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FACULDADE DE SOROCABA
PEDAGOGIA

Kethilin Cristina Rodrigues

2019649695

ESTÁGIO OBRIGATÓRIO EM EDUCAÇÃO JOVENS E ADULTOS

SOROCABA

2021

KETHILIN CRISTINA RODRIGUES

2019649695

ESTÁGIO OBRIGATÓRIO EM EDUCAÇÃO JOVENS E ADULTOS

Trabalho apresentado a Faculdade de Sorocaba como


exigência parcial do Estágio Obrigatório em Educação Jovens e
Adultos, sob a orientação da Professora Maria Clarete B.S.P.
Almeida

SOROCABA

2021

SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO.............................................................................................4

2.0 DADOS DO ENTREVISTADO........................................................................5

3.0 ENTREVISTA................................................................................................6

4.0 FOTO COMPROBATÓRIA DA ENTREVISTA.................................................10

5.0 REFERÊNCIA................................................................................................12

6.0 ANEXOS.......................................................................................................13

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata-se de uma entrevista em grupo realizada de forma remota


pelo aplicativo Google Meets, uma vez que, a prática de estágio supervisionado
presencial permanece impedida, durante a situação que se encontra nosso país na
pandemia do Coronavírus COVID-19. A entrevista ocorreu com a Professora Andrea
Carmem , ela leciona na Penitenciária Dr. Antônio de Souza Neto, em Sorocaba.

O objetivo deste trabalho é demonstrar a atuação do professor ou pedagogo no que


se diz respeito a Educação Jovens e Adultos em uma penitenciária, contribuindo
assim, para a formação acadêmica dos graduandos em Pedagogia, possibilitando a
compreensão de como todo o trabalho do professor ocorre desde a elaboração da
aula, as ferramentas de ensino e os recursos disponíveis para que a aprendizagem
ocorra. Entender a prática para compreender a teoria em relação ao ensino dos
maiores de 18 anos que não concluíram o ensino regular em idade própria.

A Educação de Jovens e Adultos - EJA é uma modalidade de ensino criada pelo


Governo Federal que perpassa todos os níveis da Educação Básica do país,
destinada aos jovens, adultos e idosos que não tiveram acesso à educação na
escola convencional na idade apropriada. Permite que o aluno retome os estudos e
os conclua em menos tempo e, dessa forma, possibilitando sua qualificação para
conseguir melhores oportunidades no mercado de trabalho.

Segundo a LDB 9394/1996 “Art. 37º. A educação de jovens e adultos será


destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino
fundamental e médio na idade própria.”

2. DADOS DO ENTREVISTADO

Nome: Andrea Carmem

Formação: Licenciatura em Pedagogia.

Pós graduada em conhecimentos pedagógicos e legislação educacional.

Atualmente leciona como Professora na Penitenciária Dr. Antônio de Souza Neto.


3. ENTREVISTA
1) Há quanto tempo você é professora de EJA? Como começou a sua
jornada? Até 9 min

R: Entrei faculdade um pouco mais velha, aos 38 anos e já tinha uma carreira
consolidada no comércio, fui gerente em várias lojas. Iniciei a carreira de EJA assim
que eu me graduei em pedagogia na UNISO eu já comecei a trabalhar com EJA em
um presídio de crimes sexuais e tem sido muito desafiador desde então. A minha
jornada no sistema prisional começou em Junho de 2019 e continuo até hoje.

2) Qual formação você acredita ser necessária para lecionar em EJA? 8-10
min

R: A faculdade não te preparar adequadamente para a EJA. A forma como eu


aprendi na EJA foi por meio das experiências de outros profissionais da área que
compartilharam comigo suas ideias, práticas além de conselhos pertinentes a
profissão e posturas.

3) Quais são as características mais comuns que você encontrou nos


estudantes de EJA? 9-11min

R: A maioria dos meus alunos são idosos, lembre que eu atuo em uma prisão de
crimes sexuais e o perfil dos alunos são pessoas mais velhas e experientes. Já tive
alunos de 20 anos e alunos de 74, mas a grande parte esta entre 40-50, atualmente
a maioria está na casa dos 60 anos, ou seja, há muitos pedófilos com quem eu
trabalho.

4) Quais são as metodologias utilizadas no processo de ensino-


aprendizagem de EJA? Quais autores você mais utiliza?

R: A minha sala é multisseriada e não existe uma metodologia única, uma receita
de boa, algo como: “vou chegar e fazer isso, isso e aquilo”. Eu faço uso de vários
autores mas a melhor forma que eu descobri de se trabalhar com isso é conhecendo
o seu próprio aluno, você saber com quem você está trabalhando e adequar as suas

metodologias as capacidades e limitações de cada aluno. Alguns dos meus alunos


são visuais, outros não. Não há como padronizar uma metodologia para todos os
estudantes.

5) Quais são as maiores dificuldades dos alunos de EJA no processo de


aprendizagem? O que você faz ou utiliza para ajudar os alunos a superarem
essas dificuldades? 11-18min

R: Muitos dos meus alunos têm uma baixa autoestima baixíssima, muitos deles se
arrependem dos seus crimes bárbaros e outros não. Alguns dos alunos são
abandonados a própria sorte pelo familiar em decorrência dos seus crimes, outros
terão de cumprir pena prisional de 20 anos, então há pouca perspectiva de futuro
para esse aluno. A forma como eu encontrei de trabalhar com esses alunos é por
meio da realidade dele. Os presos que não sabem ler e escrever, a motivação que
encontro é para ler as cartas de seus familiares, pois uma vez que esse preso não
sabe ler, ele tem de pedir para outro preso ler a sua carta e com isso a sua
intimidade fica exposta. Outros presos eu trabalho muito com um viés de ensino
bíblico. Muitos dos presos se apegam a Deus e a motivação de saber ler uma bíblia
se torna a principal motivação desses alunos, além disso, existem cultos na igreja e
isso também serve de motivação. Há uma grande necessidade da minha parte em
contextualizar o conhecimento e trabalhar o emocional desse estudante para que eu
consiga motivá-lo a estudar.

6- O que você faz quando os seus alunos não estão no mesmo ritmo de
aprendizagem? Como você lida com as defasagens?

R: Primeiramente realizo uma soldagem, depois adéquo as atividades de acordo


com o nível de dificuldade de cada aluno, além dos exercícios simples eu
acrescento algumas atividades mais complexas e dinâmicas para esse aluno de
modo a sempre desafiá-lo e sem correr o risco de frustrar esse estudante com o
nível de dificuldade.

7- Quanto às dificuldades enquanto professora de EJA? Qual foi a sua maior


dificuldade?

Então, quando você começa a trabalhar lá na Penitenciária você não tem uma
formação de como você vai trabalhar , você depende dos seus colegas que já estão
trabalhando lá algum tempo. Não existe receita pronta, precisamos analisar nossos
alunos, suas dificuldades, para saber como vamos trabalhar para ensina-los da
melhor forma. As aulas são expositivas, não temos acesso a computador, celular ,
se caso aluno fizer uma pergunta e eu não souber responder, não posso acessar ao
celular.

8-Eles também são avaliados ? Se sim como você elabora as avaliações das
suas turmas ?

Sim, eles possuem avaliações normalmente, assim como possuem conselho


escolar. Minha avaliação é composta por atividades que eles fazem no dia a dia
,porém eu acrescento meu projeto que trabalha música, ou seja, minhas avaliações
são compostas com letras de músicas. Eu repasso a música para eles, eles ensaiam
e tal dia da semana eles demonstram o trabalhos deles em sala. Eles cantam juntos
em sala , e logo depois eu trabalho com eles as palavras mais difíceis da música
que eles cantaram. Em seguida, depois de trabalhar as palavrinhas , eu pergunto a
eles sobre o que eles entenderem da música, com o objetivo de fazer eles pensarem
também. Depois disso, eu explico verso por verso o que o autor quis dizer com essa
música. Para finalizar, procuro trabalhar com eles a escrita e leitura dos versos na
lousa.

A avaliação é diária e além disso, eu passo atividades no dia a dia sobre


determinado assunto e anexo no portfólio deles.
Caso o aluno não atinja as expectativas passamos as notas para o Conselho de
classe. Eu preciso também justificar porque aquele aluno não atingiu tal objetivo.

9-Nesse período de pandemia, você acredita que diminuiu o fluxo?


Não, no presídio não. A grande dificuldade foi em relação a não ter acesso a
internet , pois o prisional não responde só ao Governo, mas também a Secretaria de
Administração penitenciária(SAPE).Se o Governo pedir para entrar em rodízio e o
SAPE não aceitar , não voltamos ao rodízio.

Para não manter contar no mês de março trabalhamos em rodízio por uma semana,
porém o SAPE não aprovou e ficamos em casa, com isso preparamos a atividade e
mandamos para o presídio imprimir elas. Como temos um auxiliar e esse auxiliar é
um presidiário, passamos essa atividade para ele entregar aos alunos e depois
disso era mandado para nós professores corrigir. Então, nesse tempo era o nosso
único contato com os alunos, por meio dessa atividade repassada.

10 - Você sente uma diferença no ensino regular com as crianças, com o


ensino do EJA? Normalmente as crianças no ensino regular tem sonhos, e os
alunos do EJA, como lidam com os sonhos e perspectiva de futuro?

Sim, eles falam sobre seus sonhos, desejos para a vida, trabalhos novos, de estar
em busca de uma vida nova. Normalmente ali na prisão é quando eles chegam ao
fundo do poço e conseguem refletir sobre suas vidas, ali alguns tem o
arrependimento, outros nenhum. Somos feitos de muitas coisas, mas o que
passamos na infância reflete muito em quem nos tornamos. Por exemplo, existem
estupradores que acham que a criança precisa pagar de alguma forma o que ela
come, por exemplo, e a forma que ele encontra é de ser o abusador.

Você falou sobre a falta de recursos, como a tecnologia, você acredita que se
houvesse acesso a mesma, faria uma diferença positiva?

Em uma ocasião eu queria estar falando sobre as 7 maravilhas do Brasil, eu posso


até imprimir e levar para eles uma imagem, mas se eu pudesse apresentar um
vídeo, por exemplo, seria diferente, com certeza eles absorveriam mais, veriam os
detalhes, existe uma grande diferença. O nosso mundo se torna cada vez mais, um
lugar informatizado, agora o acesso ao banco é digital, muitas vezes você nem
precisa ir até o local, tudo está evoluindo a cada segundo, e a sala de aula dentro do
presídio está ficando para trás. No Eja, você prepara o adulto para o mercado de
trabalho e cidadania, para conseguir ser participativo na sociedade, e a falta de
informação digital dificuldade muito esse preparo, torna tudo muito restrito.

O seu trabalho trás para a sua vida pessoal um significado? Ou uma lição?

Eu jamais trocaria a o ambiente que trabalho que tenho hoje, eu sempre vi a


educação como um meio de transformação, o dinheiro nem sempre tem o valor da
lição que tiramos de lá.

4. FOTO COMPROBATÓRIO DA ENTREVISTA



5. REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e Bases


da Educação Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
DF.

6. ANEXOS

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