Você está na página 1de 48

_;<t

JORNAL

DAS FAMÍLIAS
ANNO DE 1867

BIBLiaTHEGA NACIONAL ePüBUCA

RIO DE JANEIRO
PARIS. — TVI». PORTUG. DE SIM AO RAÇQN E COMP., RUA 1) ERFURTH, 1
JORNAL

dàs famílias
PUBLICAÇÃO ILUSTRAM
o

RECREATIVA, ARTÍSTICA, ETC.

ANNO DE 1867

'\ /' -"


iü Kl i ! y -~ ';

Bi IA, ^"'^Hil-fc''.,'. IBilí

¦Kl» WÊàÊÊTW- % HKl


Eli iw^'' mÊÈÈ^ - - j?^: /Qv^SHHil WJ
HHwpy ¦-r^MMftLlhiiLi T.ii.i Tf'. ."7-BL- ^sHIHSiillit

RIO DE JANEIRO
B. L. GARNIER, EDITOR-PROPRIETARIO
69, RUA DO OUVIDOR, G9
B1BU0THECANACIQNAUPU81ICA

JORNAL RIO M JANEIRO

: a

D A S FAMII jIAS
--=|o$o§^~

UM CASAMENTO DE TIRAR O CHAPÉO

'£,¦"

:*• '

eu caro leitor ou caríssima leitora! vou avançar unia


proposição cujo enunciado, estou certo, espantará a
mais de quatro; mas apezar d'isso, eu teimo em
SÊSm %w8w /// ojf
^v^R^l mim. /// ° I avançal-a, porque estou convencido de sua veracidade.
AH 3W N Eil-a :
0 nome que na pia bapttsmal se confere a um in-
dividuo exerce notável influencia sobre a sua índole
e sobre o seu futuro.
Parece-vos isto falso, não? Pois é exacto!
Assim á primeira vista, esta regra parece um absurdo, um disparate; po-
ránsabcis muito bem que contra factos não se argumenta, e se estou con-
vencido da exactidão da regra é porque me apoio sobre factos.
Ora dizei-me cá : Não vos tem succedido muitas vezes, vendo um sujeito
bocó) assim com cara aparvalhada, dizer com vossos botões : Tem cara de
<•.*
Manoel de Souza?
0 que quer isso dizer, senão que em vosso entender esse nome traz
appensas certas qualidades?
Outras vezes não appellidais dePáucracio, Ambrosio ou Malaquias, a uni
indivíduo que mostra ter invertida a bossa da intelligencia e do talento?
T, V. — Janeiko de 1867. I
JORNAL BAS FAMÍLIAS.
Sempre que se vê um qualquer cousa com fumaças de nobre ou de grande
senhor, é costume dizer-se : Aquillo é um pobre João Fernandes!
trapaça, pro-
Quando virdcs no jornal algum caso de falcatrua ou grande
curai Bem, que entre os autores ha de existir algum Sr. José Maria.
Os nomes das senhoras também gozào de certas propriedades. É por
esse motivo que algumas tem má fé com as Joaquinas, Rosas e Carlotas, em-
quanto que sympathisãó com as Franeiscas e Theresas.
A propósito do poder que exercem sobre nós os nomes dos indivíduos,
vou contar-vos dous fados característicos:
Um dia, indd de passeio com uni amigo, cumprimentei um doutor meu
conhecido, que passou junto a nós com alguma rapidez.
Onde irá este homem com tanta pressa? diz o meu amigo.
Provavelmente acudir á sua clinica, respondi-lhe.
Eu sei! Que clinica pôde ter elle. chamando-sè : o Dr. Manoel Maria!
Que fé merece um medico com um nome d'estfes?
0 outro facto é ainda mais curioso :
Precisava-se em um convento de freiras de um procurador para tratar de
certos negócios. Apresenta-se um que offerece todas as garantias deseja-
veis; toma-se informações sobre sua probidade e principios; todas ellas
abonáo altamente o pretendente. Não obstante nào é aceito! S'

Quereis saber porque?


Ora pasmai! É porque se chamava José Fidelis!
Que remédio! (disse-me a pessoa que contou-me o caso). Se elle fosse
admittido, o que diria o publico sabendo que n'esse convento tinha entrada
uni José Fidelis!
E como estes, eu vos poderia citar uma iinmensidade de factos que se
dáo diariamente.
Nao vos vai já parecendo que o meu theorerna tem algum fundo de verdade?
Pois ouvi ainda:
Nossos avós tinhão táo perfeito conhecimento d'elle, que costumavão dar
a seus lilhos, parentes e crias, nomes que houvessem pertencido a algum
grande santo ou santa, notáveis por suas virtudes, porque acreditavào (com
razão) que esse nome lhes incutiria alguma d'essas virtudes.
É por esse motivo que viamos tanto Joaquim, Antônio^ José, Francisco^
Joào; e quasi todas as senhoras se chamavào : Senhor1 Anna, So' Dona Maria>
S'oraDona Joanna.
Outros ainda levavào a tal ponto essa fé, que reunião dous, três ou mes-
mo quatro nomes de grandes padroeiros, para, á maneira de arrastão, apa-
nhar maior numero de virtudes para o indivíduo; e assim se tinhão os Srs»
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 5
Francisco de Paula Baptista, Joaquim José Ignacio, João Antônio dos Santos;
e as Sras. Rita Joaquina da Conceição, Jesuina Angélica de Jesus, Anua
Maria da Purificação, etc.
Mas esse costume, assim como muitos outros d'esses bons tempos de
Religião e temor de Deos, já lá se foi.
Actuahnente, no século do vapor e do telêgraplíQy cada criança já nasce
com intelligencia e sabedoria bastante; não ha mais necessidade de çoiloeal-a
sob a guarda de um santo patrono. Nascida a% criança (ás vezes mesmo antes)
discute-se em família o nome que deve ter, e depois de muito parafusar adop-
ta-se o do heróe de alguma novella que mereceu as sympafthias do pai, mãi
ou madrinha, e ahi temos o Sr. Carlos, Arthur, Alfredo, Eduardo, Adol-
pho ou Emilio. Felizmente estão só em voga entre nós os romances frau-
cezes; porque se fossem muito lidos os allemães, russos ou húngaros,
os nossos jovens patricios teriào então alguns desses nomes ásperos, que en-
gasgão a quem os pronuncia, nomes que se compõem ás vezes de seis ou oito
consoantes para uma ou duas vogaes, como por exemplo : Wellsclifíinipfl,
ou Schkmoptnvx/
Outras vezes, quando os parentes do menino não são dados á leitura das
novellas, procede-sede outro modo : inventa-se um nome bem estalafurdio
e anaximandrico^e então o rapazinho passa a chamar-se : Chryssolytho,
Folygonio ou Iclirérico. |&
Supponhamos, porém, que a criança é uma menina. E preciso, n este
caso, que tenha um nome delicado, suave á pronuncia, e entende-se que todo
o substantivo com a terminação ina está no caso de formar um bello nome
de baptismo.
Assim, os pais são amigos de plantas ou flores? Então tomando, por
exemplo, malva, rosa ou bambu, fará facilmente Malvina, Rosina, Bambina.
Gostão de animaes? Podem fazer Castorina, Porcina ou qualquer outro.
São carolas ou devotos? A menina pôde clianiar-sc Celina, Celestina, ou
Angelina.
Se o pai é algum d'estes que considerão a honra acima de tudo, escolherá
Honorina.
É d'esta fôrma que temos : Avelina, Esmeraldina, Corina, Maríina, Abri-
cotina e muitos outros.
Ha muita gente, porém, que collqca acima de tudo o ouro. Aconselho a
esses que não se influào em dar a alguma (ilha o nome deduzido d1esse pre-
cioso metal/porque a pobrezinha ficaria com um appellido muito prosaico.
Da regra precedente se tem originado que muita gente, assim que le um nome
terminado em ma, diz logo : Corno ficava bonito para uma menina!
qualquer
/,, JORNAL DAS FAMÍLIAS.
senhora um nome para sua
Ainda não ha muito tempo, uma procurando
achava melhor, se Digitalina, Nicotina ou Stn,
Qlhinha, perguntou-me qual
ehniiia!!
Deos este uso nào se senão, d'aqui a poucos annos,
Queira que propague;
de vermos em alguma sociedade as
dãr-se-ha a curiosa circumstancia
de vis-
Sras. D. Alicanlina, D. Moíina,!). Trampolim c 1). Sovina, servindo
ã-vis a D. Corvina, D. Lamparina, D. Tangerina e D. Barretina.
o
Cuidado, pais c mais de família! Não trateis com leviandade gravíssimo
ma-
assumplo de escolher nomes para os vossos filhos e alilhados! Pensai
boas
duramente; lembrai-vos que d'essa escolha depende, nào só as suas
c defeitos, mas lambem as suas venturas c infortúnios.
qualidades

II

Porem, a que proposilo virá toda esta lenga-Ienga? estareis vós a per-
guntar.
A (pie propósito? Eu vos digo.
Sustentando a minha these, eu tive em vista um íim muito justo e huma-
nitario. Esse Íim é o de tirar a responsabilidade de muitas asneiras e mal-
dades de sobre alguns indivíduos, pois como acabo de demonstrar, se as
lizerão nào foi por vontade própria, porém sim devido á influencia do nome.
Ora, por exemplo, que culpa tem o meu amigo João Paulino de ser uni
pobre atoleirnado, um pedaço d'asnò, um bobo em quatro lettras, se o pai
leve a desastrada lembrança de dar-lhe <?sse 11011107 Pai bárbaro e estúpido !
Digno pai de um Joào Paulino!
Por sua causa, o pobre moço tem constantemente servido de zombaria e
divertimento ao próximo; e nao bastando isso, agora mesmo acaba elle de
dar uni passo desgraçado, de fazer um casamento infeliz! e tudo porque?
Porque se chama Joào Paulino 1
Misero mancebo ! quão diverso seria talvez o teu destino, se em vez d'esse,
tivesses o nome de Liborio, Bartholorneo, Siinào ou Jeremias!
Mas, a linal, quem é esse Joào Paulino, de quem nos fallais ha tanto tempo?
Que lhe suecedeu? Como effectuou esse consórcio desgraçado a que alludis?
Dai aüençào, cara leitora, que eu vol-o conto.

111

0 Sr. João Paulino é um rapaz de trinta e seis annos (digo rapaz, porque
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 5
um tolo mesmo aos cem annos ainda é rapaz), baixo, gordo, um tanto mouco,
olhosverdes,é tenente da guarda nacional de um corpo do Sul, filho de um co-
ronel farrapo que figurou na celebre Republica de Piratinim e que enriqueceu
n'essa triste especulação que custou a vida a milhares de seus patrícios e
tanto atrasou a sua província.
0 Sr. João Paulino tem alguma cousa, mas é um pouco forretu; sabe
solettrar com algum desembaraço e assignar o seu bello nome; finalmente, é
solteiro, porém tem ambição de fazer um casamento rico.
Estais ao facto do seu retrato physico ; quanto ao moral, isso fia mais fino!
0 Sr. João Paulino é difllcil de ser retratado moralmente, mesmo de perlil.
0 melhor, se o quereis conhecer, é vos dispòrdes a ler a seguinte chromca,
asseguro será tão exacta como a historia de certa guerra, que um es-
que
criptor abalisado está escrevendo, longe do theatro dos acontecimentos e
guiado somente pelas noticias dos jornaes.
Eu entro em matéria.
Eu conheci o Sr. João Paulino duranle o sitio da Uruguayana, onde me
nchava como official de voluntários da pátria. 0 Sr. João Paulino, como bom
se apresentara ao general barão de Porto-Alegre; e este general,
patriota,
supponhtíque duvidando dos seus merecimentos, ordenou-lhe que se con-
a
servasse junto ao quartel-general, até lhe designar uma commissão para
qual o julgasse apto.
Mas, já estávamos no mez de Setembro, esperávamos o combate todos os
cousa ai-
dias, e o bravo general não julgava o Sr. João Paulino apto para
suma.
nome do illustrc lilho do '
Vão ver que já então o barão ecismava com o
coronel republicano ;
Em que empregava elle então o tempo?
ás nove da manhã
No seguinte : dividia o dia em três partes; das seis
o bom do
rondava a barraca do general, para ser visto; ou importunava
lhe desse uma
coronel Argolo, que servia de ajudante-general, para que
boa commissão.
Paulino em ir
Das nove da manhã ás oito da noite, empregava o Sr. João
á barraca dos outros officiaes, dando-lhes horríveis massadas e associando-sc
ao magro churrasco, tão difficil de obter nessas alturas.
elle
Finalmente, das oilo da noite ás seis da manhã seguinte era quando
barraca (depois
mostrava-se menos massante, porque mettia-se na sua sua
do innocenle e do
de pedir uma vela emprestada), e então dormia o somno
justo.
de minha
Um dia, achava-me eu muito atacado do spleen, lembrando-me
JORNAL DAS FAMÍLIAS.
cava familia, da qual não recebia noticias; para distrabir-me fui procurar
um amigo, o capitão Victor, e nào o encontrando entrei para a sua barraca,
deitei-me'sobre uns pellêgos e ahi resolvi esperar.
Estava n'cssa posição ha alguns minutos, quando senti abrir a porta da
barraca e apparecer a expressiva physionomia do Sr. João Paulino, o qual
dando comigo, a quem apenas conhecia de vista, perguntou-me :
Nào está por cá o capitão Victor?
Nao senhor ; eu estou á sua espera.
Elle se demora muito?
Não lhe sei dizer; mas creio que estará d'aqui a meia hora.
Meia hora! Está bom! isso passa em cinco minutos.
Eu rio-me por causa dos minutos do Sr. João Paulino, e lembrando-me
dasaneedotas que se lhe attribuem, conheço que o bipede que tenho diante
de mim é o melhor especifico que posso descobrir para o meu spleen; e entáo
convido-o a (pie entre, e preparo-lhe um lugar nos pcllègos em que estou
recostado.
Mas, em vez de sentar-se, o Sr. João Paulino se acocora na porta da bar-
raça, apoiando-se sobre os calcanhares, como usáoos monarchas da terra, e
nessa attilude enlabolamos o seguinte dialogo, digno de figurar nos futuros
livros clássicos de Morceaux clwisis.
Que ha de novo, Sr. Jofio Paulino? 0 senhor vem do quartel-general?
Venho, e o que ha de mais novo é a resposta do Estigarribia á nota que
o nosso Porto-Alegre mandou-lhe tres-anllionte, ordenando-lhe que se en-
tregasse.
Ali! e o (pie diz elle?
___ Disse ao coronel Eernandes que estava acostumado a cumprir com o
sen dever; e eu ouvi ler a resposta. Oh! está muito atrevida! Diz o Fernandes
que tanto o Estigarribia como os Salvaííacs são muito cheios de rapapés e
cortezias.
Mas a final, Sr. João Paulino, o que escreveu elle?
Começa di/.eiujo muito desaforo do governo do Brasil, e acaba amea-
çando de fazer como Leonidas. Veja só o senhor, que grandicissimo atre-
vido!
Tenho desejo de ouvir um pedaço de historia, contado pelo Sr. João Pau-
lino, e peço-lhe que me conte o que fez Leonidas; elle, depois de lançar-me
um olhar de compaixão, por eu não saber tanto como-elle, diz-me :
Pois o senhor não sabe? Olhe, é uma passagem da Escriptura Sagrada.
Esse tal Leonidas era um general bespanhol que commandava trezentos
Therinopylos, e vai sendo guando, foi atacado por um rei de outra terra,
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 7
trazia um exercito muito grande, mu...i...to! Alguns dizem que era
que
como um milhão de gente, mas também isso é de mais! 0 que eu sei é que
eraims quantos de mil homens, com muitas artilharias e infantarias. Sabe o
em um rincão edeu no tal rei,
que fez o Sr. Leonidas? Ah! entrincheirou-se
deu-lhe, deu-lhe mesmo de uma vez ! Mas também fez um fogo velho tão
que não escapou um só soldado do rei! Que surra, cim?! One
gr,..ari...de,
diz?
Ora qual, Sr. João Paulino! eu não acredito nisso; não havia ser
tanto assim!
l— Oh! senhor, isto é da historia! eu li em lettra de imprensa! Eu no
também me quiz parecer que era mentira; mas depois, eu pensei
principio
um pouco e me acudio uma idéa que botou tudo claro.
Ah! o Sr. João Paulino também pensa? também tem idéas? Conte-me
isso.
Olhe, eu me lembrei, e lia de ser isso mesmo, que o Leonidas e os
seus trezentos Tbermopylos estavão armados com Meiiès e peças raiadas. 0
senhor sabe como são essas peças?
Eu não! nunca as vi. Se me puder explicar como são...
Pois não! são umas artilharias muito grandes; o senhor ha de crer
até ha raiadas de calibre cento e vinte?! Oh ! pois me disse o capi-
que peças
não vê
tão Gama! 0 senhor aponta com uma raiada c.pum! dá o tiro;
mais a bala, mas ouve um barulho assim a modo quando se mata morcegos
vai
com uma vara? Pois, éassim! Até que d'ahi a pouco tempo, bra%! a bala
cabir no alvo, d'abi a quatro ou seis léguas. Ali! foi mesmo uma invenção!
Eu rio-me ao ouvir este rosário de sandices, e como quero ainda puxar
pela sua sciencia, pergunto :
Então o Leonidas usava Meliòs e peças raiadas? Ora diga-me, Sr. João
Paulino, quem seria o inventor d'cssas armas?
Homem, eu não sei bem; mas tenho cá uma idéa sobre isso.
Olr! por quem é! Sr. João Paulino...
Eu lhe digo como foi. Era um dia. . não, era uma noite, ha cerca de
tres.mezes, eu ia escoteiro de S. Gabriel para Alegrete, quando pela volta
das sete horas começou uma tempestade tão forte que parecia que o
mundo cahia em baixo; dava cada trovão e fusil que, fazia medo! E eu não
sou dos mais medrosos! Meu commandantc que diga como me safei (levma
com um Castelhano, que ainda tenho uma cicatriz aqui nas costas!
feita
« Mas, como dizia, eu me lembrei que o vigário disse um dia que o raio
não gosta de beber água; me desapeei, maneei o cavallo e me metti dentro
de um arroto que havia perto. Nem de propósito! cValii a bocado deu um
JORNAL DAS FAMÍLIAS,
trovão feio e %ás! cahio um corisco mesmo no lugar onde eu estava (Vantes.
Eu nunca vi uni corisco de perto; por isso marquei bem com os olhos o
sitio em que ellc tombou, para procurar no outro dia. Quando foi pela ma-
drugada, que passou o temporal, eu salii do meu posto, quero dizer, de dentro
do arroto, me vesti, e com a minha ponla... sim, com a ponta da faca fui
cavacando no chão, no tal lugar em que tinha cahidop bicho. Encontrei-o,
olé! e sabe como clle era? Era tal c qual uma ferradura velha, cheia de fer-
rugem. Eu disse cá comigo : Um! isto aqui ha cousa! elle se parecer com
uma ferradura; elle fazer barulho quando cahio; elle allumiar primeiro;
parece assim negocio de tiro! E elle caliir lá de cima!... Por casualidade
olhei para o alio ; estava mesmo a lua cm cima de minha cabeça, que pare-
cia um queijo da Encruzilhada. Oh! me acommetteu- logo uma idéa! Sahe o
que me pareceu? Que crào o sujeitos que morão na lua que tinhão dado um
tiro para onde eu estava. Ora, a lua está muito longe, não é menos de seis
léguas, portanto por conseqüência, a peça que deu o tiro era raiada!
« Já vc o senhor que eu tenho razão para dizer que essas armas lorão in-
ventadas na lua, ou então na Inglaterra; mas aqui em baixo, na terra, isso
eu dou a cabeça que não foi!
— Oh ! Sr. João Paulino ! o senhor é um gênio i um
portento ! uma mara-
vilha! crnlim, é mesmo... é mesmo... o Sr. João Paulino!
Elle fica muito lisòhgeado com as minhas exclamações, mas notando que
vai chegando a hora de churrasquear e que não apparece o capitão Victor,
elle levanta-se c dispõe-se a ir procurar outro amigo que esteja na barraca.

IV

Pouco tempo depois da capitulação da Uruguayana, e quando o Sr. João


Paulino coutava ler uma commissão no exercito que se organisava para
passar o Uruguay, adoeceu seriamente de typho e dyscnteria. Desconfiando
da vida do illustre tenente da guarda nacional, aconselharão-lhe os médicos
que sahisse da campanha ; o que elle fez, muito a seu pezar, pois o Sr. João
Paulino era um d'aquelles vinte ou trinta mil bravos patriotas que jurarão
não voltar á pátria sem trazer as orelhas do Lopes.
Chegado á estância de seu irmão mais velho (talvez também algum José
Gomes ou Manoel da Cruz), esteve o Sr. João Paulino algum tempo ás
portas
( Ia morte; mas, como é sabido que vaso ruim não quebra, restabeleceu-se;
e, para fazer alguma cousa, resolveu ir a Porto-Alegre, afim de ver se con-
JORNAL DAS FAMÍLIAS. ,9
seguia ser nomeado capitão ou major do voluntários, ao '
que (dizia elle)
tinha feito jus na Uruguayana.
Em Porto-Alegre o Sr. João Paulino 'eslava hospedado em casa de um tio,
velho eclibatario que morava para os lados do arsenal de
guerra ; mas, como
a companhia d'essc tio era um pouco aborrecida e o nosso amigo embirrava
cm estar horas inteiras jogando o gamão, único passatempo
que havia em
sua casa, o Sr. João Paulino passava grande parle do dia em uma chácara
da Várzea, onde morava a família de um empregado aposentado. Além de
ahi se viver melhor de barriga do que em casa de seu tio, o nosso mancebo
encontrava lá umas moças que muito se divertião á sua custa, mas
que elle
suppunha estarem captivas de sua l;ella pessoa.
Ora, em um domingo, o Sr. Joào Paulino, depois de almoçar com seu tio,
barbeou-se com esmero, enfiou a sobrecasacap domingucira, dirigio-sc á
igreja das Dores, c depois de ouvir missa com a maior atlenção c ter feito
ala na porta d<\ igreja para ver sahir as moças, tomou o rumo da Várzea.
Era um gosto vêl-o todo sécio, seguindo pela rua da Ponte e gozando da
vista das bellas que ornavão as jancllas, pois como a amável leitora terá
feito reparo, o bcllo sexo era um dos fracos do nosso amphitryão.
Ao passar por uma casa assobradada, elle ficou impressionado á vista de
uma linda moça que estava apoiada a uma das jancllas. Era uma moreninha
experta e engraçada, vestida como se chegara da missa, eque olhando para a
rua, lançou por acaso os olhos sobre o Sr. Joào Paulino, com a mesma in-
difíVrença com que olharia para um cavallo, um cào ou outro qualquer
objecto.
0 nosso homem fez uma meia parada para melhor contemplal-a, e este
movimento fez a moça firmar a vista sobre elle, levada de simples curió-
sidade.
— Oh! causei-lhe impressão!
(disse elle comsigo todo ufano). Oh! se
assim ella ficou rendida, o que seria se me visse com a farda de tenente
que me senta tão bem! Como ella ó interessante! Se tiver assim uma con-
tinha redonda de dote, ó um casamento de tirar o chapéo!
0 Sr. João Paulino caminha vagarosamente, voltando-sc repelidas vezes
para ver a moça, que continua a olhar para elle, com um ar de riso que não
lhe c nada lisongeiro. Chegando ao largo do Porlào, elle nao se contem
mais; volta pelo mesmo caminho, porém ella já sahio da janella; da praça da
Matriz volta novamente para o lado da Várzea, pára um bom quarto de hora
em cada esquina, esperando que cila appareça ainda, mas qual! isso não
suecede.
Não importa! Elle tomou bastante sentido na casa, e ruruinando meachola
T. V. 1*
DAS FAMÍLIAS.
,0 JORNAL
é infallivel, dirige-se para a chácara
lun pi,ino de operações cujo resultado
do seu amiffo da Várzea.

dia, que estava


SC o Sr João Paulino era ordinariamente massante, n'esse
Elle sempre tão couversador e
meio mordido, então esteve insupporlavcl!
fazia rir tanto, estava nesse domingo tão calado, tão pen-
cuja conversação
seu costume demorar-se ahi até a noite, mas essa tarde, assim
salivo! Era
de tomou o chapéo, e allegando diversos negócios, despe-
que acabou jantar,
vai
c séguio apressado para casa de seu tio, como quem
dio-se das senhoras
animado de uma firme resolução.
todo, enliou a calca azul de listão carmesim, en-
Ahi chegando despio-sc
com algumas
vergou a farda de tenente da guarda nacional, recheiou o peito
sujas tornal-ò mais saliente, aboloou-se décima abaixo, ato ua
camisas para
o boné á facaia, c
banda, dando-lhe um apurado nó do lado esquerdo, pôz
e en-
lá se foi caminho da rua da Ponte, affeclando o andar mais gamenho
graçado que lhe Toi possivel.
Pobre João Paulino!
o theatro
Todo o resto da tarde passeou, ou antes rondou pela rua, desde
sujeito (pie
até a descida daVar/.ea; porém só pôde descobrir na janclla um
ler meia idade,' de barba á ingleza, e cujos olhos vivos e pene-
pareceu-lhe
tranles seintillavão sob os óculos de aro de ouro.
A noite era de luar, e comquanto a casa da bella moça ficasse na sombra,
o Sr. João Paulino resolve-se a cruzar pelo lado opposto; e faz bem, porque
d'ahi a pouco, pela projecçào da luz que havia na sala, distinguio dous bustos
de moça encostados do lado interior da janclla.
Passeemos (diz elle com a sua banda); cm todo o caso, se eu não a
e é meio caminho andado.
posso ver, ella ine verá, já
Já tinhão dado as onze horas da noite quando o nosso joven apaixonado
checou á casa, estalado, a camisa alagada em suor, com os calos mor ti ficados
e o estômago a dar horas; mas elle dá por bem empregado o seu tempo,
diz Camões, que
porque concorda com o que
... As cousíis árduas c lustrosas
Scalcançfio com trabalho e com fadiga.

No outro dia não falha o Sr. João Paulino de passar pela rua da Ponte;
á
porém antes de chegar á tal casa, quasi ao sahir praça, elle esbarra com o
sujeito de óculos c barba á ingleza que na véspera vira á janclla.
V*

.I01INAL DAS FAMÍLIAS. ||


Este, assim que o vio, cravou-lhe com os seus olhos vivos uni olhar tão
penclranle, que desorientou o nosso amigo de tal forma que inslinctivamente
levou a mão á pala do boné (pois agora só vai fardado á rua da Ponte).
Máo!
(disse elle com os vivos de sua farda) certamente este é o pai d,a
sobredita, e pelo modo com que me olhou parece que reparou hontem nos
meus passeios! Por isso, eu fiz bem em comprimental-o.
Elle me parece rico, mora em boa casa, o seu todo mostra bem que ó
pes-
soa de coco e de talento. Oh! nisto eu sou entendedor! Logo pelo ar do indi-
viduo eu conheço se é d'esles de lettras gordas; e quanto a este, sou capaz de
apostar que é instruido, tem cara de saber franccz e talvez mesmo (jraphia !
Oh! isso com certeza! Percebe-se logo pela verbosidade do andar c do rosto!
0 Sr. João Paulino, depois de fazer algumas voltas pela rua da Ponte, e
perdendo as esperanças de vera sua incógnita, dirigio-se (na forma do cos-
tume) para alguma das lojas da rua da Praia, afim de dar uma d'aquellas
massadas em que elle era tào insigne!
Esta manhã, a loja escolhida foi a do nosso amigo Al\;cs Leite.
Abi se aboletou elle desde as dez horas; c já tinha revistado Iodas as pra-
tclciras, folheado quasi todas as obras de liücratura c sciencias para impor a
quem entrava na loja, já dirigira ao Sr. Alves Leite um milhão de perguntas
ociosas (pois é sabido que todo o ignorante é curioso), quando suecedeu en-
trar um freguez, que pedio para ver lenços de cambraia de linho.
Bisbilhoteiro como era, o Sr. João Paulino largou o livro que estava so-
lettrando e voltou-se para ver o comprador.
Era o seu desconhecido de óculos c barba á inglcza da rua da Ponte!
O nosso heróe escondeu-se para não ser visto; esperou que elle terminasse
o seu negocio, e quando ellesahio, perguntou ao Sr. Alves Leite :
ü senhor conhece este sujeito?
Ora, é preciso observar que em Porlo-Alegrc todos se conhecem. Sc cm
uma cidade populosa, v. g., no Rio de Janeiro, perguntasseis à um legisla o
nome de todos os freguezes que entrassem para comprar, asseguro que, por
mais relacionado que elle fosse, não poderia satisfazer á vossa pergunta.
Eu, por exemplo, que tenho uma multidão de conhecidos, saio pela ma-
nhã, ando por umas poucas de ruas, e entre oilocentas ou mil pessoas que
encontro, apenas conheço uma ou duas, quando muito. Mas nas cidades
pequenas não suecede outro tanto; todos se conhecem, porque todos são'
vizinhos; ealém d'isso, como ha pouco cm que entreter a imaginação c pas-
sar o tempo, trata-se um poiicachinlio de saber do que vai pelo alheio.
Foi por esse motivo que a pergunta do Sr. João Paulino pareceu muito
natural, e o Sr. Alves Leite respondeu-lhe :
12 JORNAL DAS FAMÍLIAS.
morando
É um fulano Lisboa que veio do Pelotas ou Jaguarão e está
alli na rua da Ponte perto da de Bragança,
Mas é rico? Tem família? ¦
Ouço dizer que é muito rico, ao menos gasta como se o fosse. Quanto
eu o tenho eneon-
á familia, creio que é viuvo c tem uma enteada; porém
trodo sempre só, no Club.
Ah! então elle é sócio do Club?
É; e um dos mais assiduos freguezes das mesas do écarté.
O Sr. João Paulino medita algum tempo; finalmente saliedalojameneando
a cabeça e piscando os olliinbos verdes, dizendo comsigo :
Eslá dito; a rapariga é minha! Emquanto na rua me faço conhecido
d'ella e a conquisto, entro para o Club c travo amizade com o papai.
« Ah! bem me dizia a lia Jóanna ; olha João, tu hás de casar com moça
rica, porque quanto mais besta mais peixe /Eu não sei bem o que ella queria
dizer com isto de peixe, mas aposto que ella dizia a verdade. Ah! vai ser um
casamento!... mesmo de tirar o chapéu !

VI

Façamos urna pequena digressão, c digamos á indulgcnlc leitora quem


são o Sr. Manoel Lisboa e sua hella enteada, que estavão fazendo o nosso
João Paulino dar tratos â imaginação c á sua farda de tenente de cavallaria
Ia guarda nacional.
i

O Sr. Manoel Lisboa nascera lá nas santas terras, na cidade de Vianna do


Minho; era filho de uni negociante de cavallos, c parece quenãoeralá grande
cousa, porque um dia (pie o pequeno Mnél fizera uma diabrura a uma velha,
esla, depois de o esconjurar c dar-lhe duas ligas, disse com a sua voz cantada :
— Senhores! aquillo nao é pão de boa lenha, nem lenha de bom
madeiro!
lia cerca de trinta annos veio o Sr. Manoel para o Brasil, sendo então
muda uovo, o que quer dizer que era entre gallo e pinto : c esteve algum
tempo como caixeiro na Bahia e no Rio, onde se desemburrou e adquiriu
maneiras desembaraçadas e certo trato de sociedade.
Abmns annos depois foi estabelecer-se na cidade tio Rio Grande, c ahi
casou com uma viuva, que possuia alguns bens e que falleceu cVahi a quatro
annos deixaudo-lhe uma enteada. Metteu-se então em algumas especulações,
porém com tão má fortuna, que perdeu quasi tudo o que tinha, e transferio
o seu negocio para Jaguarão, onde adquiriu bem depressa fama de grande
espertalhão e troca-tintas.
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 15

Nos primeiros mezes de 1805, depois da queda de Paysandú e da capitu-


lação de Montevidéo, quando os caudilhos Munoz e Apparieio ameaçavào
com suas correrias as povoaçòes da fronteira, o Sr. Manoel Lisboa, que já
estava aborrecido de Jaguarão, aproveitou o ensejo, largou o negocio, apu-
rou quatro ou cinco contos de réis, c com sua enteada foi para a capital da
provincia.
Desde algum tempo, uma idéa perseguia o ex-negociante : era o desejo
de dar um passeio á sua terra. Mas para isso desejava casar antes a sua en~
teada Isahelinha, o que difficultava bastante a rcalisaçao do seu desejo.
Muitos obstáculos se apresentaváo a esle projecto de casamento; mas os
fazia com
principaes erào : Io a circumstancia da guerra do Paraguay, que
nacional,
que todo o indivíduo casavel estivesse como voluntário ou guarda
em algum dos dous exércitos de S. Borja ou Corricnles. Em 2o lugar, a
adquirido da habilidade
pobrezinha, além de soffrivelmente feia, nada linha
e viveza de seu padrasto, apezar de conviver com elle ha tantos annos. À
única circumstancia que era favorável ao casamento de 1). Isabclinlia, era a
vontade que ella tinha que isso se effecluassc.
E bem vontade tinha cila! Já havia completado os vinte cinco annos, e
muitas vezes, lembrando-se d'isso, ella se entristecia com a horrível idéa de
ficar celibataria; idéa esta que Jfoi sempre o pesadelo, o Maná Thecel Pha-
¦
rés das moças; e D. Isahelinha dizia como a Ignez de Gil Vicente

Pobre de mim qHiei de estai*


Encerrada n1esta casa
Como panella sem aza,
Que está sempre num lugar!

O Sr. Manoel Lisboa bem se penalisava com isto; e vivorio como era,
depois de pensar maduramente, assentou no seguinte plano, digno do gênio
estratégico de um Turenne ou um Montecuculli :
— Alugo uma boa casa, compro uma rica mobília, tratõ-me como um lord,
^asto tudo o que tenho e o que nâo tenho, mas ganho fama de homem rico ;
serei entáo procurado, honrado, adulado, nao faltará quem se de por feliz em
casar com a rapariga; eu passo a prebenda a algum paio; c então, sim
senhor, raspo-me para a minha Vianna do Minho.
Se elle o disse, melhor o fez: alugou uma casa cxcellente na rua da Ponte,
comprou uma rica mobilia de mogno, um piano de Erard, entrou como sócio
no Club, não perdia theatro, comia do bom c bebia do melhor, a respeilo
de roupa andava sempre no trinque e' tinha uma porção de criados c criadas.
Como a principio pagava á visla o que comprava, adquirio foros de bom pa-
li JORNAL DAS FAMÍLIAS.
e foz a um conceito tão bem firmado, que todas as lojas e armazéns
gador jus
e lia algum
se davão por felizes em vender-lhe fiado tudo o que elle queria ;
acabado a
lempo, era só fiado que elle comprava, pela razão de se haver
pólvora imjleza com que elle fazia fogo.
Olhem que era bem finório o tal minhoto! Oh! se era! D1 elle se podia
dizer como da perdiz disse um poeta :

Esla ave c tão avisada,


Ouc se a enganar alguém,
Juro por Deos, caça bem !

0 que é certo, é que suecedeu tudo come elle o prophétisára : dentro em


era visitado por Iodos os vizinhos, isto é, desde os moradores do
pouco
Alio da Bronse até os da Azenha, quasi todos erao primos de sua fallccida
mulher 1). Gertrudes; todos achavào D. Isabelinha uma moça muito engra-
cada eespirituosa ; cmfim, era tal a afíluencia de amizades e relações, que o
Sr. Manoel Lisboa vendo ás vezes sua enteada desconsolada por e*tar sol-
loira, bom lhe podia dizer como a mãi da hjnez acima citada :

Não fapresses tu, Igncz,


Maior é o anno que o riíez;
Quando mal te apreeatares
Terás maridos aos pares,
E filhos de Ires em três.

Portanto, está já a minha cara leitora ao fado de toda a familia. Resta só


dizer-lhe (pie, como ião muitas primas passar o dia com D. Isabelinha, a
bella moça (pie prendera pelo cabresto ao Sr. Joáo Paulino não era a enteada
do digno Sr. Lisboa; porém sim a engraçada D. Margarida, que era sua
prima muito chegada, porque um tio-avô do pai de D. Margarida era afilhado
de um filho da mãi do cunhado da fallccida D. Gertrudes.
Quero dizer : D. Margarida era prima de D. Isabel á moda do Sul, lugar
este em quedos grêlos das arvores genealogicas brotáo novos troncos eraizes.
Fecho o parenlhesis e passo a continuar a tratar do nosso João Paulino.

A. F,
— Gontinuar-se-ha. —
BI3U0THECANACIQNAUPU81ICA

IU0 DE JAMftMÚ

POSSÍVEL E IMPOSSÍVEL

um lugar commum em quasi todos ps poetas novéis


aos
maldizer do destino e tecer elogios de desanimo
vinte annos de idade.
'd cahindo no
Resulta aqui que as verdadeiras dores,
da
descrédito commum, não podem achar indulgência
de ninguém; e quando um poeta, na aurora da
"^ ¦* parte
lem-
vida c nos primeiros movimentos da inspiração,
de traduzir, em um hvmno de sua lyra, uma dôr que o consome ou
bra-se
o abale, a multidão recebe o hymno e o poeta com o
um desanimo que
todos.
mesmo sorriso de incredulidade reservado para
impossível esta situação? A mocidade é o tempo das illu-
Será entretanto
dos ainda mais. A imaginação mais viva dá maior
soes- a mocidade poetas
sonhos e ás chimeras. Tanto mais vivas são, tanto
corpo e maior luz aos
ver desvanecidos. Ora, figure-se um coração ardente,
maior e a dôr de os
um espirito veliemente, abrindo os olhos ao mundo
uma imaginação exaltada,
e dos sonhos. Figure-se tudo isto, e veja-se se, ao
fantástico" das chimeras
ao obstáculo, esla creatura sensível não deve
primeiro desencanto, primeiro
dores e os seus desprazeres na linguagem veliemente e
manifestar as suas
franca que Deos lhe deu.
são communs os poetas tlesüludulos aos vinte annos; mas
F certo que
ha a differença do falso ao verdadeiro. Ila nas dores s,n-
entre uns e outros
i(\ JORNAL DAS FAMÍLIAS.
se não confunde
ceras um tom de verdade singela e pura ingenuidade que
com cs arrebiques mal applicados da poesia choronapor convenção.
vinte e dous annos o heróc d'csla narrativa. Era poeta desde os de-
Tinha
com a
zeseis. Era-o mesmo desde antes. Aos doze annos, estando a passear,
sorprendido
família, cm uma campina junto á cidade em que nascera, foi
espectaculo offerecia o lugar na hora do pôr do sol. Era uma
pelo que
deixando
oslrophe de poesia rústica, uma lauda das Geortjkas. 0 meu poeta,
o especta-
a família e os rapazes com quem ia, parou extatico a contemplar
voltarão
cülo. Só muito adiante a família reparou na ausência do pequeno;
huscal-o. D'ahi cm diante o pequeno caminhou machinalmente.
• Isto foi aos doze annos. Aos dezeseis metrificou a sua primeira inspiração.
natureza :
Erão umas quadras singelas tomando por assumpto uma scena da
duas rolas que se beijavão á margem de um riacho que atravessava o fundo
da chácara em que morava. Á noite leu a sua obra á família; mas ninguém
orações
lh'a entendeu, á excepção do um tio padre que sabia entremear as
do breviario com os cantos de Virgílio o Petrarca. 0 joven poeta, descon-
tente com o máo cffcito da obra, quiz rasgal-a; mas o tio padre interveio a
tempo e convidou o rapaz, não só a conservar as suas primeiras cstrophcs,
corno ainda a metrificar outras quando lhe fosse de vez a inspiração.
Thcophilo chamava-se o nosso poeta. Era filho de uma das províncias do
sul. 0 pai, major reformado, vivia da pensão que o Estado lhe dava e de
alguns haveres que lhe deixara um parente. Era quanto hastava para susten-
tar modicamente a família. Esta era numerosa; constava da mulher, um filho,
duas filhas, um irmão cego, dous sobrinhos orphãos e uma aggrcgada. 0
irmão padre era pobre c mal concorria com o estrictarnente necessário para
a sua subsistência.
A educação qucTheophilo recehcu foi proporcionada aos meios de seus
de latim e de francez. 0 latim
pais. Aprendeu primeiras lettras, rudimentos "o
c o francez aprendeu-os do tio padre. Findo isto, pai entrou a cogitar em
como que se arrependeu
que havia de empregar o rapaz c não achou. Então
do que lhe havia feito aprender. 0 talento natural de Theophilo, desenvol-
vido pelos primeiros estudos, impunha-lhe obrigação de destinal-o a alguma
carreira cm que pudesse ser aproveitado, estando na esphera que lhe compe-
tia. 0 bom do velho nada encontrava neste sentido.
.No caso de morte do pai, quem sustentaria a família? Esta era a questão
capital no espirito do pai de Theophilo.
Entretanto, Tlíeophilo, que tomara gosto «ás lettras, ia aproveitando as lições
do padre e augmentavao cabedal da instrucção.Desenvolveu-se no latim e no
francez: estudou o inglcze o italiano. Quiz conhecer a historia e disse-o ao tio.
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 17
Aprende primeiro geographia, respõndeu-lhe o padre.
É preciso, não?
Sem duvida. Gomo has de tu saber do que houve na casa, sem conhe-
cer antes as disposições da casa?
E verdade.
E o rapaz atirou-se ao estudo da geographia, c depois ao de historia, e de-
pois ao de philosophia.
Não convém á nossa historia acompanhar os passos da vida de Theophilo,
co-
nem os de sua familia. Basta saber que na época em que esla narração
meça Theophilo conta vinte c dous annos; está sem pai; as irmãs e os pn-
a
mos estão casados; o tio padre alcançou uma vigararia no norte; resta-lhe
velha mài e a aggregada, moça de dezoito annos. Vivem no Rio de Janeiro.
:
Theophilo ensina historia e geographia cm alguns collcgios particulares
lê, porque
é a sua fonte de renda. Nas horas vagas faz versos que ninguém
elle os guarda cuidadosamente no fundo da gaveta.
á mesa do almoço D. Thcresa (é o nome da mài do poeta) per-
Quando
a seu filho trabalho leva a fazer ás vezes até alta noite, Theophilo
gunta que
responde sorrindo ;
— Estou fazendo um ponto de admiração.
não entende a metaphora, e seria de crer que a aggregada Iam-
D.Theresa
se um sorriso sonso e intelligcntc não lhe roçasse nos
bem não entendesse,
lábios a esta resposta de Theophilo.
a
É que o ponto de admiração que Theophilo preparava para posteridade,
incógnito, não era mysterio para a moça. Seria ella
-niardando-lhc um poeta
Não era. Theophilo não reparava no sorriso, e a mesma
a musa dos versos?
seena repetia-se dias depois.
era orphã. Os morrerão pobríssimos e deixarão a
Esta agregada pais
da familia do major, onde viveu no mais perfeito pé de
filha aos°cuidados
as filhas d'este. Recebera a mesma educação, tinha as mesmas
igualdade com
e se era mais bonita que ellas nem por isso sedes-
Qualidades e sentimentos,
de uma superioridade que de algum modo
vaneeia, antes parecia afíligir-se
humilhava as suas protectoras.
belleza suave e angélica, íazendo admnhar a singeleza e
Ima^ne-se uma
das linhas puras e suaves do rosto e do brilho
a pureza do coração através
olhos claros. Modesta no trajar, no gesto o nos senti-
sereno e sincero dos
era o seu nome) era admirada por todos, mvejada por
mentos, Helena (tal
muitos,1 ambicionada... por ninguém.
de coração de D. Theresa. Era a ultima que lhe restava,
Helena era a fúha
das suas A boa senhora estimava-a como esti-
depois do casamento próprias.
18 JORNAL DAS FAMÍLIAS.
mava Theophilo; Helena, por seu lado, consagrava a D. Theresa um amor
de filha, além do reconhecimento que lhe devia pelos benefícios que recebera
(Fella. Theophilo amava Helena como irmã. lifão uma só famiha.
Como disse acima, Theophilo escrevia versos que guardava cioso no fundo
da gaveta. Ninguém, nem sua mãi, nem Helena, nem os amigos mais inti-
mos, mereciào a confiança do poeta. Era um verdadeiro Harpagon, mas um
Harpagon sublime, que levava a avareza infellectual ao ponto de não confiar,
nem dos mais insuspeitos, as impressões, as palpitaçdes, as inspirações, os
sonhos, as chimeras, isto é, toda a sua alma.
Era respeitável esto sentimento. De que serve, muitas vezes, confiar á
multidão o sentimento que nos domina, a aspiração que nos impelle, a com-
moção que nos abala? Theophilo sentia-se puro no meio do silencio e da
obscuridade; parecia-lhe que, do momento em que abrisse a todos o intimo
do seu coração, murchava-lhe a flor do sentimento c a sua alma ficava menos
pura.
Mas a que vinha o sorriso de Helena? Aqui vai a explicação.
Havia uma escrava que servia á familia de D. Theresa. Todavia, Helena
não consentia que os arranjos de certa natureza estivessem a cargo d?essa
escrava, e tomava a si a obrigação de cuidar d'cllcs. Assim, por exemplo, era
Helena quem se encarregava de pôr em ordem o gabinete de Theophilo. Foi
em uma d'essas oceasiões, estando ausente o poeta, que Helena achou em
cima de uma mesa um quarto de papel onde estavão escriptas algumas
linhas parallelas e de tamanho desigual. São versos, pensou a moça. Picada
de curiosidade, pegou no papel e leu o que estava alli. Reconheceu a lettra
de Theophilo, e, mais ainda, reconheceu a alma d'elle. À moça tinha os olhos
humidos quando acabou de ler o papel; beijou-o e tornou adeixal-o no
mesmo lugar.
Quando o poeta voltou reparou no esquecimento em que calüra de não
guardar os versos; mas de modo algum suspeitou que os tivessem lido.
Guardou-os onde guardava os outros.
Helena, uma vez descoberto o mysterio, não parou abi. No dia seguinte
crescGu-lhe a curiosidade.
— E impossível, pensava ella, que elle só tenha escripto estes versos; eu
bem me lembro que elle fez alguns quando eu era criança e os leu lá: ha de
haver outros.
E deitou-se a procurar.
Tanto procurou, que encontrou em uma das gavetas uma pequena pasta
cheia de autographos. Erão as inspirações do poeta traduzidas na linguagem de
Petrarca, e alli deixadas sem que ainda o poeta as polisse da primitiva aspereza,
JORNAL DAS FAMÍLIAS. ,0
A moça leu e releu os versos; muitas vezes enxugou os olhos. Havia nas
tVella.
composições de Theophilo um écho ás secretas aspirações da alma
Era que a situação de ambos era quasi a mesma.
A moça, quando acabou de ler todos aquelles escriptos poeiicos, restitiuo-
a
os á pasta e collocou esta na gaveta de modo que não deixasse suspeitar
violação innocente que acabava de commctter.
Depois sahio.
Theophilo não reparou em nada.
vezes a
Tal é a explicação do riso da moça, que, depois de ouvir muitas
mysteriosa do cliegou a comprebender-lbe o alcance c ria-se
resposta poeta,
como dizia o de admiração de que fallava o moço
á socapa, quem que ponto
não o era para ella.
casa, Theo-
Estavão as cousas n'este pé, quando uma tarde, ao voltar para
encontrou no caminho um amigo que se chegou a elle c perguntou-
phila
lhe:
Tens que fazer sabbado?
Não muito; porque?
Então dá-me a tua palavra de honra que aceitas um convite meu.
Convite para que?
Convite para uma partida.
Não posso.
Porque? >
Porque nào quero ir só a divertimento algum...
Mas...
E minha familia não pode ir.
Que singularidade! t
e
É a cousa mais que natural do mundo. 0 que é talvez singularidade
te digo minha familia não pode ir por lhe faltarem
a franqueza com que que
requerem.
os meios de ostentarem o rigor que essas cousas
Ora!
Theophilo sorrio-se.
Depois perguntou :
Achas exquisito?
Acho. É a tua ultima palavra?
É.
T)

tristemente, Theophilo deu um passo para


E~como'o outro se afaslassc
o magoava.
elle e penmntou-lhe se esta escusa
ser indiscreto. Eu e alguns outros una-
_ Sim, respondeu o amigo. Vou
20 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

convidar-te para esta partida a ver se te distraliia e sabias da tris-'


ginámos
tcza cm que andas. Era üm serviço de amigo. Convencionámos nada dizer-te,
mas eu sou forçado a isto. Não queres? Dou por finda a minha missão.
Espera, disse Thcophilo.
O moço deteve o passo. ?
Thcophilo rellectio um bocado e respondeu :
Pois sim, vou. Agradeço a vocês o cuidado que tomarão por mim.
Muito bem.
Onde éa partida?
É em casado commcndadorN... Conheces?
Fallámo-nos duas vezes.
É quanto basta. Além de que elle próprio insta para que tu vás. A
partida ó sahbado.
Até sahbado.
Separárào-sc os dous.
Thcophilo gastou uma noite inteira cm construir as expressões com que
devia dar parte á mãi de que ia á partida do commcndador N... Parecia-lhe
crime ir divertir-se c deixar em casa aquellas duas pessoas que estremecia.
D. Theresa, quando soube da resolução arrancada a seu filho pelas instan-
cias dos amigos, respondeu-lhe com palavras de verdadeira alegria.
Ainda bem, dizia ella, que vais sahir da vida monótona cm que andas.
Que mocidade a lua! Nem uma distracçào, nada! É preciso não estragar os
melhores annos, Thcophilo!
Quanto a Helena, se Thcophilo reparasse melhor, viria que atrás do sor-
riso de prazer que a moça procurava desfolhâr dos lábios vermelhos, havia
outro sorriso de mágoa e de pezar, Seria mágoa e pezar de moça por não ir
tomar parte igualmente no saráo?
Chegou o sahbado aprazado.
Theophilo tinha pouco que fazer íVcssc dia. Voltou para casa cedo, afim
de aproveitar, na companhia da família, as horas que ia perder no baile do
commendador,
Á hora marcada vestio-se e sábio. *
Em casa do commendador estavão reunidas algumas entidades politicas,
outras litterarias, outras elegantes, outras sem definição. Estes erão em
maior numero. Augusto, o amigo que convidara Thcophilo, apresentou-o
á família do commendador e a algumas das pessoas mais notáveis da
reunião.
Theophilo tinha um ar modesto e discreto que não podia ajudal-o nas re-
lações com os outros. O grande talento da conversarão é saber calar-se, diz
JORNAL DAS FAMILIAS. 21
A.Karr. Theophilo tinha esse talento, mas em excesso; nào podia fazer
fortuna.
Era a primeira vez que o poeta se achava em uma reunião de certa ordem.
Tudo alli contribuía para fascinal-o. 0 esplendor das mulheres, a abundan-
cia das luzes e das flores, as condecorações, os nomes illustrcs que se pro-
nunciava.de cada lado, o bulicio, o perfume, tudo se accumulavà para dar
ao rapaz a idéa de um mundo novo e imaginário.
Augusto, corno bom amigo, servio a Theophilo de cicerone. Apresenlou-o
a algumas mulheres em quem fizera impressão o ar timido c recatado do
poeta. Augusto obrigou-o mesmo a dansar uma quadrilha.
No fim de uma hora Augusto, Theophilo e alguns outros amigos estavão
em uma sala contígua ao salão do baile, mas perfeitamente deserta íVaquelh I
occasião.
Como achas o baile? perguntou um dos rapazes a TlLCophilo.
Esplendido!
Bem, disse Augusto. Vamos agora á eleição. Nós somos os grandes
eleitores da rainha do baile. Faço de presidente com voto na matéria. Digâd
lá vocês quem lhes parece que seja a rainha.
Mas falta uma que só vem ás onze horas, disse um.
Quem?
A Sylvia.
Venha ou não, disse outro, eu já achei rainha.
Quemé?
É a Leocadia Martins.
Não digas isso, exclamarão alguns rapazes.
Porque?
Porque é uma tolice!
Tolice 1
Até o nome, disse Augusto. Ora vejão lá : a rainha LeocaJia.
São gostos.
Respeita-se os gostos.
:
Augusto voltou-se para Theophilo e perguntou-lhe
é na
Mas, independente de não estar completo este Olympo, quem Juno
• ••»¦

tua opinião?
Não sei : acho-as todas igualmente bellas.
Não reparaste bem. Ha algumas superiores.
todas
Será por não reparar bem; inas até aqui pareceu-me que erão
igualmente bellas.
Esperemos pela Sylvia.. Que horas são?
JOHN FAMÍLIAS.
.,., AL 1>AS
ma» mÀ

Falta um quarto para as onze.


Esperemos.
minuciosamente
. Os rapazes conversarão sobrecousas diversas, apreciando
do baile, e apreciando não menos minuciosamente alguns ridículos
ás bellczas
a noite.
já observados durante
não tomava parle na conversa. Eslava absorto cm rc-
Theopliilo grande
Itecordava-lhe sua mãi c sua irmã de coração, talvez acordadas
flexoes.
de família. Comparava
á(,„(!||a hora trabalhando á roda da modesta mesa
esplendores do saráo com a simplicidade c a nudez da casa em que
aqueles
duas crealuras cuja felicidade buscava. Uma espécie de remorso
deixara'as
doia-llie na consciência e um peso lhe apertava o coração.
ao poeta :
De repente estremeceu. Augusto reparou n'isso e dirigio-se
Que tens?
não respondeu. Tinha os olhos cravados na dir-ecçào da sala de
Theopliilo
dànsa.
Todos olharão para lá.
É Sylvia! exclamarão.
Com eííeito, uma mora alta acabava de entrar e atravessava o salão, com
cm que
a majestade com que Juno devia atravessar o Olympo. nos tempos
havia Olympo c Juno.
-
É a rainha, exclamarão todos, menos o eleitor da rainha Lcocadia.
Theopliilo também nada disse, mas tinha os olhos cravados na mora.
Quando Svlvia, continuando no caminho, dcsappareceu por trás da parede
divisória das duas salas, Augusto voltou-se para o poeta e perguntou-lhe :
E ou não a rainha?
É, respondeu Theopliilo.
Aqui começou um cântico com cstropbcs c epodos em louvor da Ijelleza
de Sylvia.
Theopliilo voltou ao habitual silencio.
Depois sahírao da sala.
Augusto deu o braço a Theopliilo.
Queres que te apresente á Sylvia? perguntou-lhe.
Quero.
Os dons moços dirigírão-sc para o saláo.
A recém-chegada estava então sentada junto á dona da casa, senhora de
irinla e seis annos, ainda bclla,mas d'cssa belleza do outono e do crepúsculo
que ainda reúne elementos para impressionar. "Sylvia.
Uma turba de adoradores tinha-se já reunido á roda de Ella res*
Iodos os lados da sala
pondia a todos com volubilidade e graça inelíavel. De
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 25

os olhos estavão voltados para cila, e um observador sagaz podia apreciar a


differença da expressão que ia em todos esses olhares. Da parte dos homens
era, admiração em uns, despeito de vencidos em outros; da parte das mu-
lheres era certa vaidade mal contida e certa inveja mal disfarçada.
Sylvia sabia que era singularmente bella e tinha vaidade cLisso; era ele-
os homens a requestavão e repetiáo-lhe a
gahte por natureza c por educação ;
cada momento aquillo que o espelho lhe dizia durante o dia a cada hora.
Theophilo parou á porta vendo a turba que cercava a moça.
Iremos depois, disse cllc.
— Porque?
Tanta gente...
Não sejas tolo. Anda cá.
Theophilo deixou-se arrastar.
Augusto approximou-se do grupo.
A moça apenas o vio fez-lhe umar signal com o olhar. U moço obedeceu
approximando-se.
Nao me acha um ar de philosopho? disse elle sem largar o braço de
Theophilo.
Talvez, disse ella.
Sou um peripathetico que vê correr as horas, olhando para o céo, á es-
do momento cm que deve appareeer Diana para vir empallidecer as
pera
estreitas...
Deveras? disse ella movendo voluptuosamente o leque.
Augusto fez a apresentação de Theophilo.
Sylvia inclinou ligeiramente a cabeça á saudação de Theophilo. Os seus
olhos puros e grandes íitárão-se no moço. Este não pôde desviar os seus.
A conversa continuou animada pelos ditos joviaes e de algum modo fami-
liares de Augusto. Theophilo tomava parte na conversação quanto lhe per-
mittia o êxtase em que estava diante da singular belleza de Sylvjn.
Sylvia era realmente bella no sentido amplo e elevado da palavra. Vinha á
da moça pro-
mente a idéa de Cleopatra, era um duplo effeito que o aspecto
dúzia no espirito e nos sentidos. Quem amasse aquclla moça desejaria que,
da vida; ella
como a Antônio, fosse trasladado para a campa o leito nupciál
da morte.
devia inspirar uma como que voluptuosidade ainda depois
no moço não
Devo dizer, em honra de Theophilo, que a impressão produzida
e o havia de puro e
tinha esse caracter. 0 espirito do poeta só via sentia que
adorável na mulher*
fria pallidez de cera que não com-
Sylvia era um tanto pallida, não d'essa
Tinha a testa arredondada e polida, os olhos negros, profundos, ras-
move.
5/(, JOHN Al, DAS FAMILIAS.

desferindo um olhar uni nariz ligeiramente aqüilinò,


gados, penetrante;
c negras; a boca, gru-
servindo de base a duas sobrancelhas arcadas, bastas
abria-se cm dous lábios demasiadamente rosados, hu.ni-
ciosa e pequena,
voluptuosos; um contornado ligava a cabeça aos
dos, pescoço perfeitamente
as espaduas,
hombros e fa/.ia descer o olhar fascinado para o collo c para
ideal fulgia
nus até onde consenlião a vaidade e o decoro. Sobre aquellc collo
do seio.
uma pequena cru/ de brilhantes em completa oscillaçào pelo arfar
enfeites,
Sylvia vestia com simplicidade c gosto, mas via-se nos maiores
realçar o
como nos menores gestos, a consciência da bclleza que procurava
do que se inventou na terra.
que recebeu do eco com o auxilio
Theophilo não podia desviar os olhos de Sylvia. 0 espirito do poeta sen-
lia-se tomado de unia ebriedade celeste diante d'aquella hellezá fascinante.
Era o pliillro mágico do amor que se lhe entornava nos olhos.
Até então o poeta conhecera a bclleza pela que a imaginação lhe figurava.
Esta bclleza estava alli, diante d'ellc, palpável, visivel, deslumbrante.
Sylvia conheceu o effeito que causara em Theophilo, ou antes suppôz que
elle não podia fugir á lei coinmum dos outros homens que a cercavão. Fitou
um olhar fascinante no poeta, c depois retirou os olhos para dirigir a palavra
á dona da casa.
Augusto esperou que a mora acabasse de fallar, para interpor uma petição.
Era a petição de ser contemplado entre os cavalheiros que devião merecer a
honra de aeompanhal-a á dansa. Sylvia deu-lhe uma quadrilha. Augusto in-
tercedeu por Theophilo, e Theophilo obteve uma valsa.
Depois os dous moços separáráo-se.
É bclla, não? perguntou ao poeta.
Esplendida! murmurou este.
Theophilo senfio-se outro. Parecia-lhe (pie eslava próximo a entrar na cs-
tancia da felicidade. Era simples: amava. 0 amor nasceu-lhe de súbito, como
acontece quando é verdadeiro.
Quando chegou a vez da sua valsa, o nosso poeta estremeceu. Dirigio-se pan\
a moça. Sentia-se estranhamente pommovido, e por duas vezes esteve para
recuar e sahir. Emfim Sylvia deu com os olhos no poeta, c era impossível es-
capar.
MAllCO-AUUKLIO.

- ConÚMiar-se-lia. -—
WaWÍÊ Ci

BiBLIOTHECA NACIONAL cPUBLiCA


—-110 •—
RIO DE JANEIRO

ECONOMIA DOMESTICA

MODO DE TIRAR AS NODOAS DA TINTA DE ESCREVER.


de
Io modo. Applica-se na nodoa um panno molhado na dissolução fraca
esta
ácido oxaliço em água (ácido oxalico 12 grãos, água meia onça); com
com água
applicação a nodoa ficará roxa; mas desappárece lavando-a depois
tendo em dissolução um pouco de chlorureto de cal.
azedas, c esfrega-
2° modo. Applica-se na nodoa uma dissolução dosai de
a este meio, será pro-
se com um panno. Se a nodoa for antiga, e se resistir
uma dissolução de cbloru-
ciso, depois do emprego do sal de azedas, applicar
reto de estanho em água.
Applicar na nodoa o sueco de carambola, fructo do caramboleiro.
5° modo.
emprega-se nas fazendas brancas, mas não nas de cor,
0 sal de azedas
as faz desbotar. Nas fazendas de côr deve-se proceder da maneira
porque
• as manchas são recentes lavão-se com água c sabão, para
setante Quando
vegetaes. Tira-se depois o oxydo de ferro que constituo
tirar as substancias
com ácido sulfurico ou chlòrhydrico ditado em água.
a marca, molhando-o
são antigas, o ácido deve ser mais forte (1 parle de
Quando as manchas
ácido e 10 partes d'agua). , Y
, cor, ~ f
de escrever, feitas nas fazendas de sao ires-
Guando as nodoas de tinta
cas, tirão-se com vinagre branco forte.
tirar as nodoas da Ma de escrever (que se vende nas lojas
Água para
debaixo do nome francez de Encrivore).
meia onça,
4Asuacommuni.
o
1 oitava.
Ácido oxalico. .
Dissolva.
de Ciiernoviz.)
(Extraindo do Formulário
~nri2?~

J±igã!çuit&&i~.' *¦

POESIA

PAIXÃO!

Tu queres com despotieos arbítrios


Firmar dentro em meu peito o teu poder?
Rainha da vaidade! Não te illíidas...
Que pode o teu orgulho te perder!

C/rôa por o/roa, também tenho a minha!


Gvra em meu coração sangue real :
Tensa teus pós um reino e mil vassaUos...
Mas o meu infortúnio é immortal!

Podes, soberba, o manto desdenhoso


IVeseravos sobre as frontes arrastar;
O manto espedaçado em que me envolves
lia de o futuro um dia consagrar!

E debalde que intcntas humilhar-me!...


Reconheço o direito a teusbrazões;
Mas olha que estes pulsos rouxeados
Inda podem quebrar os sons grilhões!

0 teu amor, d'um rei fez um captivo;


A miha realeza abdiquei!
Mas o despeito pode do captivo
Yum momento tornar outra vez rei!
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 27

Se queres ver de novo a teu império


Submisso curvar minha cerviz,
Não penses que sarcásticos ultrages
Podem vencer na dôr um infeliz!

Vem com ternuras apagar as chammas


Em que me sinto.arder e consumir;
Dize que á tua sorte a minha unida
Devem transpor os atrios do porvir!

Restitue-me as esp'ranças d'oulros dias...


A meus sonhos d'amor torna reaes ;
A cada anceio de níinlialma ardente
Responde enternecida com teus ais!

Quando a meu lado caminhares ufana,


Eu próprio as portas te abrirei dos céos :
E tu, que hoje não podes dominar-me,
Farás um homem transformar-se em üeos!

Mas não penses ganhar esta batalha


Ficando o teu orgulho vencedor;
Pôde a morte extinguir minha existência,
Mas não se aviltará o meu amor!

z.
\\r
dJ

MODAS

DESCRIPÇÂO DO FIGTIRTNO DE MODAS.


I" Paletó de véllüclo preto guarnecido em baixo, na cava o na extremidade das
mangas, bem como nos bolsos, com uma rica renda de Chantilly com galões de pas-
samanes adornados de contas de azeviche por cima; fecha-se a frente com alamares de
de armure cinzento. Chapéo Lamhalle de renda
passamanes do mesmo gênero. Vestido
rosas amarellas de velludo; litas atadei-
preta,ornado de azeviche ede uma grinalda de
ras de renda preta presa com uma rosa de velludo.
2° Manto com duplo cabeção de panno imitando froco, matiz pardo, recortado com
íorrao-se os cabeções com a mesma
grandes dentes, bordados de cachemira ponçó;
cachemira. Vestido de tafetá preto com pequenas listras brancas. Chapéo forma de
e contas pretas.
prato, de velludo preto com grinalda de fuschias
r>° Sobretudo peplum de velludo preto bordado de azeviche e guarnecido de com-
largas forradas com setim branco. Vestido de
pridas franjas do seda torcidas; mangas
seda roxa. Chapéo de fôrma quadrada chamada catalã, de setim franzido, com tufo e
fitas atadeiras de filo branco ; guarnição de conlas brancas
/<•" Vestido de estofo imitando granito, curto e enviezado, recortado com dentes
de panno avelludado azul ferrete
quadrados guarnecidos de reps azul. Paletó sacco
com
guarnecido com passamanes, saia de pôr por baixo, de reps azul, guarnocida
velludo preto. Chapéo redondo de velludo ornado com um pássaro na frente e duas
fitas compridas atrás.

TRABALHOS

ENFEITE CATALÃO (PARA A CABEÇA), N° 12.


Materiaes : 50 grammas de lã de Saxonia, branca; 5 meadas de lã ponço.
liste pequeno enfeite caseiro é lindíssimo e diz muito bem para uma moca. E uma
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 29
novidade que está muito na moda e faz-se de filet com lã branca íhussinm. O molde
c limito simples o consta de um qitaclrilongo com duas fitas at uleiras arredondadas
nas pontas. Á roda cio filet faz-se uma beira de crochet conchas de lã ponçó. O pe-
tira de filei de lá branca
queno quadrado cerca-se com um macheado feito com uma
com uma beira de lã ponçó. Prende-se uma borla de lã ponçó na extremidade ale
cada titã atadeira; alão-sc atras, por baixo dos cabellos.
Para fazer-se este enfeite cumpre em primeiro lugar cortar com papel um quadri-
longo de 20 centímetros sobre 15, e fazer de filet simples um pedaço d'estas dimen-
soes; depois, duas tiras com oito malhas de largo e 50 centímetros de comprido, que
se prende ao bando de cada lado do quadiilongo e no meio do lado mais comprido. A
tira que serve para fazer o macheado tem de largura 5 malhas de filet e I malha ide
lã ponçó de cada lado.

CHARUTEIRà, ^ li.
o lio de
Materiaes : Peüica desenhada; cordão napolitano; retrozes irmanados
ouro.
Os ornatos todos d'este lindo trabalho fazem-se com cordão napolitano do mesmo matiz
linissimo. A beira
cinzento cüi pellica, sobre a qual se cose, como trancelim, com retroz
medalhão do centro cobre-se com trancelim de orno, c enche-se com uma grade de
do
um ponto
retroz preto. Faz-se lançando o retroz de uma beira á outra, depois fazendo
borda-se de matiz,
como mesmo relroz em cada intersecção das linhas. A grinalda
verdes; abaste laz-su
com retroz das cores naturaes; os myosotis azuese as folhos
Sobre unidos
com fio de ouro. Os dous lados da charuteira bordão-se igualmente.
fio de ouro.
lados, em lugar do medalhão, podem-se bordar iniciaes com

POMW-AGULHAS, N° 15.

Materiaes ' Talagarsa brasileira, retroz e ouro.


faz-se de um só de talagarsa brasileira, que serve
O livrinbo porta-agulhas pedaço
Os com são de f.o de ouro, os .pie estão marcados
de fundo. quadrados pontinhos
linhas transveísaes são de retroz verde, e o resto de retroz preto
com três da
ouro, Ires fios ao lado um do ou 10 o
Para as linhas de fio de passão-se
aiternadamente por
quadrado da talagarsa, passando retroz verde. As diagonaes ia/em-sc cio
Y^YrZ!l^ZTZ
dndo- nratica-se o mesmo para a linha de
seguras no meio por uma compra cruz do mesmo
JontlaSo 1 retroz príto,
vp\t(17 e Dor cima uma pequena cruz de lio dc orno.

incisões romper a lombada Forra-* tudo com sedaj.eidc


lazem-sedhe duas para nas beiras pa a
de fina ílanella bronca dentada
poem
noem-se no meio algumas folhas
se no h
Lose-se uma ma ytiut a(1ò (]o i,vnll|10 para fechal-o,
espetarem-se as agulhas.
rodeal-o.
ou então usa-se de uma fita elástica para

DE BORDADOS.
EXrLICAÇÃO DA ESTAMPA
- de fantasia lenços ou roupa de mesa. Ponto dc relevo
N» 4 Alphabeto para
nanmk recortado
1 9 e 5 1 Co larinho de pontas e ponho alto de cambraia ou
russo e México com retroz preto mssimo.
em cri

& r:r:.:z;
-Lallo
cristat ae bauu, e botãfcde
. pontos
ssíss *«- —» ¦ • >»•¦ - **¦
Umntes aue o ponto russo é uma espécie dc dc-
5o JORNAL DAS FAMÍLIAS.

deixar iutervallo algum entre os 0 bordado México é um ponto de


sem nunca pontos,
toma-se com a agu lia
recorte frouxo, para o qual não se risca o contorno por baixo;
riscos que se vesobie
bastante adiante na fazenda para produzir o effeito dos pequenos
o desenho. . r . , ,
de linbo duplo c
N..s i e 5. — Collarinlio Vau-Byck, e punho irmanado. Panno
bainhas pespontadas. Cordãozinho e ponto cie relevo.
unia camisa de
N»s g. 7 e 8. _ Metade das costas, frente e metade da manga de
e substituídos
cambraia ou de panno de Unho tino. Todos os rbonibos são recortados
cassa sobre a borda-se o botão de rosa em ponto de relevo. Cumpre por uma
por qual
sobre o
tira de cassa por baixo do panno de linbo e fazer um cordãozmlm apertado
beira c re-
risco do desenho; depois recorta-fe o panno de liuho por baixo. Toda a
cortada.
N° 9. — Isabel. Lettras gothicas. Grosso cordãozinho.
N° 10. — Euqenia. Lettras inglezas, ornadas. Ponto de relevo.
]\|u |0 bis. —Catharina. Lettras inglezas, ornadas. Duplo cordãozinho e ponto de
relevo.
Np II. — Toalha de altar para bordar em applicação de nanzouk sobre iilo grego
com malhas redondas.
N° li. — Enfeite catalão. (Vide os trabalhos).
No |5. __ Cecilia. Lettras gothicas. Cordãozinho de linha branca com pespoutode
cor por cima.
i\1u 14. — Charuteira. [Vide os trabalhos.)
N° 15. — Porta-agullías. (Vide os trabalhos.)
i\° 16, — Entremeio. Pontos russo e México.
j\o j 7. __ Desenho para roda de saia. Ponto de relevo com grossa linha branca
bobre morim, ponto darmas e ilhós. Este desenho, de um gênero novo, ficará liudis-
simo sendo bem bordado em realce com linha grossa.
l\u 18. — G. V. Iniciaes entrelaçadas, com uma coroa de visconde por cima. Kè-
corte, ponto de rosa e ponto de relevo, ,Para roupa de mesa.
N° 19. — Pala com o anagramma da Santissima Virgem, para bordar de ponto de
relevo sobre cassa. Forra-se a cassa com tafetá azul, o qual depois estende-se sobre
um pedaço de papelão forrado também com íiuo panno de Unho, com uma pequenu
cruz em ponto demarca com linha encarnada no meio. Todo ao redor, para escondera
costura, póde-se pôr, quer um torçal de seda azul, quer uma renda levemente fran-
zida nos ângulos.

EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA l)E MULDES.-


Molde de casaquinha peplum.
N°i.— Frente.
N" 1 — Lado;
N° 5. — Metade das costas.
N°4. — Manga.
Esta casaquinha, de um molde todo novo, faz-se de panno leve, de cachemira ou
de velludo. O enfeite debuxado sobre o nosso desenho indica passamanes ornadas com
contas de azeviehe, que se cose como trancelim.
N.° 5* — Babadouro com cinto, de íustão branco, trancelim entrançado de linha
branca. Forra-se a frente com molletão de algodão.
N° 6. — D. G. Iniciaes ornadas, parafronha. Ponto de relevo.
N° 7. — Alphabeto romano ornado de um escudo^ para roupa de mcsa1 Ponto de
relevo»
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 31
j\lü8. —Desenho paru roda de saia, cordões formando laços, liste desenho exqüi-
silo póde-Se fazer de doas modos : sobre morini branco, pòr-se-ha unia dupla ear-
reira de trancelim branco em linha recta, e bordar-se-ha de ponto de relevo, com
grossa linha branca, o resto do desenho. Sobre fazenda de lã cor de cinza, pòr-se-ha
trancelim de lã preta, e bordar-se-ha de matiz com là encarnada o desenho todo.
Sobre fazenda de Ia encarnada, far-sc-ha o trabalho com lã preta.

EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA OURO E CORES.


N°l. —Tapeçaria de ponto encruzado ordinário sobre talagarsa brasileita. Essa
talagarsa serve de fundo, e o desenho, de gênero argelino, borda-se com retroz de
Argel de cores brilhantes. Pode servir para lazer lindíssimas chinelas de senhora;
costura; para cobrir
para cobrir a roda de uma jardineira de bambu, ou de cesta para
uma eharuteira ou o fundo de uma cesta para papeis.
Nü 2. — Gharuteira. 0 fundo 6 de camurça. Um trancelim de ouro e um tran-
celim de seda azul formao a cercadura. Antes de coser estes traucelins, recortar-
se-hão, com cachemira ponçó, quatro applicações, que se íixaráõ nos lugares in-
dicados no nosso modelo, depois duas app.licações recortadas com cachemira ou velludo
azul. Sobre as applicações ponçó, passar-se-ha uma grade de íio de ouro, presa por
um nó da mesma linha, em cada ponto de intersecção. A pequena andorinha, que traz
no bico um maço de charutos, borda-se de matiz com retroz preto, avelludado, com
alguns matizes de preto azulado sobre o corpo e a ponta das azas;*o peito matizado de
branco e o olho indicado por uma conta preta. Os charutos bordados também de matiz,
com retroz Havana, com a atadura de fio de ouro. Do outro lado, far-sc-ha a mesma
cercadura, com iniciaes bordadas com lio de ouro no meio.
de ouro
Np 5. __ Ventarola chineza, bordada de matiz com retroz avelludado c íio
sobre tafetá cinzento-claio ou azul da China. Também pode-se bordar o desenho lodo
de matiz sobre talagarsa de seda, branca.
N° 4. — Tampa do vaso n° 6. .
vimos pouco.
N° 5. — Limpa-pcpnas. 0 fundo é de panno pardo claro; também o
de cada lado
0 circulo branco é uma applicação recortada de cachemira branca, presa
os pequenos
sobre o fundo com um ponto México de retroz avelludado de lindo azul;
outro com retroz
desenhos sobre o branco fazem-se, um com quatro contas douradas,
borda-se lambem de
azul • é um grosso grão bordado de matiz. A estrella do centro
de ouro. Pode-se
matiz com retroz azul e prelo. A cercadura faz-se com trancelim
uelle se vem. Recor-
omittir, querendo, as applicações de cachemira azul e preta que
circulo de panno preto
ta-se em dentes a beira do panno todo ao redor; corta-se um
e dentados que se põem
do mesmo tamanho, depois alguns círculos mais pequenos
lodo junto prende-se com
entre a parte bordada que fica por cima e o circulo maior. 0 •
com um enfeite dourado que
um ponto forte no centro. Esconde-se este ponto pequeno
se cose em cima, ... .:; ,,wi
Fazendo-se este desenho um pouco maior servirá para
l.ndissimos tapetes para alam*
pada ou frasco. „ri, .
entrançada com va.asdc
N» 6 - Vaso para costura. Este vaso é de palha grossa
É muito commodo guardar novellos de lã, quando se tem no bastedor um
junco. para
trabalho de tapeçaria. Adorna-se o vaso com Uras de panno encarnado^obre
grande a n° 7, os delal .es
as quaes poem-se palmas e crescentes de applicação. Damos parte,
alienadamente com
deiimadW tiras de tamanho natural. Fazem-se as palmas ama-
e azul, e os crescentes lambem alternadanienle com panno
panno preto panno lugares com algunsponos
rello e panno branco. Presas as palmas nos seus respectivos
com México de retroz avelludado, cor de ouro, Cumpre
de alinbavo, cereão^e ponto
52 JORNAL DAS FAMÍLIAS.
Sohre a
tomar-se o ponto metade sobre o fundo encarnado, metade sobre a palma.
azul faz-se uma cercadura de ponto de cadeaziuha com retroz preto, e unia
palma
oru.de de ponto lançado, com retroz encarnado de um lado c verde claro do outro;
reiinein-se os quadrados com uma pequena cruz de retroz preto cm cada ponto de in-
tersecçao. Sobre a palma preta, o ponto México faz-se também com retroz amarello,
íáz-se com retroz azul. A grade é encar-
porem a cercadura de ponto de cadeaziuha
nada c azul com cruzinhas brancas. Os crescentes de panno amarello prendem-se sobre
o fundo com um ponto México de retroz preto, e têm um pecpieno ziguezague de
retroz verde claro por cima. Os crescentes de panno branco também têm o ponto Me-
xicode retroz amarello e o ponto lançade de ziguezague de retroz encarnado por cima.
Essas tirão orlão-se de c^ida lado com um recorte de ponto México de retroz preto;
tomâo-se os pontos sobre uma linha recta traçada com retroz amarello. Prendem-se as
tiras sobre o vaso em distancias iguaes, com pontos perdidos na palha. A tampa cobre-
se inteiramente de panno encarnado com palmas e crescentes iguaes aos que ornão as
tiras, dispostos ern circulo á roda de um pequeno desenho de panno preto.

*i

>Á1V1S. TYP. POKTUG. I>K SIMAO IVAÇON I. COMI1., BÜA D K.I1FLUTII, 1


"-"Ji

JORNAL DAS F AM t LI AS.


tA

TARENTELLE BÍBLIGTHECA NACIONAL ePUBUCÉ

par RIO DE J.WRIRO


BTIBNNE SHAMROCK. #

a Mí"eMarie IXHJSflEBES, a
Vivace. K
A

gfcffllíS^
^ ^ a ^i • j>__*
II »——•—. mli I i
¦•&:

PUNO s 4 i l>
~v^

P^5
m

tf PP
' ¦¦ ' ¦ '" "Ml" " i ——»»-.»J»—»»»»»».« »i «-«J^—l 1 »
y—V—- , _____„,_ | ^y—pp—

^'JJA-r-.-r-r . -....• ¦ ¦'"¦¦•¦ ~~ t. j


!4(tf

j^.1
.i i .ii i i li. -r _ !¦« ¦' ' ¦ ' ¦' ¦<"'
'• 1. ¦ !

T 'jf ¦ ti" t t "'' ""^ "~" —ír— """

/> legsçierameiiíe.
' ¦
ml^Êf***? -a I A-. , ¦ .,, ... .. ... i i . . > ¦" i

^mtm r I — —
1 4=P J-i I-*- 1 i 1 i-

ffi^^^TTinTfjTr4rM j rJ-ü-L^SE.
r/n/! ^ *f í»

, 11

a,—i •
# y
I/v»/? m***^

Aimo V. "Janeiro cie 1867.


2.
m^r
••
:,¦•

: m '¦'¦'¦

ptf^f^rjTrnrf^^fftH *

mp*ip *JhHJ^
p^ 5

•MiBÉÍmm |. —^ ^

B ^^j^^é^H^1^ SÜ
f r=5

j^^^feRiTirrrfrri fim
(foice.

cresceu _ ^/o.

2)
¦•
>'¦

. ••'.

"—' +—- ^L_^> #3.


A '¦
A jff •

li.iifrrrff|rrrrfr|rriirr|iijf|,|f|fhT

t * .
g^^ferf"W
p sáüá ^M g-^j nii s i
~^f=
^

phh^ Hinciffffi
n^ p fü ¦f i É: 3 5
-I

***• A

. 21

'¦*T
iS"V) •

ip r- •¦ - ¦ i T

# #-#i? Ê m :z M * Ê-0 iij..

gfe^fe

i --"——— • /* «i

ÍTgKt

»>.

rft

Sr

? ?A<—- ^1 1
S-* r* --

21
K7*}

rinforzandof
\ -cen

íbcEf^i^H f i 'ijiJ''}
-
'f''í
-
'jg
- d°-

(^^z^^ziqjd^j: \ 1J r1^

.z p [^—L^j— nrrte ü" ' ff #—? ¦—W r

21
gmmwm
í^__^^;v.,^.^'-;«<^'^,'íl""'^

^'-fíítzMn^wm
^ai£r[ff
'
ry L
i m m n 11
do Ire

j —hJ-A » Hf*f— fcrj—- I» f _ -

&.'..

I f,p ir fTj y I^í^



,.«•>
•';'•¦"'¦ ?á'".

ÇÜ
7

±£ 4> A Affe^ #

^ii^à^ythiT-11 rrrfrr i
\* —«? **—i **

i
&mzmgffeyite Eftf f|11
Ã
|zCLflT*1^!

t\

j i*±í
- - ¦'
I ' ' -
mmp jj|Hj áÈ=í

A A^ ^—^ jí * Ví

v p

gvrzo yHf^ j§|||| s pifir

CgfTpcflg|F;r Ü
W W^ èd
^y^
i f

-^ ' i —i ± J. r

<21
-5Í.
•&.

~-attíLsmuu*
«^»^BW- -*«^^l"-" li J^ I Lf^-Jah—^ •^¦¦^¦«4**,^i,T*^^r *^^^""" ..
' rfTi fr r rf f i fr r ri 11
^BBBBBpWW^^-. . ^J ¦rBM*l VB**1" i^.^^MMBMBjBr*l^*^^H^HBM|""-*-"^"B '

A A A A
# # í 2 í

^#"' «BBBB

¦ ÀA ¦ A A È*.*+*
*+•+•*. $+*±*^ *+Ísíhl
£ Jt »JftÉÍ rt|tÃt :::zr::ptft ;:::s:p:i«p£ rc—^rHJ:

UST

1"^' àemprejf LLT

^ ~ "^l*
8a~

Imp!e MicheW , Bue du Hasard 6


21
BtBLIOTHEGA NACIOMALcPUBLICA
¦¦/¦

.. li-.-- r- "\

.--•/.

1 /¦-
—-a I
5 I
13 I »i
I

1 Kfií^^-j

, ,| fWBÈ Mi
Vil

Le Spleiiclidc LcVoyaòciLr iIIIiwt Casaque Peplimi Paletot sac

U
U URNAL AS FAF11 LI 1 AS «BU0THECAN*CIDNAíêKJ81íCA

o5 1 5°arji RIO DE JANEIRO


u giro / 0
*•*
'?• •

ISIii

'" '-¦ ''.'*¦*


¦"'" - .i- - ¦'-; . ;!*

'-¦¦':
í-'f-,?tv; :__'¦. • ."¦C;-"l.v,- ¦'.. -¦ V

'' '¦'¦ '¦¦•'"" '»¦ '¦¦¦''"';* "'' ' '" ¦*¦' ',.¦..*' "Vi '""'Vi,! "-¦*¦/ k' ,¦*'¦' "' ''vr: '-i' '" ¦¦ "*' ''¦'- ' ":'-' ' "¦" '¦ ¦;¦ ¦ '¦'.
¦-¦*¦' 1 - !-L vj ¦."¦¦ ,.'"*•''' ,'* .'*' ¦ ¦,.'(*'• - -'" -'¦ ..'¦'-¦'¦'¦'.".•'' ¦¦¦'iv .":'. ¦ ¦ 1 . >.. ;':¦¦'. i
i• ¦¦ ¦.;'¦.:•¦ V "*-' ¦"'¦' ^'/'i,"
" ¦¦¦!,'
¦ . i. ¦"¦ * t< •>'! '.''¦ ¦; , ^ ,. t

¦¦".;•;'/ •''.:: ^..?-í-'.'

•• /' '
. -l

'"" '-'' '


-

- '¦ '¦ .

'--.'V"l '>v-':: '-'' '"'¦ ¦ " ' '¦ .'-Ij^'*


í.ív" -';i -^ ^ :- '-•* ' '¦¦¦'¦¦.'¦' ' ¦-¦ "'¦ VÍ; '''¦ ¦ ;.'; r ¦ •¦; 'V"' '¦",-'iv .'.'.'' 'V~V''
-.,•/',«-"¦

• - , .>-V- ,* .'.. .-¦--'••' ,'V*j ¦ .j-'-' ¦'-¦'¦ ;'¦, !&;<**'^ .v' :'¦ -..¦¦*¦'; -¦"'¦

v*r-ís*

BIÔLIOrHCGA NACtONALcPÜBltCA
. -¦'•¦'¦ú-.-.-r-:i'i>i;fí*Vi(.;'*'".

¦.' ¦¦¦ ¦¦ ¦'->••'.¦¦. ' ¦ ¦'<


. .- .' W-":-.'. ..-.li-"

Sfl;

- -.<: ' •¦' •.!¦.


SSl^iffi "'/"'.•
^f^^á^^

','•' '-V
v"".V' V' ^"¦

te
;, , > -

^1
' ' '
- ¦¦ ¦ .« í r ¦' .5
'/;.'
i .-:.'f,:.;Ui>.

a-^^^^^^^í

':"•¦•¦ '
" :
•¦"" '..'"¦ ¦':, •¦
- -..'¦¦.,."

- •" '.'-"¦¦'
:'/

¦'''¦'
f , ."' .¦'%LmãfÍ /'¦.t.'.''í*'.

:'•'' *-'.; \ .

?'i(í V " ' ' ¦':"/¦¦¦'¦*'... '


m^' .':''" -v.'-' ¦
:i/-
¦
¦ ¦ ;
. .:.•¦..

ív-k^-A-., . - ¦'¦' .¦-"',"-'•',


¦ '¦'
í#'»%tí/íi'..» W* íS."." ií*;:' ¦ -....•'¦
¦ "¦
..'
,' \":- . .; .
...

'.'' -':'

W^ . ¦:'?--¦¦¦
¦>-!'
. ¦: -

¦:¦',.¦:/¦
'*'-
JORNAL D&S 'FAMÍLIAS ,';^^..-::':
"^r. *—.—S !—^^^b,.,,.,^^,. -¦" ¦- ¦
,,v..., 'v,;í,,,,-.,Sii,s^,:,;^
«gSSg^gg^^gSgrS^S: )>,-,, ¦ ,,. ,||, iiiiBiiiriirrfiTMir"—' '——
gs» r.. ^^^,^mmmm*mmmÊmmKmÊmmmmmÊmmmmmmmmmmmKmmHmm ;—^——¦¦>--.¦•¦¦ w imiui :-i^e-> «.«j,, ;>¦-,.,.¦¦:¦, :;,/¦¦,.,.
. .¦ .-.¦¦-,
¦»¦¦¦¦ g"*"Tg!!g!*gg|!ggj^ vi-??-'^^^ IJIQ-.1'^1::- ;j'
"— " ¦¦ ' 1 Nê»
""""^ ",^:. '(.;':¦.'"'"
j^^,...- ....-.--v.---—,-, , . .iTr^^w^^iajHflfejtaiMt- i i___r •-TT"Tr''''"flHT^Tíin*8rTffl _*^ <£* .'¦¦¦* ___^_^____B Bp_____. ¦£•¦'; E

vi
!
' ^fl ** ' ': * V
itW
iWlHPliis
Pff i_afl»MPhPr__—j_ _P M __t_WI IphBI
II
_¦•_¦ Bpí
_pT^
/' •_ _a ¦ . ¦ ¦ 'Taaj pfflpflBp^^ \ m **:-¦_)____ -¦¦ 4ÊÊk flb I
jfct \ ____fl .^T^*'*'' afl ______ i

¦¦•¦¦¦ ^"^bf " ^^B


^¦¦H ^Rtw^^^^Bl^^MP^KcSí phs!_v>f__! b«pH BBPWBtaB_K * tbbbT _éV ^^^^H ^¦^¦¦¦¦¦m^I Pr. _^___Hfl_________fli \ 4H t .;;""^v^_i*í ^E^-fjpfnÍÈ ¦ ¦ pfl__ Ôl

' ^r__ ^s. !*___fl *tJ__^


flJfl"fl-B_iB''_H^__^lfl^_____B'flYifc^BpWfl^ ..•¦ ______i__________fl Bkfl' _B Ba ______! BflL a e.\p_ BBfl L_^fl_ flÀ ____! ^r* ______ Ifl IV

IfJaBYvViMfllHÉilBl imbrI H Ei fl f_P^'*''_íí_„ ^fl_H ^ ^ Bwáta'';, ' KlB _r BflJ. lÊ ^a^BaT'•"'.->¦¦'¦.•'''¦' / 1 H I i».__fl l__ .'1 ffii Ril R
miwm . aa ^*BaW
K IMUDI Wiv^ll Hin HViffiH _H í-J^mW appppppph) «pArV* apH ppAbppA flpp_>^ ^fl *_fl^fl ^b .¦ .._¦ aonfl WÊÊ .^ < BB pKt^jflfiifl_ B?
m9 K^___B_B_wMÍ_ppiíppiítflplilpp^p B^p^ B9 '
Bl $_B'y I ¦ íB^ aB ppkT^pVB_t__j_ mtH^ifl B .. ¦__¦ ¦ ^aaaj ^ ¦¦ bp* _jPHm _____________________________________________________________________________________________________________ ___________ ppfl __P_fl ¦
Iflflvflflflflfl li \ «_¦$ fl B Br _fl BVflflP_Bp_V ffilfl». flfl fl B' ;'""^H _r l H dül i_fl_H ______¦¦' II^PI BM K

|fl __________t'J_KSi HvbQIII IBal 0 mm&êf-^1 ^ÜÍ_^_SÜ ¦¦ ________PuH ^^^ •-' ^^^ ¦ l_^r \»^H Bí^* ^fis ^H ^» ¦ ^%\ %l R^ÜÉfKH^V^I ¦!

________________LT___________r«vfi^ ^^IpSwj BHíuu*r^£&'Jiuh ^^f.^|H ^^Hmémutí E1_____________H ____________________' ^.KaaB*^ j^^^^^m '-. ^^^1 ^^E^^^^^Ebwj ^Ii ___________________¦____________. ^_______ _________[ v______r~¦Vw _¦__________! ____________i ^tA^é. ^aaaj BEMBiir^BaBaB ^^^a. B. ^Í^J ^Hw^^bV ^^^1 ^^^Bl- '^láB
j^.^^B^H^^H ____RL^rrB^BrVkBH
BBjH ¦?§¦ BKfôifl / ¦ ¦ BBW .Jr^BBBBr I K - - __H BP*1 ____! Bfá^ v ^ ¦ Br^ ____^T^^B) ^ -^ B^ ^r •'¦* ^ ¦¦¦.-¦'• ' - fl P H^jffiyi B
v^|gjg 'mW '•¦'- 'êààáti-*.-.
fl HíKS
^
__i___n f_____B HH H'Bl
MMiÊM
w^^tüfl Hs
'
.^h
' B^^^.
'".-''-'. ' fl B^ B
__B__B_ra__| B
"¦"'¦¦"'''JÈ
^WÍlIliaBI w '
_B
'1
- 1 |::'';:::il'|i|
___¦ ____. ¦.¦
CL
HBBJ _« ^^r
m ____»
fl^B IsL ,v.' ' éyHa.
^^1 •¦ ' ______.< . UG»'
tJ
¦!
w Sfl
B 9 __h
-
' ^V B\(,
fl ¦¦¦¦ BÍ —^BB W m ^KmMÊ B I m BBB _^___É____HbbbbI fl BIWJ •^** ^B A %^

'^B '¦ '•


KB flnfl ___BJ ^^r^ I B AhÉBBkBb, fl BbBB: wÍi//////1^KHiBBBV ¦ _____^^B_______Pt___n__fl ^. fl HÊÍMBBfl-'-'''; ___ÉÍ '¦ ¦ ______ ^í BkH ___P^

¦¦ bbbbbbk Ir ^^^_B MMÉPI¦ W ' ''^1 B mWWbS ^^^BIÍIiIíIuiCwébÉbW -^^•'¦'¦'^ ' ^B bbhH Hr^^

'^^^p%iaMti-^%I '
fl fl-fl ílBfl Éi'ffe".à ¦ a V^bbW.' fl bb^t M lai fl B*í¥^HpB__¦ Bm_^áf^ Vw' \^^ P^
' '^ '
¦ '^ViW i __dBflk. ¦ B I' ' 'Ifl B1 FflVaB i^iJÍP PííwÜ^*flfíl ST \ ¦ •'" r^:''''-• '
¦
Cj I #i w tbm ay*^ ^ Bfc fl Hsfl_fi llri^fl bmI Pf^will 4? fl afl ^ \ •^^^fll^fl PPIBPI^^ :. .-/'••>".•-•:¦/«"v-------;í.^_ iI
""'aí ''¦^B-
.— • <a_a»iiT>-)V'> ¦ JBKff __jVt___^i__W__i'___'_ÍMfflBrt'|t^y*'-^^'''it^^-^^^y^'^'^j''-- -a A' ^t. ^1^^ ^____. ^™A. tél ' I VI Bwlllí^ fl ^BB^b B^fl^BBBBBBBBBBBBr afl^^Br^; ¦•
' '__»' !_____»
"E'^Ê'\^tr • ¦* H ¦ ¦ í '-^/''''í!". r^".'',;';.;. »¦.'¦.. ' a
^a_________________feaMBhi_______a^ ^^B ' /*rüi''v,i''->;' '
_^;j^jSbbb1 IÈB^lVv - ^_L BIB™flr fl H^ullílím IliMll Bflf feMfr^fl ^r ____r ___p ^^A fl'''' I t«t._iM:^^'mlj____Íi^i...)_^i__^ S

10 ,m£ ^B

vfl Bi«v Ht^l _k. fl m ^Êm^^^Fm __r ___ár^____j_i_i B^BmÉb fl**^!^é B,b^jép^>''''«^'ííí' fl^^ra^™!^ ^| B^fl tV
^^^fll ^^*JJ
i'l PJBRIu PR Hãfll Eiw9 i^&fu ?> MmM m ____r <_í______________^ BB¦¦¦___'___! _______BBfek ¦ ___Pr^ BI 1^. v • • ...fl flp?J BfeiM BtX1- I

;fl ^^^B ¦ ^fl ^^^aW ¦ *¦ ¦¦¦';'-" ¦"•_________.


¦» BHIff^âfl Hl kík^^bi b - ^^B ^^.....fl / ___¦ flfl K^fl .K^fl BiMfl BÉtwfliíi.
¦fl IVIB lÉpCmi fir-BlQaj jw «BB ^vj^ tH pvaB Baapssspjaaj B^^s?-,-: "'^^L' ^^bjl í .4h Bm^S^jB aaaaMÃMH HraSHk i
I B ISmEU El ItíBfliiilii _________fBm. Bbl-^I 4s^^éip___H BV';;' >-' • BaB^w ^Bppp^*j_____.' / íbsksI sütrafl B^^fl fl^.,'fl BbbJHBl•;>>..:''
¦tíB ¦BMBfiB Byjaj -*!5^ ¦ ^______, - . Bi fltJ» _B - •¦ ~. :^_a W' •¦ . ¦'UI Bjwt ¦ __________B^^^ / Jf™*B r^rflB BHP BBFsí^-í;/»! fli^-^-fl Bh" B

_Bj ".__^______^^ ' ^bbV flpppV b_b . jflBfpV »-


jfl __Bi_ífl Brflpflflí^íflippl BlI Ir ifl bb^l fl_r i^Bb ppppbpppppt ppppBL ¦ apppppppt ¦ bh BB* • *^*B __B^ É tfcfífa ApHii l^i^ppl fllwJrfppl Bâ!w'ofl K^mnI bV>' s

fl '^¦¦".<;--r»-;' - BB '
fl B^Pi B__PJPSfl qh k ____L _J
j__________B_______B - !•¦¦¦¦•
)
fl1 ____Fal
Bfl
m BI
fl ^Bfll ^1'-:'".^
BBI'» 'aBBBjBl;:;';3:r,-,--:;'^::-'.
,-,lí' AW^k
•¦•áHí____B'!sv;%§______________B-^»-./ - / flinfl ___^^^_ífl R@*i»3ífl B«^^^ K^b¥:íÍí I
K*'ifl B9 Bfl B BI pW / nlS BffiS Krflflfli _Hi_«__il KV' 1

*' "'''^'fllilB
fl
M Kafl pfflpF^^flpppflfellSln ppffl Bi' ppppW
' pppI pk" r flpHíbiS I ifl ppBl'-* W'* pppt^*VB1
pppkfl BiB^I
-ABI '«fl k
C^^K^B^flHl
-\^^^m ^'W
^P J^B / nWilMB _B____a>M>ii|»" 'bbbbbbbbbbpPW ' > h"pppB
Bé'I|^^''''flpflpl pBfVlVfTfl BB I
BíbI bVpT ^flpfl pppWVBViBI ppp_R ppppppW. ppppppppppppppppW .mpppW .flPlMML. ^3fl pppm ppI pppm. pH ÁWtkSfl pK^^JJ^' H t____B / HCflÕivãppIpppi ppflTVflBB luc-' pfl|p?vTtCBBl

' '-"v^l '«Br * tMK 'fl BiÉÉi5i^^B^(f^ffrJ^^BBfl.áiB ¦ ¦% fl ^*^ bm KJSff^fli KJ_B H ': "
9 nVlBflfllfli BjB H - aWl^^' iB B fl P^ •''^•^íálÈ.wfJMI /
9
Ifl bltm^
HMIBL'vk__E_E lál
.WBQfl üi
BH¦ __v
__f vK
pJl ^pJ] P^Bi
__Bp^ fl_ ¦l'l
¦¦ BI B& '¦,
BbHí&íik, aflp;
BBI BBkflv ^fl
BBV.i..^ pPL3 K:! ^."BpÍ^
K_í______ BWK'ffll'flfla^!*-',/
Kl^BJr' y/ ^|
ffii BieffiSal
BaORSia B^íkí£W
HãSâuâCSfli CBSttffiíBl
BBRSwííBl rxmB
_______HB pÜ
B ¦ ¦
Ifflfl
m BWffpBflpfppppBr^pP^pBr' "*pB
ppB^W^pB ÍpWIWppT pBI' '
• \ ppfl
flfTp^ppppppM
^^™"™B
^^¦¦¦¦^^BP™i^ -:'"¦!Ifl ' '
Hl Tflfl B__& l' BbBB 'flBrpppjí^iflFB
''flfl
BBBk *"'^pB
"¦Bp-^™*»!
BBBw BBp^^flfl^iflBBi'5 ^BflyBBIpPPPPPPt ^ kÜ pWpprHIkÍS RllllWimfl i^^fil RH M
r
Em %^fl B ¦ «f B tJ y'^flM bmb BflrS^^IBflfl PB / ^b B'>v'- s
'•'*'"'•; ' ™J '
í9 BI Eiflnl '\ Bfcpi
"prflBV^ I ___Bpu _B ¦ Bflj ___rl fljBpiàíl^SasPJ
' ISflPÍiBBCT^BBfei'"*flfl «fl Eb^^. _r " W BfeKwí^ffitfl Hf <'' I
^pH KiriaBBFwfl bWR ¦ ¦ ' H áfc ^pppflH flH BflprWflBffpH ^fl flV BflflV flv^-iflH' TppppppHpPpppS^NnS^^ppflBnBYr^pflfl jr - wfl ¦BUT^Kmivl BW " H
\_ ™ • _¦¦ fl B.H?'1'"'flJt-*.'.^'-¦!¦¦¦"" '-_sí. ¦/
n9 H9 BjKTi fljfl b x __r ^flfl
vl Ét
¦•. íp__________Bi
<a iV B HBB H_fl _____ü__É^BP^É^^Bfl B^. ¦•' . fl KwG^fl nEMBEBi » '.
mB BSufla B';B_i BuB BBJ Bs B ^B^ BP ^______ _Mp M /v^aB BT^flBBBW IB^B^aB _____l^^^™IBB x tB r*yfl BM Wr
^a^^^flB^________.____É_______í____PTt 'H "'u1'
Í BBh B^flfl B»' \ EmÍC'..! _PnB flp^^- vm'''^^V^kF^^flflflV:''^^flp^'° y flJ Bu&tp

fl Bc«B1 BSai wm\ \ _____|p^^J__f B ¦


*' '•'¦'
^BflPf' IB ^flt^^fll ;
MflflbâflPT fl. ' flfl^lflk pB '¦' ' fl» flj _fl^
"'.''''''

'*' \ ' '-' ' ' ' '


^1 ¦
'
JBpppT flh_k_. flflppL fll pBI'BBp^pppppp; Jl^cPflPPPPpBf^B ^^apppbBb. ' 'flBBI^«flpfll ' ^Bp^
ppV
• '¦ v,'^
fl
Dl BflMfll _H
Hm \
Bnt ' ppppptA
flJBP*flfll flflw. B ppkfl
V*flfll BflBflfl
flilBtf i-flfl
ppBI flflJ ' ^ppK ' .Üpppk.' tt/_________i_j_____fli^fll,_^___rfl:-'^''
^iflBB ppBK* f/fl fl - Â^flr ^fl ;•. - ¦* / • flflB eB9 Bflflflfl r^-¦'¦,«'¦'¦•"./'
Wtt.^iv
fl BB - ^^^m ¦ tH i_*7B| ^¦¦¦¦fl . '..H' -'"vflfl - • ' - ^BBJ BflBflB Bflar ,'v;._
vflppl HÍ'Bflr «ppppH ¦
Btfl BS * ii ' '•i**ífl '_____¦ .fl-:''-"' ¦ ¦" -'.flflflk ' ^HGBl BHW Br
_S
|J_^B BflJ^ffrlH Bflfppfl BBs ' «flBVM____fl BB BppI Pr
¦['._ m -yüfr:
'-^
__________________r VA Jpfl Bb\ ¦ ^EB» atflWflBflpiiipppl ppw-. ..

^^^ '
nfl pH BE H flAH ppppppppppppBppppT *^P>flBpk_______MH_Í__l_^V^BT' '^ I' ' ' TBgl B_T .'.
'"'•";--^fl *£_?! ''
IH pHppppaáfll
pBn BR-* jpppppW
^flp^p^p^p^ - flk V
B_____l ^K> '' ^VBB b
_________P iLfltppbpppppppppBraBr
BBpi p^v t /Bb TB.
B_B. I'i flBppppfl
"BB pV"'
BpB \ ^* v^p^^pp^^^^^h Mli@^pnpH
____a__nM____n_B_3B_B___Baj BBJ^Efl^B^BpB BT-",''-•
^^___e_______B ^^E*' fl_
^^J "''" "'T*í">.t*^W " "' 'fBwfl
f ™*^ jV-*>:.;., . •
I pflE&l ¦
i_u>«k wflBBBf VpppppV H iHf ^*^ ÁBWrHRi JV ^fl ______ .._.__. V. 'O ífiWÍmiíB ^B ¦
B,ifí^-'..ffv;;.-í;/«'"1-''
a
B w_T ^WL' fl v ^flpppppppppp^^^^ flprp£^_K —prflpPk ^-mKuwwytaMcàa^, H_Kn H sS

' -Bft _^ ¦8_r - ' -.^r "•' '^'-'- fMBB^CTJWBjíflPnBM|jy v Q


¦fl ^Bv ' _flP^^ ^^^^Ê- BppppB^pB ppppppB
; BpbppppB
™™BbWpP^
pppt
jr ¦ fSQ&sSMfii/iíiS&ffi ¦ ;;>V| j |
fl >l t ^_______^BbT _B________Í^BPÇ ^ 1 __¦______.
9 flyfl \ v. w % :m. B fl aTB Bp>»; »• flfl t. ¦ Ifl-•-. ¦ '. _/ . ¦^^V;'v_2^'Êtó'*'.'¦';v:íi*
fl /!, \ ' nB_ll - ¦ ¦ "¦^BBJP
Tipp-F^^hi ppflfl B '1T ^^^^^^^^^^^^u^m^^^bhhuiiwppppííppppppppppppBp^^
li ' '¦"" ^flfl"___Fy ^ KPBM?S:::^:; «í __________________________________________________________________________________________________
^pppp! Cpp_p^;.-¦¦•'.•¦¦*
_______________________________________________________BBHpp_s.'; fc ;'^*! I^BB%J1
' win-flpprfl B
-prflTpp fll p»
J
¦ ^^ ' —ylfcJr,-_¦ .Jllt M __CTBBtppM-Mpga»i flpj E •
BB,
^^JpjJ^EjjÉB^fl[^P^
^3tm' ''nr
'
BpVK ' JppH ppKVfl BflBk ¦ - ' ' *fth. i , ^rjt W' .^"''Í-^^BpppppppV^1 í^"™"^ ^fl Hbb^^SbbI fl
§¦ ifl Bf «fl ppK __^___| ...k. X^E?™B • B fl'
* ^™fl
{^flfl fllc^fl _^_H HbV utf^dppdprflP ppfl BB ppfl I

.Br
l
ttflfl BflT^oflpl ppppupHhSVt]l^lfiÍDVflpprM^rfl-1
li__a____Si-MÍ BBuí pIH Bflp-flfl BflV
'pBBBBBBkBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB'' ^fl
Vjfl.^^BflBBpi--' :JÊM
BV ^Ba|__a_____B t>M BbI
BB !_0_»P#J^™K^pfl pB

|fl fl." flfl'-' B TA fl __________________________________________________________________________________________________


'Bpp! ' ' Hl
B-H lk--IPfl^H pp^p^SÍbvS ¦'! ' Bflr fli pppI Bm*P-^^B

BbH flfl ' *?% pp I a1


I aIn BÍflSsp-^ili !ÍBmÍ&fll m N..^*«. I fl^^R^I
pMwS*fÉ-jíí'^B1 flÜKjfl
BtSyBBr-i B-i
ll-pll PBkBvmI i_T_____9rS Buflifll fll BJ
^**v*,<^«-— ¦" i
I fl WMÊ^Wn^ AH if fl pf I Hh^I Ip.pI 1 i

"^i®^'f-^'*^V^^!^*^f^^^^^%''^^ ^™fl|^BBBflBflW™^^ i" '¦ '


Ij i v "'^BB_ftli^BflBflM_flpppppppp&fl*IBBpfl

»'.íV-l -•*¦_-- ¦- ^^~t«^ct~~-^m«^>U^->^^-_-^--.,. i n— n.-.V i.i', ; __íl___ LL-i-,—-,„. .,. ,,„ ¦ .... | ¦" ' ¦^'-¦¦¦¦¦«¦¦—¦•«y' ¦ ' V.MH.,;. /
-¦lai-IMIII^IMWíllPMIMlIJIlil^JlilMI^ '^^^mmmMmmmmmmmmm, i ii|ii r .¦¦¦,¦,... ¦¦...- v
v:.1 .f|| "~ I t-—•-—i"'1
| p^jj y-^ jfu ll'lll~ Í»aSg«ÍKBWSPifflm»aí5«»1^^ (
I ___^«>_____w.: -"¦•
JORNAL DA.S bAMiUAS
fíKte ;Í^-^"^t1;^.^íK«£'"">- '•-¦-«¦•*
çsasi^a&^u^íaâ^^

. X

i gyi èíit^H • llfSá^v:li 1 SajSwiy; Eli

¦ ia, "
p ,-!>;;' i;- !p ftfij wf ir

,< * . . .

: ¦ •¦ >' • tf P Z &P j>$ *mk ms*, v V * & ü * & wV': ¦'-¦ -: -

S; ' ">', ¦*'*" '«'ti-"*"*'' .*' •¦,!M''' ' .lí^H^^I; 'jBpá'"

ISl' '^i ^ fei % í:- ^ II \ 1 ^ íÉ ^ W t\ ^

r -ms™ m^mZ %, -tísis i^s " •/ * í.2 ^ k ™ d * < •


. j- rw *ef *,. % ^- % .w^^í# • *w*' j 5 # B .tf S ^ •

Você também pode gostar