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Conversão de áreas florestais 69

Para Nelson Barboza Leite, o desafio é primeiramente uma questão de eventual


valorização da madeira. Caso o preço de venda se torne mais atraente para esses
produtores que hoje estão deixando a silvicultura, a conversão em áreas agrícolas
continuará nos casos específicos em que a terra em questão tem um valor especialmente
alto, com potencial particularmente promissor para alta produtividade agrícola.
Contudo, uma reversão efetiva do cenário é difícil de vislumbrar.

“Considero difícil reverter esse cenário. A área que tem aptidão agrícola deve ser área
agrícola. O setor florestal precisa se adaptar para conseguir trabalhar nessas áreas mais
dobra – das, que não têm aptidão agrícola, áreas mais difíceis, com relevo ou com solo
que não seja tão fértil. Nosso segmento precisará aprender a trabalhar nisso, porque essa
vai ser a realidade. Dificilmente teremos uma inversão no futuro, porque a demanda de
alimento não vai diminuir, sempre vai crescer. Por isso, o setor precisa se adaptar, se
reinventar, buscar tecnologia e novos sistemas para mecanizar tanto a atividade de
silvicultura, como a de colheita, algo que já está mais avançado nas áreas de colheita do
que na silvicultura”, argumenta Álvaro Scheffer Jr., da Apre.

Nesse cenário, as associações representativas e o setor como um todo vão precisar se


unir para desenvolver novos caminhos, novas tecnologias para aprimorar a eficiência e a
produtividade nesses terrenos. A Apre destaca que essa realidade não vem acontecendo
somente no Paraná, mas em outros Estados também. “A demanda por alimento não vai
diminuir e a demanda por madeira também não, já que a procura por sustentáveis só
tende a aumentar. Mas não adianta querer competir com o setor de produção de grãos. É
preciso entender como produzir nessa nova realidade”, acrescenta o presidente da
Associação.

Para Nelson Barboza, a tendência de conversão de pequenas propriedades florestais em


áreas agrícolas não tem ou terá um grande efeito econômico sobre o setor florestal
brasileiro como um todo, visto que o suprimento de madeira nas grandes indústrias já
está garantido e bem planejado na maior parte dos grandes polos produtivos do país.
Porém, trata-se de um efeito demonstrativo bastante negativo, que acaba por inibir o
crescimento e a adesão de novos produtores à silvicultura.

Com isso, o profissional argumenta que há dois caminhos para os pequenos produtores
que tencionam permanecer no setor florestal: para aqueles que estão próximos às
indústrias, é preciso ter tecnologia para extrair e transportar essa madeira a custo
competitivo e vendê-la mais facilmente; para aqueles que estão mais distantes, a saída
seria transformar pequenas propriedades em grandes produtores, e a forma de fazer isso
seria investir no cultivo de espécies de madeira mais rica, de maior valor agregado. Isso
inclui tanto espécies exóticas (como o mogno africano e a teca) quanto nativas (como o
paricá), ou mesmo espécies de eucalipto e pinus cuja madeira tem uma densidade muito
alta para aproveitamento na indústria de celulose, mas pode ter alto valor por metro
cúbico para outras aplicações (como o Eucalyptus pellita ou Eucalyptus microcorys).
Avanços em novos arranjos como plantios em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
(ILPF) também podem tornar a atividade florestal viável em peque – nas e médias
propriedades. Além disso, o compromisso assumido pelo Brasil na Conferência do
Clima, em Paris, de plantar 12 milhões de hectares adicionais de florestas até 2030 pode
ser um grande driver da silvicultura em pequenas e médias propriedades, especialmente
para os produtores com áreas em bacias hidrográficas importantes e de crucial
recuperação.

Apesar de não se tratar de um cenário completamente reversível, esses possíveis rumos


apontados mostram que, caso haja políticas de incentivo e fomento organizadas e uma
estrutura comunicacional capaz de levar ao pequeno produtor a informação e a técnica
necessárias para recuperação dessas áreas e/ou plantio de espécies de madeira de maior
valor agregado, ainda é possível manter a silvicultura como uma atividade de todos e
para todos – e não apenas dos grandes players de relevância nacional e mundial.

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