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Teoria Geral do Direito

Constitucional
Tema: Organização Política administrativa do Estado- Repartição de competência e
Intervenção Federal e Estadual
Faculdade Anhanguera
Professora: Emanuella Rezende França
Bacharel em Direito (Estácio Fap )
Especialista : Direito Processual
Mestranda Direito Público(Unesa-Rj)
Advogada: OAB PA
Introdução

 Como já estudamos anteriormente, podemos definir a Federação brasileira como uma


federação por segregação. Isso porque, quanto a formação, há o império que segregou o
poder.

 Em outras palavras, o poder caminhou do centro (império) para a periferia.

 Neste contexto, é preciso observar que aquele que reparte o poder, sempre fará com
parcimônia, resguardando para si a maior do poder.
 Justamente por isso, no Brasil, há maior concentração de poderes na União.
Note que, nos EUA, existe maior autonomia dos Estados, justamente porque o
Federalismo deles, quanto a formação, é um federalismo por agregação.
 Em 1988, o Brasil sai do modelo do federalismo dual para o 
modelo do federalismo de cooperação (art. 23 e 24 da CF).
 No federalismo dual, há uma separação rígida de atribuições entre os entes federados.
 Em paralelo, no federalismo de cooperação, há competências comuns e competências
concorrentes.
 Em primeiro lugar, é importante observar que não existe hierarquia entre lei federal,
estadual e municipal.
 O que devemos observar, diante de eventual conflito, é a preponderância de interesses.
Repartição de Competências

Para entendermos a organização do Estado e consequentemente a repartição de competências se faz


necessário diferenciar a competência material, a competência de realizar coisas (veja que todas iniciam por
verbos), da competência legislativa, a competência de regular matérias.

 Competência material – competência administrativa, ou seja, em realizar coisas (verbos).

 Exclusiva da União (art. 21) – Não cabe delegação

 Comum (art. 23)* – Todos são competentes, inclusive os municípios.

 *Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
Lei Complementar X Lei Ordinária

 A lei complementar irá regulamentar as matérias já reservadas a ela pela Constituição


Federal, ou seja, que já são pré-determinadas.
Quórum de aprovação :
Maioria absoluta: mais da metade de todos os membros precisa aprovar, artigo 69 da
Constituição Federal
 Já a lei ordinária irá abordar quaisquer outras matérias que não sejam regulamentadas por
lei complementar, por decreto legislativo ou por resoluções.
Quórum de aprovação
Maioria simples ou relativa: mais da metade de todos os presentes precisa aprovar, artigo 47 da
constituição Federal
 A diferença está na quantidade de votos que cada uma precisa para ser aprovada.
 Enquanto na lei complementar, destes membros, pelo menos 51 precisariam votar sim
(mais da metade dos 100 membros, ou seja, da maioria absoluta).

 Já no caso da lei ordinária, metade dos presentes precisariam votar sim. No caso,
precisariam de 36 votos para ser aprovada (mais da metade dos 70 membros, que são a
maioria simples).
Competência Legislativa – competência regulamentar

 –Privativa da União (art. 22) – só a União pode legislar, entretanto a Lei complementar
poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas.

 –Concorrente (art. 24) – competência da União, Estados e DF (Município não!!!)

 Ainda sobre a competência legislativa concorrente temos as seguintes regras (caem muito
em prova, atenção nesse ponto!!!):
 A competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais (Art. 24, §1º).
 A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados (Art. 24, §2º).
 Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa
plena, para atender a suas peculiaridades (Art. 24, §3º).
 A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no
que lhe for contrário (Art. 24, §4º).
Princípios na repartição de competência

 Dois princípios nos ajudam a entender como foi idealizada a repartição de competências.
 O primeiro, o princípio predominância do interesse, nos diz que cabe à União as matérias
de interesse nacional, já aos Estados caberão as matérias de interesse regional, e aos
Municípios, as matérias de interesse local.
 O segundo princípio, princípio da subsidiariedade, que é utilizado principalmente nas
matérias de competência comum, diz que o exercício da competência deve ocorrer pelo
ente federativo mais próximo do “problema”.
 Outra informação importante para entender o panorama é que as competências da União e
dos Municípios estão expressamente previstas, enquanto as competências do Estados são
residuais.

 Entendido isso, vejamos alguns aspectos da competência de cada ente.


Competências da União

 Iniciemos pela competência exclusiva da União (Art. 21 DA C.F). O primeiro ponto a se


observar é que se trata de uma competência material, logo todas iniciam por verbos.
 Ao ler o artigo 21 vemos que as competências da União são em aspectos mais gerais, como
normas gerais, instituir diretrizes, ou temas mais “espinhosos”, como guerra ou atividades
nucleares.
Assim, vejamos algumas competências que
costumam confundir:
 Art. 21. Compete à União:
 XII – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:

 a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;

 d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que
transponham os limites de Estado ou Território;

 e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;

 XIV – organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito
Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio
de fundo próprio;
Já a Competência privativa da União (Art. 22) é uma competência legislativa, ou seja,
competência para regulamentar. Vejamos algumas.

 Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

 II – desapropriação;*

 XI – trânsito e transporte;

 XXV – registros públicos;

 XXIX – propaganda comercial.

 *Ainda que seja de competência privativa da União legislar sobre desapropriação, todos os entes podem realizar
(competência material) desapropriações.
Competência comum

 A competência comum relaciona-se com assuntos de importantes para todos, temas


coletivos, tais como: zelar pela guarda da Constituição, saúde, meio ambiente, fomentar
cultura e etc.
 Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:

 VIII – fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;

 XII – estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.*

 *Atente-se que apesar da competência para legislar sobre trânsito ser privativa da União,
todos os entes têm competência para estabelecer educação no trânsito.
Competência legislativa concorrente

 Perceba que a competência legislativa concorrente engloba a União, Estados e o Distrito


Federal, mas não os Municípios, assim é relativamente comum as bancas tentarem incluir
os Municípios para confundir os candidatos.
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao
Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

 I – direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico*;

 II – juntas comerciais;

 V – produção e consumo;

 IX – educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação

 XII – previdência social, proteção e defesa da saúde*;


 *A competência para legislar sobre previdência social é concorrente (afinal, cada ente tem
a sua), mas cabe a união privativamente legislar sobre a seguridade social (Art. 22,
XXXII), atenção!
Competências dos Estados e do Distrito
Federal
 Sabemos que DF é um ente federativo ímpar e nesse sentido a Constituição outorgou
competência legislativa híbrida para o DF, ou seja, competência para legislar reservada aos
Estados e Munícipios.
 Sabemos que DF é um ente federativo ímpar e nesse sentido a Constituição outorgou
competência legislativa híbrida para o DF, ou seja, competência para legislar reservada aos
Estados e Munícipios.

 Apesar do que foi dito, a Constituição também elencou algumas competências de forma
expressas para os Estados ao longo do texto, por esse motivo elas são exaustivamente
cobradas em prova
 Art. 25, § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços
locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua
regulamentação.

 Art. 25,§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões


metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de
municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções
públicas de interesse comum.
Competências dos Municípios

 Ainda que haja alguma divergência doutrina sobre à competência dos Municípios,
podemos entender o seguinte:

 Competência legislativa:
 Competência exclusiva: para legislar sobre assuntos de interesse local (Art. 30, I)

 Competência suplementar: para suplementar a legislação federal e a estadual no que


couber (Art. 30, II)
 Competência material: demais hipóteses do artigo 30 (III a IX)
Art. 30. Compete aos Municípios:

 Como vimos, os dois primeiros incisos estão relacionados a competência legislativa.


 I – legislar sobre assuntos de interesse local;
 II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
 Demais são relacionados a competência administrativa.
 III – instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade
de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;
 IV – criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;
 V – organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse
local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial;
 VI – manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e
de ensino fundamental;               
 VII – prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população;
 VIII – promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do
parcelamento e da ocupação do solo urbano;
Competência nos serviços

 A Constituição elencou alguns serviços que podem ser realizados pelo ente federativo ou
mediante delegação, porém ao analisarmos a literalidade vemos que apenas a União poderia
delega por meio de autorização, concessão ou permissão, enquanto o Estado somente por
concessão, já o Município apenas por concessão ou permissão.

 União (Art. 21 XII) -> Explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou


permissão (…)
 Estado (Art. 25, § 2º) -> Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão (…)
 Município (Art. 30, V) -> Prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão (…)
 Assim, se uma questão associar a delegação de um serviço do Estado por permissão, por
exemplo, já podemos considerá-la como errada.
Intervenção Federal e Estadual na Constituição
Brasileira

 Esse é um assunto de considerável relevância, principalmente pelas Intervenções Federais


recentes que ocorreram no nosso país, em 2018.
 Para aprendermos sobre esse conteúdo, iremos analisar os seguintes tópicos:
 Visão Geral sobre a Intervenção Federal e a Estadual;
 Intervenção Federal;
 Intervenção Estadual;
 As Intervenções Federais no Rio de Janeiro e em Roraima.
Visão Geral sobre a Intervenção Federal e a Estadual

 A Intervenção é um mecanismo presente na Constituição Federal de caráter excepcional,


de natureza extrema, sendo utilizada apenas em momentos específicos previstos na CF/88,
quando não houver mais nenhum outro recurso para resolver a situação.
 Quando, por exemplo, uma intervenção federal é decretada em um estado, a autonomia
desse ente federativo é limitada temporariamente, de maneira parcial ou total. Iremos ver
mais adiante alguns exemplos, como no caso da intervenção federal no Rio de Janeiro, na
área da segurança, em que a União assumiu, de forma temporária, o controle de todas as
forças de segurança do estado.
Dentre os motivos para a acionamento de uma
intervenção estão
 Garantir a integridade constitucional;
 Manter a ordem pública;
 Reorganizar as finanças dos estados e dos municípios.
 A intervenção pode ser realizada a nível federal, ou seja, quando a União intervém nos
Estados ou no Distrito Federal; ou a nível estadual, quando os Estados intervêm nos seus
municípios.
Atenção:

 Há a previsão de que a União intervenha em municípios, mas apenas naqueles localizados


em territórios federais. Desse modo, não há a possibilidade de que a União intervenha nos
municípios dos Estados Federados.
 A Intervenção não viola o Estado Democrático de Direito, ou seja, mesmo que os entes
federativos tenham autonomia, ela pode ser limitada em determinados casos, de modo a
garantir a ordem e o cumprimento das normas constitucionais e legais por parte de todos os
Estados e Municípios.
Há alguns princípios que precisam ser seguidos
em caso de intervenção

 Excepcionalidade: será realizada apenas em casos extremos;


 Necessidade: deve haver motivação plausível para a intervenção;
 Temporariedade: a intervenção não pode ser definitiva, precisa haver um prazo definido;
 Formalidade: é preciso seguir as formalidades constitucionais para que ela seja decretada.
A partir de agora, iremos detalhar um pouco mais sobre as hipóteses previstas na
Constituição Brasileira para a decretação da Intervenção Federal e da Estadual.
Intervenção Federal

A intervenção federal é realizada pela União nos Estados, no Distrito Federal, ou nos
Municípios de Territórios Federais.
Em regra, a União não realizará
intervenção, salvo se for para

 Manter a integridade nacional;


 Repelir invasão estrangeira ou de um estado em outro;
 Encerrar grave comprometimento da ordem pública;
 Garantir o livre exercício dos Poderes;
 Reorganizar as finanças do estado que suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois
anos consecutivos, ou quando o estado deixar de entregar aos seus Municípios as receitas tributárias dentro
dos prazos;
 Garantir a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
 Assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis, como a forma republicana, o
regime democrático, os direitos da pessoa humana, a autonomia municipal, a prestação de contas da
administração pública e a aplicação do mínimo exigido da receita estadual em saúde e educação.
 Por exemplo, caso o estado da Bahia se recuse a prestar as devidas contas da sua
administração, a União poderá realizar uma intervenção federal nesse estado.

 A intervenção federal será formalizada através de Decreto Federal, o qual especificará a


amplitude, o prazo e, se for o caso, um interventor. Este decreto será submetido ao
Congresso Nacional em até 24 horas para apreciação.
Há 4 maneiras de decretar uma intervenção federal:

 Por Solicitação:
Ocorre quando é necessário garantir o livre exercício dos Poderes Legislativo e Executivo nos
Estados. Desse modo, o poder coagido pode solicitar a intervenção ao Presidente da República, que
tem a opção de aceitar ou não a solicitação da intervenção federal.

 Por Requisição:
Esta ocorre quando é necessário garantir o livre exercício do Poder Judiciário, em que o STF,
STJ ou TSE, a depender da situação, poderá requisitar a intervenção ao presidente da república.
Além disso, quando houver a necessidade de prover a execução de lei federal, ordem ou decisão
judicial, o STF, e apenas ele, poderá requisitar ao presidente a intervenção. Nesses casos, o
presidente da república estará vinculado a esta requisição.
Por provimento do STF, de representação do
PGR
 Essa situação é quando há o desrespeito aos Princípios Constitucionais Sensíveis por parte
de algum ente da federação, além da situação de quando houver a recusa ao cumprimento
de lei federal. Assim, o Procurador-Geral da República (PGR), através da Ação Direta de
Inconstitucionalidade Interventiva, poderá representar ao STF sobre a situação, que
decidirá pelo provimento ou não da representação, obrigando o Presidente a decretar a
intervenção federal, em caso de provimento.
Espontânea:

 Ocorre nas demais hipóteses, em que o presidente que decide pela intervenção federal,
escutando antes o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional.
 https://www.youtube.com/watch?v=Ai6zAyVYjD0

 https://www.youtube.com/watch?v=YSo_eWZu2AU
Intervenção Estadual

 A Intervenção Estadual é realizada pelos Estados em seus Municípios.

 Em regra, os Estados não realizarão intervenção, salvo quando o município: não pagar,
sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada; não prestar as
contas devidas; ou não tiver aplicado o mínimo exigido da receita municipal em saúde e
educação;
 não assegurar a observância dos princípios indicados na Constituição Estadual, ou para
prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.
 Nesses casos, será o governador do estado que irá decretar a intervenção estadual. Sendo
que, nas hipóteses presentes no segundo ponto acima, é necessário que o Tribunal de
Justiça do Estado dê provimento à representação.

 Percebe-se que todas as hipóteses acima são casos similares a algumas ocorrências da
intervenção federal.

 A Intervenção Estadual será formalizada através de decreto estadual, nos mesmos moldes
do decreto na Intervenção Federal.
 Atenção: A intervenção estadual será declarada através da publicação do decreto
interventivo pelo governador (ou presidente, na federal). Desse modo, o Poder Legislativo
apenas apreciará o decreto, não sendo competente para decretar a intervenção. Mas, caso o
Congresso ou a Assembleia Legislativa não aprove o decreto, a intervenção deverá ser
imediatamente cessada.

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