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A Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial

É um documento normativo de direito internacional, emanado da UNESCO (Conferência Geral das


Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), reunida na sua 32.º sessão, a 17 de Outubro
de 2003, em Paris. Os estados capacitados para aderirem, como consagrado no seu artigo 33.º podem
promulgá-lo, comprometendo-se assim, em acordo multilateral, com as normas internacionais dele
procedidas. Apresenta a estrutura da tipologia de documentos na qual se incluí, e consolida instrumentos
internacionais já existentes à data, os quais não detendo carácter vinculativo, expunham já a necessidade
da salvaguarda do património cultural imaterial. Desses instrumentos destacamos a Recomendação para
a Salvaguarda da Cultura Tradicional e do Folclore de 1989. Salientamos também que, a UNESCO, á
data, era já titular de programas no domínio do Património cultural imaterial, nomeadamente, a
proclamação de uma lista das Obras-Primas do Património Oral e Imaterial da Humanidade, que foi
integrada na presente Convenção como o descrito no seu Artigo 31.º.

Esta Convenção sustenta-se na relação que existe com o património material cultural e natural admitindo-
se ser uma ampliação da salvaguarda daqueles valores; na ameaça dos “processos de globalização, de
transformação social e diálogo renovado entre comunidades”, que a par dos “fenómenos de intolerância”,
se interpreta poderem resultar na sua degradação, destruição ou mesmo desaparecimento. Considera
ainda que, o património cultural imaterial tem um “papel inestimável como fator de aproximação,
intercâmbio e entendimento entre os seres humanos”, devendo para isso a comunidade internacional e
o conjunto dos Estados Partes na presente Convenção contribuir para “a salvaguarda desse Património,
num espírito de cooperação e de auxílio mútuo”.

A presente Convenção é, um marco na evolução do conceito de património, uma vez que é o primeiro
instrumento que permite, de uma forma vinculativa, sistematizada, mas flexível, com envolvimento e
reconhecimento internacional, sejam implementadas formas institucionalizadas de salvaguarda a valores
intangíveis, identitários de comunidades, expressos em práticas sociais, rituais; técnicas artesanais
tradicionais ou ancestrais. E ao contrário do que acontecia nas classificações anteriores, nesta
Convenção, são incluídas de forma participativa, tornando-se parte da dinâmica do processo, - a
sociedade civil, as comunidades e os indivíduos geradores ou guardiões desses valores. Disto podemos
dar como exemplo, o processo de classificação do Fado, classificado 2011, que envolveu a sociedade
civil, desde as organizações estatais como o Ministério dos Negócios Estrangeiros, ou a Câmara
Municipal de Lisboa, cuja Comissão Científica foi liderada por um musicólogo - Rui Vieira Nery, e incluiu
o fadista Carlos do Carmo. No entanto, em nosso entender, importará ainda neste processo, que o registo
seja realizado de forma dinâmica, mais do que um banco de dados, se criem mecanismos de
acompanhamento do seu devir, uma vez que se trata de valores vivos sujeitos a uma evolução. Por
último e ainda na vigilância de uma possível apropriação em contextos descentrados da essência dos
valores a preservar, destacamos a relação estreita que defendemos ter de existir entre as ações de
classificação deste património, e as da sua revitalização e difusão.

Sílvia Brazão, aluna 89697, UC Inventario e Interpretação Patrimonial, Mestrado Estudos e Gestão da Cultura

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