Learning by Doing

Pós-Graduando: Camila Soler Morasco

C.P.F.: 365.762.078-83
Curso: Pós-graduação em Educação Ambiental e Sustentabilidade

MAKER SUSTENTÁVEL: CRIAÇÃO DE COLETORES DE LIXOS PERIGOSOS

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo descrever, analisar e refletir sobre o projeto
Maker Sustentável, desenvolvido com um grupo de educandos participantes de um
projeto social em um município do interior de São Paulo. Foram desenvolvidas
ações de debate e reflexão sobre o meio ambiente e a importância da
sustentabilidade na sociedade contemporânea, estimulando-os a pensarem em
estratégias para contribuir com o meio ambiente. Nesse sentido, os alunos
propuseram a criação de um boneco coletor de lixos perigosos – como pilhas e
baterias, produzido a partir de resíduos materiais – como papelão, garrafas, leds etc.
Os bonecos foram instalados em cinco escolas públicas, servindo de ecoponto. Os
resultados mostram que os educandos-cidadãos aprenderam a ser protagonistas e
empreendedores de novos movimentos socioambientais, despertando nas
comunidades escolar e local a conscientização acerca da sustentabilidade, bem com
a adoção de novas práticas convergentes à agenda dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável da ONU.

CONTEXTUALIZAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA

De acordo com a ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza

Pública e Resíduos Especiais (2015, apud SEBRAE, 2017), o Brasil produz,
anualmente, cerca de 78 milhões de toneladas de resíduos (plástico, papel, vidro,
metal etc.), sendo que 30% podem ser reaproveitados e somente 3% são
encaminhados para reciclagem.
1
 Learning by Doing

Os lixos perigosos são aqueles resíduos altamente tóxicos e que contém

metais pesados, podendo causar grandes danos ambientais caso seja descartado
de forma incorreta. Nesta categoria dos perigosos, encontram-se também alguns
tipos de lixos eletrônicos, que é aquela sujeira criada a partir do descarte de
computadores, televisores, celulares entre outros.
Segundo estudos realizados pela Organização das Nações Unidas – ONU
(2020), o Brasil está entre os 10 maiores produtores de lixo eletrônico do mundo,
gerando, anualmente, cerca de 2,1 mil toneladas de lixo eletrônico.
Nos últimos anos, a ONU tem se engajada cada mais com as questões
ambientais e, em 2012, preocupada com os caminhos tomados pelas nações, foi
lançado, no Rio de Janeiro, por meio da Conferência Rio+20, uma agenda
sustentável denominada “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (ODS), que
“são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente
e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e
prosperidade” (ONU, 2021).
Ao todo, a agenda propõe 17 objetivos a serem alcançados e que serão
fundamentais ao nortear nosso trabalho, como a educação com qualidade (objetivo
04), cidades e comunidades sustentáveis (objetivo 11) e consumo e produção
responsáveis (objetivo 12), entre outros. Esses objetivos foram escolhidos, pois eles
corroboram os propósitos do projeto, que é contribuir para a educação
socioambiental e sustentabilidade.
Os problemas elencados acima são contemporâneos e precisam ser
discutidos, refletidos e apreendidos no ambiente escolar. No que tange à Educação
Ambiental, podemos defini-la
como o processo percorrido pelo educando em busca de conhecimento
sobre questões ambientais, com a finalidade de desenvolver uma nova
percepção a respeito do conceito de meio ambiente, bem como se tornar
também um agente transformador da conservação e da preservação dos
recursos naturais (FERREIRA et al, 2019).

Nesse contexto, percebe-se que há uma carência nos espaços educadores

com relação à sustentabilidade, uma vez que a Educação Ambiental não é disciplina
obrigatória no currículo, no entanto, encontra-se nos Parâmetros Curriculares
Nacionais, do tema transversal Meio Ambiente, que pode ser abordado por
professores que mais se identificam com o tema. Os PCN estabelecem que:

2
 Learning by Doing

Temas da atualidade, em contínuo desenvolvimento, exigem uma

permanente atualização; e fazê-lo junto com os alunos é uma excelente
oportunidade para que eles vivenciem o desenvolvimento de procedimentos
elementares de pesquisa e construam, na prática, formas de sistematização
da informação, medidas, considerações quantitativas, apresentação e
discussão de resultados etc. O papel dos professores como orientadores
desse processo é de fundamental importância. Essa vivência permite aos
alunos perceber que a construção e a produção dos conhecimentos são
contínuas e que, para entender as questões ambientais, há necessidade de
atualização constante (BRASIL, 1997, p.188).

Dentro do meu papel de educadora ambiental e sustentabilidade em um

projeto social que atende a crianças e adolescente economicamente e socialmente
desfavorecidos – eles frequentam o projeto em horário contrário às aulas regulares,
analisamos e refletimos os problemas acima descritos, visando desenvolver um
projeto que transforme e desperte a conscientização e a prática de iniciativas
ecologicamente corretas, como, por exemplo, o descarte correto dos lixos perigosos
e eletrônicos, bem como a redução e reutilização dos resíduos, buscando despertar
nos jovens aprendizes um olhar mais atento ao meio ambiente, podendo transformar
esses resíduos em arte consciente (como brinquedos e objetos para casa), enfim,
uma gama de possibilidades de destinação ao que muitos enxergam como lixo.

APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA PARA SOLUCIONAR O

PROBLEMA IDENTIFICADO

Visando contribuir para a resolução do contexto-problema, desenvolvemos o

projeto “Maker Sustentável” com uma turma de 25 alunos que participam do projeto
social acima mencionado. O movimento Maker, criado em 2005 por Dale Dougherty,
nos EUA, é uma evolução do Faça Você Mesmo, incentivando para um aprendizado
a partir da criação e descoberta visando a “uma transformação social, cultural e
tecnológica que nos convida a participar como produtores e não apenas
consumidores” (DOUGHERTY, 2016 apud RAABE & GOMES, 2018, p. 08).
Nesta perspectiva, o projeto Maker Sustentável foi realizado por meio de três
momentos, na qual descreveremos a seguir.

1º Momento: Sensibilização, Debate e Reflexão

3
 Learning by Doing

Na primeira ação do projeto Maker, os alunos assistiram a um vídeo 1

abordando temas relacionados às catástrofes ambientais, como poluição do ar e da
água, aquecimento global, efeito estufa e desmatamento. Após, foram mediados
discussões e debates sobre os temas do vídeo; a turma se organizou em 05 grupos
para responderem à seguinte questão: o que poderíamos fazer para prevenir as
catástrofes ambientais?
Após as reflexões acerca da questão norteadora, foram anotados na lousa as
ações de prevenção que os educandos sugeriram, surgindo apontamentos como o
reaproveitamento do lixo orgânico, a redução de consumo em geral, o descarte
correto dos resíduos e, dentre todas as respostas, destacou-se a ação de descarte
dos lixos perigosos. Logo, outra questão norteou nosso trabalho de reflexão: o que
fazer em nossa cidade para as pessoas descartarem corretamente os lixos
perigosos?
Dentre as sugestões, a turma sugeriu a reprodução do “Papa Pilhas” (coletor
de pilhas e baterias disponível no ambiente do projeto social) para instalá-lo em
outros pontos da nossa cidade. E, então, uma nova questão: como criar bonecos
legais, chamativos e interativos para despertar a atenção da sociedade quanto ao
descarte desses lixos perigosos?
Um novo vídeo sobre Sustentabilidade 2 foi disponibilizado à turma, buscando
ampliar e reforçar para a conscientização e reflexão acerca dos 3R – Reduzir,
Reutilizar e Reciclar, bem como o R do Repensar, que tem por objetivo de refletir
sobre a necessidade de atitudes dentro do consumismo, como a utilização de
sacolas retornáveis nas compras em supermercados.

2º Momento: Desafio: coleta de resíduos e construção do boneco coletor

Finalizada essa etapa dos debates, reflexões e sugestões, foi proposto um
desafio aos grupos: criar um coletor de lixo perigoso a partir de um resíduo (plástico,
papel ou metal – o vidro não foi incluso por questão de segurança). O resíduo
escolhido por cada grupo, seria utilizado como base na construção do coletor.

1
Vídeo “Você Pode Ajudar – Vídeo de Conscientização Ambiental”,
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=lc6W-wKPNnc, acesso em 19 ago. 2021
2
Vídeo “Descarte do Lixo – ARIS”
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=C0QEIWI_ixo, acesso em 19 ago. 2021
4
 Learning by Doing

Os grupos iniciaram as coletas dos resíduos partindo da exploração do

ambiente do projeto social, coletando, dentre os objetos reutilizáveis/recicláveis,
galão de água, caixas de papelão, latas de tintas velhas e sobras de canos PVC.
Para complementar a construção do coletor com outros materiais, os alunos
trouxeram de casa resíduos e lixo eletrônico (como pisca-pisca, leds, lâmpadas, fios
etc.), e solicitaram, também, por meio da Rádio Mix – é uma rádio escolar de
comunicação com a comunidade escolar, que os demais alunos contribuíssem para
com o projeto Maker Sustentável, trazendo, de casa, materiais como tampinhas de
garrafa PET, potes de plástico, pedaços de papelão, revistas, isopor, etc. O anúncio
na Rádio Mix tem também, por objetivo, agregar e impactar toda a comunidade,
envolvendo-as, mesmo que indiretamente, na proposta de conscientização
socioambiental.
Após a coleta dos materiais, os educandos iniciaram a construção dos
coletores através de orientação e coordenação da educadora. As atividades eram
realizadas uma vez por semana, com duração de 1h30min cada aula, totalizando 03
(três) meses de tempo para confecção dos coletores. Abaixo, segue a imagem do
resultado final dos trabalhos grupais.

Figura 1 - Bonecos coletores de pilhas e baterias criados pelos educandos

3º Momento: entrega dos coletores

Finalizado os trabalhos, cada grupo deu um nome ao boneco construído.
Então, eles levaram uma carta direcionada à direção de suas respectivas escolas
convidando-os para participar do projeto: o coletor seria instalado em um ponto da
escola para que toda a comunidade escolar pudesse descartar pilhas e baterias no
boneco; a destinação correta desse lixo ficaria à cargo da direção da escola. As
5
 Learning by Doing

cinco instituições convidadas – que estão inseridas em bairros periféricos do

município – aceitaram o convite.
Por meio da “Campanha Natal Solidário”, as cinco escolas públicas foram
presenteadas com os bonecos criados, objetivando tornar a comunidade escolar um
ecoponto, propiciando a dissipação de ações sustentáveis que podem impactar,
inclusive, a comunidade local.

ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS/PREVISTOS

Após descrever o desenvolvimento do projeto Maker Sustentável, podemos

pontuar algumas das repercussões do projeto nas comunidades escolar e local,
convergindo-as com os seguintes Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da
ONU:

 Objetivo 4: educação de qualidade

Observa-se que o projeto viabilizou uma formação integral, desde os debates
à produção dos bonecos, oportunizando aprendizagens que os alunos poderão
inseri-las no contexto da cidadania (como o correto descarte dos lixos perigosos),
tornando-os protagonistas de ações transformadoras (incentivo à comunidade em
geral a participar da coleta de pilhas, baterias, celulares etc.)

 Objetivo 11: cidades e comunidades sustentáveis

As instalações dos bonecos coletores nas escolas públicas propiciaram para
as comunidades escolar e local ambientes inclusivos, seguros, resilientes e
sustentáveis.

 Objetivo 12: consumo e produção responsáveis

Podemos observar, também, que a produção dos bonecos está em
consonância com esse objetivo, pois esses coletores foram construídos a partir da
reutilização dos resíduos e lixos eletrônicos.

 Objetivo 14: vida na água

6
 Learning by Doing

As iniciativas sustentáveis idealizadas e aplicadas nessa ação

transformadora, contribuiu para incentivar a prática de novas iniciativas e descarte
correto de resíduos e lixos perigosos, diminuindo assim a poluição dos oceanos
causada pela grande quantidade de resíduos descartados incorretamente pela ação
do homem.

Os resultados mostram que os educandos-cidadãos aprenderam a ser

protagonistas e empreendedores de novos movimentos socioambientais,
despertando nas comunidades escolar e local a conscientização acerca da
sustentabilidade, bem com a adoção de novas práticas convergentes à agenda dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

APRESENTAÇÃO DO TEMPLATE (FRAMEWORK) COM A SÍNTESE DE SUA

PROPOSTA
O framework Kaizen significa “mudança para melhor”; nesse sentido, a
escolha por este framework tem por objetivo elucidar a melhora de um problema.
Nessa perspectiva, descrevemos sucintamente os problemas (educação ambiental e
o descarte de lixos perigosos) e as ações desenvolvidas (Maker sustentável e a
criação de coletores de lixos), bem como analisamos os resultados obtidos e suas
repercussões nas comunidades escolar e local.

7
 Learning by Doing

Figura 2 - Framework Kaizen

REFERÊNCIAS

FERREIRA, Leidryana da Conceição et. al. Educação Ambiental e Sustentabilidade

na Prática Escolar. Revista Brasileira de Educação Ambiental, São Paulo, v. 14,
nº 2, p. 201-214, 2019.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. China e Estados Unidos lideram lista de

países que mais geram lixo eletrônico. ONU News: Perspectiva Global Reportagens
Humanas. 6 julho 2020. Disponível em:
<https://news.un.org/pt/story/2020/07/1719142> Acesso em: 18 ago. 2021.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Sobre nossos trabalhos para alcançar

os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Disponível em: <
https://brasil.un.org/pt-br/sdgs> Acesso em: 18 ago. 2021.

RAABE, André; GOMES, Eduardo Borges. Maker: uma nova abordagem para
tecnologia na educação. Revista Tecnologias na Educação, ano 10, v. 26, 2018.
Disponível em: <https://tecedu.pro.br/wp-content/uploads/2018/09/Art1-vol.26-
EdicaoTematicaVIII-Setembro2018.pdf> Acesso em: 19 ago. 2021

SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS,

SEBRAE. Minha Empresa Sustentável: Cooperativa de Reciclagem, Cuiabá, MT:
Sebrae, 2017.

8
Learning by Doing