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DIREITO E

LEGISLAÇÃO
TRIBUTÁRIA

Eduardo Zaffari
Dos impostos no
Direito Tributário
Eduardo Kucker Zaffari

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Definir imposto como espécie de tributo.


>> Reconhecer os tipos de impostos de nosso ordenamento.
>> Identificar quando ocorre o fato gerador do imposto.

Introdução
Os tributos não se confundem com a espécie específica do imposto, confusão
que costuma ocorrer no senso comum pelos cidadãos. Os tributos consistem em
um gênero da qual fazem parte diversas espécies, que se diferenciam entre si,
como o imposto, a taxa, o empréstimo compulsório, a contribuição de melhoria
e a contribuição especial.
Neste capítulo, vamos definir tributos e explicar como distinguir o imposto
das demais espécies tributárias, assim como os diferentes impostos existentes
em nosso ordenamento jurídico. Também falaremos sobre os diferentes fatos
escolhidos pelo legislador como fatos geradores de cada um dos impostos.

O imposto como espécie de tributo


Em Direito Tributário Brasileiro, Aliomar Baleeiro (2009) afirma que os países
democráticos procuram disciplinar a atividade financeira do Estado no campo
do Direito Público, pois, no Estado de Direito, o poder é exercido dentro de
princípios que limitam a soberania estatal e é autolimitado pelo ordenamento
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jurídico. Além disso, segundo o tratadista, nos países cuja Constituição é


considerada de modelo rígido, com controle judicial da constitucionalidade
e legalidade das normas e dos atos dos governantes, a sujeição da atividade
financeira do Estado às normas legais é ainda mais enérgica do que em
países de legislação flexível (BALEEIRO, 2009). O doutrinador sinalizava que
os agentes políticos e estatais devem agir nos estritos limites traçados pelo
ordenamento jurídico, pois o Estado necessita tributar para a realização de
seus fins, expressando sua soberania sobre os cidadãos.
Nesse aspecto, vale lembrar o ensinamento de Leandro Paulsen sobre o
dever de colaborar prescrito a todo cidadão:

Contribuir para as despesas públicas constitui obrigação de tal modo necessária


no âmbito de um Estado de direito democrático, em que as receitas tributárias são
a fonte primordial de custeio das atividades públicas, que se revela na Constitui-
ção enquanto dever fundamental de todos os integrantes da sociedade. Somos,
efetivamente, responsáveis diretos por viabilizar a existência e o funcionamento
das instituições públicas em consonância com os desígnios constitucionais (PAUL-
SEN, 2017, p. 18).

A expressão da soberania estatal que se dá pela instituição do tributo não


é mero exercício de poder, mas reflete uma relação jurídica que se dá entre
o fisco, assim denominada a faceta do Estado quando realiza a atividade
tributária, e aquele responsável pelo pagamento do tributo, denominado
contribuinte. Mas, nesse sentido, recorda Hugo de Brito Machado (1992) que se
deve considerar contribuinte em seu sentido amplo, abrangendo igualmente
aqueles que apresentam o dever de prestar qualquer espécie de prestação
tributária, como no caso das chamadas obrigações acessórias. Há de se
compreender o Direito Tributário como o ramo do Direito que tem a função
de mediar essa relação, impondo limites ao exercício do poder estatal. Dessa
maneira, pode-se conceituar Direito Tributário como o ramo que se ocupa
das relações entre o fisco e as pessoas sujeitas a imposições tributárias
de qualquer espécie, limitando o poder de tributar e protegendo o cidadão
contra os abusos desse poder.

Ao discutir judicialmente se um valor cobrado a título de tributo é


devido, o contribuinte deverá questionar a relação jurídico-tributária
existente entre o Estado e contribuinte. Entendendo que não é devido o tri-
buto, o Juízo considerará que não há a relação jurídico-tributária ente Estado
e contribuinte.
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O Direito não tem, por função, conceituar, pois sua finalidade imediata é
regrar condutas para a coexistência digna entre indivíduos. A conceituação
parte, usualmente, da doutrina e da construção pretoriana. Entretanto, a
controvérsia leva o legislador a conceituar certos institutos, especialmente
quando necessário para barrar eventuais abusos de poder que poderiam
ser perpetrados pelo Estado. Nesse sentido, o Código Tributário Nacional
conceituou tributo no art. 3º, ao prescrever que “Tributo é toda prestação
pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que
não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante ativi-
dade administrativa plenamente vinculada” (BRASIL, 1966, documento on-line). 
Hugo de Brito Machado (1992), em face da conceituação legal, afirma que
os conceitos doutrinários de tributo não fazem mais sentido, pois, dados as
peculiaridades do Direito Tributário e seu viés limitador de poder, restaria
apenas o estudo e a compreensão dos caracteres prescritos em lei. Há que
se recordar, entretanto, que o trabalho da doutrina não se dá apenas na
conceituação, mas na explanação semântica do que o texto legal apresenta
como fenômeno, o que acaba sendo realizado pelo próprio jurista.
Ao prescrever que se trata de uma prestação pecuniária, o Código Tribu-
tário Nacional prescreve que tributo se fundamentará em um pressuposto
lícito, excluindo a possibilidade de se confundir com sanções em geral ou
indenizações por ato ilícito (BRASIL, 1966). Em outros termos, tributo não se
confunde com multa ou qualquer outra espécie de penalidade (BALEEIRO,
2009). Porém, isso não significa, evidentemente, que receitas auferidas por
atividades ilícitas não estejam sujeitas a tributos, o que significaria confundir
o ilícito com o conceito de tributo. Ao assim prescrever, a disposição legal
quer apenas determinar que um ato ilícito não pode ser o fato escolhido pelo
legislador como fator gerador de tributo (observe que a tributação da renda
obtida com o jogo do bicho é diferente do fato de tributação do jogo do bicho
em si, que constituiria o reconhecimento dessa espécie de contravenção
como atividade legal).
Outra característica do tributo é que se trata de uma prestação pecuni-
ária, ou seja, é obrigação de pagar em dinheiro, cuja necessidade estatal se
expressa pelo pagamento das contas públicas. Não há como o contribuinte
pagar os tributos pela prestação de serviços de qualquer natureza. Daí se
afirmar que a prestação de serviço militar ou a atuação como mesário em um
pleito eleitoral não poderiam ser considerados tributos ou forma de extinção
do crédito tributário. Outra característica ligada à prestação em pecúnia é
que o tributo será expresso em moeda ou em outra modalidade que nela
se possa exprimir. Significa dizer que o tributo será em moeda nacional,
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podendo se admitir o pagamento por meio de outras formas admitidas pelo


ordenamento jurídico brasileiro como forma de pagamento, mas jamais in
natura (como na Antiguidade, quando se aceitava o pagamento de tributos
por meio da entrega de cereais ou de animais).
O caráter compulsório do tributo é distintivo de outras formas de obri-
gações de nosso ordenamento jurídico. Isso porque a prestação tributária é
compulsória, não sujeita à discricionariedade do contribuinte ou, até mesmo,
do Estado. Uma vez instituído o tributo, o fisco não pode deixar de cobrar
o que é devido ao Estado, tampouco pode o contribuinte deixar de pagar. A
atividade estatal é considerada vinculada porque o agente estatal deverá
realizar o prescrito em lei e em seus exatos limites.

Os tributos se dividem em cinco espécies tributárias, entre as quais


está o imposto. São as espécies tributárias o imposto, a taxa, o
empréstimo compulsório, a contribuição de melhoria e a contribuição especial.

A definição de imposto está prescrita no art. 16 do Código Tributário Na-


cional, em que “Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma
situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao
contribuinte” (BRASIL, 1966, documento on-line). Segundo Aliomar Baleeiro
(2009, p. 197), o dispositivo legal encerra um conceito puramente jurídico,
que coincide com a noção teórica de imposto, pois afirma o tratadista que:

[...] imposto é a prestação de dinheiro que, para fins de interesse coletivo, uma
pessoa jurídica de direito público, por lei, exige coletivamente de quantos lhe estão
sujeitos e têm capacidade contributiva, sem que lhes assegure qualquer vantagem
ou serviço específico em retribuição desse pagamento.

O traço característico do imposto, conforme preceituava o jurista, é que


essa espécie tributária não se vincula a qualquer espécie de prestação estatal
pelo Estado em favor do contribuinte ou da coletividade de contribuintes. É
Leandro Paulsen quem recorda que os impostos são tributos que incidem,
necessariamente, sobre revelações de riqueza do contribuinte, ou seja, são
situações relacionadas ao contribuinte, não ao Estado. Por essa razão, ao
constar a competência tributária dos entes federados nos arts. 153, 155 e 156
da Constituição Federal, o constituinte originário prescreveu bases econômicas
relacionadas ao contribuinte, ocasionando que o montante devido a título
de imposto deverá ser dimensionado à riqueza que lhe serve de base para
o cálculo (PAULSEN, 2017).
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Entre as espécies tributárias, o imposto se caracteriza pela desnecessi-


dade, pelo Estado, de vincular a sua instituição à prestação de alguma ativi-
dade estatal em favor do contribuinte, constando, na Constituição Federal,
as bases econômicas que deverão servir de parâmetro para a instituição do
montante a pagar a título dessa espécie tributária.

Tipos de impostos de nosso ordenamento


Provavelmente a melhor divisão didática dos tipos de impostos do ordena-
mento nacional seja a apresentada por Leandro Paulsen (2017) em seu Curso de
Direito Tributário Completo, em que distingue as espécies de tributos em cinco:

1. impostos sobre o patrimônio;


2. impostos sobre a transmissão de bens;
3. imposto sobre a renda;
4. impostos sobre a atividade econômica;
5. impostos sobre o comércio exterior.

Observe que a divisão proposta apresenta bases econômicas distintas,


reunindo impostos que têm em comum base econômica semelhante.
A primeira espécie de imposto contempla aqueles que incidem sobre o
patrimônio, dividindo-se entre o Imposto sobre a Propriedade de Veículos
Automotores (IPVA), o Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana (IPTU)
e o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR).
O primeiro, o IPVA, poderá ser instituído pelos estados da federação por
força do art. 155, III, da Constituição (BRASIL, 1988). O IPVA é considerado
um imposto real, o que significa que não se admite qualquer espécie de
progressividade de sua alíquota, permitindo-se a concessão de descontos
para o “bom motorista”. Nesse imposto, que não consta no Código Tributá-
rio Nacional porque, à época do Código, não havia previsão constitucional
de competência, o Supremo Tribunal Federal entende que os estados têm
competência legislativa plena (ALEXANDRE, 2017).
O segundo desses impostos é o IPTU, provavelmente a maior fonte de
receita dos municípios, cuja competência tributária lhe é outorgada no art.
156, I, da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Diferentemente do IPVA, o IPTU
permite a progressividade das alíquotas em razão do valor do imóvel desde
a Emenda Constitucional nº 29, de 13 de setembro de 2000. Essa técnica
tributária vinha sendo aplicada por diversos municípios brasileiros antes
da referida Emenda, o que ocasionou a edição da Súmula 668 pelo Supremo
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Tribunal Federal (2003, documento on-line): “É inconstitucional a Lei Municipal


que tenha estabelecido, antes da Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas
progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da
função social da propriedade urbana”.
O terceiro desses tipos de imposto é o ITR, que encontra sua competência
tributária concedida pelo art. 153, VI, da Constituição, em que a União Federal
poderá instituir o imposto para as zonas consideradas rurais (BRASIL, 1988).
Os impostos sobre a transmissão de bens compõem o segundo tipo de
imposto. Esses se dividem entre o Imposto sobre Transmissão Inter Vivos
de Bens e de Direitos Reais sobre Imóveis (ITBI), previsto no art. 156, II, da
Constituição, e o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD),
de competência dos estados e previsto no art. 155, I, da Constituição Federal
(BRASIL, 1988). O ITBI será devido ao município quando da transferência
da propriedade do imóvel, que se dará mediante o registro no Registro de
Imóveis respectivo, ou mesmo quando da instituição de um direito real sobre
o imóvel. Por sua vez, o ITCMD é de competência dos municípios, conforme
art. 155, I, da Constituição, e admite a progressividade de suas alíquotas,
conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal (BRASIL, 1988). Assim,
quanto maior for o patrimônio transmitido por doação ou herança, maior
poderá ser alíquota, se assim entender o ente estadual.

A instituição de um direito real sobre a coisa alheia poderá levar à


incidência de ITBI, se assim prescrever o legislador municipal. Os
direitos reais são prescritos no art. 1.225 do Código Civil Brasileiro.

O imposto sobre a renda se denomina Imposto sobre a Renda e Proventos


de Qualquer Natureza (IR) e encontra previsão constitucional no art. 153, III
(BRASIL, 1988). A par dos princípios gerais tributários, esse imposto deve,
necessariamente, observar os princípios da generalidade, da universalidade
e da progressividade. Esse imposto se divide entre o Imposto de Renda da
Pessoa Física (IRPF) e Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ). A
competência desse tributo é exclusiva da União Federal, que arrecadará e a
quem se deverão prestar informações anuais. A generalidade, nesse tributo,
significa que deverá o imposto abranger todos os contribuintes que pratiquem
o fato gerador previsto em lei; a universalidade é o critério que determina
que a renda deverá abranger quaisquer rendas e proventos auferidos pelo
contribuinte; e a progressividade representa a possibilidade de variação
positiva da alíquota à medida que aumenta a base de cálculo (PAUSEN, 2017).
Dos impostos no Direito Tributário 7

A Receita Federal do Brasil disponibiliza, em seu site, todas as in-


formações sobre o IR, inclusive com perguntas e respostas sobre as
principais dúvidas a respeito desse tributo.

Os impostos sobre a atividade econômica se dividem entre o Imposto


sobre Produtos Industrializados (IPI), o Imposto sobre Operações Relativas
à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), o Imposto sobre
Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e os Impostos sobre Operações de Crédito,
Câmbio, Seguro ou Relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF). Cada um
desses impostos, na realidade, divide-se em diversos outros, pois alguns
apresentam várias bases de cálculo diferentes, bem como alíquotas diversas.
Resumidamente, haja vista a extensão de cada um desses tributos, o IPI
se destina a tributos bens industrializados em território nacional, seja essa
transformação completa ou parcial do produto. É de competência da União
Federal e vem previsto no art. 153, IV, da Constituição (BRASIL, 1988). Por sua
vez, o ICMS é de competência dos estados e do Distrito Federal e se encontra
previsto no art. 155, II, da Constituição (BRASIL, 1988). Afirma-se que, no ICMS,
estão presentes diferentes impostos dentro de um mesmo imposto, porque
haverá a incidência nas seguintes bases econômicas: operações de circulação
de mercadorias; operações mistas de circulação de mercadorias e prestações
de serviços não compreendidos na competência tributária dos Municípios;
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal; pres-
tações de serviços de comunicação; importação de bens e mercadorias; e
importação de serviços.
Já o ISS tem sua competência constitucional prevista no art. 156, III da
Constituição, e se destina a tributar os serviços realizados nos municípios
brasileiros, constituindo importante fonte de arrecadação destes. Por derra-
deiro, o IOF é um tributo complexo, que, a exemplo do ICMS, tem diferentes
bases econômicas: operações de crédito; operações de câmbio; operações
de seguro; operações relativas a títulos ou valores mobiliários. O IOF é de
competência da União Federal e encontra sua outorga constitucional no art.
153, V, da Carta Magna (BRASIL, 1988).
Por fim, os impostos sobre o comércio exterior se dividem em dois: o
Imposto sobre a Importação (II) e o Imposto sobre a Exportação (IE), consis-
tindo nos tributos mais usuais e antigos, haja vista que os povos do passado
costumavam cobrá-los uns dos outros.
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O II compete à União Federal, conforme art. 153, I, da Constituição (BRASIL,


1988), e é regulado pelo Decreto-Lei nº 37, de 18 de novembro de 1966 (BRASIL,
1966), e pelo Decreto nº 6.759, de 5 de fevereiro de 2009 (BRASIL, 2009). Trata-
-se de um imposto que incide sobre a entrada no território nacional, para
incorporação à economia interna, de bem destinado ou não ao comércio,
produzido, pela natureza ou pela ação humana, fora do território nacional.
Nesse tributo, observa-se uma série de regimes diferenciados, como no
caso do Regime de Tributação Simplificada, para mercadorias de valor até
US$ 3.000,00, ou o Regime de Tributação Especial para Bagagens, destinado
a viajantes que ingressam no País sem finalidade comercial ou industrial.
O IE, previsto no art. 153, II, da Constituição (BRASIL, 1988), de igual com-
petência da União Federal, será devido quando do envio de produto para fora
do território nacional, considerando-se exportador não apenas o contribuinte
empresário, mas todo aquele que a lei equiparar a exportador, abrangendo
todo aquele que enviar bens ao exterior, sejam para o comércio ou não. Esses
tributos têm a característica da extrafiscalidade, ou seja, não se destinam
apenas para fins arrecadatórios, mas são instrumentos de política econômica
estatal. Sempre que o Estado quer estimular ou, ao contrário, desestimular a
entrada e saída de produtos nacionais, alterará as alíquotas desses impostos.

Fato gerador do imposto


Sacha Calmon Navarro Coêlho (2008), reproduzindo e aderindo às lições de
Paulo de Barros Carvalho, afirma que a norma jurídico-tributária se divide em
hipótese endonormativa (critério material, critério temporal e critério espacial)
e consequência endonormativa (critério pessoal e critério quantitativo). Não
há uma concepção exonormativa no conceito apresentado. A estrutura da
norma tributária, denominada regra-matriz de incidência tributária, pressupõe
a perfeita diferenciação entre o texto de Direito Positivo e a norma jurídica,
enquanto componentes formadores de sistema. Para tanto, a lição de Paulo
de Barros Carvalho, que os diferencia (CARVALHO, 2019, p. 49):

A norma jurídica é a significação que obtemos a partir da leitura dos textos de


direito positivo. Trata-se de algo que se produz em nossa mente, como resulta-
do da percepção do mundo exterior, captado pelos sentidos. Vejo os símbolos
linguísticos marcados no papel, bem como ouço a mensagem sonora que me é
dirigida pelo emissor da ordem. Esse ato de apreensão sensorial propicia outro, no
qual associo ideias e noções para formar um juízo, que se apresenta, finalmente,
como proposição.
Dos impostos no Direito Tributário 9

Enquanto o texto de Direito Positivo é formado pelos símbolos linguísti-


cos marcados no papel, a norma jurídica é a significação extraída da leitura
desses símbolos. Essa diferenciação nos leva ao imediato entendimento de
que as significações extraídas do texto legal poderão variar entre intérpretes
sob o mesmo sistema jurídico, pois a norma é juízo, pensamento provocado
no espírito. Essa significação emergirá não apenas, e necessariamente, de
um único texto de Direito Positivo, mas do exame da totalidade do sistema
jurídico. Considerando a norma um juízo hipotético-condicional, a norma
jurídica dificilmente será formada pela leitura de um único texto legal. A
norma, formada pelo trabalho interpretativo do estudioso, não colidirá com
os preceitos constitucionais que lhe dão fundamento de validade. Isso obriga
o intérprete a considerar, na formação da norma, os enunciados explícitos e
implícitos da Carta Política.
Em sentido estrito, as normas tributárias definem a incidência tributária,
ou regra-matriz de incidência tributária. Haverá o fenômeno da incidência
quando o fato (fato jurídico tributário) estiver em absoluta identidade com a
prescrição normativa da hipótese (hipótese tributária). Destarte, ocorrendo,
no mundo fenomênico, o fato prescrito no antecedente da regra-matriz de
incidência tributária, são automaticamente propalados os efeitos jurídicos
previstos no consequente dessa mesma norma.
O fato gerador pode ser reconhecido na regra de incidência tributária
como a hipótese da regra-matriz, que se trata da proposição descritiva de
determinada situação real, em que o legislador destaca determinado fato de
nossa realidade social para discipliná-lo, qualificando-o como fato jurídico.
A hipótese prescreve um fato da realidade social escolhido pelo legislador
como necessário e suficiente para a irradiação dos efeitos prescritos no
consequente da regra-matriz de incidência. O fato deverá se enquadrar per-
feitamente nos critérios descritos na hipótese, para que se possa considerar
como fato jurídico tributário.
Assim, a ocorrência do fato descrito (fato jurídico) acarreta, automatica-
mente, a incidência do mandamento. Por essa razão, pode-se afirmar que o
fato gerador do imposto é a descrição normativa de um fato ou conjunto de
fatos, cuja ocorrência é necessária e suficiente para o desencadeamento da
consequência, conforme o art. 114 do Código Tributário Nacional, que pres-
creve que “[...] fato gerador da obrigação principal é a situação definida em
lei como necessária e suficiente à sua ocorrência” (BRASIL, 1966, documento
on-line). Por essa razão, não se pode afirmar que os impostos apresentam
um único fato gerador: dependerá do fato escolhido pelo legislador para que
se caracterize a incidência do imposto (BALEEIRO, 2009). Vejamos.
10 Dos impostos no Direito Tributário

O IPVA tem, como fato gerador, a propriedade de veículo automotor. O


IPTU tem, como fato gerador, a propriedade, o domínio útil ou a posse de
bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil,
localizado na zona urbana do município. O ITR apresenta, como fato gerador, a
propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, como definido
na lei civil, localizado fora da zona urbana do município.
O ITBI tem, por fato gerador, a transmissão, a qualquer título, da proprie-
dade e do domínio útil ou de direitos reais sobre imóveis, exceto os direitos
reais de garantia. O ITCMD tem, por fato gerador, a transmissão de qualquer
bem ou direito havido por sucessão legítima ou testamentária, inclusive a
sucessão provisória, o fideicomisso, ou por doação.
O IR tem, como fato gerador, a aquisição da disponibilidade econômica
ou jurídica de renda ou de proventos de qualquer natureza.
O IPI tem, como fato gerador, o desembaraço aduaneiro, quando produto
de procedência estrangeira, sua saída dos estabelecimentos industriais e sua
arrematação, quando apreendido ou abandonado e levado a leilão. O ICMS tem,
como fato gerador, suas bases econômicas, que consistem nas operações de
circulação de mercadorias, nas operações mistas de circulação de mercadorias
e nas prestações de serviços não compreendidos na competência tributária
dos municípios, nas prestações de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal, nas prestações de serviços de comunicação, na importação
de bens e de mercadorias, e na importação de serviços.
O ISS tem, como fato gerador, a prestação de serviços conforme lista
confeccionada em cada município da federação. Os IOF têm, como fatos
geradores, suas bases econômicas, quais sejam: operações de crédito, ope-
rações de câmbio, operações de seguro e operações relativas a títulos ou a
valores mobiliários.
Por fim, II e IE apresentam, como fato gerador, a importação de produtos
estrangeiros e sua entrada no território nacional, e o envio de produto para
fora do território nacional.
Conforme se verifica, o legislador escolheu uma série de fatos que são
considerados hipóteses de incidências — uma vez ocorridos, serão conside-
rados necessários e suficientes para que sejam considerados fatos geradores
da obrigação tributária de pagamento do respectivo imposto.
Dos impostos no Direito Tributário 11

Referências
ALEXANDRE, R. Direito Tributário. 11. ed. Salvador: JusPodivn, 2017.
BALEEIRO, A. Direito Tributário brasileiro. 22. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
BRASIL. Decreto nº 6.759, de 5 de fevereiro de 2009. Regulamenta a administração das
atividades aduaneiras, e a fiscalização, o controle e a tributação das operações de
comércio exterior. Diário Oficial da União, Brasília, 6 fev. 2009. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6759.htm. Acesso em:
30 out. 2020.
BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário
Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e
Municípios. Diário Oficial da União, Brasília, 27 out. 1966. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm. Acesso em: 30 out. 2020.
CARVALHO, P. de B. Curso de Direito Tributário. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
COÊLHO, S. C. N. Curso de Direito Tributário brasileiro. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
MACHADO, H. de B. Curso de Direito Tributário. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1992.
PAULSEN, L. Curso de Direito Tributário completo. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula 668. É inconstitucional a lei municipal que tenha
estabelecido, antes da Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o
IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade
urbana. Diário de Justiça, Brasília, p. 4, 13 out. 2003. Disponível em: http://www.stf.
jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=1521. Acesso em: 30
out. 2020.

Leituras recomendadas
SABBAG, E. de M. Manual de Direito Tributário. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial
da União, Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 30 out. 2020.

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