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Segundo Iamamoto (2000, p.16-17), A questão social diz respeito ao conjunto das
expressões das desigualdades sociais e das lutas engendradas na sociedade capitalista
madura, impensáveis sem a intermediação do Estado. Tem sua gênese no caráter coletivo da
produção contraposto à apropriação privada da própria atividade humana – o trabalho – das
condições necessárias à sua realização, assim como de seus frutos. É indissociável da
mulheres. Nesse momento, ocorre a integração de mulheres de famílias
operárias e da pequena burguesia no mercado de trabalho. Em 1922 é fundada
a Confederação Católica, precursora da Ação Católica. Esse contexto foi de
grande importância para a origem do Serviço Social no Brasil (Iamamoto;
Carvalho, 2011).
À medida que o Movimento Laico se desenvolvia, essas primeiras
iniciativas assistenciais se multiplicam, dentro da Ação Social Católica,
adquirindo a característica de apostolado social. Destacam-se as instituições
que organizavam a juventude católica para agir junto à classe operária:
Juventude Operária Católica (JOC); Juventude Estudantil Católica; Juventude
Independente Católica; Juventude Universitária Católica e Juventude Feminina
Católica (Iamamoto; Carvalho, 2011).
emergência do “trabalhador livre”, que depende da venda de sua força de trabalho como meio
de satisfação de suas necessidades vitais. A questão social expressa, portanto disparidades
econômicas, políticas e culturais das classes sociais, mediatizadas por relações de gênero,
características étnico-racias e formações religiosas, colocando em causa as relações entre
amplos segmentos da sociedade civil e o poder estatal.
Como nos esclarece Oliveira (2005), a Assistência 2 Social esteve
historicamente ligada à religiosidade e consequentemente pressupunha a
naturalização da pobreza, pois era concebida como lugar da não política, da
cultura do favor, de ações caritativas, voluntaristas de cunho solidário e
assistencialista. Nessa lógica, a autora também acrescenta sobre a assistência:
No Brasil, até a década de 1930, toda prática assistencial que existia até
esse momento era desenvolvida pela Igreja Católica e organizações de
caridade, assim não havia intervenção do Estado na área social. As práticas
assistenciais tinham um caráter disciplinador, e não havia uma compreensão
da pobreza como expressão da questão social, a qual era vista como um
problema individual e tratada como caso de polícia através do aparato
repressor do Estado (Mestriner, 2008).
Carvalho (2008) ainda reforça que não se apreendia a pobreza como
expressão da questão social, mas sim como uma disfunção pessoal dos
indivíduos. As ações de assistência social eram realizadas através da caridade
e benevolência, pois, a pobreza no Brasil até 1930, era considerada uma
doença e não uma questão de cunho social, onde os pobres eram enviados
para asilamento ou internação.
Em relação à pobreza ser tratada como doença, Sposati afirma:
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A Assistência é entendida aqui como assistência pública a todos os segmentos
sociais, não com foco único, mas atendendo de forma mais ampla todos os necessitados.
Tanto as questões burocráticas de instituições credenciadas como a manutenção dessas
instituições ficariam a cargo da esfera pública.
promoção, bem-estar, assistência social, traz, via de regra, esta
trajetória inicial unificada” (Sposati et al., 2007, p.42).
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Entende-se por política social, as formas de intervenção e regulamentação do Estado
nas expressões da questão social, envolvendo o poder de pressão e a mobilização dos
movimentos sociais, com perspectivas de problematizar as demandas e necessidades dos
cidadãos, para que ganhem visibilidade e reconhecimento público.
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A filantropia é entendida aqui como assistência pública por intermédio de uma
instituição credenciada junto ao Estado, voltada a determinado público-alvo, escolhido de
acordo com uma demanda focalizada em uma região específica. Ao Estado cabiam somente as
questões burocráticas da instituição, ficando sua manutenção por conta da iniciativa privada. 60
trabalhistas. A partir dessas leis os benefícios sociais passaram a girar em
torno do trabalho6, porém os direitos sociais eram restritos porque a maioria da
população não tinha vínculo empregatício. Os desempregados eram atendidos
por entidades filantrópicas (Carvalho, 2008).
(Mestriner, 2008, p.105) salienta “o trabalho é dever de todos, o
que implica crime o não trabalho. Assim, como que num movimento de
punição, define que não merece garantia de atenção àquele que não trabalha e
não produz”. Ou seja, nesse período só era considerado cidadão quem estava
vinculado ao mercado formal de trabalho, e, portanto, somente esses teriam
algum tipo de benefício previdenciário.
Em 1º de julho de 1938, Getúlio Vargas aprova um decreto que instituiu
o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS) 7, vinculado ao Ministério de
Educação e Saúde, chefiado pelo Ministro Gustavo Capanema. Este conselho
era composto por sete membros “notáveis”, tendo como funções essenciais a
elaboração de inquéritos sociais, a análise das adequações de entidades
sociais e de seus pedidos de subvenções e isenções, além das demandas dos
mais desfavorecidos (Iamamoto; Carvalho, 2011). “[..] O (CNSS) tampouco
chegou a ser organismo atuante. Caracterizou mais pela manipulação de
verbas e subvenções, como mecanismo de dde clientelismos político”
(Iamamoto; Carvalho, 2011, p.250).
Mestriner (2001), explica esse processo:
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José Paulo Neto. Doutor em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo – PUC/SP
Enquanto o mercado de trabalho se consolidava, as escolas de Serviço
Social cresceram significativamente e buscavam romper com o
“confessionalismo, o paroquialismo e o provincianismo” (Netto, 2009, p.124)
que existiam nas escolas de Serviço Social desde a sua origem para formar
assistentes sociais “modernos”, providos da racionalidade técnica necessária
pelos novos espaços sócio-ocupacionais.
Segundo Netto (2009), é neste contexto de mudanças no país impostas
pela ditadura militar que o Serviço Social se insere no âmbito universitário,
causando um duplo impacto na profissão: por um lado, uma aproximação com
as disciplinas das ciências sociais, “é então que a formação recebe de fato o
influxo da sociologia, da psicologia social e da antropologia” (Netto, 2009, p.
126), ainda que nos limites de uma universidade da ditadura; por outro lado,
essa expansão universitária requer um grande número de docentes, que
muitas vezes eram os profissionais formados pouco antes ou pouco depois do
começo da ditadura e tinham mais possibilidades que os docentes formados
anteriormente, de se dedicar aos estudos; isso possibilitou a formação de uma
massa crítica que também não existia antes e surgiu com o fim da ditadura.
Ao longo dos anos e das contínuas políticas do país, a situação da
assistência social qualificava por: práticas clientelistas, assistemáticas, de
caráter focalizado e com traços conservadores, sendo realizado por sujeitos
institucionais desarticulados, com programas sociais estruturados na lógica da
concessão e da dádiva, contrapondo-se ao direito. As heranças clientelista e
patrimonialista estatais impediam que se rompesse com a natureza
assistencialista das políticas sociais (Couto, 2006, p. 71, 107, 108).
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Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de
1988.
IV -irredutibilidade do valor dos benefícios;
V - eqüidade na forma de participação no custeio;
VI -diversidade da base de financiamento;
VII - caráter democrático e descentralizado da gestão
administrativa, com a participação da comunidade, em especial de
trabalhadores, empresários e aposentado (CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988).
1.3. LOAS
Após a promulgação da Carta Constitucional de 1988 surgiram muitos
processos de debates e lutas para que se regulamentassem os direitos
previstos pela Constituição. Somente em 1990 começa o que Sposati (2007, p.
44) denomina de “contrações pré-parto para consolidar a democracia social”.
No contexto referente ao governo de Collor tem-se a primeira proposta
pela LOAS, porém em novembro de 1990, Collor vetou o projeto de Lei
Orgânica da Assistência Social, argumentando falta de recursos para cobrir os
gastos sociais e dos Benefícios de Prestação Continuada (BPC). Entretanto,
em 1992 Collor foi afastado da previdência, dando lugar para Itamar Franco
que enfrentou um país com diversos problemas econômicos e sociais. Seu
governo se caracterizou por um desenvolvimento da economia e o combate a
inflação, sem romper com a condução política e econômica de seu antecessor
(Couto, 2006).
Após o veto de Collor ao projeto de Lei Orgânica da Assistência Social, o
Ministério de Bem-Estar Social começou a promover encontros regionais em
todo o país a fim de debater essa lei. Todos os encontros realizados resultaram
na Conferência Nacional de Assistência Social, realizada em julho de 1993, em
Brasília, onde muitas discussões foram feitas, houve algumas reformulações na
lei visando ganhos para a assistência (MPES13, 2010).
Frente a esse cenário de debates e grande pressão popular dos
organismos de classe, que finalmente, em 7 de dezembro de 1993, foi
sancionada pelo presidente Itamar Franco a Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS), lei nº 8.742 que propõe mudanças estruturais e conceituais na
assistência social pública (Couto, 2006).
É a partir da Constituição que encontramos a referência que caracteriza
o processo inicial para a construção de uma nova matriz para a política pública
de assistência social brasileira. Yazbek (2004) ainda reforça essa construção:
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESPÍRITO SANTO – MPES. Disponível em:
https://www.mpes.mp.br/Arquivos/Anexos/4a46f022-05a3-4410-9627-6c9151ca6621.pdf.
É certo que a história da Política de Assistência Social, não termina com
a promulgação da LOAS, visto que esta Lei introduziu uma nova realidade
institucional, propondo mudanças estruturais e conceituais, um cenário com
novos atores revestidos com novas estratégias e práticas, além de novas
relações interinstitucionais e intergovernamentais, confirmando-se enquanto
“possibilidade de reconhecimento público da legitimidade das demandas de
seus usuários14 e serviços de ampliação de seu protagonismo” (Yasbeck, 2004,
p.13), assegurando-se como direito não contributivo e garantia de cidadania
(MPES, 2010).
De acordo com o Art. 1:
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Guia/Capacitacao_Conselh
eiros_AssistenciaSocial_Guia%20de%20Estudos.pdf
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A PNAS 2004, teve sua primeira versão apresentada CNAS em junho de 2004, e até
a sua aprovação em 15 de outubro de 2004 foi amplamente debatida recebendo contribuições
Conselhos de Assistência Social, Fórum Nacional de Secretários Estaduais – FONSEAS, do
Colegiado de Gestores Nacional, Fóruns Estaduais, Regionais, Governamentais e Não-
Governamentais, Secretárias Estaduais, do Distrito Federal e Municipais, Universidades e
Núcleos de Estudos, entidades de Assistência Social, estudantes da escola de Serviço Social,
Escola de gestores de Assistência Social, além de pesquisadores, estudiosos da área ideias de
sujeitos anônimos" (PNAS, 2004).
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Berenice Rojas Couto. Assistente Social. Doutora em Serviço Social pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC-RS. Professora titular da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC-RS. E-mail: berenice.couto@terra.com.br
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Raquel Raichelis Degenszajn. Assistente Social. Doutora em Serviço Social.
Professora assistente doutor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP. E-
mail: raichelis@uol.com.br
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Maria Carmelita Yazbek. Assistente Social. Doutora em Serviço Social pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. Professora do Programa de Pós-Graduação em Serviço
Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP. E-mail: mcyaz@uol.com.br
O Ano de 2003 foi marcado pelo início do governo de Luís Inácio Lula da
Silva, que teve muitas expectativas por se tratar da eleição de um partido
político com forte apelo popular que defendia a democracia, e no qual se
acreditava que poderia trazer mudanças significativas para o Brasil. O país no
momento se encontrava num cenário de crise com a redução dos direitos
sociais, desregulação financeira, constantes privatizações, todos esses
processos herdados de mandatos anteriores, mas principalmente do governo
de Fernando Henrique Cardoso (Ferreira, 2007).
Assim, com intuito de estimular o desenvolvimento social e o combate à
fome foram criados o Programa Fome Zero; o Programa Bolsa Família; e o
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e sua
Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS), indicando a verdadeira
disposição do governo no propósito da efetivação da Assistência Social
enquanto direito de cidadania (CAPACITAÇÃO MDS, 2005).
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O Programa Bolsa Família foi criado em 2003 pelo governo do Presidente
Lula. O programa faz parte do Fome Zero,que visa assegurar o direito à alimentação,
procurando promover a segurança alimentar e contribuindo para a erradicação da fome, este
programa está voltado para famílias que se encontram abaixo da linha da pobreza. Segundo
Ferreira (2007), o PBF foi criado como forma de unificar quatro programas de transferência de
renda oferecidos no governo do presidente Lula, são eles: o Auxilio Gás, Bolsa Escola, Bolsa
Alimentação e Cartão Alimentação. O programa terá como objetivo “enfrentar o maior desafio
da sociedade brasileira, que é o de combater a miséria e a exclusão social; promover a
emancipação das famílias mais pobres” (Marques e Mendes, 2005 p.159 apud Ferreira, 2007).
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É uma unidade pública e estatal, que realiza atendimento de até 1.000 famílias/ano, estão
localizados em área de maior vulnerabilidade social (PNAS, 2004).
educativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras. Essa
proteção especial possui serviços de média e alta complexidade.
Os serviços de média complexidade serão prestados nos Centros
Especializados de Assistência Social (CREAS)23, para a família e indivíduos
cujos direitos foram violados direitos violados, mas que ainda possuem seus
vínculos familiares mantidos. São realizados serviços de orientação e apoio
sócio-familiar, plantão social, abordagem na rua, dentre outros serviços. A
diferença entre a Proteção Social Especial de Média Complexidade para a
Proteção Social Básica é que esta última visa a um atendimento que se dirige
as situações de violação de direitos (PNAS, 2004).
Os serviços de alta complexidade garantem a proteção integral aos
indivíduos como moradia24, alimentação, trabalho protegido para as famílias e
para aqueles que se encontram em situação de ameaça e afastados do núcleo
familiar (PNAS, 2004)..
A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e a Norma Operacional
Básica de Descentralização, confirmam os princípios já aprovados na LOAS, e
criam comissões intergestoras, para debater os aspectos de gestão
compartilhada entre os níveis de governo, estabelecem as regras e as formas
de financiamento dos serviços, programas e projetos (AMÂNCIO, 2008).
A PNAS trouxe várias mudanças na área de Assistência Social, inclusive
a ampliação do conceito de usuários, como afirmado por Amâncio (2008),
A PNAS trouxe novos avanços para a assistência social, além disso, ela
colaborou significativamente para a construção e implementação do SUAS no
ano seguinte a sua aprovação. O SUAS, assim com a PNAS, trará importantes
contribuições para o campo da assistência social como veremos no próximo
subitem (PNAS, 2004).