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9 de Junho de 2021

Os Impactos dos Telemovéis na Jornada de trabalho.

RESUMO: As tecnologias de comunicação estão presentes no


cotidiano das pessoas
e no ambiente de trabalho. Esta facilidade em
comunicar-se pode ser prejudicial
se não respeitar os momentos em
que o individuo esta desfrutando de seus
momentos de descanso e
lazer. O desrespeito ao direito de desconexão por parte
do empregador
pode caracterizar horas trabalhadas e ensejar o pagamento de
horas
extras ao trabalhador além da possibilidade de causar exaustão,
doenças
psíquicas e físicas no empregado

PALAVRAS CHAVES: DIREITO DE DESCONEXÃO,


COMUNICAÇÃO, TELEMÓVEL,
DOENÇAS, HORAS EXTRAS

INTRODUÇÃO

A
tecnologia atual torna possível que a comunicação entre as pessoas se
dê a
qualquer momento e de qualquer lugar.

A
utilização de smartfones permite que o trabalhador acesse a qualquer
tempo seu
e-mail, receba chamadas e mensagens instantâneas de seu
empregador, ainda que
durante o seu intervalo intrajornada,
interjornada e ate mesmo nas férias.

O
uso indevido da tecnologia pelo empregador pode caracterizar o
desrespeito ao
chamado “direito de desconexão” privando o
trabalhador de seus momentos em
sociedade fora do ambiente de
trabalho, quando esta com a sua família e amigos
tornando o tempo de
descanso
em
tempo de trabalho, o que pode levar o trabalhador a desenvolver
doenças psicológicas
e físicas. Desta forma o presente trabalho visa
demostrar a problemática do
dano que decorre da violação do direito
de desconexão do trabalhador. Conclui- se que o uso dos dispositivos
de
comunicação devem ser usados de forma saudável visando o bem
estar de todos os
agentes envolvidos na relação contratual.

MATERIAL
E MÉTODOS

Utilizou-se pesquisa
bibliográfica e consulta a endereços eletrônicos de
sites com conteúdo
jurídico, revistas jurídicas e do Tribunal Superior
do Trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Sabe-se
que a tecnologia cada vez mais informatizada, seus meios
modernos de
comunicação e as redes sociais tornam mais fácil e mais
barato o contato entre
os empregadores e seus empregados os
aproximando e promovendo melhorias na
prestação de serviços. O
trabalho extraordinário caso seja realizado de forma
exagerada pode
provocar graves prejuízos saúde do trabalhador tais como: fadiga,
estresse, depressão e outras doenças que podem levar o funcionário ao
afastamento temporário ou permanente de suas atividades laborais.
Esta situação
também prejudica a empresa já que a fadiga e o estresse
geram a insatisfação do
trabalhador fazendo com que sua
produtividade diminua.

Em 2016 na
França foi aprovada a lei da desconexão pra amparar os
empregados que não tem
obrigação de responder mensagens, e-mails
ou atender ligações de seus
empregadores depois do horário de
expediente. O direito a desconexão é aquele que garante ao empregado
a
liberdade para gozar de seus momentos de descanso e de lazer com
seus amigos e
familiares sem se preocupar com o trabalho.
A
legislação brasileira não traz em seu ordenamento uma lei específica
que trate
a respeito do direito de desconexão mas existem alguns
dispositivos que
demostram a preocupação com o possível desrespeito
a jornada de trabalho contratada e realizada
entre empregador e
empregado.

Artigo
6° da CLT: Não se
distingue entre o trabalho realizado no
estabelecimento do empregador, o
executado no domicílio do
empregado e o realizado a distância, desde que
estejam caracterizados
os pressupostos da relação de emprego. (Redação dada
pela Lei nº
12.551, de 2011)

Parágrafo
único. Os meios telemáticos e informatizados de comando,
controle e supervisão
se equiparam, para fins de subordinação jurídica,
aos meios pessoais e diretos
de comando, controle e supervisão do
trabalho alheio. (Incluído pela Lei nº 12.551, de 2011

Artigo
244 § 2 CLT
Considera-se de "sobreaviso" o empregado
efetivo, que permanecer em
sua própria casa, aguardando a qualquer
momento o
chamado para o serviço. Cada escala de "sobreaviso" será,
no máximo,
de vinte e quatro horas, As horas de "sobreaviso", para
todos os
efeitos, serão contadas à razão
de 1/3 (um terço) do salário
normal. (Restaurado pelo Decreto-lei n º 5, de
4.4.1966)

SÚMULA N.º
428 – SOBREAVISO. APLICAÇÃO ANALÓGICA
DO ART. 244, § 2º DA CLT

I –
O uso de instrumentos telemáticos ou informatizados fornecidos
pela empresa ao
empregado, por si só, não
caracteriza o regime de
sobreaviso.

II –
Considera-se em sobreaviso o empregado que, à distância
e
submetido a controle patronal por instrumentos telemáticos ou
informatizados,
permanecer em regime de plantão ou equivalente,
aguardando a qualquer momento o
chamado para o serviço durante o
período de descanso.
O direito
ao descanso e á desconexão do empregado podem ser
tutelados através de ação
judicial solicitando ao Juízo uma tutela
inibitória em que o autor pede a
condenação do empregador para
proibir a prática abusiva dos chamados fora do
horário de trabalho sob
pena de multa diária. Caso haja o descumprimento da determinação
ainda pode ensejar o pagamento de horas extras e indenização por
dano moral se
ficar provado que os contatos do empregador violaram o
direito a intimidade,
privacidade, imagem ou higiene física ou mental
do trabalhador.

Para que se
configure o trabalho a distância é necessário
que o
empregador acione o empregado fazendo com que este responda ou
cumpra
alguma tarefa laboral relativa ao seu trabalho. A simples
visualização de
mensagens esporádicas e comunicados em geral em
grupos de trabalho (WhatsApp)
não ensejam horas trabalhadas.

“ Um analista de suporte da Hewlett-Packard Brasil Ltda.


obteve, na
Justiça do Trabalho, o direito de ser indenizado por ofensa ao
“direito à
desconexão”. Segundo a decisão, ele ficava conectado mentalmente ao
trabalho durante plantões que ocorriam por 14 dias seguidos, e, além
de cumprir
sua jornada, permanecia à disposição da empresa,
chegando a trabalhar de
madrugada em algumas ocasiões.

O assunto é novo para a Sétima Turma do Tribunal Superior


do
Trabalho, que julgou na última semana um agravo da empresa contra a
condenação. Os ministros entenderam que o direito ao lazer do
trabalhador foi
suprimido em virtude dos plantões e mantiveram a
indenização de R$ 25 mil.

O empregado sustentou na reclamação trabalhista que o


sistema de
sobreaviso imposto pela empresa o privou do direito ao descanso e ao
lazer e à desconexão ao trabalho. “Toda noite eu era acionado em
média três
vezes e não podia dormir corretamente, pois o celular ficava
ligado 24 horas”,
afirmou.
Para a Hewlett-Packard, houve equívoco na
caracterização do
sobreaviso, já que apenas o plantão e o uso de aparelhos
telemáticos
não são suficientes para a sua caracterização. “É preciso que o
empregado fique à disposição da empresa e exista manifesta restrição
de sua
liberdade de locomoção.” (Ricardo Reis e Carmem Feijó –
Revista – TST - Data de publicação 27/10/17)

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA EM FACE


DE DECISÃO PUBLICADA
ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014. JORNADA DE TRABALHO. HORAS DE
SOBREAVISO.
Agravo de instrumento a que se dá provimento, para determinar o
processamento do recurso de revista, em face de possível contrariedade
à Súmula
nº 428, II, desta Corte. RECURSO DE REVISTA EM FACE
DE DECISÃO PUBLICADA ANTES
DA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014. JORNADA DE TRABALHO. HORAS DE SOBREAVISO.
O
regime de sobreaviso caracteriza-se como o tempo, previamente
ajustado, em que
o empregado permanece, fora do horário normal de
serviço, à disposição do
empregador, no aguardo de eventual chamada
para o trabalho. Tal situação
importa diminuição ou cerceamento da
liberdade de dispor do seu próprio tempo,
pois a constante expectativa
de ser chamado ao serviço no momento de fruição do
seu descanso,
seja em casa ou em qualquer outro lugar que possa vir a ser
acionado
por meios de comunicação, impede que desempenhe as suas atividades
regulares. A regra do artigo 244, § 2º, da CLT deve ser compreendida à
luz da
realidade da época de sua edição, nos idos de 1943, quando os
meios de
comunicação eram rudimentares e, por isso, era exigida a
permanência do
empregado em sua casa, a fim de ser localizado de
maneira mais rápida. Hoje,
porém, é possível que o trabalhador tenha
certa mobilidade e, ainda assim, seja
prontamente contatado pela
empresa, por meio de pager, celular ou outros
recursos tecnológicos.
Nesse sentido é a Súmula nº 428 do TST. Na hipótese, o
quadro fático
delineado no acórdão regional comprova, efetivamente, a
ocorrência de
restrição à liberdade do reclamante, já que trabalhava em regime
de
sobreaviso, conforme confissão da preposta da reclamada, e utilizava
aparelho celular, ou seja, era-lhe disponibilizado aparelho de
comunicação em
determinado período de tempo para, caso houvesse
necessidade, ser acionado para
executar o seu labor durante os
plantões. Recurso de revista de que se conhece
e a que se dá
provimento.

(TST - RR: 9692520115150151, Relator: Cláudio Mascarenhas Brandão,


Data
de Julgamento: 09/11/2016, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT
18/11/2016)

O direito a desconexão
além de evitar a exaustão e o estresse do
trabalhador garante a liberdade de
conduzir seu projeto de vida,
levando a efeito atividades extra laborais como:
estudos, hobbies,
exercícios físicos, pratica de crenças religiosas e outras
atividades que
fazem com que o empregado desfrute de momentos prazerosos
importantes para seu desenvolvimento pessoal e até mesmo
profissional o que
aumenta a sua autoestima e produtividade.

CONCLUSÃO

É
essencial que o trabalhador tenha uma vida social saudável e
prazerosa pois a
falta deste tempo de lazer em plenitude pode causar
uma série de doenças
físicas e mentais. É claro que a tecnologia facilita
a comunicação entre as
pessoas e isso pode ser benéfico

tanto
para o empregador como para o empregado, otimizando as
relações de trabalho,
contudo o mal uso dessa tecnologia pode
escravizar o trabalhador trazendo
graves danos para a sociedade, já que
o desrespeito ao direito de desconexão
pode causar a exaustão do
empregado. Para o empregador isso também é ruim pois
prejudica a
sua produtividade já que pode causar diversas doenças que deixam o
trabalhador temporariamente ou permanentemente incapaz para o
trabalho além de
onerar os cofres públicos com tratamento de saúde e
benefícios de auxílio-doença.

É
necessário que os empresários promovam ações dentro de suas
empresas para
orientar seus funcionários e mitigar o mal uso das
tecnologias aplicadas a
relação de trabalho, respeitando as normas do
direito e o contrato firmado
entre as partes o que torna o ambiente de
trabalho mais seguro e saudável.

REFERÊNCIAS

Electronic
Document Format(ABNT)

MARINHO,
Maiara Oliveira; VIEIRA, Fernando de Oliveira. A jornada
exaustiva e a
escravidão contemporânea. Cad. EBAPE.BR, Rio de
Janeiro , v.
17, n. 2, p. 351-361, 2019. http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1679-39512019000200351&lng=en&nr....
access on 11 Sept. 2019. Epub May 30, 2019.
http://dx.doi.org/10.1590/1679-395171623

https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI283098,81042-
As+novas+tecnologias+nas+relacoes+de+trabalho+o+direito+de+desc
onexao

Maria Gabriela Fernandes - acesso em 15 Ago. 2019


http://www.tst.jus.br/web/biblioteca/revista-do-tst

https://juristas.com.br/2019/03/13/os-impactos-das-novas-
tecnologias-nas-relacoes-de-trabalho-o-dano-existencial-decorrente-
da-violacao-ao-direito-a-desconexao/
- Lívia Ohana Bezerra Gomes -
acessado em 19 Ago. 2019

Disponível em: https://dansax.jusbrasil.com.br/artigos/1228781898/os-impactos-dos-telemoveis-


na-jornada-de-trabalho

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