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FACULDADE ARMANDO ALVARES PENTEADO

COMUNICAÇÃO E MARKETING

Alice Picchi e Maysa Dornfeld

AVALIAÇÃO N1 SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO

OUT/2021
A revolução industrial promoveu expressivas mudanças estéticas e de costumes que
marcaram a segunda metade do século XIX, foi a partir delas que uma nova sociedade,
pautada pela movimentação e pela velocidade, surgiu. O novo ritmo imposto pela revolução
influenciou todos os aspectos da vida na era que ficou conhecida como modernidade. Em seu
texto "O Pintor da Vida Moderna", Charles Baudelaire discute a experiência do homem e do
artista moderno atentando-se às mudanças impostas por esse período no papel da arte que, em
ruptura com os padrões da antiguidade, passa a retratar a beleza na banalidade cotidiana
buscando extrair o eterno do transitório, nas palavras do próprio autor.
A experiência da modernidade na visão dele pode ser melhor descrita como
"passageira", algo que diz respeito somente à fugacidade do presente. É também importante
destacar que, modernidade não é oposto de antiguidade, e sim uma consequência dela, como
explicita em: “O passado, conservando o sabor do fantasma, recuperará a luz e o movimento
da vida, e se tornará presente.” (BAUDELAIRE, 1976b, p. 852). Nas palavras do próprio
autor, "A modernidade é o transitório, o efêmero, o contingente, é a metade da arte, sendo a
outra metade o eterno imutável." (BAUDELAIRE, 1976b, p. 859).
Ele realça também a importância da presença de um olhar de criança nos pintores da
vida moderna, referindo-se a um olhar curioso e ingênuo que seja capaz de captar a selvageria
e a frivolidade da rotina moderna de maneira original. Um bom artista moderno, consegue
retratar de maneira competente a multidão cosmopolita, personagem central dessa nova era
descrita por Baudelaire. O surgimento da indústria gerou uma migração de milhares de
pessoas em busca de trabalho, tornando necessária uma reforma urbanística que resultou na
formação de dita multidão e transfigurou o ambiente no qual a modernidade viria a se
instaurar, a cidade.
Para Walter Benjamin, o surgimento das cidades promove mudanças essenciais na
visão popular e também o nascimento de diversas particularidades urbanas. O
desenvolvimento de centros comerciais, galerias e exposições universais, assim como a
construção de ruas estreitas e diversos bairros operários são algumas das transformações
apresentadas pelo autor do texto "Paris, capital do século XIX" como decorrências da
aparição de um espaço capitalista. Paris, é utilizada por ele à via de exemplo por ser apontada
como a maior área urbana da modernidade.
De acordo com Benjamin, a transformação na mentalidade social é uma subsequência
do fenômeno urbano. O fetichismo da mercadoria, que aflora no espaço capitalista,
desumaniza as pessoas ao transverter vidas em mãos de obra. O processo de produção que
prioriza a produtividade facilita o desenvolvimento de uma sociedade que o autor caracteriza
como individualista. Outro acontecimento apontado por ele é a consequência do excesso de
estímulos visuais presentes na vida urbana. Este faz com que seja difícil acompanhar o que se
vê e transforma o olhar do homem moderno, resultando na desauratização da arte moderna,
tema explorado pelo autor no texto "Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica"
A obra de arte sempre foi reprodutível, entretanto, Benjamin aponta que, após a
chegada da fotografia, a produção de imagens passou a ser tão acelerada quanto a palavra
oral. Ele afirma que a nova velocidade atribuída à reprodutibilidade técnica aproxima a obra
do indivíduo, porém também atrofia o valor de autenticidade da coisa, ou seja, a sua aura. A
fim de entender a definição de aura atribuída à obra de arte, é necessário analisá-la como um
todo; a humanidade viveu por milênios em sociedades auráticas, ou seja, nas quais a forma
de se enxergar o mundo ao redor era proveniente de um misticismo, de uma aura, criada pela
ausência de explicações científicas. No mundo aurático, as respostas existentes eram, em sua
maioria, mitológicas e espirituais, e a não-racionalidade das coisas coloca uma espécie de
óculos nas pessoas, gerando esse sentimento sobrenatural. Após o advento da ciência, essa
aura se perde e, em seguida, com a aceleração estabelecida no modo de vida social após a
industrialização e urbanização no Século XIX, ela se torna irrecuperável.
Aplicando esse conceito na arte, pode-se dizer que ocorre um processo sintomático,
pois a técnica de reprodução substitui a existência única de uma obra por uma existência
serial, resultando em um violento abalo da tradição (aura). Diante disso, o autor coloca o
cinema como o grande agente desse fenômeno, afirmando que seu valor é destrutivo e
catártico, liquidador do valor de patrimônio da cultura pelo simples fato de a produção
cinematográfica ter como princípio a sua reprodução. Essa característica seria o pólo oposto
das pinturas rupestres, por exemplo, nas quais o valor de culto é predominante e requer
secretismo, entretanto, à medida que a arte se emancipa de seu valor ritualístico, maior se
torna a sua necessidade de exposição.
O filme, então, seria uma forma de arte cujo caráter é determinado por sua
reprodutibilidade. Outra característica do cinema apresentada no texto é a sua
perfectibilidade; o produto final é derivado de diferentes fragmentos, ao contrário de uma
escultura que surge a partir de um único bloco. Também em relação à montagem, Benjamin
faz uma comparação com o trabalho operário ao dizer que, assim como o trabalhador em uma
linha de montagem é submetido à provas mecânicas, os planos são gravados de diferentes
formas e o montador realiza testes para escolher o melhor, excluindo os que não obtém êxito
na tarefa.
Vale ressaltar também que o autor faz uma crítica ao capital cinematográfico e ao
controle político atribuído ao cinema. Segundo ele, enquanto as câmeras estão ligadas, até
mesmo o ator sabe que sua relação será com a massa. Nesse contexto, a indústria se utiliza do
controle político para explorar o capital, e estimula no público, além disso, o culto ao
estrelato e a consciência corrupta de massas que o fascismo coloca no lugar da consciência de
classes. Em seguida, é feita uma comparação da técnica do cinema com a do esporte no
sentido de que o espectador é um semi-especialista, pois cada pessoa pode reivindicar seu
direito de ser filmado; a indústria cinematográfica se beneficia ao estimular a participação das
massas por meio de concepções ilusórias.
Ao contrário do que acontece na pintura, na qual o artista observa seu trabalho através
de uma distância natural da realidade, o cinema penetra nesta realidade de maneira visceral.
Benjamin argumenta que “o cinema é a forma de arte correspondente aos perigos existenciais
mais intensos com os quais se confronta o homem contemporâneo”, pois na atualidade, a
relação do público com as obras se tornou, por parte das massas, uma busca por distração,
enquanto o conhecedor procura recolhimento. Assim, a humanidade se torna um espetáculo
para si mesma e sua auto-alienação permite que desfrutem de sua destruição como um prazer
estético.
Como um sistema de semelhança no qual existe uma falsa distinção entre o universal
e o particular. Diante disso, a verdade é a ideologia e a afirmação do cinema e do rádio como
indústrias impõe métodos de reprodução que satisfazem necessidades iguais através de
produtos padronizados. Em meio a esse ciclo de manipulação, a unidade do sistema se
restringe cada vez mais, caracterizando o que ele chama de “racionalidade técnica”, composta
pelo caráter repressivo de uma sociedade auto alienada.
A principal característica da indústria cultural é a padronização do consumidor,
entretanto, ao passo que os classifica e organiza, a mesma transmite uma ilusão de
possibilidade de escolha. Em todas as suas manifestações, este mercado atrofia a imaginação
e espontaneidade ao reproduzir os homens já como produtos. Adorno define esse contexto
como o “paradoxo da rotina” disfarçado de natureza, ou “barbárie estilizada”. Vale a pena
ressaltar que, na indústria, o conceito de estilo autêntico se desmascara como equivalente
estético da dominação, ou seja, a revolta se torna marca de fábrica de quem tem uma nova
ideia para a indústria.
Em seguida, é feita uma comparação do sistema com o liberalismo econômico ao
colocar o consumidor na posição de operário. Afirma-se que as massas enganadas são mais
submissas ao mito do sucesso e ascensão dos competentes. Nesse contexto, ocorre a
consolidação da arte como entretenimento e distração, porém, o que se encontra é um mero
prolongamento do próprio trabalho: padronização e mecanização. Além disso, outro ponto
chave da indústria cultural é o “segredo da sublimação estética”, que seria a satisfação
encontrada na negação, pois o consumidor é privado daquilo que lhe é constantemente
prometido
No filme “Cidadão Kane”, que conta a história de vida de um magnata detentor dos
recursos de mídia, é possível observar a indústria cultural em ação. Já em sua primeira fala, o
personagem Charles Foster Kane, interpretado pelo próprio diretor e roteirista Orson Welles,
diz que não se deve acreditar em tudo aquilo que se ouve no rádio, dando o pontapé inicial no
enredo. Ao decorrer do longa, essa ideia é mais explorada ao retratar a parcialidade da mídia,
que age de acordo com os interesses dos detentores de capitais, como grandes empresários no
caso do filme. Percebe-se assim, a manifestação da indústria cultural que tenta padronizar o
consumidor. Kane manipula e distorce as notícias e conteúdos que são transmitidos buscando
influenciar a opinião pública para sempre favorecer a si próprio e obter lucro sobre as
produções culturais.

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