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João Pessoa/PB
2004
LILIANA LINCKA DE SOUSA
João Pessoa/PB
2004
LILIANA LINCKA DE SOUSA
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________
ORIENTADOR: Professor Dr. Marconi Pequeno
(Universidade Federal da Paraíba)
___________________________________________
MEMBRO DA BANCA: Professor Dr. Giusepe Tosi
(Universidade Federal da Paraíba)
_______________________________________________________
PROF. CONVIDADO: Professor Dr. Marcelo Luiz Pelizzoli
(Universidade Federal de Pernambuco)
Aos meus pais, Oswaldo e Luzia
(in memorian), aos meus filhos Tiago,
Ana Luísa e Sara, aos meus amigos e às
minhas amigas presentes e ausentes e às
gerações futuras.
Dentre todos os sentimentos humano, creio que a
gratidão seja o mais nobre deles. Saber reconhecer todo e
qualquer apoio é, no mínimo uma atitude de racionalidade.
Sendo assim, e, para não correr o risco de me esquecer de
alguém, agradeço a todas as pessoas que, direta ou
indiretamente, contribuíram para a finalização deste trabalho.
Contudo, quero deixar registrado um obrigado todo especial a
Cícero Ferreira de Sousa por, em diversos momentos, ter
proporcionado as condições necessárias para o
desenvolvimento deste projeto e a Alvamar Costa de Queiroz
pela credibilidade em mim depositada. Por fim, quero
expressar o meu reconhecimento e admiração ao meu
professor e orientador Dr. Marconi Pequeno.
“Devemos enfim viver para sermos criativos. O que
quero dizer com criativo? Quero dizer tentar mudar o
universo no qual nos encontramos – tentar acrescentar-lhe
coisas boas, se possível.”
Arnold Toynbee
Deng Yingchao
RESUMO
Apresenta uma discussão acerca do problema moral que se coloca por detrás da questão
ambiental a qual tem origem no atual modelo de desenvolvimento, ou seja, na maneira como
os seres humanos vêm se relacionando com a natureza. O problema moral a que se refere
consiste em julgar se existem obrigações morais desta geração para com as gerações futuras.
Engloba quatro capítulos: o primeiro discorre acerca do conceito de natureza desde a Grécia
antiga até seus desdobramentos em alguns momentos do pensamento tradicional; o segundo
capítulo aborda a discussão referente ao problema das futuras gerações a partir da obra de
Giuliano Pontara; o terceiro capítulo discute a questão ambiental relacionando-a aos possíveis
impactos sobre a vida das futuras gerações a partir da ótica neo-utilitarista de Peter Singer; o
último, e quarto capítulo mostra o princípio de responsabilidade formulado pelo filósofo
alemão Hans Jonas, bem como sua importância no sentido de garantir a existência das
gerações futuras. Finaliza com as considerações finais acerca do princípio de responsabilidade
que será apresentado como forma dar cabo à desvairada corrida tecno-científica o que irá,
certamente, garantir o futuro da humanidade.
This work presents discussions related to the moral problem lying beneath environmental issues that
has been originated throughout the current development model. This is seen by the way humans relate
to nature. These questions bring upon discussions related to aspects judging whether there are moral
obligations of this generation upon the next one. The research is divided into four chapters: the first
one deals with nature and its concepts from ancient Greece and its unveilings in moments of the
traditional school of thinking; the second chapter deals with aspects related to problems of the future
generations considering the work of Giuliano Pontara; the third one discusses environmental issues
relating them to possible impacts on future generation. This is done taking into consideration the neo-
utilitarian angle of Peter Singer. The last and fourth chapter shows the principle of responsibility that
was formed by German philosopher Hans Jonas as well as the importance of guaranteeing the
existence of future generations. The work finalizes with consideration related to the principle of
responsibility that presented as a form to end the crazy techno-scientiffic run, that will certainly end
the future of humankind.
INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 9
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................... 78
REFERÊNCIAS........................................................................................................................ 82
9
INTRODUÇÃO
No afã de satisfazer suas necessidades vitais, o ser humano vem, ao longo dos tempos,
realizando atos que, muitas vezes, tendem a comprometer sua relação com o meio natural. Tal
fato, desde o século passado, tem sido objeto de investigação de alguns estudiosos como, por
exemplo, o biólogo alemão Ernst Haeckel (1834-1999) que, em 1866, criou o termo ecologia
(do grego oikos = casa; logos = estudo) definindo-a como o estudo do inter-retro-
relacionamento de todos os sistemas vivos e não vivos entre si e com seu meio ambiente. A
princípio, a ecologia era estudada no âmbito da biologia; entretanto, atualmente, passou a ser
dentre outras.
como nos relacionamos com o meio ambiente, servindo ainda de parâmetro para compreensão
daquilo que o homem tem feito à natureza. Esta crise se afigura como um resultado do
interesse de alguns pensadores que passaram a ver a crise ambiental numa perspectiva mais
humanista e menos técnica. Tais interesses também se ampliaram a outras esferas e instâncias
indivíduos para com as gerações futuras. Todavia, convém indagar: como pensar o nosso
futuro e o dever que temos para com os que ainda hão de surgir, sem antes entender a origem
10
do fenômeno? E, ainda, por que o problema relativo às gerações futuras tem se tornado uma
com o meio natural. Aristóteles, por exemplo, via a natureza como “uma hierarquia na qual os
que têm menos capacidade de raciocínio existem para o bem dos que têm mais”
(ARISTÓTELES apud SINGER, 1993, p.282). A tradição judaico-cristã fez com que a
natureza passasse a ser considerada como obra da vontade de uma providência absoluta, cujo
poder determinaria até mesmo a configuração do cosmos e o lugar que nele ocuparíamos.
Com isso, o domínio do homem sobre a natureza tornou-se um direito outorgado por Deus.
O que Deus quis “dizer” quando deu ao homem a permissão de domínio é uma questão
bastante discutida pelos ecologistas contemporâneos, uma vez que, por domínio, não se pode
entender “uma licença para fazermos tudo o que quisermos com os outros seres vivos, mas,
sim, como uma orientação para cuidarmos deles em nome de Deus e sermos responsáveis,
Poder-se-ia também pensar que o ser humano age contra a natureza pelo fato de
Dito de outra maneira, talvez o drama de nossa cultura esteja na idéia de se fazer da diferença
uma discriminação, uma desigualdade. Para alguns estudiosos, o fato de o homem ser
diferente não deve ser visto como um passaporte para o domínio sobre os demais seres, no
história natural. É ela, a rigor, que vai permitir a comunhão, a alteridade, isto é, a capacidade
equilíbrio. Somente quando for capaz de captar o sentido da alteridade é que o homem
conseguirá entender o legado que a presente geração poderá deixar para as gerações futuras.
11
modelo de civilização atual. E por que tal mudança é relevante? Porque, caso não se faça uma
opção pela vida, parece pouco plausível que se possa garantir uma existência sadia às
gerações futuras. A existência sadia dar-se-á quando o homem conseguir vencer o desafio de
perspectiva ética, está sendo desafiado a começar a trabalhar com uma visão generativa em
vez de reativa1, a fim de que não se tenha que reanimar a vida depois de se tê-la perdida. Em
outros termos, é imprescindível que o homem tente recriar ou redimensionar seus modos de
viver com vistas à construção de um equilíbrio harmônico com o mundo que o circunda.
morais desta geração para com as gerações futuras. Mas, para enfrentar essa questão,
enfim, lançar luzes sobre alguns dos contornos teóricos sobre este tema, elucidando as
futuras, procurando ainda demonstrar como essa problemática se instaura e, sobretudo, como
ela tem sido enfrentada por alguns autores, como é o caso de Pontara, Glover e Rawls. Aqui
seus vários aspectos e dimensões (responsabilidade para com a espécie, para com os
problema das gerações futuras à luz do pensamento de Peter Singer, destacando, sobretudo, o
1 Isto significa que é preciso concentrar as ações no sentido de produzir boas causas, o que implica gerar bons
efeitos.
12
viés neo-utilitarista característico de suas formulações. Aqui também analisamos, com base
nas idéias do referido autor, o significado do fazer tecnológico e suas implicações sobre a vida
dos indivíduos atuais e, mais particularmente, acerca dos possíveis impactos do mesmo sobre
a vida das futuras gerações. Por fim, no capítulo 4, tratamos do princípio de responsabilidade
formulado por Hans Jonas, apresentando alguns dos elementos essenciais de sua proposta e a
importância que ela assume para a discussão acerca dos compromissos morais que temos em
A natureza fala, mas fala como uma alma deve falar a outra, sem intermédio dos
lábios.
Machado de Assis
Pense num jardim onde apenas dois sons são audíveis: um produzido pelo canto dos
pássaros; outro, proveniente de uma pequena queda d'água... Quando imaginamos um lugar
como este, o que sentimos? A beleza da paisagem que nos enleva ou somente um local para
aliviar o estresse acumulado por mais um dia de trabalho exaustivo? Por que uma árvore
derrubada faz suscitar o clamor de muita gente, assim como uma baleia encalhada numa praia
desperta uma comoção na opinião pública? Por que tal sentimento nem sempre é expresso
diante de uma criança faminta, dessas que encontramos em nossas ruas? A relação que
mantemos com o meio em que vivemos pode ser melhor entendida se formos capazes de
responder a perguntas do tipo: o que entendemos por Natureza 2 e qual a relação que devemos
manter com os seus elementos? Qual o estatuto e a importância que o ser humano deve
Responder a tais perguntas tem sido hoje um desafio, pois o que entendemos hoje por
circunstâncias em que vivemos. A noção e o respeito à Natureza (ou aos seres naturais)
depende das variáveis culturais e dos interesses estratégicos dos indivíduos, face aos
Tais questões ganham importância porque, para muitos, o futuro nunca fôra tão incerto
e sombrio como o é agora. O novo século começa carregando consigo velhos problemas e
negações que ela engendra. Assim, diante das dificuldades que caracterizam a questão
2 Sempre que o termo Natureza estiver escrito em letra maiúscula estará se referindo ao termo grego phýsis no
sentido de força originária criadora de todos os seres, ou seja, o fundo perene de onde vem e para onde
retornam todas as coisas; a realidade primeira e última de todos os seres que existem. Neste caso opõe-se a
nómos – àquilo que se refere ao uso ou ao costume.
14
saudável?
Uma das principais dificuldades em responder a este dilema é representada pelo desafio
em se compreender o que é este fenômeno que designamos como Natureza. Este problema é
ainda agravado pela confusão que se faz entre Natureza e meio ambiente. Com efeito, os
problemas que deram origem à questão ambiental ou à chamada crise ecológica3, já foram
Internacionais como, por exemplo, o State of the World, que consiste numa série de
ecológicos mais expressivos analisados aqui estão a explosão demográfica, o efeito estufa,
poluentes, como é o caso do CFC (Clorofluorcarbono) que deixam a camada de ozônio cada
vez mais rarefeita; o aumento crescente de substâncias químicas, sobretudo nos rios e
humanidade a conflitos gerados pelo esgotamento das fontes vitais de subsistência, bem como
outros seres vivos (a exemplo do vírus HIV, cuja origem atribui-se ao contato do homem
africano com primatas infectados). Assim, além do risco sempre presente do uso de armas
químicas e bacteriológicas, bem como de artefatos nucleares de alto poder destrutivo, muitos
3 O termo ecológico traduz um sentido bem mais amplo e profundo, isto é, reconhece a interdependência entre
todos os problemas que compõem a questão ambiental.
4 Conforme indica CAPRA (2002), parte destes Relatórios já foi traduzida pela Editora Globo sob o título
Salve o Planeta!
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indivíduos ainda estão à mercê do poder beligerante das superpotências e de sua hegemonia
sobre os bens essenciais e estratégicos da Natureza. Afora essas ameaças, constata-se que a
questão ecológica, embora ganhe cada vez mais destaque nas sociedades contemporâneas, não
tem ocupado um lugar de honra na fila das prioridades das políticas públicas, nem, tampouco,
tem ajudado a modificar a postura cotidiana dos cidadãos em face do meio ambiente.5
racional dos recursos naturais disponíveis. Para alguns autores, a reversão desse cenário
somente seria possível mediante uma mudança de concepções e atitudes que proporcionem ao
ser humano dirigir o seu olhar para a Natureza, não mais como uma mera imagem distante, e
sim como algo do qual ele faz parte. Para tanto, seria necessário abolir a distinção homem-
Natureza como se ambos fossem fenômenos isolados, apartados; e que a Natureza passasse a
ser vista como um todo integrado, no interior do qual o homem existe como parte
constitutiva.6 Atendidas essas condições, seria possível a formação de uma consciência capaz
O fato é que, aos olhos de muitos, os homens têm tratado de forma hostil a Natureza. O
que parece mais grave é que esta conduta vem se agravando consideravelmente, a ponto de
pôr em risco a sua existência e a das demais espécies vivas. Diante desse quadro, faz-se
necessário repensar o papel e o valor dos seres naturais em si e não apenas pelo que eles
aposta num desenvolvimento auto-sustentável e de uma ação mais responsável dos agentes
tecnológicos sobre o mundo natural permitirá, quiçá, legar às gerações futuras um Planeta
5 Quem não se lembra da Guerra dos Seis Dias, em 1967, entre Israel e seus vizinhos que teve como
motivação a ameaça, por parte dos árabes, de desviar o fluxo do rio Jordão, o qual juntamente com seus
afluentes é responsável pelo fornecimento de 60% da água consumida em Israel.
6 Para aprofundar essas questões ver Luc-Ferry citado nas referências.
16
relação aos anseios de preservação ambiental. Além disso, os termos ambiente, meio
ambiente, ecossistema, Natureza, são usados muitas vezes de forma pólissêmica, adquirindo
acepções. Eis o que torna ainda mais complexo e obscuro o seu significado. O dicionário de
língua portuguesa Ferreira (1986) oferece a seguinte definição: “1. Todos os seres que
constituem o Universo; 2. Força ativa que estabeleceu e conserva a ordem natural de tudo
quanto existe”. Observa-se, assim, que natureza remete à ordem natural, e esta, por sua vez,
Abbagnano (1998, p. 699), a Natureza é definida a partir de quatro concepções: “1ª) princípio
técnicas de investigação”.
Pode-se dizer que as duas primeiras definições expressam o sentido dado pelos antigos
origem do mundo (arché) que, para eles, encontrava-se na Natureza. Estas investigações
datam do século VI a.C. Tal período marca, sobretudo, o início da revolução intelectual
gerada, inicialmente, por Tales, Anaximandro e Anaxímenes, todos de Mileto. Estes autores
inauguraram uma forma de refletir distinta de tudo o que se realizara até então, a qual
consistia numa investigação sistemática acerca das coisas que há no mundo. Com eles surgiu
agentes sobrenaturais cujas aventuras, lutas, façanhas formavam a trama dos mitos
de gênese que narravam o aparecimento do mundo e a instituição da ordem; nem
mesmo alusão aos deuses que a religião oficial associava, nas crenças e no culto,
às forças da natureza (VERNANT, 1996, p. 73).
bastar-nos-á conhecer estas leis para nos situarmos a nós mesmos no nosso lugar
neste conjunto, para entrar nele e não nos deixarmos mais dominar por ele – e isso
será uma primeira conquista. Depois, dir-se-á um dia: se conhecermos as leis,
podemos, pois, servir-nos das coisas e tornar-nos ‘donos e senhores’ da natureza, e
isso será uma segunda fase (LENOBLE, 1969, p. 185).
Nota-se que a afirmação de Lenoble reflete duas concepções opostas acerca do que é
ordenarem-se, formam um conjunto regido por leis. A mudança dá-se justamente aí, isto é,
quando passamos da idéia de natureza para a de naturalmente, ou seja, de algo que acontece
por geração espontânea. O fato é que, para os gregos, a Natureza possui uma força motriz
própria, uma lei necessária que a gera. Dá-se aqui o momento em que o homem afasta-se do
7 Para Tales, era a água; para Anaximandro, o ápeiron, isto é o ilimitado, indeterminado; para Anaxímenes era
o ar (pneûma).
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segundo a lei (nomos) e não mais segundo o determinismo da sua natureza (physis).
O segundo momento ao qual se refere Lenoble foi aquele em que o ser humano, depois
umas das outras. Mas esta reviravolta somente se dera a partir da modernidade. Sobre isto
falaremos depois.
Certamente que neste exercício para se compreender a idéia de Natureza, não seria
prudente deixar à margem a indicação sobre o significado etimológico do termo Natureza que
tem sua origem no latim – nasci, nascor – e designa o nascer, o crescer, o ser criado. É neste
sentido que a Antigüidade entendia tanto a natureza, como origem das coisas e como a
primeira diz respeito ao caráter laico do pensamento que a apreende; a segunda se refere à
totalidade do ser, pois, para os milésios, tudo o que existe é Natureza, isto é, phýsis8. Nesse
sentido,
pensadores não pretendiam, a partir dessa idéia de phýsis, naturalizar o homem, nem,
8 A phýsis é o fundo inesgotável que dá origem ao kósmos (ordem e organização da natureza ou do mundo); é
para onde regressam todas as coisas, a realidade primeira e última de tudo que existe. É o oposto de nómos (o
que é por decisão dos humanos). O sentido completo de phýsis pode ser encontrado em CHAUÍ (1994).
19
tampouco, humanizar a Natureza. Com efeito, o que se discute não é o conceito de Natureza
ou de homem, mas uma idéia de totalidade, ou ainda daquilo que constitui o sentido, a
Se para os jônios a natureza e a phýsis são os dois lados de uma mesma moeda, o
mesmo entendimento não prevalece entre os atomistas, pois, neste caso, a phýsis é
cosmologia proposta pelos atomistas defende, principalmente, a idéia de que nada existe por
Para os atomistas, nada resta das aparências das coisas. Nem as qualidades
sensíveis, simples ilusões subjectivas construídas sobre formas geométricas: «é
convenção a cor, convenção o amargo»; na realidade, não existem senão átomos e
vazio diz Demócrito, que pensa que é da reunião dos átomos que todas as
qualidades semelhantes nascem, de alguma forma, para nós que as percebemos,
«pois na Natureza não existe nem branco, nem preto, nem amargo, nem doce».
Sobre os atomistas, Marilena Chauí (1994, p. 102) diz que “mais do que uma
cosmologia, com os atomistas temos uma física” concluindo, adiante, que “os átomos não são
qualidades, são formas (figura, ordem, posição), são estruturas das coisas, cuja origem e
mudanças decorrem apenas dos movimentos dos átomos no vácuo”. Tais preocupações serão,
por assim dizer, deflacionadas pela emergência da antropologia filosófica, inaugurada por
Sócrates, a rigor, não recusava a idéia de que o mundo segue suas leis próprias, o que para ele
é independente da direção que o destino do homem poderá ter. O homem socrático não
poderia inverter a ordem natural das coisas, ou seja, ele primeiro deveria se ocupar de pôr em
ordem a sua casa (oikos, polis) para, somente depois, ocupar-se das outras esferas (o mundo,
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o cosmos). Ao mesmo tempo em que vai se reconhecendo autônomo,9 o homem pensado por
Sócrates, também reconhece a autonomia das coisas. Daí a necessidade de o mesmo, garantir,
em primeiro lugar, as condições de sua própria existência para, somente depois, voltar-se para
Se, por um lado, Sócrates pouco se ocupou da cosmologia, Platão, entretanto, o fez sem
muito sucesso, pois, como sugere Lenoble, tanto ou mais do que seu ‘mestre’, Platão também
é um moralista e sua grande preocupação é como a da maioria dos gregos de sua época, com
Se Platão estendeu à polis o olhar pacífico da ordem, Aristóteles, por sua vez, foi
procurar a mesma ordem na Natureza. A este respeito Lenoble (1969, p. 66) afirma que
até chegarmos a ele, o homem, obcecado com os seus próprios problemas, reflectiu
sobre a Natureza da magia que o atormentava; morigerado e acalmado pelo
«isolamento» socrático e platônico, pode agora aceitar a alteridade do mundo.
Com Aristóteles surge a primeira percepção desinteressada da Natureza.
lembrar que, no Ocidente, até o século XIX, filosofia e ciência aparecem amalgamadas.
Aristóteles divide as ciências em teoréticas, práticas e produtivas. Sua idéia da Natureza faz
parte do campo de pesquisa das ciências teoréticas as quais investigam o princípio e as causas
dos seres que existem naturalmente, ou seja, por natureza. Esta última, para Aristóteles, é o
fim (télos). Assim, o homem só pode conhecer a natureza de uma coisa depois que ela se
desenvolve.
No livro II da Física, Aristóteles classifica os seres segundo a sua natureza. Para ele,
alguns seres são por natureza enquanto outros o são por outras causas. Uma das coisas que
existe por natureza (phýsis) é a polis. A polis é a própria comunidade (Koinomia) a qual é
inicial para a realização da forma. Assim, o movimento tornará possível que, por exemplo,
movimento que diferencia os seres. A partir dessa noção é possível então classificar as
ciências teoréticas. Desse método surge a ciência da Natureza que tem por objeto o estudo dos
seres naturais, isto é, de tudo que integra a phýsis e que existe independentemente da vontade
do homem. Portanto, a Filosofia da Natureza ocupa-se dos seres que passam do estado de
potência ao ato.
assumir uma função na polis. Disto se conclui que a plis é anterior à família, da mesma forma
que o todo precede a parte. Eis a marca do holismo organicista presente na teoria aristotélica.
Para que esta noção holística se concretize é preciso que o ser-homem esteja vinculado ao seu
ambiente.10 Daí a necessidade natural que o homem tem em se dirigir para a polis.
Aristóteles busca o sentido de Natureza com base na relação que há do todo com suas
partes. Assim, segundo Lenoble (1969, p. 75), nas questões relativas à Natureza, Aristóteles
considera
que a natureza fabrica as pedras, os animais e as plantas como o oleiro gira o seu
vaso. A teoria das quatro causas é a racionalização desta imagem: como o artesão,
a Natureza pega uma matéria (causa material) e impõe-lhe uma forma (causa
formal) com o auxílio de um instrumento (causa eficiente); sendo toda a operação
empreendida e conduzida tendo em vista o resultado (a causa final é a mais
importante e a única explicativa em última instância).
o todo para então se conhecer as partes. Esta visão de uma Natureza como objeto de estudo irá
prevalecer até o início do século XVI, quando ocorreu a sua substituição pela idéia de
10 Aristóteles não concebe a idéia de um espaço vazio. Para ele, o lugar é a fronteira, o limite entre um corpo
continente e o contorno do corpo contido.
22
Natureza como campo de ação do homem. Tal substituição ocorre em razão do surgimento de
morada, pois tinha garantido o seu lugar nela, assim como os demais seres o têm. Entretanto,
com o advento do cristianismo, ele passa a não mais se situar nela, porque não mais lhe
pertence. A Natureza passa a ser vista como resultante da graça divina. Nota-se, aí, a
aspectos: primeiro concebe a natureza como uma realidade que não existe por si mesma, pelo
contrário, existe porque encontra em Deus a sua origem. Assim, temos que:
No princípio Deus criou o céu e a terra [...] E Deus disse: Exista a luz [...] Disse
também Deus: Faça-se o firmamento no meio das águas [...] produzam as águas
répteis animados e viventes e aves que voem sobre a terra debaixo do firmamento
do céu [...] e os abençoou dizendo: Crescei e multiplicai-vos, e enchei as águas do
mar; e as aves se multipliquem sobre a terra (Gên. 1, 1-23).
mundo seja de origem judaica, esta concepção foi, prontamente, incorporada pelo
cristianismo. Este fato corroborou a idéia de uma Natureza cuja origem remonta a uma causa
sobrenatural.
O segundo aspecto refere-se à sua relação com a moral. Na Antigüidade, a noção que se
tem da Natureza é a de um conjunto regido por leis, do qual o homem é apenas uma das
partes. Nessa época, o indivíduo “não pensa ainda em transformá-la” (LENOBLE, 1969, p.
190). A essa realidade pode-se ainda atribuir a idéia de que existe uma alma comum, assim
Eis a diferença em relação à moral cristã, que não aceita a idéia de uma Natureza eterna,
pois, “Deus lançou-a no ser quando quis e suprimi-la-á no último dia como se de um imenso
23
cenário se tratasse” (LENOBLE, 1969, p. 191). Daqui para frente a Natureza não mais será
vista como um todo, pelo contrário, ela agora torna-se “uma coisa entre as mãos de Deus. E o
homem habituar-se-á a situar-se também já não na Natureza, mas perante ela, a conceber o
seu destino como independente da história do mundo” (LENOBLE, 1969, p. 191). Resta saber
se, agora que não mais faz parte da Natureza, este novo homem será capaz de encontrar uma
regra para bem dominá-la, assim como pretendia fazer em relação a si próprio.
comprometimento do ser humano com o meio natural, do qual ele acredita não mais
pertencer, ou melhor, o homem cristão passou a acreditar que não faz mais parte da Natureza.
Esta relação tornou-se mais problemática a partir da noção de que agora existem dois lados:
Todavia, vale ressaltar que se essa dificuldade se faz presente até os dias de hoje, e que
mecanicista que engendrará o novo modo de o homem com ela interagir. Esta mudança, não
A transição entre o final da Idade Média e o início dos tempos modernos configura-se
efervescência, em que a Natureza era amada ainda que não se constituísse em fenômeno
desvendado e conhecido quanto aos seus processos e funções. “Para os cristãos, ela canta
Deus, para os pagãos do Renascimento voltou a pegar na flauta de Pã e canta como outrora a
fecundidade da terra, as ninfas das fontes e a providência dos astros” (LENOBLE, 1969, p.
209).
desabar em virtude do surgimento de fortes tribulações que a colocam em xeque. Este mal-
estar surge logo após o desenvolvimento da tipografia, por Johann Gutemberg, que contribuiu
24
para aumentar a produção de livros, dentre os quais a Bíblia. Diante disso, um maior número
de pessoas teve acesso aos textos sagrados, fazendo surgir as mais diferentes interpretações
nem sempre em consonância com as da Igreja oficial, isto é, como as do alto clero.
ofereceu novas interpretações aos textos bíblicos. Contudo, posteriormente, tal evento ganha
força consolidando-se naquilo que mais tarde fôra denominado de Reforma Protestante. Em
princípio, este movimento pode ser compreendido como uma crítica ao comportamento
que eram iludidas pelo comércio de relíquias religiosas como, por exemplo, supostos espinhos
que fizeram parte da coroa de Cristo; palhas de capim que formaram a manjedoura onde o
menino Jesus descansou após o seu nascimento; pedaços de panos, supostamente sujos pelo
sangue da face de Jesus e tantos outros. Como se não bastasse, paralelamente a esta prática
consolidaram o seu ideal teológico e, por conseguinte, fortaleceram o seu status quo. Logo,
Reformas que impulsionaram o movimento contra a unidade da Igreja católica, uma vez que
políticos e filosóficos.
11 É importante lembrar que, ao longo da história esta não foi a primeira vez que a unidade católica fôra
questionada. Já no século XI ocorreu a primeira cisão da Igreja que deu origem à Igreja Ortodoxa.
25
As Reformas iniciaram, por assim dizer, o processo de desprezo à Natureza, uma vez
que a mesma perdeu o seu caráter espiritual. O conceito católico de Natureza se diferencia do
protestante, basicamente devido ao lugar que a graça divina ocupa nele. Os primeiros, ao
mesmo tempo em que temiam as paixões, subordinavam a Natureza à graça. Para os outros,
isto é, os protestantes, esta virtude não passa pela Natureza, daí o fato de eles encontrarem-se
melhor preparados no tocante ao “novo estado da ciência, que verá na Natureza uma mecânica
quanto as Reformas. Esta reviravolta teológica-cultural teve como principal reação o dualismo
corpo-mente que se configura num rompimento à submissão divina que prevaleceu até o
período medieval. Assim, a Igreja, que antes era tida como a própria imagem da Natureza, viu
teológicos. Com efeito, não é para o Uno que o espírito se volta, ao contrário, o que ele busca,
durante o Renascimento, pois, conforme indica Lenoble (1969, p. 243) “os homens do
primeiramente a Natureza existisse para o homem. A Natureza gozava assim de uma certa
virtualidade, e isso o levava a se distanciar dela. Contudo, ao tempo em que o sujeito dela se
distanciava, tal fato provocava-lhe curiosidade e uma imensa vontade de aventurar-se rumo ao
desconhecido. Estes aspectos demonstram que o Renascimento traz consigo uma atitude de
O fato é que, a partir das teorias de Galileu Galilei (1565-1642), Francis Bacon (1561-
1626), René Descartes (1596-1650) e Isaac Newton (1642-1727), o termo Natureza adquiriu
um novo significado. Para tanto, foi necessário que o pensamento científico destronasse a
idéia de Natureza concebida pelos naturalistas do século XVI. Porém, não tarda muito para o
naturalismo metafísico perder o seu lugar para a idéia de natureza-máquina. Conforme indica
Lenoble (1969) a data deste feito não é tão difícil de precisar: 1632, ano em que
Este novo olhar traz consigo uma nova atitude do homem para com a Natureza, ou seja,
se antes a Igreja fornecia as diretrizes para o seu modo de relacionar-se com ela, na
modernidade essa relação não sofre mais tal influência. O comando cabe, agora, à ética, mais
a assumir a tarefa de dominar a Natureza. Sendo assim, o próximo passo seria buscar os meios
para fundamentar sua atitude perante a Natureza, isto é, o seu ato de dominação.
o “velho tabu do natural pressupõe uma diferença essencial entre a experiência de laboratório
Com isso, o homem moderno descobriu outra função para a Natureza, isto é, a ela foi dado
fabricar”. Com efeito, a verdade sobre a Natureza está nas experiências e não mais nos
conhecimentos sobre a sua essência, como ocorria entre os gregos. Desse modo,
27
Não só se deixa de temer a cólera divina por esta violação da Natureza como se crê
que Deus nos deu a missão de trabalhar à sua imagem, de construir o mundo no
nosso pensamento como ele o criou no seu, fornecendo as suas leis. O físico da
Idade Média eleva-se a Deus descobrindo as intenções, as finalidades da Natureza,
o físico mecanicista eleva-se a Deus penetrando o próprio segredo do Engenheiro
divino, colocando-se no seu lugar para compreender com ele a forma como o
mundo foi criado (LENOBLE, 1969, p. 260).
contemplador do cosmos. A partir daí, ele passou a ocupar o lugar de artífice, de produtor.
Entretanto, é interessante lembrar que tal operação somente foi possível em virtude do valor
que foi conferido ao poder e à autonomia da razão. Portanto, conhecer, tanto quanto fabricar
eram sinônimos de poder. Um outro aspecto que muito contribuiu para a construção do
conceito moderno de Natureza foi o fato de que a queda da unidade divina não trouxe consigo
o rompimento do homem com Deus. Na realidade, quando o homem rompe com o Uno
sobrevém a compreensão de que se Deus existe12, isto se faz por necessidade e não mais por
uma relação de dependência, uma vez que esta última, conforme diz Descartes em seu
Discurso do Método, é manifestadamente um defeito, logo não pode fazer parte da natureza
conseqüentemente, da ciência.
12 A certeza acerca da existência de Deus, para Descartes, está no princípio de causalidade, ou seja, não se
pode pensar um ser finito tal qual o homem – sujeito pensante – sem conceber a idéia de um ser infinito
(Deus). Uma visão completa sobre este assunto pode ser obtida nas Meditações.
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Vemos aqui os elementos que deram ao homem as condições necessárias para que ele,
aos poucos, pudesse se distanciar de seus esquemas conceituais anteriores. Essa nova
racionalidade é bem representada pelo pensamento cartesiano, pois, a partir do racionalismo
moderno, a ciência passara a ocupar um lugar de destaque na ordem do conhecimento, ou
seja, ela passa, inclusive, a ser o instrumento mediante o qual o homem poderá conhecer e
modificar os produtos da criação divina. A partir daí, o homem assumiu o comando dessa
grande nave chamada planeta Terra. Mas para que tal papel pudesse ser assumido foi preciso
abandonar a antiga filosofia especulativa substituindo-a por
uma outra prática, pela qual, conhecendo a força e as ações do fogo, da água, do
ar, dos astros, dos céus e de todos os outros corpos que nos cercam tão
distintamente como conhecemos os diversos misteres de nossos artífices,
poderíamos empregá-los da mesma maneira em todos os usos para os quais são
próprios, e assim nos tornar como que senhores e possuidores a natureza
(DESCARTES, 1996, p. 116).
Se por um lado, Descartes consegue elevar o homem ao lugar de gerente do mundo, por
outro foi Newton quem, através do mecanismo dos corpos, conseguiu expressar em fórmulas
as leis do movimento. Contribuiu para o êxito deste feito não apenas a teoria matemática de
que, combinadas, deram origem à Física clássica que dominou o conhecimento científico
durante os séculos XVII, XVIII e XIX. A partir daí “pensava-se que a matéria era a base de
toda a existência, e o mundo material era visto como uma profusão de objetos separados,
subjugar os demais seres vivos e, o que é pior, a justificar tal fato alegando que se deveria
preservar da vida humana sobre a Terra. Mas, sob o argumento de que devemos defender
Mesmo que haja um argumento válido nesse sentido, ainda assim pergunta-se: como garantir
o futuro das gerações, levando-se em conta a idéia de Natureza como um reduto devassável e
controlado pelo homem? É aceitável atribuir maior valor à vida humana do que à vida de um
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gorila, por exemplo? Por outro lado, podemos responder estas e tantas outras questões deste
A idéia de que Natureza existe para o nosso usufruto ajudou a fomentar, também, a falsa
noção de que os recursos naturais são inesgotáveis. Por isso, não raramente, a utilização
acordo com a voracidade do consumo. Com efeito, a extração desmedida dos recursos
por exemplo, pelo grande número de pessoas que moram em áreas de risco de desabamento,
água doce, pela desertificação de grandes áreas. Em suma, pode-se afirmar que algumas das
mais importantes questões da atualidade têm sua origem na forma como o homem interage
com a Natureza, ou seja, no modo como ele a transformou num simples objeto a ser
controlado, manipulado, sendo seu fim último satisfazer às suas necessidades de consumo.
responder aos mais diversos problemas contemporâneos gerados pelo poder da tecnociência.
Dessa forma, considerando a dimensão desta problemática e sua relação com a sobrevivência
das futuras gerações, necessário se faz, em primeiro lugar, que o homem não mais se aperceba
como um ser destacado da Natureza. Muito pelo contrário, ele deve doravante conscientizar-
Uma vez feita esta operação, será possível realizar uma segunda: substituir o velho
momentos, do ser humano consigo mesmo e com os elementos que compõem o meio natural
Estes dois conceitos – ser humano e meio ambiente – se complementam e, por isso, se
mundo natural. Tal possibilidade requer que se coloque a questão acerca do estatuto da
natureza e se é possível lhe conferir direitos específicos. A questão consiste em saber até que
propriedades, julgadas antes tipicamente humanas, aos demais seres vivos do Planeta.
O problema torna-se ainda mais desafiador porque sabemos que é pura ingenuidade
acreditar que apenas medidas de cunho político-econômico seriam suficientes, senão para
sanar, pelo menos para minimizar os problemas característicos da atual crise ambiental. Se
isso fosse verdade, propostas como o Protocolo de Kyoto seriam um eficaz instrumento na
luta pela preservação ambiental. A realidade demonstra que tais mecanismos ainda são
inócuos para reverter esse quadro. A complexidade do fenômeno não admite respostas
múltiplos. Ela diz respeito ao nosso modelo de civilização, aos valores da nossa cultura e,
sobretudo, a questão concernente à nossa liberdade e a responsabilidade que temos para com
ambientais da atualidade, uma vez que eles motivam os questionamentos morais relativo à
existência ou não de responsabilidade de uma geração para com a sua sucessora. Vale
destacar que no âmbito deste trabalho não adotamos nenhuma definição específica para o
termo geração tendo em vista as muitas divergências encontradas, em especial no que diz
depende da teoria que se tome como referência para explicá-lo. Tal assertiva leva a crer que o
problema não consiste na definição do termo em si, uma vez que este se encontra diluído,
questão se deve reconhecer ou não a responsabilidade desta geração para com as gerações
questão ambiental. Esta preocupação foi, sobretudo, motivada pelo agravamento dos
problemas decorrentes dos efeitos do emprego nocivo da razão instrumental sobre a vida dos
sobre as zonas costeiras as quais sofrem grande degradação em razão das descargas de
esgotos domésticos e industriais; além disso, muitos rios agonizam por estarem carregados de
sedimentos procedentes de erosões, asfixiando, com isso, a fauna e a flora aquática, fato que
atmosférica na maioria dos países. Apesar de, em muitas zonas urbanas, ter diminuído ou se
de todo o mundo, certa de 990 milhões, continua exposta a níveis insalubres de dióxido de
A atmosfera sofre ainda pelo considerável aumento de gás carbônico (CO2) – também
hidrocarbonetos (AGUIAR, 1996). Como se não bastasse a emissão desses gases, usa-se
conhecido como CFC. Este gás libera o freon que, entre os muitos malefícios, destrói a
população mundial chegou a índices jamais registrados, alcançando, em 1990, a marca de 5,3
bilhões de habitantes; em 2.000 o patamar já era de nada menos que 6,3 bilhões, sendo que
1993). Diante de tais dados, são inevitáveis os questionamentos: como produzir alimento para
tantos? Como levar água a todos? Responder a tais perguntas talvez não seja tão difícil quanto
responder à questão: como resolver estes desafios sem comprometer os recursos faunísticos e
sem causar mais desmatamentos? Vale lembrar que essa solução desordenada compromete os
já escassos recursos hídricos, que, por sua vez, põem em risco a produção de alimentos?
(DIAS, 1993). Para que mais pessoas tenham chance de se alimentar melhor e, por
cresça algo em torno dos 60%, em relação aos níveis atuais, até o ano de 2025. Porém, este
aumento não bastaria para resolver o problema da fome mundial, porque “a maioria das
regiões com potencial de expansão sofre de escassez de água ou de restrições como solos
E o que falar da água doce? Como é possível escassez de água potável num planeta
composto por mais 70% de água? No tocante a este recurso hídrico, existem grandes
controvérsias no que diz respeito à possibilidade real de escassez desse elemento essencial.
Dentre os pesquisadores deste assunto, há os que afirmam que a água será o “petróleo branco”
deste milênio devido aos altos níveis de poluição dos cursos d’água existentes; há, também,
aqueles que defendem a tese de que esta constatação é equivocada, pois existiriam ainda
grandes aqüíferos no mundo. Muito embora as opiniões dos pesquisadores sejam divergentes
quanto à disponibilidade desse líquido vital, há uma convergência quanto à natureza, valor e
uso da água, isto é, já se sabe que ela é um recurso finito e que a falta de eficiência no seu
biológica. Estima-se que existam no mundo cerca de 5 a 10 milhões de espécies vivas. Destas,
somente 1,4 milhão foram identificadas e classificadas. Estima-se, também, que “entre os
anos de 1900 e 2000 é possível que a extinção de espécies causadas pelo desmatamento
elimine entre 5% e 15% das espécies vivas do mundo” (DIAS, 1993, p. 151).
Entretanto, os desmatamentos não são a única atividade humana que põe em risco a
151). As conseqüências oriundas desta antropia13 não poderiam ser mais desastrosas, pois,
uma vez quebrado o equilíbrio dos ecossistemas, podem daí surgir efeitos incontroláveis
como, por exemplo, a ocorrência de pragas, em decorrência da extinção de aves, as quais são
os predadores naturais dos insetos que trazem graves problemas para a agricultura. A
medicina, a indústria e o patrimônio genético são outros setores diretamente atingidos pela
que os recursos naturais são infinitos, bem como o vício de pensá-la a partir de uma
perspectiva eminentemente econômica. Caso isso não ocorra, corremos o risco de restringir os
problemas relativos ao meio ambiente aos da “natureza”, isto é, do meio físico, vegetal e
animal, o que tem pouco a ver com as relações homem – Natureza. Disso se infere que
preservar é importante, porém não é o bastante. Além disso, para muitos, o homem precisa se
ver como uma parte da natureza para sentir-se motivado a descobrir as soluções necessárias
passando, desde então, a se ver como um ser isolado, isto é, destacado do mundo natural.
Entretanto, o conceito de meio ambiente vem reacender algumas preocupações centrais que
devem nortear a conduta humana: a de que o ser humano pertence a um todo maior, que é
pode ser degradada pela utilização perdulária de seus recursos naturais; a de que o ser humano
não deve dominar a natureza, mas tem de buscar caminhos para uma convivência pacífica
entre ela e sua atividade produtiva, sob pena de colocar em risco a sobrevivência da espécie
humana; a de que a solidão humana se dá também pelo fato de o homem se considerar um ser
destacado do seu meio, esquecendo-se que apenas é diferente dos minerais, vegetais e demais
animais; a de que a luta pelo equilíbrio da vida não é somente uma responsabilidade dos
ecologistas, mas sim de todos os indivíduos que têm consciência política e ética da destruição
Por detrás de tudo isso existem muitos e difíceis problemas de ordem ético-filosófica
dos quais têm-se ocupado muitos filósofos nos últimos vinte e cinco anos. O cerne destes
que, em relação às gerações que existirão num futuro remoto, não há nenhuma
para tal posição pode estar na tese da não-responsabilidade. Não obstante, admitir que existe
responsabilidade para com as gerações futuras remete a outra questão: quais são
concretamente estas obrigações? A resposta para esta questão encontra-se na tese da menor
fundamentar a questão: existe ou não obrigação moral desta geração pra com as gerações
futuras?
Esta tese abre espaço para a discussão referente ao valor intrínseco atribuído às
espécies, isto é, quem tem valor intrínseco: a espécie ou o indivíduo? Segundo Giuliano
Pontara (1996), esta tese da não-responsabilidade para com a espécie humana é, no mínimo,
contraditória, porque se admitirmos que é apenas a espécie que possui valor intrínseco, então
não se justifica sacrificar, por exemplo, o último indivíduo de uma dada espécie X, tendo em
14 Não existe nenhuma obrigação ou dever moral de conceber ou trazer ao mundo seres humanos com o fim de
garantir a continuação da espécie humana como tal (tradução nossa). Ressaltamos que as demais traduções
deste trabalho foram realizadas pela autora.
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vista o fato desta espécie ser considerada desejável. A contradição consiste em se atribuir, em
No tocante à espécie humana, pode-se então dizer que a continuação desta é desejável
no sentido de que é necessária para que se possam materializar atos revestidos de valor
intrínseco. Entendendo-se por tais atos todas as ações realizadas pela espécie humana, a qual,
em última instância, é a que possui valor intrínseco. Do que se conclui, que não se pode
Sendo assim, a continuação de uma espécie qualquer, inclusive da espécie humana, será
uma dada espécie deve ser postulada quando o valor intrínseco positivo se sobressai sobre o
valor intrínseco negativo. A fim de comprovar tal fato, Pontara apresenta a experiência de
pensamento proposta pelo filósofo inglês Jonathan Glover. Em resumo, suas idéias se
expressam da seguinte forma: suponhamos que haja uma droga que deixe estéril, mas, ao
mesmo tempo, feliz quem a toma e que o fato de não mais poder ter filhos não lhe traz
qualquer tipo de angústia. Com base nesta possibilidade surgem duas perguntas: seria um erro
se todos aqueles que hoje vivem tomassem esta droga, convertendo-se na última geração de
seres humanos e, por conseguinte, pondo fim à espécie humana? Seria um prejuízo se a
Muito embora Glover e Pontara tenham respostas diferentes para a referida experiência
segundo, o que parece razoável considerar como intrinsecamente desejável é que somente
existam seres que tenham uma vida digna de ser vivida. Pontara chega a radicalizar tal
experiência quando afirma que a existência da espécie humana, independente de como vivam
os indivíduos que a ela pertençam, não parece ser algo cuja continuação seja obrigatória
garantir, pois, para ele, o fato de existir seres da espécie Homo sapiens (ou de qualquer outra
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espécie) somente será desejável na medida em que esses vivam dignamente (Pontara, 1996, p.
descendentes.
Não vos preocupeis pois, pelo dia de amanhã; o dia de amanhã terá as suas
preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado (Mt 6,34).
Que o homem é um ser razoável ninguém tem dúvidas. Ele ainda não encontrou
respostas definitivas para as perguntas: de onde viemos?; para onde vamos? Estas duas
perguntas sintetizam, quem sabe, o desejo da humanidade desde os tempos mais remotos de
Como não encontrou respostas no campo da razão, o homem buscou refúgio no campo
místico. Apesar de existirem concepções religiosas diferentes e, por isso, caminhos distintos,
a grande maioria delas convergem quando afirmam que o homem é fruto da criação de Deus
e para Ele irá retornar após a morte. E, ainda no sentido de possibilitar à sus criação uma vida
sujeição do homem à figura divina. Tal figura, por conseguinte, está relacionada à imagem de
protetor, isto é, aquele que sempre se faz presente, que cuida para nada faltar aos seus.
38
necessários à sobrevivência dos seus protegidos, a fim de que estes tenham uma vida feliz.
Este é um argumento bastante razoável para aqueles que concebem a idéia de um Deus
criador de todas as coisas. Entretanto, para os que não o concebem deste modo, este não é um
argumento convincente. É justamente por esta razão que se pode considerar o argumento da
providência divina um tanto quanto insuficiente. Isto porque sendo o homem um ser dotado
de razão e intuição e, ainda, um ser que não é bom, nem mau por natureza, então torna-se
mais simples justificar suas decisões e ações voluntárias como produto de sua própria
vontade.
justificarem a sua não observância à legislação e ao bom senso, argumentam: “Ah! Nunca vai
faltar peixe, não. Me criei vendo meu avô e, depois, meu pai pescando... olha que já tenho 70
pescadores, que a quantidade de peixe vem diminuindo, mas como não encontraram
A base teórica deste argumento está centrada na noção hegeliana da “astúcia da razão” e
na noção de Adam Smith da “mão invisível”. A partir destas duas figuras segue-se a
formulação de que não há responsabilidades entre gerações, tendo em vista o fato de que o
destino de uma geração é determinado por forças que fogem ao nosso controle. Isto ocorre
porque qualquer que sejam as ações e interações, ainda que desprovidas de vontade pessoal,
15 Época ou período do ano em que se proíbe a pesca ou a caça afim de garantir a reprodução das espécies.
39
intenção e de motivos, elas ensejam, a médio ou a longo prazo, resultados sempre positivos à
Vale destacar que os partidários do livre mercado fazem parte do grupo de simpatizantes deste
argumento.
Percebemos que há entre estes dois primeiros argumentos uma certa relação de
correspondência no que diz respeito à sua fundamentação. Dito de outro modo, em ambos a
ausência de responsabilidade para com as gerações futuras dá-se devido à presença de algo
que foge ao nosso controle e ao alcance da nossa governabilidade: a força invisível daquilo
Hegel (1986, p. 78), por sua vez, afirma que o fim último da humanidade é o espírito,
não havendo, portanto, nada superior a ele (o espírito). Para o hegelianismo, Deus não é
simplesmente uma idéia, mas sim uma eficiência. “La evidencia filosófica es que sobre el
poder del bien de Dios no hay ningún poder que le implica imponerse; es que Dios tiene razón
para com os descendentes. Aliás, essa tal responsabilidade cabe à Deus, pensam os que
16 A evidência filosófica é que sobre o poder do bem de Deus não existe nenhum poder que se imponha; é que
Deus tem sempre razão; é que a história universal representa o plano da Providência.
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Se, mesmo em termos individuais, esta premissa se afigura aceitável, então, ela poderia
sê-lo para todo um conjunto de indivíduos, isto é, para uma geração. Logo, não há nada de
irracional ou mesmo imoral no fato de uma geração qualquer preferir o seu próprio bem
agora, a um bem maior para as gerações futuras. Contra esta argumentação existem pelo
A primeira objeção consiste no fato de que mesmo se admite a sua aceitabilidade, isto é,
a racionalidade do argumento em pauta, disto não se pode inferir que o mesmo seja
moralmente justificado, uma vez que as idéias de moralidade e de racionalidade não estão
necessariamente à moralidade.
A segunda objeção considera que esse argumento não é irracional nem, tampouco,
imoral, não se podendo, da mesma forma, deduzir que o mesmo seja moralmente justificado.
O problema consiste no fato de que, ainda que uma ação individual seja justificada do ponto
de vista racional, isto não enseja necessariamente uma justificação moral, pois o que está em
jogo são os interesses de outros seres humanos que existirão no futuro. Isto equivale a dizer
que o que é bom para mim pode não ser para os meus descendentes.
A terceira objeção rejeita a premissa do valor de tal obrigação e mostra como esta se
choca com o princípio de irrelevância do fator temporal. Este princípio foi formulado por
Henry Sidgwick em sua obra Métodos de Ética (1901) e, posteriormente, por John Rawls
17 Não há nada de irracional em preferir uma experiência agradável agora a uma experiência muito mais
agradável no futuro.
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consciencia existente en un cierto momento más que en otro”18 o que leva à conclusão de que
tal princípio é evidentemente racional, não existindo, por isso, razões para negá-lo.
O segundo, setenta anos depois, reafirma o mesmo princípio, porém com outras
palavras: “la simple ubicación temporal, o la distancia del presente, no son razones para
preferir un momento a otro”19. Há entre aqueles que defendem este terceiro argumento um
consenso em relação ao fato de que negar o princípio em questão não implica contradizer-se
Pontara, por sua vez, considera que se hoje uma determinada experiência agradável,
mesma experiência não é melhor que uma outra experiência agradável, acompanhada de igual
intensidade e duração, somente porque esta segunda será vivida no próximo ano ou mesmo no
ponto de vista universal o tempo em que um ser humano existe não pode incidir sobre o valor
de sua felicidade.
No tenemos ninguna obligación moral para con las generaciones futura en tanto
que no está en nuestro poder identificarnos con ellas, ni estamos motivados hasta el
punto de considerar sus intereses con ecuanimidad (PONTARA, 1996, p. 46.20
Se por um lado, não há desejo manifesto por parte de uma determinada geração, então
não há razões para se fazer sacrifício para garantir seus anseios ou, até mesmo, os interesses
fundamentais dos seus descendentes, porque não existe qualquer argumento que fundamente a
questão do dever acerca do sacrifício que se deve fazer em favor das gerações futuras. Vale
18 A mera diferença de localização no tempo não constitui um fundamento razoável para se ter um maior
respeito para com a consciência existente em um certo momento mais que em outro.
19 A simples localização temporal ou a distância do presente, não são razoes para preferir um momento a outro.
20 Não temos nenhuma obrigação moral para com as gerações futuras uma vez que não podemos nos identificar
com elas, nem estamos motivados a ponto de considerar seus interesses com imparcialidade.
42
ressaltar que a existência do desejo e o seu atendimento pressupõem que se tenha uma
empatia, a qual constitui-se como condição básica para o surgimento do desejo de, por
Por outro lado, se a capacidade empática humana é limitada, nesse caso o homem
pode, no máximo, identificar-se com aqueles com quem tem vínculos afetivos, culturais e, em
menor grau, com os que estão mais próximos no tempo e no espaço. Dessa forma, os seres
que existirão daqui há cem, trezentos ou três mil anos são somente seres em potencial, e,
quanto a isso, sabemos: seres em potencial não gozam de direitos efetivos. Logo, é difícil
prever as conseqüências que motivarão as ações presentes em relação aos interesses das
próximas gerações.
Contra este argumento há pelo menos duas objeções: a primeira consiste no fato de
indivíduos futuros e indivíduos potenciais. Os primeiros são todos aqueles que existirão neste
ou em outro intervalo de tempo futuro. Já os outros são aqueles cuja existência depende da
escolha de determinados indivíduos que hoje existem. Os filhos que uma mulher poderia ter e
não os teve constituem um bom exemplo de indivíduos possíveis, porque tais filhos deixaram
salienta que as novas gerações precisam aprender a ampliar a sua capacidade de identificação
empática, de modo tal que abranja também as gerações futuras (Pontara, 1996, p. 49).
segundo Pontara, recorrer às medidas coercitivas do tipo jurídico quando estas se fizerem
futuras (Pontara, 1996, p. 49). Disso se infere que, quando a moral é insuficiente para garantir
essa responsabilidade, a única alternativa que resta é a instauração de medidas legais que
A justificação deste argumento está na teoria deontológica dos deveres morais, segundo
a qual só existem deveres morais para com os membros de uma mesma comunidade moral; o
pressuposto básico aqui é ter uma mesma concepção sobre o que é moral.
Neste contexto, não há relação entre uma ação moralmente justa ou reta e as
conseqüências das ações realizadas por uma comunidade. Assim sendo, o argumento em
questão bate de frente com algumas teorias éticas que admitem que nenhuma obrigação é de
natureza relacional. Pontara conclui que este é um argumento incompleto e, por isso, não é
uma base válida para sustentar a tese da não-responsabilidade para com os descendentes
21 O problema de nossa responsabilidade para com as gerações futuras reside em criar um mundo que seja
agradável aos que o habitarão, não em criar um mundo como nos agrada. a) Não sabemos nada sobre quais
serão os interesses, as preferências, os desejos, os valores e a concepção do próprio bem que terão os futuros
habitantes do planeta, e b) inclusive e soubéssemos o que é melhor para eles, não sabemos nada acerca de
como nossas ações podem incidir para conseguí-lo.
44
que será bom ou mau para aqueles que ainda não existem, mas que poderão existir.
Supondo-se que tais idéias estejam corretas, então a moralidade das ações que são
o que será bom ou ruim para os futuros habitantes do planeta, é subtraída desta geração
qualquer obrigação moral para com as próximas gerações, ou seja, quanto mais distante é a
geração sobre a qual se focaliza a atenção, menor é a obrigação para com ela (GOLDING
J. Passmore citado por Pontara, (1996) afirma que se deve trabalhar de forma tal que
não se prejudique as próximas gerações, pois o fato de se desconhecer o modo de vida delas
não implica que podemos ignorá-las, ou melhor, a incerteza não justifica a negligência.
Entretanto, o autor adverte para o perigo de que, na ânsia de se garantir o bem das gerações
promover o bem das gerações futuras, ou no mínimo, de não prejudicar-lhes ou que se deve
atuar de tal maneira que não lesione os seus direitos, pressupondo que as mesmas os tenham.
Porém, disto não se pode concluir que exista, de fato, uma responsabilidade para com as
gerações futuras. Logo, como não é possível saber exatamente o que é bom ou ruim para elas
e, também, em que medida as ações podem violar seus direitos, esta provável
responsabilidade passa a não existir (PASSMORE citado por PONTARA, 1996, p. 53).
leva a uma tese oposta à da não-responsabilidade para com os descendentes. Justamente, por
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desconhecer o que será agradável e, até que ponto, os atos realizados hoje poderão influenciar
a vida das gerações futuras, é que se tem a responsabilidade de agir de maneira tal a permitir
às ditas gerações um amplo leque de possibilidades de escolhas. Todavia, não se deve impor a
esta geração e as duas ou três subseqüentes, sacrifícios por demais pesados (PONTARA,
1996, p. 56).
desta geração para com as subseqüentes. Vejamos, a seguir, a tese da menor responsabilidade.
Oposta à tese da não-responsabilidade para com os descendentes, esta tese admite que
existe, sim, responsabilidade para com os mesmos, só que de uma forma graduada, ou seja, a
O nível desta escala é estabelecido conforme o grau de prioridade, o que cria três
Como exemplo, podemos citar a obrigação de saldar as próprias dívidas; em segundo lugar
terceiro lugar, estão as obrigações para com os estranhos, não importando, neste caso, se são
nenhuma sujeição a atos anteriores, bem como às relações de parentesco. Desta forma, os
primeiros sempre têm prioridade sobre os segundos e estes, por sua vez, sobre os terceiros.
Visto desta maneira tem-se a impressão que tal tese deixa a questão relativa à
¿Cuáles son las razones que apoyan la tesis de que determinadas relaciones, en
cuanto tales, cuentan éticamente más que otras? ¿Por qué el hecho de una
determinada persona es mi hijo, o mi compatriota, o mi contemporáneo, constituye,
en cuanto tal, una razón especial para tener que anteponer sus intereses al de un
«extraño», por ejemplo, al de un individuo que todavía no existe pero que existirá
en el futuro? (PONTARA, 1996, p. 58).22
Moralmente não existe nenhuma razão para se priorizar este ou aquele indivíduo. O que
acontece é que existe uma tendência ou inclinação natural inata ao ser humano que o leva, por
exemplo, a garantir, primeiramente, o bem daqueles que lhe são mais próximos, como os
filhos, pais, amigos, e assim sucessivamente. Contudo, tal fato não é o bastante para se
justificar a tese que por ora se apresenta, porque ela não se apóia em razões morais.
A concepção gradual proposta na presente tese postula que as relações de sujeição a atos
enquanto tais, e nesta ordem, eticamente relevantes. É importante ressaltar que para os
defensores da tese da menor responsabilidade, o interesse das pessoas que viverão no futuro
contam sempre menos que os dos filhos e de outros indivíduos com os quais se mantém
Seguramente pode-se aceitar a alegação de que existem obrigações especiais para com
os filhos, familiares, parentes, amigos ou compatriotas, porém, isto não é o suficiente para se
aceitar que estas obrigações são sempre prioritárias (PONTARA, 1996, p. 59).
22 Quais são as razões que apóiam a tese de que determinadas relações contam eticamente mais que outras? Por
que o fato de uma determinada pessoa ser meu filho ou meu compatriota ou meu contemporâneo constitui,
enquanto tal, uma razão especial para por seus interesses anteriores ao de um estranho, por exemplo, ao de
um indivíduo que todavia não existe, porém, que existirá no futuro?.
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Por esta razón puede estar totalmente justificado, por ejemplo, requerir o imponer
a nuestros hijos, o compatriotas, o contemporáneos (o a parte de ellos) sacrificios
tal vez «no demasiado costosos», cuando ello sea necessario para preservar a
nuestros descendientes o bien de más «daños graves», o de una verdadera
«catástrofe» (PONTARA, 1996, p. 59)23.
Percebemos que esta tese apresenta-se um tanto quanto insustentável, no tocante aos
possibilidade de as novas gerações ampliarem a sua empatia. Então, como podemos escalonar
nossa responsabilidade, uma vez que, presume-se, foi aumentada a nossa capacidade de
empatia? Neste caso, o óbvio seria nos sentirmos igualmente responsáveis em relação a todos,
Por outro lado, se for válido o argumento referente à ausência da empatia, não vemos,
também, como será possível escalonar nossa responsabilidade em relação às gerações futuras.
Porque, se há ausência de empatia, isso poderá acontecer tanto em relação aos nossos netos,
Assim sendo, concluímos que a única forma pela qual se poderia justificar a tese da
paixões. Tais fenômenos sempre estão associados a impressões antagônicas como dor ou
prazer, satisfação ou insatisfação, alegria ou tristeza. Contudo, uma ética que considere o
problema da responsabilidade entre gerações não pode levar em conta apenas sentimentos,
23 Por esta razão pode estar totalmente justificado, por exemplo, pedir ou impor a nossos filhos ou compatriotas
ou contemporâneos (ou a parte deles) sacrifícios não excessivamente pesados, quando isto for necessário para
preservar a nossos descendentes de prejuízos mais graves ou de uma verdadeira catástrofe.
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visto que estes possuem caráter meramente subjetivo, e a ética, como sabemos, tem por
objetivo estabelecer critérios universais que sirvam de medida para julgar se uma ação é
Esta tese postula que quanto maior for a distância entre as gerações, menor é a
geração para com as ulteriores está diretamente relacionada ao fator temporal. Sendo assim, a
quais certamente causarão conseqüências que atingirão tanto as gerações que existirão num
futuro próximo quanto no futuro remoto, somente poderá ser atribuída à geração atual o
passivo gerado até uma determinada data, pois, quanto mais longe no tempo se estiver de uma
econômico de desconto do futuro, o qual estabelece um tipo de desconto social em que o valor
reduzida em função de sua distância no tempo. Alguns economistas defendem essa idéia
alegando que aplicar um tipo de desconto do futuro garantiria um eficaz rendimento dos
Sob a ótica econômica, este parece ser um princípio aceitável, entretanto não o é do
ponto de vista moral, porque, aqui, estão em jogo preferências. Uma coisa é descontar o valor
24 Um bom exemplo é a questão referente a existência ou não de uma dívida dos europeus para com as
populações negras da África que teria sido contraída por ocasião do tráfico de negros para as Américas no
período compreendido entre os séculos XVI ao XVIII.
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mesmo está relacionado à idéia da distância temporal entre o presente e os benefícios e custos
em razão de sua distância temporal com o presente, ainda que seja do bem-estar de um mesmo
indivíduo, isto é algo que não se pode aceitar porque há um choque, neste sentido, com o
desfrutados nem suportados pelas mesmas pessoas, mas sim por diversos indivíduos de várias
Existe nesta idéia um aspecto perigoso, pois os princípios de desconto social valorizam
apenas um bem-estar em curto prazo, não relevando os possíveis danos que estes podem
causar às gerações futuras. Sob este prisma está justificada, por exemplo, a instalação de uma
usina nuclear, a qual beneficiará somente uma ou duas gerações e pouco acrescentando na
qualidade de vida destas gerações, e que pode, ademais, causar prejuízos irreparáveis às
gerações futuras. O mais aceitável é que a suposta usina deixasse de ser instalada, uma vez
que a aplicação dos tipos de desconto social apresentado não resulta na preservação da vida,
ou melhor, tal aplicação não é uma justificação moral e, portanto, inviabiliza a resposta sobre
no que diz respeito à fundamentação básica, ou seja, ambas justificam-se a partir do fator
temporal. Considera-se que tal fator é irrelevante para se julgar os danos causados por nossas
50
ações, pois ainda que se concebesse a idéia de que a responsabilidade que temos para com as
gerações futuras pode ser medida, a unidade utilizada, com certeza, não seria o tempo. Além
do que, parece-nos bastante complicado mensurar coisas incontáveis como prazer, alegria,
dor, sofrimento ou, até mesmo responder perguntas do tipo: quais são os critérios, os que
possibilitam emitir julgamento justo acerca dos sentimentos de outrem? Como é possível
Para John Rawls, o problema da justiça entre gerações pode ser solucionado pelo que
ele denominou de “princípio de poupança”. Este consiste numa “regra que atribui uma taxa
apropriada a cada nível de desenvolvimento, ou seja, uma regra que determina uma
Lembramos que Rawls faz parte do grupo dos neocontratualistas e, sendo assim, a sua
proposta não poderia ser diferente, isto é, trata-se de um contrato. Desta forma, é importante
qual deve assegurar “que cada geração receba de seus predecessores o que lhe é devido e faça
a sua parte justa em favor daqueles que virão depois” (Rawls, 1997, p. 318).
num tipo de desconto do futuro ainda não se sabe. Entretanto, muitos evitam adotar um
princípio fundamentado no fator temporal puro, alegando que não é pelo fato de as pessoas ou
as gerações futuras estarem numa situação temporal diferente que se deve dispensar-lhes um
tratamento diferenciado.
uma geração Y está diretamente relacionada às conseqüências dos atos cometidos por sua
por todas as conseqüências que suas ações têm sobre o bem-estar das gerações futuras
relação ao futuro.
partir de um princípio normativo, segundo o qual para que uma ação seja dada como
moralmente errada é imprescindível que a sua concretização leve pelo menos um indivíduo a
ter o seu bem-estar comprometido. Mas, caso isto não ocorra, isto é, se a conseqüência das
ações não compromete a qualidade de vida de pelo menos um indivíduo, então nenhuma ação
poderá ser tida como imoral. Este princípio foi denominado por Pontara de princípio do
empobrecimento. Eis, então, como fica o enunciado desta tese de Pontara (1996, p. 66),
Neste ponto, observa-se uma certa imbricação desta tese da responsabilidade parcial
com a tese da não responsabilidade para com a espécie humana. Acredita-se que tal
25 Atualmente esta é uma das expressões mais discutidas! Tanto no âmbito acadêmico e profissional quanto no
pessoal. O que seria esta qualidade de vida? De modo bem simples qualidade de vida tem a ver com o jeito
que cada um escolhe para viver bem. Não obstante, é importante ressaltar que no contexto deste trabalho o
termo em questão é tomado como o conjunto das condições que proporcionam uma vida prazerosa não
somente para as populações, mas também para todas comunidades de viventes. Desta forma,, destacamos
alguns dos elementos que fazem parte de tal conjunto: a preservação e a conservação do meio ambiente
natural, apoio simultâneo a uma educação que restabeleça a conexão com a ética e às ações que
proporcionam a prática do desenvolvimento sustentável, especialmente, da agricultura e da pesca, garantia de
boa saúde, dentre outros.
26 Somos moralmente responsáveis pelas conseqüências que nossas ações têm para com os indivíduos futuros
somente na medida em que nossas ações incidam sobre o destino destes indivíduos, somente se, e na medida
em que, as ações que realizamos impliquem diminuição da qualidade de vida de tais indivíduos.
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intrínseco, isto é, ambas defendem que este atributo deve ser conferido, sempre, à qualidade
de vida do indivíduo.
existência ou não de responsabilidade para com as gerações futuras não é uma equação muito
fácil de resolver. É importante também lembrar que o alvo da presente discussão não é se em
um futuro remoto haverá ou não seres vivos. Pelo contrário, e considerando a atual população,
é bastante razoável acreditar que, pelo menos durante os dois próximos séculos, existirão
indivíduos tanto da espécie humana quanto de outras espécies. Logo, a qualidade de vida
No que diz respeito ao problema entre gerações, Pontara (1996) apresenta o utilitarismo
clássico como a teoria ética mais razoável devido às reflexões levadas a efeito por um de seus
precussores: Jeremy Bentham. Segundo Pontara, o utilitarismo defende a tese segundo a qual
uma ação somente deve ser realizada na medida em que a mesma possibilite o aumento da
Este autor, concebe as ações particulares como aquelas que são realizadas de modo
particulares são, portanto, aquelas ações cujo sujeito decide fazer de uma forma, ainda que
pudesse fazer de outro modo. Então, é certo afirmar que qualquer ação somente deverá ser
felicidade como fundamento moral. Para os utilitaristas, a felicidade é a ausência de dor, isto
é, o prazer. Este último, constitui-se no estado de consciência que leva o indivíduo a preferir
uma ação a outra. O oposto – o sofrimento – é todo estado de consciência que leva o
27 Conforme indica Pontara, formulado inicialmente por Bentham e, posteriormente, sistematizado por
Sidgwick. (Pontara, 1996, p. 135).
53
sofisticação, mas também porque esta teoria considera relevante, do ponto de vista moral, o
bem-estar das gerações futuras independentemente da posição que estas venham a ocupar no
tempo em relação às gerações presentes. Ou ainda, a felicidade das gerações presente conta
problema da não identidade na medida em que evita várias conclusões contra intuitivas, por
outro ele sofre duas objeções, sendo uma devido à questão da simetria moral e a outra pelo
fato de levar a uma “conclusão repugnante”28. No entanto, aquilo que se configura num
problema para Parfit não passa, para Pontara, de obstáculos intransponíveis. Para ele, essas
implicações dizem respeito a uma questão estratégica, pois há uma distinção “entre
151).
Quando tomado como uma teoria ética ou como um princípio de ética filosófica, o
necessário. Desta forma, uma ação será moralmente reta se e somente se não houver nenhuma
outra ação alternativa que aumente a sua utilidade; moralmente justa se qualquer outra ação
alternativa produzir menor utilidade; e moralmente equivocada se e somente se ela não for
Levando-se em conta tal interpretação, mais adiante Pontara (1996, p. 152) afirma que
28 De acordo com Pontara (1996), estas duas implicações foram feitas por Derek Parfit, também estudioso do
tema, em seu trabalho Reasons and Persons, no qual busca uma teoria X que responda ao problema da
responsabilidade entre gerações. Segundo este último, o problema da simetria moral consiste, igualmente, no
fato, por exemplo, de trazer ao mundo um filho que, possivelmente, terá uma vida muito feliz quanto ao de
trazer ao mundo um indivíduo cuja existência certamente será infeliz. Já a questão da “conclusão repugnante”
é um paradoxo, pois entende que é impossível em razão do aumento populacional, garantir a felicidade, o
bem-estar e a utilidade total das pessoas sem, contudo, que isso comporte que qualquer indivíduo passe em
termos quantitativos de um nível a outro.
29 Entre utilitarismo interpretado como teoria ética ou princípio de ética filosófica e utilitarismo interpretado
como método de deliberação ou princípio de moral positiva.
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asi interpretado, el utilitarismo no dice nada acerca del proceso de decisión que se
debe aplicar, o las operaciones mentales que es necesario llevar a cabo, en
situaciones concretas de elección, a fin de identificar, de la manera humanamente
más segura posible, la acción que en esa situación es la que, utilitaristamente, se
debe realizar. Tampoco dice nada en concreto acerca de la cuestión de cuáles son
los principios sostenibles de moral positiva, aquellos que están interiorizados y
sustentados por la sociedad como principios conductores de nuestro quehacer
cotidiano.30
teoria ética. Quer dizer que este é o método de discussão que todos devem interiorizar e,
positiva pode, pois, ser compatível com o utilitarismo. Entretanto, o mesmo não ocorre em
termos de ética teórica, uma vez que o utilitarismo implica negar a assimetria. Eis, assim, o
que permite Pontara afirmar que existe obrigação moral desta geração para com as gerações
futuras.
também refletir acerca da função do agir responsável. Com isso, não se está buscando uma
solução pautada no biocentrismo. O que se defende é o equilíbrio que serve para dar sentido à
natureza em si mesma. Talvez isto nos permita rever o conceito de dominação e, mais
especificamente, o de dominação da Natureza. E por que fazer isto? Porque este termo foi tão
Diante disso tudo fica a questão: o que fazer? Para este problema existe pelo menos
duas respostas: uma consiste em afirmar que existe obrigação moral para com as gerações que
30 Assim interpretado, o utilitarismo nada diz acerca do processo de decisão que se deve aplicar, ou as
operações mentais que é necessário levar a cabo, em situações concretas de escolha, a fim de idetificar, a
maneira humanamente mais segura possível, a ação que nessa situação é a que, utilitaristicamente, se deve
realizar. Tampouco diz nada de concreto acerca da questão e quais são os princípios sustentáveis da moral
positiva, aqueles que estão interiorizados e sustentados pela sociedade como princípios condutores de nosso
que fazer cotidiano.
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existirão num futuro remoto. A outra seria negar a existência de tal obrigação. Contudo,
independente da resposta que se queira dar, ou enquanto se busca uma resposta razoável,
necessário se faz que as ações humanas sejam guiadas pelo princípio da responsabilidade.
Vale ressaltar que um estudo mais detalhado sobre este princípio será realizado no capítulo
quarto deste trabalho. Por agora basta ter a consciência de que o agir responsável é a
mecanismos para garantir tanto a sua qualidade de vida como também das gerações futuras.
56
projeto de construção da represa deve ou não ser aprovado? Quais os interesses que devem ser
forte tendência a se decidir favoravelmente sobre projetos desta natureza. Isso ocorre porque o
principalmente, pela necessidade de se abrir, cada vez mais, postos de trabalho, pois, tão
solução para os problemas sociais decorrentes, na maioria dos casos, da falta de trabalho.32
31 O fato acima descrito aconteceu em 1976, no rio Franklin, localizado no sudoeste da Tasmânia, uma ilha
pertencente a Austrália, onde havia a possibilidade de construção de uma represa hidrolétrica. Vale ressaltar
que foram alterados, deliberadamente, pelo autor alguns pormenores, por isso este pode ser considerado
como um caso hipotético.
32 A questão do trabalho é tão forte que até os poetas não a desprezaram. Sobre isso assim diz Gonzaguinha:
“um homem se humilha; se castram seu sonho; seu sonho é sua vida; e a vida é trabalho; e sem o seu trabalho
um homem não tem honra; e sem a sua honra se morre, se mata; não dá pra ser feliz” (1995, Guerreiro
menino. O Talento de Gonzaguinha).
57
projeto irá aumentar a oferta de postos de trabalho, bem como a renda per capita do Estado,
por outro os danos ambientais podem ser irreversíveis, uma vez que tais ganhos – empregos,
prima – são ganhos a curto prazo. Ademais, “é provável que os benefícios só perdurem por
uma ou duas gerações; depois disso, uma nova tecnologia fará com que esses métodos de
geração de energia se tornem obsoletos” (SINGER, 1993, p. 284). Assim, se a represa tivesse
sido construída por que os danos causados seriam irrelevantes? Porque as perdas atingiriam
direta ou indiretamente não somente as espécies existentes no vale, mas também os seres
humanos que existirão no futuro próximo, acarretando, pois, perdas irreversíveis para as
gerações futuras.
A idéia de irreversibilidade advoga a tese de que, uma vez inundada a floresta ali
existente, o equilíbrio ambiental correria o risco de se perder para sempre, isto porque as
técnicas de reflorestamento, por mais eficientes que sejam, não seriam capazes de tornar
aquela área tal como era no passado. Portanto, este é um preço que todos, inclusive as
gerações futuras, terão que pagar caso não se mude a forma de se tratar a Natureza. É preciso
olhar a natureza não mais como se olha para uma simples fotografia. Do que se conclui, que
tal ecossistema deve ser preservado, porque do contrário se estará privando as gerações
futuras de desfrutarem o prazer de apreciar a plenitude estética que a floresta possui. Esta é
O fato é que formação política e cultural predominante no ocidente não tem sido capaz
muitas vezes só há medidas pontuais e imediatas. “Isso não se deve a nenhuma incerteza
sobre a existência, ou não, de seres humanos ou outras criaturas sencientes habitando este
dinheiro investido hoje” (SINGER, 1993 p. 285). Ainda que fosse possível aplicar os recursos
materialmente tal fato, pois os ganhos advindos desta atividade não são suficientes para
comprá-la novamente.
A partir do estudo deste caso, pode-se notar quão grande é o desafio da filosofia moral
contemporânea. Pode-se, com isso, indagar: quais interesses são mais relevantes? Dos que
hoje necessitam de trabalho ou daqueles que sequer terão o direito de usufruir de um meio
ambiente equilibrado? É relevante ressaltar que o problema que orienta este trabalho não está,
simplesmente, na esfera do que fazer ou não fazer, mas, sim em se decidir pelo o que é certo e
o que é errado. Acreditamos, como muitos autores, que a saída seria a universalização de
alguns princípios morais. É na busca da universalização destes princípios morais que consiste
ultrapassar a barreira que separa o “eu” do “outro”. Isto seria o mesmo que dizer que o
compromisso que temos em relação às gerações futuras deve ser desprovido de todo e
qualquer egoísmo. Este é um desafio importante, uma vez que não existe nada que justifique a
defendida por Peter Singer: “não existe nenhuma razão logicamente imperiosa que nos force a
pressupor que uma diferença de capacidade entre duas pessoas justifique uma diferença na
primeira diz respeito à definição do termo interesse como sendo qualquer coisa que as pessoas
desejem. Excluem-se aqui aqueles desejos que são incompatíveis com outros desejos33. A
espécie humana. Pessoa é todo ser que tem consciência de si próprio. Baseado nesta definição,
Singer (1993, p.119) afirma que existem razões para se sustentar que tirar a vida de uma
pessoa constitui um erro muito mais grave do que tirar a de um ser que não é pessoa.
Ainda segundo este autor, uma pessoa é todo animal que tem autoconsciência, isto é,
que tem consciência de si próprio como ser distinto e que tem um passado e um futuro.
Tomando por base as pesquisas científicas, ele afirma que há fortes indícios de que alguns
animais não-humanos podem ser definidos como pessoa. E conclui mais adiante:
Um outro termo que merece destaque é a noção de igualdade. Este não significa,
necessariamente, um tratamento igualitário, isto é, não se trata de uma igualdade factual, mas
sim que o interesse de todos os diferentes seres vivos deve ser levado igualmente em
consideração. Com efeito, em qualquer deliberação moral deve-se atribuir o mesmo valor aos
Porém, dentre todos os interesses o de não sentir dor é, seguramente, o mais relevante, porque
a dor opõe-se ao prazer. Este último, para o neo-utilitaristarismo, é o que dá sentido à vida.
Entretanto, sabe-se que jamais se poderá sentir a dor do outro, pois, sendo ela uma sensação
de ordem subjetiva não há como mensurá-la nem, tampouco, como experimentá-la em seu
lugar. Acredita-se que a única coisa possível de se fazer é priorizar os interesses iguais em não
sentir dor. Isto poderia ser realizado, por exemplo, a partir de um diagnóstico médico, na
medida em que este profissional é quem detém os parâmetros necessários para presumir quem
Levando-se em conta esta idéia, pode-se afirmar que, na prática, o princípio da igual
consideração de interesses garante o direito de que todas as pessoas tenham, por exemplo,
assegurado o acesso aos serviços de saúde pública. Diante disso é correto dizer que não se
pode, sob hipótese alguma, considerar mais a doença de um indivíduo X do que a doença de
um outro Y, ainda que X tenha um poder aquisitivo maior. Assim o direito de acesso aos
serviços de saúde pública deve ser garantido para ambos, mas não nas mesmas proporções. O
que se quer dizer com isso é que se, por exemplo, X e Y encontram-se diante da necessidade
de fazer um dado exame, mas os serviços de saúde pública só têm condições de atender a uma
única pessoa, nesse caso o indivíduo Y deve ter a preferência. Quanto a X este deverá
procurar um serviço privado de saúde, uma vez que está em melhores condições financeiras.
Com este exemplo pretende-se mostrar que o neo-utilitarismo, conforme propõe Singer,
se não é a solução mais plausível, pelo menos se afigura como um caminho que satisfaz
palavras deste autor, “a posição utilitária é a oposição mínima, uma base inicial que
2002, p. 36).
Considerando ainda o interesse pelo alívio da dor, como então se daria a aplicação do
princípio neo-utilitarista que ora se analisa numa situação em que se tem duas vítimas? Por
exemplo uma – vítima A – tem a perna esmagada e encontra-se agonizante; por sua vez a
61
outra – vítima B – tem um ferimento na coxa e sente um pouco de dor. Para aliviar a dor de
ambas as vítimas só existem duas doses de morfina. Diante de tal situação, o problema que se
coloca consiste em: como deve ser o procedimento de quem assiste às vítimas?
duas delas. Uma leva em conta o princípio da igualdade simples, o qual considera que a
atitude mais coerente é dar uma dose de morfina para cada vítima. Isto aliviaria
completamente a dor da vítima B, já que sua dor não é tão grande, porém isto não é o
Entretanto, antes de apresentar a solução fundada neste princípio, vale destacar que, segundo
Peter Singer (1993), este é um princípio mínimo de igualdade, porque não impõe um
tratamento igual às partes. Percebe-se que neste princípio encontra-se oculto um outro
princípio, o qual considera mais importante evitar sempre o pior. No exemplo acima,
considera-se pior o fato que uma vítima fique com uma dor, supostamente maior do que a
outra. Considerando que é o prazer que faz a vida ser desejável, se conclui, portanto, que
vivemos em busca do prazer, claro que não se trata do prazer pelo prazer. Fala-se do prazer de
ler um bom livro, de ouvir uma boa música, das calorosas relações pessoais, das boas
conversas, de apreciar lugares naturais não devastados e muitas outras formas de prazer que
correta é dar as duas doses de morfina para a vítima A, uma vez que desta forma o grau de
Com isto fica claro que tal princípio tem por objetivo levar as pessoas a ponderarem,
imparcialmente, decidir sobre os interesses que estão em jogo. Não obstante, é necessário
frisar que a melhor forma de se fazer isto é através do uso da prudência para favorecer o lado
62
em que o interesse em não sentir dor, isto é, o prazer é mais forte, bem como levar em
Retornando para o estudo de caso apresentado no inicio deste capítulo, observa-se que
Singer (1993) defende o ponto de vista que nos cálculos referentes a decisão de se construir,
ou não, a represa, deve-se considerar, também, os interesses dos animais que vivem naquele
vale. De fato, para este autor, não se deve atribuir uma menor importância ao sofrimento
a diferença entre provocar a morte de uma pessoa e de um ser que não é uma
pessoa não significa que a morte de um animal que não é uma pessoa deve ser
tratada como coisa de menor importância. Pelo contrário, os utilitaristas levarão
em conta a perda que a morte inflige aos animais – a perda de toda a sua futura
existência e das experiências que teriam feito parte de suas vidas futuras (Singer,
1993, p. 291).
Este argumento abre espaço para a discussão sobre a importância da vida dos animais,
bem como leva a refletir, mais profundamente, sobre o respeito que se deve ter pela vida de
modo geral. Inicialmente, o problema a ser discutido é: quais são os seres que devem ser
Acerca disso, nota-se que o neo-utilitarismo responde a questão de forma parcial, uma
vez que somente leva em conta os interesses dos animais sejam eles humanos ou não-
interesses dos vegetais, assim como dos seres não vivos, isto é, dos seres inanimados. A
justificativa que dá para tal posição está na dificuldade em se definir parâmetros científicos
que comprovem se os vegetais possuem consciência de si próprio, pois este é um dos atributos
que o primeiro dá um grande passo ao incluir no campo de suas considerações morais todos
os seres humanos e não-humanos. Quanto a estes últimos, é importante frisar que apenas
63
serão levados em consideração os interesses daqueles que puderem ser definidos como
pessoas.
Trazer a discussão ética para além dos seres sencientes não é, com toda certeza, uma
tarefa muito fácil. Principalmente porque, até o momento, não se tem parâmetros seguros para
se estabelecer critérios morais capazes de definir se há interesse por parte dos seres
sencientes. É por isso que a resposta para a pergunta “o que é morrer para uma árvore?” é,
praticamente, impossível de ser dada. Todavia, acredita-se que mesmo diante deste obstáculo
não se pode deixar os vegetais aquém das considerações morais. Se assim não for, fica
evidente que o valor da vida está no tipo de vida que se tem, ou, ainda, no modo de se viver.
Desta forma, se por um lado é impossível saber o que sente uma árvore quando suas
raízes estão se afogando, por outro se imagina qual é a sensação de se morrer afogado. Então,
como é possível afirmar que os vegetais não sentem, uma vez que não se sabe o que é ser um
vegetal? Este é o nó que as concepções éticas, ainda, não conseguiram desatar, por isso
encontrar a resposta pode ser a chave para resolver boa parte dos conflitos socioambientais da
atualidade. Não obstante, faz-se necessário entender qual é a origem do distanciamento entre a
com o surgimento da tradição hebraica e, mais tarde, com o advento da civilização grega, os
seres humanos foram colocados no centro do universo moral. O livro do Gênesis assim narra:
E (por fim) disse: façamos o homem à nossa imagem e semelhança, e presida aos
peixes do mar, e ás aves do céu, e aos animais selváticos, e a toda a terra, e a todos
os répteis, que se movem sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem;
criou-o à imagem de Deus, e criou-os varão e fêmea. E Deus os abençoou, e disse:
crescei e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a , e dominai sobre os peixes do
mar e sobre as aves do céu, e sobre todos os animais que se movem sobre a terra
(Gen 1, 26-28).
valor que a natureza tem para o homem desde o inicio de sua história é um valor instrumental.
Todavia, a tradição ocidental, berço da ética antropocêntrica, por mais esdrúxulo que possa
parecer, não exclui a preocupação com a preservação da natureza desde que esta esteja
Deus concedeu aos seres humanos o domínio sobre o mundo natural, e a Deus não
importa como nós o tratamos. Os seres humanos são os únicos membros
moralmente importantes deste mundo. A própria natureza carece de valor
intrínseco, e a destruição das plantas e dos animais não pode ser um pecado, exceto
se nessa destruição forem prejudicados os seres humanos (2002, p. 121).
diferença uma discriminação, uma desigualdade. Isto significa romper as correntes da ética
antropocêntrica. Significa, também, abrir caminhos para uma nova forma de olhar o mundo.
Ou seja, balizar os juízos morais não em função do valor instrumental 34 que os seres,
porventura, possuam, mas pela responsabilidade para com as gerações que viverão tanto num
Até hoje a justificativa que se tem para não atribuir valor intrínseco às plantas está na
seres. É neste contexto que surge a corrente denominada ecologia profunda35 que entende que
há uma estreita inter-relação do homem com a Terra e, por conseguinte, com os animais e os
Segundo Singer (2002), o maior problema não está em atribuir valores para além da
espécie humana ou, ainda, para além dos seres sencientes. Para ele a questão consiste em
34 O valor instrumental – aquele que tem valor como meio para a aquisição de algum objetivo ou fim – se
contrapõe ao valor intrínseco que é o valor em si mesmo. Assim, o valor de uma coisa não é dado em função
de sua utilidade, mas porque ela é boa e desejável.
35 Concepção ética formulada por volta de 1950 pelo ecologista norte-americano Aldo Leopold que tem o seu
fundamento centrado numa forma de igualitarismo biocêntrico, isto é, para os ecologistas profundo todos os
seres vivos, independentemente, de sua forma de vida, têm um valor em si mesmo.
65
como é possível atribuir algum valor sem levar em conta os juízos humanos? Em rápidas
palavras, pode-se dizer que a divergência máxima que existe entre a concepção neo-utilitarista
e a ecologia profunda é, justamente, o fato de a primeira emitir seus juízos morais com base
das coisas.
vida em si mesma e não os indivíduos que têm vida. De acordo com Leopold, citado por
Singer (2002, p. 134), “uma coisa é certa quando tende a preservar a integridade, a
estabilidade e a beleza da comunidade biótica. É errada quando tem a tendência oposta”. Para
Singer, esta afirmação não é suficiente para provar que os seres sencientes possuem um valor
suponha-se que uma área relativamente preservada fôra considerada, pelo poder público,
como propícia para a construção de um conjunto de casas populares. Para tanto, a primeira
etapa passa pela “limpeza” da área. Assim, autorizou-se o corte das espécies ali existentes
dentre as quais encontra-se um exemplar de gameleira com mais de 600 anos de idade, a qual
ocupa metade da área em questão devido a expansão de suas raízes aéreas e uma jovem
cactáceas. Diante destas possibilidades, fica logo evidente a questão ecológica que o
empreendimento agrega, ou seja, qual das duas espécies deve ser preservada? Ou então, qual
das duas espécies, a gameleira ou a colônia de cactáceas, tem maior interesse em se manter
viva?
Eis algo difícil de se responder, porque não existe parâmetro algum que balize
quaisquer juízos desta natureza. Provavelmente, a maioria das pessoas optariam pela
preservação da gameleira, mas seja qual for a escolha, ela sempre será feita com base em
66
longo tempo de vida. Nada mais natural, uma vez que os humanos pensam, agem e julgam
com base em suas experiências. Mais precisamente, pode-se afirmar que isto ocorre porque
todos os seus juízos morais só podem levar em conta a única perspectiva que conhece, ou
seja, a dos seres humanos. É por isso que, neste exemplo ou em qualquer outra situação
semelhante, seja qual for a escolha que se fizer, esta sempre será baseada nos sentimentos
humanos porque não há como saber o que é desejável para uma planta. Até o momento, o
máximo que se consegue é detectar alguns tipos de sensações como, por exemplo, “medo” em
no que diz respeito ao argumento defendido pela ecologia profunda, assim conclui:
Se a base filosófica para uma ética da ecologia profunda é difícil de ser sustentada,
isso não significa que o argumento em favor da preservação da floresta não seja
forte. Tudo o que significa é que um tipo de argumento – o argumento que afirma o
valor intrínseco das plantas, das espécies ou dos ecossistemas é, na melhor
hipótese, problemático. Pisaremos terreno mais seguro se nos limitarmos à
argumentação fundamentada nos interesses das criaturas sencientes, presentes e
futuras, humanas e não-humanas. Na minha opinião os argumentos que têm por
base os interesses dos seres humanos presentes e futuros, e os interesses dos não-
humanos sencientes que habitam a floresta são suficientes para mostrar que, pelo
menos numa sociedade onde ninguém precisa destruir a floresta para sobreviver, o
valor da preservação do que resta das áreas significativas da mata ultrapassa em
muito o valor do que se ganha em troca de sua destruição (SINGER, 2002, p. 136).
Nesse caso, os valores ambientais serão construídos a partir da necessidade que os seres
predação irrestrita que vem sofrendo o meio natural. Deste modo, o valor de uma floresta não
está em si mesma, mas na sua condição de ser insubstituível. Isto quer dizer que, quanto mais
raros forem os resquícios de florestas, mais valor um fragmento terá. De certa forma este
status tem contribuído para o avanço das políticas públicas36 voltadas para a questão
36 Sobre isso chamamos a atenção para a rica legislação ambiental brasileira. Entretanto, uma boa legislação
não é o bastante para a solução da questão ambiental. É preciso criar as bases para a construção de uma ética
que possibilite às gerações futuras o direito de usufruir o meio ambiente equilibrado e, em última instância,
67
ambiental, haja vista o crescente número de parques nacionais criados em quase todas as
tanto aspectos positivos quanto negativos. Como aspecto negativo pode-se citar o processo de
aculturamento pelo qual a humanidade vem passando, em que a cultura do mais forte tende a
problemas ambientais de âmbito mais global como as emissões de gazes nocivos à camada de
outros que juntos vêm ocupando técnicos, políticos, educadores, filósofos dentre outros na
busca por soluções comuns para a questão ambiental. Contudo, tais soluções devem ser, no
foram dados com a criação de instituições internacionais, muito embora ainda incipientes e
pouco eficientes, pois não vêm cumprindo os objetivos propostos, dos quais destaca-se: o
Protocolo de Kyoto, ratificado por um grande número de países; no campo da economia surge
Observa-se que o pano de fundo de todas essas iniciativas é o reconhecimento de que há uma
Não é demais reafirmar que diante destas questões se faz necessário desenvolver um
ambiental. O maior desafio a ser enfrentado diz respeito a formulação e, sobretudo, à adoção
de uma ética ambiental por parte dos agentes produtivos que seja compatível com a idéia de
necessidade de se preservar o meio ambiente. Para tanto, uma avaliação criteriosa nos padrões
de consumo é inevitável, pois, é esta avaliação que levará a preferir um estilo de vida que
diminua as agressões ao meio ambiente. Ressalta-se que, caso isso não aconteça, corre-se o
risco de investir recursos financeiros em projetos para a preservação sem antes, contudo,
Singer (1993) afirma que para enfrentar a crise ambiental não é preciso descartar o
prazer, pois, como já foi dito, é ele que dá sentido à vida. Não obstante, o prazer a que ele se
refere é aquele em que a centralidade da vida ética deve ser ocupada pela liberdade e pela
igualdade de oportunidades oferecidas para todos, inclusive para as gerações futuras. Chama-
se a atenção para o fato de que não se pode exercer um tipo de liberdade que não leva em
conta os outros e os possíveis danos à natureza, uma vez que, certamente, tais prejuízos
afetarão a todos.
Uma ética para ser ambiental deve ser erigida, sobretudo, a partir de um princípio de
justiça mínima, o qual deve determinar que todos tenham a oportunidade de se realizar como
pessoas e seres sociais, exigindo, por isso, uma participação eqüitativa e adequada dos bens
naturais, culturais e tecnológicos. O advento de uma ética desta natureza se impõe em face das
gerações futuras que, certamente, têm o direito de receber o ambiente, senão melhor, pelo
menos igual ao recebido por esta geração, ou seja, com uma atmosfera pura e com os recursos
hídricos em condições de uso.Por fim, se a construção de uma tal ética é possível, ainda não
dá para responder. Por agora basta entender o porquê de a humanidade ter chegado a este
Os séculos XV e XVI são famosos pelas viagens de descobertas que provaram que a
Terra era redonda. O século XVIII assistiu às primeiras proclamações dos direitos
humanos universais. No século XX, a conquista do espaço tornou possível que um
ser humano olhasse para o nosso planeta a partir de um ponto a ele exterior e o
visse, literalmente, como um só mundo. O século XXI vê-se agora a braços com a
tarefa de desenvolver uma forma adequada de governação desse mundo único. É
um desafio moral e intelectual assustador, mas não se pode voltar-lhe as costas. O
futuro do mundo depende da forma como o enfrentamos.
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necessidade de se pensar acerca de qual Planeta as gerações futuras herdarão de nós. É neste
contexto que se insere o pensamento do filósofo alemão Hans Jonas (1903-1993), o qual visa
criação de uma ética voltada para a civilização tecnológica e suas repercussões sobre a vida
dos indivíduos. A ética da responsabilidade, como ficou conhecida a sua proposta, tem a
Para este filósofo, a ação do homem contemporâneo representa uma séria ameaça à
permanência da vida na Terra, pois suas ações deletérias tendem a alterar a essência do
humano e, até mesmo, colocar em risco a sua existência. Segundo Jonas, é necessário
modificar o presente cenário. Para tanto, indica o caminho que consiste em restabelecer a
relação entre a ética e a ontologia a fim de que também se possa repensar a relação homem-
Natureza. Jonas considera que para o homem moderno a Natureza está submetida a ciclos e
trocas contínuas, sendo, por isso, capaz de recuperar infinitamente os danos sofridos pela ação
humana. Entretanto, esta mesma Natureza tem dado sinais de que seu funcionamento não
obedece a essa lógica, haja vista os problemas ambientais gerados justamente pela
entre corpo e alma, essência e aparência, pensamento e mundo. Tais dicotomias tornaram
ainda mais difícil a relação do homem com o meio natural, em razão da apartação promovida
entre os indivíduos e o mundo. Isso ensejou uma ideologia do progresso, baseada no domínio
70
e exploração dos recursos naturais, cujas repercussões sobre os ecossistemas tornaram-se cada
vez mais graves ao longo do tempo. Um reflexo dessa crescente ameaça pode ser observado
quando se constata a inflação de leis ambientais visando a preservação dos recursos naturais
melhor do que a sua inexistência. Porém, esse arsenal legislativo não tem sido suficiente para
O fato é que a promessa redentora feita, inicialmente, pelas tecnologias e suas variadas
do homem no planeta. Ou seja, o que era uma conquista da humanidade tornou-se pouco a
pouco em motivo de medo e inquietude. É certo que o problema não pode ser atribuído à
tecnociência, mas ao emprego deletério que se faz dela. Com isso, fica claro o fato de que o
uso inapropriado da técnica tem criado um grande mal-estar na humanidade. A questão que se
impõe a todos nós é a seguinte: como criar mecanismos capazes de evitar a desmesura, isto é,
A fim de aportar respostas ao problema, Jonas (1995) afirma que é preciso ultrapassar a
ética da prudência em direção a uma ética do respeito a todos os seres vivos. Para ele, as
Aristóteles e Kant -, pois consideram apenas as relações do homem com o próprio homem,
Jonas (1995) reconhece que não é uma tarefa muito fácil a de justificar, teoricamente, o
religião, o que não é considerado moralmente válido, pois pressupõe a existência de fé. Sendo
assim, a possibilidade ou não justificar um tal direito não é o que mais importa aqui. O cerne
38 Esta necessidade advém do fato de que a preservação da Natureza não é uma coisa boa em si mesma, isto é,
não tem o seu valor intrínseco reconhecido. Daí a necessidade de torná-la boa senão pelo seu valor intrínseco
pelo menos por sua viabilidade em função do ser humano.
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da questão é reconhecer pragmaticamente a obrigação que esta geração tem para com as
gerações futuras. Desta forma, a justificativa é dada como um axioma. Logo, sem exigência e,
Dentre as concepções éticas, Jonas (1995) elege a kantiana como ponto de partida para
proposta destes dois filósofos que consiste, principalmente, na direção apontada pelos
Em Kant, uma ação será moral se for motivada pela boa vontade e, portanto, desprovida
de interesse. Ela não é boa por aquilo que promove ou realiza, não é boa por sua utilidade,
mas é boa em si mesma. A boa vontade é aquela cujo móvel da ação está assentado na lei
moral, como princípio instituído pela razão. Como isso, Kant nega o valor de uma moral
razão. Por fim, o verdadeiro interesse da razão é produzir a boa vontade que encontra um fim
tudo na natureza age segundo leis. Só um ser racional tem a capacidade de agir
segundo a representação das leis, isto é, segundo princípios, ou: só ele tem uma
vontade. Como para derivar as ações das leis é necessária a razão, a vontade não é
outra coisa senão razão prática. Se a razão determina infalivelmente a vontade, as
ações de um tal ser, que são conhecidas como objetivamente necessárias, são
também subjetivamente necessárias, isto é, a vontade é a faculdade de escolher só
aquilo que a razão, independentemente da inclinação, reconhece como
praticamente necessário, quer dizer, como bom.
Para Kant, a razão é necessária para realizar o fim incondicionado da existência, ou seja,
a boa vontade. Desta forma, uma ação somente será moral se for realizada por dever e não por
inclinação. Para ter um valor moral a ação deve ser não somente conforme ao dever, mas deve
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ser realizada por dever. Logo, uma ação realizada por dever tira seu valor moral não do
objetivo que deve ser atingido com ela, mas da lei a partir da qual ela é realizada.
Sendo assim, se a vontade for determinada pelos princípios formais que são sempre
dados pela razão pura prática, então a ação terá sido praticada por dever e, por isso, a ação
será considerada moral. Com efeito, é do dever que emana a necessidade de realizar uma ação
por respeito39 à lei moral que tem valor necessário e universal para todos os seres racionais.
Esta afirmação suscita a questão: de onde vem esta absoluta necessidade? A resposta kantiana
Jonas, por sua vez, (1995, p. 39) observa, por exemplo, que a ação de que trata o
imperativo categórico kantiano precisa ser pensada sem contradição com a prática universal.
Coisa que não ocorre na formulação kantiana, pois o pode invocado no referido imperativo é
oriundo de fato da razão e não da prática universal da comunidade. Observa ainda que, neste
mesmo imperativo, a “reflexión fundamental de la moral no es ella misma moral, sino lógica;
humanidade deixe de existir, tampouco na idéia de que a felicidade das gerações presentes e
próximas deva custar a infelicidade das gerações futuras ou, até mesmo, a sua inexistência e
vice-versa. A felicidade das gerações futuras não deve advir da infelicidade das gerações
para Jonas (1995, p. 40), não implica de modo algum numa contradição racional. Pois,
segundo ele
puedo querer el bien actual sacrificando el bien futuro. De igual manera que puedo
querer mi propio final, así también puedo querer el de la humanidad. Sin incurrir
en contradicción alguna conmigo mismo puedo preferir tanto para mí como para la
que nos es lícito, en efecto, arriesgar nuestra vida, pero que no nos es lícito
arriesgar la vida de la humanidad; que Aquiles tenía sin duda derecho a elegir
para sí una efímera vida de hazañas gloriosas antes de una larga vida segura y sin
fama (con la suposición tácita, claro está, de que habrá una posteridad que sabrá
contar sus hazañas), pero que nosotros no tenemos derecho a elegir y ni siquiera a
arriesgar el no ser de las generaciones futuras por causa del ser de la actual
(JONAS, 1995, p. 40)42.
Retomando, vale frisar que a idéia central de Jonas (1995) é fundar uma ética para a
categórico kantiano, seu imperativo visa as conseqüências reais e objetivas das ações
praticadas. A crítica que faz à ética kantiana nada tem a ver com sua validade senão com a sua
“obra de tal modo que los efectos de tu acción sean compatibles con la permanencia de una
vida humana auténtica en la Tierra”43; ou na forma negativa: “obra de tal modo que los efectos
Tierra”45; e, mais uma vez formulado de modo positivo: “incluye en tu elección presente,
41 Posso querer o bem atual sacrificando o bem futuro. De igual maneira que posso quer o meu próprio final,
assim também posso quer o da humanidade. Sem incorrer em contradição alguma comigo mesmo posso
preferir para mim como para a humanidade um rápido relâmpago de extrema plenitude do que o tédio de uma
infinita permanência na mediocridade.
42 Que é lícito de fato arriscar nossa vida, porém não nos é lícito arriscar a vida da humanidade; que Aquiles
tinha sem dúvida direto a escolher para si uma efêmera vida de façanhas gloriosas a uma vasta e segura e sem
fama (com a clara e tácita suposição que haverá uma posteriadade que contar suas façanhas), porém nós não
temos direito de escolher e nem sequer ariscar o não-ser das gerações futuras por causa do ser da atual.
43 Aja de tal modo que os efeitos de tua ação sejam compatíveis com a permanência da vida humana na Terra.
44 Aja de modo que os efeitos de tua ação não sejam destrutivos para a futura possibilidade de vida.
45 Não ponha em perigo as condições da continuidade indefinida da humanidade na Terra.
46 Inclui em tuas escolhas atuais, como objeto também de teu querer, a integridade futura do homem.
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O alvo que Jonas quer atingir é o agir humano, bem como questionar o alcance das
implicações que a relação do homem com o mundo tecnológico tem ocasionado para o meio
ambiente. Vale lembrar que as terríveis conseqüências geradas por essa relação são oriundas
do tecnicismo e do mau emprego da razão instrumental. Para corrigir tais equívocos, diz ele, é
necessário começar pela inversão do modelo de produção ora adotado. Ou seja, é preciso que
o ser humano se volte para a Natureza com um olhar mais integral o que, acredita-se, dará a
extremamente relevante, do ponto de vista ético, reconhecer que este princípio tem como
essência solucionar questões relativas aos problemas atuais e ao futuro da existência humana
na Terra. Isso significa que, ou a humanidade assume sua responsabilidade diante dos
problemas socioambientais ou, então, corre o sério risco de vir a sucumbir frente à vertiginosa
É por isso que Jonas (1995) chama a atenção para a necessidade de se reencontrar o
ideal grego de medida ou temperança que vincula a ética à idéia de limite, moderação e
contenção. Seu projeto é ampliar o papel das éticas tradicionais aliando-o às virtualidades da
extensão causal do agir humano coletivo atual. No mundo contemporâneo, diz Jonas, os
indivíduos têm se mostrado pouco atentos para as conseqüências do seu fazer, pois disto
decorre o bem-estar das gerações vindouras. Segundo o referido autor, faz-se necessário que
cada indivíduo assuma a responsabilidade moral de construir uma civilização planetária. Tal
iniciativa deve, todavia, estar balizada pelas políticas de Estado que visem a preservação dos
recursos naturais e o respeito à vida em suas diferentes formas de expressão. Segundo Jonas,
subsunção do próprio homem aos objetivos da técnica. A técnica moderna equipa o agir
o meio no qual se insere. Sabe-se que essa intervenção produziu grandes modificações na
O avanço tecnológico, segundo Jonas (1995), traz consigo uma espécie de dinamismo
utópico, que engendra cada vez mais a distância entre os desejos cotidianos e fins últimos,
estratégico.
Segundo Jonas (1995, p. 56), uma ética da responsabilidade para com as gerações
futuras se faz necessária em razão de dois motivos essenciais. Um exige “una nueva ética de
también – precisamente en nombre de esa responsabilidad – una nueva clase de humildad” 48.
O outro diz respeito a “duda sobre la capacidad del gobierno representativo para responder
dúvida existe porque os governos, até então, têm considerado apenas os interesses imediatos
de política pública não se sustenta mais diante da questão ambiental que vem corrigir os
47 A previsão do governante consiste na sabedoria e na cortesia que aplica ao presente. Este não está aí como
simples via para um futuro distinto, senão que, em caso favorável, se conserva num semelhante futuro, e há
de estar tão justificado em si mesmo como este. A duração se produz como uma conseqüência melhor agora
que em qualquer época. Certamente, a extensão temporal do efeito e a responsabilidade são maiores na ação
política que na privada, porém sua ética é, na concepção pré-moderna uma ética orientada para o presente,
aplicada a uma ordem de vida de maior duração.
48 Uma nova ética de mais ampla responsabilidade, proporcional ao alcance de nosso poder, então exige
também – precisamente em nome dessa responsabilidade – um novo tipo de humildade.
49 A dúvida sobre a capacidde do governo representativo para responder adequadamente com seus princípios e
procedimentos habitais às novas exigências.
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Por detrás de tudo isso sobressai a questão: “¿Qué fuerza debe representar al futuro en
el presente?” Para Jonas (1995, p.57) este é um problema que deve ser respondido pela
filosofia política, entretanto, antes disso, é preciso enfrentar a seguinte questão: que valores
devem orientar nossa relação com o mundo natural? Como é possível coadunar a marcha
irrefreável do progresso material com uma consciência ecológica planetária? Que tipo de
ethos podemos instituir para reger hoje nossa ação sobre a physis? Eis alguns dos dilemas
industrial.
50 Que considera sobretudo os valores associados à qualidade de vida, o prazer estético, o desenvolvimento
intelectual e as necessidades afetivas através da reconstrução e preservação do ambiente.
77
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
naturalmente, não têm nenhuma relação com os problemas ambientais da forma como a
humanidade os vive atualmente. A questão ambiental não está dissociada do modo como o
homem compreende seu habitat e age sobre a natureza. Ela também traz em si as marcas do
natureza, considerando esta como algo exterior ao sujeito, sendo-lhe, pois, também
enquanto o mundo natural irá representar a esfera da objetividade. É esta postura que norteará
a idéia, cultivada nos séculos seguintes, segundo a qual compete ao homem dominar e
manipular a Natureza.
conhecimento nós últimos 400 anos. Sem dúvida, que este foi um grande ganho para a
melhoria da vida dos indivíduos. Não obstante esse fato indiscutível, é sabido que o modelo
casos, colocado em risco o meio ambiente e a vida de muitos seres naturais. Diante disto,
convém questionar esse padrão de racionalidade, bem como os paradigmas teóricos que
impulsionaram e legitimaram o crescimento material da era moderna, uma vez que os mesmos
estavam quase sempre baseados na apropriação da Natureza e em sua utilização como meio
Diante dessas questões, uma pergunta ainda persiste: qual a idéia que temos hoje de
Natureza? Ora, como vimos, ao longo da história da humanidade este termo assumiu
diferentes conotações. Não se pode deixar também de considerar que esta noção traz consigo
uma tessitura metafísica, assim como também ocorre com outras noções como, por exemplo,
ser, essência, substância, Deus. Evidentemente que a simples reformulação dessas noções ou
a sua readequação aos valores do nosso tempo não parece ser suficiente para modificar a
postura que o homem tem tido em relação ao meio ambiente. Todavia, se passarmos a a
Natureza como algo finito, ou seja, como um fenômeno frágil e esgotável, talvez se possam
atenuar os crimes ambientais, coibindo a ação deletéria do homem sobre o ecossistema, pois
chamar de destino solidário, que Jonas (1995) fala de dignidade própria da Natureza.
Preservar a natureza significa também preservar o ser humano porque é com e nela que ele
vive. Não se pode dizer o que o homem é sem que se diga que a Natureza faz parte dele.
Diante desta constatação, é bastante razoável afirmar que dizer sim à Natureza significa uma
obrigação do ser humano para com ele próprio. O que o imperativo de Jonas propõe, com
efeito, não é apenas que existam homens depois de nós, mas precisamente que estes sejam
homens que defendam a humanidade e que habitem este planeta em harmonia com todo o
meio ambiente.
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modernidade o qual não deve, contudo, nos enredar numa dicotomia falaciosa entre direitos
humanos e direto do meio ambiente. Se a questão ambiental obriga o ser humano a redefinir o
seu papel em relação à Natureza, isso implica, por conseguinte, em reforçar sua atitude crítica
acerca de sua postura em face do meio ambiente. Quer dizer, a determinação de seu novo
papel fundamenta-se na responsabilidade humana para com as gerações futuras a fim de evitar
a desmesura do poder tecnológico. Até porque é esse poder que determina as atitudes e
valores antropocêntricos os quais têm apartado o homem dos demais seres do Planeta. Esta
dificuldade tem sua origem no fato de a filosofia, quase que exclusivamente, se preocupar
como faz Jonas (1995), não significa, todavia, aderir à idéia de ecologia profunda. Na
relação aos direitos humanos. Entretanto, pensar a responsabilidade para com as gerações
Porém, convém indagar: como afirmar um direito para um ser ainda não-existente como é o
caso das gerações futuras? Ademais, como esse outro ainda não-existente pode engendrar em
todos nós uma espécie de obrigação moral? Tais questões revelam a dificuldade dessa
postulação de direitos para seres em potencial. Os indivíduos atualmente não podem deixar de
reconhecer a necessidade de enfrentar essa questão, pois, de um lado está a geração atual
digna de direitos e deveres, e de outro as gerações futuras que merecem e têm o direito de
existir.
numa relação em que os direitos e os deveres não se originam de uma ética antropocêntrica,
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mas tão-somente do espontâneo desejo de cada um contribuir para com a existência das
futuras gerações. Assim, seu imperativo conclama a humanidade a pautar suas ações pela
necessário garantir as condições básicas para que o direito à felicidade e a uma vida
para que as gerações futuras possam existir num ambiente saudável, harmonioso, íntegro.
futuro para o Planeta se passarmos a agir com responsabilidade na relação que mantermos
responder às perguntas: Quem é responsável? Por quem? Por quê? Para Jonas, os adultos –
homens e mulheres das gerações atuais – têm a responsabilidade para com seus filhos e
responsabilidade à qual se refere Jonas (1995) implica num cuidado para com as futuras
gerações. Sendo assim, a postura responsável diante do mundo tornaria possível uma espécie
Pode-se responder à questão anterior, afirmando que os responsáveis são os seres humanos
frente a uma existência ameaçada. Vale ressaltar que a responsabilidade aqui descrita não está
voltada unicamente para a espécie humana. A responsabilidade por ele pensada é uma
consciência universal dos problemas e um engajamento conjunto visando a sua solução. Este
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