de 1901 ("Planta da Cidade de São Paulo com as Redes dos
Esgotos").
À direita, planta de 1905 ("Planta Geral da Cidade de São Paulo").
Fonte: PASSOS & EMIDIO, 2009, p. 47 e 50, com marcação nossa em vermelho.
O Velódromo aparece pela primeira vez em mapas em 1901, reaparecendo
no mapa de 1905.
No ano de 1905 a Rua Augusta aparece estendida até a Rua Martinho Prado,
o que pode ser lido como um indicativo da importância que o Velódromo adquiria
como atividade de lazer em São Paulo. Também em 1905 observa-se a
representação da Rua Frei Caneca, terminando na então denominada Rua L.
Augusta – pela leitura de mapas atuais, entendemos hoje ser a Rua Marquês de
Paranaguá. Está configurado, portanto, o terreno do Colégio Des Oiseaux,
44
Figura 17. À esquerda, planta de 1929 ("Planta da Cidade de São Paulo – Folha I").
À direita, planta de 1930 ("Mapa Topográfico do Município de São Paulo, Folha 51").
Fonte: PASSOS & EMIDIO, 2009, p. 111 e 119, com marcação nossa em vermelho.
Em 1929 observamos um arruamento distinto da malha ao redor – a Rua
Avanhandava aparece pela primeira vez traçada, de certo modo seguindo a
topografia desenhada nas margens do Ribeirão Saracura. No traçado propriamente
dito do Ribeirão, configura-se a Avenida Anhangabaú, futura Avenida Nove de Julho.
Também aparece traçada a Rua Álvaro de Carvalho, hoje uma bifurcação, por assim
dizer, do eixo da Rua Augusta.
É em 1930 (mapa conhecido por Sara Brasil, a empresa que o executou,
sendo o primeiro levantamento cadastral realizado da cidade de São Paulo) que é
mapeada a Rua Martins Fontes, consolidando o trecho inicial dos arruamentos do
eixo em estudo, como o conhecemos hoje.
É interessante destacar a ligação constatada na pesquisa entre o Velódromo
e o Club Athletico Paulistano (CAP); suas histórias se misturam, e reforçam o
deslocamento das centralidades da cidade ao longo do eixo da Rua Augusta. O
Velódromo, concebido inicialmente para o ciclismo, na realidade, foi a primeira sede
do CAP. Retomaremos brevemente à história dessas instituições, levando em conta
a ênfase da pesquisa em compreender a transformação dos espaços no eixo em
estudo.
46
3
Para referências a esse projeto, ver
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/desenvolvimento_urbano/sp_urbanismo/arq
uivos/ouc/ouc_apresentacao_78_roceouc.pdf
49
longos anos lutaram pela retomada da vida urbana na Praça, através da apropriação
pela arte. De fato é discutível se a reforma da Praça com a demolição do
emblemático pentágono de fato contribuiu para sua efetiva melhora, ou se o publico
que a frequenta é o mesmo que sempre a frequentou.
Figura 20. Folder em comemoração aos 40 anos da Praça Roosevelt, parte de exposição
realizada no local em 2013.
Fonte: ACFM, 24.03.2013.
50
Setores 2 e 3
A Rua Augusta organiza-se historicamente em dois grandes trechos, o lado
Centro e o lado Jardins, tendo por divisa a Avenida Paulista. Faz sentido nesse
momento de reconhecimento histórico do eixo na pesquisa agrupar os setores 2 e 3,
e na sequencia os setores 4 e 5.
A história da Rua Augusta, como vimos parcialmente no setor 1, remonta ao
ano de 1895, quando aparece pela primeira vez em mapas. A Augusta toma forma a
partir do arruamento de chácaras, conforme descreve em detalhes Pissardo (2013).
Muitas das ruas traçadas no mapa abaixo continuam a existir nos dias de hoje e são
facilmente identificáveis, como a Avenida Paulista e a Rua Bela Cintra, lado centro.
Observamos no mapa abaixo que, mesmo em seu período embrionário, a Rua
Augusta já aparece em projeção para além da Avenida Paulista.
Figura 23. Chácara do Capão. Em vermelho a Rua Augusta, demarcação por ACFM. Data
não identificada na fonte.
Fonte: PISSARDO, 2013, p. 27, com demarcação da autora.
Nesse momento embrionário da Rua Augusta conforma-se um daqueles que
elegemos como um marco do setor 2, o terreno do antigo Colégio Des Oiseaux - o
52
Figura 24. Antiga estação de bondes elétricos (1921), atual subestação AES Eletropaulo
(2013, foto do autor).
Fonte: PISSARDO, 2013, p. 38 e 39.
A Rua Augusta, desse modo, torna-se cada vez mais referência urbana do
ponto de vista comercial, não apenas localmente, mas para toda cidade. Em um
intervalo de menos de 40 anos de seus primeiros traçados consolida-se como polo
comercial na cidade.
As décadas entre 1940 e 1960 representam para a Rua Augusta seu ápice, o
ponto principal de comércio de luxo na cidade. Há citações a grandes
congestionamentos, e diversas são as soluções propostas – de proibição de
estacionamento a modificações no trânsito. É dessa época também a construção do
de muitos dos edifícios de uso misto que vemos hoje no local.
Este tipo de intervenção pode ser até mais danosa que uma
demolição. Enquanto a demolição remove a obra por completo
deixando apenas a saudade, a descaracterização influi diretamente
na obra assinada pelo arquiteto. É como se rabiscassem um
“bigodão” na Mona Lisa ou se construíssemos um “puxadinho” no
Museu do Ipiranga.
Na década de 1990 a Rua Augusta começa novamente a ter atenção da
mídia, por ter se transformado em um polo de cultura alternativa, quando por
exemplo parte dessa rua passa a ser denominada Baixo Augusta – um primeiro
momento de renovação.
O que vemos atualmente é um segundo momento de renovação da Rua
Augusta: diversos imóveis têm sido demolidos, e lotes unidos, para a incorporação
de novos edifícios. O edifício Nicolau Schiesser é um desses edifícios, demolido
recentemente, junto com outros edifícios anônimos da Augusta, para a incorporação
de novos empreendimentos.
É daquele primeiro momento de renovação aquele que reconhecemos como
marco do Setor 3, o Cinema Itaú. Ele se estabelece como parte de outras
55
Figura 25. Cinema Itaú Unibanco, antigo Cinema Majestic. Atual inserção na Rua Augusta.
Fonte: ACFM, nov/2013.
Frisamos que novas intervenções do mercado imobiliário, principalmente
voltado a edifícios residenciais, tem descaracterizado a região, do ponto de vista de
seu contato com o térreo da cidade, particularmente no trecho Centro da Augusta.
56
Setores 4 e 5
O Conjunto Nacional, o que consideramos como marco da consolidação do
setor 4, começa a ser construído em 1955, e por sua localização na esquina da
Avenida Paulista com a Alameda Santos, é um forte indicativo do direcionamento da
cidade rumo ao sudoeste.
Para a compreensão da importância histórica que culmina com o tombamento
do Conjunto Nacional pelo Condephaat em 2005, e da importância do objeto
arquitetônico em si, particularmente em seu pavimento térreo, que guarda relação
direta com o tipo de ocupação de galerias que é característico da Rua Augusta, faz-
se necessário traçar um breve histórico4.
O início da história do Conjunto Nacional remonta à história do sítio no qual se
insere. Stinco (2005) relata que Horácio Sabino, advogado e então proprietário de
diversas terras na cidade, em 1903 construiu sua casa no terreno que hoje é
ocupado pelo Conjunto Nacional. A casa, então denominada Vila Horácio Sabino,
havia sido projetada por Victor Dubugras.
José Tjurs, na época já proprietário da maior rede hoteleira da cidade, adquire
a Vila Horácio Sabino em 1952, localizada em um lote de 14.600m². No ano seguinte
ela é demolida, sob o argumento da construção de um grande empreendimento,
então chamado Hotel Nacional.
4
Para estudo histórico detalhado do Conjunto Nacional, ver STINCO, Claudia Virgínia. David
Libeskind e o Conjunto Nacional. Caminhos do arquiteto e a síntese do construir cidade. Dissertação
de Mestrado, São Paulo, FAU-Mackenzie, 2005.
57
Figura 26. Vila Horácio Sabino, casa que ocupava o terreno hoje ocupado pelo Conjunto
Nacional.
Fonte: IACOCCA, 1998, p. 27.
Logo no início do desenvolvimento do projeto, em 1952, Gregori Warchavchic
e Salvador Candia são chamados para elaborar o projeto e até 1954 estão
envolvidos em sucessivas apresentações à Prefeitura, tendo sido a terceira versão
aprovada pelo órgão responsável, porém cassada pelo então prefeito Janio
Quadros, sob o argumento de não assegurar as características urbanas
predominantes na região.
Durante esse processo, Libeskind é informado da necessidade de um projeto
para um futuro empreendimento na Avenida Paulista e, ao se apresentar à Tjurs, é
convidado a elaborar um estudo para o referido projeto, que a princípio seria um
centro de exposições para a indústria, com prazo de uma semana para entrega.
Tjurs aprova o primeiro estudo, e Libeskind segue o projeto, elaborando o programa
de necessidades. O futuro Conjunto Nacional, ainda sem nome à época, manterá o
partido desse estudo inicial.
Libeskind segue desenvolvendo o projeto e em julho de 1955 entrega o
anteprojeto, que é aprovado pelo cliente. Em 7 de agosto de 1955 o projeto é
protocolado para aprovação na Prefeitura e este, portanto, é considerado o projeto
original do edifício.
Segundo legislação vigente à época, o gabarito máximo permitido a edifícios
era de 80 metros de altura, para ruas com largura superior a 18 metros. Desse
58
Figura 28. Referência à Vila América, como propriedade de Cia City (observar carimbo do
desenho). Norte aproximado, sem escala identificada.
No Memorial do Bairro indica-se que a propriedade dos lotes é da Companhia City.
Ao longo do Memorial observa-se que os primeiros lotes foram comprados por Horacio
Sabino de proprietários diversos, sendo o primeiro adquirido em 1898.
Fonte: Acervo Cia. City. Mapa de 1925, com marcação da autora em vermelho.
62
Figura 29. Zoom do mapa acima, mostrando o nível de detalhe que contém. Rua Augusta,
lotes com nomes dos proprietários no ano de 1925. A paralela acima é a Rua Haddock
Lobo. As transversais à esquerda Alameda Franca, e à direita a Alameda Itu. Norte
aproximado, sem escala identificada.
Fonte: Acervo Cia. City. Mapa de 1925, com marcação da autora em vermelho.
Setor 6
Objetivando o entendimento da transformação territorial nos bairros-jardim ao
longo do tempo, são apresentados a seguir alguns dos mapas levantados por
Passos & Emidio (2009), à semelhança com o que elaboramos anteriormente para o
início da Rua Augusta. Pela singularidade de seu traçado, consideramos o desenho
urbano dos bairros jardim um marco do setor 6.
O traçado dos bairros-jardim aparece pela primeira vez registrado nos mapas
da cidade em 1922, com o Jardim América, e em 1924, com o Jardim Europa.
Vejamos em maiores detalhes, através dos mapas, como se deu a consolidação
desses bairros.
63
Figura 31. À esquerda, planta de 1924 ("Planta da Cidade de São Paulo mostrando todos os
arrabaldes e terrenos arruados").
À direita, planta de 1926 ("Projeto preliminar para iluminação pública da cidade de São
Paulo").
Fonte: PASSOS & EMÍDIO, 2009, p. 85 e 102, com marcação nossa em vermelho.
Em um intervalo de apenas dois anos, no mapa de 1924 constata-se a
presença do traçado do Jardim Europa. Em seu entorno, exceção a bairros
anteriormente existentes, ainda não há ocupação.
Em outro intervalo de dois anos, em 1926 observa-se que o entorno do
Jardim Europa começa a ser ocupado. Em uma observação atenta, é possível notar
a quadra na qual hoje se encontra o Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), um outro
marco referencial desse setor 6 que falaremos a seguir, e a quadra à sua frente
demarcada de modo diferenciado do restante; não se encontrou registro no mapa do
significado desta demarcação.
Destacamos um fato relevante neste mapa de 1926 para o setor 7, o próximo
e último a ser estudado: pela primeira vez o eixo da Avenida Europa aparece
traçado após o Jardim Europa.
65
Figura 33. Trecho bairros-jardim. À esquerda acima, planta de 1930 (Mapa Topográfico do
Município de São Paulo – Sara Brasil).
À direita acima, planta de 1954 (Vasp).
Ao centro, planta de 1974 (Gegran).
Observar que ao longo das décadas de 1930 a 1970, o traçado se consolida conectando-se
à trama ao seu redor.
Fonte: acervo FAU-USP, com marcação nossa em vermelho.
Nos três mapas acima se observa a consolidação dos bairros-jardim, em dois
aspectos.
Do ponto de vista do seu traçado, este se consolida e se conecta com a trama
urbana a seu redor.
Do ponto de vista das edificações, em 1930 as construções concentravam-se
no Jardim América, em 1954 passam a ser registradas com intensidade no Jardim
Europa, e por fim em 1974, ambos os bairros apresentam-se plenamente ocupados.
67
Esse projeto de Barry Parker traz a marca da novidade e traduz uma ideia
muito clara das intenções do arquiteto e dos loteadores. O caráter de
inovação dava-se pelas características do conjunto. Embora existisse um
princípio ordenador com aspectos tradicionais [...] o bairro diferenciava-se
do urbanismo clássico de ruas rigorosamente paralelas e perpendiculares.
As vias longas e curvas – entremeadas por outras curtas e locais, por
pracinhas e canteiros nos cruzamentos, pelo formato irregular dos lotes e,
principalmente, pelos jardins comuns nos miolos dos quarteirões, muito
diferentes de quintais escondidos – criaram uma paisagem inusitada que
foi recebida com agrado.
Os terrenos começam a ser efetivamente comercializados em 1919; o último
registro de aprovação pela City de residência em terreno não ocupado anteriormente
consta de 1958.
Nesse longo período, muitas transformações se passaram pelo bairro,
descaracterizando parcialmente o projeto original de Parker. A eliminação dos
jardins nos miolos de quarteirões é um exemplo disso: por ficarem em uma situação
entre o privado e o público, não foram incorporados pelos moradores do entorno,
terminando abandonados, e a City decidiu por comercializá-los.
68
Figura 34. Fotos à época da construção da nova sede do CAP, sem data. Observar ao fundo
o futuro Jardim América desocupado.
Fonte: DIMAND, 1970, p. 39.
Relata-se, além das áreas descritas acima, uma área de 13 mil metros
quadrados que levaria o clube até a Rua Argentina, mas que dependeria da
eliminação da Rua das Guianas, então localizada entre o Clube e o referido lote.
Após levantamento recursos entre os sócios, possíveis de serem resgatados em dez
anos (o que nem todos os sócios fizeram, preferindo manter a doação ao Clube) e
negociação com a prefeitura, o Clube adquiriu essa área. Delimita-se o Clube como
o vemos hoje: "Num sistema de troca, o clube fechou seu lote, e a rua das Guianas
desapareceu, para reaparecer como uma pracinha no Jardim América." (BRANDÃO,
2000, p. 31).
70
Figura 35. Mapa Jardim América, mostrando a Rua das Guianas entre a Rua Augusta e a
Rua Argentina, ainda não incorporada ao terreno do CAP. Demarcação da autora. Norte
aproximado, sem escala identificada.
Fonte: Acervo Cia. City, com marcações em vermelho da autora.
Figura 36. Mapa Jardim América, observar que em entre os anos de 1921/1925 o CAP
incorpora em seu terreno a área até a Rua Argentina, seu limite atual, demarcado pela
autora em vermelho. Norte aproximado, sem escala identificada.
Fonte: Acervo Cia. City, com marcações em vermelho da autora.
71
Figura 38. Sede Social do Clube, projeto de Gregori Warchavchik, foto sem data.
Fonte: BRANDÃO, 2000, p. 78.
5
Para maior profundidade neste tema, ver: Se é Espaço, deveria ser público. In: MENDES, Paulo
Mendes da; VILLAC, Maria Isabel. América, cidade e natureza. São Paulo: Estação Liberdade,
2012, p. 88-92.
75
Dizer que uma coisa aparece, por melhor que se possa fazer, nem
sempre é fazê-la aparecer como algo exuberante em si mesmo,
como quem enche um prédio de colunas jônicas e coisas do tipo [...].
Talvez o melhor fosse contrapor com uma certa limpidez ou, melhor,
fazer ver com uma certa limpidez o que estava por ali. A beleza do
eixo da Avenida! [...] Ora, se fosse conseguida uma linha visível
muito extraordinária, muito visível, perpendicular à Avenida Europa,
esta seria valorizada. (ROCHA in PIÑON, 2002, p. 30).
A praça que se forma no nível da Avenida Europa é seca; não há maciços de
jardins. Isto foi uma decisão consciente: a laje de piso da praça, é a cobertura do
que está no subsolo, então se optou por implantar jardins apenas sobre solo natural,
liberando e acentuando a importância de todo o resto para a exposição de
esculturas. Desse modo, em um bairro histórico e consolidado da cidade, implanta-
se algo inovador que ao mesmo tempo reverencia o existente.
Figura 40. Vista do MuBE a partir de seu acesso na Rua Alemanha. Ao fundo, Avenida
Europa.
Fonte: PIÑON, 2002, p. 103.
76
Setor 7
A consolidação do setor 7 foi facilitada pela retificação do Rio Pinheiros, o que
fica claro nos mapas a seguir.
Figura 41. Trecho Avenida Cidade Jardim. À esquerda acima, planta de 1930 (Mapa
Topográfico do Município de São Paulo – Sara Brasil).
À direita acima, planta de 1954 (Vasp).
Ao centro, planta de 1974 (Gegran).
Observar que é apenas entre as décadas de 1950 a 1970 que o traçado das ruas se
consolida, bem como a ocupação do setor 7.
Fonte: acervo FAU-USP, com marcação nossa em vermelho.
Na década de 1930 podemos observar o Rio Pinheiros não retificado, e nas
bordas da Avenida cidade Jardim pouquíssimas ocupações, possivelmente
chácaras. Nota-se um córrego, sem nome localizado neste mapa, nome este
também não encontrado nas demais folhas que o compõe. Já está presente o Spot
Club Germania, futuro Esporte Clube Pinheiros.
77
Figura 42. Vista do acesso do Parque do Povo pela Avenida Cidade Jardim, a partir da
passarela que a cruza. Notar intensa verticalização nos arreadores do Parque.
Fonte: ACFM, nov/2013.
Figura 43. Foto aérea tomada a partir do Jardim Guedala, à época de seu loteamento. Nela
é possível visualizar praticamente todo o eixo em estudo – Avenida Cidade jardim, passando
pelos bairros-jardim, e visualizando-se a verticalização da Avenida Paulista. O ano da foto
não consta nos arquivos originais, porém, tudo leva a crer que esta foto é contemporânea do
levantamento Vasp, de 1954, pois apesar do Rio Pinheiros já estar retificado, as margens da
Avenida Cidade Jardim ainda estão bastante desocupadas.
Fonte: Acervo Cia. City, com marcações em vermelho da autora.
79
O eixo da Rua Augusta será abordado nesse item em seu tempo presente,
considerando as transformações recentes que ocorreram entre os anos de 2006 e
2014.
Os mapas apresentados a seguir foram cuidadosamente elaborados a partir
de plantas e imagens existentes, com ajuda de levantamento fotográfico proveniente
de diversas visitas ao local.
O método que se estabelece é o seguinte: tendo por base o Mapa Digital da
Cidade (MDC) datado de 2006, disponível no portal da Prefeitura, o comparamos
com o Google Street View 2011, igualmente de acesso público, e com o que vemos
no local hoje, com visitas ocorridas no 2° semestre de 2013 e 1° semestre de 2014.
O objetivo é observar o que foi demolido, o que foi construído e o que foi
reformado ao longo desses anos. Temos aqui, portanto, um panorama de
transformações bastante atualizado, apesar de inexoravelmente em contínua
mutação, que compreende os períodos de 2006-2011 e 2011-2014. Temos,
portanto, uma espécie de radiografia atualizada, por assim dizer, da situação
construtiva atual do eixo, na qual se notam quais edifícios se mantiveram intactos
desde 2006, quais edifícios foram reformados ou demolidos, em qual dos dois
períodos observados.
A partir dessa base iconográfica, levantamos os usos que atualmente abrigam
as construções que tem acesso ou fazem divisa com as Ruas Martins Fontes,
Augusta, Colômbia e as Avenidas Europa e Cidade Jardim. Os usos foram
classificados em:
- uso residencial (exclusivo)
- uso comercial e de serviços (exclusivo)
- uso misto (térreo ou térreo e sobreloja comerciais + torre residencial)
- uso institucional
Dessa forma, temos como produto dois grandes mapas:
- Transformações 2006-2014
- Usos 2014
O zoneamento vigente (Plano Diretor Estratégico e Lei de Uso e Ocupação do
Solo, Lei 13.885/ 04) foi sintetizado em uma planta e uma tabela com os parâmetros
das zonas indicadas na referida planta.
80
Figura 44. Mapa do eixo em estudo, indicando o zoneamento vigente (PDE 2002 e LUOS
2004) que organiza a ocupação dos territórios que o margeia. Em roxo, divisão de setores
proposta para análise. Marcações em roxo e vermelho da autora.
Fonte:
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/legislacao/plano
s_regionais/index.php?p=1897 e
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/legislacao/plano
s_regionais/index.php?p=1891.
82
2.3.1 Setor 1 - Rua Martins Fontes e Rua Augusta, da Avenida São Luis à Rua
Caio Prado
Figura 48. Vista a partir do cruzamento da Rua Augusta com a Caio Prado, sentido Centro.
À direita, tapume de obras do Ca'd'Oro.
Fonte: ACFM, abr/2014.
Morfologia
O setor 1, que abrange a Rua Martins Fontes e um pequeno trecho da Rua
Augusta, inicia-se na Avenida São Luis, terminando na rua Caio Prado. Tal
delimitação territorial justifica-se pelos registros históricos em mapas, que retratam
pela primeira vez em 1895 a Rua Augusta. Neste ano, a Rua Augusta inicia-se na
Caio Prado em direção à atual Avenida Paulista, e apenas 10 anos depois, também
segundo registros em mapas, ela se prolonga em direção ao Centro, até a Rua
Martinho Prado.
De volumetria alta, este setor caracteriza-se por edifícios de mais de dez
pavimentos, sem recuos laterais ou frontais. As quadras tem forma não ortogonal.
Como vimos em 2.1, a morfologia deste setor foi em grande parte definida
após a demolição do Velódromo, levando o desenho das quadras a ocupar os
espaços remanescentes. Importante destacar que a topografia deste setor,
especialmente nos trechos próximos à Rua Avanhandava – nos mapas históricos
nota-se o Ribeirão Saracura, no local da futura Av. Nove de Julho - também contribui
para uma geometria irregular, acomodando-se ao desnível do terreno.
Transformações recentes
Desde 2006 muitas transformações tem ocorrido no setor. Apenas duas foram
as reformas observadas, a de maior envergadura deu-se no Hotel Braston. Por outro
lado, muitas foram as demolições, em maior quantidade entre os anos de 2011 e
2014.
O Hotel Ca'd'Oro foi demolido para dar lugar a um empreendimento de uso
misto, com hotel, salas comerciais e unidades residenciais compactas – tipo de
unidade que é típica na maioria esmagadora de lançamentos na Augusta, até a
Avenida Paulista. O empreendimento é da Brookfield Incorporações, e está em fase
de obras. As construções de toda a quadra foram sendo paulatinamente demolidas,
de modo que o empreendimento terá frente para três ruas – Augusta, Avanhandava
e Caio Prado. Entre as demolições, estão casas antigas, edifícios altos e uma EMEI.
Apenas duas construções permanecem na quadra.
A Praça Roosevelt também foi parcialmente demolida nesse intervalo de
tempo, e o novo projeto inaugurado, conforme vimos no capítulo 2.
Os novos empreendimentos se propõem de fato como algo "novo" em meio
ao "velho": linguagem arquitetônica e programa estão aos moldes de intervenções
realizadas em áreas mais novas da cidade, como é o caso do outro extremo do eixo,
87
2.3.2 Setor 2 - Rua Augusta, da Rua Caio Prado à Rua Matias Aires
Figura 50. Vista a partir da Rua Augusta, olhando para seu cruzamento com a Rua Dona
Antônia de Queirós, sentido Centro.
Fonte: ACFM, nov/2013.
Morfologia
O setor 2 abrange a Rua Augusta, iniciando-se na Rua Caio Prado junto ao
doravante denominado Parque Augusta, terminando na Rua Matias Aires.
Com alguns edifícios verticais de até 10 andares, este setor tem volumetria
mais variada que o setor 1. Casas de dois andares, ou térreas, misturam-se a esses
edifícios mais altos. São comuns construções sem recuo lateral e frontal.
A forma da quadra urbana torna-se um pouco mais regular que no setor 1,
mas guarda a mesma característica de longos quarteirões.
Transformações recentes
O setor 2 possivelmente é o setor que sofreu maiores alterações em anos
recentes. Entre 2006 e 2011 algumas demolições ocorreram mas de fato foi entre os
anos de 2011 e 2014 que se acentuaram. Uma explicação plausível para tal escala
de alterações é que este setor tenha sido um dos trechos mais degradados da Rua
Augusta, o que ainda se observa pela presença de casas noturnas voltadas à
prostituição, e até mesmo pelo mau estado de conservação de boa parte das
construções.
Localizava-se nesse setor o Edifício Nicolau Schiesser, de Rino Levi,
demolido para incorporação de novo edifício residencial.
Há exceções à este cenário em parte da quadra que se volta ao (possível,
como vimos no capítulo 2) Parque Augusta. Parte das edificações pré-existentes (e
por sua arquitetura, bastante antigas), desse trecho foram reformadas e estão em
bom estado de conservação, em pleno uso.
Novos edifícios se inserem de modo bastante agressivo em relação à
morfologia de ocupação do lote, horizontal e verticalmente: torres de mais de 15
andares, com recuos laterais e frontais adensam a ocupação. Um aspecto de
destaque em muitos dos novos empreendimentos, é a realização do acesso pelas
ruas transversais ou mesmo por paralelas à Rua Augusta.
É o caso do empreendimento Link (Habitacon Construtora e Incorporadora),
em obras em fase inicial, que com apartamentos studio de um ou dois dormitórios e
mais de 100 unidades, terá seu acesso de pedestres e automóveis pela Rua Dona
Antônia de Queirós, transversal à Augusta. Ou mesmo pelo empreendimento
residencial Bela Cintra (Even) já entregue e habitado, cujo acesso se dá, como o
nome do empreendimento diz, exclusivamente pela Rua Bela Cintra.
90
Figura 52. Vista a partir da Rua Augusta, esquina com Rua Luís Coelho, sentido Avenida
Paulista.
Fonte: ACFM, nov/2013.
Morfologia
O setor 3 abrange a Rua Augusta, iniciando-se na Rua Matias Aires e
terminando na Avenida Paulista. Tal divisão se dá em relação ao setor 2 em função
da presença da primeira galeria comercial identificada no eixo, sentido Centro –
Marginal Pinheiros, a Galeria Ouro Velho. Definimos a Avenida Paulista como
divisora para o setor 4 em função das diferentes dinâmicas comerciais históricas que
ocorrem de um lado e de outro da Paulista. O setor 3 relaciona-se historicamente
com o lado Centro, enquanto o setor 4 com o lado Jardins.
O desenho característico dos lotes é igual ao setor 2, sem recuos laterais ou
frontais, porém, o setor 3 tem verticalização mais intensa, com edifícios que passam
dos 25 pavimentos nas proximidades com a Paulista. Nas proximidades com a
Paulista também é cada vez mais comum a presença da torre recuada com
embasamento, este sim no alinhamento da rua.
As quadras começam a apresentar geometria mais regular, e dimensões mais
reduzidas em relação aos setores 1 e 2.
Transformações recentes
Poucas foram as transformações pelas quais este setor passou nos últimos
anos, ao longo da pesquisa identificamos poucas reformas, realizadas apenas entre
os anos de 2011 e 2014, e um novo edifício. Não ocorreram demolições nesse setor.
Uma das reformas ocorreu na Galeria Ouro Velho, de pequeno porte. Outra
reforma ocorreu no antigo Hotel Ceasar Park São Paulo, que inicialmente iria
transformá-lo em edifício residencial; apesar de não haver nada na fachada que o
identifique, Pissardo (2013, p. 188) descreve que esse projeto, porém, não foi
concretizado e o antigo hotel transformou-se em uma faculdade. O único edifício
novo encontra-se bem próximo à Paulista; no mapa MDC 2006 constava como um
terreno vazio, e hoje no local há um edifício comercial.
Uma reforma recente de bastante importância ao cenário cultural da Rua
Augusta é a do atual Cinema Itaú, mas ela foi anterior ao ano de 2006 e por
questões metodológicas de abrangência temporal não foi incluída no mapa que
retrata as transformações recentes.
Zoneamento e usos atuais
O zoneamento do setor 3 é o mesmo que incide nos setores 1 e 2 (ZCP-b/05),
correspondendo a coeficiente de aproveitamento básico 2 e máximo 4, com gabarito
93
Figura 54. Vista a partir da Rua Augusta, esquina com Alameda Jaú, sentido Avenida
Paulista.
Fonte: ACFM, nov/2013.
Morfologia
O setor 4 compreende a Rua Augusta, entre a Avenida Paulsita e a Alameda
Tietê. As quadras caracterizam-se por terem forma bastante reular, seguindo a
malha característica dos bairros do entorno imediato. Os lotes tem dimensões
preponderantemente retangulares, de frente estreita em relação à sua profundidade,
porém não cruzando a quadra para as ruas adjacentes. Há algumas exceções, a
mais significativa delas sendo o Conjunto Nacional, a única que efetivamente tira
proveito de sua condição de frentes para diversas ruas.
Sem recuos frontais ou laterais, a volumetria do setor caracteriza-se por ser
mais alta nas quadras próximas à Paulista, paulatinamente diminuindo em direção
aos bairros-jardim, quando a paisagem se transforma e predominam construções de
térreo mais dois andares, pontuadas com edifícios de cerca de dez andares.
Há dois momentos de rompimento do alinhamento das construções com a
rua. Um deles refere-se à uma casa antiga, acessada por estreitos corredores a
partir da Rua Augusta, entre as Alamedas Santos e Jau. Aparentemente bastante
antiga, na planta leem-se duas edículas das construções à frente, no entanto, na
realidade configuram apenas uma casa. Uma hipótese, não confirmada, é que essa
casa, hoje dividida, tenha sido construida em um momento anterior às construções
na frente.
O outro momento de rompimento do alinhamento frontal refere-se uma vila de
uso misto, entre as Alamedas Franca e Tietê.
Transformações recentes
Observamos na pesquisa apenas um edifício novo, que será de uso
comercial, em fase de obras, entre a Alameda Santos e a Alameda Jaú. Mais
constantes são as reformas, que se distribuem uniformemente entre os períodos
estudados (2006-2011 e 2011-2014).
Algumas demolições foram observadas, mais concentradas entre os anos de
2006 e 2011, e a que mais chama a atenção é a efetuada entre as Alameda Franca
e Tietê, pois o terreno encontra-se sem qualquer uso já há alguns meses; os demais
locais que contaram com demolições hoje são estacionamentos.
Zoneamento e usos atuais
Diferentemente dos setores 1, 2 e 3, o setor 4 é enquadrado em outras
categorias: ZM-3b/16 e ZCL-b. A Zona Mista abrange as quadras do eixo e diversas
em seu entorno. A Zona de Centralidade Linear abrange o eixo em si, iniciando-se
96
Figura 56. Vista da Rua Augusta, entre as Alameda Lorena e Rua Oscar Freire, sentido
bairros-jardim.
Fonte: ACFM, set/2013.
Morfologia
O setor 5 é muito semelhante ao setor 4, distinguindo-se apenas pela
influência que o comércio de luxo da Rua Oscar Freire exerce sobre os pontos
comerciais a partir da Alameda Tietê. Muitas lojas internacionais, ou que facilmetne
se encontram também em shoppings centers, localizam-se no setor 5.
O desenho de quadra é identica à do setor 4 – em quadrícula regular – exceto
na última quadra, entre as Ruas Oscar Freire e Estados Unidos, quando a quadra
fica um pouco mais extensa.
A morfologia dos lotes também se assemelha muito ao setor 4, havendo do
mesmo modo alguns lotes com edifícios que tem o comprimento total da quadra. Um
deles é o Shopping Galeria Vitrine Augusta, entre as Alamedas Tietê e Lorena,
tirando proveito dessa morfologia de lotes ao conectar as Ruas Augusta e Haddock
Lobo. Outro é o Condomínio Galeria Augusta, entre as Ruas Oscar Freire e Estados
Unidos, que liga pelo térreo as Ruas Augusta e Barão de Capanema. O outro lote
existente nessa condição, entre as mesmas ruas acima, refere-se a um edifício
residencial e não tira proveito de sua morfologia de modo público, como conexão
entre ruas paralelas.
A volumetria também acompanha o setor 4: paisagem formada por
edificações de dois ou três andares, pontuada por edifícios de cerca de dez
pavimentos.
Transformações recentes
Obsevamos na pesquisa grande quantidade de reformas, e pouquissimas
demolições e novas construções. A quantidade de reformas é, na realidade, o que
distingue o setor 4 do setor 5 – neste, o número de construções reformadas é muito
superior.
As reformas distribuiram-se de modo equilibrado entre os períodos
pesquisados (2006-2011 e 2011-2014). A partir das fotos observadas, as lojas
procuraram atualizar-se esteticamente, o que pode nos levar a entender tais
reformas como uma busca em estarem em sintonia com o comércio de luxo, sempre
moderno e atualizado, da Rua Oscar Freire.
As poucas demolições foram insignificantes para a transformação da
paisagem construida, e delas resultou apenas uma edificação nova, entre as Ruas
Oscar Freire e Estados Unidos. Na realidade, pelo que pudemos observar pelos
99
2.3.6 Setor 6 – Rua Colômbia e Avenida Europa, da Rua Estados Unidos à Rua
Itália
Morfologia
O setor 6 correponde ao trecho do eixo que cruza os bairros Jardim América e
Jardim Europa, respectivamente através da Rua Colômbia e Avenida Europa.
As quadras do setor 6 mudam completamente de forma, quando comparadas
com os setores anteriores. De geometria diversificada, são fruto dos traçados
sinuosos estabelecidos para o bairro pela Cia City.
Ora longas, ora mais curtas, quadradas ou triangulares, a diversidade
morfológica das quadras se reflete também nos lotes que nelas se inserem. Há
quadras de lotes alongados, de frente estreita, e também aqueles que cruzam as
quadras em direção às ruas transversais. Os lotes possuem dimensões bastante
diversificadas, e a dimensão das construções acompanham essa diversidade.
Observamos no eixo a união de lotes para configuração de lotes de maior
porte, fato este recorrente em ruas dos bairros Jardim América e Europa. No bairro,
contudo, tal união de lotes objetiva a construção de enormes mansões de alto
padrão, enquanto que no eixo em pesquisa o objetivo é apenas o aumento das
sedes de uso comercial.
A volumetria é baixa, atingindo no máximo 10m de altura, o que está na
origem do desenho urbano dos bairros, e é resguardado atualmente pela legislação.
Há recuos entre as edificações.
Transformações recentes
A transformação recente do setor 6 caracteriza-se por grande número de
reformas, concentradas maciçamente entre os anos de 2011 e 2014. Percebe-se
uma preocupação constante dos pontos comerciais (preponderantemente
showwrooms de automóveis de alto padrão) em manterem-se atualizados.
Há também novas construções, geradas a partir da demolição de edificaçãoes
pré-existentes sendo dois deles a partir da união de lotes (um entre as Ruas Áustria
e Inglaterra, e outro na esquina da Rua Costa Rica). As demolições concentram-se
entre os anos de 2006 e 2011, porém as novas edificações concentram-se entre os
anos de 2011 e 2014. A transição dos períodos pesquisados, protanto, foi uma
época de muitas obras no eixo, nesse setor.
Pelas fotos utilizadas ao longo da pesquisa, pudemos notar que é muito
comum a mesma marca trocar o ponto comercial, permanecendo na mesma via.
Zoneamento e usos atuais
Diversas são as legislações que organizam a ocupação desse setor 6.
102
Figura 60. Vista da Avenida Cidade Jardim, entre as Ruas Dr. Mário Ferraz e Franz
Schubert. A Marginal Pinheiros está à esquerda.
Fonte: ACFM, jun/2014.
Morfologia
A partir da Rua Russia, ou Praça do Vaticano, a ocupação muda
significamente em relação aos bairros Jardim, particularmente do ponto de vista dos
usos, aproximando-se dos usos recorrentes na Avenida Faria Lima. Esse é o motivo
que nos leva a defini-lo como o início do setor 7, último do eixo em estudo.
As quadras apresentam forma irregular, e quadras longas e curtas se
misturam. Os lotes são preponderantemente longilíneos, com frentes pequenas em
relação à suas profundidades.
A volumetria é bastante verticalizada, talvez a de maior envergadura de todo
o eixo em estudo, com diversos edifícios com mais de 20 pavimentos.
A maioria das edificações conta com recuo frontal, mas nem sempre com o
lateral: as mais baixas de modo geral não tem recuo lateral, as mais altas contam
com esse afastamento.
Transformações recentes
Muitas demolições e poucas reformas caracterizam o setor 7.
Constam reformas nos dois períodos analisados, no entanto, elas se
concentram entre os anos de 2011 e 2014.
As demolições também ocorreram nos dois períodos analisados mas, por
outro lado, concentraram-se entre os anos de 2006 e 2011. A maior parte dos
edifícios que surgiram nesse setor também foram construídos no período entre 2006
e 2011; constam dois lançamentos entre 2011 e 2014, sendo que um deles está no
início das obras. Os novos edifícios caracterizam-se por serem de alto padrão.
Zoneamento e usos atuais
Diversas são as legislações que regem a ocupação e crescimento do setor 7.
O setor 7 nas proximidades da Rua Rússia encontra-se em uma ZER-1/04,
sendo o eixo da Avenida Cidade Jardim uma ZCLz-I, ou seja, as mesmas zonas de
uso, com os mesmos parâmetros do setor 6. Esse zoneamento incide em um
pequeno trecho da Avenida Cidade Jardim, até a confluência com a Avenida Nove
de Julho e nele concentram-se diversos bancos. Pode-se dizer que é uma zona de
transição entre o setor 6 e o setor 7, pois ao mesmo tempo em que os usos se
voltam mais àqueles presentes na Avenida Faria Lima, sua volumetria possui maior
relação com aquela do setor 6.
A quadra seguinte a esta, em outro pequeno trecho so setor, pertence à ZM-
3b/05, com Coeficiente de Aproveitamento Básico 1 e Máximo 2, com Taxa de
106
3
Análise da paisagem construída atual
Figura 63. Tabela síntese de usos e transformações entre os anos de 2006 e 2014 no eixo
em estudo.
Observou-se que dois setores sofreram maiores mutações, tendo em vista
reunirem a maior quantidade de alterações e maior intensidade nos critérios
observados. Nos setores 2 e 7 ocorreram mudança de uso dos novos edifícios em
relação aos usos existentes, preponderância de demolições sobre as reformas,
transformações de alta intensidade e de grande impacto na paisagem. Observando
em detalhe os mapas realizados, identifica-se que tais transformações concentram-
se em quadras bastante específicas de cada um dos setores, e são elas:
- no Setor 2 (Rua Augusta) entre as Ruas Dona Antonia de Queirós e Peixoto
Gomide;
- no Setor 7 (Avenida Cidade Jardim) entre as Ruas Mario Ferraz e Franz Schubert.
Tais quadras acima indicadas, pelos levantamentos e análises realizadas no
capítulo 2, nos parecem ser aquelas de maior transformabilidade do eixo em estudo,
ou seja, as que reúnem a maior quantidade de fatores que viabilizam e colaboram
para a ocorrência de transformações.
Nesse sentido, partiremos em 3.1 e 3.2 para a análise de ambas as quadras
respectivamente acima indicadas.
Para cada uma delas, inicialmente iremos levantar os empreendimentos
109
muros.
Fachadas
- Linha de coroamento (KOHLSDORF, 1996, p. 147 e 148).
Delimitação das fachadas em seu alinhamento superior, destacando a
volumetria do conjunto da quadra.
- Sistema de pontuações (KOHLSDORF, 1996, p. 148).
Referem-se aos picos da linha de coroamento, e sua variação de altura e
ritmo contribuem para revelar a volumetria da quadra urbana.
- Linhas de força (KOHLSDORF, 1996, p. 148 e 149).
Formam-se a partir das pontuações sendo, de certo modo, síntese das duas
categorias anteriores. Teremos por resultado a identificação clara da volumetria
atual da paisagem construída das quadras em estudo.
Cortes
- Relação entre largura da rua a altura dos edifícios (MACEDO, 2012, p. 224)
Macedo dedica parte de sua tese ao estudo das áreas livres de uso público
do bairro de Higienópolis, e um dos instrumentos que adota é o desenho de cortes
transversais em duas épocas distintas, identificando a transformação da volumetria,
particularmente da relação entre largura da rua e altura dos prédios, ao longo das
décadas.
Na presente pesquisa, o objetivo é a observação da paisagem atualmente
construída, e os impactos que as novas intervenções promovem nos locais nos
quais se inserem. Nesse sentido, partiremos para o mesmo tipo de representação de
Macedo, porém, não o faremos em dois tempos, mas apresentaremos apenas a
situação atual, em trecho estratégico, para compreender a relação do novo com o
pré-existente.
Na sequência iremos comentar as demolições ocorridas para dar lugar a
novos edifícios, comparando fotos do Google Street View 2011 com as atuais.
Finalmente em 3.3 iremos comparar as intervenções recentes levantadas e
analisadas em 3.1 (Baixo Augusta) e 3.2 (Cidade Jardim), tendo em vista o objeto
em si (composição de produto e linguagem arquitetônica), a relação do objeto com a
rua e a relação de tais objetos construídos com as pré-existências dos locais nos
quais se inserem.
111
6
Para mais informações sobre o histórico da chegada dos prostíbulos à região, ver o capítulo 3 de
Pissardo (2013).
113
7
São eles: Fitness, Piscina coberta com raia de 25 m e tratamento de ozônio, Descanso e sala de
massagem, Sauna seca e úmida com ducha, Salão de jogos com simulador de golfe, Playground,
Solarium, Deck molhado, Piscina adulto e infantil, Churrasqueira e bar de apoio à piscina, Home
office, Salão gourmet, Churrasqueira gourmet, Salão de festas, Boulevard de entrada, Lavanderia
coletiva. Informações obtidas em http://www.even.com.br/sp/sao-paulo/bela-vista/residencial/bela-
cintra, em 21.06.14.
115
Figura 65. Edifício Bela Cintra, fachada lado Rua Bela Cintra.
Fonte: http://www.even.com.br/sp/sao-paulo/bela-vista/residencial/bela-cintra.
Figura 66. Edifício Bela Cintra. Da esquerda para a direita, plantas unidades 52m², 70m²,
76m².
Fonte: http://www.even.com.br/sp/sao-paulo/bela-vista/residencial/bela-cintra
8
Outras características do empreendimento são: Arquitetura imponente, Fechadura biométrica (na
116
além do terreno de menor porte, o empreendimento faz frente apenas para a Rua
Augusta. Salas de 30m² a 285m², em única torre de 13 andares, mais quatro
subsolos para estacionamento de veículos. Não há menção a qualquer tipo de uso
comercial voltado ao público no térreo.
No caso desse empreendimento, a Rua Augusta é destacada como local em
transformação; o site nos informa que "A Rua Augusta está passando por um
processo de revitalização que vai mudar completamente a paisagem da região."9
Ainda não há material gráfico disponível.
Edifício Augusta
O mais recente empreendimento dessa quadra chama-se Augusta localiza-se
no lado ímpar da Rua Augusta (nº 899), imediatamente ao lado do supermercado
Dia. Pouco se sabe sobre esse empreendimento, que será brevemente lançado,
apenas que será de uso residencial, com apartamentos tipo Studio, com construção
da Gafisa.
Desde seu início esse empreendimento foi marcado por grandes polêmicas,
por ter sido o responsável pela demolição do edifício Edificio Nicolau Schiesser, de
autoria do arquiteto Rino Levi. Um breve histórico do edifício já foi traçado
anteriormente na pesquisa, cabendo aqui apenas a menção de que este será o
empreendimento a ocupar seu lugar. Ainda não há material gráfico disponível.
Outros empreendimentos
Obtivemos poucas informações sobre o supermercado Dia. Aparentemente
surge próximo ao ano de 2006, com dois acessos: Rua Augusta e Rua Frei Caneca.
Apesar de não ser o foco da pesquisa, cabe destacar que o Shopping Frei Caneca,
cerca de uma quadra após o trecho em estudo (sentido Centro) é um grande indutor
para o desenvolvimento desse trecho da Rua Augusta, contribuindo para alavancar
diversos negócios locais e também grandes empreendimentos residenciais e
comerciais.
9
Informações obtidas no site do empreendimento:
http://www.exclusiveofficesaugusta.com.br/site/#local
118
Figura 69. Planta cheios e vazios Baixo Augusta, 2014. Onde se indica o terreno todo como
cheio, não foi possível estipular a projeção da torre por falta de material de divulgação do
edifício.
Fonte: MDC, com atualizações e demarcações da autora.
A elaboração da planta de cheios e vazios, ou figura-fundo, revela entre as
Ruas Peixoto Gomide e Dona Antônia de Queirós altas taxas de ocupação dos lotes.
Dentro do limite de análise de lotes (que se refere àqueles que fazem frente com a
Rua Augusta) Poucas são as edificações com recuo lateral e frontal.
Pela estimativa da projeção das torres (estipuladas em alguns dos casos, a
partir do material de divulgação dos edifícios), associada às fotografias e imagens
dos empreendimentos vistas em 3.1.1, é de se notar que os novos
empreendimentos em função da legislação vigente se descolam de suas laterais,
frentes e fundos. Os novos empreendimentos são, portanto, uma ruptura com o
padrão de ocupação de lotes típico dessa quadra.
119
Figura 70. Planta lotes originais e novos lotes, criados entre 2006 e 2014, trecho Baixo
Augusta. Destaque para a união de grande quantidade de lotes.
Fonte: MDC, com atualizações e demarcações da autora.
A planta de lotes originais e novos dessa quadra é reveladora de um
movimento que tem ocorrido de modo sistêmico em outros pontos da Augusta. Nos
novos empreendimentos, unem-se lotes para a configuração de lotes maiores, que
comportem o programa estabelecido pelo incorporador como adequado ao público
alvo ao qual pretende atingir.
O caso do edifício Bela Cintra nos parece ser o mais extremo. Ao
compararmos as informações da planta MDC 2006 com o que hoje está construído,
constata-se que oito lotes foram unidos para sua incorporação. Ao seu lado, para o
edifício Belaugusta, foram seis lotes. Nos outros empreendimentos, foram dois lotes,
ou mantiveram-se os lotes originais.
Nos dois empreendimentos que uniram maior quantidade de lotes se
estabelecem novas configurações nesse trecho: a escala de intervenção em relação
ao existente e lotes com frente para duas ruas.
120
Figura 71. Permeabilidade no térreo, trecho Baixo Augusta. Em roxo, os locais que o
pedestre tem liberdade de acessar, incluindo estabelecimentos comerciais. Os novos
edifícios se implantam de forma impactante no território da Augusta.
Fonte: MDC, com sobreposição de croquis da autora.
A planta de permeabilidade é reveladora de uma transformação em
andamento em diversos locais na cidade. Em um trecho permeável ao pedestre,
considerando que os térreos apesar de privados são em sua esmagadora maioria
comerciais, portanto passíveis de serem percorridos, os novos empreendimentos se
colocam de modo impactante ao não possuírem uso comercial voltado ao público no
térreo, e se fecharem com extensas grades e muros.
É uma transformação de bastante impacto particularmente ao pedestre, que
em uma região fartamente servida de transporte público (como destacam as
propagandas dos novos edifícios, particularmente os de uso comercial), se vê com
menos alternativas para facilidades do dia-a-dia, e além disso, passa a se sentir
mais inseguro. Os muros, afinal, são para a segurança de quem está dentro, e não
de quem está fora. Nesse sentido o supermercado Dia é uma intervenção
interessante, já que o pedestre pode entrar, fazer compras, aproveitando para cruzar
a quadra, caso deseje.
121
Figura 73. Coroamento Baixa Augusta. A linha predominante é horizontal, marcada por
alguns edifícios verticais. Os edifícios mais verticalizados são os recentemente construídos.
Fonte: Croquis autora sobre montagem de fotos no local.
122
Figura 74. Pontuação. O sistema de pontuação na fachada da quadra urbana indica que os
edifícios mais verticalizados se distribuem uniformemente pelas quadras no lado ímpar da
rua (acima). No lado par, por outro lado, concentram-se no meio da quadra, resultando em
extremidades menos verticalizadas.
Fonte: Croquis autora sobre montagem de fotos no local.
Figura 77. Edifício Bela Cintra. Vista a partir do topo da torre lado Augusta, para dentro do
conjunto. Ao fundo, observa-se a Rua Bela Cintra. A própria implantação dos blocos, com
espaçamento entre ambos, valoriza a ampla área de lazer externo.
Fonte: http://www.even.com.br/sp/sao-paulo/bela-vista/residencial/bela-cintra
Em relação às demolições para viabilizar esse novo edifício, estas foram
sendo feitas paulatinamente, se iniciando pela Rua Augusta, e continuando na Rua
10
O termo "fachada ativa" é utilizado na proposta do novo Plano Diretor da Cidade, em debate e
aprovação no momento da presente pesquisa. O termo designa, de modo geral, fachadas de edifícios
cujos pavimentos térreos são comerciais. O objetivo no presente Plano é incentivar uso comercial nos
térreos dos novos edifícios, tornando-os áreas não computáveis nos novos empreendimentos,
contanto que tenham uso comercial. Como vemos na Rua Augusta, é um conceito de desenho
urbano existente há tempos na cidade.
125
Bela Cintra. Merece destaque o fato de que as casas demolidas da Rua Bela Cintra
não aparentavam estar em desuso, nem mesmo mal conservadas.
Figura 78. Edifício Bela Cintra. Vista a partir da Rua Augusta, à esquerda 2010 e à direita
2014.
Neste trecho do terreno a demolição havia sido realizada antes de 2010. Observamos isto
nos mapas do capítulo 2, e confirmamos com estas imagens.
Fonte: Google Street View, acesso em 23.06.14.
Figura 79. Edifício Bela Cintra. Vista a partir da Rua Bela Cintra, à esquerda 2010 e à direita
2014.
Tomada à esquerda do atual acesso, observamos que ao menos parte dos imóveis
demolidos estava em uso, com automóvel na garagem. O estado de conservação da
primeira antiga casa à esquerda, ao menos externamente, era bom.
Fonte: Google Street View, acesso em 23.06.14.
Figura 80. Edifício Bela Cintra. Vista a partir da Rua Bela Cintra, à esquerda 2010 e à direita
2014.
Tomada à direita do atual acesso, observamos a placa do então futuro empreendimento. Na
foto de 2010, uma casa antiga bem conservada.
Fonte: Google Street View, acesso em 23.06.14.
No caso do Belaugusta, apesar de ter como ponto positivo o acesso ao
conjunto por duas ruas, este não será aproveitado de modo público. Não houve
126
preocupação em, de algum modo, disponibilizar seu térreo para o uso generoso com
pedestres que queiram cruzar essa longa quadra, entre as Ruas Costa e Dona
Antônia de Queirós. O acesso de veículos ao estacionamento, pelo que se pode
depreender das informações disponíveis sobre o projeto, se darão apenas pela Rua
Bela Cintra, restando à Rua Augusta apenas embarque e desembarque.
Figura 81. Implantação do edifício Belaugusta. À esquerda, Rua Bela Cintra. À direita, Rua
Augusta.
Fonte:
http://www.esser.com.br/content/img/landing/belaugusta/empreendimento/plantas/implantac
ao.jpg
Figura 84. Edifício Belaugusta. Vistas a partir da Rua Augusta, à esquerda 2010 e à direita
2014.
Fonte: Google Street View, acesso em 23.06.14.
Em ambos os empreendimentos, Bela Cintra e Belaugusta, notamos uma
preocupação em projetar ao menos um acesso pela Rua Bela Cintra.
No caso do Edifício Bela Cintra, pode-se interpretar que o único acesso pela
Bela Cintra agregue valor ao empreendimento, já que muitos outros são os
lançamentos nesta rua. Além disso, o nome "Rua Bela Cintra" está bastante
associada ao seu lado jardins; acreditamos que isto faça a diferença na imagem do
empreendimento.
Já no Edifício Belaugusta essa característica salta aos olhos: uma pequena
faixa de terreno foi incorporada ao empreendimento, apenas para acesso a este; a
torre toda se localiza na porção mais larga do terreno, lote voltado à Rua Augusta.
128
Figura 85. Terreno do futuro edifício Exclusive Offices Augusta. Vistas a partir da Rua
Augusta, à esquerda 2010 e à direita 2014.
Fonte: Google Street View, acesso em 23.06.14.
Por sua vez, no caso do Augusta (empreendimento da Gafisa), muitas são as
informações fotográficas anteriores às demolições, particularmente por se tratar da
demolição de uma obra de Rino Levi.
Com o edifício bastante descaracterizado, ocultado pela construção de quatro
lojas em seu recuo frontal, o edifício estava desocupado e em péssimo estado de
conservação.
129
Figura 87. Terreno do futuro edifício de apartamentos da Gafisa. Vistas a partir da Rua
Augusta, à esquerda 2010 e à direita 2014.
Fonte: Google Street View, acesso em 23.06.14.
A localização, no caso dos dois empreendimentos comerciais, tem grande
peso em sua comercialização. A proximidade da Paulista e das estações de metrô é
citada nos dois casos. Apesar de não ser o objetivo da pesquisa, observam-se
contradições entre o projeto e a propaganda – a importância da proximidade do
metrô perde sua força ao nos depararmos com um empreendimento com quatro
subsolos.
No caso do supermercado Dia, pelo fato de ser bastante recuado da Rua
Augusta, fica mais legível o entendimento a partir das fotos aéreas a seguir, ao invés
das fotos das fachadas como vínhamos fazendo.
130
Figura 88. Foto aérea, trecho Baixo Augusta, 2005. Observa-se a quadra inteiramente
construída. No lugar do futuro supermercado Dia (demarcado em vermelho) aparentemente
uma série de galpões.
Fonte: Google Earth, 2005, com marcação da autora.
Figura 89. Foto aérea, trecho Baixo Augusta, 2008. Observa-se o supermercado Dia já
executado (demarcado em vermelho), aproveitando parcialmente os galpões pré-existentes.
À direita, voltado à Rua Frei Caneca, um grande empreendimento, hoje já inaugurado, de
torres residenciais.
Fonte: Google Earth, 2008, com marcação da autora.
131
11
Informações obtidas em http://www.construtorasaojose.com.br/site/empreendimento/condominio-
george-sand#prettyPhoto.
136
Figura 91. Condomínio George Sand. Vista a partir da Rua Frederic Chopin, Avenida Cidade
Jardim e Parque do Povo ao fundo.
Fonte: http://www.construtorasaojose.com.br/site/empreendimento/condominio-george-
sand#prettyPhoto[gallery2]/6/
12
Informações disponíveis em http://www.construtorasaojose.com.br/site/empreendimento/saint-
paul#prettyPhoto. Destaca-se no site que o produto está sujeito à alterações.
138
possibilidade, de que esse grande lote seja ocupado por mais empreendimentos da
mesma construtora.
Figura 94. Edifício Saint Paul. Vista da fachada de acesso, pela Rua Frederic Chopin.
Fonte: http://www.construtorasaojose.com.br/site/empreendimento/saint-
paul#prettyPhoto[gallery2]/2/
Figura 95. Edifício Saint Paul. Detalhe do acesso, pela Rua Frederic Chopin.
Fonte: http://www.construtorasaojose.com.br/site/empreendimento/saint-
paul#prettyPhoto[gallery2]/4/
139
Figura 96. Design Cidade Jardim. Fachada vista a partir da Avenida Cidade Jardim.
Fonte: http://designcidadejardim.blogspot.com.br/
13
http://designcidadejardim.blogspot.com.br/
140
Figura 97. Design Cidade Jardim. Implantação com planta pavimento térreo, à direita,
Avenida Cidade Jardim.
Fonte: http://designcidadejardim.blogspot.com.br/
Figura 98. Design Cidade Jardim. Vista da portaria, a partir da Rua Camargo Cabral, rua
sem saída e fechada exclusivamente ao empreendimento.
Fonte: http://designcidadejardim.blogspot.com.br/
14
http://www.tecnum.com.br/portfolio-comercial-grid.asp
142
Figura 101. Edifício Cidade Jardim. A partir da calçada, muitos são os elementos que o
diferenciam de outros edifícios.
Fonte: http://aflalogasperini.com.br/wp-content/uploads/2013/11/13210_ag-
cidjardim_amello_319-tratada11.jpg
Figura 102. Edifício Cidade Jardim. Corte, destaque para os quatro subsolos.
Fonte: http://aflalogasperini.com.br/wp-content/uploads/2013/11/Cidade-Jardim-
Eleva%C3%A7%C3%A3o.jpg
143
Figura 103. Edifício Cidade Jardim. Planta pavimento térreo, com destaque para a área livre
em pilotis e elementos paisagísticos no térreo.
Fonte: http://aflalogasperini.com.br/wp-content/uploads/2013/11/Cidade-Jardim-
T%C3%A9rreo.jpg
Figura 104. Edifício Cidade Jardim. Planta pavimento tipo, praticamente com todos os
pilares nas periferias da laje, garantindo flexibilidade de layout.
Fonte: http://aflalogasperini.com.br/wp-content/uploads/2013/11/Cidade-Jardim-Tipo.jpg
144
Figura 105. Planta cheios e vazios Cidade Jardim, 2014. Onde se indica o terreno todo
como cheio, não foi possível estipular a projeção da torre por falta de material de divulgação
do edifício.
Fonte: MDC, com atualizações e demarcações da autora.
A planta de cheios e vazios do trecho Cidade Jardim revela edificações com
altas taxas de ocupação, porém, há casos de construções que ocupam parcelas
menores do lote, visualmente por volta de 50% do lote. A área limite de análise
define os lotes que fazem frente à Avenida Cidade Jardim, e todos estes possuem
recuo frontal, mas nem sempre o lateral.
Pela estimativa da projeção das torres (estipuladas em alguns dos casos, a
partir do material de divulgação dos edifícios), e pelas fotos, observa-se que os
novos edifícios mantêm o padrão de ocupação dos lotes existentes, apesar de o
fazerem em outra escala vertical, como veremos nos próximos itens de análise.
145
Figura 106. Planta lotes originais e novos lotes, criados entre 2006 e 2014, trecho Cidade
Jardim. Destaque para a união de diversos lotes na maior parte dos novos
empreendimentos.
Fonte: MDC, com atualizações e demarcações da autora.
Os lotes novos surgem da união de muitos lotes originais, variando de cinco a
impressionantes 12 lotes. Um deles, na esquina com a Rua Franz Schubert, já se
encontrava do tamanho indicado desde o mapa MDC 2006.
É recorrente os novos lotes alcançarem duas vias, a Avenida Cidade Jardim e
mais uma, não apenas por sua condição de implantação em esquinas, porém
também pela condição de unirem lotes contíguos pela divisa dos fundos. Nem
sempre isso significa que o condomínio terá dois acessos, como veremos nas
próximas análises gráficas.
Acreditamos que os lotes remanescentes, não unificados em grandes lotes
não mais o serão, pois são pouco profundos para incorporações, e se inserem em
trechos cujos lotes de fundos já são verticalizados.
146
Figura 107. Permeabilidade no térreo, trecho Cidade Jardim. Em roxo, os locais que o
pedestre tem liberdade de acessar, incluindo estabelecimentos comerciais. Os novos
edifícios foram enormes extensões de trechos sem permeabilidade ao pedestre.
Fonte: MDC, com sobreposição de croquis da autora.
A planta de permeabilidade do trecho Cidade Jardim revela que os trechos
permeáveis ao pedestre no térreo, nesse local referem-se exclusivamente aos
pontos comerciais da avenida, e se fazem mais presentes no meio da quadra; as
extremidades da quadra são menos permeáveis, particularmente no lado que se
volta à Marginal Pinheiros.
As construções recuadas das fachadas tornam visualmente as calçadas mais
largas, mesmo que os recuos sirvam de estacionamento para as lojas. Os novos
edifícios também são recuados em relação à avenida, no entanto, os muros que os
encerram estão no alinhamento dos lotes. Estes muros tem tido grande impacto
nessa paisagem e na percepção do espaço, pois além de alterarem o alinhamento
das construções, são muito altos.
Há uma ilha central na Avenida Cidade Jardim, que abriga pontos de ônibus;
as conexões entre esta e as calçadas das bordas da avenida, contudo, são feitas
por apenas duas faixas de pedestres em toda extensão da avenida.
147
Figura 108. Fachadas no trecho Cidade Jardim. Acima, lado par (indo em direção à Marginal
Pinheiros, lado direito). Abaixo, lado ímpar. Os números indicados referem-se ao número de
pavimentos, sendo em preto os números de pavimentos dos edifícios novos e em vermelho
dos edifícios existentes. A paisagem existente configura-se preponderantemente por
edificações térreas ou de dois andares. Os novos edifícios extremamente verticalizados
inserem-se de fato construindo uma paisagem descolada da existente.
Fonte: levantamento da autora no local em 15.06.14.
Figura 110. Pontuação. O sistema de pontuação na fachada indica que os edifícios mais
verticalizados se inserem preponderantemente nas bordas do trecho em estudo. No lado par
(acima) concentra-se em uma das bordas, com apenas uma pontuação no meio da fachada
urbana. No lado ímpar, concentra-se nas duas extremidades.
Fonte: Croquis autora sobre montagem de fotos no local.
Figura 113. Foto aérea de 2004. Demolições para George Sand (vermelho) já realizadas.
Demolições para os três outros futuros edifícios (azul, verde e amarelo) ainda não
realizadas.
Fonte: Google Earth, 2004, com marcações da autora.
151
Figura 114. Edifício George Sand já construído (vermelho). Edifício Design Cidade Jardim já
construído (azul). Demolições para o futuro Edifício Cidade Jardim (verde) já realizadas.
Observar que o terreno do Design Cidade Jardim é apenas o trecho em verde, o terreno ao
lado que também passou por demolições não pertence a este empreendimento. Demolições
para o Saint Paul não realizadas (amarelo).
Fonte: Google Earth, 2008, com demarcações da autora.
As demolições que viabilizaram o Edifício George Sand ocorreram antes de
2004, pois na foto aérea deste ano o terreno já se encontra vazio. Em 2008, o
edifício já está construído.
No caso do Edifício Design Cidade Jardim, ocorreram após o ano de 2006,
pois neste ano as construções anteriores ainda constavam nos mapas MDC 2006,
porém, a foto aérea de 2008 já indica o edifício construído.
O Edifício Cidade Jardim, apesar de inaugurado recentemente (em 2013),
teve as demolições que o viabilizaram já realizadas em 2008. Na imagem do Google
Street View 2010, abaixo, é possível notar que o Edifício Cidade Jardim estava em
obras nessa data.
152
Figura 115. Vistas a partir da Avenida Cidade Jardim, à esquerda 2010, à direita 2014. Em
2010 o Edifício Cidade Jardim já estava em obras.
Fonte: Google Street View, acesso em 13.08.14.
No caso do futuro Edifício Saint Paul as demolições foram progressivamente
sendo realizadas entre os anos de 2006 e 2014, como vimos através de mapas e
confirmaremos nas imagens a seguir. Tais demolições aparentemente não se
referiam a bens arquitetônicos históricos, porém, as construções demolidas
concretizavam uma paisagem uniforme e contínua em sua horizontalidade.
Figuras 116, 117 e 118. Vistas a partir da Avenida Cidade Jardim, à esquerda 2010 e à
direita 2014, duas a duas no mesmo ângulo de visão. Diversas foram as demolições,
realizadas paulatinamente ao longo de quatro anos.
Fonte: Google Street View, acesso em 13.08.14.
153
suas compartimentações.
A partir dos exemplares já construídos ou que se tem conhecimento do
projeto, no edifício residencial Bela Cintra, fica claro em suas fachadas onde ficam
os dormitórios, as salas e os banheiros, a partir de diferentes tipos e tamanhos de
caixilhos.
Por sua vez, no comercial Belaugusta, a pele de vidro o torna um monolito,
interrompido apenas por extensas e estreitas varandas. Tais varandas são
permitidas e de certo modo incentivadas pela legislação – atualmente é possível
construir até 10% da área da laje do andar em varandas, abertas em três lados, de
modo que respeitados estes e alguns outros parâmetros elas não sejam
contabilizadas como área computável; ou seja, elas não são computáveis do ponto
de vista do aproveitamento do potencial do terreno, no entanto são áreas de venda
para as unidades. Geralmente essas varandas são utilizadas para a instalação das
condensadoras de ar-condicionado das unidades. A fachada pouco
compartimentada permite a leitura de que internamente há a possibilidade de
andares inteiros voltados a uma só empresa.
No trecho Cidade Jardim, por outro lado, ocorrem casos de edifícios
residenciais com linguagem muito distinta dos edifícios comerciais. Dois dos três
edifícios residenciais apresentam linguagem comumente chamada neoclássica. Em
torres enormes, busca-se um estereótipo de luxo, via uma chamada linguagem
clássica, que inspira solidez e tradição.
São elementos existentes na arquitetura clássica a simetria na construção,
destaque para uma entrada central, pés-direitos altos nos térreos, múltiplas portas e
janelas conformando arcos, inclusão de adornos, molduras nas janelas, colunas com
capitéis adornados e diferenciação na volumetria da base, corpo e coroamento do
edifício, que são adotados livre e estranhamente nesses novos edifícios.
Há, portanto, entre os trechos Baixo Augusta e Cidade Jardim, diferenças nos
produtos ofertados, particularmente na dimensão da unidade tipo, e também na
linguagem adotada, que busca atender ao anseio do público alvo do
empreendimento. Há, contudo, semelhanças: em ambos os casos se coloca como
diferencial a ampla e moderna segurança, e especificamente no caso dos
residenciais, destaca-se a gama de serviços e itens de lazer de uso exclusivo dos
moradores.
Lipovetsky (2005), filósofo e sociólogo, debruça-se sobre temas da sociedade
156
15
Para aprofundamento no tema, ver LIPOVETSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. São Paulo:
Editora Barcelona, 2004.
157
o trecho Baixo Augusta (com dois sentidos de tráfego com uma faixa cada, sem ilha
central), tem uma capacidade de suporte menor que o trecho Cidade Jardim
(também com dois sentidos de tráfego, porém com duas faixas cada, sendo uma
exclusiva para transporte público).
Nesse sentido, podemos especular que os novos edifícios super
verticalizados, construídos na Cidade Jardim, tem menor impacto em seu entorno do
que os novos edifícios no Baixo Augusta. Na Cidade Jardim haverá mais carros
circulando, no entanto, a via é mais larga e comporta esse acréscimo de volume. É
de se notar que, apesar de menos verticalizados, os edifícios no Baixo Augusta
contam com menores unidades habitacionais, em maior número, o que leva a um
número desproporcional de veículos circulando na Rua Augusta. Concluímos que a
Rua Augusta, nesse sentido, tem sofrido mais as consequências da implantação dos
novos empreendimentos superverticalizados do que o trecho Cidade Jardim.
Essa é uma análise teórica, que não levou em conta volume de tráfego
levantado no local. Porém, serve de parâmetro para compreendermos
comparativamente o impacto desses novos prédios do ponto de vista do volume de
tráfego de automóveis, particularmente no Baixo Augusta.
Figura 119. À esquerda, é possível associar o desenho à situação do Baixo Augusta: duas
faixas de circulação, comportando edificações de menor porte. À direita, por sua vez, à
situação de uma avenida como a Cidade Jardim que, por ser mais larga, comporta maior
volume de tráfego e consequentemente empreendimentos de maior porte.
Fonte: CAMPOS FILHO, 2003, p. 26.
Podemos dizer, portanto, que o trecho da Cidade Jardim está muito mais
preparado para receber o fluxo de automóveis e pessoas provenientes das novas
edificações do que o trecho do Baixo Augusta.
160
trecho analisado do Baixo Augusta é uma antiga Z4, por isso tal Fórmula não pode
ser ali utilizada. Não sabemos afirmar positivamente se tal instrumento foi utilizado
No trecho Cidade Jardim, mesmo porque esse trecho também se insere na
Operação Urbana Faria Lima, o que já viabiliza um potencial construtivo maior que
do restante da cidade.
Os grandes lotes geram, como vimos, edifícios de porte inédito para as ruas
nas quais se inserem. Nesse sentido, também é nova a relação do pedestre os
novos térreos.
Na Rua Augusta muitas são as oportunidades de permeabilidade no térreo ao
pedestre (ver figura 71), o que decorre do uso comercial dos térreos dos edifícios
(farmácias, lojas, bares). Nos novos lotes que ai se configuram, contudo, além de
desperdiçada a oportunidade de conexão para o pedestre de ruas paralelas na longa
quadra, as novas torres que neles se inserem não possuem o térreo comercial,
rompendo totalmente o padrão de uso por parte do pedestre.
No caso do trecho Cidade Jardim (ver figura 107) a situação também é grave,
pois pela configuração dos lotes originais unificados, bem como porte dos
empreendimentos, os novos lotes ocupam frentes ainda maiores de fachada voltada
à rua, criando verdadeiros paredões impermeáveis. Faz-se uma exceção ao único
novo edifício comercial (Cidade Jardim) que apesar de hermético, ainda permite
algum acesso em seu térreo em pilotis, ou ao menos, libera a visual do pedestre por
não ser cercado por muros.
É compreensível, contudo, do ponto de vista das incorporadoras a não
instalação de atividades públicas ou comerciais no térreo dos edifícios (como é
bastante comum principalmente no caso do trecho do Baixo Augusta analisado),
pois a legislação vigente não contribui para que isto ocorra.
Conforme aponta Hepner (2010) o instrumento que incentiva o uso do térreo
por galerias comerciais é pouco eficiente. É necessário que o empreendimento
tenha duas frentes, e cumprida essa exigência "[...] é concedido um acréscimo de
área computável sem que seja necessário pagar pela outorga onerosa, equivalente
a 50% da área coberta que for destinada à livre circulação de pedestres no térreo."
(HEPNER, 2010, p. 257). Pela simulação do autor, ilustrada na imagem a seguir, o
incentivo equivale a apenas 2,5% de acréscimo na área total do edifício.
162
Figura 120. Simulação de acréscimo de área cedido em função da instalação de uma galeria
comercial no térreo de um novo edifício.
Fonte: HEPNER, 2010, p. 257.
Em ambos os trechos analisados (Cidade Jardim e Baixo Augusta) existe a
conexão entre duas ruas, porém como visto o incentivo a este uso é muito restrito, e
aos olhos do mercado, aparentemente não vale a pena. Há outros fatores
envolvidos, dentre os quais destacamos uma preocupação comum a ambos os
locais em estudo, do qual o isolamento dos condôminos através da construção de
muros é o símbolo máximo: a preocupação com a segurança.
Comparando-se os lançamentos do trecho Cidade Jardim com o Baixo
Augusta, é de se notar em ambos a preocupação com a segurança, um traço da
contemporaneidade apontado por Lipovetsky (2005, p. 60):
16
Informações sobre Happyland em http://www.isayweinfeld.com/ e
http://www.mcb.org.br/mcbItem.asp?sMenu=P002&sTipo=5&sItem=313&sOrdem=1
164
17
Como parte da 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2004, realizou-se no MASP a
exposição de fotografias Win Wenders. Lugares, estranhos e quietos, compiladas em WENDERS,
Win. Lugares, Estranhos e Quietos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2010.
167
Considerações finais
Figura 121. A sobreposição dos tempos na cidade. Vista a partir da Rua Augusta, altura da
Rua Costa.
Fonte: ACFM, jun/ 2014.
174
estes dois são calhas de circulação mais largas, e absorveram ao longo dos anos
grande parte dos fluxos de automóveis e ônibus.
A própria história do deslocamento de centralidades reflete-se no eixo da Rua
Augusta: nele observamos, além do caminhar dos usos cotidianos dos moradores da
cidade, o deslocamento dos clubes e escolas para onde as elites se deslocavam.
O exemplo mais paradigmático é o Club Athletico Paulistano, que se origina
no Velódromo, e se transfere para a região do Jardim América, tornando-se ele
mesmo a primeira ocupação do bairro, justamente demarcando territorialmente seu
início. Outro exemplo é o Colégio Des Oiseaux, que funcionou até a década de 1960
na Rua Augusta, no terreno hoje vago entre as Ruas Caio Prado e Marquês de
Paranaguá, quando suas freiras migraram para o Colégio Madre Alix, no Jardim
Paulistano.
Mesmo com o enorme crescimento da cidade e seu espraiamento ao longo do
século XX, o eixo da Rua Augusta continua a ser representante desse caminho
traçado desde o final do século XIX. Ainda hoje é possível identificar as camadas
como as de um palimpsesto, estabelecido ao longo dos anos, nos sete setores
identificados na pesquisa.
Nas Ruas Martins Fontes e Augusta, casas antigas, muitas bem conservadas,
coexistem com os primeiros edifícios verticais a ocuparem o eixo na década de
1930, e também com edifícios do segundo movimento de sua verticalização, na
década de 1960, impulsionado pela centralidade que então representava a Avenida
Paulista. O traçado da Rua Avanhandava segue a topografia revelada no traçado do
então Ribeirão Saracura. Destaca-se também a presença da antiga garagem de
bondes, na Augusta entre as Ruas Peixoto Gomide e Matias Aires, atual Subestação
AES Eletropaulo, parcialmente conservada.
No caso dos bairros-jardim destaca-se mais a preservação da paisagem
construída como um todo, bem como seu traçado urbano (o que se garante por meio
de seu tombamento) do que a manutenção dos exemplares arquitetônicos tomados
isoladamente. Grande parte do que vemos hoje no eixo não são construções da
época do assentamento do bairro, e quando o são, encontram-se descaracterizadas
pelo extensivo uso comercial que se disseminou pela Rua Colômbia e Avenida
Europa, particularmente para a atividade de showrroms de automóveis de luxo.
No caso do trecho da Avenida Cidade Jardim uma grande marca do tempo é
o limite de um dos meandros do Rio Pinheiros, hoje presente como borda do parque
176
do Povo na atual Rua Brigadeiro Haroldo Veloso; além disso, edificações térreas das
primeiras ocupações após a construção da Faria Lima coexistem com novos e
verticalizados edifícios.
Nessas camadas de tempo sobrepostas no eixo da Rua Augusta, observamos
que mais algumas vêm a se somar: intensas têm sido as transformações ocorridas,
seja através de reformas, ou de demolições, dando lugar a novos empreendimentos.
Nas proximidades da Avenida Paulista, o que se observa são muitas
reformas, que se intensificam no lado jardins da Augusta, entre a Avenida Paulista e
a Rua Estados Unidos. Há uma clara busca das unidades comerciais por manterem-
se atualizadas, particularmente nas proximidades da Rua Oscar Freire. Nos bairros-
jardim, por sua vez, o comércio continua presente e em constante renovação na
extensão do eixo: na Rua Colômbia e Avenida Europa muitas são as reformas nos
showrooms de automóveis, a fim de manterem-se no padrão internacional das
marcas ali expostas.
A alteração na paisagem nesses setores (nas proximidades da Avenida
Paulista e bairros-jardim) se dá não tanto por novas construções, mas
principalmente através da renovação da linguagem dos edifícios. Particularmente no
caso dos bairros-jardim, o gabarito de altura imposto pela legislação de fato impede
que alterações radicais ocorram.
É, todavia, nos extremos do eixo da Rua Augusta que as transformações
recentes mais intensas e de maior porte tem ocorrido: nos trechos que
denominamos Baixo Augusta e Cidade Jardim.
Até recentemente, na última década, o trecho do eixo próximo ao centro
continuava a refletir a decadência pelo qual passou do meio do século XX ao início
do século XXI. São muito recentes os esforços em revitalizá-lo, e estes têm partido
preponderantemente da iniciativa privada através de grandes incorporações
principalmente residenciais, que pouco se importam com a historicidade presente
nesse local.
Tais incorporações e novos projetos de edifícios residenciais estão
associados à centralidade tradicional da Paulista bem como a novas centralidades
locais, surgidas sobretudo com os Shoppings Frei Caneca e Higienópolis, bem como
a novas estações de metrô que tem se instalado na região.
Identificamos na região empreendimentos dotados de ampla infraestrutura de
lazer, cercados por grandes muros, que quando possível voltam seus acessos às
177
179
Bibliografia
Livros
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