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INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
Núcleo de Educação a Distância
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INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
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longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
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Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao
seu sucesso profisisional.
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Esta unidade analisará a Parte Especial do Código Penal, que
apresenta os crimes em espécie. Especificamente, foram enfocadas: a)
crimes contra a pessoa b) crimes contra o patrimônio c) crimes contra
a dignidade sexual d) crimes contra a fé pública e) crimes contra a ad-
ministração pública. Trata-se de um estudo crítico das principais figuras
típicas, a partir da relevância do bem jurídico tutelado, de forma a ade-
quá-las aos princípios norteadores, limitadores e garantidores do Direito
Penal. Visa ainda, o fomento do raciocínio crítico-jurídico referente a
Parte Geral do Direito Penal, das Teorias da Sanção Penal e seus re-
flexos no estudo dos crimes em espécie, sempre pautado na filtragem
constitucional.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
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Apresentação do Módulo _______________________________________ 11
CAPÍTULO 01
CRIMES CONTRA A PESSOA
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CAPÍTULO 03
CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL, CONTRA A FÉ
PÚBLICA E CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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Inicialmente, será feita a análise do bem jurídico vida, seja ela in-
trauterina ou extrauterina, seus respectivos termos iniciais e finais para fins
de tutela penal e respectiva tipificação.
Posteriormente, será feito um estudo dos crimes contra a vida:
homicídio, induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, infanticídio e as
modalidades de aborto.
No capítulo seguinte, será analisado o bem jurídico-penal inte-
gridade física, fisiológica e psíquica, bem como os critérios norteadores
para fins de flexibilização de sua indisponibilidade para fins de exclusão da
responsabilidade jurídico-penal em consonância com os princípios consti-
tucionais.
Serão analisadas, por meio de casos concretos, as figuras típicas
previstas no Código Penal e seu confronto com outras figuras típicas, tais
como os delitos contra a Honra, previstos na Legislação de Trânsito – Lei
n. 9503/1997 e na Lei n.11340/2006.
Após, será realizado o estudo da honra como fator de criminaliza-
ção bem como a compatibilidade dos tipos vigentes com a Carta Republi-
cana e as consectárias questões de direito constitucional.
Será objeto de estudo a particularidade da iniciativa da ação penal
que afeta os delitos contra a Honra, bem como os institutos do pedido de
explicações em juízo, retratação, e exceção da verdade.
Haverá também a delimitação do bem jurídico-penal patrimônio, a
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DOS CRIMES CONTRA A
PESOSOA
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Curso de Direito Penal Brasileiro. v.2.8.ed. São Paulo: Revista dos Tri-
bunais, 2010, p.86).
Assim, poderemos diferenciar os delitos contra a vida a partir
da distinção entre eliminação da vida intra ou extrauterina. No que con-
cerne à eliminação da vida intrauterina, tipificada pelo aborto criminoso,
este poderá ser praticado pelo agente desde o momento da concep-
ção (nidação) até o momento anterior ao início do parto, conforme se
depreende da interpretação do disposto no art.123, do Código Penal,
que faz expressa menção de que a mãe atuaria durante o parto ou logo
após.
Por outro lado, para fins de caracterização do término da vida
extrauterina, o critério a ser adotado encontra-se previsto no art. 3º, da
Lei n.9434/1997, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e par-
tes do corpo humano para fins de transplante e tratamento, segundo o
qual o término da vida extrauterina ocorre com a morte encefálica, que
ocorre com a “parada das funções neurológicas segundo os critérios
da inconsciência profunda sem reação a estímulos dolorosos, ausên-
cia de respiração espontânea, pupilas rígidas, pronunciada hipotermia
espontânea e abolição de reflexos” (Dicionário Médico Blakiston, apud,
CAPEZ, Fernando, Curso de Direito Penal. V.2. 10.ed, pp 36).
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II. Homicídio Qualificado, previsto no §2º do art. 121:
Ainda de acordo com a Exposição de Motivos da Parte Espe-
cial do Código Penal, item n.38, in verbis:
“As circunstâncias qualificativas estão enumeradas no § 2º do
artigo 121. Umas dizem com a intensidade do dolo, outras com o modo
de ação ou com a natureza dos meios empregados; mas todas são es-
pecialmente destacadas pelo seu valor sintomático: são circunstâncias
reveladoras de maior periculosidade ou extraordinário grau de perversi-
dade do agente” (...).
► O homicídio qualificado e a incidência dos institutos re-
pressores da Lei n. 8072/1990 – Lei de Crimes Hediondos.
Consoante expressa previsão legal, art.1º, da Lei n. 8072/1990,
o delito de “homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de
grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio
qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V)” é considerado hediondo, con-
sumado ou tentado, de modo a incidirem todos os institutos repressores
da Lei de Crimes Hediondos aos condenados pelo respectivo delito.
► Concurso de pessoas e incomunicabilidade das cir-
cunstâncias de caráter pessoal
Conforme dispõe o art.30, do Código Penal, no caso de con-
curso de pessoas as circunstâncias de caráter pessoal não se comu-
nicam. Desta forma, para que possamos analisar a comunicabilidade
ou não, seja do privilégio, seja das qualificadoras, faz-se necessária a
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paração, a sanção do homicídio culposo no Código Penal1.
IV- Causa de aumento de pena trazida pela Lei 12.720/2012
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121 §1º. Já a jurisprudência do STJ defende que a qualificadora do fe-
minicídio teria natureza objetiva, de forma que seria compatível aplicar
o privilégio nos casos em que houver a prática do feminicídio.
O Enunciado nº 23 (005/2015) da COPEVID traz também que
a natureza da qualificadora seria de ordem objetiva: “A qualificadora do
feminicídio, na hipótese do art. 121, § 2ºA, inciso I, do Código Penal, é
objetiva, nos termos do art. 5º da Lei n. 11.340/2006 (violência domésti-
ca, familiar ou decorrente das relações de afeto), que prescinde de qual-
quer elemento volitivo específico.” (Aprovado na II Reunião Ordinária do
GNDH e pelo CNPG em 22/09/2015).
A Lei nº 13.771/2018 alterou três causas de aumento de pena
do feminicídio (art. 121, § 7º do Código Penal).
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As qualificadoras objetivas são as que dizem respeito ao crime,
enquanto as subjetivas vinculam-se ao agente. Enquanto as objetivas
dizem com as formas de execução (meios e modos), as subjetivas co-
nectam-se com a motivação do crime.
ao teor do art. 129, §3º, do Código Penal, e não sendo crime doloso
contra a vida, NÃO É JULGADO perante o Tribunal do Júri.
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Compete à Justiça Estadual julgar o crime de homicídio praticado contra po-
liciais militares estaduais, ainda que no contexto do delito federal de contra-
bando (STJ. 3ª Seção. CC 153.306/RS, Rel. p/ Acórdão Min. Maria Thereza
de Assis Moura, julgado em 22/11/2017). Ex: o sujeito ativo trazia cigarros
importados em seu veículo e, para fugir de uma blitz, atirou e matou um dos
policiais militares. Haverá desmembramento: a Justiça Federal julgará o con-
trabando e a Justiça Estadual julgará o homicídio. Situação diversa, entretan-
to, é aquela em que o crime contra a vida em desfavor de agentes estatais,
consumado ou tentado, é praticado no contexto de crime de roubo armado
contra órgãos, autarquias ou empresas públicas da União. Isso porque, nesta
hipótese, a íntima relação entre a violência, elementar do crime de roubo, e
o crime federal (roubo armado) atrai a conexão. Ex: o sujeito ativo cometeu
roubo contra os Correios; depois de consumado, passou a ser perseguido
por policiais militares e atirou contra eles, matando um e ferindo o outro. O
roubo e os delitos de homicídio serão julgados conjuntamente pela Justiça
Federal. STJ. 3ª Seção. CC 165.117-RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado
em 23/10/2019 (Info 659).
Consumação e Tentativa.
O momento consumativo desse crime e a admissibilidade de
punição pela tentativa restam controvertidos. A primeira corrente é no
sentido de que por ser um delito instantâneo e de mera conduta, os
resultados lesão grave e morte são apenas condições de punibilidade.
Neste caso, seria correto afirmar que o delito se consuma com o mero
induzimento, instigação ou auxílio. (Neste sentido Luiz Regis Prado.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. v.2. 8.ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p.70). Já a segunda corrente é no
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sentido de que se trata de um delito material e por isso, os resultados
lesão grave e morte são elementares do tipo. Dessa forma, a consu-
mação exige a ocorrência de tais resultados. Caso contrário, a conduta
será atípica. (Fernando Capez. Op. Cit, pp 127).
Vale lembrar que seja qual for o entendimento adotado, não é
possível a punição pela tentativa
► A causa de aumento de pena do parágrafo único, inciso
II do art.122, do Código Penal e o alcance da expressão “menori-
dade da vítima”.
O referido artigo, ao mencionar a menoridade da vítima, na
verdade, refere-se ao menor de 21 e maior de 14 anos, pois, segundo
melhor entendimento, face à interpretação extensiva do disposto no art.
217-A, do Código Penal, o menor de 14 anos, considerado vulnerável
pelo ordenamento jurídico pátrio, a princípio, não teria capacidade de
discernimento para fins de ser instigado, induzido ou auxiliado a praticar
seu suicídio, razão pela qual, nestes casos, a conduta de terceiro carac-
terizar-se-ia o delito de homicídio.
► Pacto de Morte.
O pacto de morte, também denominado ambicídio, caracteriza-
-se pelo acordo realizado entre duas pessoas com vistas à eliminação
simultânea de suas vidas. A questão deve ser analisada com cuidado
uma vez que se um dos agentes vier a praticar conduta correspondente
a ato executório do homicídio de outrem, terá sua conduta como incursa
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
neste delito.
Em doutrina, Nucci trata do motivo egoístico, salientando que
trata-se de causa de aumento, chegando ao ponto de duplicar a pena,
relativa ao excessivo apego a si mesmo (agente), o que evidencia o
desprezo pela vida alheia, desde que algum benefício concreto adve-
nha ao agente (art. 122, parágrafo único, I, CP)2.
Este é um nítido fator negativo de personalidade, explora-
do, pelo legislador, somente em alguns tipos penais, como o presente
exemplo, mas não há qualificadora, nem causa de aumento e também
inexiste agravante mencionando-o. Deve, então, o julgador incluir o mo-
tivo egoístico no campo das circunstâncias judiciais do art. 59 do CP,
que menciona genericamente os “motivos” do crime. Logicamente, me-
rece maior punição. Exemplos típicos: induzir alguém a se matar para
ficar com a herança ou para receber valor de seguro.
No tocante ao exemplo supra mencionado, vale lembrar que a
Súmula 610 do Superior Tribunal de Justiça prevê que:
Súmula 610-STJ: O suicídio não é coberto nos dois primeiros
2 Nucci, Guilherme de Souza Curso de Direito Penal: parte especial: arts. 121 a 212 do
Código Penal / Guilherme de Souza Nucci. – 3. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019.
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anos de vigência do contrato de seguro de vida, ressalvado o direito do
beneficiário à devolução do montante da reserva técnica formada. STJ.
2ª Seção. Aprovada em 25/04/2018, DJe 07/05/2018.
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Questões Relevantes
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denúncia são claros e determinados, podendo caracterizar, em tese, o crime
de homicídio culposo por inobservância de regra técnica, não prosperando
a alegação de ocorrência de “aborto culposo provocado por terceiro” ou de
crime impossível em razão do bebê ter sido retirado do ventre materno sem
vida, pois consta dos autos que a mãe já havia entrado em trabalho de par-
to há mais de oito horas e os batimentos cardíacos foram monitorados por
todo esse período até não mais serem escutados. 4. Iniciado o trabalho de
parto, não há falar mais em aborto, mas em homicídio ou infanticídio,
conforme o caso, pois não se mostra necessário que o nascituro tenha
respirado para configurar o crime de homicídio, notadamente quando
existem nos autos outros elementos para demonstrar a vida do ser
nascente, razão pela qual não se vislumbra a existência do alegado cons-
trangimento ilegal que justifique o encerramento prematuro da persecução
penal (...) (STJ, HC 228.998/MG, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
QUINTA TURMA, julgado em 23/10/2012, DJe 30/10/2012).
I. Autoaborto.
Nesta figura típica, é possível a prática das condutas do auto
aborto pela gestante ou do consentimento, pela gestante, para que ter-
ceiro o pratique.
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Na primeira modalidade, estamos diante de um delito de mão
própria, ou seja, que exige, para a sua prática a pessoalidade do sujeito
ativo. Logo, não será admissível, no caso de concurso de pessoas, a
coautoria, mas, somente, a participação.
Na segunda modalidade, aborto consentido, o legislador optou
pelo rompimento com a teoria unitária do concurso de pessoas, sendo
a conduta da gestante tipificada no art. 124, CP e a do terceiro, no art.
126, CP.
Questão controvertida: No caso da conduta do auto aborto,
com a participação de terceiro, no qual resulte lesões corporais gra-
ves ou a morte da gestante, qual será a responsabilização penal do
partícipe? O melhor entendimento é no sentido de que o terceiro será
responsabilizado pela participação na figura típica do art. 124, Código
Penal em concurso formal perfeito com a modalidade culposa afeta aos
resultados mais gravosos – art.121, §3º ou art. 129, §6º c.c art. 124
n.f art. 70, 1ª parte, todos do Código Penal, uma vez que o art. 127 do
Código Penal é aplicável somente aos artigos 125 e 126 do mesmo
diploma legal.
Questão controvertida: gestante que tente se suicidar sem,
contudo, lograr êxito nesta empreitada. Neste caso, sua conduta será
incursa na figura típica do delito de aborto na modalidade tentada ou
consumada, haja vista a lesão ao bem jurídico vida intrauterina e, con-
sequente reconhecimento de que o feto é o sujeito passivo do referido
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
delito.
II. Aborto provocado por terceiro com o consentimento da ges-
tante – art. 126 do CP.
Como dito anteriormente, nesta figura típica há o rompimen-
to com a teoria unitária do concurso de pessoas no que concerne à
conduta da gestante que consente com a prática do aborto, sendo sua
conduta tipificada como incursa no art. 124, CP. Por configurar crime
comum – pode ser praticado por qualquer pessoa, admite a ocorrência
de concurso de pessoas em quaisquer de suas modalidades (coautoria
ou participação). Cabe lembrar ainda que a gestante poderá desistir da
conduta mesmo após o início dos atos executórios (durante a opera-
ção), desde que, antes da interrupção da gravidez, caso em que será o
terceiro responsabilizado, caso prossiga com a conduta, pelo crime do
art. 125.
► Questão controvertida: Validade do Consentimento e ca-
pacidade para consentir. A menor de 18 anos pode consentir para a prá-
tica do aborto e, portanto ser a conduta do terceiro que praticar o aborto
tipificada no art. 126, Código Penal. Entretanto, se a gestante for menor
de 14 anos, consoante o disposto no art. 126, parágrafo único, Código
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Penal, o terceiro será responsabilizado pelo delito de aborto provocado
por terceiro sem o consentimento da gestante.
Aborto Legal.
O art.128, do Código Penal apresenta causas especiais de ex-
clusão de ilicitude e compreende os denominados aborto necessário e
aborto humanitário.
Possui por fundamento o disposto no item n. 41, da Exposição
de Motivos da Parte Especial do Código Penal.
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Questão do aborto de feto anencéfalo: foi de fundamental
importância a manifestação o STF no julgamento da APPF n.º 54 no
sentido de autorizar a interrupção da gestação no caso de aborto de
fetos anencéfalos, de forma que esses casos venham a ser resolvidos
de uma maneira mais rápida e eficiente.
O ponto principal do estudo enfrentado é que existe vida no
feto anencefálico. Essa conclusão torna-se clara baseada no fato de
que o anencéfalo possui apenas uma parte do encéfalo comprometida
pela doença, e não todo ele, como sugere o nome anencefalia. No en-
tanto, não há viabilidade de vida fora do útero.
A melhor justificativa para que se permita o aborto de fetos por-
tadores de anencefalia está na Constituição da República, uma vez que
estamos diante de um conflito de direitos fundamentais. De um lado, a
dignidade humana da mãe e do outro o direito à vida do feto. O direito
à vida, como já foi mencionado, é um direito fundamental constante no
rol das cláusulas pétreas, as quais não podem ser modificadas. Como
há vida intrauterina, ela está a salvo desde o momento da concepção.
A dignidade humana da genitora também está igualmente amparada
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quais políticas púbicas podem conter, reduzir ou evitar a repetição ou
piora de dados negativos (...) O aborto é uma realidade no Brasil entre
mulheres de diversas classes e credos. A discussão que deve ser feita
é sobre descriminalização do aborto, ou seja, entre aborto legal e
aborto clandestino. A criminalização alcança basicamente mulheres em
situação de vulnerabilidade. Por fim, considerando que o aborto é uma
questão de saúde pública, a saúde da mulher deve ser uma questão
de Estado, uma política pública e não uma definição pautada por uma
crença religiosa e por moralismos”5.
LESÕES CORPORAIS
Conceito de Integridade Física e Saúde Corporal.
Compreende-se por integridade física a “alteração anatômica,
interna ou externa, do corpo humano [...] a saúde fisiológica diz respeito
ao equilíbrio funcional do organismo [...] e a saúde mental, à pertur-
bação de ordem psíquica (CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal.
Parte Especial. v 2.10 ed. São Paulo: Saraiva, p166).
Como já mencionado anteriormente, a autolesão não é puni-
da pelo ordenamento jurídico face ao princípio da lesividade. Nos ca-
sos expressamente previstos em lei – art.171, §2º, V, Código Penal e
art.184, Código Penal Militar, não há punição da autolesão, mas sim do
bem jurídico protegido nos crimes em questão.
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As lesões desportivas e as intervenções médico cirúrgicas en-
contram-se dentre as causas excludentes de ilicitude decorrentes do
exercício regular de direito, desde que consentidas pela vítima (art.23,
III, Código Penal).
Fernando Capez defende o entendimento de que, sob a pers-
pectiva da imputação objetiva do resultado, as lesões desportivas con-
figuram condutas atípicas (CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. v
2. 10.ed. São Paulo: Saraiva,, 2010. p 167).
No caso de intervenções médico cirúrgicas, admite-se, inclu-
sive, sua realização sem o consentimento da vítima quando configurar
estado de necessidade (art. 24 e art. 146,§3º, I, ambos do Código Pe-
nal).
No que concerne ao transplante de órgãos e tecidos, o melhor
entendimento é no sentido de compreender-se como exercício regular
de direito no caso de doador “juridicamente capaz”, haja vista a finalida-
de terapêutica do procedimento.
Artigo 9 - É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gra-
tuitamente de tecidos, órgãos ou partes do próprio corpo vivo para fins
de transplante ou terapêuticos.
§3º. Só é permitida a doação referida neste artigo quando se
tratar de órgãos duplos, de partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo
cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar vivendo
sem risco para a sua integridade e não represente grave comprometi-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
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b) Lesões corporais culposas no Código Penal e no Códi-
go de Trânsito Brasileiro (Lei n. 9503/1997).
Art. 5º, Lei n. 11340/2006. Para os efeitos desta Lei, configura violência
doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão base-
ada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
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qualificadas e majoradas a serem aplicadas nos casos de lesões cor-
porais praticadas sob a caracterização de “violência domestica”, e não
para casos exclusivos de “violência de gênero”, apesar de tais parágra-
fos terem sido inseridos no Código Penal pela Lei 11.340/2006, senão
vejamos:
No caso de lesões corporais de natureza leve praticadas con-
tra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente
das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, a pena
cominada passa a ser de detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos
(art.129, §9º, Código Penal).
Para as lesões corporais de natureza grave ou qualificada pelo
resultado morte, praticadas no âmbito de violência doméstica, as penas
serão majoradas em um terço (art.129, §10, Código Penal). No caso de
lesões corporais praticadas no âmbito de violência doméstica contra
pessoa portadora de deficiência, as penas serão majoradas em um ter-
ço (art.129, §11)
Vale lembrar que conforme as lições de Fernando Capez,
“a modificação da Lei n. 10.886/04 acabou sendo tímida, visto que a
conduta continua a configurar infração de menor potencial ofensivo e
a ação penal, condicionada à representação do ofendido. Na hipótese
de lesões de natureza grave, gravíssima e de lesão seguida de morte
(CP, art. 129, §§ 1º, 2º e 3º), não incide a qualificadora do mencionado
Perdão judicial.
Em relação ao instituto do perdão judicial, causa extintiva de
punibilidade prevista no art. 107, IX do Código Penal e, em relação ao
delito de lesões corporais culposas, no art. 129,§8º, ambos do Código
Penal, utilizaremos os mesmos tópicos analisados na aula afeta ao de-
lito de homicídio e a incidência do instituto do perdão judicial nos casos
de homicídio culposo previsto no Código Penal e na legislação de trân-
sito.
A representação como condição de procedibilidade da ação
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
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possui doença venérea, etc.
O perigo pode ser concreto, no qual efetivamente deverá criar
uma hipótese de perigo (terá que analisar posteriormente ao ato). Ex.
dirigir sem habilitação. É crime de perigo? Dependerá da geração, no
caso concreto, de geração de dano.
Porem existem crimes que, de antemão, poderá ser analisado
ser hipótese de crime (crimes de perigo abstrato). A análise é feita ex
ante. Há uma presunção absoluta do perigo. O legislador antecipa a
barreira penal. Antes de atingir o dano concreto, o direito penal barra
para que a sociedade não possa ultrapassar o limite legal. Ex. dirigir
embriagado é crime – independente de causar o dano. Ex.2. Entregar
carro para pessoa não habilitada é crime.
Além disso, o crime de perigo pode ser individual (pessoas de-
terminadas estarão sendo expostas à uma situação de perigo) [art. 130
ao 136] ou coletivo (pessoas indeterminadas estarão sujeitas à situação
de perigo). [Art. 250 ao 285, CP].
Analisaremos agora os crimes de perigo individual. O agente
está cometendo um crime que a lei reputa perigosa. Não se exige para
a consumação do delito a efetiva lesão ao bem jurídico penalmente tute-
lado, sendo suficiente a exposição do bem jurídico a uma probabilidade
de dano.
Cuidado. Neste capitulo analisaremos os crimes de perigo à
VIDA e à SAÚDE. Então, por exemplo, se estiver relacionada ao patri-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
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O art. 131 é diferente do art. 130, pois este último fala de crime
de perigo e no §1º fala de crime de dano. No art. 131, o agente quer
praticar desde o inicio o ato para contaminar outra pessoa. Assim, o art.
131 não pode ser considerado crime de perigo, mas sim de dano.
Para ter o crime do art. 131, é necessário que queira transmitir.
Ainda que não transmita, ou se transmitir lesão leve = art. 131,
caput. Se causar lesão grave, gravíssima ou seguida de morte, aplica-
-se o art. 129, CP.
Para Cleber Masson, admite-se qualquer meio de transmissão
(pode ser na forma direta – contato físico; ou indireta – por algum ob-
jeto). Ademais, a moléstia venérea, se grave, de acordo com o referido
autor, poderá enquadrar-se no crime previsto no art. 131, porem, desde
que o perigo de contagio não ocorra em razão do ato sexual ou libidi-
noso.
132, CP. Ex.2. Art. 311, CTB. Proximidade de escola, hospital, etc., com
grande número de pessoas. Se for na rodovia, com velocidade incom-
patível. Não poderia aplicar o art. 311 do CTB, pois não se amolda.
Mas, poderia o art. 132, CP. Ex.3. Art. 15, Estatuto do desarmamento.
Via publica, local habitável. Se não for nos moldes desta hipótese, será
art. 132, CP.
Delito de ação livre, pois admite qualquer modalidade de exe-
cução – na forma comissiva ou omissiva. É um crime de perigo con-
creto. Não bastará a pratica da conduta ilícita. É necessário comprovar
que, em razão do comportamento do agente, a vítima teve sua saúde
submetida a risco de lesão.
SAIBA MAIS
MOLÉSTIA GRAVE – TRANSMISSÃO – HIV – CRIME DOLO-
SO CONTRA A VIDA VERSUS O DE TRANSMITIR DOENÇA GRAVE.
Descabe, ante previsão expressa quanto ao tipo penal, partir-se para o
enquadramento de ato relativo à transmissão de doença grave como a
configurar crime doloso contra a vida.
Obs. DOLO TEM QUE COBRIR TODOS OS ELEMENTOS DO
TIPO. E NÃO APENAS EM RELAÇÃO AO RESULTADO.
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CRIMES CONTRA A HONRA
Conceito de Honra
A honra integra o direito fundamental de personalidade previs-
to no art.5º, X, da CRFB e pode ser compreendida como o “conjunto
de predicados da pessoa que lhe conferem condição social e estima
própria” (NORONHA, Edgar Magalhães. Direito Penal. v.2. São Paulo:
Saraiva, 1972, p 111).
Para que possamos identificar a qual tipo penal a conduta po-
derá ser incursa, é importante se fazer uma distinção entre honra obje-
tiva e subjetiva.
A honra objetiva “relaciona-se à reputação e à boa fama que o
indivíduo desfruta no meio social em que vive”, enquanto a honra subje-
tiva, “à dignidade e ao decoro pessoal da vítima, isto é, o juízo que cada
indivíduo tem de si – estima própria” (CUNHA, Rogério Sanches Direito
Penal. Parte Especial, 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,2009, p
80-81).
Disponibilidade do bem jurídico-penal.
No âmbito jurídico-penal o direito à honra apresenta-se como
disponível e, portanto, passível de validade do consentimento do ofen-
dido para fins de exclusão de responsabilidade. Para que o consenti-
mento do ofendido seja válido é necessário que: o bem jurídico tutelado
seja disponível; o ofendido tenha capacidade para consentir e que o
consentimento seja válido
41
► Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a explo-
ração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando
necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse
coletivo, conforme definidos em lei.
§ 5º - A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da
pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às
punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem
econômica e financeira e contra a economia popular.
43
QUADRO COMPARATIVO
Art. 138 - Caluniar alguém, Art. 139 - Difamar alguém, im- Art. 140 - Injuriar alguém,
imputando-lhe falsamente putando-lhe fato ofensivo à sua ofendendo-lhe a dignidade
fato definido como crime: reputação: ou o decoro:
OFENDIDO
44
COMPORTA EXCEÇÃO DA EXCEÇÃO DA VERDADE NÃO HÁ QUE SE FALAR
VERDADE SOMENTO EM CASO DE FUN- EM EXCEÇÃO DA VER-
CIONÁRIO PÚBLICO DADE
45
ao funcionário a propositura de queixa crime para oferecimento da ação
penal ou representar ao Ministério Público para que o parquet possa
oferecer a denúncia.
47
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: DPE-PB Prova: Defensor Público
Nível: Superior.
Mediante promessa de pagamento de cem reais, a intrometida vi-
zinha Florisbela participa dolosamente do infanticídio executado
pela jovem mãe Aldegunda que, em desespero, se encontrava en-
tão sob forte influência do estado puerperal. Sobre Florisbela, à
vista do entendimento hoje dominante na doutrina, com esses da-
dos em princípio pode-se afirmar que
a) responderia por homicídio doloso qualificado, caso a lei brasileira
classificasse o infanticídio como modalidade privilegiada de homicídio.
b) responderia por homicídio privilegiado, com Aldegunda, caso a lei
brasileira classificasse o infanticídio como modalidade privilegiada de
homicídio.
c) responde por homicídio qualificado.
d) responde por infanticídio qualificado.
e) responde por infanticídio privilegiado, com Aldegunda.
QUESTÃO 2
Ano: 2014 Banca: PC-SC Órgão: PC-SC Prova: Agente de Polícia
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
Nível: Médio.
De acordo com o Código Penal, assinale a alternativa correta.
a) Comete infanticídio qualquer pessoa que matar, sob a influência do
estado puerperal ou não, o próprio filho, durante o parto ou jogo após.
b) Comete infanticídio qualquer pessoa que matar, sob a influência do
estado puerperal, criança, durante o parto ou logo após.
c) Comete infanticídio a mulher que matar, sob a influência do estado
puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após.
d) Considera-se lesão corporal de natureza grave aquela que resulta
incapacidade para as ocupações habituais por mais de quinze dias.
e) Considera-se lesão corporal de natureza grave aquela que resulta
incapacidade para as ocupações habituais, por mais de sete dias.
QUESTÃO 3.
Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: TJ-RJ Prova: Juiz Substituto
Nível: Superior
Maria, 22 anos, aos 7 meses de gestação decide praticar um aborto
em si mesma. Para tanto, pede e obtém auxílio de sua irmã Ana,
24 anos, que adquire medicamento abortivo. Sem muita coragem,
48
mas mantendo seu propósito inicial, Maria pede a Ana que lhe ad-
ministre a substância, de forma endovenosa, o que é feito. Quando
se inicia a expulsão do feto, ambas arrependem-se da prática, e
procuram um serviço médico em busca de auxílio. O feto é expul-
so no hospital, mas em virtude do seu já adiantado estado de de-
senvolvimento, sobrevive sem sequelas. Maria, em razão da ação
do medicamento abortivo, sofre uma histerectomia. Diante desse
quadro, Maria
a) responderá por aborto tentado (tentativa imperfeita) em concurso
com Ana.
b) não será punida, em virtude do arrependimento eficaz, e Ana será
punida por lesão corporal gravíssima (perda de função reprodutiva).
c) será punida por autoaborto, e Ana, por provocar aborto com con-
sentimento de terceiro, mas ambas na modalidade tentada (tentativa
imperfeita).
d) e Ana não serão punidas, em virtude do arrependimento posterior.
QUESTÃO 4.
Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: TJ-RJ Prova: Juiz Substituto
Nível: Superior
Determinado sujeito, que acabara de se desiludir amorosamente,
decide matar sua até então namorada. Toma emprestado o auto-
móvel de seu vizinho e, durante o trajeto, por descuido, abalroa
QUESTÃO 5
Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: PC-SP Prova: Médico Legista
Nível: Superior
Artaxerxes cometeu o crime de homicídio contra Valenciano. Apu-
rou-se que Artaxerxes cometeu o crime sob o domínio de violenta
49
emoção logo em seguida a injusta provocação de Valenciano. Nes-
sa hipótese, pelo que dispõe o Código Penal e desconsiderando
outros eventuais fatores, é correto afirmar que
a) Artaxerxes deverá responder pelo crime de homicídio qualificado.
b) o juiz poderá reduzir a pena de Artaxerxes.
c) Artaxerxes poderá ter a sua pena aumentada pelo juiz.
d) o juiz deverá aplicar a pena de homicídio simples, sem qualquer re-
dução ou aumento de pena.
e) o juiz deverá deixar de aplicar a pena, nesse caso, em razão de Va-
lenciano ter provocado Artaxerxes injustamente.
TREINO DISSERTATIVO
TREINO INÉDITO
NA MÍDIA
Aborto e eugenia
A Islândia está prestes a erradicar a síndrome de Down do modo mais
macabro possível: matando seus portadores ainda no ventre de suas
mães
Gazeta do Povo
NA PRÁTICA
ADPF
53
DOS CRIMES CONTRA A
LIBERDADE INDIVIDUAL &
CONTRA O PATRIMÔNIO
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
CONSTRANGIMENTO ILEGAL
Para que se configure o crime em questão, existe a necessida-
de de haver violência e grave ameaça, uma vez que funcionam como
elementares do tipo. Assim, se uma pessoa ficar presa na porta giratória
do banco não é constrangimento ilegal pela carência das elementares
“violência e grave ameaça”.
Trata-se da imposição de obrigação que a lei não determina.
Somente a lei pode obrigar regras de condutas à terceiros. Protege a
capacidade de determinação da pessoa natural. É um crime que ofende
a liberdade individual, de escolha, de vontade, de ação.
Por não exigir uma qualidade especial do autor do fato, trata-se
de crime comum.
Sujeito passivo: qualquer pessoa que tenha capacidade de
compreensão da ilicitude do constrangimento.
Para fins da configuração deste delito, a imposição do autor do
54
fato deve ser ILEGITIMA. Se a pretensão for legitima, não será cons-
trangimento ilegal, mas sim exercício arbitrário das próprias razões.
Estamos diante de um crime de natureza material. Assim, a
consumação do crime opera-se quando o agente efetivamente adota
comportamento ao qual é obrigado. Nelson Hungria leciona que esta
consumação é material, pois o tipo penal prevê a terminologia constran-
ger “a”. Diferente seria se o tipo penal trouxesse previsão de constran-
ger “para”, caso em que seria um crime formal. Logo, há necessidade
de efetivação do constrangimento de fazer ou deixar de fazer algo.
AMEAÇA
Trata-se de crime que configura uma promessa de mal injusto
e grave. Não é qualquer ameaça que tem o condão de atingir a capaci-
dade psíquica da pessoa. Ex. “você vai ver só” – não é crime de amea-
ça. Para que seja caracterizado o delito de ameaça, deve ser feita uma
efetiva promessa de mal injusto e grave. Quando a pretensão é licita,
haverá exercício regular do direito - e não ameaça.
Diferentemente do crime de sequestro e outros crimes que res-
tringem a liberdade, a ameaça atinge a ordem moral (tranquilidade es-
piritual / psíquica) – ou seja, retira a possibilidade de se viver uma vida
tranquila. O objeto da ameaça deve ser determinado ou determinável
e pode ser somente na esfera moral, mas que, dentro da racionalidade
humana, deve ser verossímil. Por isso, deverá levar em consideração
55
tima de afeto, âmbito que, em geral, não comporta testemunhas
capazes de compreender os pormenores do vínculo entre agressor
e ofendida. Assim, tornando o depoimento da vítima essencial para
esclarecer o contexto em que as ameaças ocorreram. Na época dos
fatos a ofendida registrou ocorrência e manifestou seu desejo de re-
presentar contra o acusado, como já mencionado, o que demonstra o
temor provocado pelas palavras do acusado. RECURSO NÃO PRO-
VIDO.(Apelação-Crime, Nº 70080850712, Segunda Câmara Criminal,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rosaura Marques Borba, Julgado
em: 16-05-2019).
TRAFICO DE PESSOAS
Art. 149-A, CP.
É um crime contra a liberdade individual/pessoa. O Brasil já
reprimia o trafico de pessoas para fins de exploração sexual. O legislador,
para adequar à realidade, às convenções e tratados, tipificou o tráfico
de seres humanos – não apenas para fins de exploração sexual, como
também para outras hipóteses.
Foi incluído pela lei 13.344/2016 e se trata de uma lei de cará-
ter multidisciplinar. Foram revogados os arts. 231 e 231-A, em aspecto
formal. O conteúdo do injusto migrou para o art. 149-A, inciso V. Houve
a aplicação do princípio da continuidade normativo típica, de forma que
não houve abolitio criminis; apenas uma revogação formal do tipo. E por
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
56
dolo, um especial fim de agir que é o tráfico de órgãos, adoção ilegal,
exploração sexual, etc.
CRIMES PATRIMONIAIS
Conceito de Patrimônio para fins penais.
Antes de iniciarmos o estudo sobre os delitos contra o patri-
mônio, devemos estabelecer o conceito de patrimônio para fins penais.
Patrimônio, no âmbito do direito penal, abrange apenas os créditos (ou
seja, que possa ser apreciado economicamente) e tudo aquilo que te-
nha valor meramente afetivo, que Rogério Greco chama de valor de tro-
ca e valor de uso respectivamente. (GRECO, Rogério. Curso de Direito
Penal. Parte Especial. V.III.7 ed.2010, p 11).
O patrimônio sempre foi objeto de proteção por parte do direito.
Segundo Nelson Hungria, a opção pela terminologia “patrimônio” em
lugar de propriedade tinha por escopo eliminar controvérsias sobre o
57
âmbito da proteção lançada pelo direito penal. A noção, assim, de patri-
mônio, para o direito penal, se confunde com aquela do direito civil. Isto
é, conjunto de bens que pertencem a uma pessoa e que por essa razão,
devem ser objeto de proteção. Não obstante, destacava Hungria que o
direito penal é essencialmente realístico, não se afeiçoando a determi-
nadas ficções da lei civil.
Bem jurídico tutelado: Para caracterização do bem jurídico tu-
telado nos referidos delitos haverá não só a propriedade, mas, também
a posse e a detenção da coisa móvel. (Neste sentido: Rogério Greco,
Rogério Sanches Cunha, Cezar Roberto Bitencourt, Luiz Regis Prado).
Objeto material: Os delitos em análise possuem como obje-
to material a coisa móvel sendo certo que, para fins de Direito Penal,
considera-se “móvel tudo aquilo que pode ser transportado de um lugar
para o outro, sem perder sua identidade” (CUNHA, Rogério Sanches.
Direito Penal. Parte Especial. 2 ed., pp 122)
58
bo e do furto. Pela teoria da contrectatio, a consumação se dá com o simples
contato entre o agente a coisa alheia. Pela apprehensio ou amotio, a con-
sumação se dá quando a coisa passa para o poder do agente. Na ablatio, a
consumação se dá quando a coisa, além de apreendida, é transportada de
um lugar para outro e, finalmente, na illatio, a consumação se dá quando a
coisa é transportada ao local desejado pelo agente para tê-la a salvo.
5. O art. 155 do Código Penal traz como verbo-núcleo do tipo penal do delito
de furto a ação de “subtrair”; pode-se concluir que o direito brasileiro adotou
a teoria da apprehensio ou amotio, em que os delitos de roubo ou de furto se
consumam quando a coisa subtraída passa para o poder do agente, mesmo
que num curto espaço de tempo, independentemente de a res permanecer
sob sua posse.
6. O agravo regimental não merece prosperar, porquanto as razões reunidas
na insurgência são incapazes de infirmar o entendimento assentado na de-
cisão agravada.
7. Agravo regimental improvido. (STJ, AgRg no Resp 1226382 / RS, Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Sexta Turma, Julgado em 15/09/2011)
c. Detectores antifurto.
Questão a ser analisada é a utilização, no caso concreto, dos
denominados detectores antifurto como causa excludente de tipicidade,
face ao reconhecimento do crime impossível, ou mera causa de diminui-
ção de pena pela tentativa.
O STJ firmou o entendimento no sentido de que o sistema de
vigilância realizado por monitoramento eletrônico, por si só, não torna
59
Em uma primeira análise o juízo de reprovabilidade da qualifi-
cadora afastaria a incidência do privilégio, todavia, devemos analisar a
natureza das circunstâncias qualificadoras presentes no caso concreto
sendo, portanto, possível a compatibilidade entre privilégio e qualifica-
dora, desde que esta tenha natureza objetiva, de forma a se fazer o
mesmo raciocínio empregado para concluir pela possibilidade de com-
binação do privilégio com a qualificadora no crime de homicídio
Neste sentido, é a orientação recente do Supremo Tribunal Fe-
deral ao afirmar que não há qualquer incompatibilidade teórica ou legal
da incidência do privilégio do § 2º do art. 155 do CP às hipóteses de
furto qualificado, desde que as qualificadoras sejam de ordem objetiva
e que a pena final não fique restrita à multa (STF, HC n.102.490/SP. Pri-
meira Turma, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 01/06/2010
Ainda, a Sexta Turma do Superior Tribunal vem reconhecendo
a compatibilidade entre o furto qualificado e o privilégio disposto no § 2º
do art. 155 do CP, conforme a orientação do Supremo Tribunal Federal.
Furto de energia:
60
dor coloca determinadas circunstancias relativas ao modo de execução,
que se comunicam à todos os coautores ou partícipes que delas tenham
ciência – inclusive o abuso de confiança, que é circunstancia pessoal.
Predomina na jurisprudência o entendimento de que o obstá-
culo é tudo aquilo que se coloca entre o agente e o ato de subtração,
tornando mais difícil a realização do tipo. Segundo Nélson Hungria, é
indiferente se o obstáculo possui o objetivo de proteger a coisa ou não
– basta que seja algo que passe a exigir um desforço do autor.
Ex. o indivíduo entra em um local com porta aberta, furta um
bem. Ao sair, a porta estava trancada. Arromba porta para sair do local,
já estando com bem. Houve arrombamento de obstáculo? Divergência.
Para Hungria, se o sujeito já subtraiu a coisa, e após se apossar, destrói
parte desta para ter acesso ao conteúdo – o furto é simples – pois a
subtração já ocorreu.
É de Nelson Hungria a interpretação no sentido de que a
resistência da própria coisa à subtração não qualifica o furto.
Para o STJ, furtar a bolsa dentro carro e quebrar o vidro do car-
ro para isso, seria furto qualificado. Quebrar o vidro para furtar o carro
seria furto simples
Abuso de confiança: é uma relação especial que se estabelece
entre autor e vítima e permite o rebaixamento da vigilância, e com isso,
o furto. Não se confunde com a apropriação indébita, que exige posse
legitima e desvigiada da coisa. Ou seja, apropriação indébita é o único
62
De acordo com o que dispõe o princípio da intervenção míni-
ma e outros, tais como fragmentariedade e adequação social, no caso
concreto a distinção entre ilícito civil e ilícito penal tem se tornado muito
tênue uma vez que a própria sociedade se mostra tolerante com as
fraudes praticadas no cotidiano.
Desta forma, ao levar em consideração a teoria constituciona-
lista do delito, as pequenas fraudes utilizadas, por exemplo, durante um
negócio de compra e venda e que visem à valorização de um produto
não possuem relevância penal, por ausência de tipicidade material.
O estelionato tem como requisitos o emprego da fraude para
induzir ou manter terceiro em erro com o fim de obter vantagem ilícita
em prejuízo alheio, sendo este de natureza patrimonial (econômica) e
não necessariamente a vantagem indevida.
Será caracterizado o induzimento a erro se a fraude for empre-
gada em momento anterior à conduta; caso seja empregada concomi-
tante à conduta, manutenção em erro; por outro lado, caso o emprego
da fraude seja posterior à conduta de obtenção da vantagem ilícita, a
conduta não será tipificada como estelionato, mas como apropriação
indébita, prevista no art.168, do Código Penal.
Consumação e tentativa. O crime de estelionato se consuma
com a obtenção da vantagem e por ser plurissubsistente, a tentativa
é possível quando, ainda que tenha induzido a vítima a erro, porém o
agente não alcance seu intento por circunstâncias alheias à sua vonta-
....................................................................................................
A reparação do dano não apaga o crime de estelionato. Dependendo o
63
momento, poderá caracterizar arrependimento posterior (se for antes do
recebimento da denúncia); poderá haver atenuante genérica (art. 65, III,
b, CP) se for antes da sentença. Se posterior à sentença, não terá efeito
algum.
Estelionato judiciário: a busca desordenada da prestação ju-
risdicional para satisfazer algum interesse pessoal, ainda que fundada
em argumentos absurdos e completamente inadequados, não pode ser
considerado um meio fraudulento. Não há crime naquilo que se conven-
cionou chamar de estelionato judiciário.
65
será penalmente atípico ainda que não compensado pelo banco saca-
do, diante da ausência de intenção de fraudar. Não se pode ofender o
patrimônio de quem não tem a possibilidade jurídica de exigir o paga-
mento de divida não amparada pelo direito.
Estelionato circunstanciado/agravado: art. 171, §3º. Não obs-
tante a vitima seja determinada, os indivíduos ofendidos pela conduta
criminosa são inúmeros e indeterminados.
66
Por fim, com relação ao reconhecimento da continuidade deliti-
va e do termo a quo para a contagem do prazo prescricional, imperioso
destacar o disposto no art.119, do Código Penal e no verbete de Súmula
n. 146, do Supremo Tribunal Federal, in verbis:
► Furto mediante fraude e Estelionato
No delito de furto mediante fraude o agente utiliza-se do ardil
para distrair o titular da res e há a subtração da coisa no momento em
que a vigilância sobre o bem é desviada em face do ardil; no delito de
estelionato a fraude é empregada para obter a entrega voluntária do
próprio bem pelo proprietário em decorrência do induzimento a erro, ou
seja, o titular da res a entrega, pois sua vontade está viciada.
Para fins de esclarecimentos sobre o tema, analisemos as se-
guintes narrativas e consequências aplicáveis
► Narrativa 1: agente se veste com uniforme de manobrista
de um restaurante e, tão logo um dos clientes lhe entrega as chaves do
seu carro para que estacione, o agente espera que o cliente entre no
restaurante e foge com o veículo. Neste caso configura-se o delito de
estelionato, previsto no art.171, do Código Penal, haja vista o fato do
veículo ter sido “voluntariamente” entregue pelo dono ao fictício mano-
brista.
► Narrativa 2: agente se veste com uniforme de manobrista
de um restaurante e, tão logo um dos clientes sai do carro para entregar
as chaves para que outro manobrista o estacione, o agente aproveita-se
67
Apropriação indébita Furto mediante fraude Estelionato
Tradição livre Subtração Tradição livre
Dolo superveniente Dolo ab initio Dolo ab initio
Posse desvigiada Fraude para afastar a Posse desvigiada e a
possibilidade de vigilân- fraude é empregada de
cia forma a pressupor van-
tagem e prejuízo
ROUBO - Art.157, do Código Penal.
Consumação e tentativa.
Para a análise da consumação do delito de roubo próprio,
art.157, caput, do Código Penal, são aplicáveis os ensinamentos afetos
ao delito de furto, ou seja, prevalece o entendimento nos Tribunais Su-
periores a adoção da teoria amotio, segundo a qual para a consumação
do delito basta a inversão da posse, ainda que por um curto período de
tempo, não sendo necessária a posse desvigiada da res.
69
Questão controvertida: O delito de roubo impróprio e a (im)pos-
sibilidade de aplicação do instituto da tentativa.
A partir da premissa de que a conduta inicial no delito
de roubo impróprio amolda-se à da figura típica do furto e que, somente
no momento em que o agente emprega a violência ou grave ameaça
com o fim de assegurar a posse do bem, restará a conduta como incur-
sa no delito de roubo, surge a controvérsia acerca da possibilidade de
tentativa ao referido delito.
Tal questionamento enseja controvérsias na doutrina e
jurisprudência de modo a termos dois entendimentos sobre o tema:
► Pela impossibilidade: O crime se consuma no mo-
mento do emprego da violência ou da grave ameaça e, por conseguinte,
não admite tentativa. Neste caso, a conduta do agente deverá ser tipifi-
cada pelo concurso de crimes entre o delito de furto na forma tentada e
o delito resultante do emprego da violência ou grave ameaça, por exem-
plo, lesões corporais. (Neste sentido Luiz Regis Prado, op. cit. p 321).
► Pela possibilidade. Violência e grave ameaça são em-
pregadas antes de consumada a subtração e, portanto, a consumação
se dá nos moldes do roubo próprio (Neste sentido NUCCI, Guilherme de
Souza. Manual de Direito Penal. Parte Geral. Parte Especial. 6.ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p 724-725).
O emprego de arma de brinquedo (simulacro) e o delito de rou-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
bo.
O emprego de arma de brinquedo (simulacro) não tipifica o rou-
bo majorado, pois, ainda que possua potencialidade intimidatória, não
possui potencialidade lesiva. Cabe salientar que o Verbete de Súmula
n. 174, do Superior Tribunal de Justiça foi cancelado.
Além disso, o Código Penal sofreu uma alteração em 2018,
na qual foi revogada também a incidência da agravante do emprego da
arma branca no crime de roubo. Assim, aquele que se utiliza de uma
faca para praticar o roubo, pratica a grave ameaça elementar do crime.
Todos aqueles que anteriormente tiveram a incidência da majorante,
devem se beneficiar com a revisão da pena
Verbete de Súmula
610 STF
TENTADA TENTADA TENTADO
TENTADA CONSUMADA TENTADO
72
crime de extorsão, a produção do resultado somente irá acontecer se
houver colaboração da vítima. Já no delito de roubo, essa situação não
ocorre pois o agente poderá alcançar o resultado independentemente
de colaboração da vítima.
Importante saber que, com a entrada em vigor da lei denomi-
nada Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019), foram o acrescimento de
nova majorante ao artigo, senão vejamos:
Art. 157 do Código Penal (...) § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até
metade: VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de
arma branca; § 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com em-
prego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a
pena prevista no caput deste artigo.
74
via um juízo de reprovabilidade diferenciado pela restrição da liberdade
da vítima, o que gerava controvérsias entre doutrina e jurisprudência
a ensejar três entendimentos: tipificação da conduta como incursa na
figura típica do roubo majorado (art.157, §2°, V, do Código Penal); extor-
são (art.158, do Código Penal) e extorsão mediante sequestro (art.159,
do Código Penal).
A partir da distinção entre os delitos de roubo e extorsão face
à imprescindibilidade do comportamento da vítima neste, bem como a
distinção entre extorsão e extorsão mediante sequestro face à entrega
da vantagem indevida ser feita, respectivamente, pela própria vítima
ou por terceira à guisa de resgate, o legislador optou pela aplicação
da qualificadora ao delito de extorsão, previsto no art.158, do Código
Penal.
Assim, no caso de extorsão qualificada pela privação da liber-
dade da vítima, ainda que ocorra o resultado morte, não haverá o re-
conhecimento da hediondez, uma vez que o referido crime não está
previsto no rol taxativo da Lei 8072/90.
76
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: DPE-MS Prova: Defensor Públi-
co Nível: Superior.
Quanto ao delito de furto, é correto afirmar que:
a) para a configuração da qualificadora prevista no § 5.º do art. 155 do
CP (veículo transportado para outro estado ou para o exterior) basta,
apenas, a caracterização de veículo, inclusive aquele movidos à eletri-
cidade ou por tração humana ou animal.
b) a diferença entre o furto mediante fraude e estelionato reside na for-
ma pela qual o agente se apropria da coisa, pois enquanto no primeiro
a vítima não percebe que a coisa lhe está sendo retirada, no segundo é
a própria vítima que entrega a coisa ao agente.
c) de acordo com o entendimento majoritário da doutrina, para caracte-
rização da majorante do abuso de confiança basta a relação emprega-
tícia com vínculo permanente.
d) não há necessidade de exame de corpo de delito quando o furto qua-
lificado com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coi-
sa deixar vestígios, bastando sua constatação por outro meio de prova.
QUESTÃO 2
QUESTÃO 3
Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: TRF-4 Prova: Analista Judiciário
Nível: Superior
Gerson subtraiu para si energia elétrica alheia de pequeno valor,
fazendo-o em concurso com Marcio, sendo ambos absolutamen-
te primários. Com esses dados, à luz da jurisprudência hoje do-
minante no Superior Tribunal de Justiça, classificam-se os fatos
como furto
a) simples.
b) de bagatela.
c) privilegiado.
d) qualificado.
e) privilegiado-qualificado.
QUESTÃO 4
Ano: 2014 Banca: UFG Órgão: DPE-GO Prova: Defensor Público
Nível: Superior
G. S., primário e de bons antecedentes, furta R$ 10.000,00 de seu
próprio pai, um senhor de 55 anos. Na hipótese, conclui-se que G.
S.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
QUESTÃO 5
Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: TJRJ Prova: Juiz Substituto
Nível: Superior
Nos estritos termos do CP, aquele que faz ligação clandestina de
energia elétrica junto a poste instalado na via pública e a utiliza em
proveito próprio
a) comete fato típico equiparado a furto.
b) comete fato típico equiparado a apropriação indébita.
c) não comete crime algum, por falta de expressa previsão legal.
d) comete estelionato.
TREINO DISSERTATIVO
Peter, advogado, após ser vencedor de um processo, apropria-se de va-
78
lores que deveriam ser repassados ao seu cliente, tendo sido inclusive
já constituído em mora.
Discorra sobre o eventual crime cometido por Peter.
TREINO INÉDITO
Robson pediu a Leonel que guardasse, em seu apartamento, um livro
muito raro. Após três meses, Leonel apodera-se do referido livro, sem
devolvê-lo a Robson quando foi solicitado, este crime configura-se:
a) apropriação indébita.
b) furto.
c) estelionato.
d) roubo.
e) peculato.
Saiba mais
Filme sobre o assunto: Assalto ao Banco Central
Acesse o link:
https://mpma.mp.br/arquivos/COCOM/arquivos/centros_de_apoio/
caop_crim/NOTA_T%C3%89CNICA/NOTA_TECNICA_02_2018_
CAOPCRIM_2.pdf
NA MÍDIA
Adolescente vítima de tráfico humano é resgatada no AC quando
79
NA PRÁTICA
80
CRIMES CONTRA A
DIGNIDADE SEXUAL, CONTRA
A FÉ PÚBLICA & CONTRA A
81
TÍTULO VI DA PARTE ESPECIAL
Considerações Gerais
O crime de estupro está previsto no art. 213 do Código Penal e
traz a figura típica daquele que permite que o ato libidinoso se manifeste
de diversas formas, inclusive sem com contato de órgãos sexuais, ou
até mesmo quando o sujeito ativo do crime obrigue a vítima a praticar
atos em si própria, de possa que possa contemplar a vítima. Mas não se
pode negar que é exigível uma participação física da vítima na prática
do ato libidinoso.
Com a alteração trazida pela Lei 12015/2009, além da possibi-
lidade de o agente constranger a vítima mediante violência ou ameaça
à prática de conjunção carnal, o legislador prevê a possibilidade de que
ocorra o papel ativo da vítima quando descreve que o agente venha a
constranger alguém, mediante violência ou ameaça, a praticar outro ato
libidinoso. No entanto, existe também a possibilidade de que ele, ao
constranger alguém, mediante violência ou ameaça, permita que com
ele se pratique outro ato libidinoso.
Caracteriza-se como tipo subjetivamente complexo, haja vis-
ta a existência do dolo genérico afeto ao constrangimento ilegal, bem
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como o especial fim de agir em relação à prática de conjunção carnal ou
qualquer outro ato libidinoso.
Por tratar-se de delito material, no que concerne à conjunção
carnal consuma-se com a introdução, ainda que parcial, do pênis na
cavidade vaginal; em relação à prática de qualquer outro ato libidinoso,
com a efetiva pratica do ato.
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no tipo.
VII - Em razão da impossibilidade de homogeneidade na forma de execução
entre a prática de conjunção carnal e atos diversos de penetração, não há
como reconhecer a continuidade delitiva entre referidas figuras. Ordem de-
negada.
(STJ. HC 104724/MS. Relator. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma.
22/06/2010).
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a dignidade sexual, tal valor probatório ganha relevância, mormente se
corroborado pelos demais elementos probatórios, face ao fato destes
delitos serem realizados, em sua maioria, “na clandestinidade”, ou seja,
sem a presença de qualquer testemunha.
A Lei n.12.015, seus reflexos na tipificação das condutas e
consequente conflito de Direito Intertemporal.
Com o advento da Lei n.12015/2009, a figura típica prevista no
art.214, CP (atentado violento ao pudor) foi revogada, sem, contudo, ter
ocorrido abolitio criminis, mas, apenas, a denominada continuidade
normativa. Desta forma, questão a ser analisada é a utilização, no caso
concreto, do princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica, pre-
visto no art.2º, parágrafo único, do Código Penal.
Ação Penal nos Crimes contra a Dignidade Sexual.
Consoante a atual redação do art.225, do Código Penal, em
regra, a ação penal é pública incondicionada. Vale lembrar que estamos
diante de norma penal mais grave sendo que a regra referente ação pe-
nal é norma de natureza mista, de modo que, por versar sobre direitos
fundamentais, deverá ser tratada com a regra de direito intertemporal
aplicável ao direito material.
Assim, se o fato foi praticado antes da entrada em vigor da al-
teração ocorrida em setembro de 2018, aplica-se a redação do art. 225
à época, uma vez que a representação é uma condição de procedibili-
dade da ação penal e se não exercida no prazo decadencial, opera-se
Falsificação de documento
Documento é todo escrito a mão ou mecânico, contendo expo-
sição de fatos ou declaração da vontade e ainda dotado de relevância
jurídica e que por si só pode causar um dano por ter valor probatório
7 Direito penal esquematizado – parte geral / André Estefam; Victor Eduardo Rios Gonçal-
ves. – Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza - 9. ed. – São Paulo : Saraiva Educa-
ção, 2020.
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O bem jurídico tutelado: diretamente a fé pública e, indireta-
mente, terceiro prejudicado com a falsificação. Consuma-se no momen-
to em que o documento é criado (falsidade total) ou modificado (falsi-
dade parcial) e seja apto a enganar terceiros, sendo, irrelevante seu
uso, haja vista tratar-se de crime formal. O objeto material do delito
é o documento e se ele for considerado documento público, é aquele
compreendido como emanado do poder público. A doutrina classifica o
documento público em três categorias:
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lucionado pelo princípio da consunção, sendo o delito de estelionato
absorvido pela falsidade de documento público, delito mais grave.
MOEDA FALSA
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Por outro lado, no caso da conduta culposa, o agente público,
por meio da quebra do dever objetivo de cuidado, concorre para a prá-
tica de peculato doloso por outrem.
O peculato configura-se como delito próprio, mas admite o con-
curso de pessoas, desde que o estranho à Administração Pública tenha
conhecimento da condição do sujeito ativo. No que concerne ao sujei-
to passivo, o Estado figura tanto como sujeito passivo indireto, quanto
direto, na medida em que ocorre a lesão ao seu patrimônio moral e
patrimonial.
► Peculato-apropriação: configura delito especial de apropria-
ção indébita, caracterizada pela qualidade do sujeito ativo, pela lesão
ao patrimônio público, bem como à moralidade administrativa – à fun-
ção exercida pelo Estado presentado pelo agente público.
►Peculato-desvio (malversação): neste caso, o funcionário dá
destinação diversa a res, em benefício próprio ou de terceiro. O referido
benefício pode ser material ou moral, bem como a vantagem não será,
necessariamente, de cunho econômico.
► Peculato Impróprio, também denominado peculato-furto, en-
contra-se previsto no §1º, do art. 312, do Código Penal.
► Peculato culposo: previsto no §2º, do art. 312, do Código
Penal. Trata-se de uma hipótese na qual o funcionário público, por agir
de forma desidiosa, acaba concorrendo para que outrem venha praticar
um crime lesivo ao patrimônio da Administração. Para Guilherme de
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nominado de resistência passiva. Trata-se de delito formal que se con-
suma no momento em que o agente desobedece ou infringe ordem le-
gal endereçada diretamente a ele, independentemente da ocorrência de
efetivo prejuízo à administração. Para sua caracterização, é essencial
que haja o descumprimento de ordem legal por quem tem, diretamente,
o dever legal de cumpri-la.
► Desacato. Art. 331, do Código Penal - Esta figura típica con-
templa como objetos materiais o funcionário público e sua honra. Sig-
nifica dizer que a expressão “desacatar” compreende as condutas de
menosprezar, desrespeitar ou humilhar o funcionário público no exer-
cício de sua função ou em razão dela. Trata-se de delito formal que
se consuma no momento em que o agente desacata o agente público,
independentemente da ocorrência de efetivo prejuízo à administração.
No caso dos delitos de difamação e injúria, estes serão absorvidos pelo
delito de desacato. Por outro lado, no caso de calúnia, caso o desacato
constitua uma calúnia, restará caracterizado o concurso formal imper-
feito de crimes.
►Tráfico de influência. Art. 332, do Código Penal - Configu-
ra-se como tipo de ação múltipla (alternativo) podendo a conduta do
agente comportar desde a solicitação até a exigência ou recebimento
da vantagem indevida, sendo que essa expressão, não terá, necessa-
riamente, natureza econômica. O delito em análise se caracteriza por
ser delito formal, haja vista consumar-se no momento em que o agente
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CP. Trata-se, para esse caso, de novatio legis in pejus, uma vez que a pena
prevista atualmente passa a ser de 2 a 5 anos e não mais de 1 a 4 anos, pena
essa que agora é somente para o crime descaminho.
Pelo fato de serem delitos formais e plurissubsistentes, admitem a modali-
dade tentada.
A competência para processo e julgamento dos crimes em questão, conso-
ante o enunciado de Súmula n. 151, do Superior Tribunal de Justiça, define-
-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.
Vale lembrar que com a referida modificação legal, a regra relativa à incidên-
cia do princípio da insignificância é válida somente para o crime de descami-
nho, previsto no art. 334 do CP. Caso o valor das mercadorias não ultrapasse
R$ 10.000,00 e preenchidos os demais requisitos, haverá a aplicação do
princípio da insignificância.
Esse entendimento ocorre em virtude da interpretação dada ao disposto no
art. 20 da Lei nº 10.522/02, que estabelece o arquivamento dos autos de exe-
cuções fiscais, sem baixa na distribuição, dos débitos inscritos como Dívida
Ativa da União, de valor consolidado igual ou inferior a dez mil reais, sendo
esse o entendimento amplamente majoritário nos Tribunais Superiores.
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QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2012 Banca: TJ-SC Órgão: TJ-SC Prova: Titular de Serviços
de Notas e de Registros - Provimento
Não constitui crime contra a dignidade sexual:
a) Exploração sexual de vulnerável.
b) Rapto violento ou mediante fraude.
c) Violência sexual mediante fraude.
d) Estupro de vulnerável.
e) Favorecimento à prostituição.
QUESTÃO 2
Ano: 2018 Banca: CONSULPLAN Órgão: TJ-MG Prova: Juiz de Direito
Substituto
MA, preocupada com o desempenho escolar insatisfatório de sua fi-
lha AL, de 13 (treze) anos de idade, pediu ao vizinho V, de 19 (deze-
nove) anos de idade, universitário, para ministrar aulas particulares
para AL. Ao fazer o pedido, MA mencionou para V a idade de AL e
as dificuldades que ela enfrentava com a disciplina de matemática.
Na data combinada, V foi à residência de AL e foi por esta recebido e
conduzido até seu quarto. MA, estava na sala de TV, que fica ao lado
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
do quarto de AL, de modo que pôde ouvir com clareza o inteiro teor da
conversa travada entre V e AL. Depois de alguma conversa entre eles,
AL convidou V para “ficarem”. V ficou indeciso inicialmente, mas AL
insistiu e afirmou que não haveria problema algum, porque sua mãe
MA estava na sala entretida com a novela e não os interromperia. De-
pois da insistência por parte de AL, V concordou com a proposta e
acabaram mantendo relação sexual. MA, que ouviu toda a conversa,
achou melhor não interferir e continuou a assistir à novela. Diante
dessa situação hipotética, assinale a alternativa que contém a solu-
ção jurídica correta para o caso.
a) Somente V responde pelo crime de estupro de vulnerável.
b) V e MA respondem pelo crime de estupro de vulnerável, em coautoria.
c) V e MA respondem pelo crime de estupro de vulnerável, V na modalida-
de comissiva e MA na modalidade omissiva.
d) V e MA respondem pelo crime de estupro de vulnerável, V na modalida-
de comissiva e MA na modalidade omissiva, sendo aplicada à MA a causa
de aumento de pena prevista no artigo 226, II, do Código Penal (condição
de ascendente).
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QUESTÃO 3
Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: TJ-CE Prova: Juiz Substituto
Considerando a jurisprudência dos tribunais superiores acerca
dos crimes contra a dignidade sexual, julgue os seguintes itens.
I Ato sexual praticado por maior de idade com menor de quatorze
anos de idade não configura estupro de vulnerável se tiver havido
consentimento da parte menor.
II Toques e apalpações fugazes nos seios e na genitália da vítima
são atitudes insuficientes para configurar o tipo de estupro de vul-
nerável.
III O trauma psicológico sofrido pela vítima de estupro de vulne-
rável é justificativa para a exasperação da pena-base imposta ao
agente da conduta delituosa.
Assinale a opção correta.
a) Nenhum item está certo.
b) Apenas o item II está certo.
c) Apenas o item III está certo.
d) Apenas os itens I e II estão certos.
e) Apenas os itens I e III estão certos.
QUESTÃO 4
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: PC-SP Prova: Escrivão de Polí-
cia Civil. Tendo em conta os crimes contra a dignidade sexual (ar-
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QUESTÃO 5
Ano: 2018 Banca: MPE-BA Órgão: MPE-BA Prova: Promotor de
Justiça Substituto - Anulada
Assinale a alternativa correta.
a) A assertiva de que ninguém pode ser punido pelo que pensa ou pelo
modo de viver reflete o princípio da exteriorização do fato em direito
penal.
b)Na hipótese de estupro de pessoa maior de idade e que não seja vul-
nerável, mas com violência de que resulte lesão corporal grave, haverá
litisconsórcio facultativo entre o Ministério Público e o ofendido.
c) A derrogação é a revogação total da lei por enunciação expressa ou
tácita da nova lei ao regular o mesmo fato.
d) A caracterização do delito de falsidade ideológica se contenta com a
potencialidade de dano e imitação da verdade.
e) O crime progressivo e a progressão criminosa se identificam uma
vez que se dão ao mesmo tempo e no mesmo momento, ou seja, se
desdobram em dois atos.
TREINO DISSERTATIVO
TREINO INÉDITO
100
a existência de relacionamento amoroso da vítima com o agente é hipó-
tese de excludente de ilicitude do crime.
o consentimento da vítima para a prática do ato afasta o caráter delitivo
do crime, e constitui uma exclusão de ilicitude.
a experiência sexual anterior da vítima é imprescindível para a tipifica-
ção do delito.
incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput do
art. 217-A com alguém que, por enfermidade, não tem o necessário dis-
cernimento para a prática do ato.
o referido crime não é considerado hediondo.
NA MÍDIA
Saiba mais
Filme sobre o assunto: Paulina
Acesse o link:
http://www.criminal.mppr.mp.br/arquivos/File/Estudo_Lei_13718_2018_
Mudancas_nos_Crimes_Sexuais_versao_final_2.pdf
NA PRÁTICA
NA MÍDIA
102
GABARITOS
CAPÍTULO 01
QUESTÕES DE CONCURSOS
01 02 03 04 05
A C B C B
TREINO INÉDITO
Gabarito: B
103
CAPÍTULO 02
QUESTÕES DE CONCURSOS
01 02 03 04 05
B C E A A
TREINO INÉDITO
Gabarito: A
104
CAPÍTULO 03
QUESTÕES DE CONCURSOS
01 02 03 04 05
B C C B D
TREINO INÉDITO
Gabarito: D
105
CUNHA, Rogério Sanches e outros. Comentários à Reforma Criminal
de 2009 e à Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro.v.2. 8 ed. rev.,
atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
______ Curso de Direito Penal Brasileiro.v.3. 6 ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
BATISTA, Weber Martins.O Furto e o Roubo no Direito e no Processo
Penal. São Paulo: Forense, 1997.
CAPANO, Evandro Fabiani. Dignidade Sexual. Comentários aos no-
vos crimes do Título VI do Código Penal (art. 213 a 234-B) alterados
pela Lei n.12015/2009. São Paulo: Revista dos Tribunais,2009.
Nucci, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte especial:
arts. 121 a 212 do Código Penal / Guilherme de Souza Nucci. – 3. ed.
– Rio de Janeiro: Forense, 2019.
Direito penal esquematizado – parte geral / André Estefam; Victor
Eduardo Rios Gonçalves. – Coleção esquematizado / coordenador Pe-
dro Lenza - 9. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020.
SARMENTO, Daniel e PIOVESAN, Flávia. Nos Limites da Vida - Abor-
to, Clonagem Humana e Eutanásia Sob a Perspectiva dos Direitos
Humanos. Rio de Janeiro: Lúmen Júris.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
106
107
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS