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RESUMO
O presente estudo trata das determinações do capital no
controle dos corpos, no atual estágio de reestruturação
produtiva do capital, com ênfase no sistema prisional do
Estado Brasileiro. Evidencia-se o controle dos trabalhadores
através do sistema penal em um momento de desemprego
estrutural, e deste modo, questionamos a função da prisão
como mecanismo de segurança social. Para tanto utilizamos
autores como: Antunes, (2017), Garland (1995), Giorgi
(2006), Foucault (1986), Zaffaroni (1989) entre outros.
Palavras-chave: Capitalismo. Corpo. Prisão.
ABSTRACT
The present study deals with the determinations of capital in
the control of bodies, in the current stage of productive
restructuring of the capital, with emphasis on the prison
system of the Brazilian state. It is evident the control of
workers through the penal system in a moment of structural
unemployment, and thus, we question the function of prison
as a mechanism of social security. We used authors such as:
Antunes, (2017), Garland (1995), Giorgi (2006), Foucault
(1986), Zaffaroni (1989), among others.
Keywords: Body. Capitalism. Prison.
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Mestre em Educação pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL.
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Quando a punição saiu da esfera da vingança
privada para vingança pública, com exclusividade do
Estado, este passou a desempenhar a função de escolha das
prioridades de maior relevância para proteger, bem como,
quais medidas deveriam ser propostas em caso de violações.
Todavia, após o desenvolvimento do capitalismo industrial,
a atuação do Estado recebeu demasiada influência no
direcionamento de suas políticas sociais, de modo que se
distanciou de sua finalidade social e se aproximou dos
interesses mercantis, que tem o lucro como princípio.
O direcionamento do Estado Penal esteve atrelado a
interesses econômicos que penetram o Estado e determinam
o conjunto de saberes relativos à gestão da população, que
sai do suplício à prisão, de acordo com a política criminal
escolhida para gerir e disciplinar em favor do mercado de
cada tempo, já bem explicitados por Michel Foucault
(2008), em sua obra “Vigiar e Punir”.
Um breve retorno à origem da pena de prisão,
permite compreender que sua criação esteve inserida num
contexto de transformações mercantis entre os séculos XVII
e XVIII, período de escassez de mão de obra, o que elevava
os salários, e como alternativa o capital, agindo dentro do
Estado, impôs o trabalho obrigatório para os pobres,
enfrentando em um só ato dois problemas da época: a alta
dos salários e o controle dos vagabundos. Nessa lógica,
foram construídas as primeiras instituições de reclusão para
pobres (RUCHE, 2004).
A prisão foi uma das saídas encontradas pelo capital,
que agindo através do Estado concretizou as modificações
necessárias junto às populações pobres e desviantes, como
meio de padronizar regras e hábitos de disciplina.
Deve-se forjar na penitenciária uma nova
categoria de indivíduos, indivíduos
predispostos a obedecer, seguir ordens e
respeito aos ritmos de trabalho regulares, e,
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sobretudo que estejam em condições de
interiorizar a nova concepção capitalista do
tempo como medida de valor e do espaço como
delimitação do ambiente de trabalho (GIORGI,
2006, p. 44).
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distintos de classe, cor, profissão e cultura, ou seja, tem-se
uma legislação que não representa os reais interesses da
grande parcela da sociedade. Com maior ênfase, destaca-se
o direito penal, que não atinge a paz e harmonia social, que
deveria ser o último recurso de solução de conflitos sociais
mas tornou-se o primeiro. Zaffaroni (1989, p. 119) afirmou
que “as nações estão praticando genocídio contra seu povo”
ao adotar padrões culturais, leis, costumes e, sobretudo,
guerras contra os crimes que são tão nocivos quanto, de fato,
as políticas criminais demonstram.
As mudanças ocorridas no modelo de produção no
decênio de 1960 e seguintes, sobretudo, com adoção da
gestão de modelo Toyotista, culminaram na reestruturação
produtiva, tendo como efeito social a redução das políticas
de bem-estar “welfare state”, aplicadas em alguns países,
como os Estados Unidos, entre 1930 e 1970, a ampliação do
Estado penal e do desemprego estrutural, além do aumento
no número de aprisionamento.
Somente nos Estados Unidos, o efeito na população
prisional refletiu no aumento de 200 mil reclusos em 1970
para 850 mil em 1991 (WACQUANT, 2003, p. 28), “e mais
de 2 milhões e 300 mil reclusos em 2018” (IDDD.ORG,
2018). Não muito diferente, o Brasil acompanha as altas
taxas de aprisionamento de sua população, saindo de uma
população de 88 mil reclusos, em 1985, para 726 mil presos
em 2016 (DEPEN, 2017).
Nesse mesmo período, nos Estados Unidos, a
criminologia crítica promoveu um processo de renovação
do saber criminológico, ao investigar as condições de
criminalizações. A punição, antes vista como um progresso
contínuo da evolução jurídica em direção à racionalidade
humana, não passa de concatenações de estratégias nas
quais a ordem do capital impôs, no tempo, suas formas
peculiares de subordinação, repressão de classe, bem como,
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dos meios de controle desempenhados pelo Estado em
relação às dinâmicas de funcionamento de mercado,
Todo modo de produção tende a descobrir
formas punitivas que correspondam às próprias
relações de produção. É, pois, necessário
analisar a origem e o destino dos sistemas
penais, o uso e o abandono de certas penas, a
intensidade das práticas punitivas, assim como
estes fenômenos foram determinados pelas
forças sociais, econômicas ou fiscais (GIORGI,
2006, p. 56).
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sujeitos passam a ser responsáveis pelo sucesso ou fracasso
econômico e social, impulsionando a individualidade e
competição como condição de sobrevivência e escalada do
mercado global.
No novo cenário do capital, nasce uma contradição,
por não existir mais uma base material, a dinâmica se
desvincula do produto em sua relação histórica, para o
trabalho imaterial, o controle também se reinventa no
domínio dos corpos, e se concretiza por fora das redes
produtivas, ou seja, por fora das fábricas.
Um exemplo atual de trabalho imaterial pode ser
encontrado no aplicativo Uber, em que uma empresa sediada
nos Estados Unidos coordena, por meio informático,
milhares de operários (Uberistas) em todo mundo. A
referida empresa ressignificou o serviço de transporte de
passageiros, com o surgimento de uma nova classe de
trabalhadores precarizados, como no caso citado, recebendo
25% de toda arrecadação do operador, que assume a
integralidade dos riscos, bem como, é responsável por todo
insumo material e humano para execução da atividade, sem
nenhuma garantia e sem vínculos, ao passo que precariza
outra classe de trabalhadores já existentes, que executavam
tal atividade, estimulando a competitividade e mudança nos
paradigmas do trabalho.
As tecnologias passam, assim, a dominar o mundo
do trabalho, alienando, criando novos mecanismos de
controle e aproveitamento das horas de trabalho
intermitente, a exemplo do que ocorre com a nova
modalidade de contratação, denominada por Antunes (2017)
de “Zero hour contract (...)”. Essa nova forma de contratos
não tem determinação de horas – daí sua denominação”, já
regulamentada no Reino Unido e em expansão em outros
países da Europa, sob outros nomes.
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No Brasil, foi apelidada de “Uber da educação”,
iniciada por alguns aplicativos, a exemplo Upper Professor,
Eduqi Professores e do “Comeia”, este modelo de trabalho
intermitente está em expansão para outras diversas áreas de
atuação, a exemplo de: cuidadores de idosos e crianças,
serviços de limpeza, manutenção, entre tantas outras
possibilidades.
Este modelo de trabalho reduz o vínculo
empregatício, a estrita demanda, como uma medida de
ampliação da eficiência e expansão da precarização do
trabalhador, que além de perder as garantias existentes na
legislação trabalhista, passa a figurar nesse novo cenário
como “empreendedor, uma mescla de burguês-de-si-
próprio e proletário-de-si-mesmo” (ANTUNES, 2017, p.5).
Situando-se na instabilidade do mercado, oscila numa triste
hipótese entre o desemprego e “o privilégio da servidão”
(ANTUNES, 2017, p.5).
O sentimento de insegurança criado pela nova
dinâmica social, ampliado pelo potencial midiático,
aumenta a sensação de medo e impotência. Assim, através
de reportagens de crimes, demonizando suspeitos, e
condenando-os antecipadamente, amplia-se outros medos
para que exista o sentimento constante de insegurança,
como bem escreveu Galeano (2001) na poesia acerca dos
nossos diferentes medos:
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Medo da porta sem fechaduras, do tempo sem
relógios, da criança sem televisão, medo da
noite sem comprimidos para dormir e medo do
dia sem comprimidos para despertar. Medo da
multidão, medo da solidão, medo do que foi e
do que pode ser, medo de morrer, medo de
viver (GALEANO, 2001, p. 83).
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O capital, mais uma vez, tira proveito disso, pois,
com a insegurança cresce o mercado de seguros, de
tecnologias de vigilância e controle, impulsionando a
ampliação dos lucros.
Desconectados de outras formas de organização e
sobrevivência, as pessoas passam a considerar as relações
capitalistas naturais, e não compreendem o status que
ocupam dentro dessa organização, e ainda corroboram para
a naturalização do controle da vida e ritmos ditados pelo
Capital.
CONSIDERAÇÕES
No presente estudo, demonstramos a influência do
capitalismo no direcionamento das políticas públicas, de
forma que tem ampliado o controle dos corpos, dentro e fora
das prisões, seja pelo trabalho, falta dele, pelo medo ou
mesmo pela inversão da responsabilidade da ocorrência do
fato criminoso.
Argumentamos as razões do Estado na atuação do
Direito Penal, que não atinge a finalidade proposta e, mesmo
assim, amplia os rigores penais como medida para alcançar
as modificações necessárias para o controle social,
sobretudo, nas populações pobres e desviantes.
Ficou evidente a urgência na busca por alternativas
ao modelo de gestão da violência adotado, pois,
compreende-se que, as escolhas atuais, baseadas no modelo
estadunidense, apenas têm ampliado o número de
aprisionados, assim como os números da violência e o
sentimento de insegurança.
Por fim, é necessária a união de esforços e pesquisas
voltadas à problemática da criminalização e encarceramento,
a fim de nortear as políticas públicas de segurança,
abandonando o percurso legislativo midiático como resposta
ao medo. Faz-se necessário desprender-se das amarras
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engendradas pelo capital que aprisionam os corpos e mentes,
através dos seus diversos mecanismos de vigilância,
disciplinamento dos corpos e no controle da mente.
REFERÊNCIAS
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RUSCHE, Georg; KIRCHHEIMER, Otto. Punição e
estrutura social. Tradução de Gizlene Neder. 2. Ed. Rio de
Janeiro: Revan, 2004
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