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Educação, diferença e psicologia

Article  in  Analise Psicologica · April 2010


DOI: 10.14417/ap.292

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Sérgio Gaitas José Morgado


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Análise Psicológica (2010), 2 (XXVIII): 359-375

Educação, diferença e psicologia

SÉRGIO GAITAS (*)


JOSÉ MORGADO (**)

Na actualidade, a perspectiva sociocultural da 2007; Johnson & Johnson, 1990, 1994; Johnson,
educação assume cada vez mais um papel de Maruyama, Johnson, Nelson, & Skon, 1981;
referência. Esse interesse deve-se a diversos Qin, Johnson, & Johnson, 1995; Slavin, 1991,
factores, entre eles o lugar de destaque e a 1996, 1998).
aceitação, cada vez mais generalizada, de uma Outros contributos (e.g., Johnson & Johnson
visão dos processos escolares de ensino e 1998; Putnam, 1998) voltam a corroborar esta
aprendizagem apoiada nas teorias sociocons- posição. Suportam que quanto maior a
trutivistas. Para estas, a aprendizagem é diversidade entre os alunos, maior a possibili-
concebida como um processo de construção, dade de esta ser mobilizada positivamente,
com um carácter intrinsecamente social, potenciando processos de cooperação e,
interpessoal e comunicativo, e o ensino como um consequentemente, índices superiores de
processo complexo de estruturação e orientação, desenvolvimento.
mediante diversos apoios e suportes dessa De uma forma geral, o sucesso da aprendi-
construção (Coll, 2004; Pontecorvo, 2003; zagem cooperativa, frente a outros modelos de
Pontecorvo, Ajello, & Zucchermaglio, 2005). É organização da aprendizagem, verifica-se em
portanto, um processo no qual a diversidade relação a todos os tipos de estudantes,
presente em todos os alunos representa um papel independentemente do género, da etnia e da
exclusivo e absolutamente necessário como competência académica, pois existem ganhos
fonte de desenvolvimento cognitivo e social. para os alunos mais e menos competentes (e.g.,
Importa também referir a crescente impor- Mata, 2001; Monteiro, 1996; Slavin, 1991).
tância atribuída ao efeito positivo da utilização Assim, a recorrente preocupação de que a
de métodos de aprendizagem cooperativa sobre a aprendizagem cooperativa pode prejudicar os
realização escolar. Quando se investiga alunos mais competentes não se verifica
comparativamente os diferentes métodos de empírica nem teoricamente, servindo-nos da
aprendizagem (cooperativo, competitivo e teoria de Vigotsky para explicitar os benefícios
individualista) os resultados revelam inequivoca- que ambos retiram na interacção entre sujeitos
mente a mesma tendência: uma maior eficácia da mais e menos competentes (Pontecorvo, Ajello,
aprendizagem cooperativa no que respeita ao & Zucchermaglio, 2005).
sucesso educativo (e.g., Darnon, Doll, & Butera, Retomando o pensamento de Vygotsky
(1924), todos os méritos das escolas de ensino
especial são comprometidos por um pressuposto
(*) ISPA – Instituto Universitário, Rua Jardim do
Tabaco, 34, 1149-041 Lisboa, Portugal; E-mail: evidente: independentemente do diagnóstico a
sergiogaitas@gmail.com / jmorgado@ispa.pt que estejam sujeitos os alunos, a escola especial

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(ou um qualquer diagnóstico médico), tranca os que sejam desenvolvidos, tendo por base um
seus alunos especiais no círculo estreito do seu pressuposto médico que substitui o paradigma
colectivo. Este sistema cria um pequeno mundo, educacional, direccionam todo o processo de
separado, delimitado por um horário (escolar), aprendizagem para a incapacidade da criança e
onde tudo é ajustado e adaptado à incapacidade não a acompanham na introdução na cultura e
das crianças. vida social, no contexto que um dia a irá acolher,
Neste ambiente tudo fixa a atenção no inibindo as capacidades das crianças e
problema da criança, comprometendo-a exacta- mascarando os processos educativos.
mente por essa mesma razão. Aqui, não só não Em última análise, uma vez que todos os
existe desenvolvimento, como também todas as instrumentos são sociais porque se encontram
forças na criança que a teriam ajudado, poste- fora do organismo, estamos a negar o acesso à
riormente, a introduzir-se na vida sociocultural cultura e ao desenvolvimento das funções
ficam sistematicamente fragilizadas (Tudge, mentais superiores (Vygotsky, 1924), pois o seu
2002). desenvolvimento é adquirido sob a influência da
Como Vygotsky (1924) indica na sua discus- necessidade “if a child has no need to think, then
são de educação de crianças com necessidades he will never think” (p. 166). A aprendizagem
educativas especiais, as modificações que humana, tal como o desenvolvimento, prevê
surgem no contexto da educação podem ter uma natureza social determinada e um processo
consequências profundamente negativas no a partir do qual as crianças entram na vida
processo de desenvolvimento pois, uma vez intelectual da sociedade (Moll, 2002; Vigotsky,
marcada com um estigma, a criança é colocada 1938/1988; Wertsch, 1985, 1993).
em circunstâncias sociais completamente Bacon cit. por Bruner (1996, p. 199) refere
diferentes e o seu trajecto de desenvolvimento que “nem a mão nem o intelecto valem muito
segue uma direcção completamente nova por si mesmos, apenas com instrumentos e
(Tudge, 2002). Não significa que o autor tenha ajudas é que se aperfeiçoam (ou completam) as
concebido o processo de desenvolvimento como coisas”
unidireccional, onde as crianças com incapaci- Por essa razão, crianças que foram sujeitas a
dades são de algum modo mais limitadas num ambientes redutores evidenciam, muitas vezes,
contínuo de desenvolvimento, mas postulou que uma debilidade de inteligência que só poderá ser
o desenvolvimento pode proceder ao longo de compensada através de enérgicas medidas de
linhas inteiramente separadas. Sustenta que isto enriquecimento (Bruner, 1999), colocando
seria especialmente verdadeiro quando as ênfase numa avaliação essencialmente
crianças foram etiquetadas e tratadas de acordo educacional.
com essa etiqueta (Tudge, 2002). Vigotsky (1938/1988) afasta-se de todas as
Em simultâneo, Vigotsky (1938/1988) teorias que até então tentaram relacionar
considera que as crianças com um qualquer desenvolvimento e aprendizagem, sustentando
compromisso intelectual que não são expostas ao que todo o funcionamento psicológico do
pensamento abstracto na sua educação (porque indivíduo tem profundas raízes sociais. Segundo
supostamente são apenas capazes de pensamento o autor, cada função aparece a dois níveis no
concreto), são conduzidas, a longo prazo, à desenvolvimento cultural da criança. Primeiro
inibição das capacidades de pensamento ela manifesta-se a nível interpessoal, como
abstracto que ainda possam mobilizar. Como categoria interpsicológica e, apenas posterior-
exemplo há indícios que o domínio inicial da mente, a nível da criança como categoria
linguagem depende fortemente de uma primeira intrapsicológica.
preparação, isto é, somos levados a pensar que Podemos sintetizar esta ideia referindo que
grande parte das brincadeiras das crianças deve em vez de ajudar as crianças a contornar
ser entendida como um exercício do aprender, potenciais mundos isolados, a nossa escola
apropriar-se com e do mundo social que a rodeia especial ou os diagnósticos precipitados e
(Vygotsky, 1924). Deste ponto de vista, podemos descontextualizados da vida social, normalmente
considerar que todos os mecanismos de apoio desenvolvem nos alunos tendências que os

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dirigem em direcção a um maior isolamento, não constituído no interior de cada uma delas várias
apenas social, mas igualmente individual, disciplinas bem diferenciadas o que permite,
desconhecendo e levando ao esquecimento das naturalmente, uma especificidade cada vez maior
suas capacidades (Vygotsky, 1924), pois é na das temáticas envolvidas. Apesar disso, estes
relação com os outros que nos conhecemos. dois domínios encontram-se profundamente
Numa perspectiva sociocultural do desenvol- ligados, existindo entre eles vários pontos de
vimento, entrar numa cultura significa não só intersecção (Fonseca, Seabra-Santos, & Gaspar,
receber, incorporar essa mesma cultura, mas 2007). Estes pontos de intersecção são
também o enriquecimento dos processos de facilmente perceptíveis através da análise
desenvolvimento cognitivo. Todas estas razões histórica do desenvolvimento da psicologia
fazem com que a educação das crianças fique educacional como disciplina, percebendo-se a
paralisada e eleve uma educação dita especial, sua relação com as funções mais significativas
com todos os custos inerentes, a quase nada que a psicologia foi assumindo (COP, 2008).
(Vygotsky, 1924). Alcançado o princípio genérico da escolari-
A educação das crianças tem que ser vista dade obrigatória, o desafio que se coloca à
como um problema social. O nosso trabalho escola é que esta possa responder com qualidade
será desenvolver, tanto quanto nos for possível, à diversidade dos alunos (Morgado, 2003a,
os instrumentos intelectuais de relação com o 2004), surgindo a necessidade de fazer desapa-
mundo exterior. A questão central é a natureza recer a ideia ingénua da existência de turmas
dos problemas que as crianças podem encontrar homogéneas (Meirieu, 1997; Niza, 1996). Deste
na sua entrada no mundo social e naturalmente modo, o desafio que os sistemas educativos de
cultural (Vygotsky, 1924). todo o mundo terão de aceitar é a capacidade de
Vygotsky (1924) postulou que as crianças desenvolverem uma educação inclusiva que
com qualquer incapacidade mental ou física procura o sucesso com e para todos os alunos
devem ver assegurada a sua educação na escola (Ainsow & César, 2006).
do ensino regular e não educadas com crianças Poderíamos ser levados a pensar que este
com a mesma incapacidade. O autor considerou, desafio está directamente relacionado com os
como já referimos, que se as crianças com países mais pobres, onde milhões de crianças
deficiências físicas ou mentais fossem educadas não conseguem aceder a nenhuma forma de
separadamente das crianças consideradas educação formal (Bellamy, 1999). Porém, em
normais o seu desenvolvimento procederia de países mais desenvolvidos, incluindo Portugal, o
um modo totalmente diferente, e não benéfico, desafio permanece. Assistimos a níveis elevados
levando à inevitável criação de pessoas com de insucesso e abandono, muitos jovens
dificuldades na relação com o mundo e consigo abandonam a escola sem qualificações, acedendo
próprias (Tudge, 2002). a percursos paralelos ao ensino regular, ou ainda
Assim, para determinar a natureza e o crianças que preferem seguir outro percurso
caminho do desenvolvimento, torna-se essencial porque a escola, na forma como se revela, em
examinar o ambiente social no qual o desenvol- nada parece ser relevante para as suas vidas
vimento ocorre. Isto é igualmente verdadeiro (César & Oliveira, 2005).
para as crianças que não têm à partida nenhum Igualmente Ainscow (1997) considera que, no
tipo de restrição na participação social (Tudge, que respeita à inclusão de todos os alunos no
2002). sistema educativo, muito há a fazer, pois existem
O que está em questão não é tanto o muitas crianças que são excluídas, vendo o seu
diagnóstico, mas sim as formas de aceder ao direito a aprender negado porque a qualidade de
meio cultural que nos define enquanto humanos ensino não é satisfatória ou ainda porque a
e nos permitem adquirir os instrumentos organização das escolas e das salas de aula não
socioculturais historicamente desenvolvidos. oferece condições de sucesso à aprendizagem e à
A psicologia e a educação são duas áreas de participação de todos eles.
saber onde, desde há vários anos, se regista um Face a estes desafios, o discurso da inclusão
aprofundamento do conhecimento, tendo-se tem paulatinamente ganho um lugar de destaque e

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discussão por todo o mundo, continuando a ser resposta educativa diferenciada (Correia &
em muitos países um debate por vezes bastante Cabral, 1999). Ainda hoje a educação especial é
confuso, tornando-se difícil perceber o rumo que muitas vezes tida como um suplemento do
as políticas e as práticas educacionais parecem ensino regular, noutros casos é deveras um
levar (Ainscow & César, 2006; Lindsay, 2007). sistema paralelo (Ainscow & César, 2006).
Em alguns países, a educação inclusiva é vista Em termos evolutivos, importa considerar o
como um mecanismo que permite assistir esforço inicial para integrar os alunos especiais
crianças sinalizadas como especiais no ensino nas escolas de ensino regular, por exemplo,
regular (Ainscow & César, 2006). Na actualidade, transplantando turmas inteiras de alunos
parece assumir um significado mais profundo e caracterizados como tendo necessidades educa-
abrangente. A educação inclusiva é uma resposta tivas especiais para o ensino regular. Esta
adequada e considerada como um direito face à tentativa de articulação foi acompanhada de
diversidade presente entre os alunos (Unesco, profundas mudanças na organização da escola,
1997, 2000, 2001). Considerando a diferença de no currículo, na formação dos professores e nos
paradigmas compreende-se a inevitabilidade do modos e estratégias de ensinar, o que resultou,
debate sobre educação inclusiva entre todos os inevitavelmente, na formação de mais barreiras
profissionais ligados à educação, e por na implementação de práticas inclusivas (Freire
conseguinte nos psicólogos educacionais. & César, 2003). É hoje clara a necessidade de
O psicólogo educacional tem sido muitas profundas alterações no contexto da escola para
vezes caracterizado como o responsável por que a filosofia da inclusão seja efectivamente
preservar um sistema de categorização baseado posta em prática (Hick, 2000).
numa forma de racional pseudo-científico, A avaliação das necessidades dos alunos era
permitindo e dando suporte a uma forma paralela sustentada por um modelo clínico e
de educação designada por especial (Hick, psicométrico, ou seja, um paradigma médico-
2000). Tal poderá ser uma herança das -pedagógico (Felgueiras, 1994), em que as
transformações fundamentais que surgiram no necessidades das crianças eram percebidas como
campo da psicologia tal como na própria défices individuais e a intervenção assumia uma
definição do papel do psicólogo educacional. natureza essencialmente remediativa (Dyson &
Contudo, estes profissionais podem desem- Millward, 1997).
penhar uma função fundamental na actualização As dificuldades na aprendizagem eram
dos modos de trabalhar e no suporte a práticas considerados como exclusivamente centrados
verdadeiramente inclusivas, como adiante nas crianças, em consequência, o psicólogo
procuraremos estabelecer. trabalha com elas de forma individual, num
O desenvolvimento da educação especial ambiente separado, aplicando testes e usando o
envolveu uma série de estádios nos quais os resultado destes para prever a probabilidade de
sistemas educativos exploraram diferentes sucesso. Desta forma, os testes têm um valor
formas de responder às necessidades educativas absoluto, inquestionável, sendo o processo de
dos alunos (Ainscow & César, 2006). aprendizagem concebido como uma tarefa
Todavia, o estudo do trabalho dos investiga- individual, onde a comunidade educativa (e.g.,
dores que se dedicam ao tema da educação escola, família, pares) tem baixo grau de
especial leva a considerar que até chegarmos ao influência (Farrel, 2006).
conceito de educação inclusiva percorremos um De acordo com Niza (1996), apenas com o
longo percurso, considerando o movimento relatório Warnock em 1978, do qual se destaca o
integrativo como a “raiz” do movimento inclu- conceito de Necessidades Educativas Especiais,
sivo (Almeida & Rodrigues, 2006). teve início a passagem de um modelo clínico
Uma análise histórica da educação especial para um modelo educacional, onde o
revela que, inicialmente, esta tomava a forma de desenvolvimento desta abordagem tem como
escolas separadas de ensino especial que principal consequência a definição da escola
frequentemente levavam a um sistema de ensino regular como estrutura responsável por todos os
paralelo aqueles alunos que precisavam de uma alunos (Morgado, 2003a).

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Contudo, apesar das grandes evoluções, a existem cinco perspectivas diferentes de abordar
insatisfação com a evolução dos processos de a educação inclusiva, o que naturalmente reflecte
integração exigiram mudanças de base nas a evolução da educação especial e a forma como
políticas de educação (Booth & Ainscow, 1998). os sistemas educativos têm respondido à
Uma das principais preocupações é a forma diferença.
como os alunos passam a ser rotulados como
1) Inclusão enquanto educação dos alunos com
tendo necessidades educativas especiais, pois o
deficiência e/ou necessidades educativas
modelo médico continua a ser o modelo
especiais nas escolas do ensino regular;
veiculado, explicando as dificuldades educacio-
nais apenas em termos de défices das crianças 2) Inclusão enquanto reposta para alunos com
(Ainscow & César, 2006; Booth & Ainscow, problemas de comportamento;
2002), fazendo-nos muitas vezes esquecer a 3) Inclusão enquanto educação de todos os
questão essencial: por que razão a escola falha grupos de alunos que possam eventualmente
em ensinar com sucesso todas as crianças? correr o risco de exclusão;
Nos últimos anos a educação especial, na 4) Inclusão enquanto promoção de uma escola
forma de ensino paralelo, tem sido questionada para todos (o que muitas vezes é entendido
tanto do ponto de vista da sua eficácia, como na como integração, assimilação da diferença,
perspectiva dos direitos humanos (Ainscow, normalização);
Farrel, & Tweddle, 2000; Ainscow, Booth, 5) Inclusão enquanto educação para todos.
Dyson, Farrel, Frankham, Gallannaugh, Howes,
& Smith, 2006; Kluth, 2005; Lindsay, 2007). Esta gradação transparece as posições de
Morgado (2003a), numa revisão de literatura quem defende a inclusão como sendo uma forma
sobre os potenciais benefícios da educação de resposta para grupos de alunos mais
inclusiva para os alunos com dificuldades, para os vulneráveis e aqueles que entendem inclusão
seus pares e para os professores e técnicos que como uma abordagem mais transformadora da
com eles trabalham, sublinha que educação escola (Ainscow & César, 2006; Ainscow,
inclusiva remete necessariamente para uma Farrel, & Tweddle, 2000).
reorganização profunda da escola e do currículo, Baseando-se numa concepção transformadora,
das estratégias e modos de ensino, da formação educação inclusiva diz assim respeito à educação
dos profissionais (docentes e não docentes), entre de todas as crianças nas escolas de ensino
outros. regular (Udvari-Solner & Thousend, 1995).
Desta forma, criar condições de evolução O movimento de educação para todos (na
pedagógica e política a nível da educação, é essência, escola inclusiva) teve um grande
sinónimo de abandonar um modelo educativo impulso a partir da conferência mundial sobre a
assente na integração escolar de um grupo edução para todos, realizada em Jomtien, na
entendido como especial. É procurar reestruturar Tailândia, em 1990, e mais tarde na conferência
as escolas e o modo como respondem às necessi- mundial sobre necessidades educativas
dades individuais de cada criança (Clark, Dyson, especiais, em Salamanca, em 1994.
& Millward, 1997). O desígnio estruturante resultante das
Perante estes desafios a comunidade interna- conferências remete para as escolas do ensino
cional tem elevado a discussão sobre educação regular a responsabilidade de responder às
inclusiva a uma plataforma de destaque, necessidades individuais de todo e qualquer
revelando um crescente interesse (Ainscow & aluno. Assume-se indubitavelmente que o
César, 2006). princípio de desenvolvimento de escolas
inclusivas consiste em “que todos os alunos
devem aprender juntos, sempre que possível,
EDUCAÇÃO INCLUSIVA independentemente das dificuldades e das
diferenças que apresentam. As escolas inclusivas
Uma análise recente da pesquisa internacional devem reconhecer e satisfazer as necessidades
(Ainscow et al., 2006) mostra-nos que ainda diversas dos seus alunos, adaptando-se aos

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vários estilos e ritmos de aprendizagem, de transformação da escola para que esta possa ir ao
modo a garantir um bom nível de educação para encontro das necessidades de todos os alunos.
todos, através de currículos adequados, de uma Apesar da importância que cada vez mais
boa organização escolar, de estratégias assume a ideia de educação inclusiva, existem
pedagógicas, de utilização de recursos e de uma ainda diferentes leituras do que é e do que
cooperação com toda a comunidade” (UNESCO, preconiza. É necessário reflectir e não assumir
1994, p. 7) que existe uma aceitação total da filosofia da
De acordo com o definido na declaração de educação inclusiva (Freire & César, 2005;
Salamanca (1994), “as escolas inclusivas são os Lindsay, 2007).
meios mais capazes para combater as atitudes Do ponto de vista dos direitos a inclusão é
discriminatórias, criando comunidades abertas e inquestionável contudo, surgem dúvidas em
solidárias, constituindo uma sociedade inclusiva relação à sua eficácia. Lindsay (2007), da análise
a atingindo a educação para todos” (p. 9). que faz de um conjunto de estudos sobre a
Questiona-se definitivamente a educação eficácia da inclusão, revela que os trabalhos são
inclusiva como uma resposta específica do inconclusivos no que diz respeito às suas
ensino regular para os alunos categorizados com vantagens. Contudo, no que diz respeito aos
necessidades educativas especiais, para os estudos do processo, também analisados, realça
alunos com mau comportamento ou, especifica- que a prática dos professores está no coração do
mente, para qualquer outro grupo de alunos ensino eficaz, e que uma prática diferenciada e
potencialmente em risco. de qualidade leva à eficácia de resultados. Tal
A educação inclusiva passa a ter um parece evidenciar um paradoxo. Ou a avaliação
da eficácia é realizada independentemente de
significado mais amplo, pois esta engloba
todas as outras variáveis, nomeadamente, o
qualquer espécie de marginalização (que possa
contexto e as adequações no contexto onde elas
ser experimentada por qualquer criança),
ocorrem.
independentemente da sua categorização ou não
Por outro lado, existem muitos professores do
com as siglas NEE (Ainscow, Farrel, & Tweddle,
ensino regular resistentes à ideia de inclusão,
2000; Ainscow, Howes, Farrel, & Frankham,
como também existem instituições de ensino
2003; Ballard, 1997; Booth & Ainscow, 1998,
especial que defendem um sistema paralelo,
2002; Messiou, 2006). Trata-se de uma educação provavelmente num impulso de auto-justificação
que se considera justa, apropriada e com práticas e sobrevivência. Existem ainda aqueles que
e modos de trabalho que visem responder com acreditam que pequenas unidades especializadas
qualidade às necessidades de todos os alunos nas escolas regulares podem apoiar os
(Correia, 2001; Hegarty, 1994; Kugelmass, professores com materiais, equipamentos,
2006; Morgado, 2003b). estratégias, etc., para que sejam sempre estes os
Adoptando esta visão mais abrangente, a principais responsáveis pelos seus alunos
escola não fica apenas preocupada com a (Ainscow & César, 2006).
categorização dos alunos, pois também lhe é Deste modo, com todo o desenvolvimento
possível, e desejável, identificar e intervir em que temos vindo a assistir, torna-se fundamental
outros factores que possam estar a bloquear a repensar a função do conceito necessidades
participação de qualquer aluno, recorrendo a educativas especiais na nossa escola. Se
vários recursos presentes na comunidade reconhecermos que as dificuldades experien-
(Ainscow & Angelides 2000), nomeadamente as ciadas pelos alunos resultam da interacção entre
próprias características individuais dos alunos, a forma como as escolas estão hoje organizadas,
que são encaradas como oportunidades para os métodos de ensino dos professores e os
enriquecer as aprendizagens (Ainscow, Howes, próprios alunos, facilmente iremos conseguir
Farrel, & Frankham, 2003; César, 2003; Kluth, progredir no sentido de melhorar a qualidade da
2005; Sheehy, Rix, Nind, & Simmons, 2004). escola e responder positivamente à diversidade
Assim, o movimento para uma escola inclusiva (Ainscow & Angelides, 2000; Ainscow, Howes,
está verdadeiramente preocupado com a Farrel, & Frankham, 2003; César, 2003).

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A inclusão parte de um conjunto de valores que que podemos inferir através das suas decisões e
vê o acesso ao ensino regular como um direito. formas de trabalhar.
Foca-se no desafio de tentar promover a partici- De acordo com Hardman (1998), essa
pação na vida da escola, como uma comunidade, conclusão parece sugerir que as decisões de
de todos os alunos. Desta forma, deixa de fazer categorizar os alunos com necessidades educa-
sentido o conceito de necessidades educativas tivas especiais e recomendá-los para um sistema
especiais, pois qualquer aluno em algum momento paralelo de ensino não dependem fortemente das
pode correr o risco de ser excluído, necessitando atitudes e crenças individuais dos psicólogos,
de uma atenção diferenciada (Ainscow, Farrel, & mas sim das estruturas existentes e das suas
Tweddle, 2000; Hick, 2000), sem que para isso solicitações, nomeadamente as escolas de ensino
seja necessário um procedimento burocrático. especial.
Neste processo o professor é responsabilizado Simultaneamente, num estudo mais recente
para que com autonomia promova o sucesso para sobre as práticas dos psicólogos educacionais
todos os seus alunos. realizado em 10 países diferentes, onde Portugal
Neste contexto, a Escola de Inclusão é a que não figura, os resultados demonstram que a sua
garante o direito de acesso à equidade para o principal função é trabalhar com crianças com
sucesso de todos os alunos (Niza, 1996). necessidades educativas especiais e recomendá-
-las para o ensino especial. Esta é a tarefa que os
psicólogos mais realizam em 8 dos 10 países que
PSICOLOGIA EDUCACIONAL E participaram no estudo (Jimerson, Graydon,
EDUCAÇÃO INCLUSIVA Farrel, Kikas, Hatzichristou, Boce, & Bashi,
2004).
Na sequência da análise de um conjunto de Parecem ainda constituir-se como constrangi-
trabalhos, teóricos e de investigação, que mentos à acção dos psicólogos as percepções que
pretendem enquadrar o paradigma da educação professores e os próprios órgãos administrativos,
inclusiva (e.g., Ainscow, 2000; Ainscow & têm relativamente ao seu papel e modelo
Angelides, 2000; Ainscow, Howes, Farrel, & preferencial de intervenção. Um estudo realizado
Frankham, 2003; César, 2003; Morgado, 2003a; em 8 países, não envolvendo Portugal, sobre a
Putnam, 1998; Sheehy, Rix, Nind, & Simmons, percepção que os professores têm sobre o papel
2004; Villa & Thousand, 2003), consideraremos do psicólogo educacional, revelou que os
o papel do psicólogo educacional neste universo. professores esperam que o psicólogo desenvolva
Os psicólogos educacionais têm agora o desafio preferencialmente trabalho com os alunos com
de poder contribuir para a conceptualização, necessidades educativas especiais, identificando-
adequação e eficácia da educação para todas as -os e sugerindo que continuem os seus estudos
crianças (Lindsay, 2007), podendo operacionalizar numa escola a que chamam especial (Farrel,
um conjunto de variáveis que veremos mais à Jimerson, Kalambouka, & Benoit, 2005).
frente. Se os psicólogos educacionais não Também Gilman e Gabriel (2004), nos Estados
quiserem aceitar o desafio e mostrarem de que Unidos, num trabalho da mesma natureza, mas
forma podem contribuir para o desenvolvimento realizado com os órgãos administrativos das
de práticas inclusivas, correm seriamente o risco escolas, verificaram que as suas percepções vão
de se tornarem uma figura irrelevante para as no mesmo sentido que o estudo anterior, porém
crianças do próximo século (Hick, 2000). com representações ainda mais fortes.
Hardman (1998) sustenta que, de uma forma Assim, em relação ao trabalho com crianças
geral, os psicólogos educacionais defendem com necessidades educativas especiais e o seu
modelos de intervenção inclusivos ligando-os encaminhamento para escolas de ensino especial,
predominantemente à teoria sócioconstructivista as práticas dos psicólogos parecem ajudar a
da aprendizagem. Num estudo que a autora manter e a perpetuar um sistema de ensino
realizou sobre as atitudes dos psicólogos paralelo.
educacionais, concluiu que genericamente são Todos estes resultados parecem ir de encontro
mais a favor de modos intervenção inclusivos do à afirmação que César e Santos (2006) realizam,

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ou seja, parece ser relativamente fácil arti- 1938/1988, /1934/2007). Este paradigma é
cularmos com os ideais associados à educação suportado por variadíssima literatura (e.g.,
inclusiva, contudo, é muito mais difícil Ainscow, Howes, Farrel, & Frankham, 2003;
transformá-los em práticas. César, 2003; César & Oliveira, 2005; Gilly,
Farrel (2006) diz-nos que este modelo de 1995; Kutnick & Kington, 2005; Monteiro,
intervenção dos psicólogos educacionais é uma 2003; Peixoto & Monteiro, 1999a,b; Perret-
herança da própria constituição da psicologia Clermont, Pontecorvo, Resnick, Zittoun, &
enquanto ciência, em que os psicólogos tinham Burge, 2004; Salonen, Vauras, & Efklides 2005).
como função principal medir o Q.I., o que Face à multiplicidade de interpretações
legitimava o encaminhamento de alunos para devidas ao rápido desenvolvimento da profissão,
escolas de ensino especial. Pontecorvo (2003) esclarece todos os equívocos
O autor refere ainda que é oportuno analisar o e centra a temática fundamental da psicologia da
percurso de formação dos psicólogos e o que educação na dinâmica que se gera entre o ensino
aprendem. Faz notar que na sua maioria, os e a aprendizagem.
textos introdutórios de psicologia sugerem que Desta forma, como poderá o psicólogo
aprendemos mais sobre o comportamento educacional desenvolver o seu trabalho de modo
humano se nos focarmos numa perspectiva verdadeiramente inclusivo?
individual. Corremos o risco de adoptarmos uma Apesar de, no seu desenvolvimento histórico, a
perspectiva médica/psicométrica do desenvolvi- psicologia educacional surgir intimamente ligada
mento humano, onde todos os sucessos e às crianças com necessidades educativas
fracassos são unicamente atribuídos ao ser especiais, em livros recentes, tendo como temática
psicológico individual. Neste contexto, Lucas, a psicologia da educação, os tópicos abordados
Blazek, Raley, e Washington (2005) realçam incluem gestão de sala de aula, desenvolvimento
que, através da análise realizada de textos de social, estratégias de aprendizagem, relação
introdução à psicologia, existe uma falta de professor-aluno, motivação para aprender,
representação da psicologia educacional na sua aprendizagem cooperativa, aprender a ler,
dimensão sociocultural. desenvolvimento da linguagem escrita, entre
Farrel (2006) salienta que esta perspectiva outros (e.g., Fonseca, Seabra-Santos, & Gaspar,
poderá influenciar fortemente a exploração das 2007; Miranda & Bahia, 2005; Pontecorvo, 2003).
diferenças individuais e, na sequência dos Deste modo, parece existir uma redefinição do
trabalhos de Alfred Binet em 1905, encontrar em papel do psicólogo da educação, tendo agora
medidas individuais (nomeadamente o Q.I.) como principal objectivo a reflexão e intervenção
explicações para possíveis dificuldades de sobre o comportamento humano, em situações
aprendizagem e comportamento. educativas e de formação, de desenvolvimento
Na actualidade, comprovada a ineficácia de pessoal e colectivo, desenvolvendo respectiva-
um sistema paralelo, naturalmente segregado de mente as capacidades das pessoas individual-
educação (Dyson & Millward, 1997; Farrel & mente, em grupos e instituições (COP, 2008).
Ainscow, 2002; Kluth, 2005) e, apesar dos testes O trabalho individual com as crianças poderá
psicométricos terem sido úteis para o rápido ser necessário contudo, o psicólogo educacional,
desenvolvimento da profissão (e.g., Reschly, deve trabalhar com grupos de alunos e/ou
2000), dispomos de outros recursos que se professores, com professores de apoio ou até
tornam fundamentais envolver no processo de mesmo ao nível da escola, apoiando projectos,
ensino-aprendizagem. Por exemplo, a própria ajudando a desenvolver competências e conhe-
escola, o diversificado grupo de alunos, as cimento nos profissionais que trabalham com as
famílias e a comunidade envolvente, de forma a crianças e entre as próprias crianças, promo-
potenciar todos os agente educativos (Morgado, vendo uma educação inclusiva (Cameron &
2001). Monsen, 2005) e estimulando a constituição de
Conceber a aprendizagem como um fenómeno comunidades de aprendizagem (Ainscow,
estático e meramente individual, é desprezar a Howes, Farrel, & Frankham, 2003). O psicólogo
sua natureza intrinsecamente (Vigotsky, educacional actua ainda em colaboração com

366
outros profissionais em diferentes níveis, formais vantagens da aprendizagem cooperativa. Esta
e não formais, em todos os aspectos psicológicos articulação permite ir ao encontro das necessi-
que podem interferir na aprendizagem dades dos alunos, por outras palavras, ajudar a
independentemente da origem pessoal, social, desenvolver estratégias para apoiar a aprendi-
etc. (COP, 2008). zagem dos alunos que estão a experimentar
Podemos então considerar que a área de acção dificuldades, adequando as formas de ensinar à
do psicólogo parece assumir contornos cada vez sua singularidade, isto é, promovendo diferen-
mais abrangentes, tentando evitar os erros ciação pedagógica (e.g., Amado & Freire, 2005;
cometidos no passado, e conseguindo criar
Marchesi & Martin, 1998; Mastropieri &
condições para que, se necessário, todas as
Scruggs, 2000; Moretto, 2002; Perrenoud, 1997;
crianças tenham oportunidade para recuperar as
aprendizagens sem que a mobilização de Tomlinson, 2001), ou ainda, como nos dizem
procedimentos adicionais estejam aprisionados Correia e Rodrigues (1999), contextualizar as
em formas burocráticas de identificação de aprendizagens ao nível da escola, ao nível da
necessidades especiais e, em consequência disso, turma e ao nível do aluno.
discriminação e exclusão (Baxter & Frederikson,
2005). 2) Desenvolver de planos de acção centrados
De acordo com Baxter e Frederikson (2005), nos alunos
existe assim uma área mais abrangente para o O psicólogo, juntamente com os professores,
campo da psicologia educacional, pois esta deixa o aluno, a família e outros agentes educativos,
de estar ligada directamente aos alunos com
deve desenvolver planos de intervenção
necessidades educativas especiais, mas passa a
fundamentados numa avaliação exaustiva das
integrar todos os alunos que possam, em algum
momento do seu percurso escolar, precisar de necessidades de cada aluno, utilizando uma
uma resposta diferente das rotinas impostas pela caracterização genérica dos seus interesses e
escola. Isto leva o psicólogo a estar implicado motivações para melhor acomodar as suas
em todas as problemáticas inerentes à instituição necessidades, sendo o aluno o maior recurso
escolar, por exemplo, abandono escolar, insu- nesse sentido (e.g., Correia & Rodrigues, 1999;
cesso, iliteracia, exclusão social, desemprego, David & Capraro, 2001; Gregory & Chapman,
gravidez adolescente, etc. 2002; Morgado, 2001; Niza, 1998; Salend, 2001;
Desta forma, os autores postulam que esta Tomlinson & Allan, 2002).
realidade só será possível se os psicólogos
actualizarem modelos de trabalho para modelos 3) Facilitar a construção de uma rede social e
de natureza mais inclusiva, centrando esses de amizades para todos os alunos
modelos nos alunos, identificando e envolvendo
Assente no desenvolvimento de competências
toda a comunidade educativa (pais, professores,
auxiliares, comunidade envolvente, etc.) no pessoais e socais, no papel dos pares e no
progresso e bem-estar dos alunos. trabalho cooperativo, a construção de uma rede
Paige (1998) propõe uma revisão do que pode social representa uma dimensão determinante
ser o trabalho do psicólogo em contexto escolar para a aprendizagem e implementação de
e centra essa revisão em quatro pilares práticas inclusivas (David & Capraro, 2001;
essenciais: Johnson & Johnson, 1998; Kutnick & Kington,
2005; Pontecorvo, 2003; Powell, 1999; Salend,
1) Actualizar os modos de ensino e adaptações 1999, 2001; Sprinthall & Sprinthall, 1993).
curriculares Estudos recentes parecem revelar que um baixo
O psicólogo pode articular com os professores envolvimento social na escola e os baixos níveis
um conjunto de estratégias que vão ao encontro de colaboração entre os profissionais que nela
das necessidades dos alunos, contextualizando trabalham (nomeadamente os professores), são
essas aprendizagens e adoptando uma perspec- fortes contributos para o abandono escolar
tiva sócioconstructivista, usufruindo das (Nicoulaidou & Ainscow, 2005; Raley, 2007).

367
4) Envolver toda a escola e profissionais projectos mais transversais (educação para a
facilitando mudanças institucionais pró- cidadania) (Baxter & Frederickson, 2005).
inclusão Ainda de acordo com Baxter e Frederickson
(2005), apesar de existirem diferentes níveis de
O psicólogo educacional, tomando partido da
prevenção, primária, secundária e terciária, os
sua área abrangente de intervenção, poderá
custos sociais do abandono escolar são
envolver e tentar comprometer os profissionais altíssimos. Assim, as iniciativas dos psicólogos
das escolas em políticas e práticas inclusivas. educacionais têm sempre impacto na prevenção,
A inclusão tem que necessariamente assumir pois o objectivo último é promover o desenvol-
um papel de destaque nas políticas educativas, vimento e a aprendizagem das crianças,
onde o papel dos órgãos administrativos tem minimizando os problemas futuros.
uma importância extrema na implementação de Os autores fazem ainda notar que é extrema-
práticas inclusivas (Ainscow, Farrel, & Tweddle, mente difícil aos psicólogos educacionais
2000). realizarem prevenção primária e secundária com
Tentando sintetizar as rápidas modificações todas as crianças. Todavia, são dos profissionais
que o papel do psicólogo tem vindo a sofrer, o mais qualificados para desenvolver acções de
Colégio Oficial dos Psicólogos de Espanha investigação, treino e supervisão de outros
(COP, 2008) avança com uma proposta agentes educativos com um papel fundamental
actualizada e bastante clara. O psicólogo na prevenção.
educacional pode estar assim envolvido em três Retomando o Colégio Oficial dos Psicólogos
grandes funções: avaliação, prevenção e de Espanha (2008), no que concerne à
intervenção. Apesar das três grandes funções intervenção, podemos considerar diferentes
serem interdependentes, tentaremos esclarecer dimensões, tendo sempre presente as variáveis
cada uma delas. psicológicas que intervêm nos processos
A avaliação poderá ser realizada em distintas educativos, bem como os diferentes interveni-
áreas do funcionamento psicológico, atendendo à entes. Como principais âmbitos de intervenção
problemática e às necessidades, dando sempre surgem:
prioridade à funcionalidade, analisando detalha-
damente todas as variáveis psicológicas que se 1) Intervenção nas necessidades educativas dos
conjugam nos contextos de educação e formação alunos
e, naturalmente, a avaliação dos próprios A psicologia educacional está presente desde
contextos. Esta avaliação inclui a identificação e as primeiras etapas do ciclo de vida, prevenindo
a descrição de cada problemática, bem como a e detectando atrasos de desenvolvimento,
elaboração de hipóteses e estratégias para a sua desadaptações funcionais, psíquicas e sociais.
resolução. Só através de uma avaliação exaustiva Realiza uma avaliação/intervenção psico-
do que os alunos sabem é que se poderá educativa com o objectivo de adequar os
planificar o que precisam de aprender e recursos sociais e institucionais aos recursos
desenvolver (e.g., Pereira, 2005). individuais, incidindo a sua intervenção na
No que diz respeito à prevenção, a psicologia promoção da qualidade do acto educativo, nas
educacional procura promover condições para próprias competências dos alunos ou outras
um melhor desenvolvimento das capacidades dificuldades percebidas na avaliação.
de todos os intervenientes, adequando as
respostas dos sistemas educativo e social às 2) Orientação escolar e profissional
necessidades individuais, com o intuito último O desenvolvimento escolar e vocacional é,
de minimizar o surgimento de dificuldades. A antes de mais, um processo de intervenção, onde
prevenção pode ainda dizer respeito ao apoio de o psicólogo pretende ajudar as pessoas a reunir
diferentes agentes educativos (pais, professores, um conjunto de informações e gerir um processo
auxiliares, outros elementos da comunidade), de decisão. Constitui-se como uma dimensão
na procura de respostas a problemas concretos integradora do desenvolvimento psicológico
(e.g., prevenção da toxicodependência) ou global, aprofundando o conhecimento individual

368
e facilitando a tomada de decisões. Os testes (Gonzalez, Nelson, & Gutkin, 2004), o desenvol-
vocacionais são uma forma complementar de vimento de práticas de educação inclusiva
recolha de informação sobre o conhecimento de através de modelos de “consultation”, que
si. O objectivo geral é o desenvolvimento de podemos definir como consultoria e orientação.
competências de modo a promover autonomia na Farrel (2006), da análise internacional que
gestão da formação pessoal, tomando as suas realiza sobre o significado do termo
próprias decisões. “consultation”, encontra múltiplos significados.
Contudo refere que, na essência, independente-
3) Contexto educativo mente da palavra que utilizamos para nos referir
O psicólogo pode ajudar os professores a a este processo, ele diz respeito antes de mais, à
melhorar a qualidade dos processos educativos, capacidade que o psicólogo tem para maximizar
adequando a forma de ensinar à diversidade dos o impacto da sua acção no desenvolvimento e na
alunos. Morgado (2003a) desenvolve um modelo aprendizagem das crianças. Para isso é
que assenta a gestão diferenciada da sala de aula necessário que tenha um conhecimento exaustivo
em seis grandes dimensões, que pretendem e pormenorizado da própria criança e do
contribuir para a inclusão de todos os alunos e, contexto onde ela se move (escola, família e
consequentemente, para a qualidade da escola comunidade – “sistema”), para conseguir
(Planeamento; Organização do Trabalho dos desenvolver relações de suporte com todas as
Aluno; Clima Social; Avaliação; Actividades; pessoas que trabalham dentro e com o sistema,
Materiais). incluindo as próprias crianças, adoptando uma
Lindsay (2007) refere, no estudo que realiza postura de resolução de problemas. A tarefa do
sobre a investigação dos processos desenvol- psicólogo é contribuir para organizar os
vidos em sala de aula, que a acção actualizada do diferentes papéis e responsabilidades dentro do
professor (que poderá ser assente nas seis “sistema” de forma a rentabilizar recursos para
dimensões vistas anteriormente) é a que permite alcançar os mesmos objectivos – o sucesso
aos alunos alcançarem bons resultados num escolar e educativo.
contexto de educação inclusiva. Segundo o autor esta abordagem promove
uma forma flexível de trabalhar, focando-se na
4) Formação e apoio familiar capacidade que a escola tem para se tornar
inclusiva, ou seja, de qualidade, apoiando todas
A psicologia educacional pode estar ao as crianças com uma panóplia diversificada de
serviço do contexto familiar, dinamizando necessidades.
acções de informação e formação, realizando A exclusão escolar (quer na forma de
intervenção na melhoria das relações sociais e insucesso ou de abandono) tem sido fortemente
familiares, promovendo programas e projectos atribuída à pressão competitiva que professores e
que promovam o envolvimento e a participação alunos têm sido sujeitos.
da família na escola e nas aprendizagens dos Lindsay (1997), numa realidade que poderia
alunos. ser a nossa, afirma que o valor veiculado pelos
governos tem sido o da competição em
5) Intervenção socioeducativa
detrimento da cooperação. As escolas mais
O psicólogo intervém nas relações existentes populares estão em posição de escolherem os
entre as actividades educativas e a comunidade seus alunos e o respectivo financiamento que se
onde ocorrem, assim como em factores culturais lhe segue, em vez de os pais e os próprios
e sociais que condicionem as capacidades alunos exercerem o seu direito de escolha de
educativas. Pode também ajudar a dinamizar uma escola, preferencialmente a da sua área de
projectos mais transversais, como por exemplo, residência. A exclusão ascende a níveis
no domínio da intervenção comunitária. inaceitáveis e as escolas facilmente rejeitam
Hick (2000) define como o grande desafio alunos.
para os psicólogos educacionais, apesar de Neste contexto, apenas desenvolvendo de uma
existir já alguma resistência neste processo forma pró-activa, práticas mais inclusivas, os

369
psicólogos educacionais vão conseguir desen- Assente no desenvolvimento da sociedade, a
raizar a sua acção de modos de funcionamento psicologia educacional assume-se como uma
individuais, definindo um estatuto e um papel profissão em desenvolvimento e com toda a
actualizados para a profissão (Hick, 2005). pertinência social.
Em Portugal, apesar de uma história
relativamente curta, o desenvolvimento da
CONCLUSÃO profissão, com a criação de oportunidades de
trabalho, é inevitável.
Este trabalho pretendeu discutir alguns dos Internacionalmente realiza-se esse percurso,
problemas que os psicólogos educacionais têm os países verdadeiramente desenvolvidos fazem
crescer a literatura relativa à importância do
que enfrentar para desenvolver o seu trabalho
papel do psicólogo educacional, criticando os
com qualidade. Sugere que a própria história do
modelos de intervenção tradicionais. Inequivoca-
desenvolvimento da profissão, onde modos de
mente, os psicólogos educacionais podem fazer a
trabalho individuais ainda são assumidos como a
diferença no suporte a práticas inclusivas, ou
única forma trabalhar, se constitui como uma
seja, melhorar a qualidade da nossa escola, a
barreira ao seu desenvolvimento. A conse-
qualidade das aprendizagens, a qualidade do
quência directa é que a comunidade educativa
ensino, a qualidade de vida e, claro, colocar o
espera isso mesmo do psicólogo, a adopção de país na rota do tão esperado desenvolvimento
um paradigma de trabalho essencialmente económico.
individual. O respeito pela diversidade é a única forma de
A figura clássica do psicólogo educacional, garantir uma sociedade mais justa no futuro
que existe algures num sítio inacessível a quem a onde, naturalmente, ao elegermos o modelo da
ele precisa de recorrer, ou que surge com escola inclusiva como um modelo preferencial,
mágicas propostas de resolução de problemas, estamos a adoptar um desafio profissional.
muitas vezes desadequadas, tem necessariamente Para terminar, e ao mesmo tempo prolongar a
que desaparecer. É imprescindível que articule o reflexão, gostaríamos de deixar dois
seu trabalho com toda a comunidade educativa, pensamentos de Jerome Bruner (1999):
conseguindo adequar o seu conhecimento ao
Aquilo que pode tornar o psicólogo uma força
conhecimento já existente nos contextos onde
poderosa é, digamos, o seu vivo sentido do que
trabalha. O psicólogo pode servir como um é possível. Ele pode e deve fornecer o leque
agente securizante para ajudar os professores a total de alternativas para desafiar a sociedade
progressivamente modificar/melhorar/manter, ou a escolher (p. 43).
apenas a reflectirem a adequação das suas
(...) Mas uma teoria da educação, que tem de
práticas, tendo por base as teorias da aprendi- se encontrar no âmago da psicologia
zagem e modelos de ensino eficaz. educativa, está principalmente relacionada
É no confronto diário com a vida na escola com o modo de preparar ambientes para
que a psicologia educacional melhor pode optimizar a aprendizagem segundo diversos
promover uma educação de qualidade. Vivendo critérios (...) É a psicologia, mais do que
com os professores “lado-a-lado” as problemá- qualquer outra disciplina, que possui as
ticas emergentes na instituição escolar, ferramentas para explorar os limites da
desenvolvendo mecanismos que promovam a perfectibilidade humana (p. 58).
aprendizagem para todos os alunos, não
permitindo que progressivamente mais alunos
virem as costas ao seu próprio futuro. REFERÊNCIAS
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and applications of sociohistorical psychology (pp. zagem cooperativa conduz todos os alunos a uma
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Tomlinson, A. C., & Allan, S. D. (2002). Leadership for
psicólogos ainda adoptarem uma perspectiva de
differentiating schools and classrooms. Virginia:
intervenção individual, o objectivo deste ensaio é
discutir as diferentes abordagens através dos quais a
Association for Supervision and Curriculum
intervenção do psicólogo educacional cria e sustenta
Development.
modelos de educação inclusiva. Este ensaio tem por
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organizational, instructional and curricular independentemente das suas necessidades, devem ter
practices in inclusive schools and classrooms. In C. direito a frequentar a escola de ensino regular.

374
Iniciando com a análise de três eixos essenciais: inclu- together leads all students to better results (e.g.,
são, necessidades educativas especiais e psicologia; Johnson & Johnson, 1990, 1994; Slavin, 1991).
termina com algumas sugestões que ajudam a definir o Although many psychologists still work only with an
modo como a psicologia educacional pode contribuir individual perspective, the purpose of this paper is to
para o sucesso de todos os alunos no ensino regular. discuss the ways in which the educational psychology
Palavras-chave: Inclusão, Necessidades educativas can create and sustain authentic inclusion settings.
especiais, Psicologia educacional. This is based on Vigotsky’s belief that all children, in
spite of their disabilities, should have access to the
regular school system. Starting from the analysis of
three key aspects inclusion, special education needs
ABSTRACT and psychology; it concludes with some suggestions
that help define how the educational psychology can
The models guiding the intervention of the contribute to the success of all students in the regular
educational psychologist suggest a multiplicity of school system.
opportunities / options that each professional will Key-words: Educational psychology, Inclusion,
have to take. Research has long suggested that learning Special educations needs.

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