Spink começa o texto trazendo o conceito de sociedade de risco, no qual
marca a terceira etapa da modernidade, a qual ela denomina de modernidade
tardia. Essa etapa da modernidade é marcada por reflexões que são capazes de desmistificar e dissolver estruturas das etapas modernas anteriores. Como consequência disso, liberação de costumes, liberação de caráter sexual, de caráter do gênero, entre outros, tornam-se expressivas a partir dessa nova perspectiva. Contudo, a autora destaca a tensão entre as liberdades dos costumes e das estruturas frente ao imperativo de definição de limites, visto que essa relativização coloca em risco a vida comunitária e seus princípios. Para a compreensão dessa tensão, a autora aborda três características da sociedade de risco: a globalização, a individualização e a reflexividade.
Das duas primeiras características destacamos os fatores da presença,
ausência e as transformações dos laços familiares. O conceito de reflexividade, contudo, destaca o processo de reflexividade das ciências, que em um primeiro momento parte da possibilidade do método científico a natureza, as pessoas e a sociedade; em outro momento, uma autorreflexão acerca dos seus próprios produtos, defeitos e problemas. Contudo, como a autora destaca, essa refletividade sai da área da crítica e torna-se um movimento social voltado à análise das aplicações práticas da ciência, e é, justamente, nessa perspectiva que a crítica à ciência pauta-se pela reflexão ética. Spink, contudo, destaca que apesar do surgimento da regulação da pesquisa, do consentimento do participante etc., fruto dos contextos históricos de violação de direitos humanos, os códigos elaborados se restringem a ética prescritiva pautada na moral contratual, e não da ética dialógica, a qual é pautada na competência interacional que é condição de possibilidade de vida na comunidade.
A autora apresenta a ética prescritiva segundo o ponto de vista da moral, a
qual se relaciona a um conjunto de valores e regras de ações propostas ao indivíduo por meio de prescrições. Essa moral, composta por códigos de comportamentos e subjetivação pode ser manipulada, como propõe a autora ao citar a ideia de Bauman sobre o Holocausto. Dessa forma, aspectos subjetivos inerentes aos sujeitos, bem como concepções que variam nas sociedades tendem a pôr em risco o prestígio dessa perspectiva.
Por outro lado, a ética dialógica, baseada no construcionismo, configura-se na
produção do saber pensando em uma pesquisa contextualizada, pautada na interação ética entre os vários sujeitos envolvidos na pesquisa social, implicando em cuidados como os consentimentos informados, a proteção do anonimato e o resguardo sobre o abuso nas pesquisas.
Portanto, o saber científico atrelado a um código de conduta que pode variar
entre os sujeitos e a sociedade sujeita a pesquisa a erros e abusos científicos contra o bem-estar do ser humano. Diante disso, é válido o questionamento da autora como também a proposta de uma produção de conhecimento e de pesquisa atrelados a cuidados e métodos mais eticamente adequados e integralistas da ética dialógica.