Você está na página 1de 45

TRÁFICO

INTERNACIONAL
DE
ENTORPECENTES
P E S Q U I S A D E C A M P O D O S C A S O S

P A T R O C I N A D O S P E L A D E F E N S O R I A P Ú B L I C A

D A U N I Ã O N O R E C I F E E N T R E 2 0 1 6 - 2 0 1 9
PESQUISADORES
(AS)
Myllena Moraes Luckwu.  Graduanda em Direito
COORDENAÇÃO
pela Universidade Federal de Pernambuco.

Tarcila Maia Lopes. Mestra em Direito pela Estagiária da Defensoria Pública da União no

Universidade Católica de Pernambuco. Defensora Recife.

Pública Federal. Renan Torres Alves. Graduando em Direito pela

Universidade Federal de Pernambuco. Estagiário

da Defensoria Pública da União no Recife.


EQUIPE
Integrante do Grupo Robeyonce de Extensão

Ana Luíza Melo Leal. Graduanda em Direito pela Universitária.

Universidade Federal de Pernambuco. Estagiária Renata Soares Ramos Falcão. Graduanda em

da Defensoria Pública da União no Recife. Direito pela Universidade Católica de

Integrante do Grupo Robeyonce de Extensão Pernambuco. Estagiária da Defensoria Pública da

Universitária. União no Recife. Pesquisadora auxiliar e

Carla Góes Medeiros. Mestranda em integrante do Grupo Asa Branca de Criminologia.

Criminologia pela Universidade do Porto. Sarah Malta Botelho de Carvalho. Graduanda

Bacharela em Direito pela Universidade Federal em Direito pela Universidade Federal de

de Pernambuco. Ex-estagiária da Defensoria Pernambuco. Estagiária da Defensoria Pública da

Pública da União no Recife. Advogada. União no Recife.

Débora de Lima Padilha. Bacharela em Direito Taciana da Silva Espíndola.  Graduanda em

pela Universidade Federal de Pernambuco. Ex- Direito pelo Centro Universitário Maurício de

estagiária da Defensoria Pública da União no Nassau. Ex-estagiária da Defensoria Pública da

Recife. Advogada. União no Recife.

Isabella Low Tavares. Graduanda em Direito Treicy Kariny Lima de Amorim. Graduanda em

pela Universidade Federal de Pernambuco. Direito pela Universidade Católica de

Estagiária da Defensoria Pública da União no Pernambuco. Estagiária da Defensoria Pública da

Recife. União no Recife. Pesquisadora auxiliar e

Luiza Mirelly Barros Alves. Graduanda em integrante do Grupo Asa Branca de Criminologia.

Direito pela Universidade Federal de Pernambuco. Victoria Galvão de Andrade Lima. Graduanda

Estagiária da Defensoria Pública da União no


em Direito pela Universidade Federal de

Recife.
Pernambuco. Estagiária da Defensoria Pública da

Maria Clara Lima Bezerra de França. União no Recife. Pesquisadora auxiliar e

Graduanda em Direito pela Universidade Federal


integrante do Grupo Asa Branca de Criminologia.

de Pernambuco. Estagiária da Defensoria Pública


Integrante do Grupo de Estudos Afrocentrados

da União no Recife.
Baobá.
APRESENTAÇÃO
aaaAntes de expor o que é e como surgiu esta pesquisa, é importante explicar o

contexto que uniu esta equipe de pesquisadoras/es. Todas as pessoas que

participaram desta pesquisa trabalharam no núcleo criminal da Defensoria Pública da

União (DPU) no Recife, uma como defensora e as demais como estagiárias. Nessa

atuação, era comum o debate dos casos coletivamente, ainda que nem todos

estivessem trabalhando diretamente no processo objeto de discussão.

aaaNesse contexto, os casos que tratavam de acusações de tráfico de drogas

ensejavam muito interesse e discussões a respeito da forma de julgamento, das penas

e outras questões. Em geral, as pessoas assistidas pela DPU tinham nitidamente pouco

poder dentro da empresa do tráfico, possuíam poucas informações a respeito da

qualidade da droga e do seu destino. São chamadas, no linguajar jurídico, de “mulas

do tráfico”.

aaaEssas pessoas são apontadas em estudos como as mais vulneráveis e as que

correm os maiores riscos no comércio das drogas ilícitas. Em número significativo dos

casos, são estrangeiras, o que só agrava sua vulnerabilidade. Também é alto o

percentual dos/as acusados/as que são submetidos/as a prisões cautelares, o que só

reforça sua hipossuficiência e dificulta sua defesa, pois não podem trazer provas por si

mesmos/as que possam ajudar nos seus processos.

aaaA defesa das chamadas “mulas do tráfico” enseja a exposição de diversas teses

jurídicas. De pedidos de reconhecimento de exclusão de culpabilidade por

inexigibilidade de conduta diversa até requerimentos que se limitam apenas à

dosimetria da pena. No âmbito desses processos, algumas teses foram elaboradas,

como o pedido de aplicação da atenuante genérica pela custódia cautelar em

estabelecimento prisional que não garante a dignidade dos presos.

aaaEmbora a atuação nesses processos seja de certa forma comum, dado o número

de casos e a familiaridade dos/as defensores/as com as teses defensivas, vez por

outra nos deparamos com casos que chamam nossa atenção. Foi o que aconteceu nos

processos de Marília e de Luciano, que renderam um artigo acadêmico relatando as

divergências entre as situações dos dois assistidos e a análise de tais diferenças à luz

das teorias sobre gênero 1. Parte desses casos foi tratada também na dissertação de

mestrado 2 da coordenadora desta pesquisa, trazendo questões como a desproporção

entre as medidas cautelares impostas no curso do processo, em comparação com as

penas definitivas impostas aos/às assistidos/as.

1 PASCHOAL, Julio Emilio Cavalcanti; BORBA, Marcela Martins; LOPES, Tarcila Maia. O gênero na

dosimetria da pena: um estudo comparativo do julgamento de acusados do crime de tráfico de

drogas. Anais do IV Colóquio Internacional de Pesquisadores em Direito, Recife, p. 438-452,

2017.

2 Audiências de Custódia e Encarceramento Provisório: Um Estudo a Partir


LOPES, Tarcila Maia.

dos Casos Acompanhados pela Defensoria Pública da União. Dissertação (Mestrado em Direito)
– Universidade Católica de Pernambuco, 2019.
aaaÀ medida em que essas questões se faziam mais perceptíveis a partir da nossa

atuação profissional, intensificou-se o uso de estudos e de pesquisas empíricas no

reforço das teses jurídicas da defendidas pela Defensoria Pública. Foi assim no

julgamento da execução da pena após a decisão em segunda instância, em que as

Defensorias, inclusive, a DPU, levaram ao Supremo Tribunal Federal dados sobre a

reversão de acórdãos judiciais nas instâncias superiores. Nessa esteira, aumentaram as

divulgações de estudos institucionais por parte das Defensorias, como a dos estados do

Rio de Janeiro e de São Paulo.

aaaA partir dessas experiências, surgiu a ideia de fazer um estudo sistematizado dos

casos defendidos pela DPU/Recife nos casos envolvendo acusados de tráfico de drogas.

aaaEsse estudo serve inicialmente para se conhecer a demanda da DPU/Recife, no que

diz respeito ao perfil das pessoas assistidas, dos aspectos de liberdade dos/as acusados

e também das penas impostas àqueles/as eventualmente condenados/as.

aaaEsse estudo serve principalmente para reunir dados sobre os resultados da atuação

da DPU, para saber quantas pessoas foram absolvidas e quantas condenadas e quais os

patamares de pena. Além disso, para verificar os resultados dos recursos interpostos.

aaaA partir desse levantamento, será possível perceber padrões decisórios nas três varas

criminais no Recife e no Tribunal Regional Federal da 5 ª Região, no julgamento dos

processos provenientes da subseção do Recife. Ademais, isso abrirá caminho para que

os/as defensores/as e suas equipes, se assim desejarem, analisem quais as teses que

precisam ser melhor trabalhadas e o que pode ser melhor articulado para facilitar o

acesso dos/as assistidos/as a serviços como abrigamento, assistência consular, entre

outros.

aaaAdemais, esse estudo possibilita o incremento das teses defensivas com dados

empíricos sobre nossa atuação, o que pode contribuir sensivelmente na recepção das

teses pelo Poder Judiciário.

aaaPor fim, o relatório a ser produzido a partir dos dados coletados nesta pesquisa pode

ensejar a produção de trabalhos acadêmicos, com viés qualitativo, sobre a atuação da

Defensoria Pública da União.


SUMÁRIO SUMÁRIO

Metodologia 6 2.2.1. Do Julgamento do


Mérito dos Processos 28

2.2.2. Penas Aplicadas 29


Resultados 9
2.2.3. Regime Inicial de
Cumprimento de Pena 33
1. Condições pessoais dos acusados 9
2.2.4. Substituição por
1.1. Gênero 9
Penas Restritivas de
1.2. Nacionalidade 9
direitos 35
1.3. Idade 10
2.3. Recursos 36
1.4. Escolaridade 11
2.3.1. Julgamento pelo
1.5. Situação profissional 12
Tribunal Regional da 5ª
1.6. Filhos/as 13
Região 36
2. Aspectos Processuais 14
2.3.2. Julgamento pelos
2.1. Prisão em flagrante e
Tribunais Superiores 40
liberdade ao longo do processo 14

2.1.1. Tipo de Droga 14

2.1.2. Resultado da audiência Conclusão 42

de custódia 20

2.1.3. Prisão domiciliar 23

2.1.4. Habeas corpus 24


Referências
45
2.2. Sentença 28 Bibliográficas
6

METODOLOGIA
aaaA pesquisa que se pretende realizar é empírica, assim entendida como

“aquela voltada sobretudo para a face experimental e observável dos

fenômenos”, que trabalha com dados e fatos concretos 3. Trata-se também

de uma pesquisa exploratória de base documental, ante a inexistência de

dados previamente esquematizados. A pesquisa documental é entendida

como aquela em que a busca de informações ocorre em documentos que não

4
receberam nenhum tratamento científico .

aaaNo caso deste estudo, as fontes primárias, ou seja, os dados originais, a

partir dos quais se tem uma relação direta com os fatos a serem analisados,

são as informações constantes nos processos de assistência jurídica (PAJs)

instaurados no âmbito da Defensoria Pública da União no Recife, bem como

as decisões judiciais e documentos jurídicos relativos a esses processos de

assistência. Como a DPU dispõe de um sistema unificado de controle de

seus processos internos, o Sistema de Informações Simultâneas da

Defensoria Pública da União (SISDPU), tais documentos estarão disponíveis

neste sistema, o que facilita sobremaneira a coleta de dados.

aaaNo sistema citado, são gerados processos de assistência jurídica (PAJs),

cada um deles relacionado a um processo judicial, em que são registradas

as comunicações da Polícia Federal a respeito de prisões, as diligências

promovidas pelos defensores e pelos colaboradores da DPU (como contatos

telefônicos com familiares e visitas aos presos nas delegacias ou presídios),

as peças judiciais protocoladas e as decisões judiciais prolatadas. Em cada

um dos processos de assistência é registrada uma narrativa, que descreve

resumidamente o que ensejou a atuação da DPU. A partir dessas narrativas,

foi possível pesquisar os casos analisados neste estudo.

aaaO período da pesquisa engloba os anos de 2016, 2017, 2018 e os

primeiros seis meses de 2019. Foram objeto de pesquisa todos os PAJs em

que houvera atuação da DPU em algum momento, ainda que posteriormente

a defesa fosse assumida por advogado/a particular.

aaaDefinido o lapso temporal, a coleta de dados foi feita através do SISDPU

de relatório de pesquisa de narrativa, a partir das buscas pelas palavras

“tráfico”, bem como pela palavra “flagrante” (uma vez que grande parte dos

processos deriva de prisões em flagrante realizadas no aeroporto interna -

3 DEMO, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. 2ª Edição. São Paulo: Atlas, 1985, p. 25.

4 ALMEIDA, Cristóvão Domingos de; GUIDANI, Joel Felipe; SILVA, Jackson Ronie Sá Silva. Pesquisa documental: pistas

teóricas e metodológicas. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais. Ano I, Número I, jul. 2009, p. 3.

Disponível em: https://www.rbhcs.com/rbhcs/article/view/6. Acesso em: 13 set 2018.


7

nacional do Recife). Além disso, foi realizada uma pesquisa nos arquivos

disponíveis nas pastas da rede dos/as defensores/as públicos/as que

atuavam nos ofícios criminais por peças que tratem de casos de tráfico de

drogas, a fim de identificar os casos.

aaaOutro recorte da pesquisa foi limitar a análise dos casos àqueles que em

os/as assistidos/as se enquadrem, a priori, como mulas do tráfico, ou seja,

aqueles processos em que o fato imputado ao/à acusado/a seja do

transporte de drogas. Além disso, a pesquisa se restringiu aos casos em que

havia indícios de transnacionalidade da conduta.

aaaObtida a lista com os/as assistidos/as, seus processos foram analisados

individualmente, sendo observados e categorizados, conforme adiante

exposto.

aaaO método utilizado para estudo dos documentos pesquisados foi a

análise de conteúdo, a qual, de acordo com Laurence Bardin, consiste em

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter

por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo

das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a

inferência de conhecimentos relativos às condições de pro-

dução/recepção destas mensagens. Indicadores que permitam inferir

u m a o u t r a r e a l i d a d e q u e n ã o a d a m e n s a g e m 5.

aaaA fim de examinar os documentos, partiu-se de uma observação

estruturada, segundo a classificação de Laville e


6
Dionne , que permitiu uma

ordenação antecipada do fluxo de informações, a fim de selecionar quais

seriam pertinentes. Para possibilitar essa observação, foi necessário

construir categorias.

aaaAs categorias utilizadas neste estudo foram propostas inicialmente pela

coordenadora da pesquisa, e posteriormente discutidas e ajustadas

coletivamente por todas as pessoas do grupo. As categorias podem ser

divididas em dois grupos: as relativas às condições pessoais das pessoas

acusadas e as referentes ao processo judicial em si.

aaaAquelas concernentes às condições pessoais dos(as) assistidos(as) são

as seguintes: gênero, data de nascimento, estado civil, nacionalidade, grau

de escolaridade, situação profissional antes da prisão e a existência de

filhos menores de 12 e maiores de 12 anos.

aaaApesar de reconhecida a importância do fator “raça”/cor, que tanto

pode indicar sobre a ordem processual penal brasileira, não foi possível

coletar tal informação, pois nos procedimentos verificados não foram

encontrados documentos que informassem tal dado.

aaaJá as categorias referentes ao processo, por serem em maior número, fo-

5 BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009, p. 13.

6 LAVILLE, Christian.; DIONNE, Jean. A Construção do Saber. Tradução Heloisa Monteiro e Francisco Settineri. Porto

Alegre: Artmed; Belo Horizonte: UFMG, 1999, p. 177-178.


8

ram subcategorizadas de acordo com o estágio processual. O primeiro

subgrupo se relaciona com aspectos da liberdade no curso do processo .


As categorias neste ponto são: tipo de droga; quantidade da droga; o

resultado da audiência de custódia (uma vez que em todos os casos

estudados houve prisão em flagrante das pessoas acusadas); os

fundamentos para decretar a prisão 7; quais as cautelares eventualmente

aplicadas; se houve prisão domiciliar; se houve impetração de habeas

corpus; o resultado da liminar do habeas corpus; e o resultado de mérito.

aaaO segundo subgrupo diz respeito à sentença judicial : juízo

sentenciante; se houve condenação; em que tipo(s) penal(is); pena-base;

pena provisória; pena definitiva; se foi reconhecido o tráfico privilegiado; o

regime inicial da pena; se houve conversão em penas restritivas de direitos

(PRDs); e quais as modalidades de PRDs aplicadas.

aaaO terceiro subgrupo se refere aos recursos manejados : se houve

apelação do MPF; se houve apelação da defesa; se houve provimento da

apelação; a pena-base determinada pelo Tribunal; a pena provisória; a pena

definitiva após decisão do Tribunal; se houve reconhecimento de tráfico

privilegiado; o regime de cumprimento da pena estabelecido no acórdão; se

houve conversão em PRDs; se houve interposição de recurso extraordinário

ou especial; se houve provimento do recurso especial ou extraordinário; a

pena-base determinada pelos Tribunais superiores; a pena provisória

determinada; e  a pena definitiva determinada.

aaaApós análise dos documentos, foi feito o enquadramento em cada uma

das categorias, registrando tudo em tabelas no programa Microsoft Excel.

aaaOs dados foram coletados pela equipe de pesquisa, a partir de consultas

ao SISDPU. Para facilitar a coleta, houve a divisão do grupo em duplas. Os

dados colhidos por cada dupla posteriormente foram compilados em um

arquivo.

aaaApós a coleta dos dados, foi realizada uma reunião para discutir os

resultados preliminares e a forma de elaboração deste relatório.

aaaOs resultados encontrados na pesquisa serão expostos no tópico

seguinte.

7 Neste ponto, foram utilizadas como respostas as hipóteses do artigo 312 do Código de Processo Penal: garantia da

ordem pública, aplicação da lei penal e conveniência da instrução processual.o


9

RESULTADOS
1. Condições pessoais dos acusados
1. 1. Gênero
aaaAo contrário do que comumente se observa nos dados do sistema penal em

geral, a maior parte dos/as acusados/as é do gênero feminino. São 19 mulheres e

apenas 17 homens, de modo que as acusadas correspondem a 53% do total:

Gênero

Homens
Mulheres 47%
53%

1. 2. Nacionalidade
aaaNo tocante à nacionalidade, são 26 brasileiros/as e 10 estrangeiros/as. Chama

atenção o número significativo de estrangeiros/as, que percentualmente

correspondem a 28% .

Nacionalidade
Estrangeiros
28%

Brasileiros
72%

aaaOs 10 estrangeiros são originários de 5 países distintos, sendo  a nacionalidade

venezuelana a mais recorrente. Os venezuelanos correspondem a 50% do total de

estrangeiros, seguidos pelos holandeses ( 20% ) e então as nacionalidades angolana,

filipina e portuguesa, todas as três com 10% .


10

País de origem
Angola
10%
Filipinas
10%

Portugal Venezuela
10% 50%

Holanda
20%

aaaInteressante notar que, assim como nos dados gerais da pesquisa, no recorte de

estrangeiros a prevalência do gênero feminino se repete. Do total de 10 acusados,

6 são mulheres e apenas 4 são homens, resultando em 60% de acusadas

estrangeiras e apenas 40% de acusados estrangeiros:

Gêneros dos/as estrangeiros/as

Homens
40%

Mulheres
60%

aaaPor sua vez, quando se trata de acusados/as brasileiros/as, a divisão por

gênero é equivalente. São 13 mulheres e 13 homens, resultando-se, portanto, em

50% para cada.

1. 3. Idade
aaaQuanto à idade, utilizou-se como parâmetro a idade que elas tinham ao tempo

do cometimento do suposto delito, uma vez que esta seria relevante do ponto de

vista da definição da pena, em virtude da atenuante prevista no artigo 65, I do

Código Penal 8. A pessoa mais velha tinha 56 anos ao tempo da prisão, ao passo

que a mais nova tinha 18 anos .

8 Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença;
11
aaaA distribuição etária das pessoas acusadas pode ser representada pelo gráfico

abaixo:

Idade

40 ou mais
11% 18 até 20 anos
19%

30 a 39 anos
21 até 24 anos
31%
17%

25 a 29 anos
22%

1. 4. Escolaridade
aaaNo que tange à escolaridade, a análise foi realizada a partir das seguintes

categorias: ensino fundamental incompleto; ensino fundamental completo; ensino

médio incompleto; ensino médio completo; ensino superior incompleto.

Escolaridade

Não informado
Ensino superior completo
11%
17%
Técnico profissional
11%
Ensino fundamental completo
Ensino fundamental incompleto 11%
5%

Ensino superior incompleto Ensino médio incompleto


17% 14%

Ensino médio completo


14%

aaaDos dados acima expostos, percebe-se que 31% das pessoas acusadas não

completaram o ensino médio, ao passo que 58% delas têm ao menos esse nível de

escolaridade.
12
aaaRealizando-se um recorte a partir do gênero das pessoas com maior

escolaridade (pelo menos o ensino médio completo), tem-se que 14 delas são

mulheres, ao passo que 7 são homens:

Pessoas com ensino médio completo

Homens
33%

Mulheres
67%

aaaPercebe-se, assim, que as mulheres possuem grau de instrução superior ao dos

homens.

1. 5. Situação profissional
aaaEm relação à situação profissional, 10 pessoas se declararam desempregadas,

9
enquanto o restante declarou profissões diversas . Assim, A partir desses dados,

temos que 57% dos acusados declararam exercer alguma profissão em detrimento

de 43% que declararam estarem desempregados/as.

Situação profissional

Declarou estar
desempregado/a
28%

Declarou exercer alguma


profissão
72%

9 As profissões declaradas foram: modelo (3), garçonete (2), motorista de aplicativo, servidor público, operador de

produção, designer, empregada doméstica, garimpeiro, promotora de eventos, profissional autônomo, auxiliar de

montagem de eventos, recepcionista, soldador, enfermeira, vendedora, professora, comerciário, cabeleireira, gerente

de recursos humanos, pintor, massoterapeuta e monitor de transporte escolar (1).


13
aaaDestaca-se que, a partir dos dados coletados, não foi possível aferir se as

pessoas que declararam ter uma profissão estavam, naquele momento, empregadas

ou desempregadas, o que poderia apontar para uma variação percentual nos

cenários analisados.

1. 6. Filhos
aaaNo que diz respeito à existência de filhos/as, 19 acusados/as declararam

possuir filhos/as, enquanto 16 declararam não tê-los/as.

Filhos/as

Não informado
3%

Declarou não ter


Declarou ter
filhos/as
filhos/as
44%
53%

aaaNo universo das pessoas que declararam ter filhos/as, 12 delas ( 63% )
informaram ter crianças de até 12 anos. Dessas pessoas, 6 eram mulheres, o que

lhes possibilitaria a prisão domiciliar, nos termos do artigo 318, V do Código de

Processo Penal
10 . Contudo, conforme adiante exposto, esse direito não foi

reconhecido quando da decisão sobre a liberdade no curso do processo.

10 Art. 318 - Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: 

(...)

V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos;


14

2. Aspectos Processuais
2.1. Prisão em flagrante e liberdade ao longo do processo
2.1.1. Tipo de Droga
aaaA Lei 11.343/06 (lei de drogas), estabelece que:

Art.4 2 . O j u i z , n a f i x a ç ã o d a s p e n a s , c o n s i d e r a r á , com preponderância

sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade


da substância ou do produto, a p e r s o n a l i d a d e e a c o n d u t a s o c i a l d o
agente. (grifou-se)

aaaEmbora o dispositivo legal mencione que a natureza e a quantidade de droga

devem ser avaliadas no momento da fixação da pena-base, muitas vezes o tipo

de droga é mencionado nas decisões sobre a liberdade no curso do processo,

normalmente para embasar decisão de decretação da prisão preventiva pela

garantia da ordem pública.

aaaNa análise dos processos desta pesquisa, a cocaína predomina como

principal droga transportada, estando presente em 22 casos, seguida por haxixe

(6), metanfetamina (5), maconha (2) e, por último, ecstasy (1):

Tipo de droga

Ectasy
Metanfetamina 3%
14%

Maconha
5%

Haxixe Cocaína
17% 61%

aaaNos casos em que houve apreensão de cocaína, 15 pessoas acusadas eram

brasileiras e em 7 eram estrangeiras:


15

Acusados/as portando cocaína

Estrangeiro(as)
32%

Brasileiros(as)
68%

aaaDentre os/as acusados/as estrangeiros/as, 5 eram venezuelanas, uma

filipina, e outra holandesa.

aaaOs/as demais estrangeiros/as (3) foram presos/as portando haxixe e têm

nacionalidades diversas (portuguesa, holandesa e angolana).

Tipo de drogas - estrangeiros/as


Haxixe
30%

Cocaína
70%

aaaAnalisando os processos envolvendo brasileiros/as, 15 deles/as foram presos

portando cocaína, 5 metanfetamina, 3 haxixe, 2 maconha e um portando ecstasy.

Tipo de drogas - brasileiros/as


Maconha
8%

Metanfetamina
19%

Ectasy Cocaína
4% 58%

Haxixe
11%
16

aaaNo tocante à questão do gênero, notam-se números assemelhados no

transporte da cocaína, tendo em vista que 11 mulheres - dentre essas, 4


estrangeiras - e também 11 homens - incluindo-se 3 estrangeiros - transportaram

esse tipo de droga.

aaaEm relação ao haxixe, verificou-se que 2 brasileiras e um brasileiro, bem

como 2 estrangeiras e um estrangeiro transportaram esse tipo de droga, de


modo que se nota presença maior de mulheres, mas de números iguais
entre réus de nacionalidade brasileira e estrangeira.

TIPO DE DROGA E QUANTIDADES DE


GÊNERO E NACIONALIDADE
TRANSPORTE

a) 7 transportes de cocaína
b) 2 transportes de haxixe
Mulheres brasileiras c) 2 transportes de metanfetamina
d) 1 transporte de ecstasy
e) 1 transporte de maconha

a) 4 transportes de cocaína
Mulheres estrangeiras
b) 2 transportes de haxixe

a) 8 transportes de cocaína
b) 3 transportes de metanfetamina
Homens brasileiros
c) 1 transporte de haxixe
d) 1 transporte de maconha

a) 3 transportes de cocaína
Homens estrangeiros
b) 1 transporte de haxixe

aaaPortanto, é possível afirmar que as drogas apreendidas no Aeroporto

Internacional do Recife, no limite temporal da pesquisa, são, via de regra,

cocaína, tanto entre brasileiros/as quanto entre estrangeiros/as, homens ou

mulheres, mas com os homens brasileiros figurando na primeira posição, quanto

ao número de transportes, no total de oito, seguido pelas mulheres brasileiras,

com sete transportes.

aaaNo que se refere aos/às estrangeiros/as, apesar de, em número total, terem

realizado menos transportes, obtiveram maior porcentagem de apreensão da

cocaína, presente em 70% dos transportes, enquanto que, em 30% , foi obtida a

presença de haxixe. 
17

aaaEmbora o haxixe tenha ficado com o segundo lugar entre as drogas mais

apreendidas no total, a metanfetamina figurou como segunda droga entre os

homens brasileiros, no total de 3 (três) transportes. Quanto às demais drogas –

maconha e ecstasy –, não houve padrão observável, tendo em vista que apenas

figuraram em três transportes no total, entre homens e mulheres brasileiras.

aaaEm relação à quantidade de droga apreendida, constatou-se que a cocaína

foi a de maior volume, conforme tabela abaixo:

TIPO DE DROGA TOTAL (EM KG) QUANTIDADE MÉDIA (EM KG)

Cocaína 75,77 3.44

Haxixe 31,29 5,22

Maconha 6.92 3,46

Ecstasy 5.96 5,96

Metanfetamina 21.65 4,33

aaaA maior apreensão de droga foi de 10,81 kg de cocaína. O menor volume

apreendido foi também de cocaína: 0,57 kg. A tabela abaixo indica a maior e

11
menor quantidade de cada droga :

TIPO DE DROGA MAIOR QUANTIDADE (EM KG) MENOR QUANTIDADE (EM KG)

Cocaína 10,81 0,57

Metanfetamina 6,13 2,99

Haxixe 5,94 3,36

5.57 1,34
Maconha

11 Não consta Ecstasy na tabela porque só houve uma apreensão desta droga, de 5,96 kg.
18

aaaNo tocante à nacionalidade das pessoas flagranteadas, sem realizar,

inicialmente, o recorte por tipo de droga, concluiu-se que os/as brasileiros/as

foram presos/as com maiores quantidades de drogas (uma média de 4,01 kg),

enquanto que os/as estrangeiros/as foram detidos/as com uma média de 3,73
kg:

NACIONALIDADE QUANTIDADE TOTAL (EM KG) QUANTIDADE MÉDIA (EM KG)

Brasileira 104,26 4.01

Estrangeira 37,33 3,73

aaaComparando-se a nacionalidade com a quantidade e o tipo de droga, tem-

se:

QUANTIDADE MÉDIA POR TIPO DE


NACIONALIDADE
DROGA (KG)

1. Ecstasy - 5,96
2. Haxixe - 5,03
Brasileira 3. Metanfetamina - 4,33
4. Cocaína - 3,64
5. Maconha - 3,46

1. Haxixe - 5,4
Estrangeira
2. Cocaína - 3,02

aaaAo analisar os dados com o recorte de gênero, verifica-se que mulheres

foram responsáveis por carregar maiores quantidades de drogas: total de 80,13


kg e média de 4,22 kg. Por sua vez, os homens foram presos portando 61,46 kg

no total, com média de 3,61 kg.

GÊNERO QUANTIDADE MÉDIA DE DROGA (KG)

Masculino 3,61

Feminino 4,22

aaaIsso ocorreu tanto entre estrangeiros, com as seis mulheres estrangeiras

transportando 25,55 kg no total e média de 4,26 kg cada uma e os quatro ho-


19

mens estrangeiros, no total de 11,785 kg, com média de 2,95 kg cada; quanto

entre os brasileiros, com o total das treze mulheres levando 54,587 kg e média

de 4,20 kg, enquanto que os treze homens levaram 49,675 kg no total, com

média de 3,82 kg.

Quantidade de droga por gênero e nacionalidade

5
4,2 4,26

4 3,82

2,95
3

0
Quantidade média de droga (em kg)
s

s
iro

ro

ira

ra
ei

ei
ile

ile
ng

ng
as

as
tra

tra
br

br
es

es
s

s
en

re
s

s
he
en

re
om

he
ul
om
H

ul
H

aaaO tipo de droga em maior quantidade entre as mulheres brasileiras é o

ecstasy, que, como falado, foi apreendido em um dos casos estudados, com

quantidade de 5,96 kg, seguido pelo haxixe, com quantidade total de 11,72 kg e

média de 5,86 kg. Em seguida, há a cocaína, presente em sete transportes, com

total de 28,80 kg e média de 4,11 kg, e depois a metanfetamina, presente em

dois transportes, no total de 6,76 kg e média de 3,38 kg. Por fim, há a maconha,

presente em um processo, com 1,34 kg.

aaaDentre as mulheres estrangeiras, duas delas transportaram haxixe, no total

de 10,30 kg e média de 5,15 kg, seguido pela cocaína, presente em quatro

transportes, no total de 15,25 kg e média de 3,81 kg.

QUANTIDADE MÉDIA POR TIPO DE


GÊNERO E NACIONALIDADE
DROGA (KG)

1. Ecstasy - 5,96
2. Haxixe - 5,86
Mulheres brasileiras 3. Cocaína - 4,11
4. Metanfetamina - 3,38
5. Maconha - 1,34

1. Haxixe - 5,15
Mulheres estrangeiras
2. Cocaína - 3,81
20

aaaPor derradeiro, no tocante aos homens brasileiros, a maconha ficou em

primeiro lugar como tipo de droga com maior quantidade média, presente em

apenas um processo, com 5,58 kg, seguido por metanfetamina, presente em três

processos, no total de 14,89 kg e média de 4,96 kg. Em seguida, vem o haxixe,

em um processo, com a quantidade de 3,36 kg e, por fim, a cocaína, presente

em oito transportes, no total de 25,85 kg e média de 3,23 kg.

aaaQuanto aos homens estrangeiros, o haxixe ficou em primeiro lugar, no total

de 5,92 kg, presente em um transporte, e a cocaína foi apreendida em três

casos, no total de 5,87 kg e média de 1,96 kg.

QUANTIDADE MÉDIA POR TIPO DE


GÊNERO E NACIONALIDADE
DROGA (KG)

1. Ecstasy - 5,58
2. Metanfetamina - 4,96
Homens brasileiros 3. Haxixe - 3,36
4. Cocaina - 3,23

1. Haxixe - 5,92
Homens estrangeiros
2. Cocaína - 1,96

aaaÉ possível concluir que a quantidade média, entre todos os tipos de drogas

entre os transportes analisados, é de 3,93 kg, e que as mulheres estrangeiras


são responsáveis por transportar maiores quantidades de drogas no total,
com média de 4,26 kg. As mulheres brasileiras vêm em segundo lugar, com
4,20 kg. O ecstasy figura como maior quantidade entre as mulheres brasileiras,

e o haxixe, em segundo; entre as estrangeiras, o haxixe figura em primeiro

lugar.

aaa Já os homens estrangeiros, via de regra, transportam menores


quantidades de drogas entre os quatro grupos apresentados, com média de
2,95 kg. Nesse sentido, notam-se diferenças importantes entre os tipos de

drogas em maior  quantidade média, e, entre os estrangeiros, é o haxixe que

possui a primeira posição.

2.1.2. Resultado da audiência de custódia


aaaEm todos os casos estudados houve prisão em flagrante das pessoas

acusadas, ocorrida no aeroporto internacional do Recife. Tendo em vista o

marco temporal desta pesquisa, que se iniciou com casos do ano de 2016,

necessariamente deveria acontecer (como de fato ocorreu) audiências de cus -


21

tódia 12 para analisar a legalidade de cada uma das prisões, bem como decidir

sobre a liberdade no curso do processo.

aaaNo que concerne aos resultados dessas audiências, é possível observar a

prisão preventiva como regra: dos/as 36 autuados/as, 33 tiveram a prisão

preventiva decretada.

Resultado da audiência de custódia


Liberdade
8%

Prisão
92%

aaaAs três pessoas que tiveram a liberdade determinada em audiência eram

brasileiras e possuíam menos de 30 (trinta) anos no momento da prisão; sendo

dois homens e uma mulher. Nenhum deles possuía filhos menores de 12 (doze)

anos. As drogas transportadas foram cocaína (8,55 e 10,81 kg) e haxixe (3,36

kg).

aaaPor outro lado, pelo menos outros seis autuados/as brasileiros/as (homens

e mulheres), com idade inferior a 30 (trinta) anos no momento da prisão, com

menor quantidade de droga (considerando cada tipo específico) e também sem

filhos menores de 12 (doze), tiveram a prisão preventiva decretada.

aaaA escolaridade, situação profissional ou mesmo o estado civil dos autuados

eram diversas, tanto entre os que tiveram a liberdade provisória concedida,

bem como entre aqueles em que a prisão preventiva foi decretada.

12 Inicialmente implantadas por meio de resolução do 213/2015 do CNJ, as audiências de custódia passam a ocorrer

em território brasileiro com duas grandes finalidades: reduzir o encarceramento provisório e promover controle

sobre eventual cometimento de abuso por agentes estatais. Com a entrada em vigor da lei 13.964/2019, as

audiências passaram a constar como obrigatórios no Código de Processo Penal. Nesse sentido, há um grande

número de materiais sendo produzido. Ver: ABATH, M.; CASTRO, H. R. C.; BORBA, M. M.. Audiências de custódia
e seus desafios: apontamentos a partir da realidade do Recife . In: SANTORO, Antonio Eduardo Ramires;

GONÇALVES, Carlos Eduardo. (Org.). Audiência de Custódia. 1 ed. Belo Horizonte: Editora D´Plácido, 2017, v. 1, p.

437-458. LOPES, Tarcila Maia. Audiências de Custódia e Encarceramento Provisório: Um Estudo a Partir

dos Casos Acompanhados pela Defensoria Pública da União. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade

Católica de Pernambuco, 2019.


22

aaaNesse sentido, pelos fatores analisados no presente relatório, não foi

possível observar um padrão específico (de condições pessoais ou processuais)

para casos em que houve concessão de liberdade provisória de brasileiros

presos por tráfico transnacional. Todavia, é possível observar que são

excepcionais.

aaaPor outro lado, observou-se, como padrão, a decretação de prisão

preventiva das pessoas presas por tráfico transnacional em Recife, em especial

para aquelas que possuem outra nacionalidade.

aaaPara embasar os decretos de prisão, os/as magistrados/as se utilizaram

majoritariamente do argumento da necessidade de garantia da ordem pública e

da aplicação da lei penal.

aaaComo sabido, o Código de Processo Penal (CPP) estabelece os parâmetros

que devem ser seguidos pelos/as juízes para decretar a prisão ao longo do

processo, que deveria ser excepcional, por força do princípio da presunção de


13
inocência. Diz o CPP :

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem

pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou

para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da

existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo

estado de liberdade do imputado.

aaaO artigo acima transcrito foi utilizado para construir as categorias

referentes à fundamentação do decreto de prisão, de forma que se considerou

a garantia da ordem pública, a garantia da ordem econômica, a aplicação da

lei penal e a conveniência da instrução criminal para analisar (e depois

quantificar) as decisões sobre a liberdade no curso do processo.

aaaVerificou-se que os fundamentos utilizados para a manutenção da

prisão  nos casos relatados estão majoritariamente atrelados à garantia

da ordem pública e aplicação da lei penal:

FUNDAMENTO EXPOSTO NA DECISÃO TOTAL DE MENÇÕES PERCENTUAL

Garantia da ordem pública 30 91%

Aplicação da lei penal 26 79%

Conveniência da instrução criminal 7 21%

13 A redação desse artigo foi modificada pela lei 13.964/2019. A redação vigente ao tempo da pesquisa era

bastante similar à atual, com a diferença de que não constava a menção ao perigo gerado pela liberdade do

imputado.
23

aaaQuando se observa a conjugação dos fundamentos, nota-se que a maioria

das decisões ( 21 ) menciona a garantia da ordem pública e a aplicação da lei

penal conjugadas como motivos para embasar a prisão da pessoa flagranteada.

Em quatro casos, houve conjugação da garantia da lei penal com a

conveniência da instrução criminal. Em três processos, houve a conjugação dos

três fundamentos citados. Apenas em quatro casos houve fundamentação da

decisão com base em um dos motivos previstos no artigo 312 do Código de

Processo Penal: em dois casos mencionou-se a garantia da ordem pública e em

outros dois apenas a aplicação da lei penal. Em um caso, não foi possível

14
verificar os argumentos utilizados na decisão judicial  .

Fundamentos da prisão

aaaQuando se faz o recorte analisando os/as acusados/as estrangeiros/as,

verifica-se que o argumento da aplicação da lei penal esteve sempre presente

nos decretos de prisão, o que demonstra que os/as magistrados/as consideram

que essas pessoas têm maior propensão a fugir casos sejam postas em

liberdade e que medidas cautelares como apreensão de passaporte,

comparecimento periódico em juízo e até o monitoramento eletrônico não são

suficientes para neutralizar esse risco.

2.1.3. Prisão domiciliar


aaaA substituição da prisão preventiva pela domiciliar está prevista no art. 318

do Código de Processo Penal. Ao longo do período abarcado pelo presente re-

14 Tratava-se de processo físico, o qual não foi integralmente acompanhado pela Defensoria Pública da União, o

que explica a dificuldade de obtenção das informações.


24

latório 15, contudo, o instituto sofreu algumas alterações importantes de serem

percebidas.

aaaEm fevereiro de 2018, no julgamento do Habeas Corpus coletivo n º


143.641/SP, o Supremo Tribunal Federal determinou que todas as mulheres

gestantes, puérperas e/ou com filhos de até 12 (doze) anos incompletos (e/ou

com alguma deficiência) que estivessem presas teriam o direito de ter a prisão

comum substituída pela prisão domiciliar, salvo situações excepcionais nas

quais se exigiria fundamentação judicial apropriada para impedir a substituição

prisional.

aaaEm dezembro do mesmo ano, a Lei de n º 13.769/2018 introduziu no CPP o

Art. 318-A, prevendo que a prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que

for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência será


substituída por prisão domiciliar, excetuando-se os casos de crimes cometidos

com violência ou grave ameaça a pessoa e/ou contra seu filho ou dependente. 

aaaTodavia, a despeito das previsões legais e do entendimento firmado pela

Corte Superior, a presente pesquisa registrou a decretação de prisão

preventiva sem conversão em prisão domiciliar de 6 (seis) mulheres com filhos

menores de 12 (doze) anos; 5 (cinco) brasileiras e 1 (uma) venezuelana.

aaaEm 3 (três) desses casos, houve impetração de habeas corpus pela defesa,

mas apenas um deles teve obteve a liminar e, posteriormente, teve a ordem

concedida. Em outro, a despeito de a liminar do habeas corpus ter sido

indeferida, ao longo do processo a prisão preventiva comum

foi convertida em domiciliar.  

aaaDestaca-se que, no mesmo período de análise, também não houve a

substituição de prisão preventiva em domiciliar para nenhum homem.

2.1.4. Habeas corpus


aaaO Habeas Corpus é um dos instrumentos mais utilizados, no âmbito da

defesa, para reverter a decisão de primeira instância em que se decretou a

prisão preventiva da pessoa acusada. Comumente impetrado após a decisão

que nega a revogação da prisão preventiva, o writ é ação autônoma de

impugnação, garantida constitucionalmente no art. 5 º, inciso LXVIII, da CF/88,

bem como possui hipóteses de cabimentos estampadas nos artigos 647 e 648 do

16
Código de Processo Penal .

15 Do ano de 2016 ao final do primeiro semestre de 2019, conforme apontado no campo referente à metodologia

do trabalho.

16 Art. 647.  Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou

coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.

Art. 648.   A coação considerar-se-á ilegal: I - quando não houver justa causa; II - quando alguém estiver preso

por mais tempo do que determina a lei; III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;

IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação; V - quando não for alguém admitido a prestar

fiança, nos casos em que a lei a autoriza; VI - quando o processo for manifestamente nulo; VII - quando extinta a

punibilidade.
25

aaaConforme se pode extrair da tabela abaixo, percebe-se que, apesar de ter

sido impetrado Habeas Corpus na grande maioria dos processos (75%), em

apenas dois deles foi concedida a liminar, e, em sete deles, já inclusas as

liminares ratificadas, a ordem foi concedida. 

TOTAL DE MENÇÕES PERCENTUAL

HCs impetrados 27 75%

Liminar deferida 2 7.4%

Ordem concedida 7 25.9%

aaaNos dois processos em que houve a concessão da liminar, as pacientes


eram brasileiras , que tiveram suas prisões preventivas decretadas sob o

fundamento de garantia da ordem pública e aplicação da lei penal e uma

delas, ademais dessas duas justificativas apresentadas, também sob o

fundamento de conveniência da instrução criminal.

aaaÀ época do trâmite processual, ambas eram solteiras e jovens, tendo

nascido no ano de 1998, e possuíam escolaridade de ensino médio incompleto e

ensino superior incompleto. Uma delas transportava haxixe, no total de 5,94 kg,

e possuía filho menor de 12 anos, sendo tal circunstância, bem como a pouca

idade da ré, mencionadas como fundamentos para a concessão  da liminar.

17
O art. 318-A do CPP não foi citado, porquanto a liminar foi concedida antes da

redação do artigo ser incluída pela Lei n º 13.769 de 2018.

aaaJá a outra ré transportava metanfetamina, no total de 3,77 kg e, apesar de

não ter filhos, foi concedida a liminar sob o fundamento de que o corréu havia

aduzido na audiência de custódia que esta não teve participação no delito, não

tendo anuído com o procedimento do transporte.

aaaÉ importante frisar que, em um dos processos analisados, no qual figurava

como ré mulher brasileira que transportou 5,78 kg de haxixe, o habeas corpus

perdeu o objeto, haja vista já ter sido obtida concessão de prisão domiciliar,

sob o fundamento da existência de filhos menores de 12 anos.

17 Art. 318-A.  A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou

pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que: I - não tenha cometido crime com

violência ou grave ameaça a pessoa; II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente
26

CARACTERÍSTICAS PESSOAIS DAS


RÉS QUE QUANTIDADE DE DROGA TIPO DE DROGA
TIVERAM LIMINAR DE HC DEFERIDA

Mulher brasileira, solteira,


nascida em 1998,
com ensino superior 5,94 kg Haxixe
incompleto, desempregada e
com filho menor de 12 anos.

Mulher brasileira, solteira,


nascida em 1998,
com ensino médio incompleto, 3,77 kg Metanfetamina
profissão: designer e sem
filhos.

CARACTERÍSTICAS PESSOAIS DA RÉ
QUE TEVE PERDA DE QUANTIDADE DE DROGA TIPO DE DROGA
OBJETO DO HC

Mulher brasileira convivente


em união estável,
nascida em 1989, com ensino 5,78 kg Haxixe
superior incompleto, garçonete
e com filho menor de
12 anos

aaa Dentre todos os processos analisados, seis rés mulheres possuíam filhos
menores de doze anos, e, como se pôde observar nas tabelas acima, a
apenas uma delas foi deferida a liminar , bem como a ordem do HC; e, à outra,

foi determinada soltura antes do exame do mérito do HC, de modo que sua

liminar foi indeferida.

aaaDa mesma forma, seis homens, dentre todos os processos analisados,

possuíam filhos menores de doze anos, e apenas a um deles foi concedida a

ordem do HC (e indeferida a liminar). Este também era jovem (nascido em 1996),

de nacionalidade brasileira, solteiro e com ensino superior incompleto.

aaaDesse modo, é possível perceber que a existência de filhos menores de 12


anos não parece ser característica determinante para a soltura dos/as
pacientes, em ambos os gêneros analisados .
aaa Quanto às sete ordens de concessão de mérito do writ, em apenas uma
delas figura como paciente pessoa estrangeira, um homem de
nacionalidade venezuelana, casado e preso portando 1,25 kg de cocaína.
Nas demais ordens concedidas, verificam-se seis brasileiros, dentre cinco rés

mulheres – inserindo-se a ratificação da liminar concedida às duas rés acima

mencionadas – e um réu homem.


27

CARACTERÍSTICAS PESSOAIS DOS/AS


PACIENTES QUE TIVERAM QUANTIDADE DE DROGA TIPO DE DROGA
ORDEM DE HC CONCEDIDA

Mulher brasileira, solteira,


nascida em 1998,
com ensino superior 5,943 kg Haxixe
incompleto, desempregada e
com filho menor de 12 anos.

Mulher brasileira, solteira,


nascida em 1998,
com ensino médio incompleto, 3,768 kg Metanfetamina
profissão: designer e sem
filhos.

Mulher brasileira solteira,


nascida em 1997, com
2,817 kg Cocaína
ensino superior completo,
profissão: modelo e sem filhos.

Mulher brasileira solteira,


nascida em 1998, com ensino
médio completo, profissão: 5 kg Cocaína
promotora de eventos e sem
filhos.

Mulher brasileira solteira,


nascida em 1973, com ensino
superior incompleto, 2,457 kg Cocaína
aposentada e com filhos
maiores de 12 anos.

Homem brasileiro solteiro,


nascido em 1996, com ensino
3,738 kg Cocaína
superior incompleto,
comerciário e sem filhos.

Homem venezuelano casado,


nascido em 1989, profissional
autônomo (sem indicação da 1,245 kg Cocaína
escolaridade no processo) e
com filhos menores de 12
anos.
28

aaaDe acordo com as características pessoais acima expostas, conclui-se que

a quantidade de droga não parece ser fator decisivo para a liberdade dos
réus , visto que, em dois dos processos, a quantidade está acima da média, e a
cocaína, que costuma ser ressaltada como de grave dano para a saúde dos
usuários de drogas, está presente em cinco das sete das concessões, ou
seja, em 71% destas. Não foi verificado um padrão entre escolaridade,

situação profissional e liberdade, haja vista que apresentam diferenciações

entre si.

aaaEnquanto isso, a pouca idade (apenas dois réus são maiores de 30 anos) -

atrelando-se a tal dado o fato de os réus ainda serem solteiros -, a


nacionalidade brasileira e o gênero feminino são indicativos de maior
quantidade de concessões de mérito de Habeas Corpus.

2.2. Sentença
2.2.1. Do Julgamento do Mérito dos Processos

aaaDos 36 casos analisados, dois estavam aguardando julgamento no momento

da pesquisa. Houve duas absolvições no período estudado. Em um dos casos se

considerou que não havia provas de que a pessoa acusada tinha consciência de

que trazia droga consigo. No outro caso, houve reconhecimento de causa de

exclusão de culpabilidade. Observou-se que os dois casos de absolvição tinham

como rés mulheres estrangeiras, de ensino superior completo, portando cerca

de 2kg de cocaína, e ambos foram julgados pela 4 ª Vara Federal. Nos outros 32
casos, em 89% dos processos, houve condenação.

aaaAs condenações ocorreram pelo crime de tráfico transnacional de drogas

(art. 33 c/c 40, I da lei de drogas) e em três casos houve condenação também

pelo crime de associação para o tráfico (art. 35 da lei de drogas).

aaaO caráter de transnacionalidade é justamente o que atrai a causa para a

Justiça Federal.

aaaNos casos em que as pessoas foram condenadas pelo crime de associação

para o tráfico, observou-se que elas embarcaram em conjunto com outras

pessoas pegas com substâncias entorpecentes no mesmo voo. Das três pessoas

condenadas, duas foram pegas em conjunto.

aaaQuanto à quantidade de pena aplicada, foi feita uma média da condenação

recebida pelos assistidos da Defensoria Pública da União/Recife. O Código

Penal Brasileiro, em seu artigo 68, adota o sistema trifásico de dosimetria.


29

2.2.2. Penas Aplicadas


aaaComo sabido, para fixação da pena o/a magistrado/a deve passar por três

fases.

aaaNa primeira fase , ocorre a fixação da pena-base, na qual o Juízo leva em

consideração a aplicação das circunstâncias judiciais contidas no artigo 59 do

Código Penal, quais sejam, culpabilidade, antecedentes, conduta social,

personalidade do agente, motivos, circunstâncias e consequências do crime, e

comportamento da vítima. Além dessas circunstâncias, o artigo 42 da lei de

drogas determina que “o juiz, na fixação das penas, considerará, com

preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a

quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do

agente”. Esses devem ser, então, os parâmetros utilizados para a fixação inicial

da pena.

aaaLembre-se que o art. 33, da Lei n. º 11.343/2006, prevê a pena de reclusão

de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e

quinhentos) dias-multa.

aaaA pena-base média fixada em primeira instância foi de 2621 dias, o que

corresponde a 7 anos 2 meses e 9 dias .


aaaNesse ponto, o tipo de droga deveria ser muito importante, pois, como visto,

a qualidade e quantidade da droga têm prevalência em relação aos demais

critérios do artigo 59 do Código Penal, com exceção da personalidade e

conduta social.

aaaNos casos estudados, fazendo um recorte pelo tipo de droga, verificou-se

que a pena-base média é maior para metanfetamina ( 3029 dias), seguida por

haxixe ( 2920 dias), ecstasy ( 2555 dias), cocaína ( 2470 dias) e maconha ( 2098
dias).

Pena-base média (em dias)


4.000

2920 3029
3.000
2470 2555

2098
2.000

1.000

0
na

ha

a
as
ix

in

on
ax

m
st
oc

ta
ac
H

Ec
C

fe
M

an
et
M
30

aaaDa mesma forma, a quantidade de droga deveria relevante para fixação da

pena. Analisando a pena-base e a quantidade de droga transportada, temos a

seguinte relação:

MAIOR MENOR
DROGA PENA-BASE PENA-BASE
QUANTIDADE QUANTIDADE

Cocaína 7,07 kg 2190 dias 0,58 kg 2190 dias

Haxixe 5,943 kg 2555 dias 3,36 kg 2190 dias

Metanfetamina 6,13 kg 2005 dias 2,99 kg 2920 dias

Maconha 5,58 kg 2190 dias 1,34 kg 2005 dias

aaaNa segunda fase da dosimetria, é determinada a chamada pena provisória,

e são analisadas as circunstâncias agravantes (artigos 62 a 64 do Código

Penal) e atenuantes (artigos 65 a 66 do Código Penal). Observou-se, nos casos

da pesquisa, a pena provisória média de 2513 dias , ou seja, 6 anos 10 meses e


23 dias .
aaaA redução média na pena nesta fase demonstra a preponderância das

circunstâncias atenuantes em detrimento das agravantes, sendo que as causas

mais comuns de redução de pena foram o fato de a pessoa acusada ser menor

de 21 anos (o que se verificou em 7 casos) e a confissão.

aaaNa terceira fase da dosimetria, é estabelecida a pena definitiva. Sendo

assim, são analisadas as causas especiais de diminuição ou de aumento de

pena. Essas circunstâncias podem estar no Código Penal (como a participação

de menor importância – artigo 19, §1º do CPB) ou na lei de drogas. Em todos os

casos analisados, houve a incidência da causa de aumento de pena referente à

transnacionalidade do delito, prevista no artigo 40 da lei 11.343/06:

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de

um sexto a dois terços, se:

I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as

circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;

aaaPor outro lado, havia a possibilidade de reconhecimento do chamado tráfico

privilegiado, causa de diminuição de pena disciplinada no artigo 33, §4º da Lei

de Drogas. A minorante corresponde a uma abordagem necessária diante da

complexa rede de relações que constitui o tráfico, oferecendo um tratamento

diferenciado ao traficante de primeira viagem que atua como “mula”.

aaaA causa de diminuição em questão tem por requisitos para a sua aplicação

a primariedade, bons antecedentes e a não participação em atividades

criminosas e não integração em Organização Criminosa.


31

aaaA média da pena definitiva dos casos analisados na presente pesquisa foi

de 2560 dias, ou seja, 6 anos e 11 meses .


aaaA minorante do tráfico privilegiado foi reconhecida em 16 processos, o que

corresponde a 50% dos casos em que houve condenação.

aaaAo se observar as quantidades de pena a partir do juízo sentenciante, tem-

se que as maiores penas, na média, foram determinadas pelo juízo da 13 ª Vara

Federal de Pernambuco, seguidas pela 4 ª Vara Federal e, por fim, pela 36 ª Vara

Federal:

Pena definitiva média - por juízo

3.000 2810

2358 2337

2.000

1.000

0
l

l
ra

ra

ra

Pena definitiva média (em dias)


de

de

de
Fe

Fe

Fe
ra

a
ar

ar
Va

ªV

ªV

13

36

aaaA diferença significativa em relação à 13 ª Vara Federal pode ser explicada,

em parte, pelo menor reconhecimento do tráfico privilegiado. Nos outros juízos,

houve aplicação da minorante em 55% dos casos, enquanto na 13 ª Vara Federal

isso aconteceu em 40% casos. Além disso, neste juízo concentrou as

condenações por associação ao tráfico, o que ensejou penas mais elevadas.

aaaNota-se também uma diferença nas penas aplicadas quando se faz o

recorte por nacionalidade. A pena média das pessoas estrangeiras é menor que

das brasileiras:
32

aaaIsso pode se explicar porque o reconhecimento do tráfico privilegiado para

os/as estrangeiros/as é maior que para os/as brasileiros/as. Enquanto houve

aplicação desta minorante em 6 das 8 penas aplicadas aos/às acusados/as

estrangeiros/as ( 75% dos casos), isso aconteceu apenas em 20 dos 24 casos


em que houve condenação de nacionais ( 42% dos casos).

aaaNotam-se diferenças também quando se faz o recorte por gênero. Em todas

as fases da pena, as mulheres têm média maior que a dos homens:

Penas médias - por gênero

aaaAlém disso, também há diferenças entre a menor e a maior pena de homens

e mulheres:
33

MENOR PENA MAIOR PENA

Mulher 1095 dias 5535 dias

Homem 705 dias 3190 dias

aaaOutra diferença percebida foi o maior reconhecimento do tráfico

privilegiado em processos de acusados homens. Dos 16 casos em que houve

aplicação da causa de diminuição de pena referida, 11 eram de acusados

homens e 5 de mulheres.

Tráfico privilegiado e gênero

Mulheres
31%

Homens
69%

aaaQuando se comparam os números com o total de casos julgados de homens

e mulheres, tem-se que em 11 dos 16 processos em que há réus do gênero

masculino houve reconhecimento do tráfico privilegiado ( 69% dos casos). Por

outro lado, houve aplicação da minorante apenas em 5 dos 16 processos em que

houve condenação de mulheres ( 31% ) .

2.2.3. Regime Inicial do Cumprimento de Pena


aaaO parágrafo 2 º. do Art.33 do Código Penal estabelece que:

§2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma

progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes

critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais

rigoroso:

I - O condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-

la em regime fechado;

II - O condenado não reincidente, cuja pena superior a 4 (quatro) anos e

não

exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-

aberto;

III - O condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4

(quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.


34

aaaNos processos analisados, constatou-se que em 16 casos o regime inicial

fixado foi o fechado, em 4 foi o semiaberto e em 12 o regime inicial foi o

aberto.

Regime inicial de cumprimento

Semiaberto
12%

Fechado
50%
Aberto
38%

aaaAo analisar esses dados com enfoque na nacionalidade das pessoas

condenadas, temos que 4 estrangeiros/as ( 50% ) foram condenados/as a penas

em regime aberto, 2 em regime semiaberto ( 25% ) e 2 ( 25% ) no regime mais

gravoso, o fechado. Por sua vez, o regime mais comum para os/as brasileiros/as

é o fechado: 14 das 24 pessoas acusadas ( 58,33% ) foram condenadas a cumprir

pena inicialmente neste regime. A fixação do semiaberto ocorreu em 2 casos

( 8,33% ) e, por fim, o regime aberto foi determinado em 8 processos ( 33,33% ) .


aaaQuando se faz o recorte por gênero, tem-se que 9 homens foram

condenados a cumprir pena no regime aberto, um no regime semiaberto e 6 no

regime fechado.

Regime inicial - homens

Semiaberto
6%

Fechado
38% Aberto
56%
35

aaaEnquanto o regime inicial mais comum para os homens é o menos gravoso,

para as mulheres o mais frequente é o mais severo: 10 foram condenadas a

cumprir pena inicialmente em regime fechado, 3 no semiaberto e 3 no regime

aberto.

Regime inicial - mulheres

Semiaberto
19%

Aberto
19% Fechado
62%

2.2.4. Substituição por Penas Restritivas de Direitos


aaaAs penas restritivas de direito, como penas alternativas à pena privativa de

liberdade, serão aplicadas mediante o preenchimento de alguns requisitos

disciplinados no Art. 44 do Código Penal:

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as


privativas de liberdade, quando: (Redação dada pela Lei n º 9.714, de 1998)
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o
crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou,
qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;(Redação dada
pela Lei n º 9.714, de 1998)
II – o réu não for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei n º
9.714, de 1998)
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade
do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que
essa substituição seja suficiente.

aaaNos processos analisados, verificou-se a substituição por penas restritivas

de direitos em todos os casos em que houve fixação do regime inicial aberto, ou

seja, em 12 casos, sendo 9 homens (4 estrangeiros e 5 brasileiros) e 3 mulheres

(todas brasileiras). Em todos os processos, as penas restritivas aplicadas foram

a prestação de serviços à comunidade e a prestação pecuniária.


36

2.3. Recursos
2.3.1. Julgamento pelo Tribunal Regional da 5ª Região
aaaDentre os 34 casos sentenciados, houve interposição de recurso de

apelação em oito casos pelo Ministério Público Federal, o que corresponde a

23,53% dos processos sentenciados. Por sua vez, a defesa recorreu em 24


casos, o que corresponde a 70,59% do total.

aaaHá três casos, entre recursos da acusação e da defesa, ainda sem

julgamento pelo Tribunal Regional Federal da 5 ª Região.

aaaOs recursos do MPF não tinham por objetivo a condenação, que já havia

ocorrido em primeira instância, mas sim um incremento na pena. Contudo, não


houve aumento de pena por parte do Tribunal Regional Federal da 5 ª
Região.
aaa A defesa obteve provimento parcial em 16 casos (67% do total) . Em

apenas um caso houve reversão da condenação, mas isso ocorreu apenas

18
quanto a um dos tipos penais em que a pessoa havia sido condenada . Em todos

os recursos providos da defesa houve apenas a redução da pena.

aaaDos 25 casos julgados pelo TRF da 5 ª Região, manteve-se a pena definitiva

em 7 processos. Por outro lado, em 16 houve reduções da pena. A maior redução

foi de 3195 dias.

aaaPara analisar os patamares de pena nessa fase do processo, consideramos

todas as penas estabelecidas na primeira instância, excluindo os casos ainda

sem julgamento pelo Tribunal e substituindo as penas do juízo de primeiro grau

por aquelas fixadas pelo TRF da 5 ª Região. Considerando esses parâmetros, a

pena-base média foi de 2343 dias; a pena provisória de 2190 dias e a pena

definitiva de 1897 dias.

aaaA comparação da pena média de primeira e segunda instância pode ser

representada por este gráfico:

Penas médias

Pena-base Pena provisória Pena definitiva

18 Tratava-se de pessoa condenada em primeira instância nos delitos previstos no artigo 33 e 35 da lei de

drogas, mas que foi absolvida quanto à acusação da associação para o tráfico no TRF5.
37

aaaQuando se analisam estes dados por nacionalidade, percebe-se uma

redução das penas determinadas aos dois grupos, mas os/as estrangeiros/as

continuam com uma média de penas menor que a dos/as brasileiros/as:

Penas médias - nacionalidade

aaaQuando se faz o recorte por gênero, percebe-se uma redução significativa

na pena das mulheres, embora sua pena definitiva média ainda seja maior que a

dos homens.

Penas médias
38

aaaAlém disso, também se reduziu a diferença entre a menor e a maior pena de

homens e mulheres:

TIPO DE DROGA HOMEM MULHER

Menor pena - 1ª instância 705 dias 1095 dias

Maior pena - 1ª instância 3190 dias 5535 dias

Menor pena - TRF 705 dias19 810 dias

Maior pena - TRF 3010 dias 2635 dias

aaaO fato de a pena definitiva das mulheres ser maior que a dos homens está

relacionada à menor aplicação da causa de diminuição de pena prevista no

parágrafo quarto do artigo 33 da lei 11343/06 às acusadas, o chamado tráfico

privilegiado. O reconhecimento dessa condição pode ocasionar reduções

significativas na pena das pessoas condenadas. Não por acaso, em muitos

recursos da defesa, há pedidos para aplicação desta causa de diminuição da

pena.

aaaNo geral, em primeira instância, essa minorante foi reconhecida em 16


casos, o que corresponde a 50% do total. Na segunda instância, houve reforma

das sentenças em cinco processos para reconhecer a referida causa de

diminuição, o que eleva o percentual referido para 65% .


aaaPara o cálculo desse percentual, foram excluídos os processos ainda sem

julgamento pelo Tribunal Regional Federal da 5 ª Região e considerados os

casos da primeira instância em que não houve recurso e que já havia ocorrido a

aplicação da minorante. Essa foi a mesma metodologia utilizada para obter as

penas médias.

aaaAnalisando este dado fazendo o recorte por gênero, verifica-se que dos 19
casos de aplicação da minorante do tráfico privilegiado, 11 foram em processos

de acusados homens e 8 de mulheres. Quando se compara com o total de casos

julgados, para 11 dos 15 homens condenados houve reconhecimento do tráfico

privilegiado. Essa proporção, entre as mulheres é de 8 em 14 . Assim, ainda há

um maior reconhecimento desta causa de diminuição em relação aos homens:

19 Não houve recurso em relação a esta condenação, de forma que ela permanece como a mais baixa

observada nesta pesquisa, entre homens e mulheres.


39

Reconhecimento do tráfico privilegiado

aaaQuanto ao regime inicial de cumprimento da pena, houve alteração

significativa, que se explica pela redução dos patamares das reprimendas, o

que interfere no regime inicial de cumprimento de pena. Houve grande redução

das penas a serem cumpridas inicialmente em regime fechado (de 50% para

21%), aumento da porcentagem das penas em regime semiaberto (de 13% para

20
45%) e uma leve queda no regime aberto :

Regime inicial em segunda instância


Fechado
21%

Semiaberto
45%

Aberto
34%
aaaMais uma vez, ao se fazer o recorte por gênero, os homens têm uma

condição mais favorável do que as mulheres. Eles continuam sendo maioria dos

condenados no regime aberto, que é o menos gravoso: das 10 pessoas

condenadas a esse regime, 9 são homens. No regime semiaberto, tem-se uma

grande prevalência das mulheres, o que se justifica porque, com a redução de

20 Embora não tenha havido agravamento do regime de nenhuma das pessoas condenadas, dois casos de

condenação em regime inicial aberto computados em primeira instância foram excluídos do percentual

de segunda instância porque não foram julgados ainda pelo TRF.


40

forma geral nas duas penas pelo Tribunal, elas passaram a ter esse regime

inicial. Das 13 pessoas condenadas, elas são 11. Por fim, com essa alteração nas

penas, o regime fechado passa a ter maioria masculina (5 dos 6 condenados).

Regime inicial de pena

11
10
9
8

6
5

3 3
2 2
1 1

aaaAo analisar o regime inicial de pena por nacionalidade, observa-se que

houve uma melhora em relação aos/às estrangeiros/as, com reversão da

condenação ao regime fechado que duas pessoas estrangeiras sofreram. Após o

julgamento pelo Tribunal Regional Federal, 50% delas (4) tiveram seu regime

inicial fixado como semiaberto, ao passo que a outra metade permaneceu no

regime aberto. Esse dado chama atenção porque a prisão preventiva de todos

os estrangeiros foi decretada na audiência de custódia, mas nenhum deles teve

condenação final com regime compatível com a prisão processual (cumprida, na

prática, em regime fechado).

2.3.2. Julgamento pelos Tribunais Superiores


aaaApós o julgamento pelo Tribunal Regional Federal, houve a interposição de

recursos para os tribunais superiores (aqui englobados tanto o recurso especial

21
quanto o extraordinário) em 14 casos, sendo 10 da defesa e 4 da acusação . 

21 Não houve casos em que defesa e acusação recorreram.


41

Desse total, a maioria aguarda julgamento (9). Dos recursos julgados, houve

provimento, ainda que parcial, em 2 casos, todos eles de recursos da defesa, o

que representa êxito de 50%. Por outro lado, 3 recursos foram negados, sendo

um do Ministério Público Federal e dois da defesa.

Recursos extraordinários

Provimento
14%

Negado
22%

Aguardando julgamento
64%

aaaOs dois casos de sucesso nos recursos para os tribunais superiores foram

patrocinados pela Defensoria Pública da União. Num deles houve a redução da

pena em 610 dias e alteração do regime inicial de cumprimento da pena (do

semiaberto para o aberto); no outro processo, houve diminuição de 335 dias na

pena e alteração do regime fechado para o semiaberto. Nos dois casos, os

acusados ficaram presos durante a instrução processual e tiveram seus pedidos

de apelar em liberdade negados.


42

CONCLUSÃO

aaaConforme exposto na Apresentação, a ideia desta pesquisa surgiu a partir de

discussões que a atuação nos processos de tráfico de drogas ensejava entre as

pessoas da área criminal da DPU/Recife. Esses debates tratavam das condições

pessoais das pessoas acusadas, das penas aplicadas, das prisões decretadas ao

longo do processo, entre outros fatores. Contudo, a atuação individualizada nos

processos não permite uma observação do trabalho como um todo, nem que se

verifiquem os resultados numa escala macro, tampouco possibilita a análise de

eventuais padrões.

aaaQuando se traçam objetivamente as categorias relevantes a serem observadas em

relação a quem está sentado/a no banco dos réus, e as relacionamos com o teor

decisório do Judiciário, conseguimos compreender melhor quais variáveis servem de

baliza para as hipóteses condenatórias ou absolutórias, bem como à fixação da

22
quantidade, qualidade e espécie de sanção .

aaaEste estudo sistematizado nos permitiu perceber alguns padrões relacionados a

esse tipo de processo.

aaaTome-se como exemplo a presença relevante de pessoas estrangeiras nesses

processos, que representam uma parcela significativa de quem é acusado/a por

tráfico de drogas transnacional na Justiça Federal no Recife. Os dados colhidos nos

mostram que essas pessoas têm tratamento mais severo no curso do processo que

os/as brasileiros/as, pois quase todos tiveram de aguardar o julgamento em primeira

instância presos cautelarmente. Por outro lado, quando se analisam as penas a que

essas pessoas são condenadas, percebe-se que elas são mais baixas que a média

dos/as brasileiros/as e que seu regime inicial de cumprimento de pena é menos

severo, com metade deles/as cumprindo penas restritivas de direitos. Tudo isso

apenas reforça a desproporcionalidade das suas prisões cautelares.

aaaOutro padrão observado foi justamente essa desproporção entre as penas

aplicadas e prisão processual, que é tão comum nesse tipo de processo. Como visto, a

conversão do flagrante em prisão preventiva representou 92% dos casos, o que é

número demasiadamente alto até mesmo para o “padrão” encarcerador existente nas

22 CARVALHO, Salo de. A política criminal de drogas no Brasil: estudo criminológico e dogmática da

Lei 11.343/06. 8 ª ed. rev. e atual - São Paulo: Saraiva, 2016, p. 122.
43

23
audiências de custódia . Essa conduta restritiva da liberdade ao longo do processo

foi corroborada pelo Tribunal Regional Federal, que negou 68% dos habeas corpus

impetrados pela defesa e deferiu apenas 9% das liminares requeridas. Em

contrapartida, considerando os resultados após o julgamento pelo TRF, temos que

apenas 21% das pessoas acusadas foi condenada a cumprir pena inicialmente no

regime fechado.

aaaOs resultados comparativos quanto ao gênero também são muito relevantes.

Contrariando as estatísticas gerais de população carcerária brasileira, as mulheres

são a maioria nos processos estudados. A elevada taxa de ocupação desses postos

pelo gênero feminino parece refletir uma vulnerabilidade socioeconômica típica às

mulheres nos países latino-americanos. O processo de feminização da pobreza, aliado

à hierarquização criada pela divisão do trabalho nos países capitalistas, influenciam

um modelo de gerência do tráfico que delega aos corpos femininos papéis de pouca

24
importância – ou que nem mesmo chegam a integrar sua estrutura .

aaaApesar disso, verificou-se um padrão mais rigoroso dispensado pelo Judiciário a

esse gênero, seja nas decisões provisórias, de concessão de liberdade ou conversão

do flagrante, seja nas sentenças de mérito. A concessão de liberdade provisória em

audiência de custódia, por exemplo, foi concedida a apenas uma mulher dentre as

dezenove acusadas. Além disso, mesmo no caso daquelas que tinham filhos menores

de 12 anos, não houve substituição da prisão cautelar pela domiciliar.

aaaNote-se, também, que mulheres são as responsáveis por transportar as maiores

quantidades de drogas, bem como que sua pena média é superior à dos acusados de

sexo masculino. É também significativamente menor o número de vezes em que é

reconhecido o tráfico privilegiado quando se trata de rés mulheres.

aaaEsses padrões identificados na pesquisa – e os exemplos aqui indicados não são

os únicos – podem servir de ponto de partida para estudos acadêmicos de natureza

qualitativa, que busquem compreender melhor tais padrões e por que eles existem. O

uso combinado do estudo quantitativo e qualitativo permite que as relações sociais

sejam “analisadas em seus aspectos mais “ecológicos” e “concretos” e aprofundadas

em seus significados mais essenciais. Assim, o estudo quantitativo pode gerar


25
questões para serem aprofundadas qualitativamente, e vice-versa” .

23 Segundo levantamento de dados produzido pelo Instituto de Defesa do Direito de Defesa – IDDD, o

percentual de conversão do flagrante em prisão preventiva é de 57%, em âmbito nacional. Disponível

em: http://www.iddd.org.br/pesquisa-revela-o-fim-da-liberdade-nas-audiencias-de-custodia/ Acesso:

26/04/2020

24 MORAES, Ana Luisa Zago. Crimigração: a relação entre política migratória e política criminal no
Brasil. São Paulo: IBCCRIM, 2016, p. 278.

25 MINAYO, Maria Cecília de Souza; SANCHES, Odécio. Quantitativo-Qualitativo:

Oposição ou Complementariedade? Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, Ano

9,  jul-set, 1993, p. 240.


44

aaaPor fim, partindo de uma perspectiva crítica em relação ao sistema de justiça

brasileiro, entendemos que esse estudo endossa a necessidade de confrontar números

e quebrar certas expectativas “naturais” acerca do tráfico de drogas, suas nuances e

a responsabilidade de todos os atores do sistema de justiça nesta política.


45
ABATH, M.; CASTRO, H. R. C.; BORBA, M. M.. Audiências de
custódia e seus desafios: apontamentos a partir da realidade

do Recife. In: SANTORO, Antonio Eduardo Ramires; GONÇALVES,

Carlos Eduardo. (Org.). Audiência de Custódia. 1ed. Belo

Horizonte: Editora D´Plácido, 2017, v. 1, p. 437-458.

ALMEIDA, Cristóvão Domingos de; GUIDANI, Joel Felipe; SILVA,

Jackson Ronie Sá Silva. Pesquisa documental: pistas teóricas e

metodológicas. Revista Brasileira de História & Ciências


Sociais. Ano I, Número I, jul. 2009. Disponível em:

https://www.rbhcs.com/rbhcs/article/view/6. Acesso em: 13 set

2018.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70,

1977.

CARVALHO, Salo de. A política criminal de drogas no Brasil:


estudo criminológico e dogmático da lei 11.343/06. 8. ed. São
Paulo: Saraiva, 2016.

DEMO, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. 2. ed.

São Paulo: Atlas, 1985.

INSTITUTO DE DEFESA DO DIREITO DE DEFESA (São Paulo).

Relatório O fim da liberdade: a urgência de


Nacional.

recuperar o sentido e a efetividade das audiências de


custódia, 2019.
 

LAVILLE, Christian.; DIONNE, Jean. A Construção do Saber.


Tradução Heloisa Monteiro e Francisco Settineri. Porto Alegre:

Artmed; Belo Horizonte: UFMG, 1999.

LOPES, Tarcila Audiências de Custódia e


Maia.

Encarceramento Provisório: Um Estudo a Partir dos Casos


Acompanhados pela Defensoria Pública da União. Dissertação

(Mestrado em Direito) – Universidade Católica de Pernambuco,

2019.

REFERÊNCIAS MINAYO, Maria Cecília de Souza; SANCHES, Odécio.

Quantitativo-Qualitativo: Oposição ou Complementariedade?

BIBLIOGRÁFICAS Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, Ano 9, 239-262,

jul-set, 1993.

MORAES, Ana Luisa Crimigração: a relação entre


Zago.

política migratória e política criminal no Brasil. São Paulo:


IBCCRIM, 2016.

PASCHOAL, Julio Emilio Cavalcanti; BORBA, Marcela Martins;

LOPES, Tarcila Maia. O gênero na dosimetria da pena: um estudo

comparativo do julgamento de acusados do crime de tráfico de

drogas.Anais do IV Colóquio Internacional de Pesquisadores


em Direito, Recife, p. 438-452, 2017.

Você também pode gostar