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Os problemas de saúde mental são tão evidentes na população imigrante que,

recentemente, os pesquisadores propuseram agrupar esse conjunto de sintomas, que se


apresentam nas pessoas que imigraram e que têm um nível de stress maior do que suas
capacidades de adaptação, na chamada ‘Síndrome do Stress Crônico e Múltiplo do
Imigrante’ ou ‘Síndrome de Ulisses’. O manejo dessa síndrome está sendo considerado,
em muitos países, como prioridade de saúde pública. Nessa recém-descrita entidade
patológica, os imigrantes são afetados por sintomas depressivos de características
atípicas, onde a depressão é misturada com sintomas de ansiedade, somatização e
sintomas dissociativos. A tristeza é o achado mais comum, muitas vezes acompanhado
por choro, culpa, idéias de morte, tensão, irritabilidade, insônia, dores de cabeça, fadiga,
problemas de memória e de atenção e desorientação. Em casos mais graves, isso pode
levar à quadros psicóticos, com perda de identidade e desorientação de tempo e espaço.

O desenvolvimento dos sintomas ocorre de forma gradual , à medida que o imigrante


enfrenta problemas como viagem turbulenta e difícil, distância de seu ambiente e
familiares, dificuldades de arrumar emprego e de suprir as necessidades básicas, achar
moradia e regularizar os documentos. O racismo sofrido no país hóspede também é um
fator desencadeante do processo.

Normalmente os problemas acontecem nos primeiros 12 meses, mas imigrantes que se


adapatam mais fácil e rapidamente, também correm risco de sofrer de ‘Síndrome da
Depresão Postergada’ , que acontece cerca de 2 a 3 anos após a chegada do imigrante
que parecia adapatado, com emprego, falante do idioma , com rede de amizade e
moradia estabelecidas.

Na Holanda, um dos poucos países com dados sobre níveis de saúde física e mental em
grupos de imigrantes comparado com nativos, é sabido que o primeiro grupo sofre mais
de depressão, abuso de drogas, tentativas de suicídio, esquizofrenia e desordens
psiquiátricas de menor importância que a população local. Além disso, a barreira
cultural, sócio-econômica e de linguagem são fatores limitantes na procura de
orientação profissional por parte de vários grupos de imigrantes. Em um estudo em
escolas, também foi constatado que professores turcos imigrantes foram capazes de
detectar altos níveis de de ansiedade e depressão entre crianças imigrantes de mesma
nacionalidade. Esses problemas tinham passado desapercebidos pelo professores
holandeses. Existe, portanto, uma necessidade de profissionais bilíngues e biculturais
para o atendimento específico desses problemas. Mas como no país dos tamancos,
especialmente na última década, a integração cultural é tratada como ‘assimilação’, ou
seja, a cultura holandesa é imposta sem considerar as necessidades dos imigrantes,
estamos em maus lençóis!

O primeiro passo para vencer o problema é aceitar que o choque cultural é normal em
um ambiente cultural diverso e que existem maneiras de amenizá-lo e de fazer com que
a adaptação ocorra mais tranquila e gradualmente. E como fazer para facilitar todo esse
processo? Veja abaixo algumas dicas:

1. Reconhecer que a adaptação à uma nova cultura, também chamada de


‘aculturação’, é o processo de contrução de um novo ‘EU’, resultado do
casamento do ‘EU’ antigo com algumas mudanças de hábitos sociais e cuturais.
Não é preciso e nem saudável assimilar completamente a cultura do novo país.
Uma sinergia de valores, hábitos e comportamento social seria o ideal;
2. Procure manter contato com os familiares e amigos de seu país. Arme-se de
tecnologia: skype, emails, MSN e outras ferramentas modernas são válidas;
3. Tente cozinhar pratos típicos uma ou duas vezes por semana em casa. E você
não é obrigado a gostar de comer pão de grãos com queijo e sopa no almoço
todos os dias;
4. Faça visitas a seu país sempre que for possível, mas esteja consciente de que a
volta pode ser difícil, mas que vai passar (de novo);
5. Mantenha contato com seu idioma através de TV por assinatura ou internet,
amigos de mesma nacionalidade e leitura de livros, revistas e notícias em
português. Mas cuidado! Não se isole nisso e tenha também contato com
imigrantes de outras nacionalidades e holandeses;
6. Tente ver a experiência de imigrar de forma positiva, como uma oportunidade de
aprender e de ganhar coisas igualmente positivas;
7. Tenha em mente que o problema não é especificamente desse país, mas sim do
choque cultural, o que aconteceria em qualquer outro lugar;
8. Não encare como vergonha o fato de resolver voltar para casa. Encare como
coragem, pois o choque de re-entrada pode ser de maior intensidade, embora de
menor duração;
9. Não hesite em procurar ajuda psicológica, caso veja que as coisas não estão indo
bem. E, se possível, tente achar um profissional que esteja familiarizado com
problemas de grupos imigrantes.

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