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Recusar o bafômetro é infração ou crime de trânsito?

Beber e dirigir, infelizmente, faz parte das práticas sociais de muitas pessoas e, infelizmente, nem
todos caem nas malhas da fiscalização. Dentre os flagrados, também tem sido prática comum a
recusa ao teste de etilômetro, restando ao agente de trânsito a aplicação da Lei 12.760/2012 e da
Resolução 432/12 do CONTRAN, no que se refere a constatação da embriaguez pelo conjunto de
18 sinais característicos. Só que numa suposta tentativa de punição ao condutor ou por falta de
preparo, muitos agentes de trânsito e até delegados de polícia autuam aplicando o art. 306 do
CTB (crime de trânsito) quando na verdade o condutor cometeu uma infração administrativa (art.
165).

A tônica deste artigo não vai em defesa à impunidade para bêbados ao volante, até porque quem
é flagrado infringindo o art. 165 não sai impune: é autuado, tem a CNH recolhida, 7 pontos
negativados no prontuário, multa agravada x 10  no valor de R$ 1.915,40 (dobra a cada
reincidência), retenção do veículo e abertura de processo administrativo para suspensão do
direito de dirigir por até 12 meses.

Trata-se, na verdade, de diferenciar entre o que é infração e o que é crime de trânsito, haja vista a
necessidade de assegurar a correta autuação pelo agente e pela autoridade policial, a fim de
evitar que um condutor seja indevidamente autuado por crime quando na verdade cometeu uma
infração.

A nova Lei Seca endureceu a fiscalização de maneira que qualquer dosagem alcoólica no sangue
ou expelida pelo ar alveolar no teste de etilômetro (considerado o erro metrológico de 0,4mg/L) já
seja motivo de autuação. Caracteriza-se infração de trânsito cada vez que o condutor dirige sob a
influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência (art.
165).

Nos casos em que o condutor se recusa ao teste de etilômetro, se não houver outros tipos de
provas aceitas como vídeos, fotos e testemunhas, cabe ao agente aplicar o que diz a Resolução
432/2012 e constatar a embriaguez e as alterações psicomotoras pela combinação de 18 sinais
característicos.
São eles, quanto a aparência: sonolência, olhos vermelhos, vômitos, soluços, desordem nas
vestes e odor etílico no hálito. Quanto a atitude do condutor, o agente de trânsito observará:
agressividade, arrogância, exaltação, ironia, se está falante e disperso. Quanto a orientação, o
agente observará se o condutor sabe onde está e se sabe dizer que dia e horas são. Quanto a
memória, o agente observará se o condutor sabe o seu endereço e se ele se lembra dos atos
cometidos. Quanto a capacidade motora e verbal, o agente observará se o condutor apresenta
dificuldades de equilíbrio e fala alterada. É o conjunto desses sinais que vai determinar a
autuação por crime de trânsito no art. 306, a condução à delegacia e a prisão.

Mas, quando o condutor apresenta apenas o odor etílico e olhos vermelhos? Isso é suficiente
para autuá-lo por crime de trânsito quando tais sinais também caracterizam a infração?

O art. 306 é bem claro para a caracterização do crime de trânsito: “conduzir veículo automotor
com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância
psicoativa que determine dependência.” Nesses casos, além das penalidades e medidas
administrativas do art. 165, o condutor é conduzido à delegacia e, se não tiver condições de pagar
a fiança, aguardará julgamento preso. A pena prevista para o crime de trânsito (art. 306) é de 6
meses a 4 anos de reclusão.

Olhos vermelhos e odor etílico, por si só, não caracterizam as alterações psicomotoras que
causam a condução anormal do veículo, dirigir em zigue-zague, subir no canteiro ou calçada,
dirigir em velocidade muito abaixo ou muito acima da permitida e colocar em risco a própria
incolumidade e a dos outros.

Sendo assim, ainda que o condutor tenha bebido, caso não apresente sinais de tais alterações
psicomotoras, entende-se que não há o crime de trânsito por embriaguez ao volante, somente
infração administrativa. É o que os Tribunais têm decidido. Nesses casos, a autuação passa a ser
de infração administrativa, a fiança é devolvida e o processo nem segue à frente.

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