Você está na página 1de 10

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO


CURSO DE DIREITO

Douglas Vinícius Amorim Ribeiro

TRABALHO – CIÊNCIA POLÍTICA


(FEDERALISMO)

São Leopoldo
2014
1

Introdução

Este trabalho tem como objetivo apresentar de forma sucinta o federalismo, uma
forma de Estado vigente em vários países, como o próprio Brasil. Visa apresentar o
conceito de federalismo, suas origens, comparar o federalismo estadunidense com o
federalismo brasileiro e mostrar os prós e os contras de se ter um sistema federalista
pleno.

1) O conceito de federalismo

De acordo com o site suapesquisa.com, “o federalismo é um sistema político em


que organizações políticas (estados, províncias) ou grupos se unem para formar uma
organização mais ampla como, por exemplo, um Estado Central. No sistema federalista,
os estados que o integram mantém a autonomia” 1. São exemplos de Estados que adotam
o federalismo a Alemanha, a Argentina, a Austrália, o Brasil, o Canadá, a Malásia, a
Nigéria, a Rússia, os Estados Unidos, tendo este último implantado o federalismo
moderno, entre outros. É um contraponto ao conceito de Estados Unitários, que, de
acordo com Lênio Luiz Streck e José Luis Bolzan de Morais, são Estados que

“se caracterizam, politicamente, pela unidade do sistema jurídico,


excluindo qualquer pluralidade normativa e, administrativamente, pela
centralização da execução das leis e da gestão de serviços. Os agentes
inferiores atuam como meros executores (instrumentos de execução) e
controladores, em obediência estrita às ordens recebidas pelo poder
central”2.

Diferentemente do unitarismo, o federalismo permite que os membros de um


Estado tenham autonomia tanto na parte jurídica quanto na parte administrativa, com a
União detendo poderes “que são instrumentais para o cumprimento das competências
1
Federalismo. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/o_que_e/federalismo.htm> Acesso
em 21 de nov de 2014.
2
STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência Política e Teoria Geral do
Estado. Ed. Livraria do Advogado, 2003.
2

expressas em sede constitucional. A federação criaria uma estrutura forte, uma unidade
poderosa, sem, todavia, destruir os particularismos e as peculiaridades próprias de seus
membros”3. Vale ressaltar que o poder central da União tem sempre a soberania em
relação a cada estado membro da federação.

2) As origens do federalismo

As origens do federalismo remontam aos Estados Unidos, quando,

“(...) após a independência das Treze Colônias, em 1776, os


governadores não queriam abdicar de suas soberanias, ainda que a
oposição propusesse uma centralização do poder. Assim, foram feitos
debates e discussões, e a conclusão é notável. (...) Foi criado um poder
central, que obtinha a soberania, e estados membros - que antes eram
colônias - com suas competências”4.

Em uma ilustração, o sistema federalista poderia ser descrito assim:

3) O federalismo estadunidense

3
STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência Política e Teoria Geral do
Estado. Ed. Livraria do Advogado, 2003.
4
A origem da política – Federalismo. Disponível em:
<http://rhbjhistoria.blogspot.com.br/2012/02/origem-da-politica-federalismo.html> Acesso em 21 de nov
de 2014.
3

Talvez por ter instituído o federalismo como conhecemos (são a federação mais
antiga do mundo), os Estados Unidos seguem o modelo mais fiel ao conceito original de
federalismo, o federalismo pleno, com cada estado membro da União tendo autonomia
para possuir suas próprias leis, sua própria administração e seu próprio sistema
judiciário autônomo, como se cada distrito fosse uma mini-nação independente,
cabendo à União a verificação de que tudo esteja dentro dos limites impostos pela
Constituição e que mantenha-se uma subordinação ao Estado central.
Um exemplo de como isso influi na vida prática dos cidadãos americanos foi o
recente caso de uma jovem que descobriu que tinha um câncer cerebral em fase terminal
e que lhe restavam somente alguns meses de vida, e que sua morte seria lenta e
dolorosa. Com isso, a jovem decidiu recorrer ao suicídio assistido para evitar o
sofrimento que a morte pelo câncer lhe causaria. Porém, no estado onde ela residia,
Califórnia, o suicido assistido é proibido por lei. Portanto, ela teve de se mudar para o
estado de Oregon, onde o suicídio assistido é permitido, para realizar sua vontade5.
Como a população dos Estados Unidos é bastante numerosa (são mais de 300
milhões de habitantes distribuídos entre 50 estados e um distrito federal), essa forma de
federalismo a meu ver parece ser, se não a forma de Estado ideal para os
estadunidenses, pelo menos o mais próximo disso, afinal seria bastante complicado se o
poder central tivesse que cuidar de todas as questões administrativas, jurídicas etc. de
todos os municípios de todos os estados membros dessa enorme federação, além de ser
um sistema vigente desde que sua independência foi proclamada, em 4 de julho de
1776.

4) O federalismo brasileiro

O federalismo no Brasil teve seu início com a proclamação da primeira


república, em 1889. Nesse período, o federalismo conheceu seu auge no país, em que as
oligarquias estaduais tiveram grande autonomia em relação ao poder central.
Com a revolução de 1930 e a implantação da Era Vargas (1930-1945), teve
início um regime autoritário no Brasil, tendo como consequência o quase completo

5
Vítima de câncer cerebral, jovem americana morre nos Estados Unidos. Disponível em:
<http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/noticia/2014/11/vitima-de-cancer-cerebral-jovem-americana-
morre-nos-estados-unidos-4634627.html> Acesso em 21 de nov de 2014.
4

desaparecimento da autonomia dos estados membros da nação, com a União


comandando praticamente todas as ações.
Com a queda do regime ditatorial da primeira Era Vargas, o Brasil teve sua
experiência democrática (1946-1964). Ao lado do início da modernização do país, com
o presidente Juscelino Kubitschek levando a cabo sua promessa de fazer o país “crescer
50 anos em apenas 5”, o que levou a nação a uma grave crise financeira, os distritos
recuperaram parte da autonomia de que dispunham na época da Primeira República.
Em 1964 teve início a ditadura militar, o período mais negro da história
brasileira, que teve seu fim apenas em 1985. Durante esse período, houve, na prática, o
regime do Estado Unitário, citado antes neste trabalho através da obra de Streck e de
Morais, com o controle completo da máquina de arrecadação dos impostos pelo
Governo Central, o que fez com que os estados ficassem fortemente subordinados a esse
governo.
A volta da democracia também significou o retorno do federalismo. A
Constituição de 1988 concedeu maiores competências aos estados membros da
federação e deu maior autonomia aos municípios. Ela também diz que compete à União,
entre outras atividades,

“(...) atuar na área da política externa e das relações internacionais;


propor e executar a política de segurança e de defesa nacional;
conduzir a economia e as finanças do País, inclusive emitir moeda;
organizar, regular e prestar serviços na área de comunicação; explorar
os serviços e instalações nucleares”6.

Já em relação aos estados, cabem-lhes as competências que ficaram de fora da


área de atuação do Governo Federal e que não tenham sido expressamente proibidas
pela Constituição. Quanto aos municípios, a Constituição de 1988 lhes dá uma
importância jamais vista antes, como, por exemplo, o poder de legislar assuntos de
interesse local, além de complementar, quando possível, a legislação estadual e a
federal.
Mas o que logo se pode notar é que o único sistema federalista pleno que existiu
no Brasil, parecido com o que existe nos Estados Unidos, foi o que ocorreu na Primeira
República. Após o fim da Primeira República, os estados nunca mais tiveram a mesma

6
BARBOSA, Antônio José. O Federalismo Brasileiro. Disponível em: <
http://www12.senado.leg.br/jovemsenador/arquivos/o-federalismo-brasileiro> Acesso em 22 de nov de
2014.
5

autonomia que tiveram na “República café com leite”. Streck e Morais explicam isso no
livro “Ciência Política e Teoria Geral do Estado”: “(...) Com a Carta Constituicional de
05/10/88 permaneceu o modelo centralizador, sendo que a partilha de competências
tornou mais evanescente o modelo federalista”7.

5) O novo Partido Federalista brasileiro

Recentemente ressurgiu no Brasil a ideia de um Partido Federalista (FE), em


vias de ser registrado no Tribunal Superior Eleitoral. A principal ideia desse partido é a
implantação de um federalismo pleno, com cada estado com suas próprias leis civis,
fiscais, penais e trabalhistas, cabendo a União manter somente as Forças Armadas, as
Secretarias Normativas e a moeda8. Segundo o partido, o poder centralizado torna os
estados e os municípios demasiado dependentes da União, o que engessa o sistema e
torna os esquemas de corrupção muito mais fáceis de serem feitos e acobertados, pois o
poder centralizado dificulta a fiscalização.

Alguns dos argumentos do Partido Federalista em favor do federalismo pleno.

6) Os perigos de um federalismo pleno no Brasil

É sabido que o Brasil é um “continente” dentro de outro continente, a América


do Sul, e que é bastante complicado deixar a administração desse “continente” em um
7
STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência Política e Teoria Geral do
Estado. Ed. Livraria do Advogado, 2003.
8
Mais detalhes, ver: <
http://www.federalista.org.br/site/downloads/ESTATUTO_FEDERALIST1.pdf>.
6

único local centralizado, no meio do país, distante das grandes metrópoles. Portanto, a
primeira vista, parece bastante interessante a ideia de um federalismo pleno, aos moldes
do que ocorre nos Estados Unidos, como defende, por exemplo, o Partido Federalista,
citado no capítulo anterior.
Mas a verdade é que os Estados Unidos dão um banho de organização no Brasil,
além de, como já dito antes, o país mais notório da América do Norte já usar esse tipo
de sistema de Estado desde sua independência em 1776 (lá se vão 238 anos), sem jamais
ter mudado.
Já no Brasil a situação é completamente diferente. Desde a sua descoberta pela
civilização ocidental em 1500, o maior país da América Latina passou por diversos tipos
de sistemas políticos e estatais, fora a desorganização completa de sua estrutura
administrativa atual. Com essa desordem, se se der autonomia judiciária, tributária e
administrativa aos estados membros da federação corre-se o risco de o país virar um
completo pandemônio, com cada Unidade Federativa fazendo o que bem entende,
especialmente em alguns estados do Nordeste, onde algumas famílias (Sarney,
Magalhães) há tempos já controlam esses estados como se fossem quintais de suas
casas. Com a autonomia desses estados, essas famílias “fariam a festa”, controlando
esses distritos ainda mais do que já controlam.
Outro ponto perigoso seria a ascensão de figuras políticas extremistas, como Jair
Bolsonaro e Marco Feliciano, por exemplo. Com esses estados tendo autonomia
tributária, judiciária e administrativa, se teria menos impeditivos para esses legisladores
aprovarem leis extremistas e que soterrassem ainda mais grupos marginalizados como
os gays, os negros e os ateus. É claro que se porventura vier a ser implantado um
sistema federalista pleno no Brasil algum dia, mesmo assim nenhum estado membro da
federação jamais poderá criar alguma lei que vá de encontro a Constituição Federal.
Mas essas atuações legislativas locais tornariam mais fáceis a criação de leis
“mascaradas”, que se apresentam como defensoras dos bons costumes mas, na verdade,
só tiram direitos daqueles que já não têm muitos.

Conclusão

Este trabalho procurou mostrar aspectos gerais e importantes de uma forma de


Estado tão comum entre as nações, e que, a meu ver, desperta pouco interesse de
7

sociólogos e estudiosos da política. Talvez isso ocorra pelo federalismo ser um sistema
tão arraigado em diversos países, principalmente nos Estados Unidos, nação mais
potente e, consequentemente, mais influente do mundo, que muitos porventura nem
percebam mais como e de que forma se deu esse sistema estatal.
Creio a discussão da ideia de um federalismo pleno, posto em pauta várias vezes
aqui, não faça muito sentido em países de pouca extensão territorial e/ou de baixa
densidade demográfica, pois um poder político, administrativo e judiciário centralizado
na União em países como Espanha, Holanda, Uruguai, Gabão etc. não causaria um
milímetro do impacto do que causaria (ou causa) em países como Estados Unidos,
China, Índia ou Brasil. Afinal de contas, é infinitamente mais tranquilo um governo
central administrar, por exemplo, um país com um território de um pouco mais de
176.000 km² e com 3 milhões de habitantes do que administrar dessa forma um país
com um território de mais de 9.000.000 km² e com uma população de mais de 1 bilhão.
Nesse último caso, creio que seria mais válida uma discussão no sentido de um
federalismo pleno, mas não se pode deixar de se alertar para as possíveis consequências
negativas desse sistema se adotado em sua plenitude.
Mas o mais importante, para mim, é esse debate, essa troca de ideias e
contrapontos que acontecem nas discussões políticas, pois é somente através do diálogo
e das discussões de ideias que se pode alcançar o futuro que sonhamos e desejamos a
todos. Porquanto que historicamente a falta do diálogo e especialmente a falta da
participação popular nas decisões políticas sempre levaram a governos autoritários e
tiranos, onde só o que interessava era a concentração de poder nas mãos dos que
mandavam e o amordaçamento do povo (pode-se citar a Revolução Russa, o regime
nazista alemão, o regime fascista italiano e as ditaduras militares da América Latina
como os principais exemplos do que estou falando).
Por isso, creio que as ideias do Partido Federalista são extremamente válidas,
por mais que eu discorde de vários pontos, pois toda a proposta que vise à criação de um
país melhor é sempre bem-vinda, desde que, como dito antes, sempre se busque o
diálogo e a troca de ideias e, principalmente, nunca haja uma defesa ideológica
extremamente apaixonada, como ocorre muito nas redes sociais na modernidade, pois
daí as discussões políticas viram mais um Corinthians x Palmeiras ou um Gre-Nal do
que realmente trocas de ideias sobre de que forma podemos construir um mundo mais
justo e mais igualitário, onde todos possam prosperar e ter uma vida digna.
8

"Não é possível libertar um povo, sem antes, livrar-se da escravidão


de si mesmo. Sem esta, qualquer outra será insignificante, efêmera e
ilusória, quando não um retrocesso. Cada pessoa tem sua caminhada
própria. Faz o melhor que puderes. Sê o melhor que puderes. O
resultado virá na mesma proporção de teu esforço. Compreende que,
se não veio, compete-te a ti (a mim e a todos) modificar as tuas
(nossas) técnicas, visões, verdades, etc."9

Mahatma Gandhi

9
Retirado do site: < http://pensador.uol.com.br/gandhi_textos/>.
9

Referências:

A origem da política – Federalismo. Disponível em:


<http://rhbjhistoria.blogspot.com.br/2012/02/origem-da-politica-federalismo.html>
Acesso em 21 de nov de 2014.

BARBOSA, Antônio José. O Federalismo Brasileiro. Disponível em: <


http://www12.senado.leg.br/jovemsenador/arquivos/o-federalismo-brasileiro> Acesso
em 22 de nov de 2014.

Federalismo. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/o_que_e/federalismo.htm>


Acesso em 21 de nov de 2014.

STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência Política e Teoria Geral
do Estado. Ed. Livraria do Advogado, 2003.

Você também pode gostar