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A relação dos homicídios ocorridos no município de Tramandaí/RS com


o uso de drogas pelos envolvidos
Thais Tusi Barcelos (1), Eduardo Sorensen Ghisolfi (2)
(1) Pós-graduanda em Farmacologia e Toxicologia, PUCRS, Brasil. E-mail: thaistusi@hotmail.com
(2) Doutor em Ciências Biológicas, PUCRS, Brasil. E-mail: ghisolfi@pucrs.br

Resumo: Este documento apresenta o modelo de formato que deverá ser utilizado nos artigos enviados
para o XI Encontro de Teoria e História no Rio Grande do Sul. O resumo, obrigatório, é constituído de
uma sequência de frases objetivas, não ultrapassando 300 (trezentas) palavras, em um único parágrafo.
No resumo deve ser destacado, de modo sucinto, o problema estudado, objetivo, métodos utilizados e
conclusões/resultados mais importantes. Adotar fonte Times New Roman tamanho 11 (onze), em itálico,
com parágrafo justificado (recuos esquerdo e direito iguais a zero). Logo abaixo do resumo devem ser
colocadas 3 (três) a 5 (cinco) palavras-chave, separadas por ponto-e-vírgula, com a primeira letra de
cada palavra em maiúscula e finalizada por ponto. Espaçamentos – antes: 12pts; depois: 0pt; entre
linhas: simples.
Palavras-chave: Modelo; Formatação; XI Encontro de Teoria e História.

1. Introdução
A questão do estudo das drogas, como a própria questão do estudo do adolescente em
geral, é obviamente muito complexa e ampla, envolvendo uma série de fatores, desde os
culturais, passando pelos sociais e ambientais, e finalizando nos familiares, talvez os mais
importantes numa abordagem psicanalítica. A evolução do consumo de drogas entre os jovens,
principalmente as consideradas ilícitas, vem preocupando a sociedade e o Poder Público, tendo
em vista as consequências desse hábito, especialmente no que se refere à violência.
É bastante frequente o uso de substâncias psicotrópicas nas sociedades e, de acordo com
Galduroz (apud SOUZA et al., 2011), numa breve retrospectiva histórica da humanidade, pode-
se observar que o consumo de drogas sempre esteve presente no cotidiano do homem desde as
primeiras notícias de sua existência.
Tratar o tema é muito complexo, pois envolve uma série de fatores, como o ambiente, a
sociedade, a família, a educação, entre outros, e a complexidade se torna maior ainda quando o
termo droga tem, para cada cultura, para cada indivíduo e para cada instituição um significado
diferente. No entanto, no entendimento de Hartwig (2010), é indiscutível que o consumo de
drogas tem se relacionado de forma muito significativa com o aumento da violência, seja na
forma de roubos, furtos e assaltos, como também, e principalmente, de assassinatos, decorrentes
de guerras de quadrilhas, acertos de contas e/ou por confrontos com a própria polícia.
Nos pequenos municípios, o crescimento da violência, principalmente relacionada ao
tráfico e consumo de drogas, tem assustado a população, especialmente face à inoperância do
Poder Público no combate às suas consequências. Essas colocações iniciais levam a um
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questionamento: Qual a relação existente entre o aumento da criminalidade em Tramandaí/RS e


o consumo de drogas ilícitas?
O objetivo deste estudo é analisar se existe alguma relação entre o consumo de drogas e
os casos de homicídios ocorridos no município de Tramandaí/RS e o porquê dessa relação.
Para se alcançar esse objetivo, buscou-se analisar os efeitos da droga sobre o organismo
humano, identificar o perfil dos usuários de drogas, analisar as características dos envolvidos em
homicídios no município em estudo, comparar os casos de homicídios com os casos de uso de
drogas.
A expansão da violência nas cidades e mesmo no campo, com a elevação dos índices da
criminalidade, é algo muito significativo e preocupante, na medida em que a reincidência, a
similaridade e a frequência se tornam cada vez mais significativas. Alguns estudos, como de
Guirardi e Manolescu (2011) e Engel et al. (2015), investigaram as causas da violência, mas são
escassas as pesquisas que tentam relacionar a criminalidade, especialmente no que se refere aos
homicídios com o uso de drogas. Alguns dados, como os citados nos estudos de Santos e
Kassouf (2008), apontam uma relação das mortes violentas com o tráfico, mas não com o
consumo.
No entanto, entende-se que traçar um paralelo entre o usuário de drogas e os casos de
homicídios pode se constituir num subsídio importante para a tomada de medidas de contenção
da violência e minimização dos casos de mortes violentas, sendo esta uma das justificativas deste
trabalho. Por outro lado, é importante esclarecer alguns dados referentes aos efeitos da droga no
comportamento social dos indivíduos, o que pode relacionar, também, a violência ao seu
consumo.

2 Referencial teórico

2.1 O uso de drogas pela humanidade

A constante busca por substâncias capazes de causar modificações nas funções nervosas é
considerada por alguns autores, como Waiselfisz (2010), um impulso tão potente como os
impulsos que levam à satisfação de necessidades fisiológicas, podendo mesmo suplantá-los, bem
como tão antiga como a própria humanidade. Achados arqueológicos já faziam menção ao uso
de substâncias psicoativas desde os primórdios da humanidade, como forma de obter coragem ou
força para enfrentar os obstáculos do homem primitivo.
Lacerda (2009), faz referência às civilizações antigas e indígenas para comentar o uso
antigo de substâncias psicoativas como agente medicinal ou estimulante para suportar as
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dificuldades do cotidiano de atividades e dificuldades, argumentando que seu uso é muito mais
antigo do que se pode supor:
Tanto nas civilizações antigas quanto nas indígenas, as plantas psicotrópicas como o
ópio, a coca e a maconha, eram bastante utilizadas para curar doenças, afastar espíritos
maus, obter sucesso nas caçadas e nas conquistas e atenuar a fome e o rigor do clima de
determinadas regiões. Essas plantas estavam ligadas a rituais religiosos, culturais,
sociais, estratégico-militares, entre outros (LACERDA, 2009, sp.).

Vargas (2011, p. 14) referenda a história para lembrar a antiguidade do uso de drogas
pelo ser humano:

A bem da verdade, se sabe que a droga sempre existiu e esteve sempre presente nos
contextos religiosos, místicos, terapêuticos, festivos, entre muitos outros. Destarte, pode
se considerar que a história das drogas é uma história inserida dentro da história da
humanidade e o passar dos anos tão somente fez variar o papel que essas substâncias
desempenham e o uso que se faz delas em cada cultura, a tal ponto que, de práticas
sagradas, as drogas passaram a ser vistas hoje como uma epidemia social.

Dados mais atuais sobre a utilização de drogas ilícitas no mundo, divulgados pelo
relatório do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes (UNODC) e relatados por
Queiroz (2008), dão conta de que mais de 220 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos as
utilizaram entre os anos de 2003 e 2004. Desse contingente, 4% da população na faixa etária
descrita, consumiram maconha. É um aumento de 14 milhões de pessoas em relação ao relatório
anterior do ano de 2004. No entanto, o mesmo relatório aponta que o consumo de drogas entre os
indivíduos na faixa etária ente 13 e 21 anos aumentou de forma muito significativa em relação às
outras faixas etárias.
Contudo, dados mais atuais do mesmo relatório no ano de 2015, descritos por Nemeth
(2015), apontam que a prevalência do uso de drogas continua estável em todo o mundo e que
cerca de 245 milhões de pessoas, isto é, pouco mais do que 5% da população mundial com idade
entre 15 e 64 anos, tenha feito uso de drogas ilícitas em 2013. De acordo com a autora, os dados
preocupantes neste contexto é que aproximadamente 27 milhões de pessoas fazem uso
problemático de drogas e, deste total, quase a metade são indivíduos que se utilizam de drogas
injetáveis.
Hoffmann (2013) aponta três fatores básicos para o aumento do consumo de drogas na
sociedade do final do século passado para o início deste: a produção em larga escala dos mais
variados tipos de substâncias psicoativas ilícitas; a rapidez dos meios de comunicação e a
facilidade de acesso a estes, especialmente o celular; e o aumento do número de pessoas com
poder econômico para adquirir e consumir.
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2.2 Os efeitos da droga e suas consequências

O princípio do que hoje é considerado como droga ilícita é o seu uso como forma de
buscar a cura para enfermidades humanas ou animais. Argumenta Queiroz (2008) que o próprio
nome utilizado em muitas casas comerciais especializadas em venda de medicamentos, as
“drogarias”, ao contrário da relação estabelecida pelos meios policiais, diz respeito à utilização
de substâncias com fins preventivos ou curativos de enfermidades. Assim, a droga se tornou
ilícita porque teve sua formulação ou seu uso adulterado ou inadequado.
Conforme Lacerda (2009, p. 6), existem muitas culturas onde as drogas têm utilização
corrente e desempenham um importante papel no convívio social, e cita o seu uso “em situações
de celebração ou para promover a inserção do indivíduo no grupo, como se observa entre os
adolescentes em relação ao álcool, para os quais o uso dessa droga funciona como um ritual de
passagem para a adolescência”.
No entanto, o que a torna ilícita é a forma como se faz uso dela e/ou as adulterações
realizadas no princípio básico da mesma para torná-la mais ativa ou mais forte, o que faz a
questão do uso de drogas constituir-se em problema extremamente complexo, tendo em vista
que, conforme Vargas (2011), envolve muitos fatores para que se possa ter uma clara noção da
complicada teia de relações que se centralizam na substância psicoativa.
Vargas (2011, p. 32) define a droga como “uma substância ou ingrediente químico
qualquer que por sua natureza produz determinado efeito”, e salienta que a ilicitude da mesma se
refere a “transição de um consumo moderado para a utilização intensiva, ou seja, quando o
usuário perde o controle sobre o produto”. Assim, de acordo com a autora, não é o produto que
se torna problema, mas a forma como ele é consumido ou utilizado.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cujo conceito é referido por Potter
(2010, p. 25-26), “droga é qualquer substância capaz de modificar a função dos organismos
vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento. Para farmacologia, todo
produto capaz de desenvolver uma atividade farmacológica, independentemente de sua toxidade,
seria considerado droga”.
Conforme Weigert (2010), o que diferencia quais são as drogas lícitas das ilícitas, no
Brasil, é a Lista F de substâncias do ANEXO I da Portaria nº 344/98 da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA). Esta sofre atualizações por meio de Resoluções da Diretoria
Colegiada (RDC). A última atualização ocorreu em 2006 (RDC nº 44/10).
A maioria dos estudos aponta três principais drogas ilícitas de uso contínuo e comum
entre usuários, especialmente jovens: a maconha, a cocaína e o crack. No entanto, segundo
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Lacerda (2009), muitas outras, incluindo algumas alterações destas citadas, como o ecstasy, além
das anfetaminas, solventes (cola de sapateiro), tranquilizantes com bebidas alcoólicas tem se
expandido no que diz respeito ao consumo.

Neves e Segatto (2010) alertam que ao fazer uso de uma substância psicoativa, o efeito,
de alguma forma agradável produzido pela droga, adquire, para o usuário, o caráter de uma
recompensa. Neste sentido, vários estudos experimentais desenvolvidos por psicólogos
comportamentalistas têm mostrado que quando algum tipo de comportamento é reforçado por
uma recompensa, ele tendo a ser repetidos e aprendidos. Dessa forma se explica o vício nas
drogas ilícitas, pois todas elas tendem a proporcionar algum tipo de sensação agradável ao
usuário.
Dentro dos transtornos pelo uso de substâncias, definidos pelo Manual Diagnóstico
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) da Associação de Psiquiatria Americana (APA) e
a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) da OMS, estão classificadas a intoxicação, o
abuso ou uso nocivo, a dependência e a síndrome de abstinência (GONÇALVES, 2015).
Lacerda (2009, p. 20) define intoxicação como:

O desenvolvimento de uma síndrome reversível, que ocorre após a administração


recente de grandes quantidades da substância psicoativa, produzindo alterações de
comportamento ou psicológicas, como resultado dos efeitos fisiológicos diretos da
substância sobre o sistema nervoso central e uma série de efeitos fisiológicos
característico da droga em vários outros órgãos e sistemas

A mesma autora considera como “a característica essencial do abuso ou uso nocivo da


substância é um padrão mal adaptativo de uso manifestado por consequências adversas
recorrentes e significativas relacionadas ao uso repetido da substância” (p. 20).
Gonçalves (2015) faz referência à dependência como o sintoma mais comum e marcante
do uso de drogas lícitas ou ilícitas, que se caracteriza por um conjunto de sintomas de natureza
cognitiva, fisiológica ou de comportamento, o que aponta para o uso sistemático e contínuo da
substância, apesar de problemas a ela relacionados.
Lacerda (2009, p. 23) descreve a existência de “um padrão de autoadministração repetida
que geralmente resulta em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo de consumo da
droga”. Conforme a mesma autora, “a característica essencial da síndrome de abstinência da
substância é o desenvolvimento de uma alteração comportamental mal adaptativa e específica a
essa, com prejuízos fisiológicos e cognitivos, devido à cessação ou redução do uso pesado e
prolongado da substância” (p. 24).
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Todos esses transtornos são passíveis de tratamento e cura, no entanto, na maioria dos
casos há um reincidência e retorno à toxicomania. Hoffmann (2013, p. 17) descreve a
toxicomania como “um estado de dependência, periódica ou crônica, nociva ao indivíduo e à
sociedade, produzido pelo costume repetido de uma droga, de origem natural ou sintética”. Neste
estado, o indivíduo manifesta uma acentuada dependência física ou psíquica à substância, que
não é alimento e que causa dano ao indivíduo e à sociedade, sendo que a primeira é caracterizada
por um impulso irresistível, e a dependência psíquica, expressa por absoluta falta de
autocontrole, em que ele não pode passar sem a droga.
Atualmente, grande parte dos autores considera a toxicodependência como uma doença,
no entanto, até bem pouco tempo não passada de uma imperiosa tendência mórbida. Hoffmann
(2013), explica que não se considerava a toxicomania como doença, mas como um sintoma de
desajustamento profundo da personalidade; não é uma doença, na acepção médica de morbidade,
mas um fenômeno psicossocial de desvio.
Em geral, todas as substâncias psicoativas que vem sendo utilizadas usualmente na forma
de drogas ilícitas causam algum tipo de alteração no cérebro ou no sistema nervoso central e os
efeitos e as consequências daquelas tendem a ser altamente complexos. Conforme Dayrel (2011),
as consequências do uso contínuo de drogas são muito preocupantes, tendo em vista que a
dependência e principalmente a crise de abstinência podem levar o indivíduo a perder totalmente
o equilíbrio emocional e a noção de certo e errado.
A maconha é uma das drogas ilícitas de menor impacto orgânico, fisiológico e
comportamental, mas altera o humor e a atividade cerebral. Conforme Queiroz (2008, p. 16), “a
maconha fumada causa a maioria dos mesmos problemas de saúde relacionados ao tabaco.
Fumada ou comida, a maconha pode quebrar o equilíbrio, a coordenação física e a percepção
visual”, porém não chega a ser uma droga de grandes efeitos psicotrópicos capazes de alterar de
forma profunda o estado de consciência do indivíduo.
Conforme Neves e Segatto (apud HOFFMANN, 2013), as alterações produzidas pelo uso
contínuo de cocaína são mais significativas, pois esta pode induzir alterações do humor
conforme a quantidade de dopamina e noradrenalina liberada no cérebro, e conforme o aumento
da dose ingerida, há uma variação no efeito psicoestimulante de moderado a tóxico.
Além disso, os autores comentam que “o efeito estimulante de suprimir o apetite
desenvolve-se dentro de poucas semanas”. Além disso, comentam que o uso continuado da
cocaína “pode desencadear-se estado de psicose tóxica, com alucinações visuais e auditivas,
delírio, ideias paranoides e tendências suicidas” (HOFFMANN, 2013, p. 12).
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Queiroz (2008, p. 25) define o crack como “uma mistura de cocaína em forma de pasta
não refinada com bicarbonato de sódio, soda cáustica e água. [...] Após inalada, a fumaça das
pedras faz efeito em menos de dez segundos. O efeito do crack dura, em média, dez minutos”. O
grande problema do crack é que os pulmões chegam a absorver 100% da droga inalada e, ao
contrário da maioria das outras drogas, ele já nasceu como alternativa para causar modificação
no estado mental do usuário.
O mesmo autor relaciona o ecstasy, ou MDMA, como a droga do momento na atualidade,
sendo intenso seu consumo e, depois da maconha e da cocaína, a que mais recebe atenção da
mídia e a que mais tem preocupado os profissionais de saúde. “O princípio ativo do ecstasy é o
mesmo do LSD, a Metilenodioxidometaanfetamina (MDMA). Sua forma de consumo é por via
oral, através da ingestão de um comprimido” (QUEIROZ, 2008, p. 23). A potencialização da
droga é alcançada quando ingerida juntamente com bebidas alcoólicas, o que intensifica ainda
mais o efeito e agrava os riscos.
As consequências do uso de ecstasy podem ser devastadoras, pois segundo Queiroz
(2008, p. 24):

Os efeitos da droga vão da alegria à euforia, que duram aproximadamente quatro horas,
mas que podem se estender por até doze horas. A tendência é que o usuário precise de
doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito, o que pode levar a graves danos
físicos. Há muita contradição quanto à possibilidade de overdose por ecstasy, mas a
droga pode levar à morte por outras complicações clínicas.

Gavioli et al. (2014) citam estudos que apontam para a elevação da ocorrência de
episódios violentos no ambiente laboral por decorrência do consumo de drogas pelos
trabalhadores. Conforme os autores, “tal consumo e reconhecido como sendo, atualmente, o
principal protagonista das patologias traumáticas, e os encargos impostos ao sistema brasileiro de
saúde por problemas de saúde relacionados a esse consumo resultam em elevados custos sociais
e econômicos” (p. 274).

2.3 A relação do consumo de drogas com a criminalidade

A expansão do consumo de drogas e da violência tem assustado a população pelo que se


pode de forma empírica, estabelecer uma pequena relação entre eles. No entanto, são dados
científicos de pesquisas que apontam nessa direção, apesar de poucos estudos terem relacionado
o consumo de drogas com a criminalidade, mas evidenciam essa relação com o tráfico apenas, o
que torna pouco significativos e muito redundantes os dados encontrados.
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Estudos desenvolvidos por Engel et al. (2015) indicam que as brigas familiares e a
agressividade de pais, bem como o uso de álcool e drogas na família como motivação para a
violência, isto é, relaciona o uso de drogas ao crescimento dos quadros de criminalidade no país.
Da mesma forma, o trabalho de Martins (2014), realizado em 2012 num levantamento em todo o
país, aponta como causas da violência e criminalidade a facilidade ao acesso a armas de fogo,
bem como o consumo e tráfico de drogas. Portanto, o consumo de drogas, além dos efeitos
orgânicos, fisiológicos e psicóticos que origina, é responsável por parte do quadro de violência
no país.
Nesse sentido, é possível verificar-se na maioria dos estudos uma relação bastante
significativa do aumento do consumo de drogas e o aumento da criminalidade no pais.
Neves e Segatto (apud HOFFMANN, 2013) relatam alguns estudos epidemiológicos que
mostram o aumento dos índices do consumo de drogas nas últimas décadas, com a mesma
prevalência no Brasil, como em outras regiões do mundo, especialmente nos países menos
desenvolvidos ou em populações de baixa renda. No entanto, os mesmos estudos apontam que a
classe média e alta não está fora destas estatísticas, mas não está frequentemente na relação de
indivíduos envolvidos com quadros violentos ou de criminalidade.
Conforme Dayrel (2011), apenas num estudo desenvolvido no município de São Paulo foi
analisada a presença de drogas entre os homicídios de residentes, sendo constatado que em 55%
das vítimas não foi realizado o exame toxicológico. A relação das drogas com a criminalidade é
detectada pela autora, ao relatar que vários estudos epidemiológicos mostraram “a manutenção
de um padrão estável de consumo de drogas entre as vítimas de homicídio na cidade de Nova
York entre 1990 e 1998, independente da tendência de queda das taxas de mortalidade na
população no mesmo período” (p. 27).
Para Panucci (2014), as consequências nefastas do uso continuado de drogas são a
dependência desta, fato que leva o indivíduo viciado a criar grande necessidade de consumir a
droga e de procurá-la por todos os meios. Além disso, destaca ainda “a tolerância, pela qual o
efeito produzido passa a ser cada vez menor para as mesmas doses da droga, exigindo doses cada
vez maiores para que o efeito seja da mesma amplitude que antes e as profundas alterações
orgânicas, circulatórias, nervosas e da própria personalidade” (p. 44).
Esses fatos podem tornar o indivíduo violento na busca da satisfação de suas
necessidades, podendo incorrer em ato criminoso para tal. Conforme Hartwig (2010), o que
acontece é que o dependente tenderá a cometer a ação delituosa com o objetivo específico de captar
recursos para a aquisição da droga e sustentar o próprio vício, da mesma forma que poderá incorrer
na criminalidade para entrar ou se manter no mercado de drogas.
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Conforme Engel et al. (2015), dos mais de 75.000 processos criminais que tramitam nas
delegacias e fóruns da cidade do Rio de Janeiro até 2013, aproximadamente 34% estão relacionados
ao tráfico e ao uso de entorpecentes. E o mais preocupante, segundo os autores, é que destes, 40%
dos processos que corriam na 2ª Vara da Infância e da Juventude eram relacionados ao tráfico,
mostrando que cada vez mais os adolescentes estão envolvidos com drogas e, por isso, cresce a taxa
de crimes cometidos por essa população bem como o envolvimento destes em homicídios, seja como
autores, seja como vítimas.
Para Panucci (2014), o que leva o usuário a praticar crimes ou se iniciar no tráfico é o
desejo invencível de consumir a droga, não dispondo de meios financeiros para a manutenção do
vício. Segundo o autor, “o indivíduo precisa da droga, e como não tem dinheiro, o único meio
que encontra para consegui-lo é traficando, furtando ou roubando. Por isso se diz que o uso da
droga constitui um fator para a criminalidade” (p. 44-5).
A relação entre o uso de drogas e a criminalidade é destacada por Cerqueira (201r, p. 29),
ao comentar que “os conflitos interpessoais e o uso da violência letal podem ser largamente
influenciados pela presença de fatores criminógenos como armas e drogas psicotrópicas”. E
complementa: “As drogas psicoativas ilícitas se relacionam com os crimes violentos, e em
particular com os homicídios, potencialmente, como consequência de seus efeitos
psicofarmacológicos da compulsão econômica, e sistêmicos”.
Esse pensamento é compartilhado por Francisquinho e Freitas (2008, p. 22): “Para
sustentar o vício, os indivíduos se predispõem a cometer crimes de motivação econômica, e na
maioria das vezes, com violência por conta do uso da droga”.
Da mesma forma Chalub (apud SILVA, 2011), relata inúmeros estudos que estuda a
relação entre o uso de drogas e a criminalidade, e que constataram haver, sim, uma alta
correlação entre a criminalidade e os vários transtornos desenvolvidos por efeitos de drogas. Os
dados sobre crimes violentos apontam a existência de grande quantidade de atos violentos
marcados pela presença de drogas ilícitas e álcool entre os agressores, entre as vítimas ou mesmo
em ambos.
Rocha (2012) relaciona o tráfico de drogas com as taxas de homicídios, destacando que
as guerras entre gangues rivais e disputas por pontos de vendas são o principal agravante neste
contexto, apesar de comentar que é preciso ter presente que nem todos os homicídios tem origem
no tráfico ou consumo de drogas e que mesmo neste caso, nem sempre é o consumo a causa:

O tráfico de drogas é um dos elementos que faz o ciclo das guerras se renovar através de
novos conflitos, mas embora o tráfico seja um tema recorrente na fala dos integrantes
destes grupos, em nenhum momento surgiu como a justificativa ou motivação de
homicídio ou elemento originário de uma guerra. Mais do que uma explicação totali-
10

zante, acredito que o presente estudo tenha trazido indícios de uma dinâmica violenta e
complexa, que se sustenta e reitera a partir de cada um dos confrontos e suas conse -
quências (ROCHA, 2012, p. 16).

Também Cerqueira (2014, p. 57) faz uma relação bastante interessante do consumo de
drogas com a taxa de homicídios no pais:

[...] a proliferação da arma de fogo parece ter sido o fator mais importante para explicar
o aumento dos homicídios na década de 1990. (...) 1991/2000 - Aumento de 33,3% na
demanda por armas resultou em aumento de 44 pontos % na taxa de homicídios.
Redução de 29,5% no consumo de drogas ilícitas resultou em redução de 7,6 pontos
percentuais na taxa de homicídios.
Os relatos acima mostram que se pode estabelecer uma relação próxima da criminalidade
com o tráfico e o uso de drogas, tanto por vítimas quanto por praticantes. A relação de
homicídios com o tóxico é bastante evidente em praticamente todos os trabalhos explorados até
agora neste estudo.

3 Metodologia de pesquisa

O estudo se caracterizou por uma pesquisa descritiva, de caráter exploratório, cujo


metodologia foi de estudo de caso na forma de levantamento documental retrospectivo que, de
acordo com Gil (2010), refere-se ao estudo que se utiliza de dados já existentes e os analisa de
acordo com sua relação social. Este. Os dados foram sustentados pelos trabalhos de Santos e
Kassouf (2008), Dayrel (2011) e Guirardi e Manolescu (2011), Panucci (2014), Oliveira (2016),
entre outros.
O levantamento foi feito junto à Delegacia de Polícia Civil (DP) de Tramandaí/RS, com
base nos inquéritos policiais registrados no período de janeiro de 2010 a dezembro de 2014,
buscando a relação do uso de drogas com a criminalidade. Foi feito um levantamento sócio
demográfico dos envolvidos em homicídios no período pesquisado, buscando-se sua relação com
gênero, idade, cor, motivação e tipo de droga envolvido.
Não foram revelados nomes nem características pessoais dos envolvidos e o estudo teve
autorização do Delegado de Polícia da Civil de Tramandaí/RS, buscando-se manter o sigilo das
informações pessoais.
Os dados foram levantados e posteriormente tabulados em gráficos do programa
Microsoft Excel para posterior análise. Esta foi feita através da análise comparativa com estudos
anteriores sobre o mesmo tema.

4 Resultados e discussão
11

O levantamento documental foi realizado entre os meses de maio e julho de 2016, com
autorização do Delgado de Polícia do município de Tramandaí/RS, contando com um exaustivo
levantamento de dados dos registros de inquéritos policiais.
O estudo documental retrospectivo realizado na Delegacia de Polícia Civil do município
de Tramandaí /RS, mostra um elevado índice de ocorrências e, dentre estas, uma alta taxa de
criminalidade entre 2010 e 2014, com percentuais se elevando até 2012 e decrescendo, a partir
de então, entre os praticantes, o mesmo ocorrendo entre as vítimas (Gráfico 1).

80
68
70 64
60 52 52
50
38
40
30 24
20 20 20
20 16
10
0
2010 2011 2012 2013 2014

Praticantes Vítimas

Gráfico 1. Número de homicídios registrados na DP de Tramandaí/RS (2010 a 2014)


Fonte: Dados primários 2016.

Os dados da pesquisa mostram que a criminalidade teve um crescimento exponencial de


cinco vezes de 2010 a 2012, decaindo pela metade em 2013 e pela metade em 20214 com
relação ao ano anterior. Quanto ao gênero, os dados apontam também que a maioria dos
indivíduos, tanto praticantes como vítimas, são do sexo masculino (93,2%), dados estes que
estão de acordo com os trabalhos nesta área desenvolvidos por Santos e Kassouf (2008), Panucci
(2014) e Engel et al. (2015), os quais apontam prevalência de indivíduos do sexo masculino entre
praticantes e vítimas de crimes nas regiões metropolitanas.
No que se refere à raça, o estudo aponta para uma significativa prevalência de indivíduos
da raça branca como praticantes (76,7%), e como vítimas com baixa prevalência entre pardos e
negros (23,3%), contrariando resultados de trabalhos que embasaram este estudo (OLIVEIRA,
2008; SANTOS, 2012; ENGEL et al., 2015). Da mesma forma, contrariando o que apontam
vários trabalhos (DYREL, 2011; GUIRADI e MANOLESCU, 2011; OLIVEIRA, 2016), a
maioria das vítimas é, também, formada por indivíduos da raça branca. No trabalho de Dyrel
(2011), 65% dos praticantes e 70% das vítimas é da raça negra. A proporção nos trabalhos de
Guiradi e Manolescu (2011) e Oliveira (2016) pouca diferença apresentam do primeiro.
12

Quanto à idade dos praticantes e das vítimas (Gráfico 2), nota-se que entre os primeiros, a
faixa etária predominante, com pouca diferença com relação a outras duas (de 18 a 21 anos e
menos de 18 anos), é a que se situa entre 22 e 30 anos. Da mesma forma, entre as vítimas, a faixa
etária que mais prevalente é a situada, também, na faixa etária compreendida entre 22 e 30 anos,
seguindo-se a de 18 a 21 anos, e posteriormente a faixa etária de indivíduos com mais idade
(acima de 40 anos).
96
100
84
80 72
60
60 44 52
40 20
24 32 32
20
4 12
0
>18 18-21 22-30
anos anos 31-40 41-50
anos anos < 50
anos anos
Praticantes Vítimas
Gráfico 2. Faixa etária da criminalidade em Tramandaí/RS (2010 a 2014)
Fonte: Dados primários 2016.

Os dados da pesquisa mostram que o pico da criminalidade por idade se situa na faixa de
22-30 anos (32,9%) e a menor é a situada entre 41-40 anos (1,4%), entre os praticantes. Entre as
vítimas, a faixa etária de maior prevalência é a mesma dos praticantes (30,4%), e a de menor é de
31-40 (8,7%). Estes dados são congruentes com os trabalhos desenvolvidos neste campo por
Guirado e Manolescu (2011), Martins (2014) e Engel et al., (2015).
Andrade (2011) e Waisefisz (2011;) relatam que são os jovens de 18 a 25 anos os que
mais aparecem como os principais envolvidos na criminalidade nos centros urbanos, tanto como
vítimas ou como autores. Os trabalhos de Lico (2009) e Hartwig (2010), no entanto, mostram
indivíduos muito mais jovens como os principais praticantes de crimes, bem como aqueles que
sofrem com a violência urbana.
De acordo com os dados da pesquisa, o fato gerador da criminalidade está relacionado,
em grande parte dos casos, ao consumo ou ao tráfico (Gráfico 3).
13

108
120
100
80 68
60
40 28
20 8
0
4

Categoria 1
Drogas Motivo fútil Não citado Latrocínio Racismo

Gráfico 3. Motivo relacionado ao crime


Fonte: Dados primários 2016.

Os dados do estudo mostraram que, tendo a droga como princpçal motivador, a relação
entre o crime organizado e os homicídios no município é muito significativa, com padrões
semelhantes aos das grandes metrópoles nacionais, onde o crime organizado, especialmente no
que se refere às guerras entre traficantes, a rivalidade por pontos de venda e a cobrança de venda
de drogas sem pagamento com execução da vítima são os fatos mais comuns, atualmente nas
grandes cidades, de acordo com estudos recentes (DYREL, 2011; MARTINS, 2014; ENGEL et
al., 2015, OLIVEIRA, 2016).
Conforme Dayrel (2011, p. 22), “o mais consistente e previsível vínculo entre homicídios
e drogas é observado no tráfico de drogas. No Brasil, o crime organizado expandiu e
institucionalizou-se a partir da década de 80, contribuindo para o aumento das estatísticas de
homicídios”. Por outro lado, Silva (2011, p. 46) afirma que “a grande maioria de estudos
voltados para a relação entre drogas e criminalidade, afirmam que há, sim, uma correlação entre
transtornos desenvolvidos por efeitos de drogas e a criminalidade”. E Francisquinho e Freitas
(2008, p. 22) complementam: “Para sustentar o vício, os indivíduos se predispõem a cometer
crimes de motivação econômica, e na maioria das vezes, com violência por conta do uso da
droga”.
O estudo mostra ainda que existe uma relação muito intensa entre o autor do crime e o
consumo de drogas (Gráfico 4), perfazendo um percentual de 76,4%. Entre os praticantes, apenas
18,2% não revelaram serem usuários de drogas.
14

180 164
160
140
120
100
80
60
40
40
20 12
0
Sim Não Não respondeu/Não citado

Gráfico 4. Uso de drogas pelos autores de crimes


Fonte: Dados primários 2016.

O levantamento realizado, cujos dados são aqui expostos, mostra que mais de 75% dos
envolvidos é usuário confesso de algum tipo de droga e isto, segundo alguns estudos (LICO,
2009; HARTWIG, 2010; PANUCCI, 2014; ENGEL et al., 2015; OLIVEIRA, 2016), se
relaciona de forma muito clara com a criminalidade. Os estudos de Lico (2009) e Dayrel (2011),
apontam para a ociosidade e a vivência nas ruas como um caminho para o início no mundo das
drogas pelo adolescente, o que aumenta a chance de seu ingresso no mundo do crime.
Dados revelados nos trabalhos de Santos e Kassouf (2012, p. 354) num estudo sobre
drogas no país, mostra que “o mercado de drogas não se limita à produção e comércio de drogas
ilícitas, mas também envolve a violência física e corrupção para a sua manutenção”. Santos
(2012), ao estudar a criminalidade e sua relação com a droga em Teresina/PI, concluiu que o uso
de drogas ilícitas se fez presente em mais de 27% dos casos de homicídios no município. No
entanto, Francisquinho e Freitas (2008) lembram que a falta de informações precisas e concretas
sobre o uso de drogas e sua relação com os casos de atentado violento à vida mascaram as
estatísticas da relação entre o tráfico e a criminalidade.
Este estudo buscou identificar ainda o tipo de droga mais consumida normalmente pelos
praticantes dos homicídios (Gráfico 5).

140 132
120

100

80 68
60

40
16
20

0
Crack Álcool Maconha

Gráfico 5. Droga mais consumida pelo autor do crime


Fonte: Dados primários 2016.
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Os dados mostram o crack e o álcool como as drogas mais consumidas por praticantes de
crimes neste estudo, o primeiro, sendo a droga mais consumida entre a população de baixa renda
e com grande penetração no mundo do crime segundo estudos de Hartwig (2010) e Engel et al.
(2015). É uma droga muito mais barata que a cocaína, mas muito mais intensa a sua atividade
(PANUCCI (2014), o que faz o usuário se tornar dependente em pouco tempo. Estudos de
Cerqueira (2014) apontam aumento da criminalidade na região nordeste do país pelo crescimento
do mercado da droga, especialmente o crack. Este estudo revela uma relação muito significativa
entre o consumo de crack e a violência, caracterizada por crimes contra a pessoa, especialmente
assassinatos e execuções sumárias, da mesma forma que os estudos de Santos (2012) e Oliveira
(2016).
A prática de crimes revelada neste trabalho mostra que, em grande parte deles, o
praticante agiu sozinho, o que também pode não se constatar em outros estudos (RAMOS, 2009;
SILVA, 2011; WAISELFISZ, 2011, ENGEL et al. (2015), onde grande parte dos crimes foi
cometido por mais de um agente e sendo motivado pelo uso ou tráfico de drogas. Ao mesmo
tempo, grande parte das vítimas não tem passagem pela polícia, mas é muito evidente a relação
entre os homicídios na cidade e o tráfico, tendo em vista que, quanto aos agentes da ação, mais
de 80% das ocorrências tem relação do praticante ou da vítima com algum tipo de droga, seja por
uso ou por tráfico, seja no caso de homicídios, como também nos casos de estupro de vítimas
com ou sem posterior execução.

5 Considerações finais

O índice de violência que tem se instaurado no país tem assustado a população, ao


mesmo tempo que vem preocupando as autoridades governamentais, bem como revelado um
lado bastante crítico e ineficiente das ações até então realizadas no combate à criminalidade. Em
grande parte dos casos, o crescimento da violência e, principalmente, das taxas de homicídios,
tem uma relação muito estreita com o consumo e com o tráfico de drogas, mostrando que as
ações não devem se voltar ao combate ao crime, mas ao tráfico.
Os dados da pesquisa mostraram que grande parte dos homicídios ocorridos no período
de 2010 a 2014 no município de Tramandaí/RS tem uma relação muito intensa e significativa
com o uso de drogas, especialmente o crack, e com o tráfico. A droga tem o poder de modificar o
comportamento do usuário, de tal forma que ele, para conseguir o “produto” para uso, é capaz de
agir de forma inconsequente e irresponsável, incluindo praticar crimes contra a pessoa. Como
vários estudos analisados neste trabalho, os dados aqui expostos mostram que a realidade do
16

município analisado, como de resto em grande parte dos centros urbanos do país, o uso de drogas
tem se revelado um aliado da criminalidade.
Este foi um estudo documental, com alguns dados incompletos com relação ao
levantamento realizado na Delegacia de Polícia de Tramandaí/RS, pois para este trabalho,
especificamente, a maioria dos inquéritos policiais não revela se praticante ou usuário estavam
sob efeito de drogas quando da ocorrência do fato pelo, ou se os mesmos eram usuários de
drogas.
No entanto, ficou evidente que de alguma forma, a maioria dos envolvidos nos casos
relatados neste estudo teve alguma relação com o consumo ou com o tráfico de drogas,
caracterizando que a toxicomania pode incitar o indivíduo, de alguma forma, à prática de atos
ilícitos, incluindo o homicídio.
Pode-se concluir, com base nos estudos anteriores e nos dados levantados neste trabalho,
que existe uma relação muito próxima do consumo de drogas com os índices de criminalidade no
município de Tramandaí/RS, tendo em vista que os efeitos da droga no comportamento do
indivíduo, bem como a necessidade do uso constante, aliado, em algumas situações, à falta de
poder aquisitivo levam o indivíduo à pratica de crimes, onde se incluem com números muito
significativos, os homicídios.
O estudo revelou, no que se refere à revisão bibliográfica, que os efeitos da droga no
sistema nervoso central podem modificar a capacidade lógica de raciocínio, assim como afetar a
capacidade de discernimento, o que explicaria as ações violentas e inconsequentes praticadas
pelo usuário. Isso explica os dados da criminalidade revelados neste trabalho.

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