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FUNDAÇÃO DE ENSINO E PESQUISA DO SUL DE MINAS – FEPESMIG

CENTRO UNIVERSITÁRIO DO SUL DE MINAS – UNIS


CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

Transferência de embriões em éguas: manejo das receptoras aplicado a nutrição e ao


melhoramento genético

Embryo transfer in mares: management of recipients applied to nutrition and genetic


improvement

Janaína Cristina de Almeida¹ Rafaela Cristina Cardoso Costa² Luma Manucci Martins³

- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA -

VARGINHA - MG

Novembro de 2021
FUNDAÇÃO DE ENSINO E PESQUISA DO SUL DE MINAS – FEPESMIG
CENTRO UNIVERSITÁRIO DO SUL DE MINAS – UNIS
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

Transferência de embriões em éguas: manejo das receptoras aplicado a nutrição e ao melhoramento


genético

Embryo transfer in mares: management of recipients applied to nutrition and genetic improvement

- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA -

PROJETO INTERDISCIPLINAR DE CURSO – PIC VI

Projeto de pesquisa apresentado ao curso de Medicina


Veterinária do Centro Universitário do Sul de Minas como
requisito para aprovação na disciplina de Projeto
Interdisciplinar de Curso – PIC VI

Orientadora: Profa. Dra. Elizângela Guedes

Co-orientador: Profa. Dra. Bárbara Azevedo Pereira Torres

VARGINHA - MG

Novembro de 2021

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RESUMO conforme seu estado fisiológico. O
O Brasil é o país que mais faz uso da conhecimento das estruturas
biotécnica de transferência de embrião anatômicas e fisiológicas garante um
(TE) sendo utilizado por quase todas manejo alimentar de forma mais
as raças aqui existentes. Por um longo adequada da espécie. Portanto, é
tempo a espécie equina foi relevante destacar que os equinos têm
considerada de baixa fertilidade entre estômago relativamente pequeno, e
os animais domésticos e, os problemas alimentos em excesso podem causar
de manejo reprodutivo foram anormalidades. Na reprodução, a
relacionados a essa menor principal preocupação prende-se com
performance reprodutiva. Vários a alimentação da égua, se tornando
fatores devem ser levados em conta essencial que a égua apresente uma
antes do início de um programa de boa condição corporal antes de
transferência de embrião na espécie receber a monta ou ser inseminada,
equina, pois organização e dado que a taxa de concepção pode
coordenação dos componentes ser influenciada por esse estado
podem afetar o sucesso do mesmo. O corporal. Sendo assim, a alimentação
desenvolvimento de novas é fundamental para a criação dessas
técnicas reprodutivas possibilitou o éguas, seja na forma de pastagem de
melhor aproveitamento dos animais, boa qualidade, fenos ou rações
tornando possível acelerar o concentradas. O fornecimento de
aprimoramento das raças e seus alimentos inadequados pode resultar
cruzamentos, sendo a transferência em drásticas consequências à
de embrião a ferramenta mais reprodução desses animais.
promissora para essa finalidade. Por Entretanto, éguas magras e não
isso, a seleção da égua receptora lactantes devem receber um reforço na
adequada, a estimativa da dieta, para que desta forma a eficácia
possibilidade de sucesso da da reprodução seja mais elevada.
transferência e a capacidade de
determinar se o embrião se presta à
criopreservação, dependem da sua Palavras-chave: Fertilidade, Alimentação,

correta avaliação. As necessidades Reprodução.

nutricionais dos equinos podem variar

2
INTRODUÇÃO importância para se alcançar altos
Conforme descrito por Santos et índices reprodutivos, tanto na monta
al. (2019), a espécie equina apresenta natural, quanto frente às modernas
algumas peculiaridades em relação às biotecnologias da reprodução equina
demais espécies domésticas, (BENDER et al., 2014).
apresentando baixo índice de O êxito na reprodução equina
fertilidade, considerados por muito depende do conhecimento da
tempo a de menor fertilidade, que foi anatomia e fisiologia reprodutiva,
atribuído a um deficiente manejo endocrinologia, conduta de criação,
reprodutivo e seleção de animais manejo sanitário e realização de um
(GOMES, 2013). Pode-se citar como manejo alimentar correto
fatores que corroboram a esse fato, a (RODRIGUES et al., 2017).
reprodução apenas ao redor dos três Para Santos et al. (2019), a
anos, 11 meses de gestação, apenas transferência de embrião (TE) em
uma cria por gestação e a ocorrência equinos, é uma ferramenta muito
comum de reabsorção e abortos, importante para a perpetuação de
excedendo 15% em alguns casos características desejadas em potros de
(RODRIGUES et al., 2017). alto valor genético e aumento do
Por isto, conforme descrito por número de descendentes de éguas de
Santos et al. (2019), as biotecnologias alto valor genético.
da reprodução que visam melhorias As éguas são classificadas como
nos índices zootécnicos, como a animais mono-ovulatórios, havendo,
transferência de embrião e a normalmente, a fertilização de apenas
inseminação artificial, vêm ganhando um ovócito por ciclo estral. Isto é
espaço e destaque nas últimas compatível com as características do
décadas, justamente pelo seu avanço trato reprodutivo da espécie, já que o
comercial e científico. Sendo que, útero equino dificilmente comporta
especialmente a raça Mangalarga gestações envolvendo mais de um
Marchador, está a biotecnologia mais concepto (MACHADO, 2008).
utilizada para produzir vários potros Portanto, a formação dos
de uma mesma égua por ano (JACOB oócitos, denominada oogênese, ocorre
et al., 2019). durante a vida fetal, sendo que o
Entretanto, as condições de número total de oócitos pertencentes à
escore corporal são de fundamental esta fêmea é determinado durante essa
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fase. de pequeno porte (SANTOS et al.,
Além disso, as éguas são 2019).
consideradas animais poliéstricos A alimentação é fundamental
sazonais, uma vez que sua reprodução para a criação, seja na forma de
é influenciada por fatores hormonais pastagem de boa qualidade, fenos ou
relacionados à melatonina. A rações concentradas. O fornecimento
melatonina, nestes animais, tem o de alimentos de forma inadequada,
papel de inibir o ciclo estral, pois além de afetar negativamente o
bloqueia o eixo desenvolvimento ósseo, promove
hipotálamo-hipófise-gonadal, aprumos deficientes por excesso de
resultando na capacidade que essas peso e estimula a ocorrência de
fêmeas têm de se reproduzir apenas cólicas, bem como drásticas
em dias longos, uma vez que a consequências à reprodução desses
incidência de luz é maior. animais (MARQUES, 2017).
Os ciclos estrais podem ter uma
duração de 21 a 22 dias, sendo REVISÃO DE LITERATURA
composto por duas fases importantes: O conhecimento da
o estro e o diestro. O estro é hormonioterapia aplicada à
caracterizado pela fase do cio ginecologia equina é de extrema
propriamente dito, já que é nesta fase importância, pois permite o aumento
que a fêmea sofre forte influência do dos lucros através da melhora da
hormônio estrógeno, o que resulta na eficiência reprodutiva de animais de
característica dos efeitos sobre o alto valor genético, gerando
comportamento e aceitabilidade da benefícios tanto para o profissional
fêmea pelo macho. quanto para o proprietário (FARIA,
Os cavalos são herbívoros, não 2010).
ruminantes e possuem aparelho De acordo com Hafez e
digestório adaptado a dietas Jainudeen (2004), os órgãos
compreendendo alto nível de fibra femininos da reprodução são
(GOODWIN, 2002), quando livres, compostos de ovários, ovidutos,
podem pastejar por até 16 horas útero, cérvix uterina, vagina e
diárias. Além disso, apresentam forte genitália externa. Os órgãos genitais
seletividade e predileção por folhas internos são sustentados pelo
escuras, colmos e brotos de gramíneas ligamento largo, sendo ele constituído
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pelo mesovário, que suporta o ovário; neurônios hipotalâmicos (Tabela 01),
do mesossalpinge, que suporta os adicionalmente, secretam outros
ovidutos e do mesométrio, que hormônios importantes como o
suporta o útero. O controle da ocitocina e a vasopressina, que não
reprodução dos mamíferos é regulado são liberadas na eminência média e
pela interação entre sistema nervoso sim na neurohipófise, já que os
central e o sistema endócrino, que axônios dos neurônios que as
atuam como dois sistemas produzem se prolongam sobre a
separadamente. Esses sistemas estrutura, desde onde liberam esses
exercem função de iniciar, coordenar hormônios diretamente em direção a
e/ou regular as funções do sistema circulação geral.
reprodutivo, se comunicando estes Os hormônios secretados pelos
dois sistemas por meio do sistema órgão reprodutores (Tabela 03) estão
porta-hipotálamo-hipofisário, envolvidos em muitos aspectos dos
responsável por coordenar as funções processos reprodutivos:
das gônadas. espermatogênese, ovulação,
Da Silva (2020) descreve que comportamento sexual, fertilidade,
entre os neurohormônios implantação, manutenção da prenhez,
hipotalâmicos que atuam como parto, lactação e comportamento
fatores de liberação para hormônios materno. Os hormônios reprodutivos
adenohipofisários podemos citar o são derivados de quatro sistemas
GnRH, o hormônio liberador de hipotálamo, hipófise (Tabela 2),
corticotropina (CRH), o hormônio gônadas, útero e placenta (HAFEZ e
liberador de tirotropina (TRH) e o JAINUDEEN, 2004).
hormônio liberador do hormônio de
crescimento (GHRH). Alguns

Tabela 01: Resumo da origem e da função dos neuro-hormônios que regulam a reprodução

HORMÔNIOS ORIGEM VIAS NERVOSAS FUNÇÕES


PRINCIPAIS

Hormônio inibidor Hipotálamo Neurônios contendo Inibe a liberação de


de prolactina (PIH) dopamina no núcleo prolactina

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arqueado

Hormônio liberador Hipotálamo Neurônios contendo Estimula a liberação de


de prolactina (PRH) dopamina no núcleo prolactina
arqueado

Hormônio liberador Núcleo Retroalimentação Estimula a liberação


de gonadotrofina ventro-medial; negativa das tônica de FSH e LH
(GnRH) Núcleo arqueado; gônadas
Eminência média

Hormônio liberador Área hipotalâmica Células Estimula a onda


de gonadotrofina anterior; Núcleos hipotalâmicas pré-ovulatória de FSH e
(GnRH) pré-ópticos; Núcleo sensíveis ao LH
supraquiasmático estrógeno entram em
contato com
receptores na pele e
na genitália de
espécies com
ovulação reflexa

Ocitocina Núcleos Sensações tácteis da Induz contrações


paraventriculares; glândula mamária, uterinas, descida do leite
Núcleos útero e cérvix e facilita o transporte de
supra-ópticos gametas

Melatonina Pineal Retina via fibras Inibe a atividade


retino-hipotalâmicas gonadotrófica em
reprodutores de dias
longos, p.ex., hamster;
Estimula o início da
estação de monta em
reprodutores de dias
curtos, p.ex., ovinos

Fonte: Adaptada de Livro Reprodução Animal Sétima Edição - E.S.E Hafez e B. Hafez

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Tabela 02: Resumo dos hormônios reprodutivos secretado pela hipófise

HORMÔNIOS ESTRUTURA E FONTE FUNÇÕES PRINCIPAIS

Hormônio estimulante do Glicoproteína; Gonadótrofos Estimula o crescimento folicular


folículo (FSH) no lobo anterior na fêmea e a espermatogênese no
macho

Hormônio luteinizante (LH) Glicoproteína; Gonadótrofos Estimula a ovulação e a


no lobo anterior luteinização dos folículos
ovarianos (corpo lúteo) na fêmea
e a secreção de testosterona no
macho

Prolactina (PRL) Proteína; Mamótrofos no Promove a lactação e


lobo anterior comportamento materno

Ocitocina Proteína; Armazenada no Estimula as contrações do útero


lobo posterior da hipófise prenhe e promove a ejeção do
leite

Fonte: Adaptada de Livro Reprodução Animal Sétima Edição - E.S.E Hafez e B. Hafez

Tabela 03: Resumo dos hormônios secretados pelos órgão reprodutores

HORMÔNIO ESTRUTURA E FONTE FUNÇÕES PRINCIPAIS

Estrógeno Esteróide, carbono 18. Promove o comportamento


Secretado pela teca interna sexual; estimula o
do folículo ovariano desenvolvimento das
características sexuais
secundárias, possui efeitos
anabólicos

Progesterona Esteróide, carbono 21. Atua sinergicamente com


Secretado pelo corpo lúteo estrógenos na promoção do
comportamento de cio e prepara

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o trato reprodutivo para a
implantação

Testosterona Esteróide, carbono 19. Desenvolve e mantém as


Secretado pelas células de glândulas sexuais acessórias;
Leydig nos testículos estimula as características
sexuais secundárias, o
comportamento sexual e a
espermatogênese; possui efeitos
anabólicos

Relaxina Hormônio polipeptídico com Dilata a cérvix; provoca


subunidades alfa e beta. contrações uterinas
Secretado pelo corpo lúteo

Prostaglandina F2 alfa Ácido graxo não-saturado, Provoca contrações uterinas


carbono 20. Secretado por ajudando o transporte
quase todos os tecidos do espermático no trato reprodutivo
organismo feminino e no parto; Provoca a
regressão do corpo lúteo
(luteolítico)

Ativinas Proteína. Encontrada no Estimula a secreção de FSH


fluido folicular da fêmea e
no fluido da rete testis do
macho

Inibinas Proteína. Encontrada nas Inibe a liberação de FSH a um


células de Sertoli no macho nível que mantém o número
e nas células da granulosa espécie/específico de ovulações
nas fêmeas

Folistatina Proteína. Encontrada no Modula a secreção de FSH


fluido folicular ovariano na
fêmea

Fonte: Adaptada de Livro Reprodução Animal Sétima Edição - E.S.E Hafez e B. Hafez

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Na equinocultura é de suma podem produzir somente taxas
importância que tenha-se um limitadas de melhoramento genético.
aumento da eficiência reprodutiva Entretanto, a clonagem do embrião
para o melhor aproveitamento dos pode produzir de uma vez um
animais e maior ganho genético aumento substancial na média do
(FARIA et al., 2010). Por um longo mérito genético de um rebanho
tempo a espécie equina foi comercial e revolucionar a estrutura
considerada de baixa fertilidade entre da reprodução (HAFEZ e
os animais domésticos e, os JAINUDEEN., 2004).
problemas de manejo reprodutivo De acordo com Carmo et al.
foram relacionados a essa menor (2003) e Machado (2004), a
performance reprodutiva (LIRA et transferência de embriões no Brasil é
al., 2009). Entretanto, a aplicação de uma das biotecnologias que mais se
novas práticas de reprodução destaca dentro do ramo da
possibilitou um maior reprodução em equinos, sendo
aproveitamento das raças e dos descrita desde a década de 80 e,
cruzamentos. Para tanto, a atualmente, coloca o país em uma
transferência de embriões em equinos posição de destaque como um dos
é uma técnica extremamente que mais se destaca nessa prática. O
promissora (ARRUDA et al., 2001). principal objetivo desta
A tecnologia de reprodução biotecnologia, é elevar o número de
assistida têm aumentos significativos potros por égua durante o ano, obter
na taxa de melhoramento genético, potros de éguas subférteis, obter
como taxas aceitáveis de potros de éguas participantes de
consanguinidade, podem ser competições esportivas, que possuem
conseguidos por meio de um alto valor zootécnico
inseminação artificial (IA), (HARTMAN, 2011).
transferência de embriões/ovulação Para Hurtgen (2008), uma das
múltipla (MOET) e produção de grandes vantagens desta prática, é o
embriões in vitro (IVEP). Em auxílio à reprodução de águas que
constante, a sexagem do sêmen ou apresentam alguma dificuldade de
embrião e a clonagem de embriões manter uma gestação completa,
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podendo ser por problemas uterinos, reprodutiva e também após sua
idade avançada, casos de infecções morte. Em equinos pode ser realizada
em seu sistema reprodutor ou então mediante a utilização de sêmen fresco
problemas uterinos . Além disso diluído, refrigerado ou congelado
segundo este mesmo autor, ela auxilia (CANISSO et al., 2008).
no controle de muitas doenças Uma fêmea doméstica
genéticas relacionadas a (doadora) pode aumentar o número
consanguinidade, além disto sendo de de descendentes produzidos em sua
grande auxílio na preservação de vida concebendo repetidamente,
espécies que podem estar ameaçadas recuperando os embriões no início da
de extinção como o Cavalo de prenhez e transferindo-o para o trato
Przewalski, e filhotes de equinos reprodutivo de outras fêmeas
exóticos como a de zebras. (receptoras) para completar a
Esta prática demonstra maior gestação. Esse procedimento depende
viabilidade econômica e fácil inteiramente da disponibilidade de
implantação nas espécies domésticas uma fonte de embriões de boa
(WEISS et al., 2003). Além disso, a qualidade e de um ambiente uterino
transferência de embriões permite a apropriado na receptora no momento
obtenção de produtos de potras da transferência (sincronia) (HAFEZ
jovens, com dois anos de idade, uma e JAINUDEEN., 2004).
vez que nesta fase não é indicada a Existem várias técnicas de
gestação, pois pode prejudicar seu diluição, resfriamento e congelação
desenvolvimento até a fase adulta e de sêmen sendo utilizados em
também pode prejudicar sua vida equinos com diferentes taxas de
esportiva, que são enormes prejuízos sucesso. A eficiência reprodutiva
(ARRUDA et al., 2001). depende da tolerância individual do
A inseminação artificial, é uma sêmen frente ao diluente ou da
biotécnica que possibilita um avanço técnica utilizada e de fatores ligados
no melhoramento genético, reduz o à égua e ao manejo dos animais
risco de doenças sexualmente (WEISS et al., 2003).
transmissíveis e promove um grande A seleção do alimento não é
impacto na produção equina, visto somente pela visão, olfato e gustação,
que um garanhão pode gerar vários mas inclui também a sensibilidade e
descendentes ao longo de sua vida mobilidade labial, que permite ao
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cavalo grande capacidade de dieta para ação digestiva da lipase. A
selecionar os alimentos no momento digestão química no intestino delgado
da apreensão e corte, pelos dentes acontece por meio da ação de
incisivos, sobretudo quando enzimas que quebram o alimento em
composta por vegetais partículas menores através da
(HILLEBRANT e DITTRICH, hidrólise, adicionando uma molécula
2015). de água à estrutura (DITTRICH,
O esôfago dos equinos têm 2010). Os minerais absorvidos são
cerca de 1,5 metros e estende-se da aqueles que serão liberados das
faringe ao estômago, cruzando o macromoléculas pela digestão
tórax e perfurando o diafragma. O enzimática ou os que já estão livres.
alimento percorre o esôfago por Quanto maior a quantidade de
movimentos peristálticos formando conteúdo celular na dieta, maior será
anéis de constrição que se a absorção de minerais, tanto os
movimentam ao longo da parede macro elementos como o cálcio,
reduzindo o lúmen e empurram o fósforo, magnésio, cloro, potássio,
bolo alimentar por ação dos sódio, enxofre, ou microelementos
músculos. O esôfago entra no como o iodo, ferro, manganês,
estômago de maneira oblíqua pelo selênio e zinco (CINTRA, 2011).
esfíncter cárdia e se liga ao duodeno Os alimentos volumosos de
através do esfíncter piloro, esses qualidade, compostos por células
esfíncteres são bastante vegetais das folhas, são de suma
desenvolvidos e se encontram importância na alimentação do
próximos, sendo que a cárdia realiza cavalo, por possibilitar uma
fechamento hermético impedindo a mastigação mais demorada e
regurgitação (CUNNINGHAM, vigorosa, para o correto desgaste
2009). dentário, evitando o surgimento de
Os equinos não possuem anormalidades na cavidade bucal
vesícula biliar, dessa forma a (DITTRICH e CARVALHO, 2015),
liberação de bile é constante, além de garantir o funcionamento
característica evolutiva relacionada intestinal, a absorção de nutrientes e
ao hábito desse animal em se a multiplicação dos microrganismos
alimentar constantemente. A bile desejáveis no intestino grosso
emulsiona a gordura que contém na (DITTRICH et al., 2010).
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Uma alimentação equilibrada 550 kg, idade de 3 a 10 anos, bom
da égua durante os três últimos meses desempenho mamário e boa índole,
de gestação é essencial para que o além disso é importante apresentar
parto transcorra normalmente, uma ciclos estrais normais e livres de
vez que uma égua com excesso de anormalidades uterinas e ovarianas
peso poderá ter dificuldade durante o (VANDERWALL e WOODS, 2007).
trabalho de parto e uma égua mal A má nutrição é um dos
alimentada pode não ter as contrações maiores responsáveis pela
adequadas. A má nutrição de éguas infertilidade da égua, mas é comum
no terço final da gestação quer seja os criadores subestimarem a sua
por deficiência ou por excesso de importância. As éguas reprodutoras
nutrientes, refletirá no peso do potro têm quatro ciclos nutricionais bem
ao nascer e na qualidade do colostro distintos, sendo dois durante a
e do leite, podendo interferir no gestação e dois durante a lactação.
tamanho do cavalo adulto (CINTRA, Quando ocorre déficit na alimentação
2016). no período gestacional, podem surgir
Aproximadamente metade da problemas na ovulação, como cio não
energia consumida pelas éguas em fértil, na nidação (fixação do embrião
reprodução por meio da alimentação na parede uterina), no
é destinada ao metabolismo basal, desenvolvimento da gestação e,
sendo o restante reservado para o consequentemente, na viabilidade do
crescimento e o desenvolvimento do feto. Se o déficit nutricional for por
potro, seja no período intrauterino ou um período prolongado ou muito
pelo leite, no período lactente intenso, podem ocorrer abortos, que
(AZEVEDO, 2013). predispõem a complicações
A própria seleção e manejo das infecciosas que comprometem a
éguas receptoras pode ser o fator fertilidade, e ao nascimento de
mais importante que afeta o sucesso prematuros ou de potros fracos,
do programa de TE; uma vez que esta pouco resistentes, que ficam sujeitos
irá reconhecer o embrião e terá que à natimortalidade (LEWIS, 2000).
fornecer as condições necessárias ao A principal característica na
seu desenvolvimento. Dentre os seleção da receptora deve ser a
critérios de seleção, destacam-se o ausência de problemas reprodutivos.
peso adequado, em torno de 400 a Os critérios para maximizar o uso das
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receptoras podem ser divididos em quando imagem do corpo lúteo pobre
diminuição de estresse ambiental e ou pouca tonicidade uterina e
controle sanitário, avaliação da idade cervical.
e controle rígido da saúde de cada Um estudo de Domingues
égua, utilização do cio do potro, (2009) com éguas com diferente
manejo do fotoperíodo e utilização de escore corporal (magro, médio e
éguas acíclicas, adequação da gordo) e de ingestão de energia
sincronia entre doadoras e receptoras (manutenção e alta ingestão
e o uso da hormonioterapia no energética), demonstra que, para
controle dos ciclos das éguas éguas magras, um elevado nível de
envolvidas (DE PAULA, 2015). ingestão de energia tem maior
O manejo consiste em influência na antecipação da
monitorar o comportamento ovulação do que em éguas com um
reprodutivo, emprego da palpação índice médio ou alto de gordura
transretal e ultrassonografia para corporal. Neste estudo, as éguas
monitorar a atividade folicular e acima do escore desejado
ovulação, e o uso de hormônios apresentaram um estro inicial com
exógenos para sincronizar o estro e duração tendencialmente inferiores
ovulação. Quando em cio, a égua aos dos outros dois grupos de éguas,
doadora é examinada diariamente mas demoraram menos tempo a
para monitorar o crescimento atingir a primeira ovulação após o
folicular, permitindo o ótimo primeiro dia de estudo.
momento para inseminação com Segundo Santos (2006), em que
sêmen fresco, refrigerado ou éguas que estavam em uma condição
congelado (VANDERWALL e corporal melhor, apresentaram
WOODS, 2007). melhores desempenhos reprodutivos.
Carnevale et al. (2000) Estas éguas têm maior facilidade na
classificou-as por palpação e entrada do período reprodutivo,
ultrassonografia transretal em: apresentam um menor número de
aceitáveis, quando apresentaram ciclos éstricos por concepção,
corpo lúteo bem definido, tônus apresentam taxas de gestação
uterino e cervical variando de bom a superiores e maior capacidade de
excelente, e nenhuma outra alteração manutenção do embrião ao longo da
no útero; e marginalmente aceitáveis, gestação.
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As receptoras devem ser ótima qualidade, água fresca e limpa
examinadas diariamente quando em à vontade, mineralização adequada e
cio para monitoramento do um mínimo de concentrado de
crescimento folicular e ovulação. É qualidade são suficientes para suprir
aconselhado possuir no mínimo duas suas necessidades nesse período
receptoras disponíveis e aptas para (VENDRIMINI e MENDONÇA,
cada doadora, permitindo assim, no 2011).
momento da inovulação, escolher a Na fase do 9º ao 11º mês, há
que apresenta as melhores condições um crescimento de 70% do tamanho
reprodutivas para receber o embrião do feto. Por isso, a alimentação fetal
(VANDERWALL e WOODS, 2007). é prioritária em relação à da mãe, ao
A manutenção de uma égua contrário do que ocorre no início da
apenas a pasto, sem fornecimento de gestação. Além disso, a égua deve
complementos nutricionais, não adquirir uma reserva corpórea para
impedirá a gestação ou mesmo o que, no início da lactação, não ocorra
parto e o crescimento do potro, uma perda de peso excessiva
porém o mesmo não terá todo o seu decorrente das elevadas necessidades
potencial genético exteriorizado, energéticas dessa fase (VIEIRA,
tendo um crescimento e um 2015).
desenvolvimento menor do que teria A alimentação das éguas em
se o aporte de nutrientes fosse feito lactação é dividida em duas fases:
da maneira mais equilibrada possível Início da lactação (1º ao 3º mês) e
(CINTRA, 2011). final da lactação, respectivamente,
Após a fecundação, do 1º ao 8º onde os aportes alimentares são
mês a égua deve manter seu peso maiores que no período de gestação.
corporal, ou se estiver abaixo do Com relação a seu peso, essa
escore indicado, ganhar peso. As categoria tem uma necessidade de 2,3
necessidades da mãe são pouco a 3% de MS, sendo a categoria com
superiores às de manutenção, sendo maior exigência no consumo de
necessário de 1,4 a 1,7% de matéria alimentos. No final da lactação (4º ao
seca (MS) em relação ao peso do 6º mês) a necessidades das fêmeas
animal. Nessa fase, acontece um caem drasticamente, justamente por
crescimento de cerca de 30% do nesse período ocorrer a redução da
tamanho do feto. Um volumoso de produção leiteira quase à metade do
14
início da lactação e o potro já está se receptoras de embriões equinos?.
alimentando de volumoso, que supre Brazilian Journal of Veterinary
parte de suas necessidades Research and Animal Science, v.
(VENDRIMINI e MENDONÇA, 38, n. 5, p. 233-239, 2001.
2011).
AZEVEDO, R. P.; MENDONÇA, L.
Uma égua vazia ou no início da
A.; LANZA, J. C. Eficiência
gestação é considerada como tendo
reprodutiva em transferências de
apenas necessidades de manutenção.
embriões eqüinos utilizando
Quando prenha, é necessário apenas
receptoras no cio do potro. Revista
um aumento da ingestão durante o
Brasileira de Reprodução Animal.
terço final da gestação devido ao
v.1 , p. 365-370, 2013.
aumento dramático do peso do feto e,
logo, das suas necessidades B. Hafez, E.S.E. Hafez;
(BARBOSA, 2015). Por isso as Reprodução Animal sétima edição.
éguas magras e não lactantes devem Barueri, São Paulo, p. 13 - 33, 2004.
receber um reforço na dieta, podendo
BARBOSA, M. L. M. A utilização
significar de um a dois quilos de
de alimentos compostos em
concentrado por dia, durante um
sistemas de produção do cavalo de
período de duas a três semanas antes
desporto em Portugal. Dissertação
da cobertura, auxiliando para que
para a Obtenção do Grau de Mestre
desta forma o sucesso na reprodução
em Engenharia Zootécnica –
seja mais elevado (CALDEIRA,
Produção Animal, 2015.
2013).
BENDER, E. S. C. et al. Condição
corporal e atividade reprodutiva de
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E.C.C.; NEVES NETO, J.R. Existem E.P. CARVALHO, G.R.
relações entre tamanho e morfo GUIMARÃES, J.D. LIMA, A.L.
ecogenicidade do corpo lúteo Inseminação artificial em equinos:
detectados pelo ultra-som e os teores sêmen fresco, diluído, resfriado e
de progesterona plasmática em transportado. Rev. Acad., Ciênc.

15
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2008. Cordeiro. Endocrinologia da
Reprodução Animal. 2020.
CALDEIRA, R. M. Sistemas de
produção de equinos. Apontamentos DE PAULA, Edilson. Transferência
da Unidade Curricular : Tecnologia de embriões equinos: maximizando
de Produção Animal – Outros. resultados com a escolha de
Mestrado em Engenharia Zootécnica receptoras. Revista Brasileira de
– Produção Animal. Instituto Reprodução Animal, 2015.
Superior de Agronomia e Faculdade
DITTRICH, J.R et al.
de Medicina Veterinária, Lisboa,
Comportamento ingestivo de equinos
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