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Introdução à Psicopedagogia

Introdução à
Psicopedagogia
Profª Ms. Sandra Regina
Stanziani Higino Mesquita

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Introdução à Psicopedagogia

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Introdução à Psicopedagogia

SUMÁRIO
Introdução a Psicopedagogia: Histórico 5

Algumas questões anteriores a profissionalização 6

A Natureza da Aprendizagem 6

Formação de Profissionais que lidam com a Aprendizagem 7

Retomando a questão da profissionalização 8

Fundamentos da Psicopedagogia 9

O objeto de estudo da psicopedagogia 11

Teorias que embasam o Trabalho Psicopedagógico 16

O Campo de Atuação da Psicopedagogia 21

Refletindo um pouco... 23

Colocando-se nas encruzilhadas do saber: 23

Desafios da Psicopagogia 23

Links para vídeos da psicopedagogia 27

Referências 28

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Introdução à Psicopedagogia

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Introdução à Psicopedagogia

Introdução a Psicopedagogia: Histórico Para pensarmos um pouco sobre quem poderemos


ser na vida dessas pessoas com as quais iremos traba-

Profª Mestre Sandra Regina Stanziani Higino Mesquita lhar vou dividir com vocês um trecho escrito por Rubem
Alves(1999):

Se acreditarmos que o ser aprende à partir


das relações que estabelece com o outro e que “...Os bichos não vão a escola. Nascem di-
devemos considerá-lo em sua globalidade e o plomados. O Criador embutiu, nos corpos dos
mesmo deve ser observado dentro de seu con- bichos, disquetes com programas que contêm
texto. Estaremos preocupados com o modo como todos os saberes necessários para viver. Esses
ele aprende e assim responde ao que lhe é soli- disquetes têm o nome de DNA. Sem jamais pre-
citado e não a respostas prontas e padronizadas cisar que alguém lhe ensine, as aranhas tecem
a que muitos são submetidos dentro do processo suas teias, as abelhas produzem mel, os caramu-
de aprendizagem. jos fazem suas conchas espirais, os sabiás can-
tam seu canto. Tudo perfeito. Sempre igual. Os
bichos sabem sem precisar ir a escola.

Quando chegou a hora da criação do homem


e da mulher, uma coisa diferente aconteceu. Uns
dizem que foi erro do criador: ele estava muito
cansado e se distraiu. Eu prefiro acreditar que
ele estava mais era com vontade de brincar. Em
vez de fazer o que havia feito com os bichos,
Deus todo – poderoso embutiu em nossos cor-
pos um programa incompleto. Resultado: a gen-
te não nasce sabendo tudo o que é necessário
saber para viver. Temos de inventar o que esta
faltando. Não nascemos sabendo fazer casas
como as aranhas e os caramujos. Nem sabendo
fazer comida como as abelhas. Também não sa-
bemos falar a língua como os sabiás. Através da
vida o corpo vai sendo criado e recriado.

Essa é a razão pela qual temos de ser educa-


dos. A educação é o processo pelo qual comple-
Fonte: http://www.magazinegibi.com.br/imagens/magazinegibi.
com.br/produtos/LIVRO/LITERATURA_BRASILEIRA/EAI.jpg tamos a nossa programação, pela magia das pa-
lavras. Quando falamos com uma criança nossas
Assim sendo, estaremos preocupados nesses encon- palavras vão gravando saberes e sentimentos

tros em compreender o ato de aprender, acompanhando nas partes incompletas de seu corpo. Educado-

o educando nesse processo, localizar o que pode estar in- res são feiticeiros: usam palavras para completar
aquilo que gravidez e parto deixaram sem con-
terferindo e propor caminhos para a retomada da aprendi-
clusão...”
zagem. Para isso conheceremos um pouco sobre a história
da psicopedagogia e escolhermos qual a fundamentação Trecho retirado do livro: E aí? Cartas aos adolescentes e seus pais
que ira embasar nossos trabalhos na mediação com esses Rubem Alves. Campinas /SP: Papirus, 1999.

ser resgatando-o em sua totalidade.

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Introdução à Psicopedagogia

Vamos agora refletir um pouco com a fundamentação A Educação e a Psicologia que lidam com e buscam
apresentada pela profª Dr. Elcie Salzano Masisi e o que compreender o ser humano, de modo geral, consideram
ela nos trás sobre a profissionalização da psicopedagogia; básico o estudo do Desenvolvimento nos seus diferentes
enfoques, bem como dos fatores que o influenciam. As-
sim, o estudo do Desenvolvimento compõe os currículos
Algumas questões anteriores a e abarca os aspectos físico/emocional, cognitivo, social e
profissionalização moral.
Elcie F. Salzano Masisi
E quando a Aprendizagem ocorre mesmo? O estudo
No homem como nos animais, de um modo geral, as desse processo compõe também os currículos de Educa-
ações vão se transformando gradativamente ao longo de ção e Psicologia? É este o tema que estou trazendo para
seu desenvolvimento, isto é, dos processos evolutivos pe- refletirmos ao enfocar a questão da profissionalização em
los quais passam do nascimento até a morte. Psicopedagogia- Psicopedagogia definida como a área que
estuda e lida com a Aprendizagem e suas dificuldades.
Essas ações são determinadas predominantemente
pelo instinto, e as modificações que nelas ocorrem se de- Para isso vou focar dois itens que, a meu ver, consti-
vem basicamente ao seu amadurecimento físico. tuem requisitos indispensáveis para qualquer decisão so-
bre a profissionalização em Psicopedagogia. O primeiro diz
Nos homens, cujo processo evolutivo vai da depen- respeito à Natureza de Aprendizagem, o segundo ao que
dência absoluta do organismo à independência física e se oferece para formação dos que lidam com a Aprendi-
psíquica, pode-se dizer que as transformações de suas zagem.
ações são resultantes, não só do seu crescimento físico,
mas predominantemente de seu aprendizado. A Natureza da Aprendizagem
O que é aprendizagem? A resposta a esta pergunta tem
constituído um fator de frustração para muitos educadores
e psicólogos. Ninguém nega sua existência, nem tão pou-
co sua abrangência e importância no desenvolvimento do
ser humano ao longo de sua vida.

Contudo, há divergências quanto à definição, devidas


às diferentes fundamentações teóricas da Educação e da
Psicologia, como também à dificuldade de restringir pro-
priamente a referência a esse processo, devido aos vários
fatores imbricados na Aprendizagem.
Os fatores que influenciam seu crescimento são, em
grande parte, geneticamente determinados, enquanto os Apesar de algumas restrições, parece haver certa con-
fatores que atuam na aprendizagem provêm do seu con- vergência em assinalar que Aprendizagem constitui mu-
texto de vida. dança que resulta da experiência e faz com que a pessoa
encare e lide com situações novas de maneira diferente.
É assim, através da Aprendizagem, que se desenvol- Alguns autores utilizam o termo Aprendizagem e preocu-
vem habilidades, raciocínios, atitudes, valores, vontades, pam-se com a teoria envolvida nesse processo ( Mednick,
interesses, aspirações, interações, participação e realiza- 1964; Travers. 1964; Hilgard, 1966; Ausebel, 1968; Bigge,
ção. 1971; Gagné, 1971; Moreira e Masini, 1982; Visca, 1984;

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Introdução à Psicopedagogia

Masini 1999 ). Outros, devido a questões de tradução e de nos Processos Sócio – histórico na década de 90 (Vigotsky
seu próprio posicionamento em Psicologia, não utilizam o e colaboradores). Em cada uma dessas décadas foi apare-
termo Aprendizagem, como é por exemplo o caso de Vi- cendo a tendência de, adotar-se a nova teoria, fazê-lo em
gotsky. Como esclarece Oliveira (1993), “ O termo que Le detrimento das anteriores com as quais passava a com-
utiliza em russo (obuchenie) significa algo como o processo petir.
ensino-aprendizagem... optamos pois pelo uso da palavra
aprendizado”. Nessa forma de alternâncias do que passa a ser mo-
delo, deixa-se de lado um dos desafios do estudo da Edu-
É semelhante o posicionamento dos piagetianos, que se cação e da Psicologia, qual seja, o retomar tendências e
referem à construção do conhecimento, como ilustra a afir- modismos para compreender o porquê ocorrem, aprofun-
mação de Emília Ferreiro: “O problema central é compreen- dando estudos para saber: qual seu embasamento filosó-
der os processos de passagem de um modo de organização fico; qual a característica original desse posicionamento;
conceitual a outro, explicar a construção do conhecimento. em que aspectos suas características podem ser comple-
O modelo teórico geral encontra-se em Piaget” (Ferreiro, mentares e enriquecedoras de outros posicionamentos;
1986). em que aspectos as características se contrapõem à de
outros posicionamentos e introduzem incoerências, se
Embora não façam uso do termo Aprendizagem, esses
adotadas concomitantemente.
autores referem-se ao processo de passar de uma etapa de
desenvolvimento para uma outra mais avançada, o que não
Conviver e lidar com esses conflitos pode constituir
é devido a fatores maturacionais determinados pela espé-
uma fonte de aplicação do conhecimento sobre o homem
cie. Dessa forma, embora não usem o termo, estão reco-
no ato de aprender, deixando-se assim de encarar estatis-
nhecendo a existência do ato de aprender.
ticamente cada nova tendência e buscando significado ao
retomá-la contextualizadamente: localizando onde surgiu,
É o compreender e lidar com o ato de aprender e suas
quando surgiu, no que se embasa filosoficamente essa
dificuldades que delimita a área da Psicopedagogia.
nova forma de conceituar o homem nesse processo que
o faz passar de uma etapa de desenvolvimento para uma
Na história da humanidade há evidencias de que as
outra mais avançada.
pessoas foram aprendendo, sem haver preocupações com
a natureza desse processo, enquanto ele ocorria informal-
mente nas relações do dia-a-dia. Quando a sociedade se Formação de Profissionais que lidam
tornou mais complexa e foi instituído um local para que a com a Aprendizagem
aprendizagem ocorresse é que começaram a surgir preocu-
pações com a aprendizagem, que deixou de ser considera- Na minha própria formação universitária, na década de
da um processo simples. 60, e como professora de cursos de Psicologia e Pedago-
gia, nas décadas de 70 e 80, formando psicólogos escola-
À medida que a Pedagogia e a Psicologia foram se de- res e pedagogos, deparei-me com o pouco que havia no
senvolvendo, passaram a investigar caminhos para lidar currículo referente ao estudo da Aprendizagem.
com o desenvolvimento da pessoa no processo de ensino/
aprendizagem. Assim surgiram as Teorias de Aprendiza- No curso de Pedagogia como de Psicologia, a discipli-
gem ( Aprendizagem de Sinais / Aprendizagem Estímulo- na Psicologia Educacional era que abordava aprendizagem
-resposta / Aprendizagem Cognitivista/ Teoria de Campo e em um semestre letivo, oferecendo um apanhado geral
outras) muito discutidas e em voga nas décadas de 70; a de Teorias de Aprendizagem. Além disso, em Psicologia,
adoção do construtivismo predominantemente na década contemplava-se um pouco o estudo dos problemas de
de 80 (Piaget / Inhelder / Ferreiro / Teberosky); e a ênfase aprendizagem na disciplina de Psicologia Escolar e Proble-

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Introdução à Psicopedagogia

mas de Aprendizagem (PEPA). Algumas características en- Aprendizagem e do Ato de Aprender. Assim foram encon-
contradas naquela época faziam confusa a identidade da trados programas que:
Aprendizagem, fazendo-se referência muitas vezes, quase
como sinônimo, à Aprendizagem e ao Ensino, ou ainda à 1- tratam não apenas das teorias de Aprendiza-
Educação. gem, como também de aspectos da aprendiza-
gem informal, como Aprendizagem e televisão,
Para não ficar limitada a essa experiência, busquei in- Aprendizagem na era eletrônica, Aprendizagem
formações em várias Universidades, em Cursos de Peda- e brinquedo.
gogia e Psicologia com professores que neles ministram 2- Programação anual de PEPA abordando Teorias
atualmente aulas, obtendo inclusive a programação des- de Aprendizagem, Problemas de Aprendizagem
sas disciplinas. e Intervenção;

3- Programação de PEPA, preparando o psicólogo


Universidades Consultadas escolar para lidar na instituição escola com o
ato de aprender.
Curso de Pedagogia Curso de Psicologia

USP USP

MACKENZIE MACKENZIE

SÃO MARCOS

UMESP

UNICSUL

UNIV. SÃO FRANCISCO

UNIV. CAMPOS SALLES


http://oqueeh.com.br/wp-content/
uploads/2012/06/psicologia-escolar.jpg

De modo geral alguns currículos não sofreram grandes


alterações em relação à minha experiência anterior. Foram
Retomando a questão da
reencontradas ainda características daquela época, como
profissionalização
confusa identidade da Aprendizagem, e do Ensino, ou ain-
A lacuna na formação de profissionais para lidar com o
da da Educação.
aluno em situação de aprendizagem, principalmente quan-
do as dificuldades surgiam, foi um dos principais fatores
Alguns programas de Psicologia Escolar e Problemas de desencadeantes na década de 70, do nascimento dos cur-
Aprendizagem nada apresentavam na sua Bibliografia re- sos de Psicopedagogia no Brasil.
ferente a Problemas de Aprendizagem. Alguns programas
de Psicologia da Educação ficaram restritos Psicogenética. As condições de aprendizagem e a situação do aprovei-
tamento escolar oferecidas à maioria da população brasi-
Com as reformulações dos currículos de Pedagogia e leira no ano 2000 é, no mínimo alarmante: há nas institui-
de Psicologia em algumas Universidades, introduziram-se ções públicas, alunos que chegam ao final da 4ª série do
mais especificamente Disciplinas referentes a Psicologia da ensino fundamental semi-alfabetizados e mal lidando com

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Introdução à Psicopedagogia

as operações aritméticas, além de a outras defasagens


que continuam no Ensino Médio. Quais as vantagens da profissionalização? Quem são
os beneficiários se houver a profissionalização da Psico-
Assim sendo, parece-me, o posicionamento sobre pro- pedagogia?
fissionalização requer que se faça uma reflexão sobre nossa
realidade educacional e o momento que vivemos. Não é ta- Essa profissionalização beneficia em quê o aluno das
refa simples prepara profissionais para enfrentar os desafios escolas públicas no seu ato de aprender?
do processo de aprendizagem.

A inquietude destas questões nos faz buscar


Isso requer integração e esforços conjuntos, e não ci- um pouco mais e assim para nos fundamentar
sões. Precisamos reunir conhecimentos, e não os esfacelar vamos conhecer um pouco da historia da Psico-
em subcursos de graduação. pedagogia no Brasil relatado por Bossa (2000)
como se segue abaixo:
A Aprendizagem sendo, predominantemente, o ele-
mento responsável pelas transformações das ações huma-
nas, através da qual são desenvolvidas habilidades, racio-
Fundamentos da Psicopedagogia
cínios, atitudes, valores, vontades, interesses, aspirações, Nadia Bossa
integrações, participação e realização, requer do profissio-
nal que lida com o ato de aprender uma formação ampla
O termo psicopedagogia apresenta-se, hoje, com uma
e bem fundamentada.
característica especial. Quanto mais tentarmos elucidá-lo,
A profissionalização em nível de graduação representa menos claro ele parece.
uma tendência de super-especializar, levando à subdivisão
do conhecimento, em detrimento da abrangência neces- Essa dificuldade é uma das razões e finalidade do pre-
sária para lidar com a complexidade do ato de aprender. sente ensaio, isto é, procuro deixar claro que a ambigüi-
Nessa perspectiva, a Psicopedagogia ao contrário do que dade reside tanto na palavra quanto no que ela reporta. À
se anseia perde sua força, pois, para manter sua identi- primeira vista, o termo sugere tratar-se de uma aplicação
dade como área de estudo com objetivo próprio, precisa da Psicologia na Pedagogia, porém tal definição não refle-
estreitar seu campo curricular para não se sobrepor aos te o significado que esse termo assume em razão do seu
cursos de Pedagogia e de Psicologia. nascimento.

O oposto ocorre se concebida como curso de especiali- Como diz Lino de Macedo (1992), “ o termo já foi in-
zação e funcionar como um acréscimo tanto para pedago- ventado e assinala de forma simples e direta uma das mais
gos como para psicólogos e outros profissionais que quei- profundas e importantes razões da produção de um co-
ram trabalhar com aprendizagem, cada um trazendo sua nhecimento científico: o de ser maio, o de ser instrumen-
bagagem anterior e aprofundando estudos. to, para um outro, tanto em uma perspectiva teórica ou
Por que formar um novo profissional em vez de lutar aplicada”.
para melhorar a formação dos profissionais já existentes
(pedagogos, psicólogos, demais professores e carreiras Neste sentido, enquanto produção do conhecimento
afins) que deveriam ser capazes de lidar com o Ato de científico, a Psicopedagogia, que nasceu da necessidade
Aprender? de uma melhor compreensão do processo de aprendiza-
gem, não se basta como aplicação da Psicologia à Peda-
Qual a necessidade da legalização da Psicopedagogia gogia. Macedo lembra-nos, ainda que no Novo Dicionário
como profissão? Aurélio da Língua Portuguesa o termo psicopedagogia é

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Introdução à Psicopedagogia

definido como “aplicação da psicologia experimental na campos do conhecimento da Psicologia e da Pedagogia.


pedagogia” (1992, pVII). Diz Neves: “dentro dessa conotação adjetiva da psicope-
dagogia, alguns autores, principalmente os pertencentes
Os diversos autores que tratam da Psicopedagogia en- ao campo pedagógico, no final da década de 70 e início
fatizam o seu caráter interdisciplinar. Reconhecer tal cará- dos anos 80 no Brasil, chamaram de atitude psicopedagó-
ter significa admitir a sua especificidade enquanto área de gica o que em verdade era um psicologisismo radical. Por
estudos, uma vez que, buscando conhecimento em outros isso, tratavam de denunciar a formação dos professores
campos, cria o seu próprio objeto, condição essencial da por eles cogniminada de psicopedagógica”.
interdisciplinaridade.
Posteriormente, ainda segundo a professora Neves, a
Ao admitir essa interseção, não nos resta outra alter- Psicopedagogia assumiu uma conotação substantiva, o
nativa senão abandonarmos a idéia de tratar a psicopeda- que por um lado correspondeu a uma aplicação conceitual
gogia apenas como a aplicação da psicologia à pedagogia, e, por outro, causou um lamentável estado de confusão,
pois, ainda que se tratasse de recorrer apenas a estas devido á utilização de toda uma polissemia aplicada a um
duas disciplinas (o que não creio) na solução da problemá- só termo. Concordo com neves quando se refere à ques-
tica que lhe deu origem – os problemas de aprendizagem tão conceitual mencionada a confusão que se apresenta,
– não seria como mera aplicação de uma à outra, mas e creio que essa ambigüidade ou dubiedade se estende à
sim na constituição de uma nova área que, recorrendo aos prática.
conhecimentos dessas duas, pensa o seu objeto de estudo
a partir de um corpo teórico próprio, ou melhor, que busca Para Kiguel, que também tem construído nesse proces-
se constituir. so de construção do saber psicopedagógico, “historicamen-
te a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia
Penso que a Psicopedagogia, como área de aplicação, e a Psicologia, a partir das necessidades de atendimento
antecede o status de área de estudos, a qual tem procu- de crianças com “distúrbios de aprendizagem”, conside-
rado sistematizar um corpo teórico próprio, definir o deu radas inaptas dentro do sinal educacional convencional”
objeto de estudo, delimitar seu campo de atuação, e para (1991, p22) e “ no momento atual, à luz de pesquisas
isso recorre à Psicologia, Psicanálise, Lingüística, Fonoau- psicopedagógicas que vêm se desenvolvendo, inclusive no
diologia, Medicina, Pedagogia. Podemos citar alguns pro- nosso meio, e de contribuições da área da psicologia, so-
fissionais brasileiros que objetivam dar a sua contribuição ciologia, antropologia, lingüística epistemologia, o campo
na formação desse corpo teórico, começando por tentar da psicopedagogia passa por uma reformulação. De uma
definir a Psicopedagogia. perspectiva puramente clínica e individual busca-se uma
compreensão mais integradora do fenômeno da aprendi-
Para Maria M. Neves, “falar sobre psicopedagogia é, zagem e uma atuação de natureza mais preventiva”.
necessariamente, falar sobre a articulação entre educa-
ção e psicologia, articulação essa que desafia estudiosos e A afirmação de que a psicopedagogia, historicamente,
práticos dessas duas áreas. surgiu na fronteira entre a Psicologia e a Psicopedagogia
merece maior atenção. Kiguel aventa outra possibilidade
Embora quase sempre presente no relato de inúmeros quanto ao surgimento da Psicopedagogia ao mencionar as
trabalhos científicos que tratam principalmente dos pro- tentativas de explicação do fracasso escolar por outras vias
blemas ligados à aprendizagem, o termo psicopedagogia que não a pedagógica e a psicológica. Afirma que “fato-
não consegue adquirir clareza na sua dimensão conceitu- res etiológicos utilizados para explicar índices alarmantes
al” (1992, p 10). Segundo essa autora, a Psicopedagogia do fracasso escolar envolviam quase que exclusivamente
inicialmente foi utilizada como adjetivo, indicando uma fatores individuais como desnutrição, problemas neuroló-
forma de atuação que apontava a inevitável interação de gicos, psicológicos, etc.”, acrescentando que, “no Brasil,

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Introdução à Psicopedagogia

particularmente durante a década de 70, foi amplamente correr um caminho em que é preciso pensar sobre o seu
difundido o rótulo de Disfunção Cerebral Mínima para as objeto de estudo, as teorias que, na interdisciplinaridade,
crianças que apresentavam como sintoma proeminente, embasam essa prática, e o seu campo de atuação.
distúrbios na escolaridade”.
Passemos a pensar, pois, sobre o objeto de estudo da
Psicopedagogia.

Fonte:http://www.fundacaoaprender.org.br/assets/
images/imagem_curso_psicopedagogia.jpg

Tais afirmações de Kiguel remetem-nos a duas consi-


derações:

1 – As aplicações para o fracasso escolar fundamenta-


vam-se em discurso que superam o psicológico e
negam o pedagógico, pois elas falam de desnutri- Fonte:http://static.portaleducacao.com.br/arquivos/imagens_artigos/2
7032012123619avalia%C3%A7%C3%A3o%20psicol%C3%B3gica.jpg
ção, problemas neurológicos e problemas psicológi-
cos (1987)
O objeto de estudo da psicopedagogia
2 – A idéia, amplamente aceita no Brasil (e em outros
países), de que o problema de aprendizagem esti- Se a (in)definição do termo psicopedagogia produzem
vesse relacionado com fatores neurológicos (Cypel, estado de confusão conforme afirma Neves, vejamos qual
1886), indica o peso da concepção organicista no é a definição do objeto de estudo da Psicopedagogia se-
atendimento de uma problemática que, conforme gundo alguns psicopedagogos brasileiros.
vimos, afirma-se, ao mesmo tempo, ser preocupa-
ção da Psicologia e da Psicopedagogia. Para Kiguel, “o objeto central de estudo da Psicope-
dagogia está se estruturando em torno do processo de
Essa segunda consideração nos permite a seguinte aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais
correlação: quanto maior a preocupação com o orgâni- e patológicos – bem como a influência do meio (família,
co, menor o espaço para o psicológico. Considerando as escola, sociedade) no seu desenvolvimento” (1991 p24).
suas implicações na prática, portanto, a Psicopedagogia De acordo com Neves, “a psicopedagogia estuda o ato
não pode ser pensada simplesmente com uma aplicação de aprender e ensinar, Levando sempre em conta as rea-
da Psicologia à Pedagogia. Mas, se a Psicopedagogia não lidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em
é uma aplicação da Psicologia (experimental) à Pedagogia, conjunto. E, mais, procurando estudar a construção do co-
o que é então? Para responder esta pergunta convém per- nhecimento em toda a sua complexidade, procurando co-

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Introdução à Psicopedagogia

locar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos Do ponto de vista de Weiss, “ a psicopedagogia busca a
e sociais que lhe estão implícitos” (1991, p.12). melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a
melhor qualidade na construção da própria aprendizagem
Segundo Scoz, “ a psicopedagogia estuda o processo de alunos e de educadores” (1991, p.6).
de aprendizagem e suas dificuldades, e numa ação pro-
fissional deve englobar vários campos do conhecimento, Essas considerações em relação ao objeto de estudo da
integrando-os e sintetizando-os” (1992, p.2). Para Gol- Psicopedagogia sugerem que há um certo consenso quan-
bert: (...) o objeto de estudo da Psicopedagogia deve ser to ao fato que ela deve ocupar-se em estudar a aprendi-
entendido a partir de dois enfoques: preventivo e terapêu- zagem humana, porém é uma ilusão pensar que tal con-
tico. O enfoque preventivo considera o objeto de estudo senso nos conduza, a todos, a um único caminho. O tema
da Psicopedagogia o ser humano em desenvolvimento, da aprendizagem apresenta tamanha complexidade que
enquanto educável. Seu objeto de estudo é a pessoa a ser tem a dimensão da própria natureza humana e caberia
educada, seus processos de desenvolvimento a as altera- um outro ensaio para tratá-lo. É importante, no entanto,
ções de tais processos. ressaltar que a concepção de aprendizagem é resultado de
uma visão de homens, e é em razão desta que acontece a
Focaliza as possibilidades do aprender, num sentido práxis psicopedagógica.
amplo. Não deve se restringir a uma só agência como a
escola, mas ir também à família e à comunidade. Poderá Dos profissionais brasileiros supracitados, pudemos ve-
esclarecer, de forma mais ou menos sistemática, a profes- rificar que o tema da aprendizagem ocupa-os e preocupa-
sores, pais e administradores sobre as características das -os, sendo os problemas desse processo (de aprendiza-
diferentes etapas do desenvolvimento, sobre o progresso gem) a causa e a razão da Psicopedagogia. Este é também
nos processos de aprendizagem, sobre as condições psi- o pensamento dos argentinos (os quais, conforme vere-
codinâmicas da aprendizagem, sobre as condições deter- mos mais tarde, inspiraram-nos). Podemos observar esse
minantes de dificuldades de aprendizagem. O enfoque te- pensamento traduzido nas palavras de profissionais argen-
rapêutico considera o objeto de estudo da psicopedagogia tinos atuam na área e que estão envolvidos no trabalho
a identificação, análise, elaboração de uma metodologia teórico. Para eles, “a aprendizagem com seus problemas”
de diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendi- constitui-se no pilar-base da Psicopedagogia. Vejamos.
zagem (1985, p.13).
Alicia Fernàndez, ao citar Sara Paín, coloca: “Ella con-
Para Rubinstein, “ num primeiro, momento a psicope- sidera a si como el síntoma histérico fue La plataforma de
dagogia esteve voltada para a busca e o desenvolvimento lanzamiento para que Freud puderia formular La teoría y la
de metodologias que melhor atendenssem aos portadores técnica del psicoanálisis, dando cuenta de los fenómenos
de dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação inconcientes, el problema de aprendizaje es nuestra plata-
ou a remediação e desta forma promover o desapareci- forma de lanzamiento para construir una teoría psicopeda-
mento do sintoma”. E ainda, “a partir do momento em que gógica” (1990ª, p.11).
o foco de atenção passa a ser a compreensão do processo
de aprendizagem e a relação que o aprendiz estabelece
com a mesma, o objeto da psicopedagogia passa a ser
mais abrangente: a metodologia é apenas um aspecto no
processo terapêutico, e o principal objetivo é a investi-
gação de etiologia da dificuldade de aprendizagem, bem
como a compreensão do processamento da aprendizagem
considerando todas as variáveis que intervêm neste pro-
cesso” (1992, p.103).

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Introdução à Psicopedagogia

Fernàndez, ao referir-se a Psicopedagogia, sublinha: A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana,


que adveio de uma demanda – o problema de aprendiza-
Pero aún no hemos podido contruir alguna teoría gem, coloca num território pouco explorado, situado além
acerca de nuestra práctica específica, en la patología del dos limites da Psicologia e da própria Pedagogia – e evo-
aprendizaje. Recurrimos a la terotia de la inteligência de luiu devido à existência de recursos, ainda que embrioná-
Piaget, que nos aponta un modelo de la inteligência, pero rios para atender a essa demanda, constituindo-se, as-
no una twroía acerca de las fracturas en aprender, acerca sim, numa prática. Como se preocupa com o problema de
del sujeito que nos aprende. aprendizagem, deve ocupar-se inicialmente do processo
de aprendizagem. Portanto, vemos que a Psicopedagogia
Recurrimos también al psicoanálisis, que nos permite, estuda as características da aprendizagem humana: como
entre tantas outras cosas, realizar una lectura de lo incon- se aprende, como essa aprendizagem Vaira evolutivamen-
ciente y nos posibilita un marco psicopatológico al cual re- te e está condicionada por vários fatores, como se produ-
mitimos para compreender la estructura de personalidad zem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las,
de nuèstros pacientes. Pero carecemos de una sicopatolo- tratá-las e preveni-las. Esse objeto de estudo, que é um
gía acerca del aprendizaje. Estamos realizando intentos de sujeito a ser estudado por outro sujeito, adquire carac-
construir nuestra propia teoría, nuestro específico encuadre, terísticas específicas a depender do trabalho clínico ou
los diferenciadores de nuestra técnica y nuestro lugar como preventivo:
especialistas en problemas de aprendizaje (1984. p.102).
• O trabalho clinico: se da na relação entre um su-
Segundo Jorge Visca, a Psicopedagogia, que inicial- jeito com sua história pessoal e sua modalidade
mente foi uma ação subsidiária da Medicina e da Psicolo- de aprendizagem, buscando compreender a men-
gia, perfilou-se como conhecimento independente e com- sagem de outro sujeito, implícita no não - apren-
plementar, possuída de um objeto de estudo – o processo der. Nesse processo, onde investigador e objeto
de aprendizagem – e de recursos diagnósticos, corretores – sujeito de estudo interagem constantemente, a
e preventivos próprios (1987). própria alteração torna-se alvo de estudo da Psi-
copedagogia. Isto significa que, nesta modalidade
Para marina Müller, ao referir-se sobre o objeto de estu- de trabalho, deve o profissional compreender o
do específico da Psicopedagogia, deve-se tomar em conta que o sujeito aprende, como aprende e por que,
o lugar em que está situado este campo de atividade. Diz além de pertencer a dimensão da relação entre
essa autora que é função da Psicologia pensar “cómo se psicopedagogo e sujeito de forma a favorecer a

incrementan los conocimientos, o bien entran en contra- aprendizagem.

dicción y se sustituyen; qué influencias afectivas y repre- • No trabalho preventivo, a instituição, enquanto
sentaciones inconcientes los acompañan; qué dificultades espaço físico e psíquico da aprendizagem, é o
los interfierem o impidem; de qué manera se pueden favo- objeto de estudo da Psicopedagogia, uma vez que
recer los aprendizajes o tratar sus alteraciones”. È função são avaliados os processos didáticos-meto-dológi-
da Pedagogia pensar: “ Qué es educar, qué es esseñar y cos e a dinâmica institucional que interferem no
aprender; cómo se desenvuelven estas actividades; cómo processo de aprendizagem.
inciden subjetivamente los sistemas y metodos educati-
vos; cuáles son las problemáticas estructurales que inter-
vienen en el surgimiento de transtornos del aprendizaje y A definição do objeto de estudo da Psicopedagogia

en el fracasso escolar; qué propuestas de cambio surgem”. passou por fases distintas, assim como os demais aspec-

“El sujeto que aprende”- diz Marina Müller – “ es motivo de tos dessa área de estudo. Em diferentes momentos his-

interrogantes para los psicopedagogos, y destinatario de tóricos, que repercutem nas produções científicas, esse

su actividade profesional” (Müller, 1984, pp.7 e 8). objeto foi entendido de várias formas. Houve tempo em

13
Introdução à Psicopedagogia

que o trabalho psicopedagógico priorizava a reeducação, o ciadas pelas condições socioculturais do sujeito e do seu
processo de aprendizagem era avaliado em função de sues meio.
déficitis e o trabalho procurava vencer tais defasagens.
Conforme vimos, o trabalho psicopedagogico pode ser
preventivo e clínico. Entretanto, ele é também teórico na
medida da necessidade de se refletir sobre a práxis. Assim
sendo, vale repensar um pouco a prática, antes de abordar
o teórico.

No trabalho preventivo podemos falar em diferentes


níveis de prevenção. No primeiro nível, o psicopedagogo
atua nos processos educativos com o objetivo de dimi-
nuir a “freqüência dos problemas de aprendizagem”. Seu
trabalho incide nas questões didático-metodológicas, bem
como na formação e orientação de professores, além de
O objeto de estudo era o sujeito que não podia apren-
fazer aconselhamento aos pais. No segundo nível, o ob-
der, concebendo-se a “não-aprendizagem” pelo enfoque
jetivo é diminuir e tratar dos problemas de aprendizagem
que salientava a falta. Esse enfoque buscava estabelecer
já instalados. Por tanto, cria-se um plano diagnóstico da
semelhanças entre grandes grupos de sujeitos, as regu-
realidade institucional e elabora-se planos de intervenção
laridades, o esperado para determinada idade, visitando
baseados nesse diagnóstico, a partir do qual procura-se
reduzir as diferenças e acentuar a uniformidade.
avaliar os currículos com os professores, para que não se
repitam tais transtornos. No terceiro nível, o objetivo é
Posteriormente, a Psicopedagogia adotou a noção de
eliminar os transtornos já instalados, num procedimento
“não-prendizagem” de uma outra maneira: o não-apren-
clínico com todas as suas implicações. O caráter preventi-
der é tido como carregado de significados, e não se opõe vo permanece aí, uma vez que, ao eliminarmos um trans-
ao aprender. Essa fase da Psicopedagogia é fundamenta- torno, estamos prevenindo o aparecimento de outros.
da especialmente na Psicanálise e na Psicologia Genética.
Essa nova concepção leva em conta a singularidade do Com um exemplo dos níveis de trabalho preventivo
indivíduo ou grupo, buscando o sentido particular de suas acima, podemos nos utilizar de uma situação específica:
características e suas alterações, segundo as circunstân- a alfabetização. Ao se deparar com novas teorias a cer-
cias da sua própria história e do seu mundo sociocultural. ca da alfabetização, o psicopedagogo, juntamente com
O processo evolutivo pelo qual essa nova área de estudo outros profissionais da escola, trata de elaborar métodos
procurou estruturar-se entender que o objeto de estudo de ensino compatíveis com as novas concepções acerca
é sempre o sujeito “aprendendendo”, como se refere Ali- desse processo. Nesse momento, que corresponderia ao
cia Fernández (1991). Essa concepção de sujeito variou, primeiro nível preventivo, ele trabalha com os professores,
porém, conforme dissemos anteriormente, em função da auxiliando-os a incorporar os novos conhecimentos e os
visão de homem adotada em cada momento histórico e da procedimentos metodológicos deles decorrentes.
sua correspondente concepção de aprendizagem.
Utilizando ainda a alfabetização, digamos que num
Atualmente, a Psicopedagogia trabalha com uma con- determinado grupo, classe ou instituição, apareçam

cepção de aprendizagem segundo a qual participa desse transtornos na aprendizagem do processo de leitura e

processo um equipamento biológico com disposições afe- escrita. Cabe então ao psicopedagogo, no segundo nível
preventivo, realizar um diagnostico do grupo e intervir
tivas e intelectuais que interferem na forma de relação do
nos procedimentos didático-metodológicos em vigor. Esse
sujeito com o meio, sendo que essas disposições influen-

14
Introdução à Psicopedagogia

profissinal tem agora, não só o objetivo de detectar as c) tratamento psicopedagógico – didático: segundo
causas dos transtornos, como também de encontrar os essa autora argentina, o tratamento psicopedagó-
meios para que os mesmos sejam eliminados. Já o terceiro gico – didático é fundamental na formação do psi-
nível se dá no momento em que problemas específicos copedagogo, pois se constitui num espaço para a
de leitura e escrita já estejam instalados em um aluno construção do olhar e da escuta clinica – a partir da
ou grupo de alunos. Deve o psicopedagogo, neste caso, análise do seu próprio aprender - , que configuram
atuar diretamente junto a estes, a fim de tratar esses a atitude psicopedagógica.
transtornos e evitar outros.

No exercício clinico, o psicopedagogo deve reconhecer


a sua própria subjetividade na relação, pois se trata de um
sujeito estudando outros sujeitos. Essa inter-relação de
sujeitos, em que um procura conhecer no outro aquilo que
o impede de aprender, implica uma temática muito com-
plexa. Ao psicopedagogo cabe saber como se constitui o
sujeito, como este se transforma em suas diversas etapas
de vida, quais os recursos de conhecimento de que ele dis-
põe e a forma pela qual produz conhecimento e aprende.
Ainda de acordo com Alicia Fernández (1991), todo su-
Esse saber exige que o psicopedagogo recorra a jeito tem sua modalidade de aprendizagem, ou seja, meios,
teorias que lhe permitam reconhecer de que modo se dá a condições e limites para conhecer. Modalidade de aprendi-
aprendizagem, bem como as leis que regem esse processo: zagem significativa uma maneira pessoal para aproximar-
as influências afetivas e as representações inconscientes -se do conhecimento e construir o saber. Tal modalidade
que o acompanham, o que pode comprometê-lo e o que constrói-se desde o nascimento, é como uma matriz, um
pode favorecê-lo. molde, um esquema de operar que vamos utilizando nas
situações de aprendizagem. Essa modalidade é fruto do
É preciso, também, que o psicopedagogo saiba o que é seu inconsciente simbólico constituído na sua inter-relação
ensinar e o que é aprender; como interferem nos sistemas com o outro e de sua atividade estruturadamente de um
e métodos educativos; os problemas estruturais que universo estável; relaçõa causa – efeito, espaço – tempo-
intervêm no surgimento dos transtornos de aprendizagem ral, objetividade.
e no processo escolar.
Assim, organizam-se as operações lógicas, classificadas
Faz-se dessa maneira, imperioso que, enquanto psi- e de relação que de um nível de elaboração simples pas-
copedagogos, aprendamos sobre como os outros sujeitos sa a outro cada vez mais complexo. Essa sujeito envolve,
aprendem e também sobre como nós aprendemos. Para num único personagem, o sujeito epistêmico e o sujeito
Alicia Fernández, esse saber só é possível com a formação de desejo. Isto significa que a possibilidade de aprender
que se oriente sobre três pilares: está situada no nível inconsciente, no desejo de conhecer,
conforme observa outro o autor:
a) prática clínica: em consultório individual-grupal-
-familiar; em instituições educativas e sanitárias; “ Este deseo de conocer (epistemofilia) está ligado, em
movimiento dialéctico, a la búsqueda de su propia ver-

b) construção teórica: permeada pela prática de forma dad (conocer quién ES, y quién ES para los ottros) y La

que, a partir desta, a teoria psicopedagógica possa búsqueda del mundo cognoscible cultural, compartido

ser tecida; socialmente”(Müller, 1984, p.8).

15
Introdução à Psicopedagogia

Faz-se necessário construir, pois, uma teoria psicope-


dagógica fundamentada em conhecimentos de outros cor-
pos teóricos, que, ressignificados, embasem essa prática.
Vejamos quais são essas teorias.

Teorias que embasam o Trabalho


Psicopedagógico
Conhecer os fundamentos da psicopedagogia implica
refletir sobre as suas origens teóricas, ou seja, revisar
velhos impasses que subjazem na ação e na atuação da
pedagogia e da psicologia no apreender do fenômeno edu-
cativo.

Do seu parentesco com a Pedagogia, a Psicopedagogia


traz as identificações e contradições de uma ciência cujos
limites são os da própria vida humana. Envolve simultane-
amente, a meu juízo, o social e o individual em processo
tanto transformadores quanto reprodutores.
No trabalho clínico, conceber o sujeito que aprende
como um sujeito epistêmico – epistemofílico implica pro-
Da Psicologia , a Psicopedagogia herda o velho proble-
cedimentos diagnósticos e terapêuticos que consideram
ma do paralelismo psicofísico, um dualismo que ora privi-
tal concepção. Por exemplo, no processo diagnostico inte-
ressa –nos saber como é que o sujeito aprende, e percebe legia o físico (observável), ora o psíquico (a consciência).

o interjogo entre o desejo de conhecer e o de ignorar. Para


isso, é necessário uma leitura clínica na qual, através da Essas duas áreas não são suficientes para aprender

escuta psicopedagogica, se possa decifrar os processos o objeto de estudo da Psicopedagogia – o processo de

que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção: aprendizagem e suas variáveis – e nortear a sua prática.
“Más Allá Del sintoma que debe ser reducado, em primer Dessa, forma, recorre-se a outras áreas, como a Filosofia,
término existe um mensaje que debe ser oído” (Mannoni, a Neurologia, a Sociologia, a Lingüística e a Psicanálise, no
1976, p.205) sentido de alcançar compreensão desse processo.

Perceber este interjogo, ouvir essa mensagem, enfim, Para Sara Paín, “nesse lugar do processo de aprendi-
assumir essa atitude clínica, requer um conjunto de co- zagem coincidem um momento histórico, um organismo,
nhecimentos estruturados de forma a se constituir teórica uma etapa genética da inteligência e um sujeito associado
interpretativa. a tantas outras estruturas teóricas, de cuja engrenagem
se ocupa e preocupa a Epistemologia; referimo-nos prin-
De acordo com Alicia Fernández, necessitamos incor- cipalmente ao materialismo histórico, à teoria piagetiana
porar conhecimento sobre o organismo, o corpo, a inteli- da inteligência e à teoria psicanalítica de Freud, enquanto
gência e o desejo, estando estes quatro níveis basicamen- instauram a ideologia, a operatividade e o inconsciente”
te implicados no aprender. Considerando-se o problema de (1987, p.15).
aprendizagem na interseção desses níveis, as teorias que
se ocupam da inteligência, do inconsciente e do corpo, Os autores brasileiros Neves, Kiguel, Scoz, Golbert, Ru-
separadamente, não consegue resolvê-lo. binstein, Weiss, Barone e outros, assim como argentinos

16
Introdução à Psicopedagogia

Férnadez, Paín, Visca, Müller, são unânimes quanto à ne-


cessidade de conhecimentos de diversas áreas que, arti-
culados, devem fundamentar a constituição de uma teoria
psicopedagógica.

Diz Fernández; “ La epistemologia genética, así como El


psicoanálisis, son necesarios para la teoría psicopedagógica,
pero no confundibles con ella, cuyo fin es dar la articulaci-
Fonte: http://portal.anhembi.br/wp-content/
ón inteligencia- deseo” (1985, p.12). Jorge Visca considera uploads/pos-psicopedagogia.jpg
que a psicopedagogia foi se perfilando como conhecimento
independente e complementar, por assimilação recíproca Vemos as palavras de Barone um pensamento conver-
das contribuições das escolas psicanalítica, piagetiana e da gente para esse sentimento; “A prática psicopedagógica
Psicologia Social de Enrique Pichón – Riviére. vem colocando questões ainda pouco discutidas, de mane-
jo difícil e geradoras de conflito. Isto porque seu “pacien-
Dessa forma, entende esse autor ser possível compre- te”, o sujeito com dificuldade de aprendizagem, apresenta,
ender a participação dos aspectos afetivos, cognoscitivos e quase sempre, um quadro de comprometimentos que ex-
do meio que confluem no aprender do ser humano (1987, trapola o campo de ação específico de diferentes profissio-
p.7) . nais, envolvendo dificuldades cognitivas, instrumentais e
afetivas” (1991, p.113).
Para Sara Paín, vale relembrar, os que se defrontam
com os problemas de aprendizagem devem fundamentar
a sua prática na articulação da Psicanálise, da teoria pia-
getiana e do materialismo histórico (1986, p.5).

Por sua vez, Marina Müller aponta como suportes teó-


ricos na Psicopedagogia clínica – campo do qual essa ar-
gentina se ocupa – a Psicanálise Genética, bem como a
Psicologia Social e Lingüística (1986).
fonte http://www.psicologicus.com/wp-content/
uploads/2011/12/Psicologia-Social-Moderna-500x219.jpg
Os profissionais brasileiros também crêem nessa arti-
culação como fundamento para a teoria e a prática psico-
Vimos que, devido à complexidade do seu objeto de
pedagógica, conforme veremos a seguir.
estudo, são importantes à Psicopedagogia conhecimentos
específicos de diversas outras teorias, as quais incidem
Sonia Moojen Kiguel, fonoaudióloga e psicopedagoga,
sobre os seus objetos de estudos, por exemplo.
ao fazer considerações sobre a abordagem psicopedagó-
gica, diz: “A Psicopedagogia Terapêutica é um campo de
• A Psicanálise encarrega-se do mundo inconscien-
conhecimento relativamente novo que surgiu na fronteira
te, das representações profundas, operantes
entre a pedagogia e a psicologia.
através da dinâmica que se expressa por sintomas
e símbolos, permitindo-nos levar em conta a face
Encontra-se ainda em fase de organização de um cam-
desejante do homem.
po teórico específico visando a integração das ciências pe-
dagógicas, psicológicas, fonoaudiológica, neuropsicológica • Psicologia social encarrega-se da constituição dos
e psicolingüística, para uma compreensão mais integrado- sujeitos, que responde às relações familiares, gru-
ra do fenômeno da aprendizagem humana” (1990, p.25) pais e institucionais, em condições socioculturais

17
Introdução à Psicopedagogia

e econômicas específicas e que contextuam toda sendo adequada? Esta questão envolve aspectos do pro-
a aprendizagem; cesso ensino – aprendizagem que devem ser vistos à luz
de teorias pedagógicas. Além disso, a construção desse
novo objeto de conhecimento – o processo de leitura-es-
• A Epistemologia e a Psicologia Genética se encar-
crita- implica processos cognitivos que podem ser com-
regam de analisar e descrever o processo cons-
preendidos através da Psicologia Genética, por exemplo.
trutivo do conhecimento pelo sujeito em interação
Ou será que o processo se acha inviabilizado na relação
com os outros e com os objetos;
professor-aluno? Estaria o aluno estabelecendo uma rela-
• A lingüística traz a compreensão da linguagem ção transferencial com o professor, a qual não lhe permite
como um dos meios que caracterizam o tipica- o aprender, ou vice-versa? Ou, ainda, o acesso à leitura
mente humano e cultural: a língua enquanto códi- –escrita poderia se haver tornado em algo persecutório

go disponível a todos os membros de uma socie- por estar relacionado com o crescimento? Essa análise,

dade e a fala como fenômeno subjetivo, evolutivo enfim, conforme vimos sublinhando, envolve o respaldo

e historiado de acesso à estrutura simbólica; de outras disciplinas, seja no caso uma cultura psicanalí-
tica que permita identificar mecanismos psíquicos, de re-
• A Pedagogia contribui com as diversas aborda- presentação, que atuam no sentido da não-aprendizagem
gens do processo ensino-aprendizagem, analisan- para esse sujeito.
do-o do ponto de vista de quem ensina;
Mas podemos, por outro lado, estar diante de um caso
• Os fundamentos da Neuropsicologia possibilitan-
em que o sujeito tenha sofrido uma anóxia de parto que
do a compreensão dos mecanismos cerebrais que
lhe ocasionou uma lesão cerebral, atingindo a área cortical
subjazem ao aprimoramento das atividades men-
da linguagem. Como nos asseguramos dessas informa-
tais, indicando-nos a que correspondem do ponto
ções, que, uma vez firmadas, dão um direcionamento mui-
de vista orgânico, todas as evoluções no plano
to diferenciado das situações anteriores? Evidencia-se, é
psíquico.
claro, neste caso, que alguns princípios da Neurologia são
de fundamental importância ao profissional da Psicopeda-
Ora, nenhuma dessas áreas surgiu especificamente gogia, desde o encaminhamento a outros profissionais até
para responder à problemática da aprendizagem humana. a definição da forma de tratamento.
Elas, no entanto, nos fornecem meios para refletir cienti-
ficamente e operar no campo psicopedagogico, o nosso Podemos ainda deparar-nos com uma ocorrência em
campo. que a dificuldade advenha de diferenças culturais e de lin-
guagem. A estranheza dos significados do professor para
Veja um exemplo: uma criança nos é encaminhada por o aluno, e vice-versa, gera problemas na própria comuni-

não estar podendo aprender a ler e a escrever – situação cação, comprometendo deste modo a leitura e a escrita, já

por sinal, bastante comum no dia-a-dia, seja no consultó- que estas se configuram num ato de comunicação. A Lin-

rio, seja na instituição escolar. Recorremos, então, a um güística, nesta situação exemplar, pode oferecer um apa-
rato conceitual que venha operar no sentido de explicar
corpo teórico para que alguns elementos nos ajudem a
ao psicopedagogo a causa da problemática e, quem sabe,
iluminar o epicentro do problema.
permitir-lhe uma eficiente intervenção.

Começamos por analisar algumas questões que sur-


De sua parte, a Psicologia Social nos ilumina a nature-
gem no nosso trabalho de auxiliar esse sujeito a resta-
za do grupo a que pertence o sujeito da aprendizagem, e
belecer o seu processo de aprendizagem ou, por outra, a
as interferências socioculturais desse grupo nesse sujeito.
entrar no curso da aprendizagem. Pois bem, será que a
Enfim, este e os demais exemplos aqui apresentados ates-
metodologia utilizada no processo de alfabetização está

18
Introdução à Psicopedagogia

tam situações em que, requerendo elementos conceituais Menos como uma digressão do que como um breve
de outros corpos teóricos, a Psicopedagogia pensa o seu lembrete poderia sublinhar que Freud já previu a possi-
objeto de estudo, exemplo em que se registra essa coope- bilidade de se recorrer a Psicanálise na compreensão dos
ração, esse operar com outros sobre um problema, uma diversos sintomas (remeta-nos ao uso psicanalítico do ter-
anomalia. mo sintoma).

Os profissionais da Psicopedagogia, como quaisquer O problema de aprendizagem como sintoma pode ser
outros profissionais, sustentam a sua prática em pressu- comparado, na sua dinâmica, como sintoma conversivo.
postos teóricos muitas vezes distintos, conforme já refe- Frente a enfermidades que apareciam no corpo e que não
rido antes. Isto implica diversificados enquadres conse- podiam ser explicadas pela medicina, Freud chega à noção
qüências da identificação do profissional com determinada de inconsciente e entende que o que ocorria era conversão
corrente teórica. simbólica do inconsciente para o corpo.

O Psicopedagogo pode, por exemplo, dentro das teo- A partir daí começa a pensar nas formações do incons-
rias da personalidade, escolher a Psicanálise com o objeti- ciente, entre elas o sintoma. Segundo o criador da Psica-
vo de compreender o sentido inconsciente das dificuldades nálise, o inconsciente não se manifesta e forma direta,
de aprendizagem. Tal escolha estaria alicerçada na condi- nem se pode circunscrevê-lo ou delimitá-lo, mas aparece

ção pessoal de psicopedagogo, a qual é oriunda da sua através das faturas: o chiste, o lapso, o ato falho, o sonho

experiência de análise e das condições da sua formação. e o sintoma.

http://www.mcslink.net/wp-content/
uploads/2013/01/teaching-a-class.jpg

“ O futuro provavelmente atribuirá muito maior impor-


Essa opção implica determinado procedimento prático, tância à psicanálise como a ciência do inconsciente do eu
no qual o trabalho psicopedagogico consistiria em propor à como um procedimento terapêutico”. (Freud, 1976, vol XX,
criança realização de determinadas tarefas e acompanhá- p.303). Como ciência do inconsciente, portanto, a psica-
la na sua execução. O foco de atenção do psicopedagogo, nálise permite a compreensão do sintoma como problema
porém, é a reação da criança diante da tarefa, considerando da aprendizagem, percebendo-o como uma manifestação
resistências, bloqueios, lapsos, hesitações, repetições, humana carregada de significado.
sentimentos e angústias frente a certas situações. Além de
outros procedimentos, o psicopedagogo faz intervenções, Entretanto, não só a Psicanálise recorre o psicopeda-
que visam permitir à criança entrar em contato com o gogo. Como vimos, ele busca conhecimento também na
sentido inconsciente das suas dificuldades. Psicologia genética, na Psicologia Social, na Psicolingüísti-

19
Introdução à Psicopedagogia

ca, etc. Sabemos igualmente que nenhuma dessas áreas tigação que procede o plano de trabalho. Esse diagnóstico
surge para responder aos problemas de aprendizagem: consiste na busca de um saber – fazer. Através das infor-
as diversas combinações entre elas resultam, entretanto, mações obtidas nesse processo de investigação, o psico-
em posturas teórico-práticas diversificadas, porém com pedagogo inicia a construção do seu plano de trabalho. “O
diversos pontos de convergência. Assim, a partir de pres- diagnóstico não completa o olhar interativo nem diagnós-
supostos teóricos iniciais da Medicina, da Psicologia e da tico: todo o processo terapêutico é também diagnóstico”
Pedagogia, foram-se constituindo concepções a cerca dos (Fernández, 1990, p.44), ocorrendo também no trabalho
problemas de aprendizagem, as quais se transformaram institucional, onde após o momento inicial de investigação
e, conseqüentemente, transformaram a prática psicope- inicia-se um processo de intervenção, com a implantação
dagógica, até à configuração atual. De qualquer modo, de recursos capazes de solucionar o problema tão logo
a Psicopedagogia se encontra em fase embrionária e seu este se anuncie. Durante esse processo de intervenção, o
corpo teórico acha-se em construção, amalgamando-se ou profissional não abandona o olhar interpretativo que ca-
estruturando o seu arcabouço lógico – principal ou ideal. racteriza a prática psicopedagógica.
A cada dia surgem novas idéias, novas situações e mais
transformação: o psicopedagogo então transforma teoria A investigação diagnóstica envolve a leitura de um pro-
e, por seu turno, a teoria o transforma. cesso complexo, onde todas as ambigüidades de atribui-
ção de sentido a uma série de manifestações conscientes
Podemos caracterizar a Psicopedagogia como uma e inconscientes se fazem presentes. Interjogam aí o pes-
área de confluência do psicológico (a subjetividade do ser soal, o familiar atual e passado, o sociocultural, o educa-
humano enquanto tal) e do educacional (atividade especi- cional, a aprendizagem sistemática. O decifrado sentido da
ficamente humana, social e cultural). Tratando do mundo dificuldade de aprendizagem repercute sobre o problema
psíquico individual e grupal em relação à aprendizagem que estamos interpretando: a nossa linguagem sobre a
e aos sistemas e processos educativos, o psicopedagogo linguagem da enfermidade nos leva a um compromisso,
ensina como aprende e, para isso, necessita aprender e ou seja, ao diagnóstico, promotor de decisões acerca do
a aprendizagem. Para o psicopedagogo, aprender é um tratamento.
processo que implica por em ação diferentes sistemas que
intervêm em todo sujeito: a rede de relações e códigos
“Todavia, más que em El adulto, nos encontramos em
culturais e de linguagem que, desde antes do nascimento,
El niño frente a dudas nosográficas. Sujeito em evolucíon,
têm lugar em cada ser humano à medida que ele se incor-
el niño ES móvil em SUS estructuras y lábil en sus manifes-
pora à sociedade.
taciones; lo mismo pasa en Patología” (Ajuriaguerra, 1970,
p.1). Estas observações de Ajuriaguerra nos falam das di-
A aprendizagem afinal é responsável pela inserção da
ficultades inerentes ao processo diagnóstico no trabalho
pessoa no mundo da cultura. Mediante a aprendizagem,
psicopedagógico com a criança e com o adolescente.
o indivíduo se incorpora ao mundo cultural, com uma par-
ticipação ativa, ao se apropriar de conhecimentos e téc-
A leitura do diagnóstico pode variar segundo cada pro-
nicas, construindo em sua interioridade um universo de
fissional, em função da sua formação, dos marcos referen-
representações simbólicas.
ciais que sustentam a sua prática e a abordagem teórica
com a qual ele se identifica. Esta questão é a inda mais
Pois bem. Neste trabalho de ensinar a aprender, o psi-
controvertida quando se fala na atuação psicopedagogica
copedagogo recorre a critérios diagnósticos no sentido
no Brasil, devido às suas condições de formação.
de compreender a falha na aprendizagem. Daí o caráter
clínico da Psicopedagogia, ainda que seu objetivo seja a
Atualmente, a Psicopedagogia refere-se a um saber
prevenção dos problemas de aprendizagem. Clínico por-
e a um saber-fazer, ás condições subjetivas e relacionais
que envolve sempre um processo diagnóstico ou de inves-
– em especial familiares e escolares – às inibições, atra-

20
Introdução à Psicopedagogia

sos e desvios do sujeito ou grupo a ser diagnosticado. O • participar da dinâmica das relações da comuni-
conhecimento psicopedagógico não se caracteriza numa dade educativa, a fim de favorecer processos de
delimitação fixa, nem nos déficits e alterações subjetivas integração e troca;
do aprender, mas avalia a possibilidade do sujeito, a dis-
• promover orientações metodológicas de acordo
ponibilidade afetiva de saber e de fazer, reconhecendo que
com as características dos indivíduos e grupos;
o saber é próprio do sujeito.
• realizar processos de orientação educacional, vo-
O Campo de Atuação da Psicopedagogia cacional e ocupacional, tanto na forma individual
quanto em grupo.
O campo de atuação do psicopedagogo refer-se não só
ao espaço físico onde se dá esse trabalho, mas especial-
O trabalho psicopedagógico pode, certamente, ter um
mente ao espaço epistemológico que lhe cabe, ou seja, o
caráter assistencial. Isso acontece quando, por exemplo,
lugar deste campo de atividade e o modo de abordar o seu
o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela
objeto de estudo.
elaboração, direção e evolução de planos, programas e
A forma de abordar o objeto de estudo pode assumir projetos no setor da educação e saúde, integrando dife-
características específicas, a depender da modalidade: clí- rentes campos de conhecimento. A Psicopedagogia ocupa-
nica, preventiva e teórica, uma articulando-se as outras. O -se, assim, de todo o contexto da aprendizagem, seja na
trabalho clínico não deixa de ser preventivo, uma vez que, área clínica, preventiva, assistencial, envolvendo elabora-
ao tratar alguns transtornos de aprendizagem, pode evitar ção teórica no sentido de relacionar os fatos envolvidos
o aparecimento de outros. nesse ponto de convergência em que opera.

O trabalho preventivo, numa abordagem psicopedagó- A elaboração teórica visa criar um corpo teórico da Psi-
gica, é sempre clínico, levando em conta a singularidade copedagogia, com processos de investigação e diagnóstico
de cada processo. Essas duas formas de atuação, por sua
que lhe seja específico, através de estudos das questões
vez, não deixam de resultar num trabalho teórico. Tanto
educacionais e da saúde no que concerne ao processo de
na prática preventiva como na clínica, o profissional, como
aprendizagem.
já vimos anteriormente, procede sempre embasado no re-
ferencial teórico adotado.

Ao delimitar o campo de atuação do trabalho psicope-


dagógico, deve-se, no entanto, diferenciar essas modali-
dades de atuação, especificamente as suas tarefas.

Dessa forma, o trabalho psicopedagógico na área pre-


ventiva é de orientação no processo ensino- aprendiza-
gem, visando favorecer a apropriação do conhecimento no
ser humano, ao longo da sua evolução. Esse trabalho pode
se dar na forma individual ou na grupal, na área da saúde
mental e da educação.

Na sua função preventiva, cabe ao psicopedagogo:


Implica, desta maneira, uma reflexão constante sobre
• detectar possíveis perturbações no processo de a pertinência da aplicação das diversas teorias ao campo
aprendizagem; da Psicopedagogia, por meio de avaliação da prática resul-

21
Introdução à Psicopedagogia

tantes desses pressupostos. Esse trabalho consiste numa 3 - Desenvolvimento do raciocínio – Trabalho feito com
leitura e releitura do processo de aprendizagem e do pro- os processos de pensamento necessários ao ato de
cesso da não aprendizagem, bem como da aplicabilidade aprender. Os jogos são muitos utilizados, pois são
e conceitos teóricos que lhe dêem novos contornos e sig- férteis no sentido de criarem um contexto de ob-
nificados, gerando práticas mais consistentes. servação e diálogo sobre processos de pensar o co-
nhecimento. Este procedimento pode promover um
Já na área da saúde, o trabalho é feito em consultó- desenvolvimento cognitivo maior do que as escolas
rios privados e/ou em instituições de saúde (como hospi- costumam conseguir.
tais), no sentido de reconhecer e atender às alterações da
aprendizagem sistemáticas e/ou assistemáticas, de natu- 4 - Atendimento de crianças – A psicopedagogia se pres-
reza patológica. Existe também uma proposta de atuação ta a atender deficientes mentais, autistas ou com-
nas empresas, onde o objetivo seria favorecer a aprendi- prometimentos orgânicos mais graves, podendo até
zagem do sujeito para uma nova função, auxiliando-o para substituir o trabalho da escola.
um desenvolvimento mais efetivo de suas atividades.
Para Lino de Macedo, estas quatro atividades não são
Historicamente, a Psicopedagogia nasceu para atender excludentes entre si e nem em relação a outras. O atendi-
a patologia de aprendizagem, mas ela se tem voltado cada mento psicopedagógico poderá, em determinados casos,
vez mais a uma ação preventiva, acreditando que muitas recorrer a propostas corporais, artísticas etc. De qualquer
dificuldades se devem à inadequada Pedagogia institucio- forma, está sempre relacionado com o trabalho escolar,
nal e familiar. A proposta da Psicopedagogia, numa ação ainda que com ele não esteja diretamente comprometido.
preventiva, é adotar uma proposta crítica frente ao fracas-
so escolar, numa concepção mais totalizante, visando pro- Para Janine Mery (1985), psicopedagogo é um profes-
por novas alternativas de ação voltadas para a melhoria da sor do tipo particular que realiza a sua tarefa de pedago-
prática pedagógica nas escolas. go sem perder de vista os propósitos terapêuticos da sua
ação. Qualquer que tenha sido a sua formação (psicólogo,
Segundo Lino de Macedo (1990), o psicopedagogo, no pedagogo, fonoaudiólogo, professor), ele assumirá sem-
Brasil, ocupa-se das seguintes atividades: pre a dupla polaridade do seu papel, o que determina-
rá seu modo de ser perante a criança e seus familiares,
1 - Orientação de estudos – Consiste em organizar a bem como diante da equipe a que pertence. O trabalho do
vida escolar da criança quando esta não sabe fazê- psicopedagogo, de acordo com Mery, possui as seguintes
-lo espontaneamente. Procura-se promover o melhor especificidades:
uso do tempo, a elaboração de uma agenda e tudo
aquilo que é necessário ao “como estudar” (como • o “distúrbio de aprendizagem’ é encara do como
ler um texto, como escrever, como estudar para a uma manifestação de uma perturbação que en-
prova,etc.). volve a totalidade da personalidade;

2 - Apropriação dos conteúdos escolares - O psicopeda- • o desenvolvimento infantil é considerado a partir

gogo visa propiciar o domínio de disciplinas escolares de uma perspectiva dinâmica, e é dentro dessa

em que a criança não vem tendo um bom aproveita- evolução dinâmica que o sintoma “distúrbio de

mento. Ele se diferencia do professor particular, pois aprendizagem” é estudado. Assim, se for ofere-

o conteúdo escolar é usado apenas como uma estra- cida uma forma de relação melhor e diferente à

tégia para ajudar e favorecer ao aluno o domínio de criança, ela deverá retomar a sua evolução moral.

si próprio e as condições necessárias ao desenvolvi- • a neutralidade do papel do papel do psicopedago-


mento cognitivo. go é negada, e este conhece a importância da re-

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Introdução à Psicopedagogia

lação transferencial entre o profissional e o sujeito pelo fracasso, atrasos que poderiam explicar e
da aprendizagem; assim justificar o que não conseguem correspon-
der quanto ao seu desempenho. E sim no aluno,
• objetivo do psicopedagogo é levar o sujeito a
aquele ser integral e não fracionado com o qual
reintegrar-se à vida escolar normal, respeitando
necessitamos estabelecer um vínculo significati-
as suas possibilidades e interesses
vo para assim compreender como ele apreen-
de as informações e realiza sua aprendizagem.
O psicopedagogo, ainda segundo Janine Mery (1985),
Devemos compreender que o fracasso escolar
respeita a escola tal como é, apesar de suas imperfeições,
acontece por varias mãos e não esta centraliza-
porque é através da escola que o aluno se situará em rela-
da no aluno. São vários os caminhos que poderá
ção aos seus semelhantes, optará por uma profissão, par-
levar ao sucesso dentre eles o desejo de ensinar
ticipará da construção coletiva da sociedade à qual perten-
e de aprender envolvidos nas relações que se
ce. Este fato não impedirá que o psicopedagogo colabore
estabelecem. A Psicopedagogia é uma área de
para melhoria das condições de trabalho numa determina-
competência para trabalhar essas questões que
da escola ou na conquista de seus objetivos.
se referem as dificuldades de aprendizagem e
assim buscar caminhos que possam promover
Mas, em seu trabalho, ele deverá fazer com que a
sucesso. Vamos compreender agora um pouco
criança enfrente a escola de hoje e não a de amanhã. Esse
sobre esses saberes dos quais estamos nos re-
enfrentamento, no entanto, não significa impor à criança
ferindo no texto da professora Maria Célia Malta
normas arbitrárias ou sufocar-lhe a individualidade.
Campos:

Busca-se sempre desenvolver e expandir a persona-


lidade do indivíduo, favorecendo as suas iniciativas pes-
Colocando-se nas encruzilhadas do
soais, suscitando os seus interesses, respeitando os seus saber:
gostos e não impondo atividades, procurando sugerir pelo Desafios da Psicopagogia
menos duas vias para a escolha do rumo a ser tomado,
permitindo a opção. Assim, tanto no seu exercício na área Maria Célia Malta Campos
educativa como na da saúde, pode-se considerar que o
psicopedagogo tem uma atitude clínica frente ao seu ob-
jeto de estudo. Isto não implica que o lugar de trabalho Institucionalizar o psicopedagogo como profissão é a
seja a clínica, mas se refere ás atitudes do profissional ao questão que hoje debatemos, em seus prós e contras.
longo da sua atuação.
A Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) teve
Refletindo um pouco... um papel destacado na consolidação das propostas com
essa finalidade, viabilizando o encaminhamento ao Con-
Parece-nos que o essencial é por em ques- gresso Nacional do Ante-projeto de lei número 3124/97,
tão a modalidade tradicional de atendimento da que dispõe sobre a regulamentação do exercício profissio-
queixa escolar, seja ela feita por médicos, psicó- nal do psicopedagogo, cria o Conselho Federal e os Conse-
logos ou psicopedagogos. O que está em ques- lhos regionais de psicopedagogia.
tão é o contingente crianças e adolescentes bra-
sileiros que precisam ser entendido e atendidos Este anteprojeto recebeu parecer favorável á aprova-
quanto as sua dificuldades de aprendizagem. O ção na Comissão do trabalho e, atualmente encontra-se na
foco deve estar no aluno, mas na como prota- Comissão da Educação, aguardando parecer da relatora
gonista dessa situação e responsável por si só Deputada Marisa Serrano. Na exposição de motivos que

23
Introdução à Psicopedagogia

sustenta esta proposta destaca-se o quadro de injustiça articulação teórico-prática que os educadores tanto bus-
social que presenciamos em nosso pais, pela exclusão sis- cavam. A partir de 1980, os primeiros profissionais forma-
temática da escola de uma grande parcela de crianças e dos nesses cursos constituíram a Associação Brasileira de
jovens, apesar de inúmeros programas e iniciativas educa- Psicopedagogia, com a finalidade de promover o aperfei-
cionais. A igualdade de condições para todas as crianças çoamento cultural e realização de cursos e de encontros
é reclamada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. A científicos, além de publicação de um periódico especiali-
partir dessa nova necessidade percebida pela sociedade zado na área.
na inclusão das crianças com necessidades educacionais
especiais, coloca-se em questão, ainda não resolvida a
contento, da integração das crianças sem tais necessida-
des, mas tampouco aprendem e se desenvolvem no con-
texto escolar.

Faz-se necessário uma atuação que reverta esse pro-


cesso de exclusão escolar, que é sobretudo uma exclusão
social, mediante a promoção de uma mudança de compor-
tamento do professor em relação ao aluno com dificulda- http://www.abpppara.com.br/wp-content/
uploads/2011/09/Home-31.jpg
des de aprendizagem. Políticas educacionais sem solução
de continuidade e que não visam promover mudanças de
Essas iniciativas foram gradualmente permitindo a
postura não chegam a romper com a homogeneidade li-
construção de um modelo brasileiro de Psicopedagogia,
near da escola e não têm promovido o reconhecimento e
pela assimilação das contribuições já existentes em outros
a reconstituição da individualidade desses alunos. O es-
países às nossas peculiaridades e necessidades. A defini-
forço da Psicopedagogia é no sentido da recuperação da
ção de um perfil profissional foi o centro das preocupações
visão integradora da Educação, abrangendo uma visão de
e dos esforços da ABPq que, em conjunto com represen-
todo o processo educativo: para isso, é preciso retroceder
tantes das instituições e ensino e coordenadores de cursos
no processo de habilitações e de fragmentação disciplinar
de psicopedagogia, procurou levantar critérios para a for-
na formação inicial e recuperar o que se perdeu com as
mação além de identificar as funções e as áreas nas quais
especializações prematuras e com o olhar unilateral do es-
esse profissional poderia atuar.
pecialista.

Essas reflexões e discussões conjuntas concretizaram-


Os primeiros cursos na área das dificuldades de apren-
-se na elaboração de um modelo curricular que mantém a
dizagem, percussores dos atuais cursos, iniciaram-se em
formação do psicopedagogo em nível de pós-graduação,
Porto Alegre e em São Paulo , na década de 70, por força
porém propõe alguns critérios visando aprofundar essa
da demanda de educadores à busca de mais e melhores
formação para além dos requisitos mínimos estipulados
recursos para compreender e poder atuar frente às crian-
pelas normas a pós-graduação lato sensu.
ças que não aprendiam. Lembremo-nos de que, nessa
época, uma nova clientela adentrava a escola e, conco-
São eles:
mitantemente, os padrões ensino e de condições mate-
riais da escola pública decaiam. De lá para nossos dias, a
formação do psicopedagogo passou a ocorrer em cursos • - a ampliação da carga horária para além das 360

de especialização lato sensu, conforme a resolução 12/83 horas previstas na especialização;

do Conselho Federal de Educação. De inicio, assistimos a • - a formação em Psicopedagogia abrangendo tan-


um crescimento indiscriminado desses cursos com ênfase to a área de atuação Institucional com a área Cli-
unicamente num embasamento teórico, sem a desejada nica.

24
Introdução à Psicopedagogia

• a necessidade do estágio prático supervisionado Para sustentar melhor a discussão que esta mesa-re-
em ambas as áreas; donda promove acerca da regulamentação profissional do
psicopedagogo, quero abordar o documento “A identida-
• a ênfase na articulação teórica-prática, propicia-
da pela participação de docentes com experiência de profissional do Psicopedagogo”, publicado no n. 19 do

profissional na área; BOLETIM da ABPp, de 1990, já que a partir desse mate-


rial foi possível um discurso mais homogêneo a respeito
• o encaminhamento da formação pessoal do alu-
das questões relativas à formação e, em grande parte,
no-profissional, em relação sobretudo às suas
podem-se empreender as articulações visando o reconhe-
modalidades de aprendi\agem.
cimento legal da profissão.

Esse modelo de formação foi pensado, portanto, no Esse documento define a Psicopedagogia como a área
sentido de integrar aos conhecimentos teóricos uma mu- que estuda e lida com o processo de aprendizagem e suas
dança de postura frente ao processo de aprendizagem e dificuldades, tendo como objetivo de estudo tanto o sujei-
suas dificuldades, sem o que não se efetivam as trans- to do conhecimento como as instituições e os agentes de
formações necessárias no contexto escolar. Verifica-se no transmissão.
decorrer do tempo e a partir da percepção de novas ne-
Em relação aos campos de conhecimento que contri-
cessidades para a formação do psicopedagogo a produção
buem para a formação psicopedagógica são identificadas
de uma incoerência: um curso destinado a uma especiali-
como relevantes:
zação está servindo efetivamente para formar como pro-
fessor, como técnico educacional, administrador escolar ou
ainda como psicólogo escolar ou clinico. • Fundamentos da Filosofia, tendo em vista a cons-
ciência dos valores na relação ensino-aprendia-
Algumas mudanças significativas já vêm ocorrendo
gem e as implicações teórico-práticas para a com-
nesses cursos, sendo que a formação teórica inicialmente
preensão do sujeito que aprende das diferentes
contemplada sob a forma de especialização vem sendo fre-
posturas filosóficas.
qüentemente contemplada e aprofundada através de está-
gios supervisionados e de um aumento significativo na car- • Fundamentos da Lingüística que possam embasar
ga horária. Outro aspecto desse processo de transformação a compreensão da comunicação nos sés aspectos
diz respeito à progressiva extensão dessa formação tanto sociais e cognitivos bem como seu papel decisivo
na via ascendente, em cursos de mestrado profissionalmen- na estruturação da subjetividade.
te, como na via descendente, em disciplinas optativas da
graduação em Pedagogia. • Fundamentos da Sociologia que levem em consi-
deração o contexto social do sujeito bem como as
relações entre sociedade, educação escola.

• Psicologia Genética visando fundamentar a leitura


dos comportamentos em termos de estruturação
lógica e de processos evolutivos.

• Teóricas da Aprendizagem que propiciem a siste-


matização das condições favoráveis à aprendiza-
gem com um referencial teórico.

• Pedagogia e Didática com finalidade de constru-


http://www.trajetoconsultoria.com.br/acerteorumo/ ção e avaliação de situações e de atitudes de en-
wp-content/uploads/psicologia.jpg
sino-aprendizagem.

25
Introdução à Psicopedagogia

• - Psicologia Institucional, a fim de embasar a aná- mento, Nesse sentido, busca-se identificar os obstáculos
lise, a intervenção e a coordenação de relações ao desenvolvimento do processo de aprendizagem por
inter e intragrupal, podendo lidar com situações meio de técnicas especificas de análise institucional e pe-
de conflito e de crise institucional. dagógica. Nesse caso, a intervenção é o sistema (familiar,
escolar, sanitário-hospitalar) mediante a conscientização
• Fundamentos da Biologia que permitam avaliar os
dos conflitos que provocam a fragmentação dos conhe-
aspectos orgânicos da aprendizagem.
cimentos e o impedimento de sua livre circulação e apro-
• Teorias da Personalidade direcionadas para a con- priação pelos diversos grupos que integram o sistema; a
sideração e interpretação dos significados afetivos facilitação da informação a todos os níveis da instituição
do conhecimento para o sujeito. e a atualização de conhecimentos a respeitos de atitudes
pedagógicas com dificuldades de elaboração; finalmente,
• Fundamentos do atendimento psicopedagogico,
a implantação de recursos preventivos que evitem o re-
integrando os métodos, enquadres e recursos
trocesso.
para o diagnóstico e para a intervenção seja no
âmbito clínico como no institucional.
O fracasso escolar, a repetência e a evasão, fenôme-
nos que insistentemente permanecem nos atuais quadros
Temos assim dois campos de atuação prática, o clínico educacionais brasileiros, tem sido estudados sob o enfo-
e o institucional, que se integram a uma terceira área que sociológico ou sob o enfoque organicista. De qualquer
de trabalho, e da atividade teórica, indispensável para a modo, os problemas e percalços no processo de aprendi-
construção de teoria especifica que sustente a prática, me- zagem de nossas crianças tem sido compreendidos sob a
diante a aplicação controlada de diversas teorias clínicas ótica da patologização.
ao campo da aprendizagem.
Ora a “doença” é da estrutura social e o aprendiz que
O campo de atuação clínica caracteriza-se como aquele fracassa é visto enquanto um indivíduo, representante de
que se dedica ao sujeito, num trabalho terapêutico sobre uma classe social marginalizada, falante de um dialeto es-
o problema instalado, visando a reelaboração e retomada tranho ao padrão culto da língua e com práticas sociais
do processo de aprendizagem que apresenta dificuldade, muito distantes das práticas do professor, ora o “mal” que
de modo a desenvolver a autonomia e devolver prazer na enfeia nossas estatísticas educacionais é visto como sendo
atividade de aprender. de origem biológica, situação em que muitas vezes o psi-
cológico também em sua parte, enquanto aspectos neu-
Deste trabalho fazem parte um diagnóstico do sintoma rológicos, maturacionais, perceptivos, motivacionais e de
da não aprendizagem através de técnicas especificas e da rendimento intelectual.
integração de dados de outras áreas, tais como, escolares,
neurologias, psicológicas e fonoaudiológicas. O tratamen- Quando, no quadro dessa problemática, se atenta para
to pode ser individual ou grupal mas deve ser comple- o professor, o enfoque está centrado no incremento da
mentado com orientação do grupo familiar em relação ao competência da ação docente, na sua instrumentação
processo de aprendizagem bem como a orientação junto técnica, nos objetivos, planos e recursos institucionais,
à escola, face aos aspectos evidenciados no diagnósticos na análise fenomênica das interações professor-aluno em
e/ou tratamento. sala de aula.

A outra área de atuação, denominada institucional, visa


De alguma forma em variados graus todos esses fato-
colaborar com a instituição familiar, escolar, educativa em
res acima citados concorrem para a produção do fracasso
geral ou de saúde a fim de que possam mais efetivamente
escolar, e nenhum pode ser excluído de uma análise e de
cumprir seu papel transmissor e construtor de conheci-
uma intervenção sobre o problema.

26
Introdução à Psicopedagogia

No entanto, algo se perde nessas análises e interven- por uma questão interdisciplinar, El interroga e desafia as
ções: falo da singularidade resultante da integração de divisões tradicionais dos campos de conhecimento e as
todos esses aspectos num sujeito, aprendiz ou mestre; especializações profissionais, constituindo-se como uma
do modo único como cada integrante da relação ensino- área de convergência conceitual ao se debruçar sobre as
-aprendizagem percebe, representa e promove seu con- situações sociais, psicológicas e pedagógicas que revelam
tato com o conhecimento que fui (ou não) nessa relação. o sujeito diante do qual atuamos. Na prática profissional, a
psicopedagogia busca construir ma síntese entre as varias
As abordagens sociológicas e psico-biológicas que pro- disciplinas e especialidades, ultrapassando os limites da
curam contribuir para explicar e/ou amenizar o fracasso cada uma.
da escola trazem consigo uma visão epistemológica a res-
peito do ser humano, de seu desenvolvimento e de sua Voltando à questão do exercício profissional, a proble-
aprendizagem fundadas numa cisão entre cognitivo e afe- mática da aprendizagem exige que se regulamente os re-

tivo, entre objetividade e subjetividade. O ser humano em quisitos profissionais não da forma tradicional, a partir do

processo de aprendizagem tem sido um objeto de estudo ponto de saída de cada especialista, mas visando o ponto

fragmentado, o qual a Psicopedagogia procura recompor de chegada: a compreensão dos múltiplos fatores envolvi-

para poder enxergar no educando o que transcende ao dos na aprendizagem e nas suas dificuldades. É nesse sen-

conhecimento das diferentes disciplinas, sejam elas psi- tido que a competência profissional não pode ser definida
e atribuída a priori, pois ela não decorre diretamente da
cológicas, sociológicas ou pedagógicas. A visão científica
área de formação, mas dos resultados obtidos na prática
e disciplinar tradicional impõe e fixa requisitos da qualifi-
profissional.
cação profissional inicial, reforçando a especialização e a
divisão entre as diversas práticas, inclusive defendendo o
Acima de tudo, sustento que não é útil é causa da Edu-
corporativismo.
cação em nosso país, entre tantas e tão graves carências,
discriminação corporativista dos campos de atuação entre
educadores, psicológicos educacionais e psicopedagogos,
pois todos podem e devem desempenhar papéis seme-
lhantes, centrados e unidos na construção de uma prática
profissional consciente, como um fazer refletido e continu-
amente revisto através de uma olhar crítico.

Links para vídeos da psicopedagogia

vídeo disponível
A Psicopedagogia -
http://www.youtube.com/
fonte: http://www.diariodamanha.com/docs/dm%20sala4.JPG
watch?v=WiLUKGDXy0A

Contexto Escolar -
A especificidade da formação e da atuação do psico-
http://www.youtube.com/watch?v=wED67
pedagogo consiste na abertura de visões que permitam
_8_j_A&feature=related
recompor esse objeto de estudo e de ação. Numa volta
á Educação generalista, a Psicopedagogia procura resga- Contexto Familiar -
tar uma visão abrangente sobre a aprendizagem, apoiada http://www.youtube.com/watch?v=TR6spk
num base ampla de formação e aliada ao autoconheci- rqROs&feature=related
mento a respeito dos modelos de relação com o conheci-
mento das vicissitudes na historia dessa relação. Ao pro-

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Introdução à Psicopedagogia

Referências
Bossa, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribui-
ções a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

Masini, Elcie S. Ação Psicopedagogica. São Paulo: Me-


mnon, 2000.

Algumas questões anteriores a profissionalização


in;  Masini, Elcie Salsano.Ação Psicopadagogica. São
Paulo; Memnon: Mackenzie, 2000.

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