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capitwo 1 Natureza, Origem e Finalidade da Documentagao Documenter c'est réunir, classer et distribuer des documents de tout genre dans tous les domaines de Vactivité humaine.1 NATUREZA DA DOCUMENTACAO. Gueo por uma irmandade de cntusiastas dedica. dos, eujo diligente c altruistico trabalho contribui, na obs- curidade modesta, para o progresso da sociedade, pois és- te depende do acesso a informacao registrada. F a arte da documentagao é a arte de coletar, classificar e tornar facilmente acessiveis os registras de tédas as formas de atividade intelectual. £ 0 processo pela qual o documen- talista pode colocar ante 0 especialista criador a lite1 tura existente sdbre o campo de sua investigaco, a fim de que éle possa tomar pleno contacto cum us reall zagoes anteriores em seu terreno, e dessa forma evitar a dispersfio de esférco na realizagéo de uma tarefa j@ executada. A documentagao origina-se da necessidade de colocar em ordem os processos de adquirir, preservar, resumir e proporcionar, na medida do necessario, livros, artigos e relatérios, dados e documentos de tédas as 1, Em franeés no original. sifiear ¢ distribule 0s documentos de todo dominios da atividade humana) (N, do T.) Documentar & rountr, ca nero em todos os SFHESHHOHHHHEHEHERAEASSERAAA HAHAH @) MATUREZA, ORIGEM E PINALIDADE 6 espécies. £ 0 resultado da compreensio do abismo exis- tente entre o preparo de um registro em qualquer esfera de atividade e a colocag&o désse registro nas mfos d quéle que pode ‘usi-lo como base para uma realizagao nova. O meio principal de registro do progresso obtido nos varios campos do conhecimento é a imprensa perié- diea, e que se publica de forma tio irregular e incoe- rente que é impossivel, sem a documentagdo, obter uma visio clara e concisa do progresso que ocorre num de- terminado ramo do conhecimento, seja grande ou peque- no. Essa desordem reina na produggo de documentos de tOdas as espécies, e para isso. a documentagao é 0 remédio necessério. Podemos observar, desde logo, que a documentacio nio é mais do que um aspecto da arte maior da biblio- teconomia. Trata-se, porém, de um aspecto especial, que requer um estudo especial, pois enquanto a biblio- leconvinia ocuparse de todos os aspectos do tratamento dos livros, a tarefa do documentalista consist em tor- nar disponivel a informacdo original registrada_em artigos de periddicos, folhetos, relatérios, especifica- gées de patentes e outros registros semelhantes. Como © material de que se ocupa é muito mais volumoso, seus métodos devem ser muito mais precisos. Assim, pela sua atuagao sem ostentagiio, o documentalista con- tribui para a produefo dos homens de talento e se torna, por procuracdo, benfeitor da numanidade. © trabalho do documentalista proporciona a chave -mestra a que se refere o Visconde de Swxvrow em seu prefiicio ao Report of Proceedings of the First Conference ‘on Information Bureaux and Special Libraries: “O cres- cimento do conhecimento tem sido notavel e sua apli- cagio evidente em todos os sentidos. Conquanto se reconheca geralmente-que “saber é poder”, ndio é menos certo que consideravel proporelio de conhecimento 0 pocusewragso acumulado, seja no dominio da ciéncia, do comércio, sociologia, educacéo, ou qualquer outro terreno, jaz infe- lizmente adormecido ou sem utilizacio.” “Que tal situagda predomine, é realmente de lamen- tar, Uma quantidade imensa de informacées valiosas existe, se soubermos onde localizé-las. O volume do co- nhecimento moderno est4 muito acima da capacidade de um grupo, por mais erudito, e torna-se assim neces- sério proporcionar uma chave-mestra com a qual deve ser aberto ésse depisito que pertence a todos.” Origem da documentagdo minio da ciéncia e da tecnologia, o progresso sem pre- cedentes durante os iiltimos cem anos produziu um fluxo avassalador de literatura sdbre novas invengdes e descobertas. HA cem anos, o cientista poderia digerir, sozinho, téda a literatura existente sdbre sua especia~ Tizacio. Hoje, s6 com a utilizagdo de um novo género de publicagio periddiea, que faz resumos da literatura cientifica corrente, éle pode, sem dificuldade, manter-se informada sdbre alguns dos livros e artigns novns que trazem informagées sdbre 0 objeto de seu estudo. fsses periddicos de “resumos” foram a primeira fnformacao registrada ao igador original. Constitui- Especialmente no do- aleance da_atenc ram éles @ primeira, nem por isso menos importante, tentativa de dar infcio pratico & arte de tornar aces- sivel a massa caética de informagées registradas. Naturalmente, 0 fons et origo da arte coincide com ‘a época da primeira produgdo do livro impresso, “Quando, numa sala sombria, 0 mecinico solitdrio Modelava as letras na madeira décit” A classificagio é a baso fundamental do processo de docimentacio. Sua origem se deve antes as necessida- eeeeececeeseeeeseseee? Kee SSHSSSESESESHTSSHHHSESAHSESESHE UES SY ne nT NATUREZA, ORIGEM & FINALIDADE n comuns dos negécios do que as exigéncias intelec- fuais. Os catalogos mais antigos que se conhecem, e que deserevem os estoques comerciais dos pais da imprensa, tinham uma classificagio rudimentar. Em 1498, ALDUS publicava um catilogo de Libri Graeci im- pressi, que se dividia nas seguintes classes: 1, Grammatica 4. Philosophica 2. Poetica 5. Sacra Scriptura 3. Logica No Catalogo de Roperr Errenne, publicado em 1546, sao incluidas as seguintes classes. 1. Hebraea 8. Rhetorica 2. Graeca 9. Oratoria 3. Sacra, 10. Dialectica 4. Profana 11. Philosophia 5. Grammatica 12. Arithmetica 6. Poetica 13. Geometrica 7. Historia 14, Medica ‘A evolugdo dos catélogos comuns de biblioteca foi muito Ienta. Considera-se, como primeira classificagio destinada antes ao uso dos livros do que & sua venda, a publicada por Conrap Gzswer, em 1548, na forma de indice de assuntos de sua Bibliotheca Universalis, sob 0 titulo de Pandectarum sive partitionum universalium, libri XXI. Até 1640, nenhuma biblioteca dispunha de meios adequados para proporcionar_a_verificagio de seus recursos de informagao sobre determinado assunto. E nenhuma biblioteca estava ainda completamente catalo- gada. Até entio, tOdas as bibliotecas eram apenas sim- ul pocumenragso ples museus de livros onde, segundo palavras de Joun Hatz, escritas trés séculos antes, “alguns se deleitam mais apreclandy as novas invencdes e modas, outros nos trabalhos ancestrais sous estudos realizam,’ Em 1840, porém, os dois principais tipos de caté- logo de biblioteca, o de autor e o de assunto, eram geralmente empregados, e os principios gerais nos quais se devia basear a tiltimo haviam sido elaborados, deta- Thadamente, pelo grande bibliotecério Pantzzr, como suyslia v yuluine anico do Catalogue of Printed BOOKS in the Library of the British Museum, publicado em 1841. Nessa época, as vantagens do catdlogo classificado por assunto comecavam a ser apreciadas por alguns bibliotecérios. Em 1859, Epwarp Epwarps escreveu, em seu conhecido Handbook of Library Economy, volume “Catélogos nesse plano, [alfabético] trazem ©... mérito — pelo menos para certos estudantes — de nao exigir qualquer conhecimento de sistemas de classificagéio. Mas tais méritos tém de ser confrontados com defeitos graves. Necessiriamente ésses catalogos terdo de ocupar-se antes dos dizeres das pagi- nas de rosto do que com 0 assunto verdadeiro do livro e, Por isso, deixam de proporcionar, de relance, uma idéia, mesmo aproximada, dos livras que possuem sdbre deter- minado assunto. Em certos casos, uma palavra teri diversos significados distintos, e entdo a pesquisa do leilor esluré dificultada por matérias estrannas ao seu objetivo; em outros, um tema é expressdvel por diversos sinénimos, ou térmos pouco precisos, e serd necessdrio © exame dos livros antes que o pesquisador possa ter certeza de que néles encontrara a informagao que busca, ee: Pes 2 td POCSCSSSSSCSE SS CSC SES SSS SE CES: NATONEZA, ORIGEM # FINALIDADE B “Como exemplo da primeira dificuldade... fagamos com que o leitor procure... [a palavra Estado] na Bi- bliotheca Britannica; encontraré entao, entre muitos outros, os titulos seguintes: Estado, teoria politica do Estado atual dos métodos na histéria literéria Estado civil Estados, impérios ¢ principados do mundo Estados Unidos* “bviamente, essa palavra é usada em sentidos dife- rentes nesses exemplos, 0 que néo representaria nada se apenas les ocorreasom; imaginemas parém... cen tenas de outros titulos misturados com éstes, e a difi- culdade a que nos referimos tornar-se-4 evidente.” Depois de alguns exemplos da segunda dificuldade, Epwarps conclui que “ésse método alfabético adapta-se muito menos ao corpo principal de um eatalogo do que ao seu indice auxiliar”. Somente em 1873 surgiu, com Mrzvi. Dewey, a idéia da utilizacdo de uma classificagdo normalizada, dotada de uma notacéo decimal e de um indice alfa- bético dos simbolos, para a ordenacio de livros e ou- tros documentos em todas as bibliotecas. Anos de es- tudo convenceram Drwey de que 2 utilidade das biblio- tecas podia ser aumentada de muito, sem gastos adi- cionais, pela adoc&io de uma classificacio de assuntos adequada, e pela qual os consulentes pudessem verifi- car ripidamente quais os documentos nela coleciona- dos sdbre o assunto de seu interésse, A Decimal Classt- fication and Kelativ Index, de Dewxx, foi posta em pratica pela primeira vez pela Amherst College Libra- 2. Tornou-se necessiria, para inteligéncia do exemple em portugues, pequena adaptacao no texto original, (N. do T.) ™ bocumenragao ry, em Amherst, Bstado de Massachusetts, nos Est Unidos, em 1873. A classificagao foi apresentada a sua tese de doutorado, em 1875, e publicada pela pri meira vez em 1876. Bsse importante acontecimento, quo representa uma divida do mundo para com Mrtvin De. wey, assinala o inicio de uma nova era na organizaciio das bibliotecas. A partir de entao, os bibliotecdrios co- mecaram 2 realizar sua dupla tarefa de coletar os re. gistros impressos do esférgo e do pensamento humano @ de tornar acessivel a informacao registrada sobre um assunto particular, A primeira edigéio da classificagio de Dewey com- Preendia apenas vinte e quatro piginas, a metade das quais era dedicada ao Indice Reletivo, Compreendeu- -se ripidamente 0 valor da Classificagéio, cujo uso se estendeu aos quatro cantos dos Estados Unidos. Novas edigées tornaram-se necessérias com freqiiéncia, e cada qual mais completa do que a anterior. Jé a edicio de 1942, a 14+, tem 1.929 paginas e uma gravura, o retrato de seu famaso autor. A classificagao de Drwey foi introduzida na Ingla- terra em 1893, quandu a Biblivteca Publica de Ashton- -under-Lyne a adotou, Atualmente, 6 0 tipo de classi- ficacio mais utilizado pelas bibliotecas. As grandes bi- bliotecas, em sua maioria, esto hoje completamente catalogadas por autor e muitas dispdem de, pelo menos, um catilogo parcial de assuntos. Na finalidade da documentagéo. Quando a técnica da biblioteconomia estava ainda em processo de evolu- du, os clentistas j4 naviam comprovado a necessidade de encontrar uma forma de organizar a crescente mas- sa de estudos individuais divulgados nos periodicos de associagdes especializadas, e em outras publicacées: ai tigos sdbre investigagdes originals que, por isso, consti- erry SBeeeeeeun ¢ eeecece See ¢€ See eee eee EEK EEY ’ 2s sues = RATUREZA, ORIGEM & PINALIDADE ® tuiam a base para qualquer pesquisa posterior. ‘Tais artigos necessitavam de catalogacao tanto quanto, ou talvez mais, do que os livros, que consignam apenas um registro sumério da descoberta original, quando os pio- neiros j4 esto muitos anos de pesquisas & frente, Talvez a primeira sugest&o de que se preparasse um catdlogo exaustivo de téda a literatura cientifica perié- dica tenha sido a feita em 1855 4 British Association pelo prof. JoserH Hrwry, de Washington. A sugestéo acabou consubstanciando-se no Catalogue of Scientific Papers, publicado pela Royal Society a partir de 1867. Si- multaneamente, comecaram a aparecer os Index to foreign scientific periodicals contained in the Patent Office Library. © catélogo da Royal Society continua sendo feito. Infelizmente, deixow de ser publicado o in- dice do Departamento de Patentes, com o volume de 1872, # interessante observar que o preparo désses catalogos de artigos obedeceu As mesmas idéias observadas nos anti- 0s catélogos de livros, j4 que o catdlogo da Royal Society Obedecia & disposicdo alfabética por autores, e o indice da Biblioteca do Departamento de Patentes era classifi- cado. Antes mesmo do catdlogo da Royal Society, po- rém, a produco de literatura cientifica em periddicos aumentara de tal forma que se tornara impossivel para © cientista ler téda a literatura de seu ramo de espe- clalizacdo, para manter-se em dia com a progresso. Um novo tipo de publicaedo tomou-se necessirio, para 0 exame de setéres mais ou menos amplos de conheci- mento € a snmarizagio de tédas as contribuigées de importéncia surgidas nesse campo, proporcionando as- sim uma visio de conjunto do progresso. O mais an- tigo periddico désse tipo foi o Pharmaceutisches Zen- traibiatt (posteriormente, Chemisches Zentralblatt) cuja Publicaedo se iniciou em 1830 e prossegue até hoje. 6 pocumswracso Esse primeiro “periddico de resumos” foi seguido, com o tempo, de muitos outros, cobrindo campos cien: tificos bem definidos, dando resnmos das publicacdes correntes, anotagdes curtas ou apenas uma referéncia. Exemplos dessas publicagées siio a Quarterly Journal of the Chemical Society (atualmente British Abstracts), iniciado em 1847; 0 Zoological Record, fundado em 1864; e o Engineering Index, que comecou em 1884, To- dos éstes continuam sendo publicados. Dessa forma, desenvolveram-se lado a lado um con- junto de periddicos de resumos, com sumérios de arti- gos atuais, e 0 catilogo exanstivo da Royal Society por autor, dando apenas os titulos de tais artigos. Os periédicos de resumos dispunham de indices al- fabéticos anuais de assunto, que podiam ser fundidos em indices qiiingiienais ou decenais, Tedricamente, por- tanto, era possivel examinar 0 que se realizara num de- terminado setor nos tltimos anos. A prética, porém, ndo confirmou totalmente a teoria, O método alfabé- tico de ordenacio foi adotado nesses indices, e éle néo se presta muito & indexaciio par assinto, j4 que um. inico assunto pode ser descrito numa grande variedade de combinagées de palavras, j& que os assuntos corre- latos ficam dispersos pelo labirinto alfabético. Assun- tos idénticos eram colocados no mesmo indice sob di- ferentes cabecalhos, e em lugares diferentes em outros indices, enquanto assuntos semelhantes podiam ser en- contrados em quase todo o indice. Essas dificuldades se acentuavam porque tais indices eram publicados em diferentes linguas ¢ paises. Para verificar 0 que se havia escrito sébre um assunto, era necessario compul- sar os indices de princfpio aa fim. E como séo nume- rosos os periddieos que, dentro de cada especialidade, se dedicam & indexaco ou ao resumo, era necessério executar 0 mesmo trabalho em todos éles. Essa tarefa 0 000008558554555665856558 aes a NATURA, ORIGEM & PINALIDADE n era apenas pouco menos trabalhosa do que ler todos os artigos. Dessa forma, a necessidade da adocéio de uma clas- sificagio normalizada para a utilizagio de periddicos de resumos, bem como para livros, tornou-se evidente. # ésse o assunto que discutiremos mais detalhadamen- te 7

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