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Introdução à
Psicopedagogia
Profª Ms. Sandra Regina
Stanziani Higino Mesquita
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Introdução à Psicopedagogia
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Introdução à Psicopedagogia
SUMÁRIO
Introdução a Psicopedagogia: Histórico 5
A Natureza da Aprendizagem 6
Fundamentos da Psicopedagogia 9
Refletindo um pouco... 23
Desafios da Psicopagogia 23
Referências 28
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Introdução à Psicopedagogia
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Introdução à Psicopedagogia
Profª Mestre Sandra Regina Stanziani Higino Mesquita lhar vou dividir com vocês um trecho escrito por Rubem
Alves(1999):
tros em compreender o ato de aprender, acompanhando nas partes incompletas de seu corpo. Educado-
o educando nesse processo, localizar o que pode estar in- res são feiticeiros: usam palavras para completar
aquilo que gravidez e parto deixaram sem con-
terferindo e propor caminhos para a retomada da aprendi-
clusão...”
zagem. Para isso conheceremos um pouco sobre a história
da psicopedagogia e escolhermos qual a fundamentação Trecho retirado do livro: E aí? Cartas aos adolescentes e seus pais
que ira embasar nossos trabalhos na mediação com esses Rubem Alves. Campinas /SP: Papirus, 1999.
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Introdução à Psicopedagogia
Vamos agora refletir um pouco com a fundamentação A Educação e a Psicologia que lidam com e buscam
apresentada pela profª Dr. Elcie Salzano Masisi e o que compreender o ser humano, de modo geral, consideram
ela nos trás sobre a profissionalização da psicopedagogia; básico o estudo do Desenvolvimento nos seus diferentes
enfoques, bem como dos fatores que o influenciam. As-
sim, o estudo do Desenvolvimento compõe os currículos
Algumas questões anteriores a e abarca os aspectos físico/emocional, cognitivo, social e
profissionalização moral.
Elcie F. Salzano Masisi
E quando a Aprendizagem ocorre mesmo? O estudo
No homem como nos animais, de um modo geral, as desse processo compõe também os currículos de Educa-
ações vão se transformando gradativamente ao longo de ção e Psicologia? É este o tema que estou trazendo para
seu desenvolvimento, isto é, dos processos evolutivos pe- refletirmos ao enfocar a questão da profissionalização em
los quais passam do nascimento até a morte. Psicopedagogia- Psicopedagogia definida como a área que
estuda e lida com a Aprendizagem e suas dificuldades.
Essas ações são determinadas predominantemente
pelo instinto, e as modificações que nelas ocorrem se de- Para isso vou focar dois itens que, a meu ver, consti-
vem basicamente ao seu amadurecimento físico. tuem requisitos indispensáveis para qualquer decisão so-
bre a profissionalização em Psicopedagogia. O primeiro diz
Nos homens, cujo processo evolutivo vai da depen- respeito à Natureza de Aprendizagem, o segundo ao que
dência absoluta do organismo à independência física e se oferece para formação dos que lidam com a Aprendi-
psíquica, pode-se dizer que as transformações de suas zagem.
ações são resultantes, não só do seu crescimento físico,
mas predominantemente de seu aprendizado. A Natureza da Aprendizagem
O que é aprendizagem? A resposta a esta pergunta tem
constituído um fator de frustração para muitos educadores
e psicólogos. Ninguém nega sua existência, nem tão pou-
co sua abrangência e importância no desenvolvimento do
ser humano ao longo de sua vida.
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Introdução à Psicopedagogia
Masini 1999 ). Outros, devido a questões de tradução e de nos Processos Sócio – histórico na década de 90 (Vigotsky
seu próprio posicionamento em Psicologia, não utilizam o e colaboradores). Em cada uma dessas décadas foi apare-
termo Aprendizagem, como é por exemplo o caso de Vi- cendo a tendência de, adotar-se a nova teoria, fazê-lo em
gotsky. Como esclarece Oliveira (1993), “ O termo que Le detrimento das anteriores com as quais passava a com-
utiliza em russo (obuchenie) significa algo como o processo petir.
ensino-aprendizagem... optamos pois pelo uso da palavra
aprendizado”. Nessa forma de alternâncias do que passa a ser mo-
delo, deixa-se de lado um dos desafios do estudo da Edu-
É semelhante o posicionamento dos piagetianos, que se cação e da Psicologia, qual seja, o retomar tendências e
referem à construção do conhecimento, como ilustra a afir- modismos para compreender o porquê ocorrem, aprofun-
mação de Emília Ferreiro: “O problema central é compreen- dando estudos para saber: qual seu embasamento filosó-
der os processos de passagem de um modo de organização fico; qual a característica original desse posicionamento;
conceitual a outro, explicar a construção do conhecimento. em que aspectos suas características podem ser comple-
O modelo teórico geral encontra-se em Piaget” (Ferreiro, mentares e enriquecedoras de outros posicionamentos;
1986). em que aspectos as características se contrapõem à de
outros posicionamentos e introduzem incoerências, se
Embora não façam uso do termo Aprendizagem, esses
adotadas concomitantemente.
autores referem-se ao processo de passar de uma etapa de
desenvolvimento para uma outra mais avançada, o que não
Conviver e lidar com esses conflitos pode constituir
é devido a fatores maturacionais determinados pela espé-
uma fonte de aplicação do conhecimento sobre o homem
cie. Dessa forma, embora não usem o termo, estão reco-
no ato de aprender, deixando-se assim de encarar estatis-
nhecendo a existência do ato de aprender.
ticamente cada nova tendência e buscando significado ao
retomá-la contextualizadamente: localizando onde surgiu,
É o compreender e lidar com o ato de aprender e suas
quando surgiu, no que se embasa filosoficamente essa
dificuldades que delimita a área da Psicopedagogia.
nova forma de conceituar o homem nesse processo que
o faz passar de uma etapa de desenvolvimento para uma
Na história da humanidade há evidencias de que as
outra mais avançada.
pessoas foram aprendendo, sem haver preocupações com
a natureza desse processo, enquanto ele ocorria informal-
mente nas relações do dia-a-dia. Quando a sociedade se Formação de Profissionais que lidam
tornou mais complexa e foi instituído um local para que a com a Aprendizagem
aprendizagem ocorresse é que começaram a surgir preocu-
pações com a aprendizagem, que deixou de ser considera- Na minha própria formação universitária, na década de
da um processo simples. 60, e como professora de cursos de Psicologia e Pedago-
gia, nas décadas de 70 e 80, formando psicólogos escola-
À medida que a Pedagogia e a Psicologia foram se de- res e pedagogos, deparei-me com o pouco que havia no
senvolvendo, passaram a investigar caminhos para lidar currículo referente ao estudo da Aprendizagem.
com o desenvolvimento da pessoa no processo de ensino/
aprendizagem. Assim surgiram as Teorias de Aprendiza- No curso de Pedagogia como de Psicologia, a discipli-
gem ( Aprendizagem de Sinais / Aprendizagem Estímulo- na Psicologia Educacional era que abordava aprendizagem
-resposta / Aprendizagem Cognitivista/ Teoria de Campo e em um semestre letivo, oferecendo um apanhado geral
outras) muito discutidas e em voga nas décadas de 70; a de Teorias de Aprendizagem. Além disso, em Psicologia,
adoção do construtivismo predominantemente na década contemplava-se um pouco o estudo dos problemas de
de 80 (Piaget / Inhelder / Ferreiro / Teberosky); e a ênfase aprendizagem na disciplina de Psicologia Escolar e Proble-
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Introdução à Psicopedagogia
mas de Aprendizagem (PEPA). Algumas características en- Aprendizagem e do Ato de Aprender. Assim foram encon-
contradas naquela época faziam confusa a identidade da trados programas que:
Aprendizagem, fazendo-se referência muitas vezes, quase
como sinônimo, à Aprendizagem e ao Ensino, ou ainda à 1- tratam não apenas das teorias de Aprendiza-
Educação. gem, como também de aspectos da aprendiza-
gem informal, como Aprendizagem e televisão,
Para não ficar limitada a essa experiência, busquei in- Aprendizagem na era eletrônica, Aprendizagem
formações em várias Universidades, em Cursos de Peda- e brinquedo.
gogia e Psicologia com professores que neles ministram 2- Programação anual de PEPA abordando Teorias
atualmente aulas, obtendo inclusive a programação des- de Aprendizagem, Problemas de Aprendizagem
sas disciplinas. e Intervenção;
USP USP
MACKENZIE MACKENZIE
SÃO MARCOS
UMESP
UNICSUL
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O oposto ocorre se concebida como curso de especiali- Como diz Lino de Macedo (1992), “ o termo já foi in-
zação e funcionar como um acréscimo tanto para pedago- ventado e assinala de forma simples e direta uma das mais
gos como para psicólogos e outros profissionais que quei- profundas e importantes razões da produção de um co-
ram trabalhar com aprendizagem, cada um trazendo sua nhecimento científico: o de ser maio, o de ser instrumen-
bagagem anterior e aprofundando estudos. to, para um outro, tanto em uma perspectiva teórica ou
Por que formar um novo profissional em vez de lutar aplicada”.
para melhorar a formação dos profissionais já existentes
(pedagogos, psicólogos, demais professores e carreiras Neste sentido, enquanto produção do conhecimento
afins) que deveriam ser capazes de lidar com o Ato de científico, a Psicopedagogia, que nasceu da necessidade
Aprender? de uma melhor compreensão do processo de aprendiza-
gem, não se basta como aplicação da Psicologia à Peda-
Qual a necessidade da legalização da Psicopedagogia gogia. Macedo lembra-nos, ainda que no Novo Dicionário
como profissão? Aurélio da Língua Portuguesa o termo psicopedagogia é
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Introdução à Psicopedagogia
particularmente durante a década de 70, foi amplamente correr um caminho em que é preciso pensar sobre o seu
difundido o rótulo de Disfunção Cerebral Mínima para as objeto de estudo, as teorias que, na interdisciplinaridade,
crianças que apresentavam como sintoma proeminente, embasam essa prática, e o seu campo de atuação.
distúrbios na escolaridade”.
Passemos a pensar, pois, sobre o objeto de estudo da
Psicopedagogia.
Fonte:http://www.fundacaoaprender.org.br/assets/
images/imagem_curso_psicopedagogia.jpg
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locar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos Do ponto de vista de Weiss, “ a psicopedagogia busca a
e sociais que lhe estão implícitos” (1991, p.12). melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a
melhor qualidade na construção da própria aprendizagem
Segundo Scoz, “ a psicopedagogia estuda o processo de alunos e de educadores” (1991, p.6).
de aprendizagem e suas dificuldades, e numa ação pro-
fissional deve englobar vários campos do conhecimento, Essas considerações em relação ao objeto de estudo da
integrando-os e sintetizando-os” (1992, p.2). Para Gol- Psicopedagogia sugerem que há um certo consenso quan-
bert: (...) o objeto de estudo da Psicopedagogia deve ser to ao fato que ela deve ocupar-se em estudar a aprendi-
entendido a partir de dois enfoques: preventivo e terapêu- zagem humana, porém é uma ilusão pensar que tal con-
tico. O enfoque preventivo considera o objeto de estudo senso nos conduza, a todos, a um único caminho. O tema
da Psicopedagogia o ser humano em desenvolvimento, da aprendizagem apresenta tamanha complexidade que
enquanto educável. Seu objeto de estudo é a pessoa a ser tem a dimensão da própria natureza humana e caberia
educada, seus processos de desenvolvimento a as altera- um outro ensaio para tratá-lo. É importante, no entanto,
ções de tais processos. ressaltar que a concepção de aprendizagem é resultado de
uma visão de homens, e é em razão desta que acontece a
Focaliza as possibilidades do aprender, num sentido práxis psicopedagógica.
amplo. Não deve se restringir a uma só agência como a
escola, mas ir também à família e à comunidade. Poderá Dos profissionais brasileiros supracitados, pudemos ve-
esclarecer, de forma mais ou menos sistemática, a profes- rificar que o tema da aprendizagem ocupa-os e preocupa-
sores, pais e administradores sobre as características das -os, sendo os problemas desse processo (de aprendiza-
diferentes etapas do desenvolvimento, sobre o progresso gem) a causa e a razão da Psicopedagogia. Este é também
nos processos de aprendizagem, sobre as condições psi- o pensamento dos argentinos (os quais, conforme vere-
codinâmicas da aprendizagem, sobre as condições deter- mos mais tarde, inspiraram-nos). Podemos observar esse
minantes de dificuldades de aprendizagem. O enfoque te- pensamento traduzido nas palavras de profissionais argen-
rapêutico considera o objeto de estudo da psicopedagogia tinos atuam na área e que estão envolvidos no trabalho
a identificação, análise, elaboração de uma metodologia teórico. Para eles, “a aprendizagem com seus problemas”
de diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendi- constitui-se no pilar-base da Psicopedagogia. Vejamos.
zagem (1985, p.13).
Alicia Fernàndez, ao citar Sara Paín, coloca: “Ella con-
Para Rubinstein, “ num primeiro, momento a psicope- sidera a si como el síntoma histérico fue La plataforma de
dagogia esteve voltada para a busca e o desenvolvimento lanzamiento para que Freud puderia formular La teoría y la
de metodologias que melhor atendenssem aos portadores técnica del psicoanálisis, dando cuenta de los fenómenos
de dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação inconcientes, el problema de aprendizaje es nuestra plata-
ou a remediação e desta forma promover o desapareci- forma de lanzamiento para construir una teoría psicopeda-
mento do sintoma”. E ainda, “a partir do momento em que gógica” (1990ª, p.11).
o foco de atenção passa a ser a compreensão do processo
de aprendizagem e a relação que o aprendiz estabelece
com a mesma, o objeto da psicopedagogia passa a ser
mais abrangente: a metodologia é apenas um aspecto no
processo terapêutico, e o principal objetivo é a investi-
gação de etiologia da dificuldade de aprendizagem, bem
como a compreensão do processamento da aprendizagem
considerando todas as variáveis que intervêm neste pro-
cesso” (1992, p.103).
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Introdução à Psicopedagogia
dicción y se sustituyen; qué influencias afectivas y repre- • No trabalho preventivo, a instituição, enquanto
sentaciones inconcientes los acompañan; qué dificultades espaço físico e psíquico da aprendizagem, é o
los interfierem o impidem; de qué manera se pueden favo- objeto de estudo da Psicopedagogia, uma vez que
recer los aprendizajes o tratar sus alteraciones”. È função são avaliados os processos didáticos-meto-dológi-
da Pedagogia pensar: “ Qué es educar, qué es esseñar y cos e a dinâmica institucional que interferem no
aprender; cómo se desenvuelven estas actividades; cómo processo de aprendizagem.
inciden subjetivamente los sistemas y metodos educati-
vos; cuáles son las problemáticas estructurales que inter-
vienen en el surgimiento de transtornos del aprendizaje y A definição do objeto de estudo da Psicopedagogia
en el fracasso escolar; qué propuestas de cambio surgem”. passou por fases distintas, assim como os demais aspec-
“El sujeto que aprende”- diz Marina Müller – “ es motivo de tos dessa área de estudo. Em diferentes momentos his-
interrogantes para los psicopedagogos, y destinatario de tóricos, que repercutem nas produções científicas, esse
su actividade profesional” (Müller, 1984, pp.7 e 8). objeto foi entendido de várias formas. Houve tempo em
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que o trabalho psicopedagógico priorizava a reeducação, o ciadas pelas condições socioculturais do sujeito e do seu
processo de aprendizagem era avaliado em função de sues meio.
déficitis e o trabalho procurava vencer tais defasagens.
Conforme vimos, o trabalho psicopedagogico pode ser
preventivo e clínico. Entretanto, ele é também teórico na
medida da necessidade de se refletir sobre a práxis. Assim
sendo, vale repensar um pouco a prática, antes de abordar
o teórico.
cepção de aprendizagem segundo a qual participa desse transtornos na aprendizagem do processo de leitura e
processo um equipamento biológico com disposições afe- escrita. Cabe então ao psicopedagogo, no segundo nível
preventivo, realizar um diagnostico do grupo e intervir
tivas e intelectuais que interferem na forma de relação do
nos procedimentos didático-metodológicos em vigor. Esse
sujeito com o meio, sendo que essas disposições influen-
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Introdução à Psicopedagogia
profissinal tem agora, não só o objetivo de detectar as c) tratamento psicopedagógico – didático: segundo
causas dos transtornos, como também de encontrar os essa autora argentina, o tratamento psicopedagó-
meios para que os mesmos sejam eliminados. Já o terceiro gico – didático é fundamental na formação do psi-
nível se dá no momento em que problemas específicos copedagogo, pois se constitui num espaço para a
de leitura e escrita já estejam instalados em um aluno construção do olhar e da escuta clinica – a partir da
ou grupo de alunos. Deve o psicopedagogo, neste caso, análise do seu próprio aprender - , que configuram
atuar diretamente junto a estes, a fim de tratar esses a atitude psicopedagógica.
transtornos e evitar outros.
b) construção teórica: permeada pela prática de forma dad (conocer quién ES, y quién ES para los ottros) y La
que, a partir desta, a teoria psicopedagógica possa búsqueda del mundo cognoscible cultural, compartido
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Introdução à Psicopedagogia
que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção: aprendizagem e suas variáveis – e nortear a sua prática.
“Más Allá Del sintoma que debe ser reducado, em primer Dessa, forma, recorre-se a outras áreas, como a Filosofia,
término existe um mensaje que debe ser oído” (Mannoni, a Neurologia, a Sociologia, a Lingüística e a Psicanálise, no
1976, p.205) sentido de alcançar compreensão desse processo.
Perceber este interjogo, ouvir essa mensagem, enfim, Para Sara Paín, “nesse lugar do processo de aprendi-
assumir essa atitude clínica, requer um conjunto de co- zagem coincidem um momento histórico, um organismo,
nhecimentos estruturados de forma a se constituir teórica uma etapa genética da inteligência e um sujeito associado
interpretativa. a tantas outras estruturas teóricas, de cuja engrenagem
se ocupa e preocupa a Epistemologia; referimo-nos prin-
De acordo com Alicia Fernández, necessitamos incor- cipalmente ao materialismo histórico, à teoria piagetiana
porar conhecimento sobre o organismo, o corpo, a inteli- da inteligência e à teoria psicanalítica de Freud, enquanto
gência e o desejo, estando estes quatro níveis basicamen- instauram a ideologia, a operatividade e o inconsciente”
te implicados no aprender. Considerando-se o problema de (1987, p.15).
aprendizagem na interseção desses níveis, as teorias que
se ocupam da inteligência, do inconsciente e do corpo, Os autores brasileiros Neves, Kiguel, Scoz, Golbert, Ru-
separadamente, não consegue resolvê-lo. binstein, Weiss, Barone e outros, assim como argentinos
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e econômicas específicas e que contextuam toda sendo adequada? Esta questão envolve aspectos do pro-
a aprendizagem; cesso ensino – aprendizagem que devem ser vistos à luz
de teorias pedagógicas. Além disso, a construção desse
novo objeto de conhecimento – o processo de leitura-es-
• A Epistemologia e a Psicologia Genética se encar-
crita- implica processos cognitivos que podem ser com-
regam de analisar e descrever o processo cons-
preendidos através da Psicologia Genética, por exemplo.
trutivo do conhecimento pelo sujeito em interação
Ou será que o processo se acha inviabilizado na relação
com os outros e com os objetos;
professor-aluno? Estaria o aluno estabelecendo uma rela-
• A lingüística traz a compreensão da linguagem ção transferencial com o professor, a qual não lhe permite
como um dos meios que caracterizam o tipica- o aprender, ou vice-versa? Ou, ainda, o acesso à leitura
mente humano e cultural: a língua enquanto códi- –escrita poderia se haver tornado em algo persecutório
go disponível a todos os membros de uma socie- por estar relacionado com o crescimento? Essa análise,
dade e a fala como fenômeno subjetivo, evolutivo enfim, conforme vimos sublinhando, envolve o respaldo
e historiado de acesso à estrutura simbólica; de outras disciplinas, seja no caso uma cultura psicanalí-
tica que permita identificar mecanismos psíquicos, de re-
• A Pedagogia contribui com as diversas aborda- presentação, que atuam no sentido da não-aprendizagem
gens do processo ensino-aprendizagem, analisan- para esse sujeito.
do-o do ponto de vista de quem ensina;
Mas podemos, por outro lado, estar diante de um caso
• Os fundamentos da Neuropsicologia possibilitan-
em que o sujeito tenha sofrido uma anóxia de parto que
do a compreensão dos mecanismos cerebrais que
lhe ocasionou uma lesão cerebral, atingindo a área cortical
subjazem ao aprimoramento das atividades men-
da linguagem. Como nos asseguramos dessas informa-
tais, indicando-nos a que correspondem do ponto
ções, que, uma vez firmadas, dão um direcionamento mui-
de vista orgânico, todas as evoluções no plano
to diferenciado das situações anteriores? Evidencia-se, é
psíquico.
claro, neste caso, que alguns princípios da Neurologia são
de fundamental importância ao profissional da Psicopeda-
Ora, nenhuma dessas áreas surgiu especificamente gogia, desde o encaminhamento a outros profissionais até
para responder à problemática da aprendizagem humana. a definição da forma de tratamento.
Elas, no entanto, nos fornecem meios para refletir cienti-
ficamente e operar no campo psicopedagogico, o nosso Podemos ainda deparar-nos com uma ocorrência em
campo. que a dificuldade advenha de diferenças culturais e de lin-
guagem. A estranheza dos significados do professor para
Veja um exemplo: uma criança nos é encaminhada por o aluno, e vice-versa, gera problemas na própria comuni-
não estar podendo aprender a ler e a escrever – situação cação, comprometendo deste modo a leitura e a escrita, já
por sinal, bastante comum no dia-a-dia, seja no consultó- que estas se configuram num ato de comunicação. A Lin-
rio, seja na instituição escolar. Recorremos, então, a um güística, nesta situação exemplar, pode oferecer um apa-
rato conceitual que venha operar no sentido de explicar
corpo teórico para que alguns elementos nos ajudem a
ao psicopedagogo a causa da problemática e, quem sabe,
iluminar o epicentro do problema.
permitir-lhe uma eficiente intervenção.
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Introdução à Psicopedagogia
tam situações em que, requerendo elementos conceituais Menos como uma digressão do que como um breve
de outros corpos teóricos, a Psicopedagogia pensa o seu lembrete poderia sublinhar que Freud já previu a possi-
objeto de estudo, exemplo em que se registra essa coope- bilidade de se recorrer a Psicanálise na compreensão dos
ração, esse operar com outros sobre um problema, uma diversos sintomas (remeta-nos ao uso psicanalítico do ter-
anomalia. mo sintoma).
Os profissionais da Psicopedagogia, como quaisquer O problema de aprendizagem como sintoma pode ser
outros profissionais, sustentam a sua prática em pressu- comparado, na sua dinâmica, como sintoma conversivo.
postos teóricos muitas vezes distintos, conforme já refe- Frente a enfermidades que apareciam no corpo e que não
rido antes. Isto implica diversificados enquadres conse- podiam ser explicadas pela medicina, Freud chega à noção
qüências da identificação do profissional com determinada de inconsciente e entende que o que ocorria era conversão
corrente teórica. simbólica do inconsciente para o corpo.
O Psicopedagogo pode, por exemplo, dentro das teo- A partir daí começa a pensar nas formações do incons-
rias da personalidade, escolher a Psicanálise com o objeti- ciente, entre elas o sintoma. Segundo o criador da Psica-
vo de compreender o sentido inconsciente das dificuldades nálise, o inconsciente não se manifesta e forma direta,
de aprendizagem. Tal escolha estaria alicerçada na condi- nem se pode circunscrevê-lo ou delimitá-lo, mas aparece
ção pessoal de psicopedagogo, a qual é oriunda da sua através das faturas: o chiste, o lapso, o ato falho, o sonho
http://www.mcslink.net/wp-content/
uploads/2013/01/teaching-a-class.jpg
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Introdução à Psicopedagogia
ca, etc. Sabemos igualmente que nenhuma dessas áreas tigação que procede o plano de trabalho. Esse diagnóstico
surge para responder aos problemas de aprendizagem: consiste na busca de um saber – fazer. Através das infor-
as diversas combinações entre elas resultam, entretanto, mações obtidas nesse processo de investigação, o psico-
em posturas teórico-práticas diversificadas, porém com pedagogo inicia a construção do seu plano de trabalho. “O
diversos pontos de convergência. Assim, a partir de pres- diagnóstico não completa o olhar interativo nem diagnós-
supostos teóricos iniciais da Medicina, da Psicologia e da tico: todo o processo terapêutico é também diagnóstico”
Pedagogia, foram-se constituindo concepções a cerca dos (Fernández, 1990, p.44), ocorrendo também no trabalho
problemas de aprendizagem, as quais se transformaram institucional, onde após o momento inicial de investigação
e, conseqüentemente, transformaram a prática psicope- inicia-se um processo de intervenção, com a implantação
dagógica, até à configuração atual. De qualquer modo, de recursos capazes de solucionar o problema tão logo
a Psicopedagogia se encontra em fase embrionária e seu este se anuncie. Durante esse processo de intervenção, o
corpo teórico acha-se em construção, amalgamando-se ou profissional não abandona o olhar interpretativo que ca-
estruturando o seu arcabouço lógico – principal ou ideal. racteriza a prática psicopedagógica.
A cada dia surgem novas idéias, novas situações e mais
transformação: o psicopedagogo então transforma teoria A investigação diagnóstica envolve a leitura de um pro-
e, por seu turno, a teoria o transforma. cesso complexo, onde todas as ambigüidades de atribui-
ção de sentido a uma série de manifestações conscientes
Podemos caracterizar a Psicopedagogia como uma e inconscientes se fazem presentes. Interjogam aí o pes-
área de confluência do psicológico (a subjetividade do ser soal, o familiar atual e passado, o sociocultural, o educa-
humano enquanto tal) e do educacional (atividade especi- cional, a aprendizagem sistemática. O decifrado sentido da
ficamente humana, social e cultural). Tratando do mundo dificuldade de aprendizagem repercute sobre o problema
psíquico individual e grupal em relação à aprendizagem que estamos interpretando: a nossa linguagem sobre a
e aos sistemas e processos educativos, o psicopedagogo linguagem da enfermidade nos leva a um compromisso,
ensina como aprende e, para isso, necessita aprender e ou seja, ao diagnóstico, promotor de decisões acerca do
a aprendizagem. Para o psicopedagogo, aprender é um tratamento.
processo que implica por em ação diferentes sistemas que
intervêm em todo sujeito: a rede de relações e códigos
“Todavia, más que em El adulto, nos encontramos em
culturais e de linguagem que, desde antes do nascimento,
El niño frente a dudas nosográficas. Sujeito em evolucíon,
têm lugar em cada ser humano à medida que ele se incor-
el niño ES móvil em SUS estructuras y lábil en sus manifes-
pora à sociedade.
taciones; lo mismo pasa en Patología” (Ajuriaguerra, 1970,
p.1). Estas observações de Ajuriaguerra nos falam das di-
A aprendizagem afinal é responsável pela inserção da
ficultades inerentes ao processo diagnóstico no trabalho
pessoa no mundo da cultura. Mediante a aprendizagem,
psicopedagógico com a criança e com o adolescente.
o indivíduo se incorpora ao mundo cultural, com uma par-
ticipação ativa, ao se apropriar de conhecimentos e téc-
A leitura do diagnóstico pode variar segundo cada pro-
nicas, construindo em sua interioridade um universo de
fissional, em função da sua formação, dos marcos referen-
representações simbólicas.
ciais que sustentam a sua prática e a abordagem teórica
com a qual ele se identifica. Esta questão é a inda mais
Pois bem. Neste trabalho de ensinar a aprender, o psi-
controvertida quando se fala na atuação psicopedagogica
copedagogo recorre a critérios diagnósticos no sentido
no Brasil, devido às suas condições de formação.
de compreender a falha na aprendizagem. Daí o caráter
clínico da Psicopedagogia, ainda que seu objetivo seja a
Atualmente, a Psicopedagogia refere-se a um saber
prevenção dos problemas de aprendizagem. Clínico por-
e a um saber-fazer, ás condições subjetivas e relacionais
que envolve sempre um processo diagnóstico ou de inves-
– em especial familiares e escolares – às inibições, atra-
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Introdução à Psicopedagogia
sos e desvios do sujeito ou grupo a ser diagnosticado. O • participar da dinâmica das relações da comuni-
conhecimento psicopedagógico não se caracteriza numa dade educativa, a fim de favorecer processos de
delimitação fixa, nem nos déficits e alterações subjetivas integração e troca;
do aprender, mas avalia a possibilidade do sujeito, a dis-
• promover orientações metodológicas de acordo
ponibilidade afetiva de saber e de fazer, reconhecendo que
com as características dos indivíduos e grupos;
o saber é próprio do sujeito.
• realizar processos de orientação educacional, vo-
O Campo de Atuação da Psicopedagogia cacional e ocupacional, tanto na forma individual
quanto em grupo.
O campo de atuação do psicopedagogo refer-se não só
ao espaço físico onde se dá esse trabalho, mas especial-
O trabalho psicopedagógico pode, certamente, ter um
mente ao espaço epistemológico que lhe cabe, ou seja, o
caráter assistencial. Isso acontece quando, por exemplo,
lugar deste campo de atividade e o modo de abordar o seu
o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela
objeto de estudo.
elaboração, direção e evolução de planos, programas e
A forma de abordar o objeto de estudo pode assumir projetos no setor da educação e saúde, integrando dife-
características específicas, a depender da modalidade: clí- rentes campos de conhecimento. A Psicopedagogia ocupa-
nica, preventiva e teórica, uma articulando-se as outras. O -se, assim, de todo o contexto da aprendizagem, seja na
trabalho clínico não deixa de ser preventivo, uma vez que, área clínica, preventiva, assistencial, envolvendo elabora-
ao tratar alguns transtornos de aprendizagem, pode evitar ção teórica no sentido de relacionar os fatos envolvidos
o aparecimento de outros. nesse ponto de convergência em que opera.
O trabalho preventivo, numa abordagem psicopedagó- A elaboração teórica visa criar um corpo teórico da Psi-
gica, é sempre clínico, levando em conta a singularidade copedagogia, com processos de investigação e diagnóstico
de cada processo. Essas duas formas de atuação, por sua
que lhe seja específico, através de estudos das questões
vez, não deixam de resultar num trabalho teórico. Tanto
educacionais e da saúde no que concerne ao processo de
na prática preventiva como na clínica, o profissional, como
aprendizagem.
já vimos anteriormente, procede sempre embasado no re-
ferencial teórico adotado.
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Introdução à Psicopedagogia
tantes desses pressupostos. Esse trabalho consiste numa 3 - Desenvolvimento do raciocínio – Trabalho feito com
leitura e releitura do processo de aprendizagem e do pro- os processos de pensamento necessários ao ato de
cesso da não aprendizagem, bem como da aplicabilidade aprender. Os jogos são muitos utilizados, pois são
e conceitos teóricos que lhe dêem novos contornos e sig- férteis no sentido de criarem um contexto de ob-
nificados, gerando práticas mais consistentes. servação e diálogo sobre processos de pensar o co-
nhecimento. Este procedimento pode promover um
Já na área da saúde, o trabalho é feito em consultó- desenvolvimento cognitivo maior do que as escolas
rios privados e/ou em instituições de saúde (como hospi- costumam conseguir.
tais), no sentido de reconhecer e atender às alterações da
aprendizagem sistemáticas e/ou assistemáticas, de natu- 4 - Atendimento de crianças – A psicopedagogia se pres-
reza patológica. Existe também uma proposta de atuação ta a atender deficientes mentais, autistas ou com-
nas empresas, onde o objetivo seria favorecer a aprendi- prometimentos orgânicos mais graves, podendo até
zagem do sujeito para uma nova função, auxiliando-o para substituir o trabalho da escola.
um desenvolvimento mais efetivo de suas atividades.
Para Lino de Macedo, estas quatro atividades não são
Historicamente, a Psicopedagogia nasceu para atender excludentes entre si e nem em relação a outras. O atendi-
a patologia de aprendizagem, mas ela se tem voltado cada mento psicopedagógico poderá, em determinados casos,
vez mais a uma ação preventiva, acreditando que muitas recorrer a propostas corporais, artísticas etc. De qualquer
dificuldades se devem à inadequada Pedagogia institucio- forma, está sempre relacionado com o trabalho escolar,
nal e familiar. A proposta da Psicopedagogia, numa ação ainda que com ele não esteja diretamente comprometido.
preventiva, é adotar uma proposta crítica frente ao fracas-
so escolar, numa concepção mais totalizante, visando pro- Para Janine Mery (1985), psicopedagogo é um profes-
por novas alternativas de ação voltadas para a melhoria da sor do tipo particular que realiza a sua tarefa de pedago-
prática pedagógica nas escolas. go sem perder de vista os propósitos terapêuticos da sua
ação. Qualquer que tenha sido a sua formação (psicólogo,
Segundo Lino de Macedo (1990), o psicopedagogo, no pedagogo, fonoaudiólogo, professor), ele assumirá sem-
Brasil, ocupa-se das seguintes atividades: pre a dupla polaridade do seu papel, o que determina-
rá seu modo de ser perante a criança e seus familiares,
1 - Orientação de estudos – Consiste em organizar a bem como diante da equipe a que pertence. O trabalho do
vida escolar da criança quando esta não sabe fazê- psicopedagogo, de acordo com Mery, possui as seguintes
-lo espontaneamente. Procura-se promover o melhor especificidades:
uso do tempo, a elaboração de uma agenda e tudo
aquilo que é necessário ao “como estudar” (como • o “distúrbio de aprendizagem’ é encara do como
ler um texto, como escrever, como estudar para a uma manifestação de uma perturbação que en-
prova,etc.). volve a totalidade da personalidade;
gogo visa propiciar o domínio de disciplinas escolares de uma perspectiva dinâmica, e é dentro dessa
em que a criança não vem tendo um bom aproveita- evolução dinâmica que o sintoma “distúrbio de
mento. Ele se diferencia do professor particular, pois aprendizagem” é estudado. Assim, se for ofere-
o conteúdo escolar é usado apenas como uma estra- cida uma forma de relação melhor e diferente à
tégia para ajudar e favorecer ao aluno o domínio de criança, ela deverá retomar a sua evolução moral.
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Introdução à Psicopedagogia
lação transferencial entre o profissional e o sujeito pelo fracasso, atrasos que poderiam explicar e
da aprendizagem; assim justificar o que não conseguem correspon-
der quanto ao seu desempenho. E sim no aluno,
• objetivo do psicopedagogo é levar o sujeito a
aquele ser integral e não fracionado com o qual
reintegrar-se à vida escolar normal, respeitando
necessitamos estabelecer um vínculo significati-
as suas possibilidades e interesses
vo para assim compreender como ele apreen-
de as informações e realiza sua aprendizagem.
O psicopedagogo, ainda segundo Janine Mery (1985),
Devemos compreender que o fracasso escolar
respeita a escola tal como é, apesar de suas imperfeições,
acontece por varias mãos e não esta centraliza-
porque é através da escola que o aluno se situará em rela-
da no aluno. São vários os caminhos que poderá
ção aos seus semelhantes, optará por uma profissão, par-
levar ao sucesso dentre eles o desejo de ensinar
ticipará da construção coletiva da sociedade à qual perten-
e de aprender envolvidos nas relações que se
ce. Este fato não impedirá que o psicopedagogo colabore
estabelecem. A Psicopedagogia é uma área de
para melhoria das condições de trabalho numa determina-
competência para trabalhar essas questões que
da escola ou na conquista de seus objetivos.
se referem as dificuldades de aprendizagem e
assim buscar caminhos que possam promover
Mas, em seu trabalho, ele deverá fazer com que a
sucesso. Vamos compreender agora um pouco
criança enfrente a escola de hoje e não a de amanhã. Esse
sobre esses saberes dos quais estamos nos re-
enfrentamento, no entanto, não significa impor à criança
ferindo no texto da professora Maria Célia Malta
normas arbitrárias ou sufocar-lhe a individualidade.
Campos:
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Introdução à Psicopedagogia
sustenta esta proposta destaca-se o quadro de injustiça articulação teórico-prática que os educadores tanto bus-
social que presenciamos em nosso pais, pela exclusão sis- cavam. A partir de 1980, os primeiros profissionais forma-
temática da escola de uma grande parcela de crianças e dos nesses cursos constituíram a Associação Brasileira de
jovens, apesar de inúmeros programas e iniciativas educa- Psicopedagogia, com a finalidade de promover o aperfei-
cionais. A igualdade de condições para todas as crianças çoamento cultural e realização de cursos e de encontros
é reclamada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. A científicos, além de publicação de um periódico especiali-
partir dessa nova necessidade percebida pela sociedade zado na área.
na inclusão das crianças com necessidades educacionais
especiais, coloca-se em questão, ainda não resolvida a
contento, da integração das crianças sem tais necessida-
des, mas tampouco aprendem e se desenvolvem no con-
texto escolar.
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Introdução à Psicopedagogia
• a necessidade do estágio prático supervisionado Para sustentar melhor a discussão que esta mesa-re-
em ambas as áreas; donda promove acerca da regulamentação profissional do
psicopedagogo, quero abordar o documento “A identida-
• a ênfase na articulação teórica-prática, propicia-
da pela participação de docentes com experiência de profissional do Psicopedagogo”, publicado no n. 19 do
Esse modelo de formação foi pensado, portanto, no Esse documento define a Psicopedagogia como a área
sentido de integrar aos conhecimentos teóricos uma mu- que estuda e lida com o processo de aprendizagem e suas
dança de postura frente ao processo de aprendizagem e dificuldades, tendo como objetivo de estudo tanto o sujei-
suas dificuldades, sem o que não se efetivam as trans- to do conhecimento como as instituições e os agentes de
formações necessárias no contexto escolar. Verifica-se no transmissão.
decorrer do tempo e a partir da percepção de novas ne-
Em relação aos campos de conhecimento que contri-
cessidades para a formação do psicopedagogo a produção
buem para a formação psicopedagógica são identificadas
de uma incoerência: um curso destinado a uma especiali-
como relevantes:
zação está servindo efetivamente para formar como pro-
fessor, como técnico educacional, administrador escolar ou
ainda como psicólogo escolar ou clinico. • Fundamentos da Filosofia, tendo em vista a cons-
ciência dos valores na relação ensino-aprendia-
Algumas mudanças significativas já vêm ocorrendo
gem e as implicações teórico-práticas para a com-
nesses cursos, sendo que a formação teórica inicialmente
preensão do sujeito que aprende das diferentes
contemplada sob a forma de especialização vem sendo fre-
posturas filosóficas.
qüentemente contemplada e aprofundada através de está-
gios supervisionados e de um aumento significativo na car- • Fundamentos da Lingüística que possam embasar
ga horária. Outro aspecto desse processo de transformação a compreensão da comunicação nos sés aspectos
diz respeito à progressiva extensão dessa formação tanto sociais e cognitivos bem como seu papel decisivo
na via ascendente, em cursos de mestrado profissionalmen- na estruturação da subjetividade.
te, como na via descendente, em disciplinas optativas da
graduação em Pedagogia. • Fundamentos da Sociologia que levem em consi-
deração o contexto social do sujeito bem como as
relações entre sociedade, educação escola.
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Introdução à Psicopedagogia
• - Psicologia Institucional, a fim de embasar a aná- mento, Nesse sentido, busca-se identificar os obstáculos
lise, a intervenção e a coordenação de relações ao desenvolvimento do processo de aprendizagem por
inter e intragrupal, podendo lidar com situações meio de técnicas especificas de análise institucional e pe-
de conflito e de crise institucional. dagógica. Nesse caso, a intervenção é o sistema (familiar,
escolar, sanitário-hospitalar) mediante a conscientização
• Fundamentos da Biologia que permitam avaliar os
dos conflitos que provocam a fragmentação dos conhe-
aspectos orgânicos da aprendizagem.
cimentos e o impedimento de sua livre circulação e apro-
• Teorias da Personalidade direcionadas para a con- priação pelos diversos grupos que integram o sistema; a
sideração e interpretação dos significados afetivos facilitação da informação a todos os níveis da instituição
do conhecimento para o sujeito. e a atualização de conhecimentos a respeitos de atitudes
pedagógicas com dificuldades de elaboração; finalmente,
• Fundamentos do atendimento psicopedagogico,
a implantação de recursos preventivos que evitem o re-
integrando os métodos, enquadres e recursos
trocesso.
para o diagnóstico e para a intervenção seja no
âmbito clínico como no institucional.
O fracasso escolar, a repetência e a evasão, fenôme-
nos que insistentemente permanecem nos atuais quadros
Temos assim dois campos de atuação prática, o clínico educacionais brasileiros, tem sido estudados sob o enfo-
e o institucional, que se integram a uma terceira área que sociológico ou sob o enfoque organicista. De qualquer
de trabalho, e da atividade teórica, indispensável para a modo, os problemas e percalços no processo de aprendi-
construção de teoria especifica que sustente a prática, me- zagem de nossas crianças tem sido compreendidos sob a
diante a aplicação controlada de diversas teorias clínicas ótica da patologização.
ao campo da aprendizagem.
Ora a “doença” é da estrutura social e o aprendiz que
O campo de atuação clínica caracteriza-se como aquele fracassa é visto enquanto um indivíduo, representante de
que se dedica ao sujeito, num trabalho terapêutico sobre uma classe social marginalizada, falante de um dialeto es-
o problema instalado, visando a reelaboração e retomada tranho ao padrão culto da língua e com práticas sociais
do processo de aprendizagem que apresenta dificuldade, muito distantes das práticas do professor, ora o “mal” que
de modo a desenvolver a autonomia e devolver prazer na enfeia nossas estatísticas educacionais é visto como sendo
atividade de aprender. de origem biológica, situação em que muitas vezes o psi-
cológico também em sua parte, enquanto aspectos neu-
Deste trabalho fazem parte um diagnóstico do sintoma rológicos, maturacionais, perceptivos, motivacionais e de
da não aprendizagem através de técnicas especificas e da rendimento intelectual.
integração de dados de outras áreas, tais como, escolares,
neurologias, psicológicas e fonoaudiológicas. O tratamen- Quando, no quadro dessa problemática, se atenta para
to pode ser individual ou grupal mas deve ser comple- o professor, o enfoque está centrado no incremento da
mentado com orientação do grupo familiar em relação ao competência da ação docente, na sua instrumentação
processo de aprendizagem bem como a orientação junto técnica, nos objetivos, planos e recursos institucionais,
à escola, face aos aspectos evidenciados no diagnósticos na análise fenomênica das interações professor-aluno em
e/ou tratamento. sala de aula.
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Introdução à Psicopedagogia
No entanto, algo se perde nessas análises e interven- por uma questão interdisciplinar, El interroga e desafia as
ções: falo da singularidade resultante da integração de divisões tradicionais dos campos de conhecimento e as
todos esses aspectos num sujeito, aprendiz ou mestre; especializações profissionais, constituindo-se como uma
do modo único como cada integrante da relação ensino- área de convergência conceitual ao se debruçar sobre as
-aprendizagem percebe, representa e promove seu con- situações sociais, psicológicas e pedagógicas que revelam
tato com o conhecimento que fui (ou não) nessa relação. o sujeito diante do qual atuamos. Na prática profissional, a
psicopedagogia busca construir ma síntese entre as varias
As abordagens sociológicas e psico-biológicas que pro- disciplinas e especialidades, ultrapassando os limites da
curam contribuir para explicar e/ou amenizar o fracasso cada uma.
da escola trazem consigo uma visão epistemológica a res-
peito do ser humano, de seu desenvolvimento e de sua Voltando à questão do exercício profissional, a proble-
aprendizagem fundadas numa cisão entre cognitivo e afe- mática da aprendizagem exige que se regulamente os re-
tivo, entre objetividade e subjetividade. O ser humano em quisitos profissionais não da forma tradicional, a partir do
processo de aprendizagem tem sido um objeto de estudo ponto de saída de cada especialista, mas visando o ponto
fragmentado, o qual a Psicopedagogia procura recompor de chegada: a compreensão dos múltiplos fatores envolvi-
para poder enxergar no educando o que transcende ao dos na aprendizagem e nas suas dificuldades. É nesse sen-
conhecimento das diferentes disciplinas, sejam elas psi- tido que a competência profissional não pode ser definida
e atribuída a priori, pois ela não decorre diretamente da
cológicas, sociológicas ou pedagógicas. A visão científica
área de formação, mas dos resultados obtidos na prática
e disciplinar tradicional impõe e fixa requisitos da qualifi-
profissional.
cação profissional inicial, reforçando a especialização e a
divisão entre as diversas práticas, inclusive defendendo o
Acima de tudo, sustento que não é útil é causa da Edu-
corporativismo.
cação em nosso país, entre tantas e tão graves carências,
discriminação corporativista dos campos de atuação entre
educadores, psicológicos educacionais e psicopedagogos,
pois todos podem e devem desempenhar papéis seme-
lhantes, centrados e unidos na construção de uma prática
profissional consciente, como um fazer refletido e continu-
amente revisto através de uma olhar crítico.
vídeo disponível
A Psicopedagogia -
http://www.youtube.com/
fonte: http://www.diariodamanha.com/docs/dm%20sala4.JPG
watch?v=WiLUKGDXy0A
Contexto Escolar -
A especificidade da formação e da atuação do psico-
http://www.youtube.com/watch?v=wED67
pedagogo consiste na abertura de visões que permitam
_8_j_A&feature=related
recompor esse objeto de estudo e de ação. Numa volta
á Educação generalista, a Psicopedagogia procura resga- Contexto Familiar -
tar uma visão abrangente sobre a aprendizagem, apoiada http://www.youtube.com/watch?v=TR6spk
num base ampla de formação e aliada ao autoconheci- rqROs&feature=related
mento a respeito dos modelos de relação com o conheci-
mento das vicissitudes na historia dessa relação. Ao pro-
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Introdução à Psicopedagogia
Referências
Bossa, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribui-
ções a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
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