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Tribunal de Justiça do Distrito

Federal e Territórios - TJDFT


Processo : 2018.01.1.017261-9
Vara : 2001 - PRIMEIRO JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER DE BRASÍLIA

Processo : 2018.01.1.017261-9
Classe : AÇÃO PENAL
Autor : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DF E TERRITÓRIOS
Réu : ROBERTO DE FIGUEIREDO CALDAS

SENTENÇA

Vistos, etc.
O Ministério Público ofereceu denúncia em desfavor de ROBERTO
DE FIGUEIREDO CALDAS, qualificado nos autos, atribuindo-lhe a
autoria da contravenção penal tipificada no art. 21 do Decreto-lei nº
3.688/41, por duas vezes e dos crimes previstos no art. 147, caput,
e no art. 146, caput, c/c art. 14, II, ambos do Código Penal, todos em
situação de violência doméstica e familiar contra a mulher, assim
descrevendo a conduta delituosa:
1º Fato:
No dia 23 de outubro de 2017, por volta de 10h, na SHIS QL 26,
Conjunto 7, Casa 19, Lago Sul, Brasília/DF, o denunciado,
voluntariamente, praticou vias de fato contra sua companheira
MICHELLA MARYS SANTANA PEREIRA.
O denunciado, seguidamente, empurrou a vítima, arrastou-a e a
puxou pelos cabelos, derrubando-a no chão mais de uma vez.
2º Fato:
Na mesma ocasião, o denunciado, voluntariamente, praticou vias de
fato contra sua funcionária GISELLE RESIO GUIMARÃES.
O denunciado deu uma pancada na perna da vítima GISELLE,
quando ela tentou intervir nas agressões dele contra a vítima
MICHELLA, para afastar a ação defensiva de GISELLE.
3º Fato:
Ainda na mesma ocasião, o denunciado, voluntariamente, visando
afetar a tranquilidade psíquica da vítima, ameaçou, por palavras e
gestos, causar mal injusto e grave à sua companheira MICHELLA
MARYS SANTANA PEREIRA.
Após as primeiras agressões contra a vítima, o denunciado disse
para a ela, aproximadamente o seguinte: "EU VOU NA COZINHA
PEGAR UMA FACA E VOU MATAR" e, para intimidar ainda mais a
vítima, de fato, se dirigiu a cozinha.
4º Fato:
Antes dos fatos acima relatados, o denunciado, consciente e
voluntariamente, tentou constranger a vítima MICHELLA, mediante
grave ameaça, a fazer o que a lei não manda.
O denunciado telefonou para a pessoa ELIENE LIMA DA SILVA, que
trabalhava como cozinheira no local e disse aproximadamente o
seguinte: "DONA ELIENE, SUBA E DIGA A DONA MICHELLA QUE
ATENDA O TELEFONE SENÃO EU VOU ENXOTAR ELA DE CASA".
Esse crime não se consumou, pois, a vítima resistiu à ameaça e não
atendeu o telefone.

A denúncia foi recebida em 20 de agosto de 2018 (fl. 473).


Às fls. 474, por falta de justa causa, decisão de arquivamento com
relação à contravenção penal de perturbação da tranquilidade e, à
fl. 492, pela decadência, sentença de extinção de punibilidade
relativa ao crime contra honra.
Citado (fl. 500), o acusado apresentou resposta à acusação, por
intermédio de procurador constituído, alegando, em síntese, inépcia
da inicial, absolvição sumária com relação à contravenção de vias
de fato (fl. 502/532). Na oportunidade, acostou cópia dos autos da
ação penal nº 001.03.000184-7, da 4ª Vara Criminal da Comarca de
Maceió (fl. 533/683).
Despacho saneador às fls. 686, afastando a preliminar de inépcia
da inicial e de absolvição sumária, e determinando o
prosseguimento do feito, com a designação de audiência.
A assistência da acusação, às fls. 1.005/1.007, em suma, pleiteou a
juntada de atas notariais e de laudos periciais com transcrições de
áudios do aplicativo WhatsApp. Juntou documentos e mídias, às fls.
1009/1158.
Durante a instrução, nas audiências datadas de 02.04.19, foram
inquiridos: Michela Marys Santana Pereira (fl. 1168), Gisele Resio
Guimaraes (fl. 1.169), Luana Souza dos Santos (fl. 1.170), Beneuma
Garcia Vinagre da Silva (fl. 1.171), Alice Emiliana Ribeiro Brito (fl.
1.172), Nalvina Pereira de Souza (fl. 1.173), Maria das Graças da Silva
Batista (fl. 1.174), Wilton Vinagre de Lima Gracia (fl. 1.175), Edit
Pereira Da Silva (fl. 1.176), Amarildo José Bezerra (fl. 1.177), Adriana
Feitosa da Silva de Menezes (fl. 1.178), Maria da Graça Sabino
Miziara de Barros (fl. 1.179). Na oportunidade, foi feita a acareação
entre Wilton e Amarildo (fls. 1.180). Na audiência datada de
06.08.19, foi ouvida a testemunha Eliene Lima da Silva (fl. 1309).
As testemunhas Claudiano Pessoa (fl. 1.201vº/1.202), Luana Silva
Santos (fls. 1223/1.224 e 1263/1291) foram ouvidas por carta
precatória.
A íntegra da maioria dos depoimentos foi gravada em sistema
audiovisual digital às fls. 1187, 1283, 1310)
O acusado foi interrogado às fls. 1.326/1326vº (mídia fl. 1327).
Na fase do art. 402 do CPP (fls. 1325/1325vº), o Ministério Público
nada requereu. Na mesma fase a Assistência da acusação requereu
a juntada de laudo contraposto relativo ao laudo da queimadura, o
depoimento do acusado na justiça do trabalho e um acórdão
relativo ao arrolamento de bens do casal, no qual o TJDFT
reconheceu o direito da vítima na partilha de bens, arrolamento e
posse dos bens (1636/1846). Já a Defesa do acusado pleiteou a
juntada de documentos relevantes à Defesa Técnica,
comprometendo-se a não juntar documentos repetidos (fls.
1332/1633).
Em alegações finais, o Ministério Público pugnou pela parcial
procedência da denúncia, condenando o acu

sado por vias de fato e ameaça contra a vítima Michella e


absolvendo-o dos delitos de vias de fato contra a vítima Gisele e
com relação a tentativa do crime de constrangimento ilegal (fl.
1.847/1852).
A assistência da acusação, por sua vez, pugnou pela condenação
do réu nos exatos termos da denúncia (fls. 1855/1887 e
2.109/2.113).
A Defesa, em memoriais finais, requereu a absolvição do acusado,
alegando, em suma, insuficiência probatória. Alternativamente, com
relação ao crime de vias de fato contra Michella, pugnou pela
desclassificação para injúria real (fls. 1.892/2007)
Às fls. 2.101 sobreveio decisão convertendo o feito em diligência,
em razão da juntada da petição e documentos de fls. 2010/2099
pela Defesa do acusado.
Dada vista ao ilustre órgão ministerial, às fls. 2.103/2.103vº,
manifestou pela impugnação da documentação acostada as fls.
2015/2099, ao tempo em que reiterou as alegações finais
apresentadas as fls. 18471/1.852.
A Assistência da acusação, às fls. 2.109/2.113, reiterou as alegações
finais apresentadas às fls. 1855/1877.
A Defesa do acusado, às fls. 2.124/2.130, em aditamento as
alegações finais, preliminarmente pleiteou o desentranhamento da
petição de fls.2.109/2.113, em razão do patrono da Assistente da
acusação não ser parte na demanda, bem como reiterou a
manutenção da documentação apresentada as fls. 2010/2099.
É o relato do necessário. Decido.
Trata-se de ação penal pública, incondicionada em relação à prática
dos delitos de vias de fato e tentativa de constrangimento ilegal, e
condicionada em relação ao crime de ameaça, em que se imputa a
ROBERTO DE FIGUEIREDO CALDAS a prática dessas condutas
delituosas, em contexto de violência doméstica e familiar contra a
mulher.
Não verifico a necessidade de diligências outras, não havendo,
ainda, qualquer requerimento das partes nesse sentido, inexistindo,
da mesma forma, nulidades a sanar.
Com relação ao pleito da Defesa do acusado para
desentranhamento da petição de fls. 2109/2113, em razão do
patrono da Assistente da acusação não ser parte da demanda, nada
a prover, seja por tratar-se de patente erro material, seja porque o
pedido que consta da mencionada petição é apenas para ratificação
das alegações finais em memoriais de fls. 1855/1887, onde a
Assistente da Acusação foi nomeada corretamente.
O processo não ostenta vícios, restando concluído sem que tivesse
sido verificada, até o momento, qualquer eiva de nulidade ou
ilegalidade que pudesse obstar o desfecho válido da questão
submetida ao crivo jurisdicional.
As provas encontram-se judicializadas, tendo sido colhidas com a
observância de todos os princípios norteadores do devido processo
legal, e sob as luzes dos princípios constitucionais da ampla defesa
e do contraditório.
Nessa esteira, finda a instrução criminal, verifica-se que a denúncia
merece parcial procedência, de modo a condenar o acusado pela
prática dos delitos de vias de fato, ameaça e tentativa de
constrangimento ilegal, contra a vítima Michella Marys Santana
Pereira, absolvendo-o quanto a imputação relativa a contravenção
penal de vias de fato com relação a vítima Giselle Resio Guimarães.
Vejamos.
A materialidade do crime restou demonstrada por meio das peças
acostadas ao Inquérito Policial nº 967/2018-DEAM, especialmente
da ocorrência nº 1.275/2018-0/DEAM e aditamento (fls. 04/07 e fls.
221/223); das escrituras públicas declaratórias (fls. 17, 43, 47/50,
51, 52, 53, 1009/1011, 1300/1305); das atas notariais (fls. 18/19,
44/46,); pendrive acostado as fls. 24, relativo a auto de apreensão
de fls. 39, contendo fotografias, transcrições de áudio e vídeo
juntadas às fls. 41/153, conforme certidão de juntada de fls 40vº;
áudios de fls. 173; cópia de OP nº 4.088/2017-DEAM registrada, em
30.10.17, por Beneuma contra Michella (fl. 178/180); requerimento
de medida protetiva (fl. 226); prints de fls. 227/228; mídias de fls.
229, 253, 1027, 1037, 1055, 1064; 1099, 1124, relatório policial fls.
232/237 e de fls. 287/295; relatório técnico psicológico de Michella
(fls. 690/696); laudo pericial de fls. 1028/1036 (relativo a mídia de
fl. 1027); laudo pericial de fls. 1038/1054 (relativo a mídia de fl.
1.037); laudo pericial de fls. 1065/1098 (relativo a mídia de fl. 1.064);
laudo pericial de fls. 1100/1123 (relativo a mídia de fl. 1099); laudo
pericial de fls. 1125/1158 (relativo a mídia de fl. 1124); degravações,
fotografias, prints de conversas, escrituras públicas de ata notarial e
anexo acostados, perícias e documentos acostados pela Defesa do
acusado na fase do art. 402 (fls. 1336/11633) e da prova oral
colhida.
A autoria, por sua vez, também restou indene de dúvidas, conforme
será demonstrado.
DOS DELITOS PRATICADOS CONTRA A VÍTIMA MICHELLA (VIAS
DE FATO, AMEAÇA E TENTATIVA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL
Compulsando os autos, verifica-se que existem provas mais que
suficientes da materialidade e da autoria da contravenção penal de
vias de fato, do crime de ameaça e tentativa de constrangimento
ilegal contra a ví

tima Michella Marys Santana Pereira, inequivocamente


demonstradas por toda a apuração realizada na fase inquisitorial e
confirmada em Juízo, durante a instrução criminal, não havendo
causas excludentes da ilicitude ou da culpabilidade militando em
favor do acusado, motivo pelo qual não há como acolher o pedido
de absolvição formulado pela Defesa.
DAS CONTRAVENÇÃO DE VIAS DE FATO
Sabe-se que vias de fato é uma infração subsidiária, aplicando-se
apenas caso a conduta do agente não represente crime mais grave,
como lesão corporal, por exemplo.
Tal contravenção é caracterizada e consumada por meio de ofensa
ao bem jurídico tutelado pela norma penal, qual seja, a incolumidade
da vítima, quando atingida por conduta ilícita do agente, o que
restou atestado nos autos.
Na hipótese, convém ressalvar que, embora se depreenda dos
autos que as agressões físicas narradas na denúncia tenham
deixado vestígios, observa-se que não foi realizado exame de corpo
de delito de Michella Marys, uma vez que a vítima, à época, ter
optado por não levar o caso à autoridade policial.
Nesse sentido a jurisprudência do nosso e. TJDFT:
PENAL. PROCESSO PENAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CONTRA A MULHER. LESÃO CORPORAL. DESCLASSIFICAÇÃO
PARA VIAS DE FATO. POSSIBILIDADE. DANOS MORAIS.
DESCABIMENTO. AUSÊNCIA DE INTERESSE DA VÍTIMA.
PROVIMENTO PARCIAL. 1. Nos crimes praticados no âmbito de
violência doméstica e familiar contra a mulher, a palavra da vítima
apresenta especial relevo, notadamente se corroborada por outros
elementos de convicção, como fotografias e depoimento judicial
das testemunhas. 2. Não havendo comprovação material da lesão
corporal praticada contra a vítima, a qual não foi submetida a exame
de corpo de delito, embora isso fosse plenamente possível, a
desclassificação para vias de fato é medida que se impõe. 3.
Segundo a jurisprudência consolidada pelo STJ, em Recurso
Especial representativo da controvérsia, em se tratando de delitos
praticados em âmbito doméstico e familiar contra a mulher, é viável
fixar reparação a título de dano moral, a qual, no entanto, deve ser
afastada quando a vítima expressamente manifesta seu
desinteresse na indenização. 4. Recurso conhecido e parcialmente
provido. (Acórdão n.12379915, 07016267420198070002 -
(0701626-74.2019.8.07.0002 - Res. 65 CNJ) Relator: JESUINO
RISSATO, 3ª Turma Criminal, Data de Julgamento: 12/03/2020,
Publicado no DJE: 24/03/2020)
Dessa forma, agiu com acerto o órgão ministerial ao denunciar o réu
apenas pela contravenção penal de vias de fato. Embora o artigo
167 do Código de Processo Penal estabeleça que "não sendo
possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os
vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta", no caso
sob análise, sua aplicação deve ser afastada tendo em vista que o
exame deixou de ser realizado não por impossibilidade, mas por
exclusiva inércia da vítima.
Noutro giro, ao contrário do alegado pela Defesa, as provas colhidas
nos autos são contundentes a indicar que o réu, de forma
consciente e voluntária, ofendeu a incolumidade de sua
companheira Michella, confirmando-se os indícios vislumbrados
quando do recebimento da peça acusatória.
Compulsando os autos, verifica-se que os indícios acerca da
materialidade e autoria do delito descrito na denúncia,
apresentados na fase inquisitorial, foram devidamente confirmados
em Juízo, mediante o contraditório. Lado outro, não há causas
excludentes da ilicitude ou da culpabilidade que militem em favor do
acusado. Desse modo, impossível acolher o pedido de absolvição
formulado pela Defesa.
Ouvida em sede policial, no dia 13.04.2018, Michella Marys Santana
Pereira, após esclarecer ter convivido com ROBERTO DE
FIGUEIREDO CALDAS por 13 (treze) anos, declarou ter sofrido
agressões físicas e verbais frequentes durante o período de
convivência. Com relação aos fatos descritos na denúncia, afirmou
que, no dia 23.10.2017, estava na companhia das funcionárias
quando ROBERTO chegou nervoso em casa e passou a lhe ofender
e a agredi-la fisicamente. Confira-se (fls. 08/09):
"[...] a OFENDIDA aduz que no dia 23.10.2017, por volta das 10h,
estava em sua casa na companhia das funcionárias GISELLE RESIO
GUIMARÃES (folguista) e ELIENE LIMA DA SILVA (cozinheira),
quando o AGRESSOR entrou na casa nervoso, "possuído", e
começou a xingar a OFENDIDA: "sua vagabunda, sua bandida,
ordinária" e em seguida puxou o cabelo dela e saiu empurrando a
OFENDIDA pela casa, tentando tirá-la da residência. Que quando
estava próximo de descer a escada, houve mais um empurrão,
derrubando a OFENDIDA na escada. Fato este presenciado por
GISELE e ELIENE, as quais falavam todo tempo para o AGRESSOR
parar de agredi-la. Nesse momento, o AGRESSOR falou para a
ofendida: "EU VOU NA COZINHA PEGAR UMA FACA E VOU TE
MATAR", fato este também presenciado pelas supracitadas
funcionárias. Que nesse momento, as referidas funcionárias foram
atrás do AGRESSOR na cozinha e impediram ele de pegar a faca.
Ato continuo, o AGRESSOR volt

ou para agredir a OFENDIDA com mais empurrões e socos. Que


inclusive GISELE, ao tentar puxar a OFENDIDA para protegê-la,
levou uma pancada na perna. Que então, a OFENDIDA e as referidas
funcionárias conseguiram sair correndo e entrar no carro, partindo
sem nenhum pertence, nem mesmo documentos. Que a OFENDIDA
procurou sua advogada e foi orientada a registrar ocorrência,
todavia, como a comunicante estava em dúvida se iria continuar
com o AGRESSOR ou não, foi orientada a registrar, ao menos, os
fatos em cartório. Que nesse mesmo dia, no cartório, as duas
funcionárias e a OFENDIDA foram ouvidas pela tabeliã NARLA
RAIANY DE OLIVEIRA SILVA (Escrevente Notarial, atas em anexo).
Ademais, acrescenta que o AGRESSOR deu o prazo de até 20 de
abril para a OFENDIDA sair de casa com os filhos; que o AGRESSOR
fica a todo o tempo coagindo a OFENDIA para sair da casa [...]".

Ao retornar à delegacia, em 25.06.2018, Michella acrescentou que


estava conversando com Beneuma no dia dos fatos, quando
ROBERTO chegou muito nervoso e agressivo. Afirmou que
Beneuma pediu que ROBERTO se controlasse e que, embora
Beneuma não tivesse descido pela mesma escada onde ROBERTO
empurrou e puxou a declarante pelos cabelos, Beneuma já estava
na parte de baixo da casa quando viu Roberto empurrar a
declarante, tendo a declarante caído da escada. Na oportunidade,
Michella afirmou que não mencionou Beneuma quando registrou a
ocorrência por ter descoberto que a funcionária estava sendo
influenciada por ROBERTO. Vejamos (fls. 248/250):
(...) que, em relação a BENEUMA, a declarante acrescenta que, no
dia 23/10/17, ela estava em casa, conversando com a declarante
quando ROBERTO apareceu já muito nervoso e agressivo; que
BENEUMA pediu que ROBERTO se controlasse, porém, na descida
da escada BENEUMA desceu por outra escada e não pela escada
que ROBERTO empurrou a declarante e a puxou pelos cabelos; que
BENEUMA já estava na parte de baixo da casa, quando viu
ROBERTO empurrar e a declarante caiu da escada, bem como ouviu
no instante em que ele disse que iria pegar a faca para matar a
declarante; que quando registrou a ocorrência não citou BENEUMA
como testemunha porque descobriu que BENEUMA estava sendo
influenciada por ROBERTO e poderia protegê-lo no depoimento;
que BENEUMA foi assediada por ROBERTO, inclusive até o esposo
dela sabia disso e tinha contado esse fato ao mordomo AMARILDO,
bem como BENEUMA tinha conhecimento dos assédios sofridos
pelas outras funcionárias, tanto GISELE quanto com as duas
LUANAS; que BENEUMA chegou a dizer a GISELE que se algo
acontecesse era para ficar ao lado de ROBERTO e não da
declarante porque ele era o "dono do dinheiro"; que SUIANE
trabalhava como folguista em sua casa, mas, no dia dos fatos, não
se recordava se ela estava na casa; que depois que entrou em
contato com SUIANE foi saber que ela havia presenciado as
agressões; que depois que ROBERTO disse que iria pegar uma faca
para matá-la, GISELE foi até a cozinha para evitar, ELIENE foi até o
quintal para pegar um pedaço de pau e SUIANE estava na cozinha,
segundo ela própria contou para a declarante; que ROBERTO voltou
da cozinha e agrediu novamente a declarante, oportunidade em se
machucou em uma parede de concreto que fica próximo a porta de
saída; que GISELE saiu puxando a declarante, a colocou dentro do
carro e saiu correndo; que a declarante ficou com hematomas nas
pernas próximas às canelas, além de arranhões no peito do dois
pés, ficando com a pele levantada; que NALVINA não estava na
casa naquele dia, porém a declarante ligou para ela porque
NALVINA tinha presenciado outras agressões verbais, teria sido
assediada sexualmente por ROBERTO e, por isso, queria leva-la ao
cartório de notas para ela prestar sua versão, como foi orientada
pela advogada; (...)"
Em Juízo, Michella manteve a versão apresentada perante a
Autoridade Policial, confirmando as práticas delituosas praticadas
pelo acusado, conforme se verifica de trechos da mídia acostada à
fl. 1.187:
(...) (02:02) confirmou as agressões descritas na denúncia; (...)
(04:02) declarou que estava no closet com a governanta
conversando sobre despesas e correspondências bancárias de uma
conta pessoal da declarante que estavam sumidas do Closet e que
só a governanta tinha acesso. Narrou que nesse momento GISELE
entrou para arrumar quarto e, de repente, ELIENE chega nervosa e
fala para declarante ligar rápido para ROBERTO porque ele queria
falar com a declarante naquele momento. Afirmou que não ligou
para ROBERTO porque estava conversando para saber o destino de
suas correspondências e coisas pessoais que estavam sumidas.
(04:51) Disse que, na segunda vez, ELIENE chega no quarto
chorando, se tremendo toda, com o rosto vermelho, pedindo, pelo
amor de Deus para a declarante atender o telefone, pois senão
ROBERTO iria tanger a declarante de casa; (05:02) afirmou que,
nesse momento, pegou o telefone para gravar, pelo WhatsApp, um
áudio para ele para dizer que estava conversando com NEUMA,
todavia, quando já esta

va gravando o áudio, ROBERTO chegou xingando a declarante de


bandida e deu um tapa na declarante. Afirmou que no áudio que
estava gravando para Roberto isso ficou gravado; (05:24) relata
que, em seguida, ROBERTO começou a esmurrar a declarante e a
empurrá-la do quarto, esculhambando com a declarante, dizendo
que a casa era dele e que iria colocar a declarante para fora de
casa. Afirma que Neuma e Gisele saíram do quarto nesse momento
em que ROBERTO a empurrava, esmurrava e puxava os cabelos da
declarante pela escada de serviço. Afirmou que caiu no meio da
escada e que ROBERTO a empurrou novamente fazendo com que a
declarante caísse lá embaixo, momento em que viu GISELE. Disse
que, enquanto pedia para que ROBERTO parasse com aquilo,
ROBERTO gritava dizendo que a declarante era vagabunda e que
iria embora da casa, porque a casa era dele. (06:10) Afirma que
ROBERTO, então, disse que iria matar a declarante e se dirigiu para
a cozinha. Esclareceu que não sabe o que aconteceu na cozinha,
pois ficou parada perto da escada tendo as funcionárias ido atrás
dele, não sabendo o que aconteceu na cozinha; (06:23) disse que
depois ROBERTO voltou para bater na declarante de novo, mas
GISELE puxou a declarante. Afirmou não saber se foi nesse
momento que a perna de Gisele ficou roxa, pois ROBERTO bateu em
Gisela. (06:41) Esclareceu que, enquanto Giselle puxava a
declarante, ROBERTO empurrou a declarante fazendo com que
ralasse a mão em uma parede de concreto na porta de saída da
casa, (06:49) relatou que quando falou que precisava pegar a bolsa,
ROBERTO disse que ela não iria pegar nada, a xingou de vagabunda
e disse que a casa era dele e a declarante não iria entrar lá mais
nunca; (06:58) Afirmou que GISELE colocou a declarante para
dentro do carro, pois a declarante estava sem ação, tendo ficado
rodando com o veículo até que foram até a psicóloga da
declarante;. (07:23) esclareceu que ELIENE foi duas vezes até a
declarante; que na primeira vez ELIENE só pediu para que a
declarante ligasse para ROBERTO urgente, mas a declarante não
retornou a ligação; que, então, ELIENE subiu uma segunda vez, bem
nervosa, com o rosto vermelho e chorando, dizendo que ROBERTO
tinha dito que ia tanger a declarante de casa e iria acontecer uma
tragédia; (07:50) afirmou que, nesse momento, pelo estado que
ELIENE estava, viu a gravidade e quando a declarante pegou o
telefone para enviar uma mensagem de whatsapp para ROBERTO,
ele entrou no quarto, lhe deu um tapa e a empurrou. Afirma que as
agressões de ROBERTO iniciaram enquanto a declarante gravava o
áudio para ele; (08:18) relatou não saber se ROBERTO agrediu
GISELE, pois a declarante estava muito nervosa, mas sabe que teve
um momento em que ROBERTO foi na cozinha buscar uma faca e
ela foi atrás, sendo que no momento em que ele voltou da cozinha
GISELE foi puxar a declarante, não sabendo se nesse momento
ROBERTO desferiu algo em Gisele; (08.46) afirmou que foi depois
GISELE disse a declarante que estava com a perna doendo, com a
perna roxa, porque ela foi defender a declarante. (09:04) afirmou
que no momento das agressões caiu duas vezes, reiterando ter
caído no meio da escada e depois ter caído quando ROBERTO a
empurrou do meio da escada, tendo a declarante caído lá embaixo.
(09:25) recordou que antes de ir para a cozinha, ROBERTO a
chamou de bandida, traíra, vagabunda e que era para a declarante ir
embora da casa dele, que a declarante era uma bandida. (09:48)
Reiterou que depois que caiu no meio da escada e ROBERTO lhe
empurrou para embaixo da escada, enquanto a declarante pedia
pelo amor de Deus para que ele parasse, ROBERTO continuou
ofendendo a declarante chamando-a de vagabunda e que era para
a declarante sair da casa dele. (09:58) disse que quando já estavam
lá embaixo, ROBERTO disse que iria pegar uma faca para matar a
declarante e que ele se dirigiu para a cozinha; (10:07) afirmou que
NEUMA e GISELA foram atrás dele na cozinha, enquanto a
declarante ficou parada onde estava, sem ação. (10:28) disse que
nesse dia estava de blusa de manga cumprida e de calça jeans e
que, até o momento em que foi no cartório não tinha visto que
estava com hematomas roxos. Esclareceu que só viu os hematomas
a noite quando foi tomar banho, mas que tinha sido tirado um pouco
de pele do pé e da mão da declarante, não sabendo dizer se foi
tirada foto de tudo ou só dessas partes, mas que ela própria não
tirou foto. (...) (16:15) afirmou que no dia dos fatos estavam no local
a declarante, ELIENE, NEUMA (BENEUMA), GISELE e a folguista
SUIANE. Disse que, quando foi na delegacia, não se recordou que
SUIANE estava na casa, mas depois alguém lhe disse que SUIANE
também estava na casa. Relatou que trocou conversa de whatsapp
com SUIANE e tem áudios dessa conversa onde o SUIANE lhe
contou que tinha visto o acusado esculhambando com a declarante,
que viu ele falando que ia pegar uma faca e viu ele puxando os
cabelos da declarante. Afirmou que esses áudios foram periciados e
estão no processo, mas que SUIANE tem muito

medo do acusado e disse que não ia na delegacia e nem na justiça.


Disse que isso também aconteceu com ELIENE, pois ELIENE foi
embora; (...) (18:36) Confirmou que ELIENE esteve no closet onde a
declarante estava por duas vezes, mas só da segunda vez é que
ELIENE disse que ROBERTO iria colocá-la para fora de casa,
reiterando que no primeiro momento ELIENE disse apenas que era
para a declarante ligar para ROBERTO com urgência; (19:08) relatou
que ao sair da casa estava desnorteada, pois não conseguia nem
sair do local que estava, tendo GISELA lhe puxado para sair de casa,
recordando apenas que disse que tinha que apanhar a bolsa, mas
ROBERTO negou dizendo que a declarante era uma vagabunda e
que os filhos mandasse pegar depois, como se fossem objetos;
(19:26) Disse que após ficar rodando com GISELA no carro, sem
saber para onde iam, resolveu ir até a psicóloga que a acompanhava
desde 2011 que, embora tivesse atendendo um cliente, aceitou
atender a declarante. Esclareceu que o consultório da psicóloga
ficava próximo a sua casa e, que ao chegar lá, GISELA a ajudou
chegar até o consultório e, como a declarante não conseguia falar,
GISELA é que começou a narrar o que tinha acontecido; (...)
esclareceu que a psicóloga chamava ELIANE; (21:17) relatou que
saiu de casa só com GISELE, mas que da guarita da casa 26,
GISELE ligou para ELIENE e ficou esperando ela sair da casa, pois
ficaram com medo do que ROBERTO poderia fazer; (21:36) relatou
que no dia anterior, ROBERTO tangeu a mãe da declarante para fora
de casa sem motivo e, por não saber para onde levá-la a mãe ficou
na casa de Nalvina; (...) (23:03) esclareceu que ROBERTO queria
esconder que estava assediando as funcionárias, pois a declarante
não notava os assédios das funcionárias, mas um dia antes da
chegada de ROBERTO da viagem, LUANA, que está como
testemunha, narrou para a declarante, com riqueza de detalhes,
como ROBERTO a assediou no banheiro.(...) Esclareceu que ao
perguntar para LUANA porque ela não tinha lhe falado antes,
LUANA respondeu que já tinha visto o sofrimento da declarante
com a outra funcionária de nome LUANA, pois a declarante há uns
dois meses e meio antes tinha descoberto que ROBERTO tinha tido
um caso com essa outra LUANA. Esclareceu que as duas LUANAS
trabalharam juntas na casa ao mesmo tempo, sendo que a primeira
LUANA com quem ROBERTO teve caso, a declarante pensou que
ROBERTO tinha sido uma vítima dela, mas que diante do que essa
LUANA estava lhe dizendo a declarante disse que não sabia mais.
(25:11) Afirmou que LUANA lhe disse que contou sobre o assédio
para BENEUMA e que BENEUMA pediu que LUANA mantivesse
silêncio. (25:23) Disse que ia conversar com ROBERTO quando ele
voltasse de viagem, mas que estava conversando com ele a noite e
ROBERTO perguntou onde estavam os filhos e, quando a declarante
esclareceu que os filhos tinham ido dormir na casa de amigos,
ROBERTO disse a declarante que ela estava do jeito que gostava,
sem fazer nada e, nesse momento, a declarante disse para
ROBERTO que tinha acabado de descobrir que ele tinha dado em
cima da outra LUANA, momento em que o acusado disse que essa
"mentira de vocês duas deve valer alguma coisa".(26:16) Afirmou
que ficou chocada, pois ele ainda queria inverter, tendo, então,
mandado uma mensagem para LUANA dizendo o que ROBERTO
tinha falado. Esclareceu que mandou mensagem para ROBERTO
porque ele era juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos e
trabalhava muito fora do Brasil; (26:54) narrou que a briga com
ROBERTO ocorreu na segunda-feira, mas que no domingo
ROBERTO chegou de viagem e tangeu a mãe da declarante da casa
deles; (27:05) afirmou que LUANA respondeu que a verdade era
que ROBERTO havia dado em cima dela (LUANA) e poderia ser por
isso que ROBERTO estava muito nervoso; (...) (28:14) disse que
ROBERTO tinha um extremo controle sobre a declarante e tudo que
ele lhe mandava, a declarante fazia imediatamente, pois morria de
medo dele, esclarecendo que tinha sido a primeira vez que
descumpriu a ordem dele ao não atender a ligação dele; (29:10)
questionada sobre o motivo de não ter ido à delegacia, afirmou que
esse sempre foi seu grande dilema de vida em todo o seu
casamento, pois esse fato foi apenas uma das agressões que
sofreu, esclarecendo que nem foi a mais forte, mas que a
declarante era covarde por não ter denunciado ROBERTO antes,
carregando essa culpa por medo, pois se tivesse denunciado antes
os filhos da declarante não tinham visto; (29:36) afirmou que toda
vez que o acusado lhe batia ou fazia alguma coisa, ele mesmo
chamava a declarante para ir na delegacia e dizia que queria ver
quem acreditaria na declarante, também dizia que a declarante
tinha vindo da sarjeta e da lama e que ele era presidente de uma
comissão de trabalho escravo que tinha na OAB, na época,
presidente da Corte Interamericana, mas antes de ser presidente
ele já dizia que era juiz ad hoc, e alguma coisa dos direitos
humanos, dizia que tinha feito a Lei Maria da Penha e ele
perguntava a declarante

quem iria acreditar nela e que iriam dizer que a declarante se bateu.
Narrou que sua pior ferida era não ser acreditada. (30:35)
questionada sobre o motivo dos fatos terem ocorrido em outubro de
2017 e de ter ido a delegacia apenas em abril de 2018, a declarante
respondeu que tinha medo, que gostava dele, sentia culpa como
mulher, pois quando a mulher passa por isso o homem reverte e faz
com que a mulher se sinta culpada por tudo que ele faz. Disse que
se sentia culpada por tudo que acontecia; (31:05) disse que a
psicóloga a ajudou muito nesses seis anos que foi nela e porque
ROBERTO também tinha ido nessa psicóloga e contou para ela
porque era agressivo e de outras agressões que ele tinha sofrido no
passado dele; (...) (34:38) relatou que estava fragilizada demais
para pensar racionalmente e não via perspectiva no seu futuro, pois
quando brigavam, ROBERTO dizia para irem na delegacia e que
ninguém iria acreditar na declarante prestar queixa, e também dizia
que a declarante iria ficar na sarjeta, na lama e que iria tirar os filhos
da declarante. Relatou que atualmente ROBERTO está cumprindo
tudo que disse, que ROBERTO inclusive pediu medida protetiva para
que a declarante não chegasse perto dos filhos. Reiterou que tudo
que ele ameaçou fazer durante o casamento se a declarante abrisse
a boca, ROBERTO está fazendo e a declarante está sofrendo. Disse
que se não tivesse filhos teria fugido, pois está pagando um preço
muito alto por ter denunciado ele e, por isso, o medo de denunciar
ROBERTO, sendo a maior ferida da declarante ser desacreditada;
(35:56) Esclareceu que quando estavam na psicóloga ELIENE
estava histérica e gritando, por estar muito nervosa, pois ELIENE é
que foi pegar um pau para bater em ROBERTO quando ele foi pegar
a faca. Esclareceu que pelo que as funcionárias disseram, Roberto
chegou a ir até a gaveta, mas como NEUMA e GISELA foram atrás
dele, parece que ROBERTO não pegou a faca, esclarecendo que
como ELIENE ouviu que ROBERTO ia pegar a faca e chegou próximo
a gaveta das facas, ELIENE pegou um pedaço de lenha para dar
nele se ele viesse com a faca, sendo que por isso ELIENE estava
mais nervosa que as outras funcionárias. (36:48) Relatou que
ELIENE fugiu por ter muito medo de ROBERTO; (...) (39:09) disse
que quando questionada pela psicóloga se tinha força para ir à
delegacia, a declarante não sabia se tinha força para separar dele,
pois gostava dele e foi muito apaixonada por ROBERTO e se culpava
porque, mesmo sofrendo, era apaixonada por ele, tendo muita
vergonha de ser julgada e ser chamada de mulher de bandido,
apanha por que gosta, pois ouviu muitas vezes que se o marido
bateu e a mulher continua é porque gosta de apanhar. Narrou que
não tinha força para separar e a própria psicóloga disse que achava
que a declarante não iria suportar ir na delegacia, pois, na época
estava com uma depressão muito séria e 45 quilos mais gorda.
Disse que na época quase não saia do quarto, que estava a base de
medicamente e que dormia quase 14 horas por dia; (40:15) relatou
que a psicóloga falou que se a declarante ainda não tinha força para
denunciar, pelo menos pedisse para as funcionárias que estavam
com ela lá e escrevessem o que elas viram e reconhecesse firma;
(...) (41:47) relatou que saíram de carro sem rumo e quando a
declarante ligou para a amiga MARIA DA GRAÇA e contou que
ROBERTO tinha colocado a declarante para fora de casa, que não
sabia o que fazer e que ELIANE tinha sugerido o reconhecimento de
firma em cartório, MARIA DA GRAÇA disse para a declarante
consultar um advogado. Narrou que a própria MARIA DA GRAÇA
ligou para a advogada CARLA LOBO e depois ligou para a
declarante falando que, ao invés do reconhecimento de firma
deveria ser feita uma ata notarial para que tivesse fé pública, por ser
feita na frente de um tabelião. MARIA DA GRAÇA disse ainda que
CARLA estava esperando a declarante no escritório dela com as
funcionárias NALVINA, ELIENE e GISELE; (43:19) esclareceu que
embora NALVINA não estivesse presente na ocasião dos fatos, foi
NALVINA que acolheu a mãe da declarante quando ROBERTO
colocou a mãe da declarante para fora de casa, GISELE ligou para
NALVINA para que ela também fosse para falar de outros fatos e
não desse dia especifico. (43:40) relatou que chegando na
advogada CARLA, por coincidência, tinha amiga de Carla que era
tabeliã no Maranhão, chamada ALICE e, depois de conversarem,
advogada disse que parecia que a declarante ainda gostava de
ROBERTO, ou talvez estivesse fragilizada emocionalmente,
alertando-a que se a declarante fosse a delegacia iria ser notícia
mundial, pois ROBERTO era o maior exemplo defesa de direitos
humanos e que essa notícia poderia vazar. (...) (45:02) relatou que
quando estavam indo ao cartório e Roberto passou a enviar
mensagens para Giselle para saberem onde estavam, pois acha que
Luana pode ter avisado para Neuma que a declarante queria leva-la
no cartório e Neuma ter avisado a ele. (45:15) Esclareceu que,
através de mensagens, pensando que a dec
larante estava no Cartório, ROBERTO passou a lhe amansar dizendo
para a declarante voltar para casa para conversarem e perguntando
se a declarante estava no cartório ou na delegacia, tendo a
advogada Carla dito que ele devia estar preocupado por ter batido
na declarante e quase a matado e, por isso, ele podia estar achando
que a declarante iria a uma delegacia; (45:48) esclareceu que foram
no cartório para preservar a prova, mas que, como em todas as
brigas que tiveram, sempre quando ele "coisava" (fazendo gesto de
surra) depois vinha (fazendo gesto de alisar) e a declarante cedia,
sentindo-se culpada porque cedia; (46:11) disse que com essas
coisas da separação, ROBERTO tentou camuflar uma volta para
tentar segurar a declarante para que não falasse, mas que não
voltaram a se relacionar; (...) (47:28) confirmou que ficaram
separados até a data da ocorrência policial, em 13.04.2018, mas que
Roberto sempre ameaçava a declarante dizendo que ela tinha que
sair da casa, que ROBERTO mandava advogados e, depois,
mediadora dizendo que a guarda dos filhos ficaria para e que isso
mexia com a declarante, pois ROBERTO sempre fazia ameaças que,
se separassem, ROBERTO ficaria com os filhos e que era melhor a
declarante aceitar a separação amigavelmente. (...) (48:43) Relatou
que sua advogada no cível, então, a convenceu de ir à delegacia
após esclarecer para a declarante que a agressão não era só física e
que ROBERTO já a estava xingando, pelo whatsapp, de bandida,
interesseira e queria que a declarante saísse da casa. Narrou que
tinha áudios que nem se recordava, tendo se lembrado na delegacia
dos áudios relativos ao trabalho que fazia com a psicóloga. (49:19)
mostradas as fotografias de fls. 83/86, esclareceu que essas fotos
se refere as fotos da declarante tiradas pela amiga ADRIANA.
(50:00) mostrada as fotografias com laudos perícias de áudios, as
fls. 1026/1158, esclareceu que os áudios foram periciados por um
pessoal da polícia federal que estão aposentados; (...) (51:40)
esclareceu que sua maior ferida era, além de sofrer tudo que sofreu,
ser desacreditada, pois ROBERTO sempre dizia "quem vai acreditar
em você?"; (...) (01:03:39) questionada sobre as consequências
sofridas afirmou que não consegue se livrar da culpa, que não se
acha merecedora de nada e que, inclusive teve pensamentos
suicidas; (01:04:31) Disse que depois de separar emagreceu 45
quilos e está resgatando sua alma, mas acha que nunca mais
poderá ser uma mulher por inteiro, continuando a fazer tratamento
psicológico; (...).
De se notar que, em todas as oportunidades em que indagada
acerca dos fatos, a vítima apresentou versão coerente e coesa,
estando as declarações de Michella, em Juízo, em harmonia com as
informações por ela prestadas no cartório extrajudicial e no
inquérito policial.
Ressalte-se, outrossim, que as declarações da vítima, em delitos
que envolvem violência doméstica e familiar contra a mulher,
possuem especial relevância, mormente quando verossímeis e
coerentes com as demais provas produzidas, como é o caso dos
autos. Aliás, nesse sentido, pacífico é o entendimento do e. TJDFT,
conforme se vê no seguinte julgado:
PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. AMEAÇA.
CRIME FORMAL. DEPOIMENTO DA VÍTIMA COERENTE E
DETALHADO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Em situações de violência
doméstica e familiar, a palavra da vítima tem especial relevância,
notadamente quando apresenta os fatos de forma firme e coerente.
2. Condicionar, de forma irrestrita, a validade do depoimento da
vítima a outros elementos probatórios afasta toda a proteção à
mulher que a Lei Maria da Penha busca conferir, especialmente
quando inexistem quaisquer testemunhas, como na maioria dos
casos de violência doméstica e familiar praticada contra a mulher. 3.
Recurso conhecido e desprovido. (Acórdão 1258151,
00072521020188070016, Relator: SEBASTIÃO COELHO, 3ª Turma
Criminal, data de julgamento: 18/6/2020, publicado no PJe:
30/6/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Noutro giro, ao contrário do que alega a Defesa, o depoimento de


Michella, além de firme e coerente, está em total consonância com
robusta prova dos autos, não deixando dúvidas quanto à dinâmica
dos fatos e à prática dos delitos pelo acusado.
Corroborando a versão da vítima, convém colacionar os
depoimentos das empregadas que estavam na casa no dia dos
fatos: Giselle Resio Guimarães, Eliene Lima da Silva e de Beneuma
Garcia Vinagre da Silva (também chamada de Neuma).
No mesmo dia dos fatos, em 23.10.17, Giselle Resio Guimarães,
funcionária da casa do acusado há mais de 07 anos, juntamente
com Michella e Eliene prestaram declarações perante tabeliã, no
Cartório JK, tendo declarado, dentre outros fatos, que Roberto
ameaçou e agrediu a vítima (fl. 52):
"(...) Que no dia 23.10.17, senhor ROBERTO agrediu senhor
MICHELLA verbal e fisicamente na frente dos funcionários e no
momento da briga ameaçou de usar uma faca. A declarante
precisou socorrer senhora MICHELLA, ajudou-a a sair da casa para
que não ocorresse uma

tragédia. Que afirma que o senhor ROBERTO acusa senhora


MICHELLA de ter comprado as funcionárias para falar mal dele, no
entanto, declara que isso não ocorreu. Que, no dia 23.10.2017, ao
tentar separar a briga entre senhora MICHELLA e o senhor
ROBERTO, sofreu uma pancada desferida por ROBERTO que deixou
sua perna roxa".
Posteriormente, nas duas vezes que foi ouvida perante a autoridade
policial, em 13.04.18 e 21.05.18, Giselle confirmou as declarações
prestadas no cartório JK, detalhando como ocorreram as agressões
físicas e a ameaça. Afirmou que estava no quarto com Michella
quando ROBERTO chegou muito nervoso e, sem motivos aparentes,
agrediu fisicamente Michella puxando-a para fora do quarto,
arrastando-a pela casa e pela escada abaixo, onde Michella caiu.
Narrou que, em seguida, ROBERTO foi a cozinha dizendo que ia
pegar uma faca para matá-la, esclarecendo que depois ele retornou
e quando foi agredir Michella pela última vez, a declarante interveio
e foi machucada. Confira-se (fl. 11 e fls. 157/159):
"trabalha com as partes há nove anos, como motorista. Esclarece
que já ouviu diversas vezes o AGRESSOR ofender moralmente a
OFENDIDA. Que no dia 23.10.2017, por volta das 10h, estava com a
OFENDIDA no quarto dela, momento em que o AGRESSOR chegou
muito nervoso e sem motivos aparentes puxou ela para fora do
quarto, vindo a arrastar a OFENDIDA pela casa e pela escada
abaixo, onde a OFENDIDA veio a cair. O AGRESSOR jogou ela no
chão e em seguida foi até a cozinha e disse que iria pegar uma faca
para matá-la. A TESTEMUNHA interveio na situação e foi ajudar a
OFENDIDA salientando que elas saíram da casa e foram para o carro
da OFENDIDA e deixaram o local. Ressalta que a cozinheira da casa
também presenciou os fatos citados acima" (declarações em
13.04.18, fl. 11)

"que confirma integralmente o depoimento realizado na DEAM, em


13.04.18 referente ao IP 967/18-DEAM; que trabalhava desde 2010
na residência do Sr. ROBERTO CALDAS e MICHELLA; que
inicialmente como babá do filho do casal, Roberto Filho e passou a
ser motorista somente há 3 anos; (...) Que em relação as agressões
em desfavor de MICHELLA deseja esclarecer que todos anos em
que trabalhou na residência do casal, percebia que ROBERTO
tratava MICHELLA constantemente com grosseria, a xingava de
"GORDA", "VAI EXPLODIR", "SAFADA", "VAGABUNDA", "BANDIDA",
sempre a tratando com desprezo; que não percebia que ROBERTO
a agredia, mas chegou a ver MICHELLA com hematomas no rosto
algumas vezes e ela sempre dizia que era procedimento estético;
que uma única vez que presenciou as agressões e ameaças foi na
manhã de 23.10.2017; que naquele momento, ROBERTO puxou
MICHELLA pelos cabelos e pelos braços e a empurrou pela escada;
que em determinado momento MICHELLA caiu da escada e logo ele
a levantou puxando-a pelos cabelos; que ele dizia que não a queria
mais naquela casa e ela iria sair de qualquer jeito, sendo que em um
determinado momento ROBERTO disse que iria pegar uma faca
para matar MICHELLA e, quando ele se direcionou para a cozinha, a
declarante, NEUMA e ELIENE se posicionaram na frente de
ROBERTO para que ele não conseguisse pegar a referida faca; que
o último empurrão que ROBERTO deu em MICHELLA a fez cair
próximo a porta de saída da casa; que a declarante a levantou e
levou MICHELLA para fora da residência; que em razão da confusão
a declarante também ficou machucada na coxa direita, com um
hematoma; que MICHELLA também restou lesionada no tornozelo e
arranhões nas mãos; que não visualizou outras lesões porque
MICHELLA estava de calça jeans; que nesse mesmo dia foram ao
cartório e MICHELLA resolveu a não procurar a polícia; (...)".
(Declarações em 21.05.18, fls. 157/159)

Em Juízo, ratificando as declarações prestadas no cartório


extrajudicial e na fase inquisitorial, Giselle descreveu o contexto em
que ocorreram os fatos, e afirmou ter presenciado parte das
agressões físicas perpetradas pelo acusado contra Michella,
consistentes em pegá-la pelo braço e, ao descer com Michella
pelos cabelos, ROBERTO ainda teria agredido e empurrado Michella
ao chão. Vejamos (mídia à fl. 1.187):
(00:14) confirmou que prestou declarações na polícia e também
confirmou ter prestado declarações em cartório, reiterando tudo
que falou. (01:16) disse que no dia em que ROBERTO colocou
MICHELLA para fora de casa, quando ele chegou nervoso e pegou
MICHELLA pelo braço, descendo com MICHELLA pela escada a
baixo e a pegando pelos cabelos, tendo ROBERTO agredido e
empurrado MICHELLA no chão. Afirmou que entrou no meio para
pegar MICHELLA; (...) (02:07) confirmou que estava no local dos
fatos; (...) (02:30) questionada como ocorreu a agressão descrita
no segundo fato afirmou que ocorreu mais para o final, que estavam
chegando na porta de saída, quando ROBERTO empurrou
MICHELLA pela última vez, tendo MICHELLA batido na parede da
porta de saída. Disse que no momento em que se agachou para
levantar MICHELLA e tirá-la de lá, a declarante levou a pancada;
(03:01) afirmou que ROBERTO não agr

ediu a declarante, esclarecendo que a agressão que sofreu de


ROBERTO não foi dirigida à declarante, tendo sido no momento em
que foi separar a briga; (03:14) relatou que o acusado estava de
frente para MICHELLA, tendo a declarante entrado no meio para
levantar MICHELLA que estava caída no chão e, nesse momento
quando a declarante agachou para levantar MICHELLA, o acusado
deu um chute e acertou na declarante; (03:30) afirmou não saber
dizer qual foi a parte do corpo de ROBERTO que atingiu a
declarante, pois não estava olhando para ele, mas sim virada para
MICHELLA, mas confirmou ter sentido a pancada; (04:14) afirmou
que, no dia dos fatos, viu ROBERTO pegar MICHELLA pelo braço,
pelo cabelo, joga-la na parede, jogá-la no chão e dar vários
empurrões em MICHELLA, relatando que viu MICHELLA cair no
chão duas vezes. (04:50) confirmou que estava presente quando
ROBERTO ameaçou MICHELA quando ROBERTO e MICHELLA
desceram da escada de serviço. Esclareceu que a escada termina
de frente para a entrada da cozinha e, nesse momento ROBERTO
falava que MICHELLA iria sair de lá de qualquer jeito, enquanto
MICHELLA pedia por favor para conversarem; (05:16) que nesse
momento ROBERTO afirmou que MICHELLA sairia de qualquer jeito
nem que para isso tivesse que matá-la, tendo ROBERTO saído para
a cozinha. (05:21) Relatou que ROBERTO entrou na cozinha e foi até
a gaveta, tendo a declarante e NEUMA e ELIENE atrás dele pedindo
pelo amor de Deus para ROBERTO parar com aquilo, tendo
ROBERTO voltado onde estava MICHELA e continuado a empurrar
MICHELLA, esclarecendo que nesse momento, na porta de saída,
foi onde ele empurrou MICHELLA pela última vez e a depoente foi
machucada; (...) (09:50) afirmou que foi no cartório no dia em que
teve a agressão e ROBERTO colocou MICHELLA para fora de casa.
(10:16) afirmou que estava sozinha com a tabeliã quando prestou a
declaração no cartório, em uma sala reservada. Esclarecendo que a
tabeliã do cartório foi anotando à mão enquanto a declarante foi
falando. Afirmou que não levou nada por escrito para a tabeliã.
(11:20) relatou que NEUMA e MICHELA estavam no closet e a
declarante estava arrumando o quarto de MICHELLA, tendo ouvido
que NEUMA e MICHELLA estava conversando sobre a situação de
ROBERTO assediar os funcionários e por isso MICHELLA estava
perguntando a todas as funcionárias que trabalhavam lá sobre isso
(o assédio). Afirmou que NEUMA não estava chorando. (12:06)
confirmou que ligou para ROBERTO e contou que NEUMA e
MICHELA estavam conversando sobre essa situação, recordando de
ter ligado para ROBERTO apenas uma vez;. (...) (14:58) relatou não
recordar porque quem foi atendida no cartório, reiterando que a
declarante foi atendida sozinha, não sabendo como foi o
procedimento para as outras. (15:26) confirmou que ELIENE
também foi ao cartório; (...) (16:15) esclareceu que no dia que foi ao
cartório não foi à delegacia, tendo voltado para casa, esclarecendo
que foram no cartório porque MICHELLA não queria tomar decisão
naquele momento; (...) (17:34) Relatou que ROBERTO chegou muito
nervoso e tanto a declarante como NEUMA saíram, deixando
MICHELLA e ROBERTO a sós no quarto deles. Afirmou que ela e
NEUMA saíram e desceram pela escada da frente; (18:01)
esclareceu que ROBERTO chegou dizendo para MICHELLA que
MICHELLA iria sair da casa naquele momento, que iria tirar
MICHELLA de lá de qualquer jeito, tendo a declarante e Neuma
ficado sem graça e saído do quarto, tendo ainda escutado
MICHELLA pedir por favor para conversarem. (18:14) Relatou que,
então, ouviu um barulho em que achou que MICHELLA tinha caído,
mas que a declarante não viu. Esclareceu que MICHELLA e
ROBERTO desceram pela escada de serviço e por isso a declarante
não os via, mas escutava os barulhos onde parecia que MICHELLA
caiu várias vezes. (18:25) Esclareceu que o momento em que viu
Michella caindo foi quando, após descerem a escada principal
foram correndo para frente da escada de serviço e viu o momento
em que MICHELLA e ROBERTO estavam descendo pela escada de
serviço; (18:34) Narrou que, nesse momento, viu ROBERTO jogando
MICHELLA na escada, esclarecendo que Michella caiu no meio da
escada, entre uma escada e outra, momento em que viu ROBERTO
levantar MICHELLA pelos cabelos e desceu com MICHELA pelo
resto da escada segurando-a pelos cabelos; (18:59) foi então que
ROBERTO entrou para a cozinha para pegar a faca e quando voltou
empurrou MICHELLA até que MICHELLA caiu na porta da saída.
(19:10) Disse que tanto a declarante como NEUMA ficaram o tempo
todo entre eles para que ROBERTO parasse com aquilo, tendo
NEUMA inclusive pegado no ombro de ROBERTO e pedido pelo
amor de Deus para que ele parasse. (19:31) disse acreditar que
ROBERTO ia chutar Michella quando acertou a declarante, pois
ROBERTO não estava sendo agressivo com a declarante. (19:38)
Esclareceu que MICHELLA já estava caída no chão quando a
declarante entrou na frente para levantar MICHELLA, foi atingida,
tendo ficado com um roxo imenso na perna; (...) (21:40) Disse que
RO

BERTO chegou nervoso no quarto porque MICHELLA queria


descobrir o restante das funcionárias que tinham sido assediadas
por ele. (21:57) afirmou que ligou para ROBERTO porque parece
que ia ter uma reunião com ROBERTO, NEUMA e a declarante, mas
como a MICHELLA e a NEUMA começaram a conversar, a
declarante avisou para ROBERTO que ia começar a reunião. Disse
que a reunião seria para tratar das despesas da casa, mas teve foi a
confusão em vez da reunião; (...) (23:01) disse que o que ROBERTO
geralmente fazia era ser grosso com MICHELLA, mas não passava
esse tipo de recado. (23:08) disse que viu MICHELLA machucada
pois a declarante que tirou MICHELLA de lá, esclarecendo que
MICHELLA estava machucada na mão, nos tornozelos e nos pés,
que MICHELLA estava esfolada; (23:25) afirmou que além da
declarante, NEUMA, ELIENE e SUIANE estavam presentes na casa
nesse momento, mas não soube precisar em que local da casa
SUIANE estava; (24:00) sobre a conduta de ROBERTO como patrão
disse que ele assediava, que com MICHELLA ele era muito estúpido
e grosso e isso era uma rotina. Afirmou que ROBERTO sempre
tratava MICHELLA com grosserias, até em festas, quando alguma
coisa não o agradava, ROBERTO xingava MICHELLA de velha e
desgraçada, o nomes com esse tipo (...) (25:40) disse que continua
trabalhando para MICHELLA.
Cumpre observar, desde já, que a riqueza de detalhes é própria de
quem diz a verdade, relatando os fatos tal como o viu e presenciou.
No mesmo sentido são as declarações da cozinheira Eliene Lima da
Silva, a qual, embora não tenha sido ouvida perante a autoridade
policial, foi ao cartório extrajudicial por ocasião dos fatos, tendo
feito a escritura pública declaratória, de fl. 51, onde declarou que,
embora não tivesse visto os fatos, ouviu quando o acusado chegou
em casa muito nervoso e, após ouvir os gritos dele, escutou um
barulho alto como se alguém tivesse caído no chão. Declarou,
ainda, que, posteriormente, quando foi ao encontro de Michella,
percebeu que a vítima estava machucada, provavelmente em razão
da briga do casal. Confira-se (fl. 51):

"(...) que declarara que no dia 23.10.2017 estava na cozinha e


atendeu ao telefone. Que a ligação era para Sra. Michela, e quem
estava a telefonando era o Sr. Roberto que pediu para que a
declarante avisasse para Sra. Michela atender o telefone. Que, logo
em seguida, poucos minutos depois, o telefone tocou e, ao atender
verificou que tratava-se novamente do Sr. Roberto. Que, o Sr.
Roberto disse o seguinte: "Dona Eliene, suba e diga a Dona Michela
que atenda ao telefone senão eu vou aí enxotar ela de casa".
Informa que naquele momento ao ouvir o Sr. Roberto começou a
passar mal. Que, foi até a Sra. Michela e disse: "Dona Michela, pelo
o amor de Deus, atenda esse telefone porque senão o seu marido
vai fazer alguma coisa". Nesse momento ficou muito nervosa. Que
Sra. Michela, mesmo assim não atendeu o telefone, tendo em vista
que estava saindo para ir à faculdade. Neste instante Sr. Roberto
chegou em casa, a declarante estava na cozinha, mas ouviu os
gritos do Sr. Roberto. Que após os gritos afirma ter ouvido um
barulho alto, como se alguém tivesse caído no chão. Que ouviu o Sr.
Roberto dizendo: "Eu vou pegar a faca" fato que a deixou muito
nervosa e pensou: "Se ele pegar a faca eu vou atacá-lo com um
pau". E neste instante foi até a parte externa da casa buscar alguma
coisa para proteger Sra. Michela, mas não foi necessário. Que, em
seguida quando foi ao encontro da Sra. Michela, percebeu que ela
estava machucada, provavelmente dos ferimentos provocados na
briga do casal. Que, afirma que a conduta do Sr. Roberto é sempre
muito agressiva para com a Sr. Michela.(...)"
Conquanto a testemunha Eliene, em juízo, tenha modificado suas
declarações com relação ao terceiro e quarto fato da denúncia,
relativo á ameaça e à tentativa do constrangimento ilegal - o que
será visto mais à frente -, verifica-se que, no que se refere às vias
de fato em análise, afirmou que, embora estivesse na cozinha, ouviu
quando ROBERTO gritou para Michella sair de casa e, logo depois,
ouviu como se alguém tropeçasse e caísse. Esclareceu que, por ter
só ouvido, não sabia se Michella havia se jogado ou tinha sido
empurrada, mas reiterou ter ouvido o impacto como se ela estivesse
descendo a escada, tropeçasse e caísse. A testemunha afirmou,
ainda, que depois de Michella e Giselle saíram da casa, as
encontrou. Esclareceu que Michella estava chorando e Giselle
queria levá-las à delegacia, mas a declarante e Michella se negaram
a ir e, por sugestão da depoente, foram conversar com a psicóloga
de Michella, depois com uma advogada e, de lá, foram ao Cartório
JK prestar declarações. Afirmou que a lesão que viu na perna de
Michella era como de um tapa e que Michella disse que se
machucou quando ROBERTO a empurrou e ela caiu. Vejamos (mídia
de fls. 1310):
(02:18) Disse que estava na cozinha e, passado um tempo, ouviu
ROBERTO gritar para MICHELLA "saia da minha casa"; (02:33)
afirmou que continuou na cozinha l

avando os pratos, mas ouviu como se alguém tropeçasse e caísse;


(03:07) afirmou não ter como dizer se MICHELLA se jogou ou foi
empurrada, pois não viu, mas reiterou ter ouvido o impacto como se
estivesse descendo a escada, tropeçasse e caísse. Relatou que
nesse meio tempo ficou ansiosa e disse em voz alta "então, estão
brigando, vou lá pra fora". Afirmou que, então, foi para a
churrasqueira se preparar, pois, disse "se tão brigando, podem
pegarem alguma faca e eu vou lá acudir"; (04:16) mas, então,
ROBERTO veio tomar água e MICHELLA saiu de carro, tendo a
declarante ido medir a pressão e a glicemia. Afirmou que já tinha
trocado de roupa para ir embora, quando GISELE ligou para a
declarante pedindo que a declarante fosse ao encontro delas;
(04:53) esclareceu que encontrou MICHELLA chorando, tendo
GISELE falado que iriam à delegacia, mas a declarante e Michella se
negaram, (...) (06:00) Afirmou que no tempo que ficaram no carro
conversando, a perna de MICHELLA não estava machucada,
embora estivesse com uma batida roxa; (...) (07:20) questionada se
ouviu ROBERTO e MICHELLA brigando respondeu que o casal
estava na parte de cima da casa e a declarante trabalhando na
parte de baixo, mas que quando ROBERTO estava para descer a
escada escutou ROBERTO mandar MICHELLA ir embora; (...)
(09:47) Narrou que quando ouviu ROBERTO dizer para MICHELLA
"vai embora da minha casa", escutou o impacto da queda, tendo
MICHELLA dado um gemido, momento em que a declarante foi para
a churrasqueira; (...) (11:45) questionada se após os fatos, quando
foi encontrar com Michella, tinha observado a lesão na perna de
Michella, a depoente afirmou que a lesão que viu na perna de
MICHELLA era como de um tapa, esclarecendo que a marca do
sapato ficou como um tapa na perna onde bateu o sapato. Afirmou
que MICHELLA não lhe disse que tinha batido o sapato; (12:21)
narrou que MICHELLA disse que se machucou quando ROBERTO a
empurrou e ela caiu. Esclareceu que além dessa lesão não viu
nenhuma outra, embora MICHELLA fizesse teatro de que estava
chorando. (...) (15:28) Esclareceu que não teve briga, tendo ouvido
ROBERTO gritar "saia da minha casa" e como se MICHELLA vinha
descendo da escada, tropeçou e caiu e teve a lesão, mas não pode
dizer que ROBERTO a empurrou pois não viu; (...) (16:10) Afirmou
que o único ferimento que viu em MICHELLA foi o hematoma no
lado da perna. (16:26) questionada o motivo de não querer ir à
delegacia no dia dos fatos, não foi pelo fato de ficar nervosa, mas,
sim, porque não queria se meter e ofender a quem não devia, por
ser grata aos dois. (17:01) relatou que MICHELLA e a mãe de
MICHELLA ficaram pressionando a filha e o neto da declarante para
darem o endereço da declarante para que viesse depor, mas a
declarante não queria depor para não prejudicar nenhum dos dois,
pois quando precisou os dois lhe apoiaram; (17:45) Confirmou que
comentou com os policiais na época que não queria depor, tendo
recebido o print da delegada, (...) (20:53) relatou que não ouviu a
conversa de MICHELLA com a advogada, pois foi gravado e cada
uma entrou para conversar em uma mesa redonda de três pessoas.
(21:08) Reiterou que cada uma deu sua versão e a declarante deu
sua versão e que não é a mesma versão que está dando em juízo,
pois tinha falado que ele pegou pau e foi atrás de faca, mas está em
juízo para se redimir de tudo que fez, esclarecendo que disse tudo
que está escrito, mas quer ser redimir porque MICHELLA foi mexer
com o neto da declarante. (22:01) declarou que mentiu no cartório;
(...) (22:12) Após advertida sobre o compromisso de dizer a verdade
pelo Ministério Público e pela magistrada a declarante (24:31)
narrou que disse no cartório que ROBERTO havia sido agressivo
com MICHELLA, disse que ROBERTO foi na cozinha pegar faca, mas
que essas duas acusações não eram verdade. (24:57) Relatou que
ROBERTO disse que MICHELLA disse que ele a empurrou, mas
ROBERTO não empurrou MICHELLA, pois MICHELLA foi descendo
de escada e atropelou, esclarecendo que a declarante não viu
quando ROBERTO empurrou MICHELLA, mas que ouviu o impacto.
Esclareceu que não viu se MICHELLA caiu ou foi empurrada por
ROBERTO porque não viu. (...) (29:45) afirmou que no dia dos fatos
não foi para a delegacia, mas, sim, para o JK (cartório) nunca tendo
ido a delegacia; (...) (31:44) narrou que no cartório foram ouvidas
pelo celular e, passados alguns dias, voltou ao cartório quando o
documento estava com três folhas. (...) (32:50) Esclareceu que no
JK (cartório) uma moça lhe entregou uma folha, assinou o
documento mas não leu, esclarecendo que no dia em que foram
colhidas suas declarações foram gravadas no celular e, passados os
dias, voltaram no cartório para assinar o documento. Esclareceu
que no dia que as declarações foram colhidas ficaram em uma sala
à parte. (...) (47:32) Afirmou que quando ROBERTO chegou no pé
da escada, na parte de cima, ouviu ele dizer "saia da minha casa";
(47:52) Esclareceu que estava ROBERTO, MICHELLA e GISELE no
pé da escada e, enquanto

isso, NEUMA estava atrás acreditando que NEUMA estava dentro do


quarto. Afirmou que quando ouviu MICHELLA cair estava apenas
GISELE e que NEUMA teria ficado no quarto. (...) (58:45) afirmou
que recebeu o telefonema de uma delegada de Brasília, por
mensagem, pedindo o endereço da declarante, tendo a declarante
se negado a fornecer o endereço informando que havia trabalhado
na casa de MICHELLA e ROBERTO e abandonou o serviço por estar
doente por dizer coisas erradas, de ter mentido. (...) (01:07:24)
afirmou que disse a MICHELLA que não vinha depor porque
ROBERTO era juiz e a declarante tinha mentido e ROBERTO podia
mandar prender a declarante, tendo sido por isso que a declarante
se escondeu; (...). (01:12:42) disse que dentro do veículo MICHELLA
e GISELE não estavam conversando, pois GISELE estava dirigindo e
MICHELLA estava conversando no celular. Esclareceu que GISELE
também não conversou com a declarante pois estava dirigindo, só
tendo falado que tinham que ir para a delegacia. (01:13:45) afirmou
não saber de que altura MICHELLA caiu, esclarecendo que
MICHELLA estava chorando, mas não disse porque estava
chorando. (...) (01:14:53) esclareceu que viu o machucado em
MICHELLA porque MICHELLA lhe mostrou. (...) (01:17:50) confirmou
que no carro, enquanto foram para a psicóloga, MICHELLA e GISELE
não disseram nada. Também afirmou que encontraram com a
advogada, MICHELLA e GISELE também não disseram nada.
(01:18:4) afirmou que dentro do carro todas estavam quietas e
dentro do cartório a declarante prestou as declarações sozinha,
GISELE também prestou as declarações sozinha, não tendo ouvido
o que GISELE falou e nem GISELE ouviu o que a declarante falou, e
MICHELLA também prestou as declarações. (01:19:55) disse que se
arrependeu de ter falado o que falou dentro do cartório JK porque
estava ficando doente. (01:20:19) esclareceu que MICHELLA não
obrigou a declarante falar qualquer coisa, mas a declarante tem
raiva da mãe de MICHELLA ter ido procurar a filha da declarante.

Embora Eliene tenha tentado inocentar ROBERTO com relação ao


crime de ameaça e tentativa de constrangimento ilegal, afirmando a
todo o tempo que não viu os fatos, mas apenas ouviu, não passou
despercebido que, em um ato falho da testemunha, Eliene afirmou
que, quando ROBERTO chegou no pé da escada, na parte de cima,
ouviu ele dizer "saia da minha casa", estavam ROBERTO, MICHELLA
e GISELE no pé da escada e, enquanto isso, NEUMA estava atrás
acreditando que NEUMA estava dentro do quarto. Afirmou que
quando ouviu MICHELLA cair estava apenas GISELE e que NEUMA
teria ficado no quarto (47:32).
Ora, se Eliene afirmou que Neuma estava dentro do quarto e que viu
ROBERTO Michella e Giselle no pé da escada, na parte de cima fica
evidenciado que Eliene não só ouviu o impacto da queda, mas viu
ROBERTO agredindo a companheira, corroborando, assim, as
declarações da vítima e de Giselle.
Mas ainda que assim não fosse, e se Eliene apenas tivesse ouvido, o
relato do que teria ouvido dá respaldo de veracidade à versão
apresentada pela vítima e pelas demais testemunhas que
presenciaram os fatos e que também tiveram contato com a vítima
no mesmo dia, consoante se verá adiante.
Quanto as declarações da testemunha Beneuma Garcia Vinagre da
Silva, também chamada de Neuma, quando ouvida perante a
autoridade policial, declarou que, enquanto conversava com
Michella, ROBERTO chegou e a viu chorando. Esclareceu que
estava chorando por estar muito sensível, mas que nesse dia
Michelle não a tinha ameaçado, nem a humilhado ou agredido.
Afirmou que viu quando ROBERTO pegou Michella pelo braço e
começaram uma discussão, esclarecendo que ficou entre os dois
para apaziguar a situação e que não presenciou ROBERTO bater em
Michella em nenhum momento, mas recordou ter visto ROBERTO
empurrar Michella próximo ao elevador mandando que Michella
saísse de perto dele. Confira-se (fls. 205/207):

(...) que no dia 23/10/2018, MICHELLA chamou a depoente em seu


closet e começou a dizer para ela: "SE VOCE CONTAR ALGUMA
COISA DE MIM PARA ROBERTO VOCE TERÁ QUE CONTAR DELE
TAMBEM EM JUÍZO; que então a depoente disse para MICHELLA
que não tinha nada para dizer contra ROBERTO; que então
MICHELLA começou a insinuar que a depoente havia sofrido
assedio de ROBERTO; que a depoente disse que nunca tinha
sofrido nenhum tipo de assédio de ROBERTO; que a depoente
nunca presenciou ROBERTO assediar nenhum funcionário,
entretanto ouviu da colega GISELE que esta teve um caso com
ROBERTO; (...) que a declarante também soube que ROBERTO
também teve um caso com LUANA, babá na casa do casal; que em
julho de 2017 MICHELLA descobriu que LUANA estava tendo um
caso com ROBERTO; que então MICHELLA pegou o telefone de
LUANA e trocou mensagens com ROBERTO se passando por
LUANA; que a mãe de MICHELLA estava presente no local; (...) que
após LUANA ter sido expulsa da residência, MICHELLA começou a
envolver a declarante nos problemas domésticos da casa; que
MICHELLA disse para ROBERTO que a declarante estava tent

ando "enganar ROBERTO e tirar dinheiro dele"; que por essa razão a
declarante solicitou uma reunião com MICHELLA e ROBERTO no dia
23.10.2017; (...) que no dia 23.10.2018 MICHELLA acusou a
declarante de estar mostrando suas contas pessoais para
ROBERTO, que a declarante disse que não estava mostrando
nenhuma conta de MICHELLA para ROBERTO, que então MICHELLA
deixou a declarante em seu closet e pediu que ela encontrasse
referidas contas; (...) que ROBERTO pegou a declarante chorando
no closet porque estava muito sensível; que nesse dia MICHELLA
não humilhou nem ameaçou ou agrediu a declarante, apenas
questionando a declarante se ela sabia de alguma coisa contra
ROBERTO; que a declarante viu quando ROBERTO puxou
MICHELLA pelo braço e começaram uma discussão; que a
declarante entrou no meio de ambos e pediu que eles parassem;
que MICHELLA começou a ir para cima de ROBERTO tentando
provoca-lo, e a declarante ficou no meio de ambos tentando
apaziguar a situação; que em nenhum momento ROBERTO puxou
MICHELLA pela escada; que os três foram descer as escadas; que a
declarante estava descendo as escadas entre o casal; que já no
último degrau MICHELLA tropeçou e caiu, momento em que a
declarante a levantou junto com GISELE; que a declarante ouviu
ROBERTO dizer durante a discussão "QUE MICHELLA ERA
BANDIDA; QUE ELA AGIU IGUAL BANDIDO; QUE ELA MANIPULAVA
AS PESSOAS"; que a declarante não ouviu ROBERTO dizer que ia
pegar uma faca para matar MICHELLA e não viu GISELE intervir na
referida situação; que a declarante afirma que nesse momento não
presenciou empurrões ou socos; que por diversas vezes durante a
discussão GISELE saia e voltava; entretanto a declarante ficou perto
de ROBERTO e MICHELLA o tempo todo; que a declarante não
presenciou ROBERTO bater em MICHELLA em nenhum momento;
que a declarante não presenciou nenhuma ameaça; que a
declarante apenas recorda de ter visto ROBERTO empurrar
MICHELLA próximo ao elevador da residência, mandando ela sair de
perto dele; (...) que a declarante nunca presenciou MICHELLA com
lesões aparentes a não ser por tratamentos estéticos; (...)

Ao ser ouvida em juízo, Beneuma alterou parcialmente suas


declarações, tendo, em síntese, afirmado que ocorreu uma
discussão do casal, mas que não presenciou agressão física por
parte de ROBERTO. Relatou que ROBERTO pegou Michella pelo
braço e a retirou para fora do quarto, momento em que a declarante
foi atrás deles e quando eles se separaram um pouco próximo ao
elevador, a declarante ficou entre os dois, inclusive quando
desceram as escadas. Disse que Michella insistia para conversar
com o acusado, mas que ele dizia que não tinha mais conversa e
chamava Michella de bandida. Afirmou que Michella caiu quando
chegou no último degrau e, por ter tropeçado, encostou na porta de
vidro e sentou no chão. Disse que Giselle mentiu quando falou que
ela e a declarante tinham descido pela escada da frente, pois
enquanto a depoente, ROBERTO e Michella desceram pela escada
de serviço, apenas Giselle desceu pela escada da frente. Afirmou
que quando Giselle chegou na parte de baixo, Michella já estava
sentada no chão, tendo a declarante e Gisela levantado Michella
pelos braços. Confira-se (mídia de fls. 1.187)
(...) (00:29) confirmou que prestou declarações sobre o fato na
delegacia e que disse a verdade; (01:20) narrou que nesse dia
estava combinado para fazer uma reunião para tratar de assuntos
da administração da casa sobre gastos e relatoria feitos pela
declarante; (...) (01:54) relatou que quando chegou ao trabalho,
MICHELLA estava no closet e pediu para chamar a declarante.
Relatou que MICHELLA começou a fazer perguntas para a
declarante e dizer que se a declarante falasse de MICHELLA em
juízo, teria que falar de ROBERTO também. (02:34) Relatou que
ROBERTO já tinha questionado a declarante, por duas vezes, sobre
a despesa da casa e quando a declarante dizia que não tinha tanto
gasto, ROBERTO lhe dizia para controlar os gastos; (...) (04:02)
relatou que quando MICHELLA chamou a declarante no closet disse
que era para procurar umas correspondências, mas na verdade era
para falar para a declarante não dizer a verdade e nem entregar os
relatórios. Disse que Michella falou que se a declarante fosse falar
alguma coisa dela, também tinha que falar de ROBERTO, tendo a
declarante dito que não tinha nada para falar de ROBERTO; (...)
(05:01) negou que nesse dia tivesse visto ROBERTO agredir
MICHELLA e afirmou que teve discussão, mas não teve agressão.
(...) (05:16) Disse que quando ROBERTO chegou na casa, estavam
no closet, esclarecendo que estava chorando por já estar abalada
com o que vinha acontecendo, tendo ROBERTO chegado dizendo
para MICHELLA que ela estava ameaçando pessoas. Disse que
MICHELLA respondeu que não estava ameaçando, que estava
apenas conversando com a declarante. (05:38) confirmou que
MICHELLA só estava conversando, embora tivesse tido um outro
episódio em que MICHELLA teria ameaçado e trancado a
declarante. (05:50) reiterou que não houve nenhu

ma agressão física. (...) (07:15) afirmou que acompanhou o


desenrolar da confusão do início ao fim, relatando que ficou entre
os dois (ROBERTO e MICHELLA) na parte de cima até o momento
em que MICHELLA chegou na porta para sair, esclarecendo que
GISELLE saiu com MICHELLA; (07:30) Confirmou que durante todo
esse período ROBERTO não agrediu MICHELLA, não bateu, não
puxou os cabelos, não a agrediu, embora ele tenha chamado
MICHELLA de bandida e mentirosa; (...) (10:30) questionada se teve
conhecimento se Michella teria oferecido alguma vantagem em
troca de alguém prestar declarações para ela, afirmou ter ficado
sabendo que se LUANA depusesse em favor de Michella iria ganha
muito dinheiro, por volta de 150 mil, afirmando que a pessoa que
prestasse depoimento ia ganhar 150 mil; (11:03) Afirmou que não
soube de ROBERTO fazer oferta para que depusessem a favor dele,
negando que tivesse recebido algum valor de ROBERTO para isso,
reiterando que estava depondo de livre e espontânea vontade e
esclareceu que ainda trabalha para ROBERTO. (...) (13:22)
Confirmou que GISELE sofria maus tratos de MICHELLA,
esclarecendo que GISELE dizia que MICHELLA a maltratava, que
MICHELLA era muito grossa, que fazia GISELE trabalhar além da
conta, que já estava esgotada de trabalhar dia e noite. Disse que
quando Giselle fazia algo de errado, MICHELLA não sabia conversar
e já vinha logo sendo grossa com as pessoas. (...) (16:26) Afirmou
que ouviu GISELE falar várias vezes que tinha prazer de ficar com
ROBERTO só para olhar na cara de MICHELLA; (...) (18:00) afirmou
que GISELE mentiu ao dizer que a declarante e ela desceram pela
escada da frente da casa e ficaram lá em baixo, tendo ratificado que
a declarante permaneceu no closet. (18:12) Confirmou ainda que
quando ROBERTO chegou e falou com MICHELLA, ROBERTO se
referiu a conversa que MICHELLA estava tendo com a declarante,
esclarecendo que acredita que ROBERTO não queria proteger a
declarante, mas sim fazer justiça pelo que estava acontecendo na
casa; (18:32) Confirmou que na ocasião estava grávida de 02 meses
e estava chorando quando ROBERTO chegou; (18:53) questionada
se MICHELLA, nesse momento de discussão esboçou algum
movimento de agredir ROBERTO, esclareceu que MICHELLA foi
para cima de ROBERTO tipo pedindo para conversarem, tendo
ROBERTO pegado no braço de MICHELLA e a retirado para fora do
quarto, momento em que a declarante foi atrás dos dois, tendo
MICHELLA e ROBERTO se separado um pouco próximo ao elevador,
tendo a declarante ficado entre os dois. (19:19) Disse que
MICHELLA foi pra cima de ROBERTO novamente pedindo para
conversarem e dizendo que não era aquilo que ele estava pensando,
tendo ROBERTO falado que não queria mais conversar e que tinham
marcado uma reunião, mas que MICHELLA tinha feito isso e por isso
não tinha mais conversa, tendo ROBERTO chamado MICHELLA de
bandida. Disse que a reunião era para acontecer depois que
ROBERTO chegasse da academia. (19:40) Relatou que GISELE
desceu pela escada da frente e a declarante desceu junto com
MICHELLA, ROBERTO pela escada de serviço. (20:02) Narrou que
MICHELLA tropeçou no último degrau, que MICHELLA deitou o pé,
caiu e encostou na porta do vidro, esclarecendo que quando
MICHELLA encostou na porta de vidro MICHELLA sentou no chão.
(20:12) Narrou que GISELE chegou pelo outro lado, porque tinha
descido pela escada social, momento em que a declarante e GISELE
levantaram MICHELLA pelos braços; (20:24) Reiterou que quando
GISELE chegou MICHELLA já estava sentada no chão; (20:32)
Reiterou que ROBERTO não empurrou MICHELLA pela escada e que
MICHELLA caiu porque tropeçou o pé, recordando que MICHELLA
estava de salto; (...) (24:43) confirmou que registrou ocorrência
policial contra MICHELLA e narrou que MICHELLA a ameaçou no
quarto no dia 05 de outubro; (...) (25:42) disse que MICHELLA
questionou porque a declarante estava passando informação para
ROBERTO, pois ele sabia do áudio que MICHELLA tinha mostrado
para a declarante. (...) (29:56) questionada se sabia porque GISELE
estava confirmando a versão de MICHELLA se GISELE teve um caso
com ROBERTO espontaneamente, respondeu não saber porque
Giselle estava acusando Roberto, pois a declarante foi quem ficou
com ROBERTO e MICHELLA do início ao fim. (30:38) esclareceu
que pedia para que ROBERTO não fizesse nada com MICHELLA,
esclarecendo que MICHELLA vinha para cima para conversar, mas
ROBERTO estava muito irritado, chamando MICHELLA de bandida,
dizendo que a única coisa que MICHELLA sabia fazer com as
pessoas era ameaçar e coagir, tendo a declarante pedido para
ROBERTO pelo amor de Deus não fazer nada com MICHELLA.
(31:05) Afirmou que ROBERTO não triscou em Michella; (31:10)
disse que quando terminaram de descer, ROBERTO foi para o
escritório, tendo a declarante saído para fora com MICHELLA e
GISELE, sendo que enquanto GISELE pegou o carro, a declarante foi
para a lavanderia e MICHELLA foi atrás da declarante pedindo para
irem conversar com ROBERTO, tendo a declarante dito que não i

a conversar com ROBERTO e que MICHELLA esperasse ROBERTO


se acalmar, momento em que GISELE chegou com o carro, pediu
para MICHELLA entrar no carro e saiu com ela; (...) (34:48)
questionada quanto tempo demorou entre os fatos e a ocorrência
policial que fez contra MICHELLA por ameaça esclareceu que
primeiro procurou o Ministério Público, pois estava abalada e com
medo de sair de casa, pois MICHELLA lhe disse que poderia passar
07 anos, mas que acabaria com a vida da declarante, tendo ficado
muito abalada; (...) (35:53) afirmou que fez a ocorrência policial
antes dos fatos, (36:25) questionada como fez a ocorrência contra
a patroa e ficou trabalhando para a patroa a declarante esclareceu
que pediu para conversar porque ia pedir as contas, tendo a
declarante conversado com ROBERTO que mesmo que perdesse
40% das contas não tinha mais condição de continuar trabalhando
na casa, esclarecendo que isso ocorreu depois de toda essa briga.
(37:06) Afirmou que ROBERTO foi conversar com a declarante
quando soube que a declarante tinha feito a denúncia, tendo falado
para ROBERTO que tinha o intuito de sair da casa por ter medo de
MICHELLA, tendo ROBERTO garantido que MICHELLA não ia fazer
nada com a declarante, pois a declarante estava grávida, tinha os
direitos garantidos por lei e que ele não iria lhe mandar embora.
(38:00) confirmou que a ocorrência policial feita por BENEUMA foi
em 30.10.2017 e os fatos teriam sido entre 01.06.17 e 23.10.2017,
(38:24) a declarante esclareceu que depois dos fatos MICHELLA
voltou para casa e a declarante continuou trabalhando na casa,
acreditando que MICHELLA não sabia da ocorrência policial feita
pela declarante para se prevenir.

Como se verá mais adiante, não obstante a testemunha Beneuma


(Neuma) tenha, em juízo, corroborado a versão do acusado,
afirmando que, por ocasião dos fatos, em nenhum momento,
ROBERTO teria agredido fisicamente Michella, bem como afirmado
que, próximo ao elevador, eles se separaram um pouco e a
declarante se colocou no meio de ROBERTO e Michella (18:53),
esse depoimento diverge das próprias declarações que deu perante
a autoridade policial, nas quais afirmou ter presenciado ROBERTO
puxar MICHELLA pelo braço e começarem uma discussão, bem
como afirmou tê-lo visto empurrar MICHELLA próximo ao elevador
da residência (fls. 205/207).
Ressalte-se, ainda que, embora Beneuma tenha afirmado que ficou
entre o acusado e Michella por todo o tempo, inclusive quando
desceram as escadas, tal circunstância, conforme declarações
acima transcritas, não foi relatada pelo acusado, pela vítima e nem
pelas testemunhas Giselle e Eliene, restando isolada pela prova
produzida nos autos. Não bastasse isso, o depoimento de Beneuma
também diverge das declarações do próprio réu, consoante se verá
a seguir.
Interrogado, embora tenha confirmado que estava nervoso quando
foi ao encontro de Michella na casa, ROBERTO DE FIGUEIREDO
CALDAS negou qualquer agressão contra a vítima. Perante a
autoridade policial, afirmou, em síntese, que embora tenha
discutido com Michella no dia dos fatos e a xingado, não a agrediu
fisicamente. Confira-se in verbis (fls. 196/198):
"manteve um relacionamento amoroso com MICHELLA por treze
anos; que fez um contrato de união estável com separação total de
bens em meados do ano de 2005; que do relacionamento advieram
dois filhos, de nome ROBERTO FILHO, 12 anos e BENÍCIO de oito
anos de idade; que há aproximadamente sete anos, o
relacionamento começou a ficar fragilizado, havendo algumas
brigas e alterações verbais; que durante as discussões ocorriam
ofensas recíprocas; que quando o declarante dizia que queria se
separar da OFENDIDA, esta iniciava um processo de escândalo,
argumentando que o declarante seria uma pessoa conhecida e
tinha mais a perder do que ela; que sempre teve um relacionamento
de igualdade com a OFENDIDA e, em nenhum momento teve a
intenção de humilha-la; que assume que em algumas discussões
xingou a OFENDIDA de "BANDIDA, MANIPULADORA, MENTIROSA",
entre outras, ocasião em que ela rebatia xingando o declarante de
"SAFADO, CACHORRO", entre outros; que os filhos não
presenciavam as discussões, muito embora, eventualmente elas se
iniciavam na presença de todos que estavam na residência; que
afirma nunca ter havido agressão física ou ameaças por parte do
declarante; que na manhã de 23.10.2017 havia combinado uma
reunião com MICHELLA a respeito das despesas da casa sendo que
nessa reunião estariam presentes também a governanta BENEUMA,
bem como a outra funcionária GISELE; que a reunião não aconteceu
porque MICHELLA havia dito que iria para a faculdade e o
declarante para a academia; que em um determinado momento a
funcionária GISELE telefonou para o declarante dizendo que
MICHELLA estava trancada no quarto com BENEUMA; que o
declarante tentou falar com MICHELLA por telefone, porem ela não
o atendeu; que então telefonou para a residência, quando a
cozinheira ELIENE atendeu, momento que o declarante pediu para
que ela solicitasse a MICHELA que saíss

e do quarto e lhe retornasse a ligação; que quando conseguiu falar


com MICHELLA ao telefone, pediu para que ela saísse do quarto;
que fez isso porque sabia que MICHELLA estaria pressionando
BENEUMA a não contar ao declarante sobre as despesas absurdas
da casa; que então voltou para sua residência por volta das 9h30 e
encontrou BENEUMA chorando muito na porta do closet de
MICHELLA; que naquele instante MICHELLA disse que não estaria
pressionando BENEUMA ao que BENEUMA respondeu que não teria
sido ameaçada da mesma forma como já havia ocorrido em outra
ocasião; que como sabe que MICHELLA estava pressionando
BENEUMA ficou bastante nervoso e pediu que MICHELLA saísse da
casa; que muitas vezes ficou chateado com MICHELLA pela
maneira que ela tratava os funcionários; que MICHELLA se
aproximou muito do declarante querendo conversar, mas o
declarante a afastou, solicitando novamente que ela saísse de casa;
que nega tê-la empurrado, a agredido fisicamente ou a puxado
pelos cabelos, apenas a conduziu para que ela saísse de casa; que
reconhece que nesse momento xingou MICHELLA de "BANDIDA,
MENTIROSA, MANIPULADORA"; (...) que afirma nunca ter dado
socos em MICHELLA, embora no passado distante já tenha havido
empurrões recíprocos; que conduziu MICHELLA também pelas
escadas, sendo que ela caiu por ter desequilibrado pois usava salto
alto; que MICHELLA gritou no momento da queda e em seguida saiu
calmamente da casa; que MICHELLA ainda chamou BENEUMA para
ir com ela, mas esta não quis acompanha-la; que esses últimos
fatos foram presenciados pelo motorista FRANCISCO; que as únicas
pessoas que presenciaram a discussão foram GISELE e BENEUMA,
que a cozinheira ELIENE pode ter escutado algum momento da
discussão quando eles desceram as escadas; (...) que deseja
acrescentar que os áudios colacionados aos autos por MICHELLA
encontram-se editados, pois não constam as partes principais e
iniciais dos diálogos.
Quando interrogado em juízo, ROBERTO continuou negando que
tivesse agredido Michella. Declarou, em síntese que, dias antes,
Beneuma (Neuma) havia lhe telefonado para contar que fora
ameaçada por Michella e trancada junto com ela no closet para
pressioná-la a não entregar os relatórios financeiros das despesas
da casa que tinham sido alterados por Michella e que em razão
disso iria sair uma reportagem de cárcere privado na casa do
interrogando. Afirmou que, dias antes, também soube que Michella
estava coagindo as empregadas para acusá-lo de assédio sexual.
Narrou que, no dia dos fatos, ao saber que Michella e Beneuma
estavam trancadas no closet, tentou telefonar para Michella para
tirá-la de lá e, como não conseguiu, foi imediatamente para casa.
Relatou que as encontrou no closet e ambas lhe disseram que
estavam conversando, tendo Beneuma afirmado que não tinha sido
ameaçada por ela naquele dia, mas, ainda assim, o interrogando
pensou que Michella estaria agredindo a funcionária e, por isso,
pediu que a companheira saísse imediatamente da casa dizendo
que não tinha conversa. Afirmou não a ter agredido, tendo apenas
colocado a mão no ombro dela para saírem, esclarecendo que, no
início, Michella resistiu. Negou que tivesse empurrado Michella na
escada e, ao ser questionado sobre as testemunhas terem afirmado
que ouviram um barulho de queda, afirmou que no final da escada
Michella desequilibrou, caiu sentada em um degrau e gritou "ai".
Negou que tivesse tido intervenção de Giselle entre ele e Michella,
recordando que Neuma foi quem teria descido a escada com ele e
Michella. Confira-se (mídia fls. 1327):
(00:19) Negou que tivesse agredido MICHELLA; (00:31) Relatou que
no dia 06 de outubro estava em viagem quando recebeu uma
mensagem da governanta da casa, BENEUMA, que iria a DRT, tendo
falado que no dia anterior, 05 de outubro, Michella a teria trancado
no closet e a ameaçado com a ajuda das funcionárias NALVINA e
GISELE e da mãe e da filha de MICHELLA; (...) (03:16) afirmou que
se preocupou bastante com essa ocorrência porque MICHELLA já
tinha um histórico preocupante de instabilidade emocional de
agressões a empregadas, já tendo agredido anos antes uma técnica
de enfermagem chamada Marcia e, meses antes, a LUANA do Pará.
Disse que MICHELLA dizia abertamente que havia dado uma surra
em LUANA, passando a usar o que ela fez com essa LUANA como
exemplo para as outras. Afirmou que MICHELLA tinha uma forma
bem inconstante e ficou bem preocupado. Relatou que viajou para
os Estados Unidos e que na semana da criança MICHELLA foi
encontra-lo, juntamente com os 2 filhos comuns, a filha de
MICHELLA e a mãe de MICHELLA, tendo ficado com a família no dia
das crianças; (05:44) narrou que tentou conversar com MICHELLA
sobre Neuma (Beneuma) porque a funcionária já estava indo para
DRT e a Defensoria Pública e mesmo o interrogando tendo
argumentado que estava preocupado por Neuma estar grávida e
Michella tê-la trancado, Michella disse que não era o momento para
conversarem, por estarem com os familiares, prometendo que
conversariam no primeir

o dia que o interrogando chegasse em Brasília. Disse que chegou no


domingo, dia 22, e tinham combinado de conversar no dia 23;
(06:59) afirmou que o relacionamento estava bastante enfraquecido
e que estava esperando finalizar o mandato como presidente da
Corte para fazer a separação porque sabia que ia ser difícil, pois
MICHELLA rejeitava o assunto de separação. Disse que tentava se
separar desde 2012, tendo convivido por quase 13 anos entre
namoro e união; (07:56) afirmou que estava com problema
financeiro, pois mesmo em um momento excelente no escritório em
que trabalhava, o dinheiro não alcançava, que o cartão de crédito de
MICHELLA era de no mínimo cem mil reais por mês e, além disso a
conta conjunta que tinha da obra estava sendo drenada de forma
impressionante. Esclareceu que moravam na casa desde abril de
2012, mas ainda em 2017 tinha muitas obras e que MICHELLA não
só não colaborava como continuava fazendo compras como se
nada tivesse acontecido, além de não dizer a verdade na questão
dos relatórios financeiros; (09:53) disse que no dia 16 ficou
sabendo por outras empregadas que estavam sendo coagidas por
Michella a denunciar o interrogando por assédio sexual e, mesmo
ainda estando no Panamá, telefonou para Michella dizendo que não
tinha mais condições e estava tirando a aliança, que quando
chegasse iam conversar calmamente, iam conversar com os
meninos sobre a separação e que não iria desampara-la; (11:06)
narrou que chegou em Brasília no dia 22 e combinaram de
conversar na primeira hora do dia 23, na segunda-feira. Esclareceu
que nesse dia teria atividade intensa em Brasília e no outro dia teria
uma palestra do IESB sobre direitos humanos. Afirmou que não
dormiam no mesmo quarto e, por mensagem, por volta das oito
horas, Michella disse ao interrogando que estava grogue por ter
tomado remédio e iria dormir, tendo o interrogando afirmado que
iriam manter a reunião. Relatou que iria juntar as conversas de
WhatsApp que teve com MICHELLA entre os dias 20 e 24 de
outubro. Afirmou que, por volta das 11 da noite, Michella lhe enviou
outra mensagem dizendo que não seria possível a reunião do dia
seguinte, pois ela teria um trabalho de grupo na faculdade IESB,
tendo ficado combinado de conversarem na parte da tarde, com a
presença de NEUMA; (13:30) afirmou que era MICHELLA quem
geria todas as despesas da casa, de obras, conta conjunta, cartões
de crédito, sendo que Michella tinha um cartão de crédito pessoal e
outro para as despesas da casa, esclarecendo que a presença de
NEUMA na reunião era essencial para apurar se NEUMA não estaria
tendo alguma vantagem, pois mesmo não sendo a primeira vez que
acontecia desvios de finalidade de gastos de alta monta queria dar
o benefício da dúvida a MICHELLA; (14:46) disse que Michella
mentiu para o interrogando, mais uma vez, pois na manhã do dia 23
saiu antes do interrogando dizendo que ia para a faculdade, todavia,
quando o interrogando chegou na academia, Gisele ligou dizendo
que Michella estava trancada com Neuma no closet; (15:48) disse
que, quando GISELLE confirmou que MICHELLA estava com
NEUMA no closet ficou extremamente preocupado, ligou
imediatamente para MICHELLA, informando que ela sem lhe
atendia, mas que não conseguiu falar com MICHELLA. (...) (17:00)
relatou que Giselle telefonou para o interrogando uma segunda vez
dizendo que era melhor que fosse para casa porque NEUMA estava
chorando muito; (17:20) narrou que soube, dias antes, que o
jornalista Miguel Matos, proprietário do Migalhas e esposo da
advogada Daniela Teixeira, havia procurado o ex-sócio do
interrogando para fazer uma matéria sobre cárcere privado dentro
da casa do juiz de direitos humanos que trabalhou anos a fio no
combate ao trabalho escravo. Esclareceu que ficou sabendo dessa
reportagem, salvo engano, por volta do dia 20 e que NEUMA já
havia ido a DRT e a Defensoria Pública da União. (18:15) Afirmou
que NEUMA continuava trabalhando lá, pois além de grávida e,
portanto, em período de estabilidade provisória, ganhava bem e
tinha sido contratada por MICHELLA, sendo pessoa de confiança de
MICHELLA, sendo a única pessoa que tinha todo o acesso a
MICHELLA; (18:50) Questionado se quando disse que MICHELLA
trancou BENEUMA no closet se MICHELLA se trancou junto com ela
ou deixou BENEUMA sozinha disse não saber precisar, mas que,
salvo engano, MICHELLA trancou as pessoas lá dentro; (19:14)
Esclareceu que essas pessoas trancadas lá dentro eram a mãe e a
filha de MICHELLA, GISELA e NALVINA. Afirmou que todas estavam
lá dentro pressionando NEUMA a não dizer para o interrogando o
que estava acontecendo, pressionando para que NEUMA não desse
os relatórios financeiros reais e não os alterados. (...) (20:40) disse
que quando GISELE telefonou para o interrogando pela segunda
vez, saiu da academia para casa e, no trajeto, foi tentando falar com
MICHELLA pelo celular dela, mas como ela não atendia, ligou para o
telefone fixo da casa e falou com ELIENE tendo dito a ELIENE que
precisava falar urgentemente co

m MICHELLA. (21:20) Relatou que ELIENE nunca subia ao quarto


por se bem distante da cozinha e esclareceu que quem está na
garagem não escuta o que está acontecendo dentro do quarto, pois
todos os quartos têm isolamento acústico, mas que no hall e na
escada se escuta tudo por ser vazado. (22:00) disse que foi
rapidamente para casa, que MICHELLA também não atendeu o
telefone fixo tendo o interrogado ficado muito nervoso, pois NEUMA
estava grávida e MICHELLA dizia que queria dar porrada na NEUMA,
dar na cara dela, afirmando ter ficado nervoso com medo de
MICHELLA agredir NEUMA, pois MICHELLA tinha histórico. (22:57)
disse que entre a academia e sua cassa decorreu uns 10 minutos;
(23:01) afirmou que no segundo telefonema, disse para a cozinheira
ELIENE para por favor, ela dissesse a MICHELLA para sair
imediatamente de casa, pois MICHELLA não poderia estar no
mesmo lugar que a NEUMA, pois NEUMA já tinha denunciado
MICHELLA e estava grávida. (23:25) disse que pensou naquele
momento era afastar MICHELLA porque MICHELLA iria se prejudicar
e porque NEUMA poderia perder o filho de um casal que conhecia
de longa data, pois WILTON trabalhou com eles por muito tempo e
atualmente era motorista da mãe do interrogando, ressaltando que
era o primeiro filho de WILTON e que, além disso, o interrogando era
advogado trabalhista de trabalhadores por toda a vida; (24:09)
confirmou que falou para ELIENE para que MICHELLA saísse de
casa; (24:19) relatou que chegou na casa muito preocupado, por
MICHELLA não ter lhe atendido. Disse que geralmente sobe de
elevador por ter problema sério de articulações, fazendo fisioterapia
dia sim, dia não, mas nesse dia foi correndo de escada e, inclusive,
chegou lá mancando; (25:05) disse que a porta não estava
trancada, mas estava fechada e quando o interrogando abriu a
porta viu MICHELLA e NEUMA, sendo que NEUMA estava
encostada no portal chorando muito, com o rosto inchado e
molhado e que MICHELLA estava de frente para NEUMA com o
telefone passando uma mensagem para o interrogando, (25:45)
Relatou que acha que MICHELLA escutou o interrogando chegando,
pois o interrogando empurrou a porta rapidamente; (25:51) relatou
que parou e perguntou o que estava acontecendo; (25:59)
esclareceu que já era na saída do closet para o quarto, na segunda
porta e que a porta estava aberta, sendo que NEUMA estava
encostada no portal e MICHELLA estava olhando para NEUMA
muito próxima, sendo que MICHELLA estava com o telefone na mão
passando a mensagem para o interrogando. Narrou que GISELE
estava ao lado. (...) (26:50) disse que perguntou para MICHELLA o
que estava acontecendo, momento em que ela foi em direção ao
interrogando e dito que não estava acontecendo nada, que o
interrogando podia perguntar para NEUMA. Disse que MICHELLA
negou que estivesse ameaçando NEUMA e perguntou para NEUMA
se ela estava ameaçando, tendo NEUMA falando que MICHELLA
não estava lhe ameaçando, mas NEUMA prosseguiu dizendo que
em outro dia MICHELLA a ameaçou, ameaçou a família de NEUMA e
a trancou, tendo MICHELLA falado para NEUMA esquecer aquele
dia e falar do hoje; (27:25) afirmou que quando ouviu aquilo, tomou
como uma confissão, pois MICHELLA primeiro tinha mentido para o
interrogando. Afirmou que pensou que MICHELLA estaria agredindo
NEUMA; (27:47) relatou que era por volta das 9hs e que pela
mensagem que MICHELLA mandou para o interrogando dá para
precisar o horário. (28:58) afirmou que MICHELLA disse para
conversarem com NEUMA, mas o interrogando disse que não tinha
mais conversa, momento em que MICHELLA foi na direção do
interrogando, o qual permanecia na porta, tendo dito para
MICHELLA que não tinha mais conversa, que MICHELLA era
mentirosa; (28:21) disse ter se destemperado nesse momento, mas
mantido a calma, pois podia prever tudo com MICHELLA (...)
(28:48) Questionado se teria praticado os atos descritos na
denúncia de ter empurrado MICHELLA, a arrastado e a puxado
pelos cabelos, negou que isso tivesse acontecido. Afirmou que isso
foi dito por GISELE e MICHELLA, mas que GISELE o acusou de
assédio sexual e entrado na justiça do trabalho pedindo 200 mil por
isso com os mesmos advogados de Michella; (...) (30:00) Negando
que tivesse agredido MICHELLA, esclareceu que no momento em
que MICHELLA foi em sua direção, o interrogando disse a ela:
"MICHELLA saia imediatamente dessa casa, você não pode fazer
isso" e em seguida colocou a mão no ombro de MICHELLA e falou
"vamos MICHELLA". Narrou que, no início, MICHELLA disse que não
iria sair, mas que disse para MICHELLA "você vai sair agora daqui de
casa porque você não pode cometer esse tipo de ato"; (30:33)
relatou que estava extremamente envergonhado por estar na frente
de duas empregadas e de outras que estavam na casa, como
SUIANE e outra. (...) (31:14) afirmou que não ocorreu nenhuma
agressão física contra Michella e nenhum contato Giselle (31:29)
narrou que a dinâmica dos fatos durou quatro minutos. Disse que
saíram do quarto e que, no início, MICHELLA jogou o corpo para
trás tendo

o interrogando falado para ela: "Vamos imediatamente, não dá mais


para conversarmos". Afirmou que estavam indo para a porta da rua
porque o interrogando entendeu ser a forma de, naquele momento,
afastar MICHELLA e NEUMA demonstrando que não concordava
com o que estava acontecendo, pois era magistrado e tinha o peso
dessa responsabilidade. (32:28) Relatou que seu sonho profissional
era a Corte Interamericana, tendo exercido a vice-presidência e a
presidência, sendo que naquele momento terminava a presidência
e, por isso, não podia permitir aquilo; (32:45) Esclareceu que teve o
cuidado de tirar algumas fotos que também serão juntadas e que a
escada é grande, com dois vãos, tendo um patamar e mais três
metros em pedra e se tivesse empurrado MICHELLA ali, MICHELLA
teria se machucado muito, pois teria caído e torceria o pé ou bateria
a cabeça; (33:22) questionado sobre as testemunhas terem dito
que ouviram um barulho, afirmou que o barulho que aconteceu foi
um "ai", pois no final da escada MICHELLA se desequilibrou sem
nenhum toque do interrogando, tendo o interrogando lançado os
braços para abraça-la pois ela fez como se fosse para frente,
esclarecendo que MICHELLA não cairia do alto pois deveria estar no
terceiro degrau para o final da escada. Disse que o que aconteceu
foi que MICHELLA caiu sentada em um degrau e gritou ai. Reiterou
que não teve barulho. (34:08) questionado se em algum momento
GISELE interveio entre o interrogando e MICHELLA, o interrogando
recordou que NEUMA desceu a escada com o interrogando e
MICHELLA, esclarecendo que GISELE desceu pela escada principal
da casa, por onde o interrogando teria subido. Relatou que GISELE
só se encontrou com eles quando chegaram ao andar de baixo
(34:38) questionado porque GISELE teria dado a volta, afirmou que
foi por opção dela pois tinha espaço para todos (34:49) esclareceu
que GISELE chegou depois no momento em que estavam ajudando
MICHELLA a se levantar, tendo sido muito rápido. Disse que o
interrogando e NEUMA estavam levantando MICHELLA e GISELE
também foi ajudar, esclarecendo que foi só o ato, pois, MICHELLA
se levantou e GISELE falou para MICHELLA saírem de lá que depois
conversariam. (...) (35:53) questionado sobre o que aconteceu
depois que o interrogando ajudou MICHELLA a se levantar, o
interrogando narrou que MICHELLA saiu calmamente e que ela
queria ficar para conversar; (...) (37:11) narrou que MICHELLA saiu e
o interrogando foi na cozinha beber água e que, após tomar água,
voltou e abriu a porta tendo visto MICHELLA, GISELE e BENEUMA,
momento em que o interrogando chamou BENEUMA dizendo que
queria conversar com ela. Disse que MICHELLA perguntou "eu
também? ", tendo o interrogando respondido "Não, MICHELLA. Vai.
Sai daqui, por favor". Afirmou que queria conversar com BENEUMA
porque aquilo poderia ser um escândalo naquele momento; (38:03)
questionado se antes da conversa com BENEUMA, se ELIENE
estava na cozinha quando foi beber água, o interrogando disse que
não a viu, mas que no depoimento de ELIENE ela disse que estava lá
fora e realmente dá para ver da churrasqueira, mas não se recorda.
(38:36) questionado porque MICHELLA e GISELE o acusam de
agressão e que o interrogando teria ameaçado MICHELLA, bem
como questionado por qual motivo elas fariam isso, (39:22) o
interrogando respondeu que fica constrangido em imaginar que a
mãe de seus filhos, de quem cuidou, de quem muito amou, que a
conheceu como uma vítima de violência doméstica e o interrogando
tinha uma história de luta de direitos humanos, (...) (41:22) Afirmou
que acha que MICHELLA fez as denúncias porque não se
conformava, assim como não se conformou com a separação do
primeiro marido. Relatou que o primeiro marido foi testemunha e
apresentou uma fotografia falando de uma marca de Maria Eduarda
por perito que fez um exame; (...) (42:50) questionado como
ficaram as marcas em MICHELLA que a psicóloga e as testemunhas
viram, respondeu que em casa MICHELLA andava descalça e na rua
andava de sandália. Afirmou que MICHELLA disse que já tinha vindo
machucada de Orlando, tendo fotos disso, pois MICHELLA lhe
mandou essas fotos do whatsapp com uma marca no pé dela.
Afirmou que essas fotos não estavam acostadas nos autos, mas
que serão acostados, reiterando que são fotos que MICHELLA
mandou para o interrogando de Orlando imediatamente antes de vir,
mostrando que já estava com ferimento; (44:22) afirmou que não
tocou em MICHELLA, mesmo tendo MICHELLA falado que o
interrogando a pegou pelos cabelos e a rodou no chão. (44:31)
questionado porque motivo MICHELLA saiu e foi para um
consultório psicológico e um cartório com duas funcionárias prestar
declarações, o interrogando respondeu que só elas poderão
responder, mas afirmou que na delegacia MICHELLA disse que
estavam no quarto Gisele e Eliene, porque Eliene já havia dado uma
declaração dizendo que o interrogando falou em faca o que era uma
mentira; (...) (46:07) Afirmou que MICHELLA disse ao interrogando
dias antes que ou matava a NEUMA ou se s

uicidava e que, no próprio dia 23, MICHELLA tornou a repetir isso,


tendo MICHELLA gravado essa falado e enviado para o interrogando
ao meio dia, e que isso será juntado aos autos; (...) (52:55)
questionado se MICHELLA teria motivos para mentir sobre os fatos,
o interrogando respondeu que pode pensar a algo vinculado a
guarda de filhos e separação, mencionando alienação parental e
que tem uma ação robustíssima. (...) (54:36) questionado se
GISELE tinha motivos para mentir, o interrogando respondeu que
achava que não, pois GISELE confidenciava para o interrogando
muitas coisas, tendo passado a falar de MICHELLA, tendo achado
até que GISELE queria a separação do interrogando com
MICHELLA. Disse que teve uma relação com GISELE muito casual;
(...) (57:40) questionado se ELIENE tinha algum motivo fazer
declarações no cartório contra o interrogando, respondeu que
MICHELLA tinha os funcionários escolhidos aos quais presenteava
nababescamente. Recordou que um dia NALVINA apareceu com um
carro zero quilômetro. Afirmou que MICHELLA pegou todo o enxoval
do quarto do motorista e deu para ELIENE sem o conhecimento do
interrogando. Relatou que, ao examinar os documentos que ficaram
na casa, MICHELLA deu fogão, geladeira, televisão, o enxoval
completo para a casa de ELIENE. (59:04) questionado sobre
BENEUMA, relatou que BENEUMA foi a DRT, à Defensoria, à DEAM e
denunciou MICHELLA, esclarecendo que a DEAM arquivou, que
BENEUMA não conseguiu entrar com ação contra MICHELLA
porque o salário de BENEUMA era mais alto que o teto da
Defensoria Pública e que na DRT foi colocado que era caso de se
procurar advogados; (...) (01:09:27) questionado de como e quando
MICHELLA soube dos relacionamentos do interrogando com as
empregadas, declarou que, salvo engano, em 2012, quando foi
chamado por Eliana, psicóloga de Michella, para uma conversa, - a
qual Michella interpretou como uma terapia de casal, mas que o
intuito do interrogando era ajudar na terapia dela, pois a psicóloga
lhe disse que Michella estava com ideação suicida-, sabia que não
podia continuar assim. Afirmou que, mesmo bastante preocupado
com Michella, não sabendo precisar se no ano de 2012 para
2013,conversou com ela que queria seguirem sua vida e para que
ela não perguntasse mais se o interrogando tinha ficado com
mulheres, pois quando chegava em casa MICHELLA ia ver se ele
tinha cheiro e outras coisas, tendo o interrogando dito a MICHELLA
que se quisesse continuar não lhe perguntasse mais sobre isso e
que ele também não perguntaria para MICHELLA; (01:11:21) afirmou
que imaginava e já tinha conversado com MICHELLA sobre terem
um código de preservação, das pessoas não ficarem sabendo,
esclarecendo que o interrogando saia com pessoas e ela também;
(...) (01:14:23) afirmou não saber desde quando MICHELLA sabia do
caso do interrogando com GISELE, mas que há muito tempo.
Afirmou que, com relação ao caso com LUANA, provavelmente
MICHELLA soube quando ela tomou o celular de LUANA e a
agrediu; (...) (01:17:15) afirmou, com relação a testemunha SUIANE
que disse que ouviu o interrogando falar de faca quando tinha mais
duas testemunhas na casa. (...) (01:18:06) confirmou que teve um
relacionamento com LUANA e que MICHELLA soube disso quando
MICHELLA deu uma surra em LUANA.(...) (01:20:56) questionado se
o interrogando ouviu as gravações que estão nos autos das
conversas com MICHELLA, afirmou reconhecer sua voz e afirmou
que as gravações não foram submetidas a perícia como pediu.
Afirmou que pediu a perícia das gravações na DEAM, pediu os
originais por ali ter corte, início, meio, fim, com sonoplastia e que
ainda levaram a público, tendo o interrogando sido ameaçado e
coagido; (01:21:39) Relatou que a proposta de MICHELLA era que o
interrogando dividir o patrimônio com ela e mais um milhão de reais
por mês, por danos psicológicos e agressões físicas que o
interrogando teria feito, esclarecendo que o interrogando não fez
isso e, com relação a danos psicológicos, afirmou que Eliane, a
psicóloga de MICHELLA, cobrava o dobro do psicólogo que o
interrogando teve. (01:22:28) questionado porque MICHELLA iria
acusa-lo dos fatos se o próprio interrogando havia declarado que
havia dito a MICHELLA que não iria deixa-la desamparada, bem
como questionado porque o interrogando declarou que MICHELLA
preparou tudo isso para auferir ganhos financeiros por existir um
contrato de separação, esclarecendo que esse contrato foi
periciado e constatado que a assinatura era falsa, o interrogando
respondeu que o contrato não foi periciado. (01:23:04) novamente
questionado porque MICHELLA iria preparar tudo isso se o
interrogando disse que não iria desampara-la e que o interrogando
ofereceu para MICHELLA uma casa, sete milhões de reais, o
interrogando negou que tivesse oferecido isso a MICHELLA e que
era uma inverdade; (01:23:44) após o advogado da assistência a
acusação ter esclarecido que soube sobre a proposta de acordo
oferecida por ROBERTO a MICHELLA, feita por Marcelo, mediador e
negociador apresentad

o por ROBERTO, o interrogando confirmou que mandou o


negociador porque não queria que MICHELLA ficasse desamparada;
(01:24:34) Narrou que a proposta não chegou a todo esse valor,
mas que no ano passado foi feita uma mediação onde foi feita uma
proposta que envolvia um apartamento no noroeste de dois
milhões. Afirmou que, tanto não deixou MICHELLA desamparada
que pagava para MICHELLA, os filhos comuns e a filha de
MICHELLA valor que ultrapassa 60 mil reais por mês, todavia,
certamente esse valor não vai continuar para MICHELLA por
indignidade, pois MICHELLA manchou bastante a reputação do
interrogando. (...) (01:27:04) questionado sobre a declaração
prestada na delegacia, as fls. 196/197 e qualificado e interrogado as
fls. 275/274, confirmou que prestou declarações na polícia.
(01:27:22) questionado se teve conhecimento das declarações
prestadas por BENEUMA na polícia, as fls. 205/207, o interrogando
afirmou ter conhecimento de todos os depoimentos, tendo o
interrogando confirmado que achava que BENEUMA teria falado a
verdade no depoimento. (...)
Como se vê, todas às vezes que foi ouvido perante a autoridade
policial e em juízo, o acusado negou que tivesse agredido
fisicamente Michella. Todavia, não foi o réu capaz de apresentar
uma justificativa plausível para os machucados apresentados pela
vítima.
Nesta esteira, a simples negativa de autoria pelo acusado e a
tentativa de desqualificar a vítima alegando, dentre outras coisas,
traição, desvio de dinheiro, instabilidade emocional com histórico de
agressividade, não se reveste de solidez suficiente a impingir
qualquer dúvida acerca da efetiva prática da conduta ora apurada.
Com efeito, ao confrontar seu depoimento em juízo, na fase
inquisitorial e com as demais provas dos autos, verificam-se
importantes inconsistências e contradições que não deixam dúvidas
sobre o acusado ser o autor dos fatos narrados na peça acusatória.
Observe-se que o único relato a corroborar "parcialmente" a versão
do acusado, de que não agrediu Michella quando a expulsou de
casa, foram as declarações da governanta Beneuma Garcia Vinagre
da Silva. Todavia, ao se confrontar as declarações da funcionária,
evidenciaram-se tantas contradições que não há possibilidade de
elidir a convicção da magistrada de que o acusado agrediu a
companheira no dia dos fatos.
A alegação do acusado de que teria chegado nervoso em casa, por
estar preocupado em socorrer Beneuma, não se sustenta, pois, a
própria funcionária, quando ouvida em juízo, ao ser indagada sobre
se achava que ROBERTO queria lhe proteger, Beneuma negou e
disse acreditar que ROBERTO queria era fazer justiça com relação
ao que estava ocorrendo na casa (declarações Beneuma, áudio fl.
1187, 18:22)
Conquanto não se saiba ao certo o motivo do tamanho nervosismo
de ROBERTO no dia dos fatos, se porque pensou que Michella
queria pressionar Beneuma a não entregar os relatórios financeiros
das despesas da casa (fls. 197, declarações na polícia) ou se porque
ficou sabendo que Michella estava questionando a postura do
acusado em face das empregadas (interrogatório, 09:53), ressai
dos autos que, na ocasião, o acusado se descontrolou e, mediante
agressões físicas, ameaças e ofensas, colocou Michella para fora de
casa, mesmo tendo Beneuma afirmado que, naquele dia, não havia
sido ameaçada por Michella e que estavam apenas conversando.
Aliás, não passou despercebido que, mesmo Beneuma, em todas as
vezes que foi ouvida, tenha afirmado que, por ocasião dos fatos,
não foi ameaçada, agredida ou ofendida por Michella no dia
23.10.2017, causou estranheza que tenha feito constar da
ocorrência policial contra Michella, às fls. 210/213 que as condutas
a ela imputadas teriam ocorrido entre 01.06.2017 e 23.10.2017. De
igual forma, também não passou incólume e causou muita
estranheza que a testemunha Beneuma tenha afirmado ter ficado
muito abalada com a ameaça de Michella, tendo inclusive procurado
o Ministério Público (34:48) e, ainda assim, continuou trabalhando
para Michella por ROBERTO ter lhe garantido que Michella não iria
fazer nada contra ela (37:06), que Michella não sabia da ocorrência
policial que fez para se prevenir (38:24). (declarações Beneuma,
mídia fl. 1187)
Na delegacia, embora ROBERTO tenha afirmado que, quando
Michella se aproximou para conversarem, ele a afastou e a conduziu
para que saísse de casa, conduzindo-a pela escada (fl. 197), a
testemunha Beneuma, perante a autoridade policial, afirmou que viu
ROBERTO pegar Michella pelo braço e que viu ROBERTO empurrar
Michella próximo ao elevador (fls. 206/207), mas em juízo, alterou
as declarações para afirmar ter ficado o tempo todo entre o
acusado e Michella (declarações Beneuma, 07:15). Ora, se
Beneuma ficou entre o casal o tempo todo, o acusado não teria
como "conduzir" Michella pela escada.
Não bastasse isso, embora ambos, ROBERTO e Beneuma, tenham
afirmado que Michella tropeçou e caiu da escada por que estava de
salto, observa-se que o acusado afirmou que, quando da queda,
Michella s

e desequilibrou tendo o réu lançado os braços para abraçá-la, pois


ela fez como se fosse para frente. Esclareceu que Michella não caiu
do alto da escada, mas que deveria estar no terceiro degrau para o
final da escada, tendo caído sentada em um degrau e gritado "ai"
(interrogatório, 33:22). A testemunha Beneuma, por sua vez,
declarou, em juízo, que MICHELA tropeçou no último degrau, deitou
o pé, caiu, encostou na porta de vidro e sentou no chão
(declarações Beneuma, 20:02).
Cotejando essa aparente contradição entre as declarações de
ROBERTO e Beneuma, - da vítima ter caído sentada do terceiro
degrau ou de ter tropeçado do último degrau e, ao cair, encostado
na porta de vidro e sentado no chão-, o que resta evidenciado é
que o acusado e a funcionária estavam falando de momentos
diferentes, ou seja, das duas "quedas" de Michella na escada o que
apenas confirma a procedência da denúncia quando descreve no
primeiro e terceiro que o acusado derrubou Michella no chão mais
de uma vez e que, após as primeiras agressões, ainda a ameaçou.
Ressalte-se que, consoante as declarações da vítima acima
transcritas, ROBERTO a empurrou, a esmurrou e puxou seus
cabelos pela escada de serviço, tendo a declarante caído no meio
da escada, tendo em seguida, a empurrado novamente fazendo
com que a declarante caísse lá embaixo (declarações Michella,
05:24).
Com relação à presença de Giselle na dinâmica dos fatos, em que
pese o acusado e Beneuma tenham afirmado que, por ela ter
descido por outra escada só os encontraram quando Michella,
Beneuma e ROBERTO chegaram no andar de baixo, ROBERTO
afirmou que Giselle chegou no momento em que ele e Neuma
estavam ajudando MICHELLA a se levantar, mas que GISELE só fez
o ato, pois MICHELLA já tinha se levantado (interrogatório, 34:49).
Todavia, Beneuma afirmou que no momento em Giselle chegou, a
declarante e Giselle levantaram MICHELLA pelos braços
(declarações Beneuma, 20:12)
Não bastasse tantas contradições, não passou despercebido que o
acusado afirmou que não houve nenhum barulho com a queda de
Michella na escada, que ela teria gritado "ai" (interrogatório, 33:22).
Contudo, a cozinheira Eliene, em seu depoimento (mídia de fls.
1310) foi firme ao declarar que, da cozinha, ouviu quando ROBERTO
gritou para Michella "saia da minha casa" e, em seguida, ouviu
como se alguém tropeçasse e caísse (declarações Eliene,02:33) e
que ouviu o impacto como se estivessem descendo a escada,
tropeçasse e caísse (declarações Eliene, 03:07). Ora, se da cozinha
Eliene conseguiu ouvir o barulho da queda, não se mostra crível a
afirmação do acusado de que não houve barulho, mas que a vítima
apenas gritou "ai". Frise-se, ainda, que todas as vezes que Eliene foi
ouvida afirmou que, depois, ao encontrar a vítima viu que ela estava
com uma lesão na perna, tendo Michella afirmado que se machucou
quando ROBERTO a empurrou e ela caiu (declarações Eliene,11:47).
A par da fragilidade da versão apresentada pelo acusado, verifica-
se que não conseguiu apresentar justificativa plausível para os
machucados apresentados pela vítima no dia dos fatos.
Conquanto ROBERTO tenha apresentado as fotografias de fls.
1414/1415 e 1474/1477 que evidenciam que Michella teria se
machucado anteriormente aos fatos, essas imagens, por si só, não
elidem a certeza de que, no dia 23.10.2017, a vítima foi agredida por
ROBERTO. Ademais, ainda que as agressões perpetradas pelo
acusado não tivessem deixado marcas, sabido que para
configuração da contravenção de vias dos fatos não é necessário
que deixem marcas ou vestígios.
Com efeito, conforme lição de Marcelo Jardim Linhares, citado por
Guilherme de Souza Nucci, em seu livro Leis Penais e Processuais
Penais Comentadas, volume 1, Revista dos Tribunais, p. 129:
"[...] Em síntese, vias de fato são a prática de perigo menor, atos de
provocação exercitados materialmente sobre a pessoa, ou contra a
pessoa. Assim, empurrá-la sem razão, sacudi-la, rasgar-lhe a roupa,
agredi-la a tapas, a socos ou a pontapés, arrebatar-lhe qualquer
objeto das mãos ou arrancar-lhe alguma peça do vestuário, puxar-
lhe os cabelos, molestando-a [...]".
Em sendo assim, não apenas o ato de puxar a companheira pelo
braço, empurrá-la, puxar os cabelos, dentre outros, configura-se a
conduta descrita no art. 21 do Decreto-lei nº 3.688/41.
Na oportunidade, verifica-se que na mídia de fls. 229,
especialmente nos arquivos intitulados de "WhatsApp áudio
2016.06.07 at 18.03.32" e "WhatsApp áudio 2016.06.07 at 18.03.32
(1)" consta conversa entre a declarante e a funcionária Suiane Teles
Pereira em que a funcionária afirma, respectivamente, que viu o
acusado gritando que ia colocar Michella para fora e, pegando-a
pelo pescoço e saiu empurrando a vítima para fora, tendo
presenciado quando ROBERTO estava empurrando Michella,
puxando-a pelo cabelo.
Convém destacar que, mesmo não tendo a funcionária Suiane sido
ouvida na fase inquisitorial ou em juízo, a presença dela no
momento dos fatos foi confirmada por Michella, por Giselle,

por Beneuma e pelo próprio acusado, o qual, inclusive, juntou


degravação de longa conversa que teve com Suiane
posteriormente, exatamente para que ela esclarecesse sobre a
conversa que ela tinha tido com Michella (fls. 1424/1452).
Ocorre que, ao contrário da pretensão do acusado, verifica-se pela
mídia de fls. 1037 e o laudo pericial de fls. 1038/1054, a transcrição
do diálogo entre Michelle e Suiane, em que a funcionária afirma
expressamente que presenciou quando o casal estava descendo a
escada, tendo visto ROBERTO dizendo com palavrões que iria
colocar a vítima para fora de casa, tendo a pegado pelo pescoço e a
empurrado para fora. Consta no mencionado laudo pericial (fl.
1040/1042), dentre outras, a transcrição da conversa constante na
mídia que foi entregue na delegacia (fls. 229), os prints que também
foram acostados as fls. 227/228.
Noutro giro, a somar com a narrativa da vítima, de Giselle e de
Eliene, acima transcritas, há também as declarações da psicóloga
Eliane de Almeida, da escrevente notarial Narla Raiany de Oliveira
Silva e da tabeliã Alice Emiliana Ribeiro Brito, testemunhas que,
embora não tenham presenciado os fatos, encontraram com
Michella na mesma data e a viram machucada.
Pois bem. Incontroverso que depois que Michella saiu de casa,
amparada por Giselle, aguardaram pela funcionária Eliene e foram
se encontrar com a psicóloga Eliane de Almeida.
Ouvida, em juízo, a psicóloga Eliane, após esclarecer que não
poderia falar sobre a questão pessoal de Michella e do acusado -
por já ter prestado atendimento a eles -, confirmou que no final da
manhã do dia dos fatos, atendeu Michella e as funcionárias Gisele e
Eliene em seu consultório. Afirmou que as três estavam muito
nervosas e contaram que Michella teria sido agredida e empurrada
de uma escada por ROBERTO. Confira-se (mídia fl. 1327):
"(...) (03:30) confirmou que MICHELLA autorizou a declarante a
falar sobre os fatos do ocorrido no dia 23. Afirmou que, no final da
manhã do dia 23, estava atendendo outras pessoas no consultório,
tendo Michella, juntamente com a cozinheira Eliene e, salvo engano,
a babá foram ao consultório da declarante. Esclareceu que, por seu
consultório ficar perto da residência de MICHELLA, uma das
funcionárias de Michella sugeriu irem na declarante. (04:56) relatou
que atendeu as três, pois as três entraram na sala da declarante e
estavam muito nervosas. Disse que elas contaram de uma forma
meio atabalhoada o que tinha acontecido. Recordou que as três
narraram os fatos juntas, mas a que estava mais nervosa era a
senhora mais idosa, salvo engano a cozinheira. Afirmou que não
sabe individualizar quem falou o que, mas que o relato foi que
houve uma agressão a MICHELLA e que MICHELLA teria sido
empurrada de uma escada. (06:21) afirmou que viu que MICHELLA
apresentava uns ferimentos nas pernas e no pé, tinham roxos no
joelho, um pouco abaixo da perna e no tornozelo. (06:51) reiterou
que a senhora mais velha estava mais nervosa e queria ir para a
delegacia, mas MICHELLA não queria, tendo a declarante falado
que essa decisão de fazer o relato na delegacia deveria ser da
MICHELLA. Narrou que a senhora se acalmou e, então disse que iria
fazer o que MICHELLA dissesse para ela fazer. Afirmou que deu um
branco com relação a outra pessoa. (07:54) questionada se houve
divergência entre as três sobre como ocorreram os fatos, afirmou
que não notou divergência, pois elas falavam a mesma coisa. Disse
que MICHELLA estava preocupada porque não queria, naquele
momento, tornar público o que tinha acontecido. Afirmou que
enquanto elas estavam colocando toda a situação, MICHELLA ligou
para algumas amigas que depois ligou para um advogado, pois a
declarante disse a MICHELLA que não sabia como fazer a
orientação e era MICHELLA quem tinha que tomar a decisão,
recordando que, naquele momento, a decisão de MICHELLA era de
não ir na delegacia. (09:03) a senhora mais velha que queria ir para
a delegacia disse que era uma coisa muito violenta, muito triste e
que nunca tinha presenciado uma coisa assim e, por isso, achava
que não podia deixar de ir na delegacia; (09:32) relatou que essa
senhora disse que MICHELLA foi empurrada, foi agredida. Afirmou
que não se recordar de quem falou da ida de ROBERTO até a
cozinha com a tentativa de pegar ou não uma faca, mas recorda de
ter havido esse relato, embora não saiba se houve a confirmação de
ROBERTO ter pegou uma faca e atentado contra MICHELLA, mas
pode falar que houve o empurrão e os machucados que havia na
perna da outra pessoa e na perna da MICHELLA . (10:28) Confirmou
que eram duas pessoas machucadas, MICHELLA e a outra pessoa
da qual não se recorda o nome, mas que essa pessoa que também
estava machucada relatou que estava machucada por ter ido ajudar
a proteger MICHELLA e nessa ajuda, por descontrole, ROBERTO
tenha atingido ela. (11:03) afirmou que houve um descontrole
emocional e, provavelmente físico, de todas as pessoas envolvidas
na situação. Relatou que aquela pessoa provavelmente ter

ia recebido o golpe porque entrou na briga do casal e também se


machucou. (12:02) Relatou que pareceu pelos relatos das três que a
briga foi verbal e física. (...) (13:21) questionada se alguma das
funcionárias parecia estar lá obrigada por MICHELLA, afirmou que
não lhe pareceu que estivesse lá contra a vontade. (...) (18:39)
afirmou que sobre a história da faca quem falou mais precisamente
foi a senhora mais idosa e a babá. Esclareceu que MICHELLA falou
mais sobre o empurrão, a queda, aonde ela tinha se machucado.
Esclareceu que não havia cortes na pele, mas estava meio roxo e
inchado como quando você leva uma pancada localizados no
tornozelo e um pouco acima na perna. (19:45) afirmou que não tem
conhecimento se era lesões recentes ou não. (20:19) questionada
se as funcionárias disseram se presenciaram ROBERTO empurrar
MICHELLA na escada afirmou que as funcionárias de MICHELLA
disseram que, se não presenciaram, escutaram e foram acudir
MICHELLA. (20:43) relatou que poderia concluir que as funcionárias
assistiram, mas pode ser que as funcionárias apenas ouviram, pois
foram em defesa de MICHELLA ou porque ouviram ou porque viram.
(22:38) negou que tivesse recebido qualquer orientação do
advogado de MICHELLA.

Ao ser ouvida em juízo, Alice Emiliana Ribeiro Brito, tabeliã no


estado do Maranhão, ratificando as declarações prestadas perante
a autoridade policial (fl. 246/247), afirmou que no dia dos fatos teve
que interromper o almoço com a amiga e advogada Carla para irem
até o escritório de Carla para que a amiga atendesse Michella.
Afirmou que a vítima estava acompanhada de três funcionárias e
estavam apavoradas, pois temiam o acusado. Disse que Michella
apresentava machucados e escoriações, ressaltando até que, no
hematoma do pé tinha sangramento. Narrou que, após Carla
esclarecer que Roberto poderia até ser preso se fosse à delegacia,
Michella decidiu não ir. Relatou que, então, a fim de preservar as
provas, Carla orientou que Michella e as funcionárias fossem ao
cartório para prestar declarações. Disse que, além de tê-las
acompanhado ao Cartório JK, presenciou grande parte das
declarações prestadas por elas, especialmente para verificar se o
que elas tinham falado era o mesmo que falaram quando estavam
no escritório de Carla. Vejamos (mídia fls. 1.187):

"(...) (00:35) afirmou que até o dia dos fatos não conhecia
MICHELLA, tendo passado a conhecê-la após os fatos quando
identificaram algumas pessoas de amizade comum. Afirmou que
agora conhece MICHELLA, mas não tem amizade; (01:24)
confirmou que prestou declarações na DEAM e que suas
declarações correspondem a verdade; (01:43) Confirmou que
acompanhou a vítima e algumas pessoas até o cartório,
esclarecendo que estava almoçando com CARLA em um
restaurante no lago sul quando CARLA recebeu o telefonema de
uma amiga pedindo que ela atendesse uma pessoa como cliente e
que era emergência, tendo CARLA dito que não poderia terminar o
almoço e como a declarante estava de carona com CARLA foram
para o escritório de CARLA. Afirmou que quando chegaram no
escritório chegaram junto com um carro onde tinha várias mulheres
e essas mulheres estavam chorando bastante e como entrou no
escritório junto com elas não tinha como não ouvir o que tinha
acontecido. (02:58) Narrou que uma das mulheres estava um pouco
machucada e que uma outra passou mal, tendo até sido um
remédio para essa mulher. Relatou que CARLA estava conversando
com MICHELLA e a orientando, pois MICHELLA queria ir na
delegacia imediatamente, mas CARLA disse que se fossem na
delegacia o marido de MICHELLA poderia ser preso e isso poderia
ser ruim para MICHELLA e para os filhos. Disse que CARLA também
disse que seria bom preservar as provas e, como essa questão de
preservar as provas, CARLA perguntou se a declarante poderia
acompanha-las ao cartório, tendo a declarante concordado. (04:11)
A declarante afirmou que, em razão de sua profissão, sabia que
para preservar as provas seria interessante pois a coisa tinha
acabado de acontecer e, por isso, as pessoas acabam lembrando
de fatos e situações que seriam relatados e comprovados na hora.
(04:33) relatou que as acompanhou até o Cartório JK. (04:35)
afirmou que MICHELLA estava machucada, mas tinha uma outra
mulher reclamando de dor no dedo e no pé, pois teria se envolvido
na confusão da briga de marido e mulher. Ressaltou que não estava
presente na briga de marido e mulher, mas que presenciou o relato
dessas mulheres. Afirmou que também tinha uma outra mulher, a
cozinheira, que estava passando mal e teve que tomar um calmante.
Relatou que havia 04 mulheres, MICHELLA, a cozinheira, a
motorista e uma outra que usava óculos. (05:35) Afirmou que todas
as mulheres eram unânimes de que tinha acabado de acontecer um
fato na casa de MICHELLA e que esse fato era uma briga da
MICHELLA com o marido; (...) (07:22) afirmou que as mulheres
comentaram que estavam com muito medo porque ROBERTO era
uma pessoa muito violenta, muito bruto, muito poderoso e que elas
tinham medo des

sa situação e medo de ROBERTO; (...) (08:28) esclareceu que


chegando no cartório se identificou para a colega NARLA (...)
(09:00) narrou que NARLA gravou o que as mulheres falavam,
tendo a declarante ficado ao lado de NARLA e ouvido o que todas
falaram individualmente; (...) (10:15) afirmou que no dia do fato
chegou a ver MICHELLA com hematomas, esclarecendo que não foi
só o que elas falaram, pois viu hematomas nas pernas de
MICHELLA; (...) (11:08) Esclareceu que é tabeliã titular concursada
desde 2009; (11:31) confirmou que viu hematomas em MICHELLA
nas pernas e nos pés e que, inclusive estava com a pele do pé
levantada, esclarecendo que foi nesse dia que elas chegaram lá e
falaram que os hematomas eram em razão dessa briga. Afirmou que
MICHELLA estava de calça jeans e levantou a calça jeans
(demonstrando por gesto até onde MICHELLA conseguiu levantar a
calça jeans) e que também viu hematoma no peito do pé com a pele
bastante levantada. Esclareceu que no hematoma dos pés tinha
sangramento, não se recordando a cor dos hematomas nas pernas;
(12:29) esclareceu que foi pega de surpresa com aquela situação,
tendo ficado emocionada e um pouco constrangida e, então,
quando MICHELLA tentou levantar um pouco mais a perna e
reclamou que estava doendo, a declarante disse que não
interessava ver, pois infelizmente estava no lugar errado na hora
errada; (...) (14:40) Afirmou que permaneceu no cartório o tempo
todo e se recorda que o cartório estava quase fechando quando
saiu de lá. (14:50) Relatou que a escrevente já ia digitando,
escrevendo e gravando, mas não se recorda se no final as mulheres
assinaram, pois quando as mulheres terminaram de falar, a
declarante saiu da sala para responder algumas coisas do trabalho,
(...) (15:54) afirmou que quis ficar lá para ouvir até para ter certeza
se aquele fato era o que elas tinham lhe falado era o que tinha
ouvido delas sobre aquela situação, tendo ouvido prestando
atenção e verificado que no período que elas falavam, algumas
aumentaram um pouco mais, mas o foco da situação era o mesmo.
Disse que quando verificou isso acreditou que sua presença ali era
dispensável; (...) (17:18) Afirmou que CARLA não entrou com as
pessoas que iam prestar declaração, esclarecendo que quem
permaneceu no local foi a declarante; (...) (17:48) Disse que CARLA
deixou as pessoas no cartório com a declarante e NARLA e quando
subiram para o segundo andar, recorda que CARLA foi embora,
reiterando que quem ficou na sala foi a declarante e NARLA, não se
recordando da CARLA lá de jeito nenhum, ressalvando que apenas
quando a declarante já estava do lado de fora, preparando para ir
embora, foi que CARLA chegou para levar algum dinheiro; (...)
(20:10) afirmou não ter conhecimento para julgar os hematomas,
não podendo dizer se eram ou não dessa situação, pois não viu o
fato, não presenciou o fato e nunca foi na casa, mas que o que viu
foi a situação que chegou lá e o que elas falaram e mostraram. (...)
(21:47) relatou que MICHELLA disse que estava conversando com
uma pessoa no telefone e que nesse exato momento ROBERTO
entrou em casa tomou o telefone dela, brigou com essa pessoa e
brigou com MICHELLA também ocasionando uma discussão entre
eles e que dessa discussão começou a briga, sendo que dessa
briga ROBERTO disse que ia matá-la. (22:27) Recorda que
MICHELLA falou de uma escada na briga e que ele teria empurrado
ela dessa escada. Narrou que MICHELLA não comentou como era
essa escada ou de que tamanho era essa escada ou onde ela
estava na escada, mas que MICHELLA falou dessa briga e que não
era a primeira vez que brigaram. Disse que MICHELLA chorava
bastante, mostrava os hematomas e, salvo engano, teve uma briga
com uma funcionária, lembrando que tinha uma história de uma
funcionária pelo meio e que parece que o acusado estava tendo um
relacionamento com essa funcionária e que MICHELLA estava
questionando isso, se o acusado estava ou não tendo um
relacionamento paralelo com a funcionária e que foi disso que gerou
essa briga e essa confusão toda. (24:05) recordou que a outra
mulher que estava machucada falou que se machucou para separar
a briga, comentando que ROBERTO estava batendo em MICHELLA
no momento em que ela segurou ele, mas que ele era muito forte e
ela acabou se machucando.
No mesmo sentido foram as declarações da escrevente notarial
Narla Raiany de Oliveira Silva. Em juízo, afirmou que recebeu
Michella e as funcionárias dela no cartório, esclarecendo que a
vítima chegou machucada nos pés e nas pernas, tendo Michella
declarado que os machucados decorreram de ter sido empurrada
da escada pelo marido. Afirmou que esse fato constou da ata
notarial e esclareceu que esse documento além de atestar que a
vítima estava machucada também teve conteúdo declaratório
porque Michella quis declarar o motivo dos machucados. Com
relação às declarações das funcionárias, a testemunha afirmou que
os relatos foram gravados e que, posteriormente, fez a degravação
para as respectivas escrituras declaratórias. Confira-

se (mídia de fls. 1.327)

(...) (00:30) Afirmou que não presenciou os fatos, tendo conhecido


MICHELLA no dia em que foi ao cartório fazer uma ata notarial
prestando as declarações para a depoente; (01:01) confirmou que
recebeu MICHELLA e as testemunhas no cartório e, pelo que se
recorda, pois salvo engano os fatos ocorreram em 2017, MICHELLA
estava chorando e estava junto com funcionárias, tendo MICHELLA
falado que as funcionárias queriam fazer algumas declarações.
Relatou que as funcionárias queriam fazer as declarações
separadamente, em uma sala reservado, porque disseram que se
tratava de um caso mais delicado, tendo a declarante as recebido
cada uma particularmente e no momento em que elas prestaram as
declarações ficaram um pouco emocionadas. (02:02) esclareceu
que as testemunhas ficaram juntas fora da sala, mas na hora da
declaração foram separadas; (02:17) confirmou que as testemunhas
sentaram e lhe contaram a história. Afirmou que não fez perguntas,
tendo se limitado a ouvir e gravar, tendo mais tarde feito a
degravação. Afirmou que posteriormente, em outra data as
testemunhas foram ao cartório e após lerem, a declarante lavrou o
ato e elas assinaram. Esclareceu que no momento da lavratura da
ata de MICHELLA sequer teve contato com MICHELLA, tendo a
depoente justificado que estava de licença-maternidade. (02:51)
questionada se tinha visto alguma lesão em MICHELLA, afirmou que
foi constatada na ata de MICHELLA que no dia em que MICHELLA
foi ao cartório MICHELLA estava com lesões, escoriações nos pés e
nas pernas, ressalvando que não sabe de que advinham os
machucados. Narrou que ainda perguntou para MICHELLA se ela
queria que constasse fotos das lesões na ata notarial, mas por
vontade de MICHELLA as fotos não foram constadas. (03:40)
relatou que uma das testemunhas estava mais agitada, salvo
engano era a cozinheira, recordando que essa testemunha estava
mais agitada e chorou. (04:03) Relatou não se recordar o nome da
cozinheira e nem descreve-la fisicamente, mas recorda ter dois
contatos com ela, no dia que ela foi fazer a declaração e no dia em
que ela foi assinar, por ter sido a declarante que colheu, tendo
afirmado não ter colhido a assinatura de MICHELLA por já estar de
licença. (04:35) Afirmou que no dia que as testemunhas foram já
era um horário avançado, perto do horário de fechar o cartório,
esclarecendo que as testemunhas retornaram ao cartório em data
bem posterior, quase um mês depois; (04:47) questionada se essa
testemunha quando foi assinar manifestou se queria mudar o
depoimento da escritura declaratória, afirmou que, pelo que se
recordava, essa testemunha não quis mudar as declarações quando
retornou ao cartório para assinar. Esclareceu que normalmente
imprime um rascunho para serem lidas e, se necessário, faz alguma
correção ou alteração para acrescentar ou retirar lavrando o
documento apenas com a autorização da parte. (05:23) Reiterou
que deve ter decorrido aproximadamente um mês da oitiva e
lavratura do ato, não sabendo precisar. (05:54) afirmou que a ata foi
lavrada e assinada por Michella no dia 13.04.2018, esclarecendo
que a depoente já estava de licença no dia 13.04.2018. (06:06)
afirmou que elas todas compareceram no cartório em outubro de
2017, esclarecendo que MICHELLA também compareceu ao cartório
em outras datas para fazer novas declarações, por umas duas ou
três vezes, mas não concluiu as declarações enquanto a depoente
estava no cartório. (06:33) Afirmou que Michella concluiu as
declarações quando a declarante já não estava mais no cartório, por
conta da licença-maternidade, esclarecendo que a depoente ficou
afastada do cartório por seis meses. (06:52) confirmou que fez uma
gravação, degravou o conteúdo e que acreditava que a gravação
continua preservada pelo cartório, esclarecendo que, normalmente,
a gravação que faz não é para ser publicizar, mas, sim, para auxiliar
a declarante para não deixar passar nada do que as partes falaram.
(07:20) questionada se é um procedimento comum do cartório de
fazer a gravação e depois o escrevente faz a transcrição, afirmou
que eventualmente é feito esse procedimento, especialmente para
ata notarial. Confirmou que o procedimento do cartório é manter as
gravações preservadas; (07:53) Afirmou que não participou da
lavratura da ata notarial de Michella, mas confirmou que fez a oitiva
de MICHELLA e fez as declarações que MICHELLA quis fazer
naquele momento, mas que depois MICHELLA quis fazer umas
declarações que, inclusive não consta da ata porque depois
MICHELLA desistiu de colocar na ata. (08:31) questionada se isto
está gravado, a depoente afirmou que isso não consta da ata
porque não foi publicizado, esclarecendo que só fica gravado no
cartório o que é publicizado, pois o que não é publicizado é
descartado. (...) (16:57) recordou que os machucados que viu em
MICHELLA da primeira vez que MICHELLA foi no cartório foi na
perna e no pé. (17:10) Afirmou que MICHELLA disse que tinha caído
da escada porque estava em uma discussão com o mari
do e que o marido tinha empurrado ela da escada; (17:40) afirmou
que nenhuma das testemunhas parecia estar coagida de estar lá
prestando as declarações; (18:00) afirmou que aparentemente não
parecia que elas tinham combinado sobre o que iam declarar, mas
que elas sabiam mais ou menos o que a outra sabia achando que
elas conversaram entre si e porque estavam presentes, reiterando
que não parecia que tinham combinado.

Importante também o depoimento da testemunha Maria da Graça


Sabino Miziara, amiga de Michella, a qual, confirmando as
declarações prestadas na fase inquisitorial (fls. 244/245), confirmou
que indicou a advogada Carla quando procurada por Michella no dia
dos fatos. Afirmou que Michella lhe telefonou para pedir ajuda,
dizendo que estava apavorada porque ROBERTO a tinha colocado
para fora de casa, sem dinheiro e documentos. A testemunha
narrou, também, que uns dois dias depois do ocorrido, encontrou
com a vítima e, ao vê-la com os pés machucados a questionou,
tendo Michella confirmado que os hematomas decorriam do
episódio com ROBERTO. Afirmou que Michella também disse que
demorou para fazer a ocorrência por medo e por ROBERTO ser
muito poderoso (mídia fls. 1.187).
Não bastasse a prova oral acima analisada, importante trazer a lume
a ata notarial feita a pedido de Michella perante a escrevente
notarial Narla Raiany de Oliveira Silva, onde, conforme explicado
pela tabeliã nas declarações acima transcritas (11:56) atestou que
Michella chegou no cartório com machucados e, em ato contínuo, a
vítima fez as declarações afirmando que o acusado a teria
machucado. Confira-se (fls. 18/19 ou 41/42):

(...) solicitando a lavratura da presente Ata Notarial pela escrevente


notarial no uso das atribuições que me confere a legislação vigente,
sob fé pública que sou detentora, para que torne-se público, com o
objetivo de constatar alguns fatos, imparcialmente, sem opinião,
juízo de valor ou conclusão para relatar que: I- Que aos vinte e três
dias do mês de outubro de 2017 (23/10/2017), às 16h00min, a
solicitante compareceu a esta Serventia na companhia de suas
funcionárias Nalvina Pereira de Souza, Giselle Resio Guimaraes,
Eliene Lima da Silva, que estavam muito nervosas e assustadas, o
depoimento das três foram feitos de forma individual, em sala
isolada e sem a presença desta declarante. Compareceu ainda em
minha presença a Alice Emiliana Ribeiro Brito que se identificou
como tabeliã do Estado do Maranhão. A solicitante estava muito
nervosa no momento de sua chegada a esta Serventia e me
mostrou vários machucados e escoriações em suas pernas e em
seus pés e afirma não ter tido mais ferimentos porque estava com
blusa fechada que a protegeu. Por ela me foi declarado que neste
dia havia sido agredida fisicamente por seu marido, Roberto, e que
as escoriações em seu corpo foram resultado da referida agressão
e a Gisele que estava presente e Eliene confirmaram. Declarou que
embora ele sempre se descontrolasse apenas quando estavam a
sós e no ambiente do quarto para não deixar vestígios e
testemunhas e que este nunca havia perdido o controle de agredi-la
fisicamente em frente a amigos ou empregados, mas que já a tinha
chegado de algumas coisas em frente de alguns empregados,
inclusive estas três afirmaram que o viam constantemente tratando
a declarante com ignorância e de forma muito grossa. No entanto,
neste episódio ele chegou muito nervoso em casa porque a
declarante conversava com a governanta, e ele entrou no quarto e a
empurrou de cima do quarto do casal até a porta da rua,
empurrando-a de lá até em baixo, empurrando-a da escada e com
algumas violências, físicas, que a Gisele e Beneuma tenteavam
impedir em vão e que inclusive a declarante caiu e que ele tentou
agredi-la, mas Gisele se colocou a frente e pegou na coxa desta e
ficou roxo em Gisele e em um dos momentos ameaçou a solicitante
dizendo que pegaria uma faca e ele chegou a ir até a cozinha, abrir
a gaveta, mas as três funcionárias o impediram. Em seguida o fato
foi confirmado por sua funcionária Eliene Lima da Silva, cozinheira
de sua casa e também por Gisele que presenciara estas cenas,
chegaram abaladas e emocionadas e registraram tudo em uma
escritura declaratória lavrada por mim, Escrevente Notarial, nesta
serventia no livro 4280-E, VI- que, declarou que após a agressão
física e moral feita por seu marido, Sr. Roberto, no dia 23/10/2017,
saiu de casa acompanhada de Gisele que dirigia o carro e Eliene. A
solicitante afirmou que teve medo de ir à delegacia, pois, além de
não querer terminar o casamento, sempre foi dependente financeiro
e emocionalmente do marido e também tinha medo da repercussão,
já que ele era pessoa reconhecida internacionalmente e dizia que se
ela fosse à delegacia, ele acabaria com a reputação dela. (...)
Vale lembrar que, ainda que a ata notarial não substitua a prova
perante o poder judiciário, o caput, do art. 405 do Código de
Processo Civil estabelece que "o documento público faz prova não
só da sua formação, mas també

m dos fatos que o escrivão, o chefe de secretaria, o tabelião ou o


funcionário declarar que ocorreram na sua presença".
Nesta esteira, desprovido de qualquer sentido o item 1 das
"considerações" feitas pela Defesa do acusado, à fl. 1998, de que
"as informações da ata notarial de Michella não foram colhidas no
dia dos fatos", pois, como visto, constou na própria ata notarial que
a tabeliã Narla Raiany atestou o comparecimento de Michella ao
Cartório, junto com suas funcionárias, no dia 23.10.2017 para
prestarem declarações,".
Ressalte-se que além do mencionado documento ter fé pública,
corrobora o seu conteúdo os depoimentos da vítima e das
testemunhas afirmando que Michella, no dia dos fatos, ao invés de
ir à delegacia de polícia foi ao Cartório JK para prestar declarações.
Não bastasse isso, com relação às escrituras públicas das
funcionárias que acompanharam a vítima ao cartório JK, conforme
perícia realizada pela própria Defesa do acusado, as fls. 1564/1601,
constatou-se que a coleta das respectivas declarações constantes
nos áudios periciados, preservados pelo cartório extrajudicial,
ocorreram no dia dos fatos, dia 23.10.2017, demonstrando que
tinham encadeamentos lógicos que não caracterizavam edição.
Noutro giro, para que não reste dúvidas sobre a lisura da ata
notarial, importante transcrever trecho do depoimento de Narla
Raiany, em que a tabeliã, ao ser questionada sobre as declarações
de Michella na ata notarial de fls. 41/42, esclareceu que a legislação
lhe autoriza a atestar um fato e, ato contínuo, que a solicitante faça
uma declaração, como no caso. Na oportunidade a tabeliã também
esclareceu que, embora as declarações de Michella tenham sido
reduzidas a termo no dia 23.10.2017, o documento só foi lavrado em
13.04.2018, quando Michella quis torna-lo público. Confira-se (mídia
de fls. 1327):
(...)(08:55) Afirmou que o documento de fls. 41/4 é uma ata notarial
com conteúdo da declaração de Michella, esclarecendo que na ata
notarial é atestado um fato e na escritura declaratória a pessoa faz
as declarações. (09:25) Esclareceu que nessa ata notarial atestou
que MICHELLA chegou com machucados e, ato continuo,
MICHELLA fez as declarações onde MICHELLA afirma porque
chegou no cartório machucada, esclarecendo que não faz parte das
declarações de Michella (09:43) questionada se na ata notarial
atestou a declaração feita por Michella, a depoente afirmou que não
pode afirmar que o fato declarado por MICHELLA é verdadeiro.
Esclareceu que a única coisa atestada de falto pela depoente na ata
notarial foi que MICHELLA chegou com ferimentos. (10:06) Afirmou
que, como não poderia atestar esses ferimentos em uma escritura
declaratória porque em uma escritura declaratória não se atesta
fatos, mas que, como MICHELLA disse que queria falar o porquê
dos machucados teve que se fazer, em ato contínuo, uma
declaração. (10:20) Afirmou que isso foi feito onde MICHELLA
afirmou o porquê dos machucados. (10:24) questionada porque as
declarações de Michella constam de um documento intitulado ata
notarial, a depoente afirmou ser possível fazer a ata notarial da
forma que foi feita. (10:32) Afirmou que foram feitos dois
documentos diferentes, esclarecendo que os documentos
assinados pelas funcionárias de MICHELLA são intitulados
escrituradas declaratórias. (10:43) Confirmou que na ata notarial de
MICHELLA tem um misto de ata notarial com conteúdo declaratório.
(10:52) questionada se a ata notarial de Michella estaria fora dos
limites do conceito jurídico de ata notarial, a depoente afirmou que
a doutrina, a legislação e o provimento do TJ permite fazer ata
notarial com conteúdo declaratório; (11:21) questionada se Michella
voltou ao cartório quando a depoente estava no gozo de licença-
maternidade, a depoente esclareceu que no dia da lavratura da ata
de MICHELLA, ou seja, no dia em que o ato foi tornado público, a
depoente estava no gozo da licença-maternidade, esclarecendo
que no dia que começou a ser realizado o ato em que MICHELLA
fez as declarações, o ato foi praticado pela depoente. Ressaltou que
a depoente apenas não fez a lavratura do ato; (11:56) confirmou que
estava de licença no dia treze de abril e que o ato lavrado às fls.
41/42 não foi assinado pela depoente. Esclareceu que como foi a
declarante que atestou não se pode alterar esse fato, reiterando
que não assinou o documento. (12:19) questionada que consta do
documento "Dou fé. Narla Raiany de Oliveira Silva, Escrevente
Notarial. Eu, Marco Antônio Barreto de Azevedo Bastos Júnior,
Tabelião Substituto subscrevo", a depoente confirmou que foi ela
quem deu fé, afirmando que quem ouviu, quem fez o ato em
23.10.17 foi a depoente. Afirmou que apenas não lavrou o ato, não
constando sua assinatura no documento por não ter lavrado o ato;
(13:14) questionada se gravou as declarações de Michella em
outubro de 2017, a depoente afirmou que que gravou apenas as
declarações das funcionárias, esclarecendo que, com relação a
Michella a depoente fez por não ser muita cois

a. Afirmou que quando lavrou o ato das funcionárias foi que inseriu
as informações na ata das escrituras declaratórias das funcionárias.
(13:44) Afirmou que fez o ato inteiro de Michella, mas que depois
MICHELLA foi lá para fazer novas declarações, todavia ela se
arrependeu e não quis mais inserir essas declarações porque
também não daria para fazer um ato com duas pessoas fazendo, ou
seja não daria para MICHELLA fazer declarações para a depoente e
para outro funcionário, pois não tem como duas pessoas atestando
um fato; (14:16) confirmou que gravou as declarações das
empregadas pois se tratava de escrituras declaratórias; (14:22)
questionada se gravou as declarações de Michella naquele dia,
esclareceu que poderia verificar se gravou as declarações de
MICHELLA, esclarecendo que naquele dia, não colheu informações
de MICHELLA; (14:32) questionada se fez a ata notarial de Michella
no mesmo dia em que ouviu as empregadas, em 23.10.2017, no dia
em que gravou os depoimentos delas ou em data posterior, a
depoente respondeu que fez a ata notarial em momento posterior;
(14:48) questionada porque não imprimiu as declarações de
Michella reduzidas a termo naquele mesmo dia, a depoente
respondeu que só pode fazer a lavratura com a autorização do
cliente, mas mesmo estando presente e naquele dia, MICHELLA não
autorizou a lavratura do ato. (15:01) Explicou que quando alguém vai
ao cartório e diz que quer fazer um ato, a declarante faz o ato,
imprime o rascunho e pergunta se a pessoa autoriza que o ato seja
lavrado, esclarecendo que sem autorização do cliente, o ato não
pode ser lavrado pois o ato tem que ser pago e assinado; (15:20)
confirmou que o ato feito com MICHELLA ficou no computador da
depoente e quando MICHELLA retornou ao cartório para assinar o
ato, em abril, a depoente estava de licença, tendo o colega da
depoente lhe telefonado informando que MICHELLA estava no
Cartório e queria lavrar a ata notarial dela, tendo a depoente
autorizado ao colega que lavrasse o ato, desde que não existisse
nenhuma modificação. (15:40) Esclareceu que não teria problema
se MICHELLA quisesse fazer modificação nas as próprias
declarações, mas que não poderia ter nenhuma alteração nas
declarações da depoente; (...)
Com efeito, com relação à ata notarial não ter sido lavrada no
mesmo dia em que foram colhidas as declarações de Michella, dia
23.10.2017, devidamente esclarecido pela cartorária, de forma bem
didática, que a vítima só autorizou a lavratura da ata notarial em
13.04.2018, mesmo dia em que Michella registrou a ocorrência
policial contra o ora acusado.
Frise-se que, todas as vezes em que foi ouvida, Michella afirmou
que, por ocasião dos fatos, optou por se dirigir ao Cartório
Extrajudicial e não a delegacia por não se sentir preparada para se
separar do acusado, por ter receio de sua palavra ser
desacreditada, além do medo do acusado, por ele ser pessoa
poderosa. Diante disso, não se verifica qualquer estranheza de que
a vítima tenha solicitado a lavratura da ata notarial no mesmo dia em
que fez o registro da ocorrência policial, em 13.04.2018.
Com relação ao pleito da Defesa do acusado para desclassificação
para o crime de injúria real, não merece prosperar eis que
sobejamente comprovado que as agressões perpetradas pelo
acusado contra a vítima se deram com intuito claro de ofender a
integridade física da vítima e não de atingir sua honra subjetiva.
Nesse sentido, vejamos os seguintes julgados de nosso e. TJDFT:
APELAÇÃO CRIMINAL. LESÃO CORPORAL. VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE.
DESCLASSIFICAÇÃO PARA O CRIME DE INJÚRIA REAL. NÃO
CABIMENTO. DOSIMETRIA DA PENA. ADEQUADA ANÁLISE DAS
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. SENTENÇA MANTIDA. 1. Não cabe a
aplicação do princípio da insignificância ao delito de lesão corporal,
ainda que de natureza leve, praticado no âmbito das relações
domésticas, pois a Lei Maria da Penha tem por escopo a proteção
da dignidade humana. 2. Provado que o crime foi perpetrado com
objetivo de causar lesão física à vitima, não há como ser acolhido o
pleito de desclassificação para o delito de injúria real, o qual se
caracteriza pela agressão à honra subjetiva. 3. A fixação da pena-
base acima do valor mínimo cominado não merece censura se
devidamente valoradas quatro circunstâncias judiciais em desfavor
do réu. 4.Recurso conhecido e NÃO PROVIDO. (. (acórdão 676676,
20120111642355APR, Relator: HUMBERTO ADJUTO ULHÔA, 3ª
Turma Criminal, Data de Julgamento: 09/05/2013, Publicado no
DJE: 16/05/2013. Pág.: 125)

PENAL. VIAS DE FATO NO ÂMBITO DOMÉSTICO E FAMILIAR.


PROVA SATISFATÓRIA DA MATERIALIDADE E AUTORIA.
INVOCAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
INAPLICABILIDADE. PRETENSÃO À RECLASSIFICAÇÃO DA
CONDUTA PARA INJÚRIA REAL. IMPROCEDÊNCIA. SENTENÇA
CONFIRMADA. 1. Réu condenado por infringir o artigo 21 do
Decreto-Lei 3.688/41, combinado com 5º, inciso III, da Lei
11.340/06, porque desferiu tapa no rosto de companheira movido
por ciúme e querendo impedi-la de sair de casa. 2.

A materialidade e a autoria nas vias de fato são provadas pelo


depoimento vitimário lógico, consistente e amparado por outros
elementos de convicção. 3. Não se aplica o princípio da
insignificância imprópria aos fatos que configurem violência
doméstica e familiar contra a mulher, porque a norma penal tutela
com especial desvelo a integridade física e psíquica da mulher em
situação de submissão sentimental ou material, não podendo tais
condutas serem reputadas com ofensividade mínima. 4. Não se
cogita de injúria real quando o réu, por ciúme e querendo proibir a
mulher de sair à rua, a estapeia no rosto, com vontade livre e
deliberada. 5. Apelação desprovida. (acórdão 696.180,
20120110805705APR, Relator: GEORGE LOPES LEITE, 1ª Turma
Criminal, Data de Julgamento: 11/07/2013, Publicado no DJE:
29/07/2013. Pág.: 220)
Por outro lado, a narrativa do acusado não foi capaz de pôr em
xeque a solidez das declarações da ofendida, corroborada pelas
informações das testemunhas ouvidas durante a fase inquisitorial e
confirmadas em Juízo, mediante o crivo do contraditório, restando
indene de dúvidas a prática de vias de fato por ROBERTO DE
FIGUEIREDO CALDAS.
Ademais, tratando-se as vias de fato de infração subsidiária,
amplamente comprovada a prática de agressão contra a vítima,
como no caso, não sendo possível a constatação das lesões
corporais, ante a ausência de laudo pericial, o enquadramento na
contravenção em comento é medida justa e adequada.
Nesse sentido, farta é a jurisprudência deste e. TJDFT:
EMENTA
PENAL. LEI MARIA DA PENHA. LESÃO CORPORAL. PRETENSÃO À
DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA PARA VIAS DE FATO E AO
AFASTAMENTO DO SURSIS DA PENA. SENTENÇA PARCIALMENTE
REFORMADA. 1 Réu condenado por infringir o artigo 129, § 9º, do
Código Penal, por agredir a ex-mulher com puxões de cabelo e um
soco no nariz. 2 O artigo 129 do Código Penal é crime material, e,
por isso, exige a produção de um resultado naturalístico, sendo
necessária a perícia médica para sua configuração, conforme o
artigo 158 do Código de Processo Penal. Se a acusação não se
desincumbiu do ônus dessa prova, há que se reclassificar a conduta
para a modalidade contravencional de vias de fato. 3 Não cabe o
afastamento da suspensão condicional da pena quando observado
os ditames legais. Como ainda não se realizou a audiência
admonitória, o condenado poderá recusar as suas condições. 4
Apelação parcialmente provida. (Acórdão n.918717,
20120910076543APR, Relator: GEORGE LOPES LEITE, 1ª Turma
Criminal, Data de Julgamento: 28/01/2016, Publicado no DJE:
16/02/2016. Pág.: 68)

EMENTA
PENAL - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - LESÕES CORPORAIS -
ABSOLVIÇÃO - DESCLASSIFICAÇÃO - VIAS DE FATO - AUSÊNCIA
DE LAUDO - DOSIMETRIA. I. Inviável a absolvição quando provadas
as agressões pela palavra da vítima e prova testemunhal. II. O crime
de lesões corporais é delito material. Imprescindível a realização de
exame pericial. Só seria possível suprir a falta por outros elementos
de prova se os vestígios tivessem desaparecido ou não fosse
possível a realização do exame. Não é o caso dos autos.
Desclassificação operada. III. Recurso parcialmente provido. (APR:
20110610038558 DF 0003825- 79.2011.8.07.0006, Relator:
SANDRA DE SANTIS, Data de Julgamento: 06/11/2014, 1ª Turma
Criminal, Data de Publicação: Publicado no DJE : 11/11/2014 . Pág.:
93)

EMENTA
APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA EX-
COMPANHEIRA E FILHA. VIAS DE FATO E AMEAÇA.
IMPOSSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO PELO CRIME DE LESÃO
CORPORAL, EM FACE DA AUSÊNCIA DE LAUDO PERICIAL.
RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. I - A ofensa à integridade
física de ex-companheira e filha é fato que se amolda ao artigo 21
do Decreto Lei 3.688/41, combinado com o artigo 5º, inciso III, da
Lei 11.340/2006. II - Prenunciar, livre e conscientemente, mal
injusto, futuro e grave contra ex-companheira e filha, valendo-se de
relações íntimas de afeto, é fato que se amolda ao crime previsto no
artigo 147 do Código Penal c/c artigos 5º, inciso III, da Lei
11.340/06. III - É inviável a condenação por crime de lesão corporal
quando, de forma injustificada, a vítima deixa de comparecer ao
setor responsável pela perícia, a fim de aferir os vestígios do delito,
inexistindo nos autos qualquer outra prova apta a demonstrar as
lesões sofridas. IV - Recurso CONHECIDO e NÃO PROVIDO.
(Acórdão n.847824, 20131010065394APR, Relator: JOSÉ
GUILHERME , 3ª Turma Criminal, Data de Julgamento: 05/02/2015,
Publicado no DJE: 11/02/2015. Pág.: 141)

Diante de todo o acima exposto, considerando o acervo probatório


colhido nos autos, não há dúvida de que o denunciado praticou vias
de fato contra sua companheira, nos termos relatados na denúncia,
devendo ser condenado por tal delito.
A versão apresentada pelo acusado, em Juízo, mostra-se como
mera tentativa de afastar de si a responsabilidade pela violência
aplicada contra sua companheira. A negativa de autoria não se
mostrou suficiente para afastar a certeza quanto à imputação feita
na denúncia relativa às vias de

fato.
Ressalto não haver causa de isenção de pena que milite em favor do
acusado. Também não vislumbro nos autos qualquer circunstância
que exclua a ilicitude do fato ou que exclua ou diminua a
culpabilidade do acusado, pois era imputável, tinha plena
consciência do ato delituoso que praticou e era exigível que se
comportasse em conformidade com as regras do direito.
DO CRIME DE AMEAÇA
Finda a instrução criminal, em respeito às garantias constitucionais
do contraditório e da ampla defesa, em que pese o pleito
absolutório formulado pela Defesa, entendo que a denúncia merece
procedência. Senão vejamos.
Compulsando os autos, verifica-se que existem provas mais que
suficientes da materialidade e da autoria dos delitos em questão,
descrito no item 3 da peça acusatória. Os elementos produzidos
durante a fase inquisitorial foram devidamente confirmados em
Juízo, durante a instrução criminal, conforme especificado acima,
não havendo causas excludentes da ilicitude ou da culpabilidade
militando em favor do acusado.
Não bastasse isso, foram acostadas aos autos escrituras públicas
declaratórias das funcionárias Giselle Résio e Eliene afirmando que
o acusado ameaçou Michella Marys de morte para que saísse do lar
conjugal. Por essa razão, saliento de início, que não há como
acolher o pedido de absolvição formulado pela Defesa.
Com relação ao crime de ameaça, dispõe o artigo 147 do Código
Penal: "Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer
outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave".
Nesse sentido, cabe ressaltar que o crime de ameaça se caracteriza
e se consuma por meio de palavras, gestos ou qualquer outro ato
pelo qual o agente, com antecedência, prediz a sua intenção de
causar mal grave ou injusto à vítima, perturbando-lhe a
tranquilidade e atingindo a sua paz de espírito.
Acrescente-se, ainda, que basta que o mal prometido seja injusto e
grave, não exigindo a lei que corresponda a um tipo penal, apesar
de, em grande maioria dos casos, fazer-se referência a algum crime
ou contravenção. Além disso, exige-se o dolo específico que, na
espécie, constitui na vontade do agente em intimidar, incutir medo
na vítima, não sendo necessário, portanto, a verdadeira intenção de
realizar o mal prometido.
A conduta deve ser exteriorizada por meio suficiente a causar temor
à vítima, independentemente de qualquer resultado, haja vista ser
crime formal.
De se ressaltar, ademais, que a promessa de mal pode ser contra a
própria vítima, contra pessoa próxima ou até contra seus bens.
O acusado, quando da instrução do feito, ratificando as declarações
prestadas em juízo, negou ter proferido ameaça contra a
companheira e afirmou que no dia em questão, após Michella sair
de casa, foi a cozinha beber água, consoante se verifica do trecho
de suas declarações em que foi questionado sobre esse ponto,
ROBERTO afirmou o seguinte (mídia fl. 1327):
(...) (35:23) questionado sobre o terceiro fato da denúncia, se o
interrogando teria ameaçado MICHELLA falando que ia na cozinha
pegar uma faca para mata-la, tendo se dirigido a cozinha, o
interrogando negou que isso tivesse ocorrido. Afirmou que não
proferiu a palavra faca e que nunca ameaçou MICHELLA de morte.
(35:53) questionado sobre o que aconteceu depois que o
interrogando ajudou MICHELLA a se levantar, o interrogando narrou
que MICHELLA saiu calmamente. (...) (37:11) Narrou que MICHELLA
saiu e o interrogando foi na cozinha beber agua. (37:23) Afirmou
que MICHELLA saiu com GISELE. Relatou que após tomar água
voltou e abriu a porta tendo visto MICHELLA, GISELE e BENEUMA,
momento em que o interrogando chamou BENEUMA dizendo que
queria conversar com ela. Disse que MICHELLA perguntou "eu
também?" tendo o interrogando respondido "Não, MICHELLA. Vai.
Sai daqui, por favor". (…)
Em que pese a negativa de autoria, o acusado nada trouxe em seu
favor, não apresentando nenhum elemento que pudesse colocar em
xeque a solidez das declarações de Michella, especialmente
porque, embora as funcionárias do ex-casal, Eliene e Beneuma,
tenham afirmado não terem ouvido o acusado ameaçar a vítima,
como se verá em seguida, a versão do acusado contém importantes
divergências com as declarações dessas testemunhas.
Noutro giro, não há como afastar a veracidade dos relatos
apresentados pela ofendida, uma vez que se revestem de seriedade
e firmeza suficientes a ensejar um juízo de convicção quanto à
efetiva ocorrência da ameaça imputada ao acusado. Necessário
destacar a equivalência entre as declarações judiciais e aquelas
prestadas em sede policial, bem como pela farta prova dos autos.
Quando ouvida em juízo, confirmando as declarações prestadas
perante a autoridade policial, sobre as ameaças, Michella Marys
Santana Pereira afirmou que prestou as declarações já transcritas
acima, afirmando que já estava na parte de baixo da escada, depois
de ter sido agredida pelo acusado, ele a ameaçou de morte e se
dirigiu para a cozinha, tendo depois retornado e a agredido de novo.
Confira-se

(mídia de fls. 1.187):


(...) (05:24) em seguida, ROBERTO começa a esmurrar a declarante
e a empurra-la do quarto, esculhambando com a declarante,
dizendo que a casa era dele e que iria colocar a declarante para fora
de casa. Afirma que Neuma e Gisele saíram do quarto nesse
momento em que ROBERTO a empurrava, esmurrava e puxava os
cabelos da declarante pela escada de serviço. Afirmou que caiu no
meio da escada e que ROBERTO a empurrou novamente fazendo
com que a declarante caísse lá embaixo, momento em que viu
GISELE. Disse que, enquanto pedia para que ROBERTO parasse
com aquilo, ROBERTO gritava dizendo que a declarante era
vagabunda e que iria embora da casa, porque a casa era dele.
(06:10) Afirma que ROBERTO, então, disse que iria matar a
declarante e se dirigiu para a cozinha. Esclareceu que não sabe o
que aconteceu na cozinha, pois ficou parada perto da escada tendo
as funcionárias ido atrás dele, não sabendo o que aconteceu na
cozinha; (06:23) disse que depois ROBERTO voltou para bater na
declarante de novo, mas GISELE puxou a declarante.(...) (09:58)
disse que quando já estavam lá embaixo, Roberto disse que iria
pegar uma faca para matar a declarante e que ele se dirigiu para a
cozinha; (10:07) afirmou que NEUMA e GISELA foram atrás dele na
cozinha, enquanto a declarante ficou parada onde estava, sem
ação; (...)(30:35) questionada sobre o motivo dos fatos terem
ocorrido em outubro de 2017 e de ter ido a delegacia apenas em
abril de 2018, a declarante respondeu que tinha medo, que gostava
dele, sentia culpa como mulher, pois quando a mulher passa por
isso o homem reverte e faz com que a mulher se sinta culpada por
tudo que ele faz. Disse que se sentia culpada por tudo que
acontecia; (35:56) esclareceu que quando estavam na psicóloga
ELIENE estava histérica e gritando, por estar muito nervosa, pois
ELIENE é que foi pegar um pau para bater em ROBERTO quando ele
foi pegar a faca. Esclareceu que pelo que as funcionárias disseram,
Roberto chegou a ir até a gaveta, mas como NEUMA e GISELA
foram atrás dele, parece que ROBERTO não pegou a faca,
esclarecendo que como ELIENE ouviu que ROBERTO ia pegar a faca
e chegou próximo a gaveta das facas, ELIENE pegou um pedaço de
lenha para dar nele se ele viesse com a faca, sendo que por isso
ELIENE estava mais nervosa que as outras funcionárias; (...)
Como se verifica, em todas as oportunidades em que indagada
acerca dos fatos, a vítima apresentou versão coerente e
coincidente. Conforme se nota, a vítima não alterou a sua versão
para os fatos, apresentando narrativa una, coerente e harmônica.
Corroborando as declarações da vítima, a funcionária Giselle Résio
Guimarães, conforme declarações transcritas acima, todas as vezes
em que foi ouvida, declarou que Michella foi ameaçada de morte
pelo acusado. Vejamos.
Nas declarações prestadas no dia dos fatos, em 23.10.17, Giselle
declarou, dentre outros fatos, que Roberto ameaçou e agrediu
Michella (fl. 52):
"(...) Que no dia 23.10.17, senhor ROBERTO agrediu senhor
MICHELLA verbal e fisicamente na frente dos funcionários e no
momento da briga ameaçou de usar uma faca. A declarante
precisou socorrer a senhora MICHELLA, ajudou-a a sair da casa
para que não ocorresse uma tragédia. (...)".
Em Juízo, Giselle, confirmando as declarações prestadas perante a
fase inquisitorial, afirmou que o acusado ameaçou a vítima Michella
de morte. Confira-se (mídia de fl. 1.187):
(...) (04:50) confirmou que estava presente quando ROBERTO
ameaçou MICHELA quando ROBERTO e MICHELLA desceram da
escada de serviço. Esclareceu que a escada da termina de frente
para a entrada da cozinha e, nesse momento ROBERTO falava que
MICHELLA iria sair de lá de qualquer jeito, enquanto MICHELLA
pedia por favor para conversarem; (05:16) que nesse momento
ROBERTO afirmou que MICHELLA sairia de qualquer jeito nem que
para isso tivesse que matá-la, tendo ROBERTO saído para a
cozinha. (05:21) Relatou que ROBERTO entrou na cozinha e foi até a
gaveta, tendo a declarante e NEUMA e ELIENE atrás dele pedindo
pelo amor de Deus para ROBERTO parar com aquilo, tendo
ROBERTO voltado onde estava MICHELA e continuado a empurrar
MICHELLA, esclarecendo que nesse momento, na porta de saída,
foi onde ele empurrou MICHELLA pela última vez e a depoente foi
machucada; (...) (15:26) confirmou que ELIENE também foi ao
cartório. Confirmou que correu na cozinha junto com ELIENE e
NEUMA para evitar que ROBERTO pegasse uma faca, esclarecendo
que ELIENE saiu para fora da cozinha procurando um pau.
Esclareceu que ELIENE já estava na cozinha e saiu para buscar um
pau. (...) (20:21) Narrou que, na cozinha, ROBERTO foi até a gaveta
onde ficam as facas, mas não chegou a abrir a gaveta, esclarecendo
que a declarante e NEUMA foram com ele e ELIENE saiu para o
jardim para buscar um pau, tendo ELIENE dito que era para
defender MICHELLA. (20:57) esclareceu que ELIENE saiu para o
jardim, que ELIENE saiu correndo e quando perguntaram o que tinha
acontecido ELIENE disse que tinha ido caçar um pau. (21
:22) Relatou que no dia da faca ROBERTO disse a MICHELLA que ia
pegar uma faca para matá-la. (...)
As declarações de Michella e Giselle, inicialmente, também foram
corroboradas extrajudicialmente pela cozinheira Eliene Lima da Silva
que, conforme escritura pública declaratória, acostada as fls. 51,
declarou que "(...) ouviu o Sr. Roberto dizendo: "Eu vou pegar a
faca" fato que a deixou muito nervosa e pensou: "Se ele pegar a
faca eu vou ataca-lo com um pau". E neste instante foi até a parte
externa da casa buscar alguma coisa para proteger Sra. Michela,
mas não foi necessário (...)".
Já quando foi prestar depoimento, em juízo, a testemunha Eliene,
estranhamente, declarou ter mentido quando prestou as
declarações em cartório e, em síntese, afirmou que não teria ouvido
o acusado ameaçar Michella dizendo que iria pegar uma faca, tendo
apenas imaginado que ele pudesse fazer isso. Todavia, importante
transcrever alguns trechos de suas declarações para demonstrar
contradições importantes com a versão apresentada pelo próprio
acusado, suas próprias declarações e das demais testemunhas,
evidenciando fortes indícios da prática, em tese, do crime de falso
testemunho. Confira-se (mídia de fls. 1310):
(...) (03:07) (...) Relatou que nesse meio tempo ficou ansiosa e disse
em voz alta "então, estão brigando, vou lá pra fora". Afirmou que,
então, foi para a churrasqueira se preparar, pois, disse "se tão
brigando, podem pegarem alguma faca e eu vou lá acudir"; (04:16)
mas, então, ROBERTO veio tomar água e MICHELLA saiu de carro;
(...) (09:25) esclareceu que ROBERTO chegou a ir na cozinha beber
agua. Afirmou ter presenciado ROBERTO ir na cozinha tomar água e
depois ir embora, esclarecendo que nesse momento MICHELLA já
tinha saído de casa. (...). (21:08) Reiterou que cada uma deu sua
versão e a declarante deu sua versão e que não é a mesma versão
que está dando em juízo, pois tinha falado que ele pegou pau e foi
atrás de faca, mas está em juízo para se redimir de tudo que fez,
esclarecendo que disse tudo que está escrito, mas quer ser redimir
porque MICHELLA foi mexer com o neto da declarante. (22:01)
declarou que mentiu no cartório. (...) (22:12) Após advertida sobre o
compromisso de dizer a verdade pelo Ministério Público e pela
magistrada a declarante (24:31) narrou que disse no cartório que
ROBERTO havia sido agressivo com MICHELLA, disse que
ROBERTO foi na cozinha pegar faca, mas que essas duas
acusações não eram verdade. (24:57) Relatou que ROBERTO disse
que MICHELLA disse que ele a empurrou, mas ROBERTO não
empurrou MICHELLA, pois MICHELLA foi descendo de escada e
atropelou, esclarecendo que a declarante não viu quando ROBERTO
empurrou MICHELLA, mas que ouviu o impacto. Esclareceu que não
viu se MICHELLA caiu ou foi empurrada por ROBERTO porque não
viu. Afirmou que, com relação com ter falado que ROBERTO tinha
ido pegar a faca, ROBERTO não foi pegar a faca, mas sim água.
(25:37) questionada porque resolveu mudar o depoimento em juízo,
relatou que quis botar para fora o que estava entalado, que ninguém
pediu para a declarante mentir, mas que quando leu o documento
feito na revista e que saiu no jornal nacional a declarante sentiu um
grande desrespeito da parte da declarante por ter mentido. (26:28)
disse que não queria prejudicar ROBERTO, mas na época que
aconteceu pensou que estava protegendo MICHELLA, mas quando
o tempo foi passando e analisou coisas que viu e depois ficou
chateada quando leu a revista e assistiu o repórter. Afirmou que
ficou chateada com ela própria e por isso sumiu, vendeu a casa e
não queria que dessem seu endereço e a justiça estava procurando;
(...); (49:36) afirmou que depois que MICHELLA saiu com o carro é
que ROBERTO entrou na cozinha para tomar água, momento em
que a declarante se acalmou e foi medir a pressão e a glicemia. (...)
(55:01) Afirmou que sabe que tudo que se fala, se escreve e se
mente se torna um crime e foi por isso que a declarante se
escondeu de MICHELLA e dona Maria. Esclareceu que não leu o
documento, pois saiu de casa sem os óculos, tendo assinado o
documento a pedido de MICHELLA. (55.52) afirmou que quis se
redimir do documento quando viu que MICHELLA ia fazer uma
revista Veja e ia para o jornal nacional, a declarante leu o documento
e resolveu se afastar de tudo porque era uma mentira, porque
estava sendo injusta; (...) (58:45) afirmou que recebeu o telefonema
de uma delegada de Brasília, por mensagem, pedindo o endereço
da declarante, tendo a declarante se negado a fornecer o endereço
informando que havia trabalhado na casa de MICHELLA e ROBERTO
e abandonou o serviço por estar doente por dizer coisas erradas, de
ter mentido; (...) (01:07:24) afirmou que disse a MICHELLA que não
vinha depor porque ROBERTO era juiz e a declarante tinha mentido
e ROBERTO podia mandar prender a declarante, tendo sido por isso
que a declarante se escondeu; (...). (01:18:4) afirmou que dentro do
carro todas estavam quietas e dentro do cartório a declarante
prestou as declarações sozinha,

GISELE também prestou as declarações sozinha, não tendo ouvido


o que GISELE falou e nem GISELE ouviu o que a declarante falou, e
MICHELLA também prestou as declarações. (01:19:55) disse que se
arrependeu de ter falado o que falou dentro do cartório JK porque
estava ficando doente. (01:20:19) esclareceu que MICHELLA não
obrigou a declarante falar qualquer coisa, mas a declarante tem
raiva da mãe de MICHELLA ter ido procurar a filha da declarante.

Como se verifica, embora importantes as declarações de Eliene


durante a fase instrutória, seu depoimento deve ser visto com
parcimônia, com relação ao crime de ameaça, na medida que se
mostra isolado ao ser cotejado com as demais provas dos autos.
Observe-se que Eliene sequer conseguiu dar uma justificativa
plausível para ter ido procurar um pedaço de pau na churrasqueira
ou para ter alterado as declarações constantes na escritura pública
declaratória. Com efeito, não é crível que a testemunha iria em
busca de um pedaço de pau para intervir na briga do casal se,
efetivamente, não tivesse visto ou ouvido o agravamento da
situação onde o acusado queria colocar a companheira para fora de
casa de qualquer maneira. Também não passou despercebido que,
questionada sobre o motivo pelo qual mudou seu depoimento,
afirmou ter se arrependido de ter prestado as declarações após vê-
las em reportagens, além de ter ficado com raiva de Michella por
ficar indo atrás da depoente através de seus parentes.
Não bastasse isso, verifica-se que o depoimento de Eliene diverge
da versão do próprio acusado, pois afirma que depois que
MICHELLA saiu com o carro foi que ROBERTO entrou na cozinha
para tomar água (declarações Eliene, 09:25 e 49:36). Já o acusado
afirmou que depois que Michella saiu, ele foi na cozinha beber água,
esclarecendo, em seguida que, após tomar água, abriu a porta e viu
Michella, Giselle e Beneuma, tendo chamado apenas Neuma para
conversar (...) (interrogatório, 37:11).
No que se refere as declarações da testemunha Beneuma, sobre os
fatos em análise, embora em juízo tenha confirmado suas
declarações perante a autoridade policial, afirmando que, em
nenhum momento viu o acusado ameaçar Michella e nem dizer que
ia pegar uma faca, não passou despercebido que o depoimento de
Beneuma destoou das declarações do acusado, com relação a
dinâmica dos fatos de quando chegaram no andar de baixo da casa.
Isto porque, Beneuma afirmou que, quando terminaram de descer
as escadas, ROBERTO foi para o escritório, tendo a depoente saído
para fora com MICHELLA e GISELE, esclarecendo, todavia, que
Giselle foi pegar o carro enquanto MICHELLA foi atrás da declarante
pedindo para irem conversar com ROBERTO, momento em que
GISELE chegou com o carro e saiu com MICHELLA da casa, pois a
declarante falou para esperarem Roberto se acalmar (declarações
de Beneuma, mídia fls. 1187, 31:10). Já o acusado afirmou que
depois que Michella saiu, ele foi na cozinha beber agua,
esclarecendo, em seguida que, após tomar água, abriu a porta e viu
Michella, Giselle e Beneuma, tendo chamado apenas Neuma para
conversar (...) (interrogatório, 37:11).
Embora essa contradição, em princípio, pareça pequena e não se
refira especificamente aos fatos em análise, é certo que pela livre
apreciação da prova produzida em contraditório judicial, essa
divergência somada a tantas outras já aqui demonstradas,
fragilizam a versão do acusado.
Por outro lado, não há como afastar a veracidade dos relatos
apresentados por Michella Marys, seja por se revestirem de
coerência e harmonia com a prova produzida nos autos, como já
visto quando da análise do delito de vias de fato, seja pela prova
oral produzida.
Neste contexto, também importante os depoimentos das
testemunhas Eliane de Almeida e das tabeliãs Narla Raiany de
Oliveira Silva e Alice Emiliana Ribeiro Brito, pois, além de
corroborarem com as declarações de Michella e da funcionária
Giselle sobre a ameaça, ainda puderam testemunhar como a vítima
e as funcionárias estavam atemorizados pelos fatos ocorridos
naquele mesmo dia, 23.10.2017.
A testemunha Eliane de Almeida, em síntese, afirmou que estava no
consultório no dia dos fatos, tendo atendido a vítima Michella
juntamente com a cozinheira Eliene e uma outra funcionária, as
quais estavam muito nervosas, Esclareceu que, das três, a
cozinheira estava mais nervosa dizendo que queria ir à delegacia,
pois tinha sido uma coisa muito violenta e que nunca tinha
presenciado uma coisa assim, mas a depoente lhe disse que a
decisão de ir à delegacia teria que ser da vítima, mas que Michella
estava muito preocupada por não querer tornar público o que tinha
acontecido. A psicóloga Eliane também afirmou que, embora não se
recordasse qual delas teria falado, mas que teve o relato da ida de
ROBERTO até a cozinha na tentativa de pegar uma faca, pois
segundo o relato delas, ROBERTO estava bastante nervoso e talvez
quisesse ter uma ação mais agressiva (mídia de fls.1327).
No mesmo sentido o depoimento da tabeliã do estado do
Maranhão, Alice

Emiliana Ribeiro Brito, a qual, ratificando as declarações prestadas


perante a autoridade policial (fl. 246/247). Em suma, sobre o crime
de ameaça, a depoente afirmou que Michella estava acompanhada
de suas funcionárias e todas estavam apavoradas quando
chegaram ao escritório de advocacia de Carla, amiga da depoente.
Prosseguiu afirmando que a cozinheira Eliene era a mais nervosa
tendo declarado que ouviu a cozinheira relatar que ao ouvir
ROBERTO dizer que iria matar Michella correu para o quintal para
procurar um pedaço de pau para defender a vítima. Confira-se
(mídia de fls. 1187):
(...) Afirmou que quando chegaram no escritório chegaram junto
com um carro onde tinha várias mulheres e essas mulheres estavam
chorando bastante e como entrou no escritório junto com elas não
tinha como não ouvir o que tinha acontecido; (02:58) narrou que
uma das mulheres estava um pouco machucada e que uma outra
passou mal, tendo até sido um remédio para essa mulher. Relatou
que CARLA estava conversando com MICHELLA e a orientando,
pois MICHELLA queria ir na delegacia imediatamente, mas CARLA
disse que se fossem na delegacia o marido de MICHELLA poderia
ser preso e isso poderia ser ruim para MICHELLA e para os filhos;
(...) (05:35) afirmou que todas as mulheres eram unânimes de que
tinha acabado de acontecer um fato na casa de MICHELLA e que
esse fato era uma briga da MICHELLA com o marido, sendo que
nessa briga uma das mulheres foi separa-los e machucou o pé e o
dedo. Afirmou que a cozinheira estava muito nervosa e a ouviu
relatar que ficou nervosa porque ROBERTO tinha pedido para ela
levar o telefone para MICHELLA porque senão teria alguma punição.
Narrou que não entendeu direito qual seria a punição, pois a
cozinheira estava muito nervosa, mas que teria sido por MICHELLA
não atendeu o telefone e quando o acusado chegou nervoso disse
que ia matar MICHELLA; (06:42) ressaltou que estava falando o que
ouviu a cozinheira relatar, tendo a cozinheira falado que ao ouvir
ROBERTO dizer que iria matar MICHELLA e que a voz dele se dirigia
para a cozinha, a cozinheira correu para o quintal para pegar um
pedaço de pau para bater na cabeça dele para não deixar que ele
não matasse MICHELLA. (07:22) afirmou que as mulheres
comentaram que estavam com muito medo porque ROBERTO era
uma pessoa muito violenta, muito bruto, muito poderoso e que elas
tinham medo dessa situação e medo de ROBERTO. (...)
Por oportuno, importa registrar que o bem jurídico protegido no
crime de ameaça é a liberdade psíquica do indivíduo, além da
liberdade física, que poderá ser abalada em razão do temor
produzido pela ameaça.
No caso, tão incutido restou o temor na vítima, que, consoante se
verifica pela ata notarial acima transcrita, a escrevente Notarial
Narla Raiany atestou que Michella chegou ao cartório, em
23.10.2017, chorosa e muito assustada, o que foi confirmado pela
vítima, em ato contínuo, pelas declarações dela (fls. 18/19 ou
41/42).
Ressalte-se que, embora mesmo após os fatos Michella tenha
continuado convivendo com o acusado, isso, por si só, não afasta a
certeza quanto ao fato ou a tipicidade da conduta. Ao contrário,
indicam que Michella apresentava dependência emocional, muito
comum nos relacionamentos abusivos, fazendo com que a vítima
minimize a agressão do parceiro para tentar preservar a relação a
qualquer custo, seja porque, dentre outros motivos, sua autoestima
está tão baixa que pensa merecer esse tipo de relacionamento e/ou
também por medo de sofrer coisas piores com o rompimento da
relação.
Conforme relatado pela vítima todas às vezes em que foi ouvida,
desde o início do relacionamento o companheiro apresentava
comportamento violento e controlador, a humilhava e a ofendia na
frente dos empregados, além de lhe agredir fisicamente quando
contrariado ou enciumado e, apesar de demonstrar
descontentamento com a referida conduta, permanecia na relação.
Não bastasse as declarações acima transcritas, a farta prova
acostada aos autos corrobora o entendimento de que Michella vivia
em um relacionamento abusivo evidenciado, ao longo dos anos,
pela agressividade do acusado e a submissão da vítima, como se
verifica especialmente pelas declarações de Adriana Feitosa da silva
de Menezes.
A testemunha Adriana, em suma, confirmou o depoimento prestado
em cartório (fls. 48/50) e perante a autoridade policial
(fl.242/242vº) (07:015). Relatou, ainda que, na época da faculdade,
no período de 2006/2008 tiveram uma convivência quase que
diária, recordando ter tirado as fotografias de folhas 65/87 (00:35),
esclarecendo que foi em uma ocasião que Michella teria voltado de
uma viagem e foi a casa da depoente e, tendo percebido que
Michella estava com um roxo nos olhos e, ao questioná-la, Michella
disse que, na viagem, teria sido agredida pelo acusado, por ciúmes,
oportunidade em que lhe mostrou roxos pelo corpo, tendo a
declarante se oferecido para ir com Michella à delegacia, mas como
Michella não teve coragem de ir à delegacia, a depoente tirou as
fotog

rafias, conforme demonstra as mencionadas fotografias (01:15;


15:29). Confirmou ter prestado as declarações em cartório, onde
relatou ter ficado apavorada com os diversos galos grandes na
cabeça de Michella e ao perguntar como o acusado tinha feito
aquilo, Michella respondeu que ele aplicava cascudos na cabeça
dela (08:32; 17:31). Relatou que frequentava a casa de Michella e
por diversas vezes viu um lençol e um travesseiro no closet, tendo
Michella inicialmente desconversado, mas que depois lhe
confidenciou que por muitas noites ela era obrigada a dormir
trancada dentro do closet porque Roberto a expulsava da cama por
brigas (09:59). (declarações Adriana, mídia fl. 1.187).
Há, ainda, o depoimento da testemunha Amarildo José Bezerra o
qual declarou ter presenciado em uma ocasião, quando trabalhava
para o acusado, que presenciou ROBERTO agredir a vítima para que
ela saísse do carro, pois não queria que ela saísse com ele,
afirmando que o acusado retirou Michella do carro com muita força,
tendo Michella caído sentada em umas pedras atrás do carro e que
teve agressão verbal (01:57). Afirmou também havia muita
discussão e que viu ROBERTO, várias vezes, humilhando Michella
(02:50). (Declarações Amarildo, mídia de fl. 1187).
A testemunha Maria das Graças Silva Batista, embora tenha
elogiado muito o acusado, confirmou parcialmente o episódio
mencionado por Amarildo, declarando que uma vez escutou um
grito e quando foi na garagem, Amarildo disse que MICHELLA que
estava descendo do veículo, pois ROBERTO não queria que ela
fosse com ele, recordando que o vestido de MICHELLA tinha ficado
enganchado (04:16) (declarações Maria das Graças, mídia fl. 1187).
No mesmo sentido, verifica-se diversos arquivos constantes na
mídia de fls. 253 de conversas e troca de mensagens entre o
acusado e a vítima, especialmente com áudios contendo conversas
entre ROBERTO e Michella, nos quais o acusado profere diversos
xingamentos a ela, tais como "cachorra", "bandida", "idiota",
"safada", "mentirosa", "vagabunda", humilhando-a e a ofendendo,
demonstrando total desprezo pela vítima. Ressalte-se que nesta
mídia contém, inclusive áudios relativos ao dia dos fatos (2018 - 05-
09- AUDIO - 00003097_1), em que consta os xingamentos de
"bandida" e "mentirosa", ofensas que foram confirmadas pelo
acusado quando do interrogatório.
No que se refere a alegação do acusado de que, embora reconheça
sua voz nas gravações, os áudios não foram periciados e contém
corte, início, fim, com sonoplastia, suas alegações não podem
prosperar, considerando-se especialmente que o ônus da prova
incumbe a quem alega. Assim, considerando que as mídias se
encontram acostadas desde a fase inquisitorial, caso realmente
acreditasse que continham diálogos "produzidos" para lhe
prejudicar poderia ele próprio ter providenciado a perícia, assim
como o fez com as gravações relativas as escrituras públicas
declaratórias das funcionárias Nalvina, Eliene e Giselle,
armazenadas no Cartório JK, às fls. 1557/1601.
Consta ainda diversas trocas de mensagens entre Michella e as
psicólogas Eliene e Viviane (fls. 58/82), transcrições de conversas
supostamente ocorridas entre os envolvidos, com empregados e
com a psicóloga Eliane (fls. 89/153), mídia de fls. 253 e mídias de
fls. 1027, 1037, 1055, 1064, 1099 e 1124 com respectivos laudos
periciais com transcrições de diálogos e imagens. Embora não se
saiba ao certo em que período ocorreram são indícios que a
situação de humilhações e agressões aconteciam há bastante
tempo evidenciando a dependência emocional da vítima que,
mesmo submetida a um relacionamento abusivo, tentava salvar o
relacionamento de qualquer maneira, nem que para isso tivesse que
continuar se submetendo a situações vexatórias como a dos autos.
Nesse contexto, importante ressaltar trechos das declarações de
Michella onde fala sobre o que ocorria depois das agressões e
como se sentia, confira-se (mídia fl. 1.187):
(...) que as agressões sofridas no dia dos fatos foi apenas mais uma
das agressões sofridas durante o relacionamento com o acusado,
pois o próprio acusado, quando a agredia, a chamava para ir na
delegacia e dizia que ninguém acreditaria nela, em razão dos cargos
que exercia, inclusive de presidente da Corte Interamericana, mas
que, anteriormente já era juiz ad hoc de direitos humanos (29:10);
(...) que tinha medo e se sentia culpada por tudo que acontecia,
justificando que quando a mulher passa por isso o homem reverte e
faz com que a mulher se sinta culpada por tudo que ele faz (30:35);
(...) que quando brigavam o acusado dizia que ninguém acreditaria
nela e também dizia que iria tirar os filhos da declarante e que ela
ficaria na sarjeta (34:38); (...) que foi questionada pela psicóloga se
tinha força para ir à delegacia, mas a declarante respondeu que não
sabia se tinha força para se separar de ROBERTO porque, mesmo
sofrendo, era apaixonada por ele, tendo muita vergonha de ser
julgada, pois muitas vezes ouviu que se a mulher apanha do marido
e continu

a com ele é porque gosta de apanhar (39:09); (...).


Com efeito, ao contrário da coerência e harmonia das declarações
da vítima, perante a autoridade policial e em juízo, ao afirmar que
teria sido ameaçada pelo acusado, no dia 23.10.2017, a simples
negativa do acusado e a estratégia de desqualificação da vítima,
evidencia-se como mera estratégia de autodefesa.
Noutro giro, nada há nos autos a impingir qualquer dúvida acerca da
efetiva prática da ameaça praticada contra vítima Michella, ocorrida
no dia 23.10.17, impondo-se a condenação. Não se observa
qualquer elemento a indicar que a vítima teria motivos para
falsamente imputar ao acusado o delito em questão, principalmente
porque na época dos fatos estava convivendo com o acusado.
Dos autos extrai-se que o acusado, além de imputável, tinha plena
consciência da ilicitude de seu ato, quando lhe era exigível conduta
diversa. Ausente qualquer excludente legal ou supralegal de
ilicitude, assim como também não há causa de isenção de pena que
milite em favor do acusado.
DO CRIME DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL

Dispõe o artigo 146 do Código Penal, in verbis:


Art. 146. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça,
ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a
capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a
fazer o que ela não manda.
Para a configuração do crime de constrangimento ilegal, conforme
se verifica pelo enunciado do dispositivo legal supra, é necessário
que o autor do crime empregue a ameaça ou a violência a fim limitar
a liberdade da vítima, impedindo que ela faça o que a lei permite ou
obrigando-a a fazer o que a lei não manda.
Nesse sentido, o agressor deve ter um fim especial de agir: a sua
conduta deve ser dirigida finalisticamente a constranger a vítima a
não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda.
Na hipótese, devidamente caracterizada a conduta do acusado,
conforme descrito na denúncia:
"(...) 4º Fato:
Antes dos fatos acima relatados, o denunciado, consciente e
voluntariamente, tentou constranger a vítima MICHELLA, mediante
grave ameaça, a fazer o que a lei não manda.
O denunciado telefonou para a pessoa ELIENE LIMA DA SILVA, que
trabalhava como cozinheira no local e disse aproximadamente o
seguinte: "DONA ELIENE, SUBA E DIGA A DONA MICHELLA QUE
ATENDA O TELEFONE SENÃO EU VOU ENXOTAR ELA DE CASA".
Esse crime não se consumou, pois, a vítima resistiu à ameaça e não
atendeu o telefone. (...)"
Como se verifica, o acusado telefonou para casa ameaçando a
vítima, mandando Eliene avisar Michelle que, caso ela não
atendesse seu telefonema, seria enxotada de casa. Contudo, só não
se consumou o constrangimento porque a vítima não atendeu ao
telefonema. Vejamos.
Na escritura pública declaratória, a cozinheira Eliene Lima da Silva
declarou que atendeu os telefonemas do patrão, ora acusado,
ameaçando que, caso a vítima não atendesse o telefone iria enxotá-
la de casa. Confira-se in verbis (fl. 51):

"(...) que declarara que no dia 23.10.2017 estava na cozinha e


atendeu ao telefone. Que a ligação era para Sra. Michela, e quem
estava a telefonando era o Sr. Roberto que pediu para que a
declarante avisasse para Sra. Michela atender o telefone. Que, logo
em seguida, poucos minutos depois, o telefone tocou e, ao atender
verificou que tratava-se novamente do Sr. Roberto. Que, o Sr.
Roberto disse o seguinte: "Dona Eliene, suba e diga a Dona Michela
que atenda ao telefone senão eu vou aí enxotar ela de casa".
Informa que naquele momento ao ouvir o Sr. Roberto começou a
passar mal. Que, foi até a Sra. Michela e disse: "Dona Michela, pelo
o amor de Deus, atenda esse telefone porque senão o seu marido
vai fazer alguma coisa". Nesse momento ficou muito nervosa. Que
Sra. Michela, mesmo assim não atendeu o telefone, tendo em vista
que estava saindo para ir à faculdade. Neste instante Sr. Roberto
chegou em casa, a declarante estava na cozinha mas ouviu os
gritos do Sr. Roberto. (...) "
Em que pese em juízo, Eliene tenha, mais uma vez, alterado as
declarações da escritura pública declaratória tentando proteger o
acusado, afirmando que não teria falado que ele enxotaria Michella
de casa e que o acusado não estava agressivo, estando apenas
com a voz alterada, afirmou que na segunda vez que foi dar o
recado a vítima pediu "pelo amor de Deus que ela atendesse o
telefone, pois senão daria merda". Confira-se (mídia fl. 1310):
(00:45) relatou que nesse dia MICHELLA estava em casa, quando
ROBERTO ligou e mandou a declarante ir atender o telefone,
esclarecendo que a voz dele estava de quem estava perturbado,
nervoso. Disse que avisou para MICHELLA atender o telefone e,
após foi procurar NEUMA para dizer que ROBERTO não estava bem,
tendo sido informada que NEUMA e GISELE estavam no quarto com
MICHELLA. Relatou que voltou para a cozinha e ROBERTO tornou a
ligar tendo a declarante novamente ido pedir para que MICHELLA
atendesse o telefone, tendo pedido por favor, pelo amor de Deus
para MICHELLA atender o telefon

e porque senão daria merda. Relatou que voltou para a cozinha, mas
desceu já não se sentindo bem; (...) (07:53) negou que tivesse
falado para MICHELLA que ROBERTO teria falado que se ela não
atendesse o telefone iria enxotar MICHELLA de casa, mas
confirmou que dá segunda vez que foi dar o recado para MICHELLA
pediu para ela atender o telefone pelo amor de Deus, pois senão
daria merda. (...) (37:30) afirmou que os fatos ocorreram no dia
23.10.2017. Esclareceu que quando ROBERTO ligou pela primeira
vez, a declarante estava na cozinha, NEUMA estava no quarto com
MICHELLA e GISELE. Afirmou que na primeira ligação ROBERTO
estava nervoso e pediu para a declarante ir até MICHELLA e pediu
para que ela atendesse o telefone. Afirmou que não ouviu discussão
dentro do quarto onde MICHELLA estava com NEUMA e GISELE.
Afirmou que quando ROBERTO ligou pela segunda vez continuava
nervoso, tendo pedido que a declarante fosse até MICHELLA para
falar para ela atender o telefone, tendo a declarante retornado a
porta do quarto de MICHELLA e pedido pelo amor de Deus que ela
atendesse o telefone, porque vai ter merda. (40:28) questionada
porque tinha ficado nervosa e achado que ia dar merda, a
declarante respondeu que foi pelo tom de voz de ROBERTO por
nunca ter visto ROBERTO com aquele tom de voz, esclarecendo
que ROBERTO não estava agressivo, mas que a voz de ROBERTO
estava alterada, tendo a declarante ficado com medo por nunca ter
visto ROBERTO com aquela voz. Esclareceu que quando bateu no
quarto de MICHELLA e deu o recado de ROBERTO, nem MICHELLA,
nem NEUMA, nem GISELE disseram nada para a declarante (...)
Como se verá a seguir, embora a testemunha Eliene, em juízo, tenha
negado que ROBERTO falou que a enxotaria de casa, ainda assim a
cozinheira afirmou ter ficado nervosa pelo alterado tom de voz de
ROBERTO, tendo dito a Michella que se não atendesse o telefone
iria dar merda.
Ao ser ouvida, em juízo, Michella declarou que estava conversando
com Beneuma no closet e Gisele entrado para arrumar o quarto,
quando Eliene, por duas vezes, foi pedir que ela atendesse o
telefonema de ROBERTO, esclarecendo que na segunda vez, Eliene
chegou no quarto chorando e se tremendo toda, pedindo que ela
atendesse o telefone, pois senão ROBERTO iria tanger a declarante
de casa. Vejamos (declarações Michella, áudio 1187):
(04:02) que estava no closet com a governanta conversando sobre
despesas e correspondências bancárias de uma conta pessoal da
declarante que estavam sumidas do Closet e que só a governanta
tinha acesso. Narrou que nesse momento GISELE entrou para
arrumar quarto e, de repente, ELIENE chega nervosa e fala para
declarante ligar rápido para ROBERTO porque ele queria falar com a
declarante naquele momento. Afirmou que não ligou para ROBERTO
porque estava conversando para saber o destino de suas
correspondências e coisas pessoais que estavam sumidas. (04:51)
Disse que, na segunda vez, ELIENE chega no quarto chorando, se
tremendo toda, com o rosto vermelho, pedindo, pelo amor de Deus
para a declarante atender o telefone, pois senão ROBERTO iria
tanger a declarante de casa; (05:02) Afirmou que, nesse momento,
pegou o telefone para gravar, pelo WhatsApp, um áudio para ele
para dizer que estava conversando com NEUMA, todavia, quando já
estava gravando o áudio, ROBERTO chegou xingando a declarante
de bandida e deu um tapa na declarante (...);(18:36) Confirmou que
ELIENE esteve no closet onde a declarante estava por duas vezes,
mas só da segunda vez é que ELIENE disse que ROBERTO iria
coloca-la para fora de casa, reiterando que no primeiro momento
ELIENE disse apenas que era para a declarante ligar para ROBERTO
com urgência; (...)(27:41) esclareceu que tanger significa "botar
para fora" (...)
No mesmo sentido foram as declarações de Giselle Résio
Guimarães ao afirmar, em juízo, que na última vez que a cozinheira
Eliene foi no quarto pediu para Michella atender o telefone porque
senão iria dar merda, conforme se verifica na mídia de fls. 1.187:
(...) (06:15) confirmou que, antes dos fatos, ELIENE foi várias vezes
no quarto pedir que MICHELLA atendesse o telefone de ROBERTO.
Relatou que estava no quarto com MICHELLA quando ELIENE
chegou dizendo que ROBERTO estava na linha e pedia para que
MICHELLA atendesse o telefone, que ELIENE saiu, mas depois
voltou dizendo que ROBERTO estava insistindo que MICHELLA
atendesse o telefone, tendo MICHELLA salvo engano respondido
que ia atender. Esclareceu que foi umas 3 ou 4 vezes que ELIENE
pediu para MICHELLA atender o telefone, mas MICHELLA não
atendeu e ROBERTO chegou na casa. (07:00) relatou que ELIENE
disse que ROBERTO estava muito nervoso e, salvo engano, na
última vez ou em uma das vezes que ELIENE foi falar com
MICHELLA disse que ROBERTO teria dito que se MICHELLA não
atendesse ia ficar muito feio e que ia acontecer uma merda. Disse
que ELIENE estava muito nervosa e pediu pelo amor de Deus que
MICHELLA atendesse o telefonema. (...) (22:50) Afirmou que
ROBERTO nunca tinha dado esse tipo de

recado de que se MICHELLA não atendesse o telefone ia dar merda,


mas nesse dia ROBERTO estava muito nervoso. (23:01) disse que o
que ROBERTO geralmente fazia era ser grosso com MICHELLA, mas
não passava esse tipo de recado (...)
Também a testemunha Beneuma declarou, em juízo, que Eliene já
tinha ido no quarto de MICHELLA pela terceira vez e disse que
ROBERTO tinha falado que se MICHELLA não atendesse o telefone
ele iria chegar e o negócio não ia prestar (06:18), conforme se
verifica de seu depoimento constante na mídia fls. 1.087,)
Em seu interrogatório, ROBERTO confirmou ter falado para Eliene
que Michella saísse de casa e, embora não se recordasse se
quando pediu a cozinheira para avisar Michella para atender o
telefone tenha utilizado o termo "enxotar", esclareceu que deve ter
falado algo parecido, pois estava muito preocupado e queria
afugentar Michella da casa. Vejamos (mídia de fls. 1327):
(...) (23:01) que no segundo telefonema, disse para a cozinheira
ELIENE para que ela, por favor, dissesse a MICHELLA para sair
imediatamente de casa, pois MICHELLA não poderia estar no
mesmo lugar que a NEUMA, pois NEUMA já tinha denunciado
MICHELLA e estava grávida; (23:25) disse que pensou naquele
momento era afastar MICHELLA porque MICHELLA iria se prejudicar
e porque NEUMA poderia perder o filho de um casal que conhecia
de longa data (...); (24:09) confirmou que falou para ELIENE para
que MICHELLA saísse de casa. (...) (45:28) questionado sobre o
quarto fato da denúncia de que o interrogando teria falado para
ELIENE que era para MICHELLA atender o telefone senão enxotaria
MICHELLA de casa, confirmou que deve ter falado algo parecido,
não sabendo precisar se usou a palavra "enxotar". Disse que estava
muito preocupado e queria afugentar MICHELLA de qualquer
maneira, pois MICHELLA estava prestes a fazer uma besteira maior.
(...)
Em que pese tenha o acusado justificado que Michella não poderia
estar no mesmo lugar que NEUMA, pois a empregada estava
grávida e já tinha denunciado MICHELLA com relação a fato
anterior, onde Michella a tinha ameaçado, tal justificativa não se
sustenta, seja porque consoante se verifica à fls. 210/213, Beneuma
só fez a ocorrência policial após os fatos, em 30.10.2017, seja
porque, como já visto, quando ROBERTO chegou em casa
perguntou a Beneuma se Michella estava lhe ameaçando, Beneuma
negou que estivesse sendo ameaçada (26:50).
Ademais, ainda que se admitisse que, eventualmente, Michella
tivesse sido agressiva com Beneuma, não parece razoável que, em
razão disso, ROBERTO quisesse botar para fora de casa a
companheira. Ora, se estava insustentável o relacionamento entre
patroa e empregada, o normal seria que a empregada é que fosse
afastada da residência e não a dona da casa. Tal comportamento,
corrobora a versão da vítima e das testemunhas que o acusado a
tratava com grosseria e a humilhava na frente dos empregados.
Dessa forma, em que pese o esforço do acusado em desqualificar
Michella, depreende-se de sua conduta as elementares do tipo
penal em questão, só não tendo sido consumado, em razão de
Michella não ter cedido à ameaça de ser colocada para fora de
casa, caso não atendesse o telefonema, impondo-se sua
condenação quanto ao delito de constrangimento ilegal, na forma
tentada.
Não vislumbro nos autos qualquer circunstância que exclua a
ilicitude dos fatos ou que exclua ou diminua a culpabilidade do
acusado, pois era imputável, tinha plena consciência dos atos
delituosos que praticou e era exigível que se comportasse em
conformidade com as regras do direito.
Destarte, diante dos subsídios coligidos aos autos, encontrando-se
comprovadas a autoria e a materialidade dos fatos narrados na peça
exordial, outro não pode ser o desfecho da presente causa,
afigurando-se imperiosa a condenação de ROBERTO DE
FIGUEIREDO CALDAS pela prática da conduta delituosa descritas
no art. 21 do Decreto-Lei nº 3.688/41 e do art. 147, caput e do art.
146, caput, c/c art. 14, II, ambos do Código Penal, todos em
situação de violência doméstica, não se vislumbrando qualquer
circunstância que exclua a ilicitude do fato ou que exclua ou diminua
a culpabilidade do acusado, pois era imputável, tinha plena
consciência do ato delituoso que praticou e era exigível que se
comportasse em conformidade com as regras do direito.

DO DELITO DE VIAS DE FATO PRATICADO CONTRA A VÍTIMA


GISELLE

Trata-se de ação penal pública, em que se imputa à ROBERTO DE


FIGUEIREDO CALDAS a prática da contravenção penal de vias de
fato, em contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Não verifico a necessidade de diligências outras e ausente qualquer
requerimento das partes nesse sentido. Inexistem, ainda, nulidades
a sanar.
O processo não ostenta vícios, restando concluído sem que tivesse
sido verificada, até o momento, qualquer mácula de nulidade ou
ilegalidade que pudesse obstar o desfecho válido da questão
submetida ao crivo jurisdicional.
As provas encontram-se judicializadas, tendo sido colhidas com a o

bservância de todos os princípios norteadores do devido processo


legal, e sob as luzes dos princípios constitucionais da ampla defesa
e do contraditório.
Com efeito, como bem detalhado pelo Parquet em sede de
alegações finais, as provas coligidas aos autos não evidenciam a
prática do delito de vias de fato, senão vejamos.
Quando ouvida perante a escrevente notarial, Giselle declarou que
"ao tentar separar a briga entre o casal sofreu uma pancada
desferida por ROBERTO que deixou a perna da declarante roxa" (fl.
51).
Todavia, da primeira vez que foi ouvida perante a autoridade
policial, a vítima nada relatou sobre ter sido lesionada pelo acusado
(fl. 11) e quando tornou a prestar declarações na fase inquisitorial
afirmou apenas que, em razão da confusão também ficou
machucada na coxa direita, com um hematoma (fls. 157/159).
Em juízo, Giselle afirmou que ficou machucada quando o acusado
empurrou Michella pela última vez, na porta de saída, além de ter
esclarecido que a agressão do acusado não foi dirigida a ela, mas
sim a Michella . Confira-se (mídia de fl. 1187):
(...) (05:21) que ROBERTO entrou na cozinha e foi até a gaveta,
tendo a declarante e NEUMA e ELIENE atrás dele pedindo pelo amor
de Deus para ROBERTO parar com aquilo, tendo ROBERTO voltado
onde estava MICHELA e continuado a empurrar MICHELLA,
esclarecendo que nesse momento, na porta de saída, foi onde ele
empurrou MICHELLA pela última vez e a depoente foi machucada;
(...) (19:31) disse acreditar que ROBERTO ia chutar Michella quando
acertou a declarante, pois ROBERTO não estava sendo agressivo
com a declarante; (19:38) esclareceu que MICHELLA já estava caída
no chão quando a declarante entrou na frente para levantar
MICHELLA, foi atingida, tendo ficado com um roxo imenso na perna;
Ressalte-se que embora Giselle tenha afirmado ter ficado lesionada
quando ficou na frente de Michella para tirá-la de casa, a própria
vítima reconheceu que a pancada que levou não foi direcionada a
ela, mas sim a Michella.
Por outro lado, quando Michella foi ouvida, em juízo, com relação ao
machucado de Giselle, afirmou não saber se a perna da empregada
ficou roxa no momento em que o acusado retornou para bater na
depoente e Giselle a puxou (06:23). Afirmou, ainda, não saber se
ROBERTO agrediu Giselle, pois a declarante estava muito nervosa,
recordando que teve um momento que ROBERTO foi na cozinha
buscar uma faca e Giselle foi atrás, mas que, no momento que ele
voltou da cozinha, Gisele foi puxar a declarante, não sabendo
esclarecer se foi nesse momento que ROBERTO desferiu algo em
Giselle (08:18); que só depois Giselle só comentou com a
declarante que estava com a perna doendo, com a perna roxa, por
ter ido defender a declarante (08:46). (Declarações de Michella,
mídia de fl. 1187)
O acusado, por sua vez, no interrogatório, questionado se teria
praticado vias de fato contra Giselle, afirmou não ter tido nenhum
contato com Gisele e reiterou não ter agredido Michella fisicamente.
Confira-se (mídia fl. 1327)
(...) (30:56) questionado porque constou da denúncia o segundo
fato de que o interrogando teria praticado vias de fato contra
GISELE a qual teria tentado intervir nas agressões do interrogando
contra MICHELLA e o interrogando teria dado uma pancada na
perna de GISELE, negou que isso tivesse acontecido, esclarecendo
que não teria acontecido nenhuma agressão física contra
MICHELLA e que não aconteceu nenhum contato com GISELE.(...)
Com efeito, considerando que a própria Giselle reconheceu que o
acusado não tinha a intenção de agredi-la, não se verifica a
intenção exigida para a contravenção de vias de fato, impondo-se,
assim, a absolvição do acusado com relação a vias de fato contra a
vítima Giselle.

Por oportuno, com relação à petição e anexos acostados às fls.


2010/2099, referente a eventuais valores pagos as testemunhas
Giselle Résio e Nalvina Pereira, como bem asseverou a ilustre
representante do Ministério Público, às fls. 2103/2103vº, tratam-se
de meras ilações, razão pela qual passo a transcrever a mencionada
manifestação para que façam parte de minhas razões de decidir, in
verbis:
"(...) Quanto as ilações suscitadas pela Defesa, tratam-se, tão
somente, de meras conjecturas, sem suporte fático.
Ora, não pode apenas considerando os valores recebidos pelos
empregados, entender se estão ou não fora dos valores de
mercado, sem que se tenha como aferir, primeiro, qual o valor do
mercado.
Ademais, o transcurso do tempo, o aumento da confiança, e o
eventual aumento nas atribuições e/ou carga horário também são
fatores que podem influenciar no salário dos empregados.
Por fim, e o mais importante, o depoimento de Giselle, não deu
suporte integral à denuncia.
Ora, estivesse Giselle recebendo vantagem financeira para apoiar a
vítima e prejudicar o réu, como quer insinuar a Defesa, ela teria
sustentado que foi vítima de propósito das vias de fato, como posto
na exordial acusatória.
Mas, ao revés, ressaltou que a ação não lhe era dirigida, o que,
inclusiv

e fundamentou o pedido de absolvição ministerial neste particular, o


que afasta o argumento de parcialidade em seu depoimento. (...)
Não bastasse isso, embora importantes às declarações de Giselle
Résio, consoante se verifica, tratou-se de apenas mais um elemento
a formar a convicção deste juízo, por estar em harmonia com o bojo
probatório.
No que se refere às declarações da testemunha Nalvina Pereira,
consoante se verifica da fundamentação desse julgado, sequer
foram levadas em conta, na medida em que tratava de eventual
assédio sexual pelo acusado, matéria estranha aos presentes autos.
Da mesma forma, embora o acusado, em seu interrogatório tenha
confirmado ter mantido relacionamento com Giselle Résio e Luana
Silva Santos (interrogatório, mídia de fls. 1327, 01:11:45 e 01:18;06),
no que refere a esses fatos, as declarações delas não foram levadas
em consideração por tratar de assunto estranho ao apurado no
presente feito. Assim como também não foram levadas em conta as
declarações de Luana Souza Santos, de Claudiano Pessoa de Lima
e das demais testemunhas que nada contribuíram para o deslinde
do feito.
Posto isso, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a pretensão
punitiva deduzida na denúncia para, com relação a vítima Michella
Marys Santana Pereira, CONDENAR ROBERTO DE FIGUEIREDO
CALDAS, qualificado nos autos, nas penas do art. 21 do Decreto-Lei
nº 3.688/41 e do art. 147, caput e do art. 146, caput, c/c art. 14, II,
ambos do Código Penal, todos em situação de violência doméstica
e familiar contra a mulher. Com relação a vítima Giselle Résio
Guimarães, ABSOLVO-O quanto a contravenção penal tipificada no
art. 21 do Decreto-Lei nº 3.688/41, com fulcro no art. 386, III, do
Código de Processo Penal.
Atenta às diretrizes estabelecidas no art. 5º, inciso XLVI, da
Constituição Federal de 1988 e ao critério trifásico estatuído no art.
68 do Código Penal, passo à individualização da pena.

- DA CONTRAVENÇÃO PENAL DE VIAS DE FATO


Atenta às diretrizes dos artigos 59 e 68, ambos do Código Penal,
verifico que na primeira fase, em relação à culpabilidade, a
censurabilidade da conduta do réu atingiu um grau de
reprovabilidade superior àquela comum ao tipo em razão do cargo
que ocupava à época dos fatos, presidente da corte interamericana
de direitos humanos, sendo exigível que tivesse comportamento
completamente diverso respeitando o bem jurídico tutelado.
Quanto à sua folha de antecedentes penais, acostada às fls.
477/481, verifico que o acusado é detentor de bons antecedentes.
Sobre sua conduta social, nada há nos autos a desaboná-la.
Quanto à personalidade, verifico que não foram colhidos elementos
detidos para melhor aferi-la.
O motivo e as circunstâncias do delito são inerentes ao tipo penal.
Quanto às consequências do delito, merecem maior desvalor,
considerando que enquanto se apresentava como defensor dos
direitos humanos, praticou a violência contra a companheira na
presença de seus empregados, causando ainda maior humilhação à
vítima.
Quanto ao comportamento da vítima, em nada contribuiu para a
prática do delito. Ademais, em que pese a tentativa do acusado de
desqualificar a vítima, verifica-se tratar-se de circunstância neutra,
conforme entendimento jurisprudencial e doutrinário.
Desta forma, considerando que é desfavorável ao réu a
reprovabilidade da conduta e a consequência do delito, visando um
valor suficiente para a reprovação do delito, aumento de dois
décimos do intervalo entre o mínimo e o máximo previstos a pena-
base, alcançando 01 (um) mês de prisão simples.
Na segunda fase de fixação da pena, não há circunstâncias
atenuantes a considerar. No entanto, verifico a existência da
circunstância agravante prevista no inciso II, f, do artigo 61 do
Código Penal, consubstanciada na circunstância do delito ter sido
cometido em contexto de violência doméstica.
Dessa forma, majoro a pena para 01 (UM) MÊS E 10 (DEZ) DIAS DE
PRISÃO SIMPLES.
Na terceira fase da dosimetria, também não há causa de diminuição
ou aumento da pena a ser examinada.
Assim, TORNO DEFINITIVA A PENA ACIMA DESTACADA.
- DO CRIME DE AMEAÇA
Em relação à culpabilidade, a censurabilidade da conduta do réu
atingiu um grau de reprovabilidade superior àquela comum ao tipo
em razão do cargo que ocupava à época dos fatos, presidente da
corte interamericana de direitos humanos, sendo exigível que
tivesse comportamento completamente diverso respeitando o bem
jurídico tutelado.
Conforme já exposto acima, o acusado é detentor de bons
antecedentes.
Sobre sua conduta social, nada há nos autos a desaboná-la.
Quanto à personalidade, verifico que não foram colhidos elementos
detidos para melhor aferi-la.
O motivo e as circunstâncias do delito são inerentes ao tipo penal.
Quanto às consequências do delito, merecem maior desvalor,
considerando que enquanto se apresentava como defensor dos
direitos humanos, praticou a violência contra a companheira na
presença de seus empregados, causando ainda maior humilhação à
vítima.
O comportamen

to da vítima, em nada contribuiu para a prática do delito.


Desta forma, diante da fundamentação acima exposta e
considerando que é desfavorável ao réu a culpabilidade e a
consequência do crime, visando um valor suficiente para a
reprovação do delito, aumento a pena-base, alcançando 02 (dois)
meses de detenção.
Na segunda fase de fixação da pena, não há circunstâncias
atenuantes a considerar. No entanto, verifico a existência da
circunstância agravante prevista no inciso II, f, do artigo 61 do
Código Penal, consubstanciada na circunstância do delito ter sido
cometido em contexto de violência doméstica majoro a pena para
02 (DOIS) MESES E 10 (DEZ) DIAS DE DETENÇÃO.
Na terceira fase da dosimetria, não se verificam causas de
diminuição ou de aumento da pena.
Assim, TORNO DEFINITIVA A PENA ACIMA DESTACADA.

- DA TENTATIVA DO CRIME DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL


Em relação à culpabilidade, a censurabilidade da conduta do réu
atingiu um grau de reprovabilidade superior àquela comum ao tipo
em razão do cargo que ocupava à época dos fatos, presidente da
corte interamericana de direitos humanos, sendo exigível que
tivesse comportamento completamente diverso respeitando o bem
jurídico tutelado.
Conforme já exposto acima, o acusado é detentor de bons
antecedentes.
Sobre sua conduta social, nada há nos autos a desaboná-la.
Quanto à personalidade, verifico que não foram colhidos elementos
detidos para melhor aferi-la.
O motivo e as circunstâncias do delito são inerentes ao tipo penal.
Quanto às consequências do delito, merecem maior desvalor,
considerando que enquanto se apresentava como defensor dos
direitos humanos, praticou a violência contra a companheira na
presença de seus empregados, causando ainda maior humilhação à
vítima.
Quanto ao comportamento da vítima, em nada contribuiu para a
prática do delito.
Desta forma, considerando que é desfavorável ao réu a
culpabilidade e a consequências do crime, visando um valor
suficiente para a reprovação do delito, aumento a pena-base,
alcançando 04 (QUATRO) MESES DE DETENÇÃO.
Na segunda fase de fixação da pena, há a circunstância atenuante,
relativa a confissão parcial, bem como a circunstância agravante
relativa ao inciso II, f, do artigo 61 do Código Penal,
consubstanciada na circunstância do delito ter sido cometido em
contexto de violência doméstica. Dessa forma, considerando que o
crime cometido em contexto de violência é preponderante sobre a
confissão parcial majoro a pena para 04 (QUATRO) MESES E 20
(VINTE) DIAS DE DETENÇÃO.
Na terceira fase da dosimetria, deve incidir a causa de diminuição
em razão do reconhecimento da tentativa, reduzo a pena em 1/3
(um terço) tornando-a DEFINITIVA EM 03 (TRÊS) MESES E 03
(TRÊS) DIAS DE DETENÇÃO. Não se verificam causas de aumento
da pena.
Assim, TORNO DEFINITIVA A PENA ACIMA DESTACADA.
Por fim, tendo em vista a ocorrência do concurso material entre os
delitos de vias de fato, ameaça e tentativa de constrangimento
ilegal, nos termos do artigo 69 do CP, unifico as penas aplicadas,
SANCIONANDO AO SENTENCIADO A PENA TOTAL DE 01 (UM) MÊS
E 10 (DEZ) DIAS DE PRISÃO SÍMPLES E 05 (CINCO) MESES E 13
(TREZE) DIAS DE DETENÇÃO.
Fundada nas razões expendidas no bojo desta sentença e, em
consonância com o disposto pelo artigo 33, § 2º, alínea c, do
Código Penal e artigo 6º do Decreto-lei nº 3.688/41, estabeleço
para o cumprimento inicial das penas, o regime ABERTO.
Verifico, entretanto, que o sentenciado faz jus à suspensão
condicional da pena nos termos do artigo 77 do Código Penal.
Destarte, concedo a Suspensão Condicional da Pena pelo período
de 2 (dois) anos. Fixo as condições previstas no artigo 78, § 2º,
alíneas "a", "b" e "c", do Código Penal, bem como, nos moldes do
artigo 79 do Código Penal, fixo a condição de participar em curso
destinado a coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher,
em local a ser indicado pelo juízo da VEPEMA.
Deixo de aplicar o art. 387, IV do CPP, por não ter havido pedido
expresso de condenação em valor mínimo para indenização.
Concedo ao apenado o benefício de apelar em liberdade, em
decorrência do regime prisional ora fixado, o qual não se coaduna
com o decreto da prisão preventiva do sentenciado.
Condeno o réu ao pagamento das custas processuais. Eventual
causa de isenção poderá ser melhor apreciada no Juízo das
Execuções Penais.
Após o trânsito em julgado da sentença, promova à Secretaria as
diligências necessárias.
Intime-se a vítima do teor da sentença, nos termos do artigo 201, §
2º, do CPP.
Por oportuno, diante da suspensão dos prazos processuais relativos
aos processos físicos, sem prazo determinado para o retorno à
tramitação, decorrente da determinação do isolamento social em
razão da pandemia referente ao COVID-19, como já de costume por
esse Juízo, proceda-se à digitalização e distribuição no PJE dos
presentes autos para que, doravante, tramite na forma eletrônica. A
petição e anexos de fls. 2010/2099 deverão ser entranhadas no
processo observando-se o sigi

lo quando da mencionada digitalização.


Após, considerando os fortes indícios de alteração da verdade por
parte das testemunhas Beneuma Garcia Vinagre da Silva e Eliene
Lima da Silva, extraia-se cópias dos respectivos depoimentos, das
declarações de Michela Marys Santana Pereira, do acusado, da
testemunha Giselle Resio Guimaraes, perante a autoridade policial,
em juízo e, quando o caso, na escritura declaratória, bem como a
documentação acostada às fls. 2/2B, 51, 210/213 e 232/237, a
presente decisão, além da documentação que vier a ser indicada
pelo ilustre órgão ministerial, remetendo-os à autoridade policial
para apurar a prática de crimes e, em especial, o crime de falso
testemunho.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Brasília - DF, segunda-feira, 31/08/2020.

Jorgina de Oliveira C. e Silva Rosa


Juíza de Direito

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