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PÚBLICAS?
RESUMO
ABSTRACT
This article attempted to analyze the aspects of female single parenthood, a social
phenomenon that has become increasingly relevant in recent decades. To do so, a
bibliographic and documental research was conducted, correlating the socioeconomic needs
and the demand for public policies; the risk factors that required the State's attention were
demonstrated, intending to respect the constitutional fundamental guarantees for these
families because of the vulnerable situation they face. Public organizational information and
data about female single parenthood in Brazil contributed to the theoretical explanation for the
appropriate rooting of the subject and to the awareness of the problems experienced by these
mothers who are the heads of the families. It was concluded that, given the growth of female
single parenthood, there are scarce public policies to address this reality, directly impacting
the development of these families and contributing to the worsening of other social problems.
1 INTRODUÇÃO
Figura 1: Esquematização
2 METODOLOGIA
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Segundo Lefaucher (apud VITALE, 2002, p. 47), “o termo famílias monoparentais foi
utilizado na França, desde a metade dos anos 70, para designar as unidades domésticas em
que as pessoas vivem sem cônjuge, com um ou vários filhos com menos de 25 anos e
solteiros”.
A existência da família monoparental foi reconhecida como um tipo de família pelo
Direito Brasileiro com a promulgação da Constituição de 1988. Todavia, anterior a 1988 já
existia uma percepção histórica acerca do conceito de “famílias monoparentais femininas”:
podem acontecer quando a mulher decide por uma situação unilateral - sem a presença de um
companheiro (a união livre; as mães solteiras)”.
A construção sociocultural do Brasil, de acordo com Saffioti (1979), “foi alicerçada
sobre bases rigidamente patriarcais, em que a mulher até então tinha o dever de ser submissa
ao homem, inferiorizada numa relação de poder estabelecida socialmente.”
No Brasil, Barroso e Bruschini (1981, p. 41) apontam que foi somente a partir dos
anos 1970 que as mulheres, como chefes de família, surgiram nas pesquisas sociológicas; as
autoras destacam:
É preciso não esquecer que as mulheres chefes de família costumam ser também
‘mães-de-família’: acumulam uma dupla responsabilidade, ao assumir o cuidado da
casa e das crianças juntamente com o sustento material de seus dependentes. Essa
dupla jornada de trabalho geralmente vem acompanhada de uma dupla carga de
culpa por suas insuficiências tanto no cuidado das crianças quanto na sua
manutenção econômica. É verdade que essas insuficiências existem também em
outras famílias, e igualmente é verdade que ambas têm suas raízes nas condições
geradas pela sociedade. Porém, esses fatores sociais são ocultados pela ideologia que
coloca a culpa na vítima, e o problema se torna mais agudo quando as duas vítimas
são encarnadas por uma só pessoa. (1981, p. 40)
Segundo Vitale (2002, p. 47) “existe ainda uma percepção histórica que busca
elucidar a origem e importância da significação de famílias monoparentais, “sobretudo o
esclarecimento de uma reação de mulheres de hoje, em referência à imposição social que as
subjuga à fragilidade e vulnerabilidade econômico-social [...] a monoparentalidade é um
estado em aberto”.
Assim, as famílias monoparentais são protagonistas de histórias peculiares marcadas
pelos diversos contextos sociais. Isso nos mostra que não é possível analisar as famílias
monoparentais como um universo específico ou um grupo homogêneo, mas sim como um
novo grupo modificador das concepções tradicionais de família.
Para Santos (2008), as famílias monoparentais “demonstram habilidades na tomada de
decisões e na superação de grandes desafios, mas ao mesmo tempo revelam suas fragilidades
diante de circunstâncias opressivas do sistema social injusto”.
Em sua pesquisa, Macedo (2008) descreve “o fenômeno da chefia de domicílios por
mulheres constitui uma nova realidade, como insistem em afirmar as assustadas e
preocupadas manchetes de jornais e os programas de televisão. Certamente, porém, sua
existência tem sido ocultada por um retrato uniforme das formas de organização familiar no
Brasil, favorecido, durante muito tempo”. Nestas três últimas décadas ocorreu uma
significativa expansão do fenômeno, dando um crescimento de sua visibilidade social.
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Aduz Scott (2002, p. 2), em seus escritos, “o que vai assegurar relevância e
visibilidade social aos estudos sobre as famílias chefiadas por mulheres, ou ainda ao “vetor”
mulheres chefes de família, não parece ser apenas o relativo crescimento estatístico deste
tipo de arranjo, mas a complexidade de uma pluralidade de fatores que se articulam para a
constituição desta problemática”. Portanto, é preciso entender como a precarização das
condições de vida da população, através da relação das questões econômicas articulam-se a
fatores sociais resultando em novos arranjos do tipo monoparental.
Os autores Lopes e Gottschalk (1990), em suas pesquisas demostraram que “as
famílias chefiadas por mulheres estão em situação estruturalmente mais precárias, mais
dependentes de variações conjunturais, quando comparadas com situações das famílias
pobres, equivalentes no ciclo de vida familiar, que têm chefe masculino presente”. O
contexto de precariedade configura-se como um fator de maior vulnerabilidade social para
este grupo.
De acordo com Vitale (2002), “enquanto houver a associação maciça entre
monoparentalidade e pobreza – e os dados do Censo Demográfico de 2000 o confirmam, em
especial quando se observa a distribuição por regiões do país – acaba por fortalecerem-se
muito mais a adjetivação dessas famílias como vulnerável ou de risco do que como
potencialmente autônomas”.
A relação entre este tipo de família e a pobreza acaba conceituando as mulheres
como incapazes (social e economicamente) de cuidar de suas famílias, ainda que sejam
mulheres independentes. Porém, a monoparentalidade feminina não pode ser avaliada como
um indicador de pobreza apenas. Embora a maior incidência de chefia familiar feminina
ocorra nos domicílios pobres, o fenômeno vem crescendo também nas classes médias e altas.
E os dados referentes a essas classes precisam ser contabilizados para as futuras estatísticas
deste grupo.
Em sua pesquisa Babiuk (2014) descreve “o cotidiano de muitas dessas famílias é
permeado pelas várias expressões da questão social, advindas do modo de produção
capitalista, da divisão social e sexual do trabalho, como a dificuldade financeira, a falta de
acesso à saúde, a precarização da vida, entre outros”. Por causa destas expressões sociais, as
provedoras das famílias monoparentais são estigmatizadas, devido à estrutura histórica que
se criou em relação ao papel da mulher.
A crítica realizada por Castro (2001) é elucidativa acerca dos motivos das
desvantagens sociais enfrentadas pelas mulheres:
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Existem vários avanços nestes últimos anos referentes às lutas pelas causas
femininas, porém há muito que conquistar quando o assunto refere-se à família:
Essas condições colocam estas famílias em convivência com os fatores de risco que
contribuem para a manutenção de desigualdades, preconceitos e exclusão dessas famílias das
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Em seu artigo, Figueiredo (2020) apresenta uma “reflexão acerca da fragilidade dos
laços afetivos, ausência das funções de pai e/ou mãe e dos fatores que envolvem a
desestruturação familiar como possível fonte da tendência voltada para a criminalidade
praticada por adolescentes”.
A desestruturação familiar é um fator de risco na perda da base de sustentação afetiva
e de estabilidade emocional, fundamentais no processo de construção da subjetividade do
indivíduo. A prática de atos infracionais pode ser um dos reflexos da capacidade do
adolescente de buscar no meio social aspectos que deveriam ter sido inseridos em sua
personalidade, mas não foram por deficiências/desestruturas nas relações familiares.
Diante das dificuldades destas famílias Gomide (1990, p. 32) destaca que a falta da
figura paterna, o efeito da pauperização das famílias, o processo educativo precário e o
desenvolvimento psíquico aos quais são submetidas às crianças e adolescentes de famílias
desestruturadas são variáveis importantes no desencadeamento de comportamentos
antissociais.
Referente aos comportamentos antissociais, ressalta-se a relação entre a ausência de
estabilidade familiar e o ingresso do indivíduo no universo do crime:
Para Pinto et al. (2011, p. 176) a relação de gênero não é somente entre sexos
diferentes: ela advém de uma relação onde imperam a desigualdade e a injustiça. A
subordinação da mulher e a violência de gênero na sociedade brasileira estão presentes em
todos os extratos sociais, notadamente entre as mulheres em situação de vulnerabilidade
social. Os direitos da mulher são cotidianamente desrespeitados, gerando expressões de uma
mesma face, a violência, seja ela de gênero, intrafamiliar, doméstica, física, psicológica,
econômica e financeira, sexual ou institucional.
Essas famílias monoparentais que vivenciam fatores de risco não podem ter suas
demandas e necessidades vistas simplesmente como consequências de um sistema social
injusto, a relação de gênero requer atenção. Poletto (2007) afirma que essas famílias “devem
ser resgatadas e fortalecidas em sua dimensão sadia, possibilitando, desse modo, que lutem e
superem as situações percebidas como risco, ultrapassando o determinismo social, o
preconceito e os estereótipos macros sistêmicos”
Mulheres que são mães e chefes de família, conforme foi exposto neste trabalho,
constituem grupos em exclusão social. Estas mulheres encontram-se em situação de risco,
excluídas das políticas sociais básicas (trabalho, educação, saúde, habitação, alimentação).
Nesse sentido, Gomes e Pereira (2005), explicam: “espera-se que a família seja
considerada concretamente na agenda política dos governos para que possa prover autonomia
e que seus direitos sejam respeitados. É necessário que as políticas públicas venham em apoio
à família pobre não apenas em relação à renda, mas também em relação ao acesso a bens e
serviços sociais”.
As políticas devem enunciar soluções para questões públicas. Seu papel é o de prover
pelo menos as necessidades mais básicas de sua população. Entretanto, as políticas públicas
existentes para suporte às famílias monoparentais costumam ser assistencialistas, através de
programas restritos de ajuda alimentar e de renda mínima, ou seja, não há um caráter
multicêntrico ao abordar esta temática.
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muitos casos, não contam com o apoio por parte dos pais de seus filhos e ainda assim devem
sozinhas sustentar seus lares”.
Outra proposta de política pública oriunda da crise econômica que o país vem
passando com o coronavírus é o projeto de Lei 3717/2021 de autoria do Senador Eduardo
Braga (MDB-AM). De acordo com o Senado Federal (2021) “o projeto determina prioridade
para o atendimento às mães solo em diversas políticas sociais e econômicas... entre as
medidas previstas destacam-se: a assistência social às mães solo, aumento da taxa de
participação no mercado de trabalho, prioridade de vagas em creches, prioridade em
programas habitacionais ou de regularização fundiária [...] a Lei terá a vigência de 20 (vinte)
anos, ou até que a taxa de pobreza em domicílios formados por famílias monoparentais,
chefiadas por mulheres, seja reduzida a 20% (vinte por cento). É o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) que mede os indicadores sociais do país”.
Ainda informa a Agência Senado (2021): “as medidas previstas na Lei serão voltadas
à mulher provedora de família monoparental registrada no Cadastro Único para Programas
Sociais (CadÚnico) com renda familiar per capita inferior a meio salário mínimo e
dependentes de até 14 (quatorze) anos de idade [...] o projeto também prevê que o Poder
Executivo e o Ministério Público do Trabalho promovam, entre as suas campanhas, uma que
vise que empresas dos diversos setores econômicos contratem mães solo, anualmente [...] a
proposta do Senador também propõe que os municípios façam a adoção de medidas de
subsídio tarifário no transporte urbano.”
Os projetos de leis apresentados, reflexos da pandemia do coronavírus, comprovam o
agravamento da vulnerabilidade das famílias monoparentais femininas no País e a carência de
políticas públicas que busquem aprimorar essas mulheres e priorizem o atendimento e a
preservação dos direitos de seus filhos.
Entende-se que a vulnerabilidade das mulheres, expressadas nas condições de
instrução, ocupação, trabalho/renda, aumenta a partir do desempenho dos seus papéis de
gênero na esfera doméstica, da ausência de uma retaguarda, de apoio paterno e de políticas
públicas de gênero insuficientes.
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS1
BRASIL. Senado Federal. Projeto prevê Lei dos Direitos da Mãe Solo. Agência Senado.
Brasília, 03 de novembro de 2021. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/11/03/projeto-preve-lei-dos-direitos-
da-mae-solo-1
DEL PRIORE, M. L. M. Brasil Colonial: um caso de famílias no feminino plural. Cad. Pes.
91. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 1994.
GIDDENS, A. Sociologia. Tradução Sandra Regina Netz. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.
GRECO, R. Sistema Prisional: colapso atual e soluções alternativas. 3. ed. Niterói, RJ:
Impetus, 2016.
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LEÃO, M. Cresce no Amazonas número de mães que criam seus filhos sozinhas. Jornal
Acrítica. Manaus, 08 de janeiro de 2021. Disponível em:
https://www.acritica.com/channels/cotidiano/news/crescem-casos-de-familia-monoparental-
feminina-no-amazonas
or-mulheres-saltou-de-25/
SILVEIRA, E. C.; SILVA, S. F. M. Chefia feminina: uma análise sobre a estrutura das
famílias monoparentais femininas e a feminização da pobreza. In: IV Seminário CETROS
Neodesenvolvimentismo, Trabalho e Questão Social, 2013, Fortaleza. Anais. Fortaleza:
UECE, 2013, p. 122-137.
VITALE, M. A. F. (org.). Família Redes, Laços e Políticas Públicas. 2. ed. São Paulo:
Cortez: Instituto de Estudos Especiais – PUC/SP, 2002.