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Funções da linguagem

As funções da linguagem estão relacionados com os estudos da linguagem e


da comunicação. Alguns estudiosos apontam a existência de, pelo menos, seis funções da
Linguagem, cada uma ligada a um diferente elemento da comunicação. Entender essas
manifestações ajuda a interpretar textos com mais eficiência e a compreender como os atos
comunicativos organizam-se, podendo gerar mais eficácia no momento de se falar ou de se
escrever.

Funções de linguagem na comunicação


Roman Jakobson, linguista russo, foi um dos grandes teóricos que apresentaram ao mundo
estudos referentes às funções da linguagem na comunicação. Contudo, independentemente dos
resultados das pesquisas acadêmicas, podemos dizer que perceber os atos comunicativos e o uso
da linguagem não depende de nos apropriarmos de teorias ou axiomas, basta que olhemos ao
nosso redor.

 A
intenção do ato comunicativo define a linguagem a ser utilizada.

Comunicamo-nos do momento em que acordamos até a hora de voltarmos a dormir, seja por meio
da linguagem verbal (escrita, falada), seja por meio da linguagem não verbal. Para cada
interação, de forma consciente ou intuitiva, estamos submetidos a um esquema mínimo que nos
permite elaborar e compreender mensagens, conforme demonstrado a seguir.
Importante lembrar que, embora seja possível, na maioria das vezes, identificarmos a função
predominante, podemos perceber que as seis funções da linguagem podem perpassar os textos,
uma vez que todos os elementos estão presentes na comunicação.

→ Função referencial ou denotativa

A função referencial ou denotativa é a função da informação. Presente em textos como artigos


científicos, textos didáticos, folhetos, manuais e textos enciclopédicos, enfatiza o referente, ou
seja, o assunto ou contexto em que aquele determinado texto está inserido. Em sua estrutura,
predominam o discurso na ordem direta e o foco na terceira pessoa com a utilização
da objetividade.
Um gênero textual bastante representativo dessa função é a notícia, cuja intenção é a de informar
os leitores sobre fatos relevantes e recentes, e que, na maioria das vezes, constrói-se desprovida de
opiniões ou sequências linguísticas que pretendam levar ao convencimento. Se quiser saber mais
sobre esse tema, acesse: Função referencial ou denotativa.
 Exemplo
Com programação especial, Feira do Estudante começa nesta segunda em Praia Grande
Confira tudo que acontecerá no Pavilhão de Eventos Jair Rodrigues até a próxima quarta-
feira (25).
Por Mariana Nadaleto, G1 Santos
Começa nesta segunda-feira (23) a 4ª edição da Feira do Estudante, organizada pela Prefeitura
de Praia Grande, que oferecerá palestras, workshops, oficinas, atrações especiais, sorteios,
parque de diversões e um show do Projota para o público jovem. O evento acontece até quarta-
feira (25), no Pavilhão de Eventos Jair Rodrigues, e a entrada é gratuita (exceto para o show de
encerramento).
Mais de 20 unidades de ensino, entre elas universidades, cursos de idiomas e cursos técnicos,
já confirmaram presença na Feira, e oferecerão palestras e stands. Além disso, também foram
organizadas atividades especiais, como o Espaço Urbano, Espaço Cultural e o Lounge Fals,
com programação para os três dias de evento.
O objetivo da organização da Feira do Estudante, que faz parte do Festival da Juventude de
Praia Grande, é dar oportunidade para que os jovens conheçam as universidades e os diversos
cursos de idioma e técnicos oferecidos na região, e assim, possam escolher com mais clareza o
que desejam seguir profissionalmente.
O Pavilhão de Eventos Jair Rodrigues fica localizado dentro do Espaço Alvorada, na Avenida
Ministro Marcos Freire, altura do nº 6.420, Bairro Quietude, próximo ao Viaduto Paschoalino
Borelli da Via Expressa Sul.

→ Função emotiva ou expressiva

Diferentemente da função referencial ou denotativa, que preza pela objetividade, a principal


particularidade da função emotiva ou expressiva é o caráter subjetivo, ou seja, a linguagem
cumprindo a função de emitir opiniões, emoções, desejos, sentimentos, expressões individuais.
Estruturada com sequências na primeira pessoa do discurso, tem como representantes os artigos de
opinião, diários, cartas pessoais e poemas líricos, por exemplo. Assim, o ponto de vista de quem
fala/escreve é essencial no trabalho com a linguagem. Se quiser saber mais sobre esse tema,
acesse: Função emotiva ou expressiva.

 Exemplos
Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco


Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente
Carlos Drummond de Andrade

Violência obstétrica, uma forma de desumanização das mulheres


A expressão 'violência obstétrica' ofende médicos. Dizem não existir o
fenômeno, mas casos isolados de imperícia ou negligência médicas. O que
aconteceu com a brasileira Adelir Gomes, grávida e forçada pela equipe de
saúde a realizar uma cesárea contra sua vontade, dizem ser um caso extremo,
escandalizado pelas feministas como de violência obstétrica. Não é verdade.
A violência obstétrica manifesta-se de várias formas no ciclo de vida
reprodutiva das mulheres. Em cada mulher insultada verbalmente porque
sente dor no momento do parto ou quando não lhe oferecem analgesia. Na
violência sexual sofrida em atendimento pré-natal ou em clínicas de
reprodução assistida. No uso de fórceps, na proibição de doulas ou pessoas
de confiança na sala de parto. Na cesárea como indicação médica para o
parto seguro. A verdade é que a violência obstétrica é uma forma de
desumanização das mulheres.

Jornal El País Brasil, 20 de março de 2019.

Leia também: Linguagem literária – conheça suas especificidades

→ Função poética

Embora tenha como nome função poética, essa função da linguagem não é exclusiva dos poemas.
Quando a intenção discursiva é a de construir uma mensagem que valoriza o tipo em sua
elaboração, vemos a manifestação desse tipo de função.
Assim, a presença de figuras de linguagem, seja em textos poéticos, seja em textos em prosa,
bem como diferentes escolhas vocabulares, ou mesmo a própria estruturação textual em versos
com a presença de rimas demonstram a intencionalidade do trabalho com a mensagem.
 Exemplos

Millôr Fernandes

→ Função fática ou de contato


Centrada no canal ou veículo de comunicação, a função fática ou de contato é aquela em que a
intencionalidade está na manutenção do ato comunicativo, ou seja, quando o emissor (locutor)
busca estratégias para manter a interação com o receptor (interlocutor).
Quem nunca entrou em um elevador e “jogou conversa fora” sobre como está o clima? Mesmo
nos mais despretensiosos momentos de fala, as funções da linguagem estão presentes. Ao
desejar “Bom dia!”, ou mesmo quando o professor, em sala de aula, pergunta “Entendeu?”,
percebemos o desejo de que a comunicação siga seu curso. Do “alô” ao “tchau”, do “bom dia” a
“boa noite”, vemos que o ser humano é realmente o ser que fala e que nossos laços sociais
fortalecem-se diante da necessidade de nos comunicarmos.
 Exemplo
Comunicação
É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que você quer.
Imagine-se entrando numa loja para comprar um... um... como é mesmo o nome?
"Posso ajudá-lo, cavalheiro?"
"Pode. Eu quero um daqueles, daqueles..."
"Pois não?"
"Um... como é mesmo o nome?"
"Sim?"
"Pomba! Um... um... Que cabeça a minha. A palavra me escapou por completo. É uma coisa
simples, conhecidíssima."
"Sim senhor."
"O senhor vai dar risada quando souber."
"Sim senhor."
"Olha, é pontuda, certo?"
"O quê, cavalheiro?"
[...]
"Chame o gerente."
"Não será preciso, cavalheiro. Tenho certeza de que chegaremos a um acordo. Essa coisa que o
senhor quer, é feito do quê?"
"É de, sei lá. De metal."
"Muito bem. De metal. Ela se move?"
"Bem... É mais ou menos assim. Presta atenção nas minhas mãos. É assim, assim, dobra aqui e
encaixa na ponta, assim."
"Tem mais de uma peça? Já vem montado?"
"É inteiriço. Tenho quase certeza de que é inteiriço."
"Francamente..."
"Mas é simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui, vem vindo, vem vindo,
outra volta e clique, encaixa."
"Ah, tem clique. É elétrico."
"Não! Clique, que eu digo, é o barulho de encaixar."
"Já sei!"
"Ótimo!"
"O senhor quer uma antena externa de televisão."
"Não! Escuta aqui. Vamos tentar de novo..."
"Tentemos por outro lado. Para o que serve?"
"Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende. Você enfia a ponta pontuda
por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes de uma coisa."
"Certo. Esses instrumentos que o senhor procura funciona mais ou menos como um gigantesco
alfinete de segurança e..."
"Mas é isso! É isso! Um alfinete de segurança!"
"Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coisa enorme, cavalheiro!"
"É que eu sou meio expansivo. Me vê aí um... um... Como é mesmo o nome?"

VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comunicação. In: PARA gostar de ler, v.7. 3.ed. São Paulo: Ática,
1982. p. 35-37.

→ Função conativa ou apelativa

A função conativa ou apelativa é aquela em que a ênfase está no emissor (interlocutor). Com a


intencionalidade de persuadir, convencer, vemos, estruturalmente, a presença de verbos no
modo imperativo, os quais têm intenção de indicar a forma como o outro deve agir.
Podemos verificar a ocorrência desse tipo de função em textos de caráter publicitário, discursos
políticos e religiosos, e também em cartas argumentativas. Assim, quando o emissor (locutor)
tenta influenciar o receptor (interlocutor), certamente estamos diante da função conativa ou
apelativa.
 Exemplos
30º  Anuário. São Paulo: Clube de criação de São Paulo, 2005. p. 97.

“Meu amigo, minha amiga, se você ainda não encontrou a raiz do mal que lhe tem trazido
prejuízos por muitos anos, participe da campanha “Corte a Raiz”, que lhe ajudará a descobrir e
arrancá-la de uma vez por todas.”
“Mas, que fique bem claro, ninguém é obrigado a nada [...] nem mesmo a fazer a Fogueira Santa.
A Fogueira Santa é uma atitude exclusivamente pessoal. Não faça sacrifício por que estamos
falando, mas faça pela sua fé! Se você não foi tocado, não ouviu a Voz da fé, do Espírito Santo,
não participe! Porque se você manifesta qualquer dúvida, mesmo um fio de dúvida, não é para ti
esse propósito de revolta”.

→ Função metalinguística

A função metalinguística é a função da explicação. Geralmente, ouvimos dizer que a função


metalinguística é aquela em que o código explica o próprio código, ou seja, a linguagem explica
a própria linguagem, e então teríamos o dicionário como o principal representante dessa função.
No entanto, podemos dizer que toda forma de explicação, com expressões como “ou seja”, “sendo
assim”, “por exemplo”, introduzem a manifestação dessa função da linguagem. Música que fala
ou explica como se fazer música, poemas que tratam do fazer poético, além de filmes que revelam
como se fazer cinema marcam a metalinguagem.
 Exemplos
Significado de Código
Substantivo masculino

Coleção de leis: Código Penal. Coleção de regras e preceitos. Sistema de símbolos que permite a
representação de uma informação: código Morse. Conjunto de regras que permite a transposição
de sistemas de símbolos sem alterar o significado da informação transmitida.

Linguística: Conjunto de todos os elementos linguísticos vigentes numa comunidade e postos à


disposição dos indivíduos para servir-lhes de meios de comunicação; língua.

(Fonte: Dicio.com)

Chega mais perto e contempla as palavras.


Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave? [...]

(Trecho do poema Procura da poesia, de Carlos Drummond de Andrade)

https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/funcoes-linguagem.htm

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