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COMPETÊNCIA AMBIENTAL

1) INTRODUÇÃO

O País possui três esferas executivas, a federal, a estadual e a municipal,


todas ligadas entre si; no entanto, cada uma possui um território de atuação e para isso é
definida a competência de cada esfera para legislar sobre um determinado assunto, a fim
de evitar conflitos de legislações.

Cada esfera executiva determina dentro de sua competência quais serão os


órgãos responsáveis pelo planejamento e execução de políticas necessárias ao
desenvolvimento sustentável.

Quando se faz a distinção nas três esferas de poder, é sempre necessário


lembrar que em determinadas situações apenas uma esfera é competente para
regulamentar, mas em outras situações os três entes possuem competência comum para
legislarem.

2) COMPETÊNCIA DA UNIÃO

O artigo 22 da Constituição Federal relaciona os conteúdos de competência


exclusiva da União para legislar sobre águas, energia, jazidas, minas e demais recursos
minerais, indígenas e atividades nucleares, os quais todos possuem uma relação ligada
ao meio ambiente.

Nesse sentido, Granziera (2011, p. 89) expõe que:

é possível afirmar que, na formulação das normas sobre as matérias


objeto do art. 22, há que se considerar tanto a regra do art.170, que
condiciona a ordem econômica à proteção ambiental, como o art. 225,
que dispõe sobre meio ambiente. Essa relação obrigatória por força
constitucional é o que se denomina de ‘transversatilidade’ do meio
ambiente nos vários setores produtivos, de acordo com os riscos de
impactos e as soluções encontradas. Há, pois, que incluir, na
elaboração das normas relativas aos temas elencados no art. 22, o fator
ambiental.

Assim, não basta apenas analisar o art. 22 da Carta Magna, mas também os
arts. 170 e 225 do mesmo diploma.

Séguin (2002, p. 209), quando trata da competência ambiental, cita que a


matéria ambiental “torna-se complexa pela pluralidade e abrangência do tema, sendo
que alguns tópicos ambientais são privativos da União, como a questão da energia
nuclear e outros são concorrentes, como a saúde pública”.

Pelo fato, de se tratar de uma complexidade tão abrangente, deve-se levar


em consideração o princípio da predominância dos interesses, assegurado na
Constituição Federal, para ser aplicado na repartição das competências, como defende
Fiorillo (2004, p.67):

Na repartição de competências legislativas aplica-se o princípio da


predominância dos interesses, de modo que à União caberão as
matérias de interesse nacional, aos Estados, as de interesse regional,
enquanto aos municípios tocarão as competências legislativas de
interesse local. Essa é a regra norteadora da repartição de
competências. Todavia, em algumas matérias, em especial no direito
ambiental, questões poderão existir não só de interesse local, mas
também regional ou, até mesmo nacional.

Por ser, tão ampla, a matéria ambiental está bastante repartida pela
Constituição Federal, como salienta Antunes (2005, p. 73):

As competências legislativas em matéria ambiental estão bastante


repartidas pela Constituição Federal, sendo certo que tanto a União,
como os Estados-Membros e os Municípios possuem-na. A repartição
de competências legislativas, feita com o claro intuito de
descentralizar a proteção ambiental, implica a existência de um
sistema legislativo complexo e que nem sempre, funciona de modo
integrado, como seria de se esperar. Tal fato é devido a toda uma
gama de circunstâncias que variam desde interesses locais
particularizados até conflitos interburocráticos e, sem dúvida, chegam
até as dificuldades inerentes ao próprio sistema tripartite.

Dessa maneira, a competência pode ser dividida em material e legislativa,


sendo que cada uma delas, ainda, será subdividida. Fiorillo (2004, p. 68) subdivide a
competência ambiental em exclusiva e comum, conforme explica:

A competência material, por sua vez, subdivide-se em: a) exclusiva:


aquela reservada a uma entidade com exclusão das demais. É prevista
no artigo 21 da Constituição Federal; b) comum: é a competência
atribuída a todos os entes federados, que, em pé de igualdade,
exercem-na, sem todavia, excluir a do outro, por quanto esta
competência é cumulativa. É prevista no artigo 23 da Constituição
Federal.

O mesmo autor, ainda, subdivide a competência legislativa em exclusiva,


privativa, concorrente, e suplementar, conforme explica:

A competência legislativa subdividi-se em: a) exclusiva: é a atribuída


a um ente com a exclusão dos demais, sendo certo que esta
competência é indelegável. É prevista no artigo 25, §§ 1º e 2º da
Constituição Federal; b) privativa: é a enumerada como própria de
uma entidade, todavia passível de delegação e suplementação da
competência. É prevista pelo artigo 22 e parágrafo único, da
Constituição Federal; c) concorrente: é a competência prevista pelo
artigo 24 da Constituição Federal, a qual se caracteriza pela
possibilidade de União, Estados, e Distrito Federal disporem sobre o
mesmo assunto ou matéria, sendo que a União caberá legislar sobre
normas gerais; d) suplementar: correlata à concorrente é a que atribui
competência a Estados, Distrito Federal (art. 24, § 2º) e Municípios
(art. 30, II) para legislarem sobre normas de conteúdo de princípios e
normas gerais ou que supram a ausência ou omissão destas.

José Afonso da Silva, usa a mesma classificação de Fiorillo, quanto a


divisão de competências, no entanto, cabe destacar, quanto a competência da União, o
que observa Silva (2009, p. 76):

À União resta uma posição de supremacia no que tange à proteção


ambiental. A ela incumbe a Política Geral do Meio Ambiente, o que já
foi materializado pela Lei 6.938 de 1981. Cabe-lhe elaborar e executar
planos nacionais e regionais de ordenação do território (art. 21, IX).
Só nisso já se tem uma base sólida para o estabelecimento de planos
nacionais e regionais de proteção ambiental. Também lhe é
reconhecida a competência exclusiva para instituir o Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos e para definir critérios de
outorga de direitos de uso (art. 21, XI). A par disso, deu-se também a
ela a competência privativa de legislar sobre águas e energia (art. 22,
IV), embora tenham sido incluídas entre os bens dos Estados as águas
superficiais, ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito. Vale
dizer, assim, que, mesmo sendo de sua propriedade, os Estados só
podem administrá-las nos termos da legislação federal pertinente.

Do mesmo modo, deve-se considerar ainda, que, mesmo tendo sido


empregado o termo, privativamente, no artigo 22 da Carta Magna, a União pode
autorizar os Estados, para estes legislarem sobre matérias especificas, desde que,
definidas por lei complementar, conforme explica Granziera (2011, p. 89):

O conteúdo da competência privativa, atribuída à União é prevista no


artigo 22 da Constituição, refere-se à disciplina normativa do
Congresso Nacional. Embora o dispositivo constitucional mencione o
termo privativamente, a União pode, por lei complementar, autorizar
os Estados a legislar sobre questões especificas das matérias
relacionadas no citado artigo.

Da mesma forma, o mesmo autor ainda complementa:

De antemão, é possível afirmar que na formulação das normas sobre


as matérias objeto do artigo 22, há de se considerar tanto a regra do
artigo 170, que condiciona a ordem econômica à proteção ambiental,
como o artigo 225, que dispõe sobre meio ambiente. Essa relação
obrigatória por força constitucional é o que se denomina de
transversalidade do meio ambiente em vários setores produtivos, de
acordo com os riscos de impactos e as soluções encontradas. Há, pois,
que incluir, na elaboração das normas relativas aos temas elencados
no artigo 22, o fato ambiental. (GRANZIERA. 2011, p. 89).

Dessa maneira, observa-se que, para atender ao estabelecido pelo artigo 22


da Constituição Federal, deve-se levar em consideração também o que estabelecem os
artigos 170 e 225 da mesma norma.
2.1) COMPETÊNCIA CONCORRENTE

A competência concorrente é definida no artigo 24 da Carta Magna, e se


direciona a União, aos Estados, e ao Distrito Federal, como explica Séguin (2002, p.
214):

O sistema de competências concorrentes das três esferas


governamentais, adotado pela Carta Magna, é um pressuposto de
racionalidade. Teoricamente quem é competente para legislar deve ser
competente para fiscalizar a aplicação da norma emitida, utilizando os
instrumentos disponibilizados para tal finalidade. Este critério
facilitará a solução de possíveis conflitos de competência. Contudo, o
que se verifica é a desarticulação das ações governamentais,
acarretando dispersão de esforços e o não atingimento das metas
estabelecidas.

O artigo 24 da Constituição Federal elenca vários temas, os quais são de


competência concorrente dos três entes, União, Estados e Distrito Federal. Como
explica Granziera (2011, p. 90):

O artigo 24, inclui, nas matérias de competência legislativa


concorrente de União, Estados, Distrito Federal, vários temas relativos
ao meio ambiente: florestas, caça, pesca, fauna, conservação da
natureza; defesa do solo e dos recursos naturais, proteção ao
patrimônio histórico, cultural, turístico e paisagístico;
responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; e
proteção e defesa da saúde.

O mesmo autor ainda complementa:

Em matéria de competências legislativas concorrentes, a competência


da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais, que se aplicam a
todo território nacional, cabendo a cada unidade da Federação o
respectivo detalhamento, conforme as características e necessidades
locais, limitados pelas regras impostas pela União (GRANZIERA,
2011, p. 90).

Do mesmo modo como explica Granziera, Canotilho e Leite (2008, p. 215),


também aduzem:

As normas gerais devem estabelecer princípios fundamentais, dotadas


de generalidades e abstração, que não se iniciam no campo de atuação
dos Estados e do Distrito Federal. Não podem especificar situações
que, por sua natureza, acabem por invadir a esfera legislativa dos
demais entes federativos. Isso porque as normas gerais estão contidas
pela finalidade de coordenação e uniformização.

Dessa maneira, quem possui a competência de legislar sobre as normas


gerais e estabelecer os princípios fundamentais, é a União. Deste modo, os Estados e o
Distrito Federal, não podem invadir a competência que neste caso é da União.

3) COMPETÊNCIA COMUM E A LEI COMPLEMENTAR 140/2011


A competência comum, refere-se a competência de todos os entes
federados, dessa forma, União, Estados, Distrito Federal e Municípios, conforme o
artigo 23 da Carta Magna. Silva (2009, p. 27) explica e enumera as competências
comuns abrangidas pelo artigo 23 da Constituição Federal:

Essa competência diz respeito à prestação de serviços referentes


àquelas matérias, à tomada de providências para a sua realização.
Alguns incisos do artigo referem-se à proteção do meio ambiente
cultural ou natural. Assim, é que se atribui àquelas entidades,
cumulativamente, a competência para proteger obras e outros bens de
valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens
naturais notáveis, e os sítios arqueológicos (inciso III), bem como a
competência para impedir a distribuição e a descaracterização de
obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural
(inciso IV). Já no tocante ao meio ambiente natural encontramos a
competência comum para protegê-lo e para combater a poluição de
qualquer de suas formas (inciso VI), assim como para preservar as
florestas, a fauna e a flora (inciso VII). Essa é a competência mais
voltada para a execução das diretrizes, políticas e preceitos relativos à
proteção ambiental.

Ao tratarem do mesmo assunto, Canotilho e Leite (2008, p. 219),


consideram redundante “o dever de proteger o meio ambiente e preservar as florestas, a
fauna, e a flora” uma vez que estes elementos já estão presentes no conceito de meio
ambiente estabelecido na Política Nacional de Meio Ambiente, Lei no 6.938 de 1981.
Mas observam que a Constituição particularizou algumas situações, como explicam:

Por fim, menciona-se que a própria Constituição particularizou


situações em que a União, os Estados o Distrito Federal e os
Municípios deverão atuar de forma conjunta em matéria ambiental,
observando as regras da competência administrativa comum. Nesse
sentido, atribuiu ao Poder Público algumas tarefas específicas, que
deverão ser cumpridas de acordo com o sistema de responsabilidade
compartilhadas, visando garantir a efetividade do direito fundamental
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Em outra
oportunidade, conferiu ao Poder Público e a coletividade o dever de
promover e proteger o patrimônio cultural brasileiro. (CANOTILHO e
LEITE. 2008, p. 217).

Granziera (2011, p. 95), pondera que cabe ao poder público desenvolver


ações para manter o meio ambiente equilibrado:

Ao Poder Público cumpre desenvolver as ações necessárias para


garantir a efetividade do direito ao meio ambiente equilibrado, função
que implica a cooperação entre os entes políticos, ressaltando-se a
menção expressa ao termo efetividade em nível constitucional.

Com relação ao interesse local, o autor acima mencionado destaca que:

a organização e a prestação dos serviços públicos de interesse local,


diretamente ou sob o regime da concessão ou permissão, competem ao
Município. Isso não significa que os serviços públicos devam apenas
ser prestados em âmbito local, pois em regiões metropolitanas, por
exemplo, o interesse regional pode determinar uma coordenação entre
a União, o Estado-membro e os Municípios, para a consecução de um
interesse comum. (GRANZIERA. 2011, p. 95)

Essa cooperação, está prevista pelo artigo 23, parágrafo único, da Carta
Magna, sendo que ainda conforme o descrito, leis complementares deverão fixar as
normas para tal cooperação.

A determinação expressa no parágrafo único do artigo 23, acima


mencionado, deu origem a Lei Complementar 140 de 8 de dezembro de 2011, o qual
traz na redação do artigo 3º as finalidades básicas para o exercício da competência, a
seguir transcrito:

Art. 3o Constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios, no exercício da competência
comum a que se refere esta Lei Complementar:

I - proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente


equilibrado, promovendo gestão descentralizada, democrática e
eficiente;

II - garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a


proteção do meio ambiente, observando a dignidade da pessoa
humana, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades
sociais e regionais;

III - harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a


sobreposição de atuação entre os entes federativos, de forma a evitar
conflitos de atribuições e garantir uma atuação administrativa
eficiente;

IV - garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País,


respeitadas as peculiaridades regionais e locais.

Com base nesse artigo, Machado (2013, p. 184) explica:

as ações de cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal, e


os Municípios deverão ser desenvolvidas de modo a serem atingidos
os objetivos acima mencionados e seja garantido o desenvolvimento
sustentável, em harmonia e integração com as políticas
governamentais (art. 6º da Lei Complementar 140/2011). O afirmado
pelo referido artigo 6º não é de aplicação automática, pois essa
cooperação entre os entes federados na execução de políticas
governamentais deve passar pelo crivo exame da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência dessas políticas
(art. 37 da Constituição Federal).

Ainda, segundo o mesmo autor essa lei fez uma ressalva quanto a
competência dos Estados, restringindo a mesma, e deixando a competência de forma
ampla para a União.

A Lei Complementar 140/2011 impôs uma ressalva na competência


dos Estados, visando a observância da competência mais ampla da
União. A ressalva ou limitação imposta tem a função de alertar as
ações estaduais, para que respeitem as ações já tomadas pela União.
Aí, como em outras matérias, [...] o acolhimento da ressalva depende
de um posicionamento autoablativo dos Estados, pois eles são
detentores da competência comum constitucional (MACHADO, 2013,
p. 185).

Assim, os entes devem desenvolver os objetivos para que garantam um


desenvolvimento equilibrado para um meio ambiente preservado.

4) COMPETÊNCIA DOS ESTADOS

A competência dos Estados para atuarem em matéria ambiental estão


previstos nos artigos 23 e 24 da Carta Magna, no entanto cabe observar de antemão que,
os Estados não tem competência exclusiva, possuem apenas competência suplementar.
Desse modo, explica Antunes (2005, p. 76):

A competência dos Estados membros da federação para atuar em


matéria ambiental está prevista nos artigos 23 e 24 da Lei
Fundamental brasileira. No artigo 23, [...] existe uma atribuição de
cooperação administrativa entre os diversos componentes da
Federação. Já o artigo 24 afirma uma competência legislativa própria
para os Estados. O artigo 24 não trata do meio ambiente como um
bem unitário, mas, ao contrário, subdivide-o em diversos ‘setores’
que, integrando-os, estão tutelados por normas legais estaduais.
Assim, os Estados podem legislar concorrentemente sobre: florestas,
caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos
recursos naturais, proteção do meio ambiente, controle da poluição;
proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico, e
paisagístico; responsabilidade por dano ao meio ambiente, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Sendo assim, a União pode apenas estabelecer normas gerais sobre os casos
estabelecidos no artigo 24, enquanto que os Estados devem estabelecer aspectos
minuciosos sobre os assuntos. Nesse sentido, complementa Silva (2009, p. 78-79):

Tem, porém, competência suplementar de normas gerais estabelecidas


pelo governo federal, nos termos do artigo 24, VI, VII, VIII e seu § 2º.
A União já expediu, [...] várias leis de política e diretrizes gerais sobre
a matéria, tais como o Código Florestal (Lei 4.771, de 1965), a lei que
dispõe sobre a proteção à fauna (Lei 5.197, de 1967), a lei que institui
a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938 de 1981), a lei que
dispõe sobre a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção
Ambiental (Lei 6.902 de 1981), a lei que institui o Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro (Lei 7.661 de 1988) entre outras que não
excluem a competência suplementar dos Estados na matéria. Ao
contrário, pressupõe o exercício dessa competência, às vezes até
mencionando-a expressamente como é o caso do § 1º do artigo 6º da
Lei 6.938 de 1981, onde se estatui que os Estados na esfera de suas
competências e nas áreas de sua jurisdição, elaboração de normas
supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio
ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo Conselho
Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. No mesmo sentido é o
disposto no artigo § 1º do artigo 5º da citada Lei 7.661 de 1988, ao
estatuir que os Estados e Municípios, poderão instituir, através de lei,
os respectivos Planos estaduais e municipais de gerenciamento
costeiro, observados as normas e diretrizes do Plano Nacional e o
disposto naquela lei.

Dessa forma, observa-se que os Estados não estão diretamente vinculados a


uma norma específica, descrita na Constituição, mas deixa que cada Estado possa criar
suas próprias leis ou normas de proteção ao meio ambiente, apenas observando a norma
geral estabelecida pela União. Nesse sentido, explicam Canotilho e Leite (2008, p. 211):

Ao reservar aos Estados as competências que não lhe fossem


constitucionalmente vedadas, a Carta Magna abraçou,
simultaneamente, as atribuições estaduais de natureza executiva e
legislativa. É possível pois adotar para ambas as modalidades de
competência uma única interpretação: toda matéria que não for
atribuída à União e aos Municípios caberá, de forma remanescente,
aos Estados. Assim sendo, é competência estadual legislar sobre
qualquer tema, incluindo-se nesse rol, as questões ambientais, desde
que observados os princípios estabelecidos pelo texto constitucional.

Desse modo, cabe aos Estados, legislarem sobre todos os assuntos em


matéria ambiental, que não forem de atribuição da União ou dos Municípios, ou
vedadas pela Constituição.

5) COMPETÊNCIA DOS MUNICÍPIOS

A competência dos municípios está estabelecida no artigo 30, da Carta


Magna, aos quais compete legislar sobre assuntos de interesse local, suplementar a
legislação federal e estadual nos termos que couber e promover um adequado
ordenamento territorial, mediante um planejamento e controle de uso, do parcelamento
e da ocupação do solo urbano, além de promover a proteção do patrimônio histórico-
cultural local, observando a legislação federal e estadual:

As atribuições ambientais exclusivas dos Municípios não são muito


expressivas. De acordo com a Constituição, cabe-lhes promover, no
que couber, o adequado ordenamento territorial, o que deve ser feito
mediante planejamento e controle de uso, do parcelamento e da
ocupação do solo urbano. Tal competência vem somar-se ao disposto
no inciso IX do artigo 21 da Carta Magna, o qual atribui à União
competência exclusiva para elaborar e executar planos nacionais e
regionais de ordenação do território. Também aos Municípios cabe,
exclusivamente, promover a proteção do patrimônio histórico-cultural
local, com observância da legislação e da ação fiscalizadora da União
e dos Estados (CANOTILHO E LEITE, 2008, p. 212).

Machado (2013, p. 441), resume em poucas palavras a competência dos


municípios, que segundo ele “tem competência para legislar sobre assuntos de interesse
local e para suplementar a legislação federal e estadual”.
Assim, ao se considerar o interesse local, cabe destacar a importância dos
municípios nas questões ambientais, uma vez que, os municípios, estão os mais
próximos dos problemas. De tal maneira, destaca Antunes (2005, p. 77-78):

Está claro que o meio ambiente está incluído no conjunto de


atribuições legislativas e administrativas municipais e, em realidade,
os Municípios formam um elo fundamental na complexa cadeia de
proteção ambiental. A importância dos Municípios é evidente por si
mesma, pois as populações a as autoridades locais reúnem amplas
condições de bem conhecer os problemas e mazelas ambientais de
cada localidade, sendo certo que são as primeiras a localizar e
identificar o problema. É através dos Municípios que se pode
implementar o princípio ecológico de agir localmente, pensar
globalmente.

Pelo fato de o Município estar mais próximo da população dos locais onde
ocorrem os problemas, é que se torna mais fácil para ele fiscalizar e aplicar as normas.

6) SISNAMA – SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

O SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente), foi criado a partir da


Lei 6.938 de 1981. Segundo a definição de Granziera (2011, p. 104), o SISNAMA é um
conjunto de órgãos e entidades que fiscalizam as atribuições relativas a proteção do
meio ambiente.

O SISNAMA é o conjunto de órgãos e entidades federais, estaduais e


municipais da Administração Pública, instituídos por leis que
fiscalizam as respectivas atribuições relativas à proteção ambiental. A
análise desse sistema deve ser feita à luz do art. 23 da Constituição
Federal, que estabelece as competências comuns dos Entes Federados,
muitas delas relativas a questões ambientais. (GRANZIERA. 2011, p.
104).

Silva (2009, p. 226-227) vai além na sua definição:

O Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) é um conjunto


articulado de órgãos, entidades, regras, e práticas da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios e de
fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e
melhoria da qualidade ambiental, sob a direção superior do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). O SISNAMA está assim
estruturado: órgão superior, o Conselho de Governo; órgão consultivo
e deliberativo, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA);
órgão central, o Ministério do Meio Ambiente; órgãos executores, que
são dois: o Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos
Renováveis – IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação e
Biodiversidade; órgãos setoriais: órgãos ou entidades integrantes da
Administração Pública Federal, direta ou indireta; órgãos seccionais:
os órgãos ou entidades estaduais; os órgãos locais: órgãos ou
entidades municipais.

O órgão superior ou conselho de governo é o encarregado pelo


assessoramento direto ao Presidente da República, como explica Antunes (2005, p. 84):
O Conselho de Governo é o órgão integrante da Presidência da
República e é encarregado do assessoramento imediato ao Presidente
da República, conforme determinação que se continha na Lei n° 8.028
de 12 de abril de 1990. A reorganização da estrutura administrativa da
Presidência da República. O Conselho de governo é constituído por
todos os Ministros de Estado, pelos titulares dos órgãos essenciais da
Presidência da República e pelo Advogado Geral da União, com a
finalidade de assessorar o Presidente da República na formulação de
diretrizes de ação governamental.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) é um órgão


consultivo e deliberativo, o qual deve assessorar o Conselho de Governo, conforme
explica Granziera (2011, p. 107):

O CONAMA é o órgão consultivo e deliberativo do SISNAMA e tem


por finalidade assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo
diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os
recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre
normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente
equilibrado e essencial a sadia qualidade de vida (art. 6º da Lei no
6.938/1981). É órgão colegiado, congregando representantes do
governo e da sociedade civil organizada, sendo a negociação um
instrumento estratégico para a definição do conteúdo das normas
emanadas por ele.

No entanto, Silveira (2003, p. 155-156) faz uma importante observação


sobre o CONAMA, a qual deve ser considerada:

A estrutura administrativa brasileira é formada pelo SISNAMA,


Sistema Nacional do Meio Ambiente. Previsto no artigo 6º da Lei
6.938/1981, e redação dada pela Lei 7804/1989. A participação da
União, Estados e Municípios foi prevista e estruturada. Ocorre que nos
termos da Constituição de 1988, o § 1º do artigo 6º da Lei 9.638/1981
não foi recepcionado. Tanto é que uma lei criada em nível estadual
não se subordina às resoluções do CONAMA, pois a norma que rege
primordialmente a repartição de competências é a Constituição. Dessa
forma, o mesmo artigo 8º, VII, deve ser lido à luz da CRFB de 1988, e
não nos moldes de uma lei editada na vigência da Constituição
anterior, em que pese a sua importância. Ora, se os Estados podem
legislar sobre a matéria ambiental, respeitada a norma geral, eles não
ditam simplesmente uma norma supletiva ou complementar, já que a
União pode – e isso é comum no Brasil – ter extrapolado os limites
daquilo que entendemos por norma geral. E muito menos tem de se
subordinar aos limites impostos em nível administrativo pelo
CONAMA, órgão consultivo e deliberativo do SISNAMA, através das
resoluções que não possuíam esse grau de generalidade, previsto no
artigo 24.

O Ministério do Meio Ambiente já teve sua nomenclatura alterada por


diversas leis, como explica Antunes (2005, p.82):

O Ministério do Meio Ambiente resultou da transformação da


Secretaria do Meio Ambiente em Ministério por força do artigo 21 da
Lei no 8.490 de 19 de novembro de 1992. Por sua vez, o Ministério do
Meio Ambiente foi transformado pela Lei no 8.746 de 9 de dezembro
de 1993, em Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal.
Houve uma ligeira alteração nas atribuições e na estrutura básica do
Ministério transformado para aquelas que passaram a ser atribuídas ao
novel Ministério.

O Ministério do Meio Ambiente possui uma serie de competências, assim


cita Granziera (2011, p. 110):

As áreas de competência do MMA abrangem as políticas de meio


ambiente e recursos hídricos e, dentro desses grandes temas, todas as
questões atinentes ao meio ambiente. As competências da SEMA
transferidas ao Ministério do Meio Ambiente foram, pois, expandidas
pela própria complexidade que envolve as questões ambientais e pelas
novas descobertas científicas com impactos econômicos como as
mudanças do clima, sem falar no avanço da implementação das
políticas ambientais.

O IBAMA surgiu a partir da extinção de outros órgãos que eram


encarregados dos problemas ambientais do País. Surgiu para assessorar e coordenar a
Política Nacional do Meio Ambiente. Nas palavras de Séguin (2002, p. 238-239) o
IBAMA tem por finalidade:

formular, coordenar, executar e fazer a Política Nacional do Meio


Ambiente, a preservação e conservação, o uso racional dos recursos
naturais e a fiscalização e controle, bem como o fomento dos recursos
naturais renováveis. [...] é uma instituição governamental científica, já
que constitui uma entidade autárquica com autonomia administrativa
destinada a formular, coordenar, fazer executar a Política Nacional do
Meio Ambiente.

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade foi criado em


2007, pela Lei no 11.516, com a finalidade ser um órgão, que exerça um poder de
polícia ambiental. Conforme explica Machado (2013, p. 216) o Instituto é:

autarquia federal dotada de personalidade jurídica de direito público,


autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do
Meio Ambiente, com a finalidade de: I executar ações da Política
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, referentes às
atribuições federais relativas a proposição, implantação, gestão,
proteção, fiscalização e monitoramento das unidades de conservação
instituídas pela União; II executar as políticas relativas ao uso
sustentável dos recursos naturais renováveis, apoio ao extrativismo e
às populações tradicionais nas unidades de conservação de uso
sustentável instituídas pela União; III fomentar e executar programas
de pesquisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade;
IV exercer o poder de policia ambiental para a proteção das unidades
de conservação instituídas pela União. O Instituto Chico Mendes
passa a tratar da biodiversidade, isto é, do patrimônio genético, a nível
federal, e também de todas as matérias atinentes às unidades de
conservação da União.

Segundo Silva (2009, p. 228) os órgãos setoriais são aqueles ligados direta
ou indiretamente à Administração Pública Federal:

órgãos ou entidades integrantes da Administração Pública Federal


direta ou indireta, bem como fundações instituídas pelo Poder Público,
cujas atividades estejam, total ou parcialmente, associadas às de
preservação da qualidade ambiental ou de disciplina do uso de
recursos ambientais.

Os órgãos seccionais estão ligados, segundo o mesmo autor aos órgãos


Estaduais, que na sua definição são: “os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela
execução de programas e projetos e de controle e fiscalização das atividades suscetíveis
de degradarem a qualidade ambiental”.

E os órgãos locais, ainda, na classificação do autor acima referido são os


“órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo controle e fiscalização dessas
atividades, nas respectivas áreas de jurisdição”.

É de suma importância observar que a classificação quanto aos órgãos não é


unânime entre os autores, uma vez que, autores como Elida Séguin, Maria Luiza
Machado Granziera e alguns outros, adotam a divisão da classificação dos órgãos em
apenas dois, os órgãos Estaduais e os Municipais.

7) REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em setembro 2018.

BRASIL. Lei nº 10.650/2003. Dispõe sobre o acesso público aos dados e informações
existentes nos órgãos e entidades integrantes do Sisnama. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.650.htm. Acesso em setembro
2018.

DISCACCIATI, Ana Clara Gonçalves. DIZ, Jamile Bergamaschine Mata. ACESSO À


JUSTIÇA EM MATÉRIA AMBIENTAL. Disponível em:
http://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/28170/1/2016_art_acgdiscacciati.pdf. Acesso
em setembro de 2018.

FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 7. ed.


São Paulo: Saraiva, 2006.

MILARÉ, Edis Direito do ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

PEREIRA, Reginaldo. WINCKLER, Silvana Terezinha. Instrumentos da tutela


administrativa do meio ambiente. Revista de Direito Ambiental 2008 - RDA 51 -
Doutrina Nacional. Disponível em:
http://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/9/docs/doutrina_tutela_adm._ma.pdf. Acesso em:
setembro 2018.

REITZ, Rebeca Monteiro. Meio ambiente: instrumentos judiciais coletivos de


proteção / Rebeca Monteiro Reitz. Belém, 2008. 179 p. Dissertação (mestrado) –
Universidade da Amazônia, Belém, 2008. 1. Direito – Meio Ambiente. 2. Direito –
Legislação. I. Título. CDD – 346.044.

RODRIGUES. Marcelo Abelha. Direito Ambiental Esquematizado. Coordenação


Pedro Lenza. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. Editora Malheiros, São
Paulo, 2013.

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