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UNEC – CURSO DE DIREITO – 7º PERÍODO

DIREITO TRIBUTÁRIO I
DIREITO TRIBUTÁRIO – Bibliografia: Ricardo Alexandre. 12ª Ed. Editora JusPodivm. 2018

Professor: Jackson Luz Fonseca

1 – COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

Competência para legislar sobre direito tributário – é o poder


constitucional geral atribuído para editar leis sobre tributos e relações
jurídicas pertinentes (União editou o CTN – normas gerais).
Competência tributária – é o poder constitucional de editar leis que
instituam tributos (União instituiu o IR, o PIS a COFINS etc).

1.1 - COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO TRIBUTÁRIO –


CF/88

Art. 146. Cabe à lei complementar:

I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os


Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar;

III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente


sobre:

a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos


discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de
cálculo e contribuintes;

b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;

c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades


cooperativas.

Assim, na ausência de norma geral da União sobre IPVA, cada Estado exerceu
a competência legislativa plena, com base no art. 24, § 3º da CF.

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:

I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; (Vide Lei nº


13.874, de 2019)

II - orçamento; III - juntas comerciais; IV - custas dos serviços forenses; V -


produção e consumo; VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,
defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da
poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e
paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a
bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IX -
educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento
e inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) X - criação,

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funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI - procedimentos em
matéria processual; XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; XIII -
assistência jurídica e Defensoria pública; IV - proteção e integração social das
pessoas portadoras de deficiência; XV - proteção à infância e à juventude; XVI -
organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.

§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a


estabelecer normas gerais. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)

§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a


competência suplementar dos Estados. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)

§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a


competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. (Vide
Lei nº 13.874, de 2019)

§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei


estadual, no que lhe for contrário. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)

Sobre o CTN, o mesmo foi editado como lei ordinária, todavia, recepcionado
pela CF/88 (nova ordem constitucional) com status de lei complementar – Teoria
da Recepção – tem o mesmo status da espécie legislativa exigida pela nova
Carta para disciplinar a matéria (normas gerais, materialmente compatíveis com
a Constituição). Obviamente, só pode ser alterado ou revogado por LC. Sobre
lei complementar o art. 146 da CF/88.

1.2 – COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

A Constituição Federal não cria tributos, apenas outorga competência para que
os entes políticos o façam por meio de leis próprias. Assim, é o poder
constitucionalmente atribuído de editar leis que instituam tributos.
É o poder de instituir o tributo, por lei própria com a necessária observância às
limitações constitucionais às normas gerais editadas pela União.
Sanção institucional: art. 11, da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF):

Art. 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão


fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos
da competência constitucional do ente da Federação.
Parágrafo único. É vedada a realização de transferências voluntárias para o
ente que não observe o disposto no caput, no que se refere aos impostos.

O município está obrigado a instituir o ISS, sendo que não há empresas


prestadoras de serviço na localidade? Não, se o custo decorrente da instituição
e administração for maior que a arrecadação. A interpretação da LRF recai no
sentido de que a “responsabilidade fiscal” da instituição, previsão e efetiva
arrecadação de todos os tributos sejam economicamente viáveis.
A competência tributária é indelegável, art. 7º (expressa) e 8º (tácita) do CTN:

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Art. 7º A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das funções de
arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões
administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa jurídica de direito
público a outra, nos termos do § 3º do artigo 18 da Constituição.

Art. 8º O não-exercício da competência tributária não a defere a pessoa jurídica de


direito público diversa daquela a que a Constituição a tenha atribuído.

A exceção é a capacidade tributária ativa, de cunho meramente administrativo


(arrecadar, fiscalizar e executar tributos; nunca instituir).
Entretanto, é certo afirmar que em sentido estrito a competência tributária
(política) é indelegável, ao passo que é delegável a capacidade ativa
(administrativa).

1.2.1 – REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

O legislador constituinte optou por repartir a competência tributária de maneira


distinta, em se tratando de tributos vinculados (o FG é definido com base em
uma atividade estatal específica voltada para contribuintes determinados) e não
vinculados.
Os impostos, tributos não vinculados por definição (art. 16, CTN: “Imposto é o
tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de
qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte”), tiveram sua
competência definida pela CF/88 como privativa.

1.2.1.1 – COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA PRIVATIVA

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:


I - importação de produtos estrangeiros;
II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados;
III - renda e proventos de qualquer natureza;
IV - produtos industrializados;
V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores
mobiliários;
VI - propriedade territorial rural;
VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar.

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos;
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços
de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as
operações e as prestações se iniciem no exterior;
III - propriedade de veículos automotores.

Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:


I - propriedade predial e territorial urbana;
II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por
natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia,
bem como cessão de direitos a sua aquisição;
III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em
lei complementar.

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Lista absolutamente exaustiva em relação aos Estados, DF e Municípios.

A União também detém competência residual para instituir mediante LC novos


impostos desde que não cumulativos e não tenham FG ou BC próprios dos
discriminados na CF (art. 154, I).

A União ainda detém competência extraordinária para criar, na iminência ou


no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em
sua competência tributária (art.154, II).

Também é privativa a competência da União para instituir empréstimos


compulsórios (art. 148), contribuições especiais (art. 149), ressalvada a
competência dos E, DF e M para instituírem a cobrança da contribuição
previdenciária dos seus servidores (privativa em cada esfera – art. 149, § 1º)
e contribuição de iluminação pública (privativa dos Municípios e DF – art.
149-A).

1.2.1.2 – COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA COMUM

Ela é comum quando todos os entes federativos podem instituir os mesmos


tributos, como, por exemplo, as taxas e contribuição de melhoria (o FG
destes tributos vinculados são atividades do Estado).

O ente que prestar o serviço público específico e divisível ou exercer o poder de


polícia cobra a respectiva taxa; aquele responsável pela realização de obra
pública da qual decorra valorização de imóvel pertencente a particular tem
competência para instituir a contribuição de melhoria decorrente.

1.2.1.2 – COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA CUMULATIVA

Art. 147. Competem à União, em Território Federal, os impostos estaduais e, se o


Território não for dividido em Municípios, cumulativamente, os impostos municipais;
ao Distrito Federal cabem os impostos municipais.

O DF tem competência para instituir seis impostos: três estaduais e três


municipais; além das contribuições de melhoria dos Estados e Municípios, a
contribuição previdenciária de seus servidores e a COSIP.

Inexistem Territórios no Brasil atualmente, mas podem ser criados (art. 18. § 2º
da CF). Não são entes políticos, não tem o status de membros da federação. Os
impostos estaduais caberiam à União, bem como os impostos municipais,
caso o Território não seja dividido em Municípios. O mesmo aconteceria em
relação aos demais tributos estatuais e municipais.

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1.2.1.3 – BITRIBUTAÇÃO E bis in idem

Se para a mesma situação definida em lei como fato gerador (hipótese de


incidência) recair mais de uma exação (incidência tributária).

bis in idem – significado: “duas vezes sobre a mesma coisa”; quando o mesmo
ente tributante edita diversas leis instituindo múltiplas exigências tributárias
decorrentes do mesmo fato gerador.

Não há no texto constitucional uma vedação expressa ao bis in idem. Tanto


assim que a União está autorizada a criar contribuição social para financiamento
da seguridade social incidente sobre a receita ou faturamento (CF, art. 195, I, b).

Cristalino exemplo é o de a União instituir duas contribuições sobre o mesmo


FG: COFINS e PIS; II e IPI/importação (REsp 846.667/RJ).

Parte da doutrina considera bis in idem a tributação do IRPJ e CSLL.

Há uma restrição ao bis in idem em relação a novos impostos a serem criados


pela União (competência residual, art. 154, I, CF), não podendo os mesmos
terem os mesmos FG e BC dos discriminados na Constituição.

Bitributação – quando entes tributantes diversos exigem do mesmo sujeito


passivo tributos decorrentes do mesmo fato gerador. Porque a CF/88 estipula
uma rígida distribuição de competências tributárias, tal regra é proibida no Brasil.

Exemplo: ISS – interminável controvérsia – Município competente – local do


estabelecimento do prestador (LC 116/2003) X local da prestação do serviço
(conforme tem decidido o STJ) – conflitos decididos pelo Judiciário que afastará
a ilegítima bitributação.

Exceções:

a) União instituir impostos extraordinários em caso de guerra externa,


compreendidos ou não em sua competência tributária (art. 154, II, CF) –
poderia instituir um novo IR (bis in idem – o mesmo ente – IR ordinário + IR
extraordinário de guerra, com base no mesmo FG) ou um novo ICMS
(bitributação – dois entes (U e E) – cobrando dois tributos – ICMS ordinário e
ICMS extraordinário de guerra – sobre o mesmo FG).

b) tributação de renda auferida em dois países (bitributação legítima). Para


evitá-la, tratados internacionais (site da RFB).

2 – LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

CTN – “Art. 96. A expressão "legislação tributária" compreende as leis, os


tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares

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que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles
pertinentes.”

Todo o ato normativo que verse sobre matéria tributária integra a denominada
“legislação tributária”.

Ato normativo genérico, sem destinatário específico, e abstrato, hipótese.

Estas as duas características do ato normativo (generalidade e abstração) que o


diferencia das demais regras de conduta impositivas existentes em direito.

2.1 LEIS

Devem ser entendidos todos os atos normativos com “força de lei” (medidas
provisórias, leis delegadas, decretos legislativos, resoluções do Senado
Federal), exceto os tratados internacionais.

2.1.1 – LEI EM SENTIDO ESTRITO

Principio Geral da Legalidade – CF/88, Art. 5º, inciso II:

“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em


virtude de lei;”

Principio da Legalidade Tributária – CF/88 (Art. 150, I) c/c CTN (art. 9º)

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;

Art. 9º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos


Municípios:
I - instituir ou majorar tributos sem que a lei o estabeleça,
ressalvado, quanto à majoração, o disposto nos artigos 21, 26 e 65;

Em resumo geral, HIPÓTESES de sujeição à legalidade (reserva legal):

a) instituição de tributos, ou a sua extinção;

b) a majoração de tributos, ou a sua redução;

c) a definição do FG da obrigação tributária principal e do seu sujeito


passivo;

d) a fixação de alíquotas do tributo e da sua BC;

e) a cominação de penalidades (ações ou omissões contrárias


dispostas em lei) ou outras infrações;

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f) as hipóteses de exclusão, suspensão, e extinção de créditos
tributários ou de dispensa ou redução de penalidades.

Exemplo prático: compensação – extinção do crédito tributário – art. 156 do CTN


– Princípio da Simetria – compensação (créditos tributários e não tributários).
STF: deve o legislador local estipular as regras, obedecendo as gerais.

Assim, visto, pode o Prefeito atualizar o valor monetário da BC do IPTU, e


também fixar um prazo para recolhimento, expedindo um Decreto Municipal para
tanto?

Resposta: Sim, STF, RE 172.394/SP e RE 195.218/MG. Também pode reduzir


o prazo para recolhimento de imposto, porque não integra as exigências do
principio da legalidade. O prazo de recolhimento de tributos pode ser
alterado por decreto do Poder Executivo sem que haja necessidade de
previsão legal.

A matéria será aprofundada quando do estudo das limitações constitucionais ao


poder de tributar (MP’s, Leis Delegadas etc.)

2.1.2 – RESOLUÇÕES DO SENADO FEDERAL

São as mais importantes resoluções em termos de matéria tributária. O Senado


é a casa de representação dos Estados-membros. As alíquotas máximas e
mínimas ou interestaduais de alguns tributos estaduais ficaram a cargo do
Senado, que tem a função de evitar ou minorar a “guerra fiscal” entre os
entes políticos.

Compete ao Senado Federal fixar obrigatoriamente: alíquotas mínimas do


IPVA (art. 155, § 6º, II) e alíquotas máximas do ITCMD (art. 155§ 1º, IV).

Em relação ao ICMS estabelecer obrigatoriamente,

A) com iniciativa do Presidente da República ou de um terço dos Senadores e


aprovação da maioria absoluta deles, as alíquotas aplicáveis às operações
interestaduais e de exportação (art. 155, § 2º, IV).

B) facultativamente, com iniciativa de um terço dos Senadores e aprovação


da maioria absoluta deles, as alíquotas mínimas aplicáveis as operações
internas (art. 155, § 2º, V, b).

C) facultativamente, com iniciativa da maioria absoluta dos Senadores e


aprovação de dois terços deles, as alíquotas máximas aplicáveis às operações
internas (art. 155, § 2º, V, b).

2.1.3 – DECRETOS LEGISLATIVOS

São editados pelo Congresso Nacional, no uso de sua competência exclusiva,


não se sujeitando à semelhança das resoluções, à deliberação executiva

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(sanção ou veto). Em matéria tributária, aprovam os tratados internacionais
firmados pelo Presidente da República (CF/88, art. 59, VI).

2.1.4 – DECRETOS-LEIS

A CF/88 não previu tal modalidade normativa, que foram substituídos pelas
medidas provisórias. Em virtude da teoria da recepção, ainda existem vários
decretos-leis em vigor, alguns versando sobre matéria tributária.

2.1.5 – TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

Expressões sinônimas, ambas significando um acordo bilateral ou multilateral


de vontades manifestadas por Estados soberanos ou organismos
internacionais, regularmente representado por órgãos competentes,
destinando-se a produzir efeitos jurídicos.

Previsto no art. 84, VIII e art. 49, I, da CF. Para incorporar o tratado ao direito
interno, imprescindível o cumprimento das etapas:

a) aprovação pelo CN, mediante decreto legislativo;

b) ratificação pelo PR mediante depósito do respectivo instrumento;

c) promulgação pelo PR, mediante decreto presidencial (STF, Carta


Rogatória nº 8.729/1.999).

Regra da especialidade – a norma especial deve ser aplicada com preferência


sobre a geral, sem modificá-la ou revogá-la.

Tal regra deve ser a base de interpretação do art. 98, do CTN, segundo o qual
“os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação
tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha”.

Não cabe a literalidade da lei em comento, mas uma interpretação mais


apropriada no sentido de que esses diplomas internacionais prevalecem sobre a
legislação tributária interna sem, no entanto, revogá-la. Precedente, STF, RE
636.331/RJ, com repercussão geral, CDC X Pacto de Varsóvia – danos
materiais do CDC ser limitado pelo Pacto.

A jurisprudência do STF é pacífica no sentido de que após regular incorporação


ao direito interno, o tratado internacional adquire posição hierárquica
idêntica à de uma lei ordinária, não podendo disciplinar, por isso, matéria
reservada à lei complementar (ADIMC 1.480 e RE 80.004-SE), mas
possibilitando que uma lei ordinária venha a modificá-lo ou revogá-lo
internamente (o que equivaleria a uma denúncia no âmbito externo).

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2.1.6 – OS DECRETOS

Nos termos do art. 84, inciso IV da CF/88, “compete privativamente ao


Presidente da República sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como
expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução”

Os decretos autônomos se limitam estritamente às matérias enumeradas no


texto constitucional em questão. Em se tratando de matéria especificamente
tributária, a utilização do decreto autônomo continua vedada, dada a dificuldade
de se enquadrar direito tributário dentro das hipóteses constantes do citado
dispositivo constitucional.

Aos decretos deve ser aplicada a interpretação conjunta do texto constitucional


com o art. 99 do CTN que institui que “o conteúdo e o alcance dos decretos
restringem-se aos das leis em função das quais sejam expedidos, determinados
com observância das regras de interpretação estabelecidas nesta Lei”.

2.1.7 – NORMAS COMPLEMENTARES

Segundo o art. 100 do CTN são normas complementares das leis, dos tratados e
das convenções internacionais e dos decretos:

I - os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas (servidores


da administração tributária; detalhamento, orientações – portarias; instruções
normativas);

II - as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a


que a lei atribua eficácia normativa (contraditório, ampla defesa, “mero” controle
da legalidade; o termo “jurisdição” é impreciso terminologicamente; as decisões
são só eficazes para o contribuinte que interpôs impugnação);

III - as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades


administrativas (usos e costumes – meramente interpretativos; nova
interpretação só para os casos futuros, sem aplicação de qualquer punição);

IV - os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito


Federal e os Municípios (pessoas políticas de direito publico interno; mútua
colaboração – informações sigilosas (art. 199, do CTN), extraterritorialidade de
legislação tributária (ICMS; art. 102, do CTN); sobre o ICMS há inclusive
previsão constitucional (normas primárias de hierarquia legal) – concessão ou
revogação de isenções e demais benéficos fiscais; determinação de alíquotas
(CF, art. 155, § 2º, XII, g; §4º, IV; § 5º).

2.2 – VIGÊNCIA E APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

Importantíssimo o tema para fundamentar defesas ou “impugnações” (judicial –


ius postulandi ou administrativas – administrativus appeal).
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Vigência, do verbo “viger” (estar em vigor, ter eficácia). Ex: “a moral que vige
neste país”; “A CF/69 vigeu num tempo de exceção”; “quando viger a lei, aí a
interpretaremos”.

2.2.1 – VALIDADE, VIGÊNCIA E EFICÁCIA – NOÇÕES GERAIS

A CF/88 estipula regras procedimentais para a produção das normas que


integram o processo legislativo brasileiro:

 propositura pelo órgão legitimado (fase de iniciativa);


 discussão e votação no parlamento (deliberação parlamentar);
 manifestação de aquiescência (sanção) ou discordância (veto) do Chefe
do Executivo (deliberação executiva);
 no caso de veto, a deliberação e rejeição do mesmo (veto) pelo
parlamento.

Somente na fase de sanção (PR) ou derrubada do veto (CN) se pode falar em


existência da lei, que não mais é projeto de lei.

A se falar em “aplicação da lei” falta a fase complementar: a promulgação


pelo PR, atestando a “existência” e inovação da ordem jurídica. Resta, por fim a
publicação.

A partir de então, presume-se “válida” a lei (observou-se o processo de


formação, diretrizes e procedimentos previstos na CF; obedeceu-se a forma
constitucional – aspecto formal e seu conteúdo de não ofender a CF – aspecto
material). Cabe ADIN.

A partir da publicação que se aplica o art. 3º da Lei de Introdução às Normas do


Direito Brasileiro (LINDB), segundo o qual “ninguém se escusa de cumprir a
lei, alegando que não a conhece” (antiga LICC – Decreto-lei 4.657/1942, com
redação dada pela lei nº 12.376/2010.

Em resumo:

a) a lei é válida, sob o ponto de vista técnico-jurídico; é a lei constitucional


(formal e material);

b) a lei é vigente, encerou seu ciclo de produção, foi publicada, existe


juridicamente;

c) a lei é eficaz, apta para gerar efeitos imediatos pretendidos pelo legislador;
também não foi declarada inconstitucional (STF – controle concentrado), nem
suspensa pelo Senado Federal após ADIN tramitada no STF (controle difuso).

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2.2.2 – VIGÊNCIA DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA NO CTN

A LINDB é aplicável ao direito tributário, salvo a existência de disposição legal


específica deste ramo do direito (lex specialis derogat legi generali – lei especial
derroga a lei geral).

Vigência espacial – âmbito territorial. A regra é a territorialidade. Cada norma


emitida pelo ente federal, só tem vigência dentro de seu respectivo território,
exceto (CTN, art.102 – casos de extraterritorialidade):

Art. 102. A legislação tributária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
vigora, no País, fora dos respectivos territórios, nos limites em que lhe reconheçam
extraterritorialidade os convênios de que participem, ou do que disponham esta
ou outras leis de normas gerais expedidas pela União.

Em relação aos convênios, requer expressa aquiescência do ente federado. Em


relação a outras leis emanadas da União versando sobre normas gerais, por
certo que somente se dará por lei complementar nacional (art. 146, III, da
CF/88).

Vigência Temporal – após a publicação da lei, segue-se a sua vigência, que se


dará de acordo com a cláusula própria nela contida. Inexistindo, ocorrerá
fenômeno da vacatio legis¸ que corresponde ao prazo de 45 dias para início da
vigência (art. 1º da LINDB), se em território nacional, e 3 meses depois, se em
território estrangeiro (via tratado).

Os atos normativos expedidos pela autoridade administrativa (Portarias, IN’s,


Atos Declaratórios Normativos) entram em vigor na data de sua publicação,
salvo disposição em contrário (art. 103 do CTN).

As decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição


administrativa, a que a “lei” atribuir eficácia normativa, entram em vigor em 30
dias após sua publicação, salvo disposição em contrário (duplo efeito: para a
“parte”; ou vinculado a Administração Tributária, se a “lei” assim dispor).

Os convênios entram em vigor nas datas previstas neles, salvo disposição em


contrário.

Ainda em relação à vigência temporal, estudaremos sobre o princípio da


anterioridade. Apenas ressalvo que a lei que concede isenção, pode entrar em
vigor imediatamente, pois trará uma surpresa positiva para o contribuinte.

2.2.3 – APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

Aplicar a legislação tributária é concretizar no mundo fático a vontade que o


legislador manifestou em abstrato na norma, dando aos fatos que se
subsumirem (que se incluírem) à legislação tributária as consequências por ela
previstas.

Princípio da Irretroatividade no CTN

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“Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos
geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos aqueles cuja
ocorrência tenha tido início mas não esteja completa nos termos do
artigo 116”.

Fatos geradores:

a) instantâneos (Imposto de Importação – II, com a entrada da mercadoria


estrangeira no território nacional – obrigação tributária autônoma);

b) periódicos (IR, diversos eventos no exercício financeiro; IPTU, ITR e IPVA, a


propriedade não se exaure, protrai no tempo, a lei determina o momento da
ocorrência do FG).

Um exemplo clássico do chamado “tributo com fato gerador continuado” é o


imposto de renda, onde apenas será considerado consumado no final do
denominado ano-base, isto porque a lei nova vai incidir imediatamente aos fatos
geradores pendentes.

Parte dos tributaristas defende que, em nome da segurança jurídica, o imposto


sobre a renda deveria ser aplicado pela lei em vigor anterior ao início do período-
base, até sugeriram uma mudança para a Assembleia Nacional Constituinte
incluindo no dispositivo a competência da União de instituir e cobrar o imposto
de renda “que se regerá por lei anterior ao respectivo período-base”, conforme
Hugo de Brito Machado. No mesmo sentido, para solucionar o problema, o
brilhante autor Hugo ainda complementa:

O entendimento pelo qual o fato gerador do imposto de renda


somente se completa no dia 31 de dezembro, e assim a lei publicada
até tal data aplica-se a todo período, vale dizer, ao lucro apurado no
período de 1 de janeiro a 31 de dezembro, na verdade prejudica a
segurança jurídica. Melhor será, portanto, entender-se que a lei não
incide sobre fatos cuja ocorrência se tenha iniciado antes de sua
publicação.

 Em síntese, a produção de efeitos da nova lei a:

FG’s não consumados e pendentes (composto por diversos elementos


fáticos, ainda não se conformou): aplicação imediata;

FG’s consumados: não se aplica.

Exceções pela ótica do CTN (maior amplitude):

 A) lei expressamente interpretativa, em princípio retroage, desde que


não traga efetivas modificações de institutos jurídicos de caráter
normativos – extinção, compensação pagamento etc (mesmo que a
pretexto de serem interpretativos), no que será impedida de retroagir.

 B) lei mais benéfica acerca de infrações e penalidades, retroage, mas


não alcança os atos definitivamente julgados (art. 106, II do CTN).
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A retroatividade só é possível em matéria de infração (direito tributário
penal).

Assim, a título de exemplo, se alguém deixou de pagar IR enquanto a alíquota


era de 27,5%, não será beneficiado por uma posterior redução da alíquota para
25%, pois, em se tratando das regras materiais sobre tributos (alíquotas, base
de cálculo, contribuintes, FG), a legislação a ser aplicada será sempre a vigente
na data do FG.

Ofício Conj.: nº 169/2018

Requerente: Secretaria de Planejamento e Fazenda e Superintendência de Tributação.

Assunto: Restituição – IPTU – 2018.

PARECER JURÍDICO

O requerente solicita parecer acerca da possibilidade de restituição de imposto aos contribuintes,


equivalente a 5% (cinco por cento) do IPTU (2018), decorrente da entrada em vigor da Lei Municipal nº
3.667 de 20 de junho de 2018, que alterou a Lei Municipal nº 3.667 de 13 de dezembro de 2017 (Código
Tributário do Município de Caratinga), aumentando o desconto para pagamento antecipado do IPTU, de
10% (dez por cento) para 15% (quinze por cento), em cota única, cujo texto reproduzo a seguir, in verbis:

LEI N° 3697/2018
(Projeto de Lei nº 027/2018 de autoria do Executivo)

Altera a Lei Municipal n° 3.667, de 13/12/2017, e dá outras providências.


O Prefeito do Município, faço saber que a Câmara Municipal aprovou e eu sanciono a seguinte
Lei:
Art. 1º O inciso I, do § 1º, do artigo 291 da Lei Municipal nº 3.667/2017 passa a ter a seguinte
redação.
“Art. 291. caput omissis
§ 1º. omissis
I – até 15% do valor do imposto devido para o pagamento no vencimento da cota única; ”
Art. 2º Revogam-se as disposições em contrário.
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Caratinga, 20 de junho de 2018.
Welington Moreira de Oliveira
Prefeito do Município
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Visto o texto supra, há que se destacar a sua entrada em vigor: a data de sua publicação (art. 3º),
20 de junho de 2018. A partir daí que passa a produzir efeitos pro futuro, dada a impossibilidade da lei
tributária, enquanto espécie normativa, produzir efeitos retroativos, ex vi do art.150, inciso III, a, da
Constituição Federal de 1988, que dispõe o seguinte:

“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

(...)

III - cobrar tributos:

a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que


os houver instituído ou aumentado;”

Eis, portanto, o princípio constitucional da irretroatividade tributária, regra geral que verbaliza
que a lei tributária não se aplica a fatos geradores anteriores à data de sua publicação, ou seja, a lei
atinge somente fatos presentes e futuros.

Entretanto, há que se analisar a regra especial prevista no art. 106, do CTN, simetricamente
prevista no Código Tributário Municipal, art.21, no sentido de que a lei pode ser aplicada a ato ou fato
pretérito. Vejamos o CTN:

“Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:

I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a


aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados;

II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:

a) quando deixe de defini-lo como infração;

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b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou
omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta
de pagamento de tributo;

c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente
ao tempo da sua prática.”

Note-se do inciso I que se a lei for para interpretar algo e essa interpretação não enseja punição, a
lei retroagirá. Entretanto, se a nova lei, mesmo que seja expressamente interpretativa, porém traga alguma
punição, não retroagirá.

Já em relação ao tema penalidade, no restante do artigo, de frisar que, se um ato que era
considerado infração, deixa de ser considerado pela lei nova, há a retroatividade da lei, desde que o
mesmo ainda não tenha sido definitivamente julgado.

Repisa-se que a retroatividade só se aplicará às penalidades. Exemplo: a multa era de 20%


em 2015 e em 2016 a multa é de 15%. De acordo com esse dispositivo, a lei pode retroagir, ou seja, a
multa da lei de 2016 poderá ser aplicada em 15% em relação à multa de 2015, que era de 20%.

Isso não tem nenhuma relação com a alíquota. Se em 2015 era uma alíquota de 3% e o
contribuinte não pagou; e em 2016 a alíquota passou a ser de 2%, continua o contribuinte sendo
obrigado a pagar 3%. Deve-se olhar quando o fato gerador ocorreu. Apenas as penalidades é que
podem retroagir, e não as alíquotas.

Se, por ventura, o contribuinte pagou a multa e depois sobreveio penalidade mais benéfica, não
tem como reaver o valor pago, uma vez que o pagamento já foi efetuado e se encontra definitivamente
julgado.

Outro exemplo: se o contribuinte recorreu da multa, e enquanto estava sob análise seu recurso
(administrativo ou judicial), sobreveio norma mais benéfica em relação à tal penalidade, a norma
retroagirá para beneficiar o mesmo. Por sua vez, se o contribuinte não pagou a multa (e não entrou com
recurso administrativo ou judicial) e depois sobreveio penalidade mais benéfica, aplica-se a mais
benéfica.

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Por fim, é importante cuidar para não confundir a retroatividade em benefício do
contribuinte: isso não existe no Direito Tributário. Como já enfatizado nas linhas acima, a norma
apenas retroagirá em casos de penalidades, e ainda, é necessário que as mesmas estejam sob recurso
ou que ainda, não tenham sido pagas.

Pelo exposto, consoante fundamentação supra, não sobejam razões para conceder, no caso, a
restituição da diferença requerida, o que implicaria violação ao princípio constitucional da irretroatividade
da lei tributária; tampouco se imiscui a situação às exceções previstas no art. 106 do Código Tributário
Nacional e art. 21 do Código Tributário Municipal. Não se vislumbra, portanto, nenhuma violação ao art.
92 do Código Tributário Municipal (pagamento indevido).

Caratinga, 22 de agosto de 2018.

Jackson Luz Fonseca


Assessor Jurídico – PGM
OAB/MG 173.258

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