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Cabe aqui um parêntese relativamente à leitura da poesia. Sabe-se que ela tem sido siste-
maticamente relegada a um plano secundário. Muito já se falou sobre a dificuldade de lidar
com o abstrato, com o inacabado, com a ambiguidade, características intrínsecas do discur-
so poético, que tem tornado a leitura de poemas rarefeita nas mediações escolares com sua
tradicional perspectiva centrada na resposta unívoca exemplar e na inequívoca intenção au-
toral. Se isso é verdade, também é verdade que sua simples presença nos manuais e nas
atividades didáticas não garante o hábito de leitura desse gênero. Mesmo aquelas gerações
que foram obrigadas a saber “de cor” os poemas dos manuais não foram além disso, isto é,
terminados os estudos, limitaram-se aos poemas escolares, carregando-os na memória co-
mo uma espécie de antologia cristalizada pelo resto da vida. Parece que, infelizmente, a
leitura de poemas fora da vida escolar é coisa para poucos. Onde estaria, então, o erro na
formação escolar dos leitores para a poesia? Pensamos que a não exploração das potenciali-
dades da linguagem poética, que fazem do leitor um coautor no desvendamento dos senti-
dos, presentes no equilíbrio entre ideias, imagens e musicalidade, é que impede a percepção
da experiência poética na leitura produtiva. A exploração dos efeitos de sentido produzidos
pelos recursos fonológicos, sintáticos, semânticos, na leitura e na releitura de poemas pode-
rá abrir aos leitores caminhos para novas investidas poéticas, para muito além desse univer-
so limitado – temporal e espacialmente – de formação. O ensino médio constituiria, então,
uma etapa da escolaridade em que se olharia para a arquitetura do poema nas suas diferen-
tes dimensões. As antologias pessoais da leitura de poemas quando já não mais circunscrita
a atividades pontuais na comunidade escolar. É importante, para isso, ampliar na escola o
circuito de poemas e poetas, quem sabe buscando novas formas de circulação social de po-
emas, como jornais, revistas (impressos e digitais), e mesmo em outros meios audiovisuais,
que, em dobradinha com livros de poemas, permitiriam ver e entender a poesia como uma
prática social integrada à vida cotidiana.
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A busca de reinterpretação das experiências já vividas e das que passa a viver a partir da
ampliação dos espaços de convivência e socialização possibilita ao adolescente a amplia-
ção de sua visão de mundo, na qual se incluem questões de gênero, etnia, origem e possi-
bilidades sociais e a rediscussão de valores que, reinterpretados, passam a constituir sua
nova identidade. Desse ponto de vista, a formação do adolescente implica maior autono-
mia nas tomadas de decisão e no desempenho de suas atividades. Implica, ainda. a partir
da nova percepção da realidade, dos direitos e deveres sociais e da responsabilidade cres-
cente por seus atos –, a constituição ou reformulação de valores e novos desdobramentos
para o exercício da cidadania.
Na cultura brasileira, a diferença entre criança e adulto tende a ser profundamente acen-
tuada e reforçada por instituições legais e sociais. Em geral, parece existir descontinuidade
entre os papéis do adulto e da criança – sobretudo no que se refere à conquista da inde-
pendência e autonomia. A passagem do universo infantil para o adulto costuma gerar con-
flitos para o adolescente, que está, por assim dizer, a meio caminho. Deve-se advertir que
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tais conflitos, ainda que apresentem características gerais, se manifestam de formas dife-
rentes em função da condição social, uma vez que são diferentes as possibilidades e exi-
gências que se colocam para o sujeito adolescente. Para significativa parcela da sociedade
brasileira, já na adolescência impõe-se a necessidade de trabalhar, seja para assumir ob-
jetivamente compromissos e responsabilidades do mundo adulto, seja para experimentar a
possibilidade de dispor de bens de consumo para os quais há grande apelo social, por meio
da mídia e da divulgação do modus vivendi da classe média.
É possível, assim, falar em uma linguagem de adolescentes, se se entender por isso não
uma língua diferente, mas sim um jargão, um estilo, uma forma de expressão. Tal lingua-
gem é apropriada e explorada pela mídia, como, por exemplo, em propagandas voltadas
para jovens, em programas televisivos específicos, na fala de disc-jóqueis, nos suplemen-
tos de jornais, revistas e nos textos paradidáticos e de ficção para adolescentes.
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O texto literário constitui uma forma peculiar de representação e estilo em que predomi-
nam a força criativa da imaginação e a intenção estética. Não é mera fantasia que nada
tem a ver com o que se entende por realidade, nem é puro exercício lúdico sobre as for-
mas e sentidos da linguagem e da língua.
Pensar sobre a literatura a partir dessa relativa autonomia ante outros modos de apreen-
são e interpretação do real corresponde a dizer que se está diante de um inusitado tipo de
diálogo, regido por jogos de aproximação e afastamento, em que as invenções da lingua-
gem, a instauração de pontos de vista particulares, a expressão da subjetividade podem
estar misturadas a citações do cotidiano, a referências indiciais e, mesmo, a procedimen-
tos racionalizantes. Nesse sentido, enraizando-se na imaginação e construindo novas hipó-
teses e metáforas explicativas, o texto literário é outra forma/fonte de produ-
ção/apreensão de conhecimento.
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