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UTILIZAÇÃO DO IGARAPÉ DA PONTE PARA A POPULAÇÃO DA

ZONA RURAL NA VILA DO PIRÍ, MUNICÍPIO DE CAPITÃO-POÇO,


PARÁ

Francisco Rodrigo Cunha do Rego1, Felipe Cunha do Rego2, Fernanda Carneiro Romagnoli3.

INTRODUÇÃO

A água é um recurso indispensável a todos os seres vivos, inclusive aos seres


humanos, sendo promotora da vida e da conservação do equilíbrio da natureza. O direito à
água compõe o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado sendo, portanto, um
prolongamento do direito à vida e configurando-se, também, como direito fundamental
(GODOY, 2007).
Segundo Abramovay (2003) e Cardoso (2014), comunidades rurais podem ser
definidas por dois critérios: o primeiro é a relação com a natureza, que se caracteriza pela
proximidade com o meio natural e o segundo por viverem em áreas não densamente povoadas
que possibilitam o fortalecimento das relações sociais e de vizinhança, como no caso da vila
do Pirí,
Em comunidades rurais da Amazônia, igarapés são importantes fontes de água embora
o abastecimento prioritário ocorra por meio de poços (artesanais ou artesianos) e nascentes,
fontes bastante suscetíveis à contaminação (AMARAL et al., 2003), o que corresponde a um
modo de vida específico nesses ambientes (RODRIGUES, 2015). Neste contexto amazônico,
as águas dos igarapés são utilizadas para fins domésticos, de fluxos de pessoas, de lazer e
turismo, de subsistência, de energia, de pesca, transporte de mercadorias, entre outras funções
(RODRIGUES, 2015)
Uma das características marcantes neste contexto é a cultura das brincadeiras e o lazer
relacionado ao âmbito familiar (RODRIGUES, 2015). Constata-se que, nos finais de tarde é
costumeiro o banho de rio por crianças e adolescentes que envolvem mergulhos, passeios de
canoas, brincadeiras de perseguição e pulos de árvores localizadas nas proximidades de rios.
Por outro lado, a utilização destes igarapés também tem seu aspecto negativo, visto
que, dependendo da atividade e região, possivelmente essas ações podem acarretar impactos
negativos ao ambiente como, por exemplo, a poluição por descarte irregular de resíduos pela
população, ou pela exploração exagerada de espécies (na pescaria ou na retirada de cipós para
a fabricação de instrumentos artesanais).
Assim, este trabalho teve como objetivo avaliar quantitativa e qualitativamente a
utilidade de um igarapé pela comunidade na zona rural de Capitão Poço/PA, buscando
responder à seguinte questão: como o igarapé da Ponte é usado para satisfazer a necessidade
da comunidade de Vila do Pirí?
Os resultados podem servir como subsídio para um planejamento de uso do espaço, de
modo a compatibilizar sua função de contribuir com a população e, ao mesmo tempo, manter
suas funções ecológicas e serviços ambientais.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo
A Vila do Pirí, faz parte da área rural de Capitão Poço, Pará. O Pirí localiza-se cerca
de 30 km do centro de Capitão Poço, entre os limites municipais desta cidade e de Garrafão
do Norte(Figura 1). É banhado pelo Rio Guamá e, por isso, possui uma considerável rede
hidrográfica, sendo cortado por uma série de igarapés (afluentes) que desembocam no rio
principal. O Igarapé da Ponte é o mais conhecido e frequentado, visto que fica na região
central da vila.
O Pirí possui uma população em torno de 1.000 habitantes e economia baseada na
agricultura familiar, basicamente na produção de frutas cítricas (laranja, limão e tangerina),
farinha de mandioca, feijão e milho. A renda mensal média é de R$537, 00 por habitante,
segundo o censo de 2010 (IBGE, 2010).

Figura 1: mapa de localização da vila Pirí , município de capitão-poço, 2018 Fonte: elaborada pelos
autores.

Coleta de dados
Foram aplicadas 60 entrevistas estruturadas (questionários), buscando identificar a
relação do igarapé da ponte com a realização de algumas atividades pela população da Vila do
Pirí, fazendo uma análise quantitativa e qualitativa deste uso. Os entrevistados foram pessoas
escolhidas de maneira aleatória que habitavam nesta comunidade. As perguntas eram
relacionadas ao perfil dos entrevistados, como o sexo, idade e a proximidade da sua casa para
o Igarapé da Ponte, e se a pessoa desempenhava alguma atividade no igarapé e, caso a
resposta fosse positiva, qual seria esta atividade.

análise de dados.
Posteriormente os dados foram tabelados e analisados, por meio do programa excel na
versão de 2010, no qual foi realizados a observação do uso e das atividades realizadas no
igarapé, e depois foram feitos os cálculos de porcentagem.

RESULTADOS E DISCUSSÃO.

A média de idade dos entrevistados foi de 25, 87 anos, variando as idades entre 15 a
65 anos, sendo 26 do sexo masculino e outros 34 do sexo feminino. A maioria dos
entrevistados (90%) desempenha algum tipo de atividade no igarapé (Figura 1).
100%
90%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
10%
0%
sim não

Figura 1: Resposta em porcentagem da pergunta: você desempenha alguma atividade no igarapé da ponte?
Fonte: elaborada pelos autores.

A Figura 2 mostra as principais formas de uso deste igarapé, evidenciando a execução


de cinco atividades (banho e recreação, lavagem de roupa e louça, lavagem de veículos,
pescaria e produção de farinha).
40.74%
40%
30% 25.92%
18.53%
20%
10% 7.41% 7.41%

0%

Figura 2: Porcentagem de respostas à pergunta: qual a principal atividade desempenhada por você no Igarapé da
Ponte? Fonte: elaborada pelos autores.

Os resultados obtidos demonstram a grande relação que a comunidade tem com o


igarapé, tendo, inclusive uma dependência para atividades de subsistência. No entanto, as
atividades desempenhadas podem ocasionar em danos à biota aquática como, por exemplo,
com o uso de produtos de limpeza nas lavagens. Além disso, é frequente o descarte irregular
de embalagens. Isso demonstra a necessidade de um processo sensibilizatório desta população
com relação a utilização racional do igarapé, de modo a causar menores danos.
O fato deste igarapé ter maior utilização para banho e recreação (40,74%), se deve
principalmente por sua localização na região central da vila, além de possuir uma área
descampada associada, que por vezes é utilizada para jogos de futebol e vôlei por banhistas.
Foram detectadas, ainda, atividades feitas secundariamente pela comunidade como a
pescaria e a produção de farinha. Ambas são atividades tradicionais da região amazônica.
Porém, a pescaria provavelmente não apresenta alta frequência no local, pois o Rio Guamá
está próximo (menos de 1 km), sendo um lugar mais atrativo para os pescadores. Com relação
à produção de farinha, a água do igarapé é utilizada para amolecer a casca da mandioca.
Dependendo da quantidade de mandioca exposta à água, pode haver ampla liberação de
manipueira, substância que possui ácido cianídrico (HCN), uma substância tóxica, como
argumenta Duarte et al., (2012).
As formas de uso de igarapés demonstradas no resultado deste trabalho são bastante
comuns em vários locais da Amazônia. Resultados semelhantes foram encontrados em duas
comunidades ribeirinhas na cidade de Barcarena, Pará, descritos por Rodrigues (2015), que
afirma que estas comunidades satisfazem suas necessidades básicas muitas vezes utilizando as
águas de rios e igarapés, como para higiene pessoal (banho) e limpeza em geral, por exemplo,
na lavagem de materiais domésticos.
No entanto, não foi identificado neste estudo, ao contrário do estudo de Rodrigues
(2015) o uso deste igarapé para transporte de pessoas e mercadorias em canoas. Isto ocorre
devido a este igarapé apresentar barreiras físicas para a navegação, tendo baixo o nível de
água no verão e também pela presença de encanamentos em certos trechos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMOVAY, R. O futuro das regiões rurais. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2003.

AMARAL, L.A. et al. Água de consumo humano como fator de risco à saúde em
propriedades rurais. Revista de saúde pública, São Paulo, v.37, n. 4, p. 510-514, 2003.

CARDOSO, L. C. R. Tecendo redes sobre a saúde dos povos tradicionais da Amazônia: um


enfoque antropológico, 150 f. 2014. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do
Amapá, Macapá, 2014.

DUARTE, A.S.; SILVA, Ê.F.F.; ROLIM, M.M.; FERREIRA, R.F.; MALHEIROS, S.M.M.;
ALBUQUERQUE, F.S. Uso de diferentes doses de manipueira na cultura da alface em
substituição à adubação mineral. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental,
Recife, v.16, n3, p.262-267, 2012.

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – cidades Capitão Poço/PA – Censo


2010. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/capitao-poco/panorama Acesso em:
03 de agosto de 2018.
RODRIGUES, F. C. Uso doméstico da água em comunidades ribeirinhas: diagnóstico das
comunidades dos furos Conceição e Samaúma, na ilha das Onças, estado do Pará. 2015. 66 f.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Pará, Núcleo de Meio Ambiente, Belém,
2015. Programa de Pós-Graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local
da Amazônia.
GODOY, G. G. Aqüífero Guarani: A fundamentalidade do direito à água e sua titularidade
difusa. Universidade Federal Do Paraná, Curitiba, 2007.

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