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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


FACULDADE DE DIREITO DO RECIFE
DIREITO AMBIENTAL - M0

Discentes: Guilherme de Vasconcelos e Louise Reimine


Docente: Prof. Talden Farias

1ª ATIVIDADE:

Fichamento do texto “Repartição de competência legislativa e administrativa do Direito


Ambiental”, de Eduardo Fortunato Bim e Talden Farias

RECIFE

2023
Um dos principais conflitos históricos, e, ainda bastante atual, do Direito Ambiental é
a repartição de competências, tanto legislativa como administrativa. Faz parte da própria
essência do modelo federalista, adotado pelo Estado brasileiro, a repartição de competências,
isto é, a distribuição de poderes que a lei confere a cada órgão público para que possam
desempenhar suas atribuições específicas, efetivando a sua autonomia administrativa. No
caso brasileiro, incluiu-se também os Municípios como entes federativos, peculiaridade que
torna ainda mais complexa essa repartição de competências.

De modo geral, as competências são repartidas entre os entes federativos com base no
critério do interesse público, ou seja: se a matéria é dotada de interesse nacional, caberá à
União, mas se somente for dotada de interesse regional ou local, caberá ao respectivo Estado
ou Município. Ocorre que, no âmbito da matéria ambiental, esse critério da predominância do
interesse assume uma acepção específica, na medida em que a todos os entes federativos
interessa o meio ambiente ecologicamente equilibrado.

No tocante à competência administrativa ambiental, o art. 23, VI, da CF prevê como


competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios a proteção
do meio ambiente e, no parágrafo único do mesmo dispositivo, estabelece que as normas para
tal cooperação deverão ser fixadas em lei complementar. Nessa toada, a edição da Lei
Complementar 140/11 até contribuiu para solucionar certos problemas, mas permanecem
muitos conflitos, seja para licenciar/autorizar ou para fiscalizar. Especialmente em relação à
fiscalização, o prof. Talden Farias, versando sobre a competência comum prevista no art. 23,
VI, da CF, nos adverte com o seguinte ditado popular: “cão que tem dois donos passa fome”.
Tal citação nos elucida, em complemento ao texto, que se acreditarmos no mito de que cabe a
todos os entes federativos fiscalizar, na prática, nenhum deles fiscaliza, deixando tal
responsabilidade para os demais. Logo, entende-se que a atuação prioritária de cada ente na
atividade de fiscalização deve corresponder à sua matéria de licenciamento.

Já no ato de licenciar/autorizar, o art. 13 da LC 140/11, caput, estabelece a regra do


licenciamento único, com a manifestação meramente opinativa dos outros órgãos (§1°).
Assim, diz-se que os Estados têm competência residual no âmbito do licenciamento, isto é,
licenciam o que não for de competência da União (competência restritiva) ou dos Municípios.
Na prática, contudo, empreendimentos ou atividades passam por um licenciamento ambiental
triplo (União, Estado e Município), como se recebessem maior credibilidade, sendo que isso
só representa um desperdício dos recursos públicos, conforme explica o prof. Talden nos seus
comentários em aula, complementares ao texto ora analisado.

Por sua vez, a competência legislativa se subdivide em seis categorias, a saber: (I)
remanescente, conforme estipulado no §1° do art. 25 da CF, em relação ao ente estadual; (II)
exclusiva, prevista no §2° do art. 25 e no inc. I do art. 30 da CF, aplicável aos Estados e
Municípios; (III) privativa, delineada nos arts. 22 e 25 da CF; (IV) concorrente, estabelecida
no art. 24 da CF, abrangendo União, Estados e Distrito Federal; (V) suplementar, indicada no
§2° do art. 24 e no inc. II do art. 30 da CF, válida para Estados, Distrito Federal e Municípios;
e, por fim, (VI) reservada, conferida ao Distrito Federal, como descrito no §1° do art. 32 da
CF. Na prática, predomina a competência concorrente entre a União e os Estados (além do
DF), cabendo àquela legislar sobre normas gerais e, a estes, tão somente a competência para
suplementá-las. No caso de omissão legislativa, por parte da União, podem os Estados e o DF
editar as normas gerais.

Não obstante a aparente solidez estrutural da repartição de competências legislativas,


os conflitos permanecem por vários fatores, tais como a incidência frequente da competência
legislativa sobre a competência administrativa, a dificuldade na delimitação de conceitos
jurídicos indeterminados (“normas gerais”, do art. 24, §1° da CF, por exemplo). Diante disso,
tem-se entendido que, se houver concorrência entre os tipos de legislação, a específica deve
prevalecer em detrimento da geral, não havendo que se falar em melhor proteção ambiental.
No entanto, deve-se ter cuidado nas hipóteses em que as noções de norma geral e especial
não sejam claras o suficiente para solucionar o conflito de competência. Isso porque, nesses
casos, costuma-se dizer que deve prevalecer a norma que melhor garanta a preservação da
qualidade do meio ambiente (in dubio pro natura), embora nem sempre isso seja possível,
pelas seguintes razões: (I) é praticamente impossível chegar a uma interpretação unívoca; (II)
raramente se tratará de um conflito só ambiental, sendo precipitado sobrelevar o peso do
meio ambiente em relação aos demais; (III) pode haver critério de especialidade entre elas,
com a ingerência, por exemplo, em serviços públicos pelo ente que editou a norma geral.

Ante o exposto, conclui-se que, embora a Lei Complementar 140/11 tenha tentado
cumprir com a função de regulamentar a competência comum para a proteção do meio
ambiente, fixando normas para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios, com o fito de promover o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em
âmbito nacional, permanece bastante conflituosa a repartição de competências legislativas e
administrativas em matéria ambiental.

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