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Determinação de alumínio, cálcio e magnésio trocáveis...

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Capítulo 14

DETERMINAÇÃO DE SULFATO EM SOLOS

Heitor Cantarella
Instituto Agronômico, Centro de Solos e Recursos Agroambientais, Caixa Postal 28,
13001-970 Campinas (SP).

Luís Ignácio Prochnow


ESALQ/USP, Departamento de Solos e Nutrição de Plantas, Caixa Postal 9, 13418-900
Piracicaba (SP).

PRINCÍPIOS

O sulfato (S-SO42- ) representa a maior fração do S inorgânico nos


solos, em geral, prontamente disponível às plantas. A extração do sulfato
pode ser feita por água, bem como por soluções de vários sais. Os compostos
contendo fosfato têm sido os preferidos, uma vez que esse íon extrai
também o sulfato adsorvido às frações coloidais, além de remover a porção
solúvel. Muitos trabalhos de pesquisa demonstraram a eficiência do fosfato
de cálcio para extrair o sulfato. Para solos com alto pH ou contendo
CaCO 3, a extração com fosfato de cálcio em ácido acético mostrou-se
eficiente (H OEFT et al., 1973), mas, para solos ácidos, o ácido acético
parece não ser necessário. O íon Ca 2+ age como floculante e ajuda a
produzir extratos límpidos. A resina de troca iônica mostrou-se também
um bom extrator para S do solo (PROCHNOW et al., 1998) mas, as relações
solo-resina devem ser diferentes daquelas usadas para a extração de fósforo
e dos cátions trocáveis devido, principalmente, à baixa sensibilidade do
método de determinação do sulfato.
O presente método baseia-se na extração de sulfato de amostras de
terra por uma solução de fosfato de cálcio, Ca(H2PO4)2 0,01 mol L -1. A

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226 Análise química de solos tropicais

quantificação é feita por turbidimetria, provocada pela presença de BaSO4,


formado pela reação do BaCl2.2H2O com o S-SO42-, extraído das amostras
de terra.
Os procedimentos usados na extração e determinação do sulfato
foram descritos, respectivamente, por FOX et al. (1987) e TABATABAI e BREMNER
(1970), com as modificações introduzidas por ANDRADE et al. (1990).
A matéria orgânica solúvel presente no extrato geralmente interfere
com a determinação turbidimétrica do sulfato. A matéria orgânica pode
ser destruída por aquecimento com ácido nítrico + ácido perclórico (TEDESCO
et al., 1995), ou removida com carvão ativado. Neste método optou-se
pela segunda alternativa.
Por tratar-se de método de pequena sensibilidade para extratos com
baixas concentrações de S-SO42-, a relação solo-extrator é estreita. Além
disso, emprega-se, na reação, uma solução de HCl contendo uma pequena
quantidade de S-SO42- para auxiliar na nucleação e precipitação do sulfato
de bário.
É importante que a determinação da turbidez seja feita logo após a
adição dos reagentes e agitação, pois o material em suspensão tende a
precipitar com o tempo, causando erros na leitura. Métodos automatizados
de análise por injeção em fluxo têm sido empregados para minimizar
tais problemas. Este texto descreve, porém, o procedimento manual.
O extrato contendo sulfato pode também ser determinado por espec-
trometria de plasma. Nesse caso, as etapas de adição de solução de nucleação
e de sal de cloreto de bário são dispensadas. No entanto, a alta temperatura
do plasma destrói a matéria orgânica presente e determina outras frações
de S presentes no extrato além do sulfato. Alguns trabalhos sugerem que
tais frações podem contribuir também com o S disponível, embora ainda
seja um assunto a ser melhor estudado.
Nem sempre é fácil encontrar fosfato monocálcico no comércio no
Brasil. Uma alternativa é preparar a solução extratora a partir do ácido
fosfórico e de óxido ou hidróxido de cálcio p.a.

EQUIPAMENTOS

1. Espectrofotômetro com ajuste para leitura a 420 nm ou filtro


equivalente.
2. Agitador mecânico.
Determinação de alumínio,
Determinação decálcio
sulfatoe magnésio
em solos trocáveis... 227

REAGENTES

1. Solução extratora de Ca(H2PO 4)2 0,01 mol L-1:

1.1 A partir de fosfato monocálcico p.a. [Ca(H 2PO 4 ) 2.H 2O].


Dissolver 2,52 g de Ca(H 2PO4)2.H2O p.a. por litro de solução, em água
desionizada.

1.2 A partir de H3PO4 e Ca(OH)2 ou CaO:


Solução 1,0 mol L-1 de H 3PO 4. Pipetar 67,5 mL de ácido fosfó-
rico concentrado p.a., (concentração de H3PO4: 855 mL L-1, 14,8 mol L -1,
densidade: 1,83 g mL-1 a 18 °C) em cerca de 800 mL de água destilada,
agitar e completar o volume a 1.000 mL.
Solução extratora de Ca(H2PO4)2 0,01 mol L-1. Dissolver 0,74 g
de Ca(OH)2 p.a. em cerca de 50 mL de água. Acrescentar vagarosamente
20 mL de H3PO4 1 mol L-1. Agitar até dissolver o sal e completar o volume
a 1.000 mL com água destilada. Se o pH final da solução não estiver na
faixa entre 4,2 e 4,8, acertá-lo a 4,5 com solução 0,1 mol L -1 de H3PO4
ou 0,1 mol L-1 de NaOH. Alternativamente, utilizar 0,56 g de CaO p.a. e
proceder como para o Ca(OH) 2.

2. Cristais de BaCl2.2H2O p.a: peneirar os cristais em peneiras de


20 e 60 mesh. Usar os cristais que ficarem retidos na peneira 60.
· Alguns lotes desse reagente podem apresentar contaminação
com sulfato e produzir soluções turvas (0,5 g de BaCl 2.2H 2O
em 10 mL de solução de fosfato monocálcico 0,01 mol L-1) e
devem ser descartados.
3. Solução contendo 1.000 mg L-1 de S. Pesar 5,4374 g de K2SO 4
p.a., seco a 105 oC, dissolver e completar o volume a 1.000 mL com
água desionizada.
4. Solução-padrão contendo 100 mg L-1 de S. Em balão volumétrico
de 100 mL, pipetar 10 mL da solução contendo 1.000 mg L -1 de S,
completando o volume com a solução de Ca(H 2PO4)2.H 2O.
5. Soluções-padrão diluídas. Transferir 0, 1, 2, 4, 8, 12, 16 e 20 mL
da solução contendo 100 mg L-1 de S para balões de 100 mL. Completar
os volumes com Ca(H2PO4)2 0,01 mol L-1 e agitar. Essas soluções contêm,
respectivamente, 0, 1, 2, 4, 8, 12, 16 e 20 mg L -1 de S-SO42-.
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6. Carvão ativado. Usar produto de boa qualidade, livre de enxofre.


7. Solução-semente ácida de S-SO2-4
20 mg L-1. Transferir 250 mL
de HCl concentrado p.a. para um balão de 500 mL. Acrescentar 0,054 g
de K2SO4. Agitar e completar o volume com água destilada.

PROCEDIMENTO
1. Medir 10 cm3 de terra e colocar em frasco plástico com tampa ou
erlenmeyer de 125 mL. Adicionar 25 mL da solução extratora e acrescentar
0,25 g de carvão ativado. Para isso, pode-se utilizar medida volumétrica
previamente calibrada.
2. Agitar por 30 minutos. Em seguida filtrar com papel de filtro
quantitativo, de filtragem lenta (Whatman n.º 42 ou equivalente).
3. Pipetar 10 mL do extrato para frasco plástico, acrescentar 1 mL
da solução-semente ácida e cerca de 0,5 g de BaCl 2.2H 2O peneirado.
Pode-se utilizar medida volumétrica calibrada. Esperar um minuto e, em
seguida, agitar manualmente até a dissolução dos cristais. Ler a absorvância
após dois a oito minutos da dissolução dos cristais, em espectrofotômetro
a 420 nm. Zerar o aparelho com a solução em branco (ponto 0 mg dm-3
de S-SO42- da curva-padrão). Essa etapa deve ser feita com, no máximo,
10 a 12 amostras de cada vez para se efetuar a leitura no tempo especificado.
4. Caso as leituras dos extratos de solo excedam aquelas do ponto
máximo da curva-padrão, repetir a determinação pipetando 2 mL do extrato
e 8 mL da solução extratora e continuar a partir do item 3. Multiplicar o
resultado por cinco.
5. Curva-padrão
5.1. Pipetar 25 mL das soluções-padrão diluídas 0, 1, 2, 4, 8, 12,
16 e 20 mg L-1 de S-SO42-. Acrescentar 0,25 g de carvão ativado e continuar
como para os extratos de solo a partir do item 2.
5.2. Construir uma curva-padrão plotando os valores de absorvância
contra as concentrações das soluções-padrão multiplicadas por 2,5 (0,
2,5, 5, 10, 20, 30, 40 e 50 mg de S-SO42- dm-3 de solo).
5.3. Calcular as concentrações de S-SO 42- no solo com base na
curva-padrão. É conveniente plotá-la para verificar o grau de ajuste. Se
o ajuste linear não for satisfatório, tentar uma equação do segundo grau.
Sua vantagem é a maior precisão nas medidas com teores mais baixos. A
equação da reta calculada pela regressão linear no exemplo abaixo é:
Determinação de alumínio,
Determinação cálcio
de de e magnésio
sulfato em solostrocáveis... 229

A = 0,0085 CS-SO - 0,0094


4
em que:
2-
A é a absorvância e CS-SO a concentração de S-SO4 na curva, expressa em
4
termos de S no solo, já considerando os fatores de diluição. A equação
pode ser resolvida para S a fim de permitir o cálculo nas amostras analisadas:
CS-SO (mg dm-3) = 117,65 A + 1,106
4

O mesmo pode ser feito para a equação do segundo grau.

0,500
A = 0,0085 CS-SO4 - 0,0094
0,400 r2 = 0,9936

0,300

0,200

0,100
ABSORVÂNCIA

0,000
0 10 20 30 40 50 60
CS-SO4 NO SOLO, mg dm -3
0,500
A = 0,00005 (CS-SO4)2 + 0,0062 CS-SO4 + 0,0025
r2 = 0,9989
0,400

0,300

0,200

0,100

0,000
0 10 20 30 40 50 60
CS-SO4 NO SOLO, mg dm -3

Figura 14.1. Curvas-padrão para a determinação de CS-SO em solo.


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, J.C. de; FRIGUETTO, S.R.; BACCAN, N.; CANTARELLA, H.; BATAGLIA,
O.C. Determinação turbidimétrica de sulfato em solos mediante análise por injeção
em fluxo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v.14, p.119-124,1990.
FOX, R.L.; HUE, N.V.; PARRA, A.J. A turbidimetric method for determining phosphate-
extractable sulfates in tropical soils. Communications in Soil Science and Plant
Analysis, New York, v.18, p.343-357, 1987.
HOEFT, R.G.; WALSH, L.M.; KEENEY, D.R. Evaluation of various extractants for
available soil sulftur. Soil Science Society America Proceedings, Madison, v.37,
p.401-404, 1973.
PROCHNOW, L.I.; PISMEL, F.S.; CANTARELLA, H.; VITTI, G.C.; CORRENTE, J.E.;
KIEHL, J.C. Use of ion-exchange resin to evaluate the bioavailability of sulfur in
the soil. Communications in Soil Science Plant and Analysis, New York, v.29,
p.1833-1841, 1998.
TABATABAI, M.A.; BREMNER, J.M. A simple turbidimetric method of determining
total sulfur in plant materials. Agronomy Journal, Madison, v.62, p.805-806,
1970.
TEDESCO, M.J.; GIANELLO, C.; BISSANI, C.A.; BOHNEN, H.; VOLKWEISS, S.J.
Análise de solos, plantas e outros materiais. Porto Alegre: Departamento de Solo,
UFRGS. 1995. 174 p.

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