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Acadêmica: Geandressa Pereira

Trata-se de Ação Declaratória de Constitucionalidade sob o ângulo do


tratamento diferenciado entre os gêneros feminino e masculino, tratando da
harmonia com a Constituição Federal, no que se refere a proteção da mulher
considerando as suas peculiaridades físicas e morais, levando em conta ainda,
a cultura brasileira.

A referida busca declarar a constitucionalidade dos artigos 1º, 33 e 41 da


Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, quais sejam:

Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e
familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição
Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência
contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar
a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela
República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de
assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e
familiar.

Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e


Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível
e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência
doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV
desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente.

Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais,


para o processo e o julgamento das causas referidas no caput.

Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de
26 de setembro de 1995.

Para ajuizar a ação e para que fosse admitida, a ação declaratória dá


alguns exemplos de jurisprudência sobre a oscilação quanto a
inconstitucionalidade dos referidos artigos, no que diz respeito ao princípio da
igualdade, artigo 5º, inciso I; competência dos Estados para fixar regras de
organização judiciária local, artigo 125, § 1º, combinado com o artigo 96, inciso
II, alínea “b”; competência dos juizados especiais, artigo 98, inciso I.

Quanto o princípio da igualdade, não há o que se falar em


inconstitucionalidade, afinal, esse princípio busca proteger a pessoa humana e
o intuito da lei é justamente coibir a violência doméstica e familiar contra as
mulheres por estas estarem em um âmbito mais vulnerável, visto à cultura que
nosso país, assim como muitos outros, possuem em diminuir a mulher somente
por ser mulher.

Segundo o próprio relator, esse tratamento preferencial das mulheres na


Lei Maria da Penha, busca corrigir um desequilíbrio e nada mais justo que
mulheres obtenham esse tratamento preferencial frente as situações
vivenciadas as quais todas as pessoas encontram informações quanto aos
números de mulheres que vivenciam violência doméstica e todos os estudos
quanto ao tema.

No que diz respeito à organização judiciária e aos juizados da violência


doméstica familiar contra a mulher, também não há o que se falar em
inconstitucionalidade, apenas busca-se a efetiva proteção dos direitos das
mulheres, não havendo qualquer invasão na forma como os Estados buscam
organizar suas atribuições, pois não faz detalhamentos quanto a organização
judiciária do Estado. Busca-se que, enquanto não sejam criados os Juizados
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, a justiça comum proteja as
mulheres e efetive os direitos das mesmas.

E em relação aos juizados especiais, o fato de não os aplicar nos casos


de violência contra a mulher, significa que tais crimes não devem ser
considerados como crime de menor potencial ofensivo, afastando as tentativas
de composição civil, considerando que tais medidas não seriam suficientes
para a efetiva proteção das mulheres quanto à violência que elas sofrem única
e exclusivamente por serem mulheres.

Esta ação pede pelo deferimento de liminar para que sejam suspensos
os efeitos que possam negar a vigência da lei e para que o pedido de
declaração de constitucionalidade dos artigos mencionados também seja
deferido, considerando as razões expostas, relativas aos artigos 1º, 33 e 41 da
lei.

O senhor Ministro Celso Mello, ao apresentar os motivos do seu voto, diz


que:

“que o advento da Lei Maria da Penha significou uma expressiva tomada de


posição por parte do Estado brasileiro, fortemente estimulado, no plano ético,
jurídico e social, pelo valor primordial que se forjou no espírito e na consciência
de todos em torno do princípio básico que proclama a essencial igualdade
entre os gêneros, numa evidente e necessária reação do ordenamento positivo
nacional contra situações concretas de opressão, de degradação, de
discriminação e de exclusão que têm provocado, historicamente, a injusta
marginalização da mulher”.

É nesse mesmo sentido que os demais ministros também apresentam


seus votos e votam pela procedência da ação, havendo unanimidade nos
votos, visto que, é clara a intenção da Lei da Maria da Penha: equilibrar e
corrigir os direitos das mulheres, pois como se sabe, milhões de mulheres são
vítimas de violência pelo simples fato de serem mulheres e por toda a questão
do machismo enraizado na cultura de todo o mundo, não somente no Brasil.

O processo do reconhecimento dos direitos das mulheres foi muito


longo. A lei da maria da penha pode ser considerada uma grande vitória desde
que as mulheres começaram a posicionar e requerer que cada vez mais
fossem vistas e pudessem conquistar a igualdade dos gêneros.

Os ministros se posicionam de forma totalmente assertiva ao buscar,


juntamente com a evolução da sociedade, pela efetivação dos direitos que a
referida lei busca garantir as mulheres frente as dificuldades e as diferenças
com as quais precisam lidar no seu cotidiano, pois a questão da violência
também vai muito além de apenas violência física, a mulher é violentada
psicologicamente, verbalmente e sexualmente, bem como anulada diariamente
apenas por estar em uma posição que é considerada “abaixo”, quanto ao seu
gênero.
A violência contra a mulher é uma forma de manifestar, o que já foi
mencionado, em relação a própria desigualdade, como se uma mulher
merecesse ser anulada, violentada ou descredibilizada simplesmente pelo seu
gênero, sendo assim, a lei Maria da Penha é justamente uma manifestação
contrária a tudo o que já foi visto: garantir que, aquela mulher violentada ou que
esteja em uma situação de vulnerabilidade, tenha seus direitos garantidos e
protegidos.

Essa lei busca corrigir e reparar a história em busca da igualdade de


gêneros, por isso a importância de garantir que as mulheres possam ser
amparadas por ela em situações de violência, não havendo o que se falar na
inconstitucionalidade dos referidos artigos, pois eles, assim como toda a lei,
buscam, além de punir os causadores de tais violência, evitar que novas
violências ocorram, bem como juntamente com a lei, é se suma importância
que sejam veiculadas informações em relação a mesma, para encorajar que
mais e mais mulheres possam buscar os poderes para punir os agressores.

A lei cria mecanismos tanto para evitar como para punir. Seus
fundamentos buscam proteger não somente a mulher, mas também a família
como um todo, mais um motivo para se enaltecer sua importância.

Os artigos 4º e 5º demonstram um pouco do exposto:

Art. 4º Na interpretação desta Lei serão considerados os fins sociais a que ela
se destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em
situação de violência doméstica e familiar.

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra
a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I – No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio


permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas;

II – No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por


indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais,
por afinidade ou por vontade expressa;
III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de


orientação sexual.

Por isso, é fácil perceber que o legislador optou por abranger, sob a égide da
Lei Maria da Penha, qualquer ação ou omissão que cause violência doméstica
e familiar contra a mulher – seja a nível físico, seja a psicológico.

Então, o art. 41, da Lei 11.340/06, não tenta delimitar a esfera de


incidência da Lei Maria da Penha, apenas busca esclarecer que nos crimes
cometidos com violência contra a mulher, independente da pena prevista, não
devem aplicadas as medidas despenalizadoras previstas na Lei 9.099/95.

A lei em questão, foi votada de forma democrática, foi discutida de forma


pública, sendo assim, reiterando, não sofre nenhum problema em relação a
inconstitucionalidade, considerando que a lei corrige um passado representado
por legislações que discriminavam as mulheres, nem sempre de forma
explícita, mas de forma que o gênero feminino ficasse em segundo lugar.

A lei Maria da Penha não desrespeita o princípio constitucional da


igualdade, porquanto tem o intuito de coibir, evitar e punir as discriminações
contra as mulheres. O histórico de luta das mulheres já deixa bem claro o
quanto das mulheres sempre buscaram resistir aos preconceitos, a fim de ser
um ser humano igual e que tenha direito a total dignidade.

Portanto, considerando que um dos objetivos da Constituição Federal é


acabar com a desigualdade de gênero, conforme o art. 5º, I, que diz que:
“homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;” e considerando que ainda existem muitos resquícios de
desigualdade de gêneros, visto que ainda vivemos em uma sociedade
machista, a Constituição concedeu um tratamento preferencial no que se refere
às mulheres, permitindo que a legislação infraconstitucional procurasse
harmonizar as diferenças de tratamento entre os homens e as mulheres,
apenas em razão do seu gênero, para que sejam diminuídas as diferenças
físicas e biológicas existentes entre os sexos.
Conclui-se, dessa forma, que os Ministros e o Relator, em consonância
com a Constituição Federal, assim como a Lei Maria da Penha, buscaram
proferir decisão em prol das mulheres e os direitos e garantias que elas
definitivamente merecem, ressaltando toda a questão histórica da desigualdade
de gêneros e a importância dos dispositivos que foram objeto de pedido de
constitucionalidade, pois merecem prosperar, já que seus únicos objetivos
seguem sendo a proteção dos direitos das mulheres.

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