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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL

DA COMARCA DO RIO DE JANEIRO/RJ

Distribuição por dependência

Autos nº 0000-0000XXXX

CARLA, nacionalidade, estado civil, profissão, inscrita no CPF


sob. Nº X, e portadora do RG nº xxxxx, endereço eletrônico, residente e domiciliada à Rua
x, vêm perante V. Exa, por meio de seu procurador que esta subscreve, conforme
procuração anexa, opor

EMBARGOS À EXECUÇÃO C/C PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO

Movida por BANCO SÓ DESCONTO S/A, já qualificado nos


autos em epígrafe, pelas razões de fatos e de direito a seguir expostos:

1. DA TEMPESTIVIDADE

Conforme consta nos autos, o mandado de citação cumprido da


embargante foi juntado no dia 01/08/2019, quinta-feira. O prazo para apresentação dos
embargos é de 15 dias a contar da data da juntada aos autos do mandado de citação
cumprido conforme previsto no art. 915 do Código de Processo Civil. Neste passo, deve-se
considerar para a contagem que se exclui o dia do início e se inclui o dia do vencimento
(art. 224 CPC), bem como se computa apenas os dias úteis (art. 219 CPC).

Comprova-se que a juntada dos autos se deu em 01/08/2019, quinta-feira,


excluindo o dia de início, o prazo efetivo passou a correr em 02/08/2019, sexta-feira.
Computando-se apenas os dias úteis, o prazo expirará em 22/08/2019. Considerando que
estes embargos foram apresentados em data anterior, resta comprovada sua tempestividade.
2. DOS FATOS

Consoante consta dos autos da execução, a embargante firmou contrato


de empréstimo como o Banco Só Desconto/SA por meio do qual obteve R$ 200.00,00
(duzentos mil reais) para pagar seus estudos acadêmicos.

A embargante é domiciliada em Porto Alegre, porém a sede do


embargado é na cidade do Rio de Janeiro, razão pela qual foi inserida no contrato de
adesão uma cláusula de eleição de foro também para aquela comarca.

 O vencimento das parcelas de empréstimo foi agendado para


05/01/2018, 05/05/2018 e 05/09/2018.  

No primeiro vencimento, tudo ocorreu conforme programado e a


embargante pagou o valor devido. Não obstante, na data da segunda parcela, devido a
dificuldades financeiras, a embargante não conseguiu realizar o pagamento. O embargado
então, notificou Carla, em junho de 2018, sobre o vencimento antecipado da dívida
cobrando o valor exorbitante de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais), sob a
justificativa de incidência de taxas contratuais e encargos moratórios, alegando, inclusive,
que neste valor já estava descontada a parcela paga pela embargante.

Por não ter o montante, a embargante não pagou a dívida e, em novembro


de 2018 o embargado ajuizou a presente execução cobrando o valor atual de R$
350.000,00 (trezentos e cinquenta mil reais) e indicou a penhora do único imóvel de Carla,
no qual reside com seu esposo.

 Contudo, as alegações do embargado não merecem prosperar, pois são


completamente desconexas da realidade, conforme se verificará a seguir.

3. DO DIREITO E DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

3.1 Da Incompetência do Juízo

 A natureza do contrato de empréstimo firmado entre as partes é regida


pelo Código de Defesa do Consumidor, uma vez que as partes se enquadram na figura do
consumidor e fornecedor previstas nos artigos 2º e 3º do CDC. Logo este é o direito
material que deverá ditar as regras da relação jurídica.

Ademais, a avença tem natureza de adesão uma vez que não trouxe
nenhuma possibilidade de discussão das cláusulas por parte da embargante nos termos do
artigo 54 do CDC.

Neste passo notasse que a cláusula marca a Comarca do Rio de Janeiro


para resolução do litígio, clausula essa abusiva, uma vez que implica limitação de direito
consumidor dificultando sua atuação no processo e coloque em desvantagem exagerada
(artigo 51, IV CDC).

Portanto, a fim de respaldar os direitos do consumidor o correto é que a


ação tramite na comarca de Porto Alegre, local onde é domiciliada a embargante, restando
incompetente este juízo para apreciar o feito.

3.2. Da impenhorabilidade do bem de família

A fim de garantir a execução o Banco embargado indico à penhora o


único bem que Carla possui, que é o imóvel em que reside com seu esposo.

Todavia, o referido bem, se enquadra como bem de família nos termos do


artigo 1º da lei é 8009/ 90, sendo, por conseguinte impenhoráveis e não respondendo por
qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza.

Vê-se, pois, que a penhora está incorreta (art. 917, II c/c 833 do CPC),
uma vez que o referido imóvel não pode ser objeto de contrição.

3.4 Do excesso de execução

É nítida a postura inadequada do Banco ao agir com excesso por pleitear


quantia superior à do título. Nos termos do art. 917, III e § 2º, I CPC, é tese que o
executado poderá alegar nos Embargos, como assim dispõe:

Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:


III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
§ 2º Há excesso de execução quando:
I - o exequente pleiteia quantia superior à do título;
O valor inicial da dívida era R$ 2000.000,00 (duzentos mil reais).
Considerando que a embargante pagou a primeira parcela, o saldo a ser pago já com os
acréscimos contratuais é de R$ 180.000,00 (cento e oitenta mil reais), conforme restará
comprovado em dilação probatória.

Contudo, o embargado entende ser devido o importe de R$ 350.000,00


(trezentos e cinquenta mil reais).

A cobrança é excessiva, pois o embargado inseriu no cálculo tarifas não


previstas no contrato, e aplicação de atualização monetária foras dos parâmetros
contratados, e taxas abusivas.

Assim dispõe o Código de Defesa do Consumidor:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


 IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais
coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou
impostas no fornecimento de produtos e serviços;
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem
excessivamente onerosas;

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas
ao fornecimento de produtos e serviços que:
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé
ou a eqüidade;

Nesta toada, a embargante foi colocada em desvantagem exagerada pela


modificação das cláusulas de forma desproporcional.

Desta feita, faz-se necessário que o valor da execução seja reduzido, pois
mostra-se muito além daquele que realmente é devido.

3.5 Do efeito suspensivo e seguro garantia


É sabido que como regra os embargos não têm efeito suspensivo, porém
é possível que o juiz o defira caso o embargante demonstre os requisitos para a tutela
provisória e a execução esteja garantida, como previsto no art. 919 § 1º do CPC.

Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito suspensivo.

§ 1º O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos


embargos quando verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória
e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução
suficientes.

Neste caso temos presente os requisitos da tutela provisória de urgência


(art. 300 CPC). O fumus boni iuris está no fato de que há nítida evidência de que a
execução é excessiva e que o bem indicado à penhora se configura como bem de família. O
periculum in mora se afigura no fato de a embargante poder sofrer sérios prejuízos caso o
seu único imóvel seja penhora no curso do processo e a questão apenas seja enfrentada
quando houver decisão definitiva, uma vez que referido bem serve para moradia de sua
família e eles não têm outro lugar para morar.

Referente a garantia da execução, a embargante requer a substituição da


penhora por outra modalidade de garantia nos termos do art. 848 CPC, qual seja o seguro
garantia, o qual contratou a fim de assegurar o pagamento de sua dívida (doc. Anexo).

Portanto restam plenamente supridas as exigências para a concessão do


efeito suspensivo.

4. PEDIDOS:

Diante de todo exposto, requer-se:

a. O reconhecimento da incompetência do juízo e a remessa dos


autos ao juízo de Porto Alegre, onde reside a embargante nos
termos do art. 917, inciso V, do CPC c/c. o Art. 54 do CDC;

b. O reconhecimento da impenhorabilidade de seu imóvel que é


bem de família, nos termos do Art. 917, inciso II, c/c. o Art.
833 do CPC e o Art. 1º da Lei nº 8.009/90;
c. O reconhecimento o excesso de execução, para que a execução
prossiga apenas pela quantia de R$ 180.000,00;

d. A concessão de efeito suspensivo aos embargos à execução


(Art. 919 c/c. o Art. 845 e o Art. 848, todos do CPC

Provará o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito.

Nesses termos, pede deferimento.

Local, data ____ de ____de _____.

ASSINATURA ADVOGADO
OAB Nº

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