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de ferro mauá:
nos trilhos da história
estrada
de ferro mauá:
nos trilhos da história
Projeto realizado com apoio do Governo Federal, Ministério da Cultura, Lei de Incentivo à Cultura.
Patrocínio: MRS Logística S.A.
E43
El-Kareh, Almir Chaiban
Estrada de Ferro Mauá: nos trilhos da história / Almir Chaiban El-Kareh,
Eliane Salles.1.ed. – Rio de Janeiro: Oroboro, 2017. 176p.: il.; 26,5cm
ISBN 978-85-93718-00-7
CDD-385.098153(22.ed)
CDU-656.2(815.3)
C redita-se, ao escritor George Orwell, a autoria de uma das frases mais emblemá-
ticas para o movimento sindical internacional: “A história é escrita pelos ven-
cedores”, entendendo-se por vencedores os que saíram vitoriosos de guerras, os que
acumularam capital ou ainda aqueles que subjugaram seus opositores – ou os tra-
balhadores. Acreditamos que está na hora de a história ser contada por quem a fez!
Daí surgiu a ideia de pôr no papel, de registrar em um livro nossa história – e as-
sim preservar a memória das nossas ferrovias e da nossa trajetória, um caminho feito
de sangue, suor e lágrimas. De grandes perdas individuais, mas de ganhos coletivos
incomparáveis. De trazer à tona e tornar públicos os percalços de homens, de corpos
cansados e espíritos fortes. Gente tenaz, que construiu estradas, pontes, pontilhões,
estações, cortou rochas e montanhas e fez o que mais tivesse que ser feito, enfrentan-
do lamaçais doentios, jornadas extenuantes, feitores travestidos de chefes – e muitas
outras adversidades.
Começou aí então nossa segunda batalha: a luta pelos direitos dos trabalhadores.
Com nosso senso de união e companheirismo, fundamos o conceito de classe traba-
lhadora e de categoria neste país. E estendemos nossa luta e nosso apoio, durante todo
o século XX, às batalhas de companheiros de outras categorias.
Não poderíamos contar nossa história em um único livro. Mas decidimos começar
a contá-la pelo começo: pela Estrada de Ferro Mauá. Preservar sua história e sua
memória – e fazê-las chegar às novas gerações – é, para nós, reverenciar os que a cons-
truíram e até mesmo deram suas vidas por ela e a ela.
Por todos esses companheiros, é que estamos aqui, firmes e fortes, como a Estra-
da de Ferro Mauá, que, apesar de todos os esforços para destruí-la, é e sempre será
a primeira estrada que trilhamos, seguindo um caminho que só faz nos orgulhar de
sermos – e de sempre sermos – ferroviários.
Parabenizamos e agradecemos aos autores e à editora pelo trabalho. Que ele sirva
a seus jovens leitores para ampliar horizontes e abrir portas para um mundo de muito
trabalho, dedicação e de paixão pela ferrovia.
A EFM fez parte do trajeto, absolutamente refinado, visto hoje a distância, de ligar
o centro da cidade do Rio de Janeiro ao centro da cidade de Petrópolis, na serra flumi-
nense. Esse trajeto foi pensado por uma das figuras mais irrequietas do Brasil imperial,
o Visconde de Mauá, que investiu esforços e dinheiro na construção de um sistema
trimodal de transporte, composto por barcos, trens e carruagens. Os barcos cruzavam
a baía de Guanabara; os trens cruzavam a EFM; e as carruagens subiam a serra de
Petrópolis. Esse aspecto histórico da narrativa em torno do surgimento e desenvol-
vimento da EFM está contido na primeira parte do livro, “A máquina do progresso”,
escrita pelo historiador Almir C. El-Kareh, que nos apresenta um texto criativo, leve,
gostoso de ler, criado a partir de uma pesquisa que se concentrou em jornais da época.
Como dissemos, Estrada de Ferro Mauá: nos trilhos da história nasceu do desejo
de muitas pessoas. Em especial, da diretoria e dos trabalhadores do Sindicato dos
Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Central do Brasil, que conceberam
a ideia desta obra, da empresa MRS, que patrocinou o projeto, das palavras de Almir e
de Eliane. E de toda a nossa equipe, que tem a satisfação de apresentá-lo.
À minha mulher Eliane e à minha filha Anouk, que não me deixaram esmorecer aban-
donando o trem quando já chegava à estação final.
Introdução
Não por acaso, ainda menino partiu do Rio Grande do Sul para
a Corte, como era chamada a capital do Império, maior polo eco-
nômico do país. O Rio de Janeiro ao longo da primeira metade do
século XIX se tornara não só a maior e mais rica cidade brasileira,
como era também, e de longe, a que possuía a maior população
escrava de todas as Américas.
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1 – O autor optou pelo uso da expressão Estrada de Ferro de Mauá. No título e na segunda
parte do livro, adotou-se Estrada de Ferro Mauá, expressão mais coloquial utilizada atual-
mente por aqueles que falam sobre a EFM.
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PARTE I
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Era o fim daquele suplício de ser obrigado a encerrar-se, numa
noite quente e abafada de verão, entre as quatro paredes de uma
casa, verdadeira estufa. Agora, seria possível poder desfrutar as
caminhadas noturnas à beira-mar e no belo Passeio Público, e
frequentar até muito tarde os cafés, restaurantes e confeitarias,
pontos de encontro dos homens livres abastados, especialmen-
te após os espetáculos teatrais. E até mesmo o Carnaval de rua,
que apenas engatinhava, se beneficiou com a nova iluminação
pública. Os foliões, que em carruagens desfilavam fantasiados
à moda italiana dos corsos, puderam sair mais tarde, nas horas
mais frescas do cair da noite. E, ainda em 1855, ano do primeiro
desfile oficial da sociedade Congresso das Sumidades Carnava-
lescas, surgiu a ideia de um Carnaval “de pé no chão” no Passeio
Público iluminado à luz do gás:
Bailes mascarados no Passeio Público. Sr. Redator. –– A che-
gada do Carnaval e a notícia que corre de não haver bailes
mascarados este ano no teatro Provisório, e atendendo à in-
suficiência do teatro de São Pedro para admitir tanta gente,
sugeriu-nos [sic] a lembrança de ser aproveitado o Passeio Pú-
blico para tal fim nas noites de 17 a 20 do corrente (…) Ora, com
a iluminação a gás que hoje tem o Passeio e com as músicas
dos diversos corpos [militares] desta capital, pouco mais des-
pesa se faria com a decoração (…) O Abelhudo5.
Mas foi o último dia do mês de abril de 1854 que deixou a marca
mais indelével na memória dos cariocas, porque correspondia aos
anseios de toda a classe dirigente nacional: colocar o Brasil em con-
sonância com as nações mais adiantadas da Europa e com os Esta-
dos Unidos da América, ou seja, países sintonizados com os grandes
avanços científicos e industriais da época. As palavras de ordem eram
“civilização e progresso” e a inauguração da primeira estrada de ferro
brasileira simbolizava plenamente este slogan, pois o trem, com seus
vagões puxados por uma locomotiva que se autopropulsava pela for-
ça do vapor, era o que havia de mais moderno e revolucionário em
termos de conhecimento científico aplicado à indústria.
5 – Jornal do Commercio, Correspondência, 05/01/1855, p. 2.
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PARTE I
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PARTE I
portuguesa, por nós herdada, para saber que não houve nenhum
improviso. Tudo havia sido minuciosamente orquestrado e de
antemão aprovado pelo monarca brasileiro.
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14 – Idem.
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PARTE I
15 – Idem.
16 – Idem.
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PARTE I
A saída encontrada por sua mãe, jovem viúva, foi um novo ca-
samento. Então ela decidiu, como era comum na época, que seria
melhor enviar o pequeno Irineu com o seu tio José Batista de Car-
valho, capitão de longo curso, para o distante Rio de Janeiro. Ali
poderia empregar-se em alguma loja. Certamente, a capital do
Brasil, a maior e mais próspera cidade brasileira à época, ofere-
cia muito mais oportunidades de emprego do que a sua pequena
freguesia. Já, então, era muito comum que meninos da sua idade
de 10 anos viessem sozinhos de Portugal tentar a vida no comér-
cio, ou, como se dizia na época, viessem “fazer o Brasil”.
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Mas os anos 1840 não foram apenas marcados por uma forte
expansão econômica, social e demográfica. Foram anos também de
muita efervescência política, de revoluções que tiveram de ser apa-
ziguadas à custa de muitas despesas de guerra. O então ministro da
Fazenda, Alves Branco, propôs em 1844 um novo modelo econômico
para o país. De fato, ele estava preocupado mais que tudo com os
déficits financeiros do Estado, envolvido em gastos enormes com
a organização administrativa da monarquia, cada vez mais centra-
lizadora, que necessitava aumentar a presença do poder central nas
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A estação da Prainha
foi remodelada
para atender à
seleta clientela e
aparelhada com
um moderno cais
que avançava sobre
as águas da baía.
(MUSEU IMPERIAL/
IBRAM/MINC/
nºSGI-216/2017)
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transformações. Ainda naquele ano, contando com os lucros
certos que obteria com as obras de encanamento das águas do
Maracanã, investiu em sua expansão quatro vezes mais do que
os 60 contos que havia pago por ele. E se descapitalizou.
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É bem verdade que, desde então, uma parte deste capital foi
desviada para o tráfico interno de escravos que passou a su-
prir as províncias mais prósperas do Sudeste, Rio de Janeiro,
Minas Gerais e São Paulo, em detrimento das mais pobres, do
Nordeste, de onde provinham. A outra parte dele, ainda maior,
teve que procurar novos escoadouros lucrativos e os encontrou
nas enormes necessidades materiais, particularmente de infra-
estrutura urbana e de transporte, que tanto faltavam ao país.
A década de 1850 foi, por tudo isso, o viveiro de uma nova ca-
tegoria de empresários e de empresas até então desconhecida
no Brasil. Tratava-se dos capitães de indústria e suas modernas
empresas capitalistas, as sociedades de capital. Mauá precisava
provar aos capitalistas da cidade do Rio de Janeiro e, sobretudo,
aos governos imperial e provincial, a quem pedia proteção, que
investir em estradas de ferro era um bom negócio, ou melhor, era
o grande negócio da época.
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Em seu parecer de 1856, esta comissão não estava tão otimista quan-
to o barão em relação ao presente e ao futuro da Estrada de Ferro de
Petrópolis. Referindo-se à finalização da estrada no ano anterior, quan-
do os seus trilhos tocaram os “umbrais da Serra do Mar”, decepcionada
perguntava: “Mas, senhores, quem veio ao seu encontro, quem lhe deu
a boa-vinda? É doloroso confessá-lo: O indiferentismo!”24
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PARTE I
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polis, que antes levava mais de um dia, agora podia ser realizada
confortavelmente em apenas quatro horas, e que, em tão pou-
co tempo, era possível fazer uma mudança radical de condições
atmosféricas, tão agradável e salutar senão necessária durante
o verão, e estar mais protegido daquela horrível e mortal doença.
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36 – Idem.
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39 – Idem, 18/03/1869.
40 – Jornal do Commercio, 03/04/1869, Publicações a pedido, p. 1.
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41 – Idem, 06/04/1869, p. 1.
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43 – Idem.
44 – Assembleia Geral dos Acionistas da I. C. N. E. F. de Petrópolis, 04/02/1870.
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14. To be or not to be
45 – Idem, 07/03/1871.
46 – Idem, 27/05/1871.
47 – Idem.
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48 – Idem.
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54 – Idem, 16/04/1874.
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Com uma tal gestão, era impossível que a empresa desse lucros,
sobretudo porque os prejuízos não eram apenas causados por sua
própria imprevidência. Foi o caso, em 1875, da construção do mo-
derno vapor Príncipe do Grão-Pará, em homenagem ao recém-nas-
cido neto mais velho de D. Pedro II, filho da princesa Leopoldina.
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18. Subindo a serra
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Por este acordo, a viúva cedia um local no prédio de seu hotel para
sede da agência do “serviço dos carros da serra” e, em troca, a compa-
nhia de Mauá se obrigava a fazer o ponto de partida e chegada dos
“carros da serra” em frente ao Hotel de Bragança, bem como a con-
duzir os passageiros, especialmente os que residiam em Petrópolis,
aos seus lugares de destino nas mesmas carruagens em que subiam
a serra. Esta havia sido a forma mais barata que a companhia havia
encontrado para criar uma agência em Petrópolis sem ter que arcar
com os gastos da construção de um edifício para a sua estação.
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“Eu sou o progresso, eu sou a vida.”
A Estrada de Ferro Príncipe do
Grão-Pará revolucionou a vida
da cidade de Petrópolis
estimulando o turismo.
(MUSEU IMPERIAL/IBRAM/MINC/
nº SGI-216/2017)
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19. O fim da linha
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20. “Eu sou o progresso, eu sou a vida!”
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A Estação de
Petrópolis onde se
deu a inauguração
oficial da E. F. Príncipe
do Grão-Pará em
11 de fevereiro de 1883.
(MUSEU IMPERIAL/
IBRAM/MINC/nº SGI-
001905/2016)
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ao sítio entusiástica e jubilosamente.” A chegada do trem foi recebida
com alguns fogos de artifício e “a banda do Congresso Filarmônico
Quinze de Março saudou a vinda do precursor da vida nova”74.
74 – Idem.
75 – Jornal do Commercio, 22/02/1883, Declarações, p. 3.
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PARTE I
Havia poucos anos, era um dos homens mais ricos do Império. Era,
então, temido, respeitado e invejado, tendo recebido do próprio impera-
dor o título que o elevava de Barão a Visconde de Mauá, como reconhe-
cimento pelo conjunto de sua obra, coroada em 1874 com a inauguração
da empresa Brazilian Submarine Telegraph Company, sob sua direção.
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MAUÁ, Visconde de. Autobiografia, 2ª ed., prefácio e notas de Claudio Ganns. Rio
de Janeiro: Zélio Valverde, 1943.
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1. O EMBARQUE
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tismo e prazer em compartilhar conhecimento foram voltando minha
atenção para o objeto da minha incursão à Baixada: traçar um esboço
de como está hoje a primeira ferrovia do país, um marco progressista,
que inseriu o país no mundo capitalista e em seu modus operandi.
Também foram elas, as ferrovias, que, ao incentivarem a expansão do
trabalho livre e da economia liberal, acabaram se transformando em
espaços importantes para que seus trabalhadores se organizassem
como classe – e como tal, se conscientizassem de seus direitos e
de sua força.
Placa na BR 116: aviso soa como uma ironia, já que o asfalto cobre a antiga ferrovia.
(Foto: Pedro Esteves)
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a réplica da Baronesa também é obra de um ferroviarista. Mas esse
pessoal merece um capítulo à parte).
AURA
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PARTE II
Mas foi ali, por volta do meio-dia, que embarquei, de fato, no trem da
Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petró-
polis – uma viagem com muitos solavancos, mas na qual pude avistar
um passado rico, ser testemunha de um presente de descasos, e desejar
com todas as forças um futuro melhor para aquele complexo ferroviário
de importância histórica e cultural – e fundamental para toda a economia
de uma região, para a afirmação pública de seu potencial turístico e para
a elevação da autoestima de um povo simpático e acolhedor.
Fui checar. Quem sabe veria algo através de uma fresta em algu-
ma janela ou porta, pois a casa encontra-se fechada. Chegamos à casa
pelos fundos. Meu Pai! Era tanto lixo, tanta sujeira, mato alto, insetos.
Escabreada, pergunto a meu cicerone: “Kleber, tem rato aqui? Só tenho
medo de rato.” Placidamente, o ferroviarista responde: “Rato não tem
não, porque as cobras comem.” Ah, tá!
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versão atualizada da antiga secretaria, que tem como missão preservar
o patrimônio cultural brasileiro. Mas isso é assunto para outro capítulo.
Por uma questão ética, devo ressaltar que, quando se trata de pa-
trimônio ferroviário brasileiro, apontar órgãos responsáveis por sua
preservação não é muito simples, não. É preciso ter muita cautela para
não se incorrer em erros e leviandades. Todavia, a estação e a Casa do
Agente estão sob a responsabilidade do Iphan. Questionado sobre a con-
servação da Estrada de Ferro Mauá, Bartolomeu Homem d’ El-Rei Pinto,
diretor do Museu do Trem, que pertence ao Iphan, assumiu a responsa-
bilidade, mas também mostrou as condições precárias com que o patri-
mônio ferroviário é tratado no país e sua impossibilidade como servidor
público de resolver o problema. “Como diretor do Museu do Trem, eu é
que sou o responsável. Só que eu vou à Barão de Mauá de quando em
vez, porque não dá pra ir todo dia, toda semana por n motivos. O mais
importante deles é que o Museu está aberto à visitação com apenas
dois servidores. Um está de licença [na época da entrevista, já estava
afastado há dois meses]. Estou sozinho aqui.”
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Nesse primeiro dia, ficamos ali por mais ou menos umas duas horas.
A intenção era fazer o caminho da Ferrovia Grão-Pará, a qual a Estrada
de Ferro Mauá (EFM) passou a integrar em 1883. Rumamos para Pia-
betá, tentando fazer um percurso paralelo aos antigos trilhos da EFM.
Mas é difícil margear algo cuja existência só pode ser comprovada por
cravos e dormentes isolados, resquícios de pontes e pontilhões, ruínas
de estações que deixaram de funcionar há décadas e raros e curtos
trechos de via permanente. Aliás, faço aqui um registro um tanto indig-
nado: como algo que não parece ter sido muito difícil de ser surrupiado
pode ser chamado de via permanente? Bom, só sei dizer que tudo isso
está perdido no meio de um matagal que, ouvi dizer, tem até onça. Mas
nisso eu não acreditei, não.
PIABETÁ
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de lixo, animais e mato. Na plataforma, deparei-me com garotos de 14 a 17
anos, que pareciam estar à toa. No entorno da estação, biroscas vendiam
de tudo. De uma delas, vinha uma música altíssima, um forró cantado por
uma voz esganiçada. Fiquei, por alguns segundos, um pouco atordoada.
Achei que pudesse estar ficando desidratada. Tomei uns goles d’água, res-
pirei fundo algumas vezes, e pronto: continuei o meu trabalho de observar e
captar impressões sobre a mais antiga das nossas ferrovias.
Piabetá, em Magé:
camelódromo funciona,
com aval da prefeitura,
em cima da EFM.
(Foto: Pedro Esteves)
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PARTE II
Seu Sebastião me diz ainda que adora levar seu filho, Marquinho,
de 11 anos, para passar o dia em Guia de Pacobaíba e contar histórias
do antigo trem para o menino, que as adora. Minutos depois, chega um
curumim suado e muito bonito. É Marquinho. O pai pergunta: “Marqui-
nho, você quer que o trem volte?”. “Claro, pai!”, responde instantanea-
mente o menino.
93 – http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/126.
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Quando chegamos à Vila Inhomirim, ou Raiz da Serra, o antigo nome,
o calor já anunciava uma trégua. Deviam ser umas 15 horas e o céu es-
tava escuro, prometendo um pé d’água, o que não aconteceu. Mais uma
vez, não pudemos entrar na estação. Ficamos, então, espreitando-a
por cima do muro. Tudo parecia normal, calmo e organizado. Fiquei
pensando nas pessoas que passaram por ali, nas adversidades que os
trabalhadores que a construíram há 160 anos tiveram que enfrentar, nas
dores de cabeça que ela deu ao barão, nas chegadas e partidas, nos
choros de tristeza e de felicidade que aqueles cerca de 15 quilômetros
presenciaram (entre Guia de Pacobaíba e Raiz da Serra), nas riquezas
que transportaram. Quantas histórias! Seria possível enumerá-las? Não.
Com certeza. Aquela era a última estação da EFM, mas tomara que não
fosse o fim de linha de nossa primeira estação..
Sebastião Campos e sua mulher, Neide Soares: saudades de ver o antigo trem passar.
(Foto: Pedro Esteves)
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PARTE II
DESCARRILAMENTOS
Para traçar um retrato atual da Estrada de Ferro Mauá, flanei pela cidade
por alguns dias. Nessas perambulações, conversei com várias pessoas.
Pude perceber, então, que existe uma grande desinformação com rela-
ção à ferrovia. Poucos sabiam que aquela tinha sido a primeira do Brasil
e a quarta da América Latina. E menos ainda o que isso representou para
o nosso país. De prosa em prosa, de causo em causo, percebi que todas
gostariam que o trem voltasse a circular. Umas porque amam esse meio
de transporte que suscita tanta poesia, mexe e remexe com o imaginário,
desperta paixões, encanta crianças e adultos; outras, por acreditar que
a reativação da linha, combinada a um projeto turístico e cultural, traria
imensos ganhos para a cidade. Entre eles, a criação de novas fontes de
receitas e empregos, expansão das já existentes e elevação da autoes-
tima de seus habitantes. Nenhum depoimento, no entanto, me impres-
sionou mais do que o do meu colega de profissão, Danilo Fernandes,
proprietário de um jornal de Magé, Enfoque.
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a minha suspeita de que, no Brasil, encaramos o que é público não como
sendo de todos, mas como não sendo de ninguém.
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PARTE II
acabou não acontecendo. Não. Não foi pela intercessão divina, certa-
mente clamada pelos moradores. A interrupção da desocupação de-
veu-se, segundo Danilo, à prosaica constatação de que as invasões
eram capitaneadas por um deputado do mesmo partido do Executivo
municipal. E assim, de mandato em mandato, de eleição em eleição,
as invasões têm sido toleradas. “Quem poderia se responsabilizar pelas
remoções tem medo de levar o troco nas urnas”, me afirmou Danilo.
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gostaria de colocar aqui aquele emoji do apavorado. Faltam-me pala-
vras. Pastor miliciano? É Tarantino em estado puro.
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Era importante, para mim, tentar entender por que, na contramão da
Europa e também dos Estados Unidos, o trem (e aqui incluo também me-
trô, veículos leves sobre trilho e bondes) não se constitui, no Brasil, em um
modal de transporte sequer importante. Intrigava-me mais ainda a não
opção por ferrovias, uma vez que países continentais como o nosso são
naturalmente aptos e vocacionados para o transporte ferroviário, ideal
para médias e longas distâncias. E isso é ponto pacífico. Decididamente,
faltava alguma informação importante para aquilo fazer sentido.
TOMANDO PARTIDO
Para descobrir onde descarrilamos, não procurei livros, nem jornais an-
tigos, muito menos consultei documentos empoeirados em arquivos
públicos. Nem me preocupei com o macrouniverso. Se eu conseguis-
se entender por que abandonaram a nossa primeira ferrovia, cujo valor
histórico e o potencial turístico são inestimáveis, poderia, através do
microuniverso, tentar entender um megaerro. Pensando assim, fui atrás
de ferroviários, ferroviaristas, engenheiros da RFFSA, economistas, mo-
radores de Magé e sindicalistas. Interessava-me a impressão das pes-
soas sobre o que havia se passado com a Estrada de Ferro Mauá, queria
saber a opinião de quem a ama e quer vê-la reativada.
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SAINDO DE VEZ DOS TRILHOS
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roviário, dá lucro. Por isso, em todo lugar do mundo as passagens são sub-
sidiadas pelo governo. Isso até hoje”, explica Bartolomeu d’El-Rei Homem
Pinto ao ser questionado por mim pela opção do Brasil em preterir suas
ferrovias sob o argumento de que elas eram financeiramente inviáveis.
96 – Idem, p. 19.
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2. FERROVIÁRIOS, GRAÇAS A DEUS!
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Havia também, nos homens de minha família, só consigo ver isso hoje,
um senso político avançado. Numa época em que ninguém falava em
sindicatos e política, meus parentes discutiam, é verdade que baixinho,
fatos da política nacional. Isso nos anos 1970. Hoje sei: os ferroviários, de
modo geral, e alguns, em particular, participaram ativamente de muitos
momentos importantes de nossa história. Não tinha como ser ferroviário
e, ao mesmo tempo, alienado político. Desculpe-me, leitor, se o termo pa-
rece muito anacrônico. Não encontro outro mais preciso. Com as mídias
sociais, e a proteção física e até mesmo o anonimato que elas propiciam,
todos parecem politizados. Não era assim nas décadas de 1960, 1970 e
até em meados de 1980.
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SEM PERDER UM DIA DE TRABALHO
Aos poucos, no entanto, seu Etiene vai ficando mais à vontade, reve-
lando seu amor e dedicação à companhia na qual trabalhou por 31 anos.
“Eu não perdia um dia de serviço. Trabalhei esse tempo todo sem perder
um dia de serviço na rede! Eu me aposentei em 1991, sem perder um
dia de serviço. Graças a Deus! Eu gostava muito, minha filha. Poxa! Mas
naquele tempo a gente tinha valor na rede. Vou falar o português claro:
o patrão hoje não dá valor ao empregado”, me diz.
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PARTE II
Pergunto sobre o mau cheiro que peixes costumam deixar (me pa-
receu que aquele trem era uma espécie de peixaria ambulante). “Eram
aqueles trens de madeira, do tempo antigo, ninguém ligava, não”, me
responde. Os tempos eram outros, e os hábitos e exigências também.
Com certeza! O aposentado me conta também das filas enormes que
se formavam na estação Piabetá. “Vinham até aqui (estávamos mais ou
menos a uns 300 metros da estação). Com a baldeação em Saracuruna,
o pessoal prefere ir de ônibus. Hoje não tem mais nada. Descem dois,
três trens de manhã e vão até Saracurana só, antigamente ia até Barão
[de Mauá, em São Cristóvão, bairro carioca]”. Seu Etiene não chegou
a ir a Guia de Pacobaiba a trabalho, mas frequentava o lugar e lamenta
o rumo que a primeira ferrovia tomou. “Eu ia lá pescar. Agora tá tudo
cheio de mato. Seria uma maravilha [se a reativassem]. Mas teria que ter
um ministrozinho forte mesmo. Porque é uma mixaria pra gastar, é pou-
ca coisa. Uns 10 quilômetros só”. Pena que nem todos pensem assim.
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de ver como é que pode acabar com uma coisa tão linda igual à que nós
tínhamos. O país precisa do transporte ferroviário. Trabalhamos tanto
para conservar uma coisa. E agora está tudo esfacelado”, me declarou.
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PARTE II
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O ferroviário viu e viveu também momentos mais gloriosos em sua
vida profissional. Em 1960, quando a nova capital do Brasil foi inaugura-
da, seu Raymundo integrava a tripulação do primeiro trem que chegou
a Brasília, depois de cruzar alguns estados e várias cidades. “Entrei com
o primeiro trem em Brasília, levando a imagem de Nossa Senhora Apare-
cida, a Padroeira do Brasil, que a vida toda ficou na [estação] Dom Pedro II.
Passamos por várias estações, parando e fazendo uma visitação”, conta.
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PARTE II
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e querendo que tenha o lugar que ela deveria ter aqui no Brasil. Os fer-
roviários sempre foram combativos. A gente não desiste dessa causa.
A gente tomou isso como uma causa nossa: lutar sempre pela ferrovia”.
Mas nem esses bons resultados mudaram o rumo das coisas. “Tí-
nhamos esperança de que a ferrovia tivesse um desenvolvimento
principalmente na parte de carga. Tem cargas perigosas que são um
absurdo estarem sendo transportadas por rodovias. Não deveria haver
aquela fila de caminhões para embarcar soja no porto de Paranaguá.
Aquilo era pra ser embarcado por trem. É economia de combustível,
menos poluição, diminuição de manutenção da rodoviária. Deveria ter
uma integração. Não sou contra o rodoviário. Tinha que ter uma integra-
ção, cada um tem uma finalidade. Então grandes cargas para grandes
distâncias tinham que ser [por] ferrovia”, afirma incisivamente. Ao que
tudo indica, a luta, assim como o orgulho, não vão acabar. Não para
essa geração.
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PARTE II
3. BITOLAS E BITOLADOS
Para fazer este breve resumo sobre a história das ferrovias, depa-
rei-me, a todo momento, com dados conflitantes, mesmo consultando
fontes que são referências quando o assunto é ferrovia. Peço que se
considere, também, que não se trata de um relato histórico preciso, mas
de uma tentativa de listar fatos que componham um mosaico que faci-
lite o entendimento das condições atuais das nossas ferrovias.
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posteriormente passou a se chamar Estrada de Ferro Central do Brasil]
foi bem estudada e teve por isso resultados. As outras pagaram caro
pelo erro de seus traçados e previsões e fracassaram”100.
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PARTE II
VIRANDO A CHAVE
O economista e
ferroviarista Antônio
Pastori na estação
de Piabetá. (Foto:
Pedro Esteves)
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sasse a dominar o cenário da mobilidade e, para tanto, era necessário
dominar e instalar fábricas nesses países”, me esclarece Pastori.
RFFSA
Nos anos 1950, a saúde financeira das ferrovias brasileiras não ia nada
bem. Para sanear o sistema ferroviário nacional, em 30 setembro de
1957, foi criada a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA). A estatal reu-
nia sob seu guarda-chuva 18 ferrovias e tinha como objetivo reduzir
os déficits, padronizar os procedimentos, modernizar a operação, re-
duzir a despesa e aumentar a produção. Ou seja, uma missão e tanto.
A RFFSA operava através de superintendências, que cuidavam de re-
giões específicas.
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PARTE II
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PARTE II
A BARONESA
Mas a coisa não era bem assim, não havia intenção nem dinheiro
públicos envolvidos. A réplica é uma iniciativa do empresário e fer-
roviarista Sávio Neves, que, em 2009, desembolsou entre R$ 50 e 60 mil,
ele não se lembra a quantia ao certo, para que a cópia fosse feita por um
ferroviário aposentado, que tem uma oficina em Duque de Caxias, na
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Baixada Fluminense. “Na verdade [com relação ao pagamento], foi além
disso. Fui participando de cada etapa. No período de oito meses, fui duas
ou três vezes lá com prazer. Não me dava trabalho. Era prazeroso, na
medida em que via nascer a réplica da Baronesa que enfeitaria a primei-
ra estação ferroviária do Brasil, a de Guia de Pacobaíba”, afirma Sávio.
Aliás, o exemplo da Maria Fumaça, que liga São João del-Rei a Tira-
dentes, ambos polos turísticos importantes de Minas Gerais, deveria ser
seguido pela Estrada de Ferro Mauá. Inaugurada em 1881 pelo então
imperador Dom Pedro II, a Maria Fumaça está, com perdão do troca-
dilho, a pleno vapor desde então. São 12 quilômetros nos quais seus
passageiros podem desfrutar da diversidade ecológica (a estrada corta
o Cerrado e a Mata Atlântica), além de poder apreciar edificações que
ainda preservam o traço arquitetônico do século XIX.
Baronesa: réplica
serve de mural para
recados apaixonados
e outros nem tanto.
(Foto: Pedro Esteves)
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servação Ferroviária (AFPF). Em depoimento, tanto Cristina quanto Carlos
Fernando afirmaram saber que as obras estavam sendo realizadas.
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PARTE II
O DESAPARECIMENTO DA ESTÁTUA
A antiga praça Mauá, no Rio de Janeiro, passou recentemente por uma
grande reforma paisagística, tornando-se o Boulevard Olímpico e, de
quebra, um dos lugares mais visitados da cidade. A remodelação trouxe
algumas dores de cabeça para os cariocas, percalços normais a todas
as regiões que passam por grandes obras, e aborrecimentos extras
para os ferroviaristas – que veem o Barão de Mauá como uma espécie
de patrono da causa. Isso porque, no meio do quebra-quebra da obra,
a estátua do barão, um presente do escultor Rodolfo Bernadelli e doada
pela família ao governo federal, havia desaparecido. A estátua em bron-
ze estava fincada no local desde 1910.
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parecem. Em 2013, por exemplo, foram afanadas seis vigas de aço de
um viaduto (a Perimetral) que havia sido demolido. Juntas, as peças
pesavam 110 toneladas! O episódio até hoje não foi elucidado. Quem
as pegou e o que fez com elas são perguntas que permanecem sem
respostas. Um mistério absoluto. Os ferroviaristas ficaram cabreiros.
A estátua do barão só pesa quatro toneladas. Começou-se então uma
caçada implacável pelo busto do barão. E, até o seu resgate, foram
consumidos quatro anos de temor. “Foram várias buscas que fizemos
à estátua. Acabamos descobrindo que ela estava na lixeira da fábrica
de asfalto da prefeitura do Rio, na Leopoldina”, conta Eduardo André,
tetraneto do barão.
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PARTE II
BONS DE PRAGA
Ainda de acordo com André, o busto de Mauá só voltou ao seu lugar de
origem porque o ex-prefeito tem medo de praga. E a família é boa na
arte de praguejar. “Quando a Leopoldina desativou a Estrada de Ferro
Mauá, minha avó, a Piquixita, jogou uma praga violenta. Ela disse que
a Leopoldina nunca mais se levantaria, enquanto a ferrovia original não
estivesse funcionando de novo. E ela nunca mais se levantou”, conta.
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pão/Virge Maria que foi isso maquinista?”, anuncia, em seus primeiros
versos, a saída de uma Maria Fumaça.
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PARTE II
OS APAIXONADOS
Duas coisas me levaram ao jornalismo: o desejo de ser testemunha
ocular da história e o de fazer viagens antropológicas, o que, no meu di-
cionário particular, significa conhecer pessoas e maneiras de viver, bem
diferentes da minha. Ao imergir no universo ferroviário, mais uma vez
saciei esse segundo desejo: esbarrei com os ferroviaristas. A palavra,
um neologismo, se algum dia for dicionarizada, virá seguida da seguinte
definição: “Amantes dedicados e ardorosos das ferrovias nacionais, da
sua história, dos trens e de todo o universo que os cerca; travam bata-
lhas, muitas inglórias, para que o patrimônio ferroviário seja preservado
e reativado.”
O mais curioso é que boa parte deles não é ferroviário, digamos, pro-
fissional. São apenas pessoas que amam os trilhos e os trens – cada um
por um motivo particular. São de diferentes classes sociais, profissões
e posições políticas, unidos exclusivamente pelo amor às ferrovias. Em
um primeiro momento, algumas posições me pareceram divergentes e
inconciliáveis. Ledo engano. Depois de muito bater pernas e conversar,
concluí que todas convergiam para a revitalização das nossas ferrovias.
E, no fim das contas, é isso que importa para todos.
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propostas, consistentes e bem elaboradas, para reativá-la. Propostas
que preveem retorno econômico, cultural e educacional, especialmente
para estudantes e a população em seu entorno. Também contemplam
pontos como mobilidade e meio ambiente, amplamente previstos e es-
tudados. Os projetos são complementares e, se conseguirem se des-
vencilhar da burocracia, possibilitarão ganhos permanentes para todos.
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PARTE II
5. O DESEMBARQUE
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De acordo com a servidora, o Iphan está atento a essas especifici-
dades. “De 2000 para cá, a gente tem feito um esforço de regulamen-
tar, digamos assim, de regularizar esses tombamentos, fazendo o que
a gente chama de rerratificação, que é um novo estudo, com critérios
do presente, trabalhando outras legislações e trabalhando essa questão
de normatizar esses tombamentos e áreas. Com base nesse estudo,
estamos fazendo isso também para Mauá-Fragoso, porque é um bem
muito peculiar. É uma extensão territorial. Desde quando foi tombada,
ela é muito peculiar”, diz.
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Guia de Pacobaíba: potencial turístico e cultural inexplorado. (Foto: Pedro Esteves)
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rio como opção), a atmosfera deixará de receber uma tonelada de CO²
por ano”, explica Pastori.
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Arredores da estação de Guia de Pacobaíba: abandono e beleza natural convivem em todo o complexo.
(Foto: Pedro Esteves)
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SONHO COLETIVO
Valmir de Lemos, o Índio, presidente do Sindicato dos Trabalhadores
em Empresas Ferroviárias da Zona Central do Brasil e idealizador deste
livro, compartilha com Pastori e Suêvo o sonho de ver uma locomotiva
cruzar a Estrada de Ferro Mauá. Sonho também de seus companheiros
ferroviários sindicalizados. O foco de Índio são os personagens que vi-
vem no entorno da via férrea e por onde os antigos trilhos insistem em
permanecer, apesar dos maus-tratos sofridos ao longo de décadas.
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REFERÊNCIAS
FIGUEIREDO, B. (org.). Batistinha, o combatente dos trilhos. Rio de Ja-
neiro: Arquivo de Memória Operária IFCS/UFRJ & Centro de Memória
Ferroviária do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias
da Zona Central do Brasill, 1994.
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HOMENAGENS
A importância da figura de Irineu Evangelista de Souza, Barão e depois Visconde de Mauá,
construtor da primeira estrada de ferro a funcionar em nosso território, descortinando um novo
patamar de desenvolvimento para o Brasil, fez com que os Correios, em 1954 e 1963, criassem
dois selos comemorativos pelo aniversário de 100 anos da Estrada de Ferro Mauá e pelos 150
anos do nascimento de seu idealizador.
Visconde de Mauá é considerado Patrono da Marinha Mercante e dos Transportes por sua
atuação na criação do Estaleiro Mauá, em Niterói e, como dito acima, pela construção da
Estrada de Ferro Mauá. Devido a sua importante participação na vida econômica do país,
durante o século XIX, o governo brasileiro resolveu homenageá-lo, em 2010, com a emissão de
mais um selo comemorativo.
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