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Ao falarmos da psciologia clínica, estamos nos referindo a uma das

áreas de conhecimento e atuação em psicologia. Sua gênese se encontra


fortemente vinculada ao modelo médico. Haja vista a própria palavra clínica,
que em sua etimologia, embute o sentido de à beira do leito. Aludindo dessa
forma, ao ato do médico de ir ao encontro do paciente e tratar-lhe a
enfermidade (DUTRA, 2004).
A esse respeito, Doron e Parot (1998, p. 144-145) confirmam dizendo
que “originariamente, a atividade clínica (do grego klinê – leito) é a do médico
que, à cabeceira do doente, examina as manifestações da doença para fazer
um diagnóstico, um prognóstico e prescrever um tratamento”. O objetivo era
promover investigação criteriosa e tratamento das enfermidades.
Por esse fatos apontados acima, é comum no dia a dia, as pessoas
procurarem pelo psicólogo clínico, da mesma forma que buscam um médico.
Almejando “apresentar o seu sofrimento, problema ou o que quer que seja
que assim se apresente. E, ao final, esperar uma solução rápida e eficaz, que
atenda à cura do seu mal psíquico” (DUTRA, 2004, p. 382).
Frente a isso, Figueiredo (1995) expõe que o termo psicologia clínica
foi utilizado inicialmente por Lighter Witmer no ano de 1896. E o mesmo,
procurou com tal expressão, referir-se aos procedimentos de avaliação
empregados com crianças retardadas e fisicamente deficientes.
Com isso, a psicologia clínica em seu nascituro no século XIX, contou
com um contexto que primava pela escuta dos excluídos, do que não era
positivo. O foco era centrado nas mazelas e patologias do ser humano, com o
intuito “de avaliar, controlar, normatizar o homem a fim de ajustá-lo em prol da
sociedade, isto é, curar seus sintomas” (TEIXEIRA, 1997, p. 52).
O ano de 1935 nos traz um marco importante, uma vez que APA
(American Psychological Association) faz uma declaração afirmando que a
psicologia clínica tem por finalidade

definir capacidades e características de comportamento de um


indivíduo através de testes de medição, análise e observação e,
integrando esses resultados e dados recebidos de exames físicos e
histórico social, fornecer sugestões e recomendações, tendo em
vista o ajustamento apropriado do indivíduo (MEJRAS, 2012,
p.186).
Perceber-se então que a psicologia clínica foi recebendo influência de
metodologias relacionadas com a psicometrização, ou seja, a busca por
parâmetros de normalidade e anormalidade. Bem como das padronizações
advindas do campo médico. Esse cenário emerge então no pós Segunda
Guerra Mundial, no qual a proposta de psicodiagnóstico ganha destaque
(STUBBE,1988).
E foi dessa forma que psicologia clínica veio se fazendo e ganhando
espaço no mundo científico. Ganhou status e se promoveu como uma área
renomada de aplicabilidade do arcabouço teórico-prático da psicologia. Para
isso, entrelaçou seu saber com os paradigmas da medicina, ou seja, a prática
de anamnese, diagnóstico, prescrição e prognóstico. E a partir daí foi se
estruturando e se firmando.
Com isso constitui-se a psicologia clínica em sua forma clássica. Como
mostra Teixeira (1997, p. 54) a

concepção clássica de psicologia clínica afirma ser esta uma


disciplina que tem como preocupação o ajustamento psicológico do
indivíduo e como princípios o psicodiagnóstico, a terapia individual
ou grupal exercida de forma autônoma em consultório particular sob
o enfoque intra-individual com ênfase nos processos psicológicos e
centrado numa relação dual na qual o indivíduo é percebido como
alguém a-histórico e abstrato.

Nota-se a partir daí, um modo de fazer psicologia totalmente voltado


para os processos psicológicos intrapsíquicos, notadamente os de natureza
psicopatológicos. Com um enfoque marcado decisivamente pelo
psicodiagnóstico, terapia individual ou grupal, efetivada em consultório
particular, com o saber nas mãos do profissional, que visa atender uma
clientela financeiramente abastada. Assim como orientada por uma
concepção de homem abstrata e desconectada de sua conjuntura histórico-
social (TEIXEIRA, 1997).
E esse fazer clássico deixou como legado o processo da psicoterapia.
Processo esse como pontua Macedo (1984), trata-se de compreender e
intervir nos problemas do homem, buscando seu bem-estar individual e social.
Reccorrendo ao Conselho Federal de Psicologia, em sua Resolução CFP N.º
010/00, temos que psicoterapia
É prática do psicólogo por se constituir, técnica e conceitualmente,
um processo científico de compreensão, análise e intervenção que
se realiza através da aplicação sistematizada e controlada de
métodos e técnicas psicológicas reconhecidos pela ciência, pela
prática e pela ética profissional, promovendo a saúde mental e
propiciando condições para o enfrentamento de conflitos e/ou
transtornos psíquicos de indivíduos ou grupos. (CFP, 2000).

Um ponto fundamental no nosso estudo, é compreendermos que o


modelo tradicional de psicologia clínica, atendeu os conceitos e a mentalidade
de uma época. No entanto, com o avançar da contemporaneidade histórica,
esse modelo foi evoluindo a partir de críticas que lhe foram endereçadas.
Como nos assegura Souza (2007, p. 25) as “principais críticas direcionadas
ao modelo clássico ou tradicional da Psicologia clínica vem questionar essa
prática centrada em um indivíduo abstrato e a-histórico”.
Esse cenário foi favorável para despontar um novo conceito de clínica
em psicologia. Uma clínica que se mostra conectada e contextualizada com a
realidade social e histórica do sujeito. Conforme elucida Dutra (2004, p. 382-
383) “é nesta direção que se percebe o crescimento de uma tendência na
Psicologia Clínica, a qual se centraria na ênfase de uma concepção de
subjetividade resultante de uma construção social e histórica”.
Bock (2001, p. 23) ensina que “o mundo psicológico é um mundo em
relação dialética com o mundo social”. Noutras palavras, podemos parodear
afirmando que o mundo psicológico se faz permeado pela interdependência
dialética com a realidade biossociocultural e espiritual.
Com este panorama desenhado, a psicologia clínica aproxima-se
singularmente do sujeito. Acolhendo o sofrimento subjetivo em sua
multidimensionalidade sistêmica, isto é, de forma biopsicossocial-cultural-
espiritual. Como coloca Dutra (2004, p. 384) “considera o sofrimento como um
momento do sujeito, com sentidos e significações diferentes para cada um, e
de acordo com o seu modo de ser e de viver”.
Continuando sua contribuição acerca da psicologia em clínica, Dutra
(2004, p. 384) entende que esta

representa uma determinada postura diante do outro, entendendo-o


como sujeito que pensa, sente, fala e constrói sentidos que se
expressam, se criam e se modificam nessa relação de
subjetividades, num determinado mundo e num certo momento das
suas histórias.

E nessa postura diante do outro, Figueiredo (1996) nos mostra que a


clínica em psicologia é definida pela sua ética. Ética designada no escopo
deste trabalho por Andrade e Morato (2004, p. 346) “como designando
posturas existenciais e/ou concepções de mundo capazes de dar
acolhimento, assento ou morada à alteridade”. E Souza (2007, p. 31) diz que
a clínica é “pautada numa ética e não apenas na técnica, essa é a
característica principal da nova Psicologia clínica”.

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