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O paradoxo foi evitado por muito tempo nas empresas, pois promove grande sentimento de
desconforto na contraposição de ideias e situações. Charles Handy descreve este incômodo
como a sensação de que todo o senso de direção foi perdido, porém a aceitação da
existência de uma nova realidade completamente oposta ao conhecido e esperado pode
resultar no desenvolvimento da habilidade de análise crítica para a tomada de decisão.
As organizações que hoje não conseguem lidar com o paradoxo, buscando eliminá-los de
diversas situações, tendem a fracassar ao adotarem práticas de sucesso baseado em seu
próprio histórico. Empresas dialéticas definidas pelos autores, possuem o hábito de abraçar
ativamente os opostos, cultivando cada vez mais as contradições de forma positiva a fim de
se adaptar a mudança exigida pelo ambiente que as cerca.
A sociedade industrial
Como no raciocínio dialético, a criação do conhecimento aceita o que aparenta ser oposto –
por exemplo, o conhecimento tácito e o conhecimento explícito – e tenta sintetizá-los
transformando-os e os unindo para transcender à realidade existente. A nova realidade é
criada através da síntese, que é o processo contínuo e dinâmico que reconcilia e transcende
aos opostos. Em outras palavras, o processo envolve a utilização de uma tese (A) e uma
antítese (B) para criar uma nova realidade (C). C é separado e independente de A e B, não
algo intermediário entre A e B. O que torna a criação do conhecimento complexa é o fato de
que a síntese tem que ocorrer em base contínua (como indicado pelo ziguezague e o padrão
espiralado da Figura 1.1) e através de uma multidão de opostos.
Identificamos os seguintes opostos que exigem uma síntese antes que o novo conhecimento
possa ser criado, organizacionalmente, de maneira espiralada:
● tácito/explícito;
● corpo/mente;
● indivíduo/organização;
● top-down/bottom-up;
● hierarquia/força de trabalho;
● Oriente/Ocidente.
Cada modo do processo SECI envolve uma combinação diferente das entidades de criação
do conhecimento, como mostrado abaixo:
O conhecimento é criado apenas pelos indivíduos. Em outras palavras, uma organização não
pode criar conhecimento por si mesma, sem os indivíduos. É muito importante, portanto,
que a organização apóie e estimule as atividades criadoras de conhecimento dos indivíduos
ou que proporcione os contextos apropriados para elas. A criação do conhecimento
organizacional deve ser entendida como um processo que “organizacionalmente” amplifica
o conhecimento criado pelos indivíduos e o cristaliza no nível do grupo através do diálogo,
discussão, compartilhar de experiência, fazer sentido ou comunidade de prática.
Deve ficar claro a partir do que foi mencionado acima que um indivíduo e uma organização
não estão realmente nas extremidades opostas de um dualismo. O indivíduo é o “criador”
do conhecimento e a organização é o "amplificador" do conhecimento. Entretanto, o
contexto real no qual grande parte da conversão ocorre é no nível do grupo ou da equipe. O
grupo funciona como o “sintetizador” do conhecimento.
1.2.4 Síntese de Inferior/Superior
O futuro pertence às empresas que podem sintetizar o melhor do Oriente (A) e do Ocidente
(B) e construir um modelo universal (C) de criação do conhecimento organizacional.
Afirmamos que tal síntese já está ocorrendo, tanto no Oriente quanto no Ocidente. Na
próxima seção, observaremos duas empresas – IBM e Canon – que obtiveram sucesso na
incorporação da abordagem do “melhor dos dois mundos” à criação do conhecimento.
3.6.2 Autonomia
Similar a um sistema autopoiético, os indivíduos e os grupos autônomos, nas organizações
de criação de conhecimento, estabelecem seus limites de tarefas por conta própria, em
busca do objetivo final da organização. Nas organizações administrativas, uma poderosa
ferramenta para criar as circunstâncias nas quais os indivíduos possam agir autonomamente
é proporcionada pela equipe de auto-organização. Essa equipe deveria ser multifuncional,
envolvendo membros de uma seção transversal ampla das diferentes atividades
organizacionais. As equipes de projeto com diversidade multifuncional são usadas
frequentemente pelas empresas japonesas em cada fase da inovação.
3.6.3 Flutuação
A flutuação e o caos criativo são a terceira condição organizacional para a promoção da
espiral de conhecimento. Eles estimulam a interação entre a organização e o ambiente
externo. A flutuação é diferente da desordem completa e caracteriza-se pela “ordem sem
recursão”. É uma ordem cujo padrão é difícil de prever inicialmente (Gleick, 1987). Se as
organizações adotam uma atitude aberta dirigida aos sinais ambientais, podem explorar a
ambigüidade, a redundância ou o ruído desses sinais para melhorar seu próprio sistema de
conhecimento.
3.6.4 Redundância
A redundância é a quarta condição que permite que a espiral de conhecimento ocorra
organizacionalmente. Para os administradores ocidentais, que estão preocupados com a
idéia de processamento eficiente da informação ou com a redução de incertezas (Galbraith,
1973), o termo “redundância” pode soar pernicioso devido a suas conotações com
duplicação desnecessária, desperdício ou sobrecarga de informação. O que queremos dizer
aqui com redundância é a existência de informação que vai além das exigências operacionais
imediatas dos membros da organização. Nas organizações de negócios, a redundância
refere-se à sobreposição intencional de informação sobre as atividades de negócios, às
responsabilidades administrativas e à empresa como um todo.
3.6.5 Variedade
A quinta condição que ajuda no avanço da espiral de conhecimento é o requisito variedade.
De acordo com Ashby (1956), a diversidade interna de uma organização precisa combinar
com a complexidade do ambiente a fim de lidar com os desafios apresentados pelo mesmo.
Os membros de uma organização podem enfrentar muitas contingências se possuírem o
requisito variedade, que pode ser realçado pela combinação de informações de maneira
diferente, flexível e rápida, além de oferecer também igual acesso à informação em toda a
organização. Com o objetivo de maximizar a variedade, todos na organização precisam ter
assegurado o acesso mais rápido à mais ampla variedade de informações necessária,
percorrendo o menor número de passos (Numagami, Ohta e Nonaka, 1989).