O documento discute a evolução da psicologia clínica desde suas origens no século XIX até os dias atuais. Inicialmente focada no diagnóstico e tratamento de doenças mentais, a psicologia clínica foi se tornando mais contextualizada e centrada no sujeito ao longo do tempo, levando em conta os aspectos biopsicossociais e históricos do indivíduo.
O documento discute a evolução da psicologia clínica desde suas origens no século XIX até os dias atuais. Inicialmente focada no diagnóstico e tratamento de doenças mentais, a psicologia clínica foi se tornando mais contextualizada e centrada no sujeito ao longo do tempo, levando em conta os aspectos biopsicossociais e históricos do indivíduo.
O documento discute a evolução da psicologia clínica desde suas origens no século XIX até os dias atuais. Inicialmente focada no diagnóstico e tratamento de doenças mentais, a psicologia clínica foi se tornando mais contextualizada e centrada no sujeito ao longo do tempo, levando em conta os aspectos biopsicossociais e históricos do indivíduo.
Ao falarmos da psciologia clínica, estamos nos referindo a uma das
áreas de conhecimento e atuação em psicologia. Sua gênese se encontra
fortemente vinculada ao modelo médico. Haja vista a própria palavra clínica, que em sua etimologia, embute o sentido de à beira do leito. Aludindo dessa forma, ao ato do médico de ir ao encontro do paciente e tratar-lhe a enfermidade (DUTRA, 2004). A esse respeito, Doron e Parot (1998, p. 144-145) confirmam dizendo que “originariamente, a atividade clínica (do grego klinê – leito) é a do médico que, à cabeceira do doente, examina as manifestações da doença para fazer um diagnóstico, um prognóstico e prescrever um tratamento”. O objetivo era promover investigação criteriosa e tratamento das enfermidades. Por esse fatos apontados acima, é comum no dia a dia, as pessoas procurarem pelo psicólogo clínico, da mesma forma que buscam um médico. Almejando “apresentar o seu sofrimento, problema ou o que quer que seja que assim se apresente. E, ao final, esperar uma solução rápida e eficaz, que atenda à cura do seu mal psíquico” (DUTRA, 2004, p. 382). Frente a isso, Figueiredo (1995) expõe que o termo psicologia clínica foi utilizado inicialmente por Lighter Witmer no ano de 1896. E o mesmo, procurou com tal expressão, referir-se aos procedimentos de avaliação empregados com crianças retardadas e fisicamente deficientes. Com isso, a psicologia clínica em seu nascituro no século XIX, contou com um contexto que primava pela escuta dos excluídos, do que não era positivo. O foco era centrado nas mazelas e patologias do ser humano, com o intuito “de avaliar, controlar, normatizar o homem a fim de ajustá-lo em prol da sociedade, isto é, curar seus sintomas” (TEIXEIRA, 1997, p. 52). O ano de 1935 nos traz um marco importante, uma vez que APA (American Psychological Association) faz uma declaração afirmando que a psicologia clínica tem por finalidade
definir capacidades e características de comportamento de um
indivíduo através de testes de medição, análise e observação e, integrando esses resultados e dados recebidos de exames físicos e histórico social, fornecer sugestões e recomendações, tendo em vista o ajustamento apropriado do indivíduo (MEJRAS, 2012, p.186). Perceber-se então que a psicologia clínica foi recebendo influência de metodologias relacionadas com a psicometrização, ou seja, a busca por parâmetros de normalidade e anormalidade. Bem como das padronizações advindas do campo médico. Esse cenário emerge então no pós Segunda Guerra Mundial, no qual a proposta de psicodiagnóstico ganha destaque (STUBBE,1988). E foi dessa forma que psicologia clínica veio se fazendo e ganhando espaço no mundo científico. Ganhou status e se promoveu como uma área renomada de aplicabilidade do arcabouço teórico-prático da psicologia. Para isso, entrelaçou seu saber com os paradigmas da medicina, ou seja, a prática de anamnese, diagnóstico, prescrição e prognóstico. E a partir daí foi se estruturando e se firmando. Com isso constitui-se a psicologia clínica em sua forma clássica. Como mostra Teixeira (1997, p. 54) a
concepção clássica de psicologia clínica afirma ser esta uma
disciplina que tem como preocupação o ajustamento psicológico do indivíduo e como princípios o psicodiagnóstico, a terapia individual ou grupal exercida de forma autônoma em consultório particular sob o enfoque intra-individual com ênfase nos processos psicológicos e centrado numa relação dual na qual o indivíduo é percebido como alguém a-histórico e abstrato.
Nota-se a partir daí, um modo de fazer psicologia totalmente voltado
para os processos psicológicos intrapsíquicos, notadamente os de natureza psicopatológicos. Com um enfoque marcado decisivamente pelo psicodiagnóstico, terapia individual ou grupal, efetivada em consultório particular, com o saber nas mãos do profissional, que visa atender uma clientela financeiramente abastada. Assim como orientada por uma concepção de homem abstrata e desconectada de sua conjuntura histórico- social (TEIXEIRA, 1997). E esse fazer clássico deixou como legado o processo da psicoterapia. Processo esse como pontua Macedo (1984), trata-se de compreender e intervir nos problemas do homem, buscando seu bem-estar individual e social. Reccorrendo ao Conselho Federal de Psicologia, em sua Resolução CFP N.º 010/00, temos que psicoterapia É prática do psicólogo por se constituir, técnica e conceitualmente, um processo científico de compreensão, análise e intervenção que se realiza através da aplicação sistematizada e controlada de métodos e técnicas psicológicas reconhecidos pela ciência, pela prática e pela ética profissional, promovendo a saúde mental e propiciando condições para o enfrentamento de conflitos e/ou transtornos psíquicos de indivíduos ou grupos. (CFP, 2000).
Um ponto fundamental no nosso estudo, é compreendermos que o
modelo tradicional de psicologia clínica, atendeu os conceitos e a mentalidade de uma época. No entanto, com o avançar da contemporaneidade histórica, esse modelo foi evoluindo a partir de críticas que lhe foram endereçadas. Como nos assegura Souza (2007, p. 25) as “principais críticas direcionadas ao modelo clássico ou tradicional da Psicologia clínica vem questionar essa prática centrada em um indivíduo abstrato e a-histórico”. Esse cenário foi favorável para despontar um novo conceito de clínica em psicologia. Uma clínica que se mostra conectada e contextualizada com a realidade social e histórica do sujeito. Conforme elucida Dutra (2004, p. 382- 383) “é nesta direção que se percebe o crescimento de uma tendência na Psicologia Clínica, a qual se centraria na ênfase de uma concepção de subjetividade resultante de uma construção social e histórica”. Bock (2001, p. 23) ensina que “o mundo psicológico é um mundo em relação dialética com o mundo social”. Noutras palavras, podemos parodear afirmando que o mundo psicológico se faz permeado pela interdependência dialética com a realidade biossociocultural e espiritual. Com este panorama desenhado, a psicologia clínica aproxima-se singularmente do sujeito. Acolhendo o sofrimento subjetivo em sua multidimensionalidade sistêmica, isto é, de forma biopsicossocial-cultural- espiritual. Como coloca Dutra (2004, p. 384) “considera o sofrimento como um momento do sujeito, com sentidos e significações diferentes para cada um, e de acordo com o seu modo de ser e de viver”. Continuando sua contribuição acerca da psicologia em clínica, Dutra (2004, p. 384) entende que esta
representa uma determinada postura diante do outro, entendendo-o
como sujeito que pensa, sente, fala e constrói sentidos que se expressam, se criam e se modificam nessa relação de subjetividades, num determinado mundo e num certo momento das suas histórias.
E nessa postura diante do outro, Figueiredo (1996) nos mostra que a
clínica em psicologia é definida pela sua ética. Ética designada no escopo deste trabalho por Andrade e Morato (2004, p. 346) “como designando posturas existenciais e/ou concepções de mundo capazes de dar acolhimento, assento ou morada à alteridade”. E Souza (2007, p. 31) diz que a clínica é “pautada numa ética e não apenas na técnica, essa é a característica principal da nova Psicologia clínica”.