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adMinistRação FinanceiRa e

oRçaMentáRia ii
Autoria
Wenderson Saraiva Nunes
Expediente
Reitor: Ficha Técnica
Prof. Cláudio Ferreira Bastos Autoria:
Wenderson Saraiva Nunes
Pró-reitor administrativo financeiro:
Supervisão de produção NEAD:
Prof. Rafael Rabelo Bastos
Francisco Cleuson do Nascimento Alves
Pró-reitor de relações institucionais: Design instrucional:
Prof. Cláudio Rabelo Bastos Antonio Carlos Vieira /
Emanoela de Araújo
Pró-reitora acadêmica:
Profa. Flávia Alves de Almeida Projeto gráfico e capa:
Miguel José de Andrade Carvalho
Diretor de operações:
Prof. José Pereira de Oliveira Diagramação e tratamento de imagens:
Miguel José de Andrade Carvalho
Coordenação NEAD: Revisão textual:
Profa. Luciana Rodrigues Ramos Emanoela de Araújo

Ficha Catalográfica
Catalogação na Publicação
Biblioteca Centro Universitário Ateneu

NUNES, Wenderson Saraiva. Administração Financeira e Orçamentária II. / Wenderson


Saraiva Nunes. – Fortaleza: Centro Universitário Ateneu, 2019.

132 p.

ISBN:

1. Administração financeira. 2. Recursos e carteira de ativos. 3. Investimento de capital.


4. Planejamento orçamentário. Centro Universitário Ateneu. II. Título.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, total ou par-
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tática ou outros, sem a autorização escrita do possuidor da propriedade literária. Os pedidos para
tal autorização, especificando a extensão do que se deseja reproduzir e o seu objetivo, deverão ser
dirigidos à Reitoria.
SEJA BEM-VINDO!

Caro estudante, temos a satisfação de apresentar o material didático


da disciplina Administração Financeira e Orçamentária II. Ao ler e estudar
por esse material, você irá conhecer os instrumentos desenvolvidos por essa
área e suas aplicações; conhecimento que contribui para a solução dos mais
variados problemas relacionados ao ambiente empresarial.

Este livro está dividido em quatro unidades de acordo com a ementa da


disciplina. Os estudos serão focados nos fundamentos e premissas de risco
e retorno, precificação de ativos, análise de investimentos e planejamento
orçamentário.

A partir do estudo desse material didático, você terá adquirido um


conhecimento básico sobre o assunto e conseguirá dirigir empresas de modo
eficaz, já que poderá tomar decisões relativas aos investimentos de forma
lucrativa.

Mas não pense que todo o assunto se resume a este livro, pois devido à
crescente complexidade do mundo dos negócios, sugerimos a você procurar
outras fontes para aprofundar seu conhecimento e gerar uma visão mais
integrativa da empresa e de seu relacionamento com o ambiente externo.

Sabemos que o conhecimento restrito às técnicas e instrumentos de


administração financeira é insuficiente no atual mundo dos negócios, isso
exige do estudante uma maior sensibilidade em relação às outras informações
estratégicas. Então, seja curioso, busque conhecimento de várias formas e
em diversos locais.

Bons estudos!
Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem e significam:

ANOTAÇÕES

CONECTE-SE

REFERÊNCIAS
SUMÁRIO

A ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA, SEUS


RISCOS E RETORNOS

01
1. Uma visão da administração financeira................... 8
2. Políticas econômicas.............................................. 13
3. Globalização........................................................... 17
4. Risco e retorno....................................................... 19
Referências................................................................ 34

FONTES E APLICAÇÃO DOS RECURSOS E


ANÁLISE DA CARTEIRA DE ATIVOS
1. Fontes e aplicações de recursos............................ 36
2. Decisões de investimentos e financiamentos
a longo prazo.......................................................... 37

02
3. Fontes de risco....................................................... 39
4. Portfólio de ativos................................................... 41
5. Diversificação do risco........................................... 43
6. Teoria do portfólio.................................................. 56
7. Coeficiente beta (β)................................................ 58
8. Modelo de formação de preços de ativos
de capital – CAPM.................................................. 60
Referências................................................................ 65
ORÇAMENTO DE CAPITAL
1. Decisões de investimento de capital...................... 68
1.1. Tipos de projetos........................................... 68

03
1.2. Fluxos de caixa.............................................. 70
1.3. Taxa Mínima de Atratividade (TMA).............. 73
1.4. Orçamento de capital..................................... 74
1.5. Métodos de análise de investimentos............ 75
Referências.............................................................. 100

PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO

04
1. Conceitos de planejamento.................................. 102
2. Sistema de orçamentos........................................ 106
3. Orçamentos específicos e projeções................... 111
4. Elaboração de quadros orçamentários................ 117
Referências.............................................................. 129
Wenderson Saraiva Nunes

Unidade
A administração financeira,
01 seus riscos e retornos

Apresentação
Estudaremos, nesta unidade, os conceitos que formam a estrutura
da administração financeira, oferecendo o conhecimento necessário ao
gestor desta atividade. Veremos que é um assunto de tamanha grandeza
que vai bem além das paredes da tesouraria de uma empresa. Falaremos
sobre a dificuldade na tomada de decisão, a responsabilidade, a autonomia
e a capacidade de correr riscos que o administrador precisa ter, além dos
entendimentos sobre o que está acontecendo no mundo ao seu redor, no
qual as informações estão mudando cada vez mais rápido.

A administração financeira contempla tanto um planejamento


orçamentário para um simples projeto como um projeto de ordem mundial
que envolve altos riscos, no qual as peculiaridades da globalização e das
políticas monetárias precisam ser bem avaliadas, ao ponto de a organização
acumular prejuízos caso não dê a devida importância.
OBJETIVOS DE
APRENDIZAGEM
• Compreender os principais conceitos da administração financeira;
• Conhecer o perfil do gestor dessa área, seus principais desafios e necessi-
dades;
• Entender como funcionam os principais elementos que podem impactar na
gestão de sucesso de uma organização;
• Conhecer as técnicas de análise de risco e de retorno que servem para ava-
liar projetos de investimento, visando à saúde financeira da empresa.

1. Uma visão da administração financeira


O objetivo deste estudo é fornecer as nuances da área financeira,
os conceitos de uma empresa, as funções de um administrador, a gestão
administrativa e os demais aspectos relacionados às finanças (como o
capital), às empresas, ao sistema econômico, ao mercado financeiro e às
políticas econômicas.

1.1. A administração financeira e sua função


De acordo com Gitman (1997, p. 54), finança pode ser definida como
"A arte e a ciência de administrar fundos”. Já a administração financeira é
uma atividade orientada por objetivos, sendo que o administrador financeiro
tem como premissas a análise e o planejamento financeiro, as decisões sobre
investimentos e o cumprimento dos objetivos dos proprietários das empresas
e/ou dos seus acionistas. Logo, deve-se entender qual é o objetivo da
administração financeira, o qual irá gerar uma base concreta para a tomada
e a avaliação de decisões financeiras.

Pode-se descrever as funções financeiras de uma organização


considerando inicialmente o seu ciclo de vida. O planejamento financeiro
pode ser dividido em curto prazo e longo prazo. No curto prazo, têm-se o
planejamento financeiro como o centro do orçamento de caixa, as ferramentas
dos recebíveis e das contas a pagar. Já no longo prazo, conta-se com um
planejamento de objetivos estratégicos para gerar planos operacionais.

Dessa forma, uma empresa pode ser vista a partir de três níveis:
estratégico, operacional e administrativo.

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É necessário dizer que o objetivo primário da administração financeira
é a maximização do lucro, ou seja, o valor de mercado do capital investido.
As decisões financeiras atuam diretamente na valorização do capital da
empresa. Devido a essa condição, a administração financeira deve se dedicar
à avaliação sobre como tomar decisões que impulsionam cada vez mais o
crescimento da companhia.

Atualmente, os administradores utilizam métodos mais modernos e


estratégias mais eficazes, vislumbrando um melhor desempenho. Também
dispõem de muitas ferramentas sofisticadas para solucionar problemas de
grande complexidade nas empresas.

O administrador financeiro é a figura responsável pelas funções


financeiras de uma empresa. Em algumas empresas não é notória a divisão
de funções ou sua estrutura organizacional, sendo que em algumas não há
um setor ou departamento financeiro, cabendo ao proprietário exercer tal
função. À medida que elas crescem, essa estrutura passa a ser necessária,
sendo fundamental a figura do administrador financeiro, que pode ter diversas
nomeações, por exemplo, gerente financeiro, diretor financeiro, gestor
de finanças etc.; todos possuindo o mesmo papel, o de gerir a empresa
vislumbrando o lucro e o valor de mercado.

Figura 01: O administrador e suas análises.

Fonte: <https://bit.ly/2XUMroy>.

De acordo com Gitman (1997, p. 58), “acredita-se que o objetivo dos


empresários está muitas vezes mais voltado para a maximização dos lucros”.
Ross, Westerfield e Jordan (1998, p. 97) também afirmam que o lucro
geralmente é o foco mais proposto pelos donos de empresas ou acionistas.

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II | 9


Dessa forma, o administrador, para atingir esses lucros, muitas vezes
acaba tomando decisões pouco pensadas, pois nem sempre a decisão pela
alternativa de maior lucratividade é a mais assertiva. É sempre necessário
considerar todos os riscos e se cercar de toda a seguridade, e não focar
apenas no lucro.

O controle de algumas empresas intituladas sociedades anônimas


muitas vezes não é realizado pelos seus proprietários, ou seja, o controle
das empresas é feito por administradores denominados de agentes dos
proprietários, que os contratam e lhes delegam poderes para tomar decisões
e administrar a empresa em seu benefício. Todavia, nessa ligação, existe a
possibilidade de conflito de interesses entre o principal e o agente.

Essa divergência, denominada de conflito de agência, significa


que a maioria dos administradores financeiros concorda com o objetivo de
maximização da riqueza do proprietário. Porém, na prática, os administradores
também estão preocupados com sua riqueza pessoal, estabilidade, estilo de
vida e outras vantagens. Tais preocupações podem tornar os administradores
relutantes ou sem disposição para correr riscos elevados se perceberem
que um negócio arriscado poderá resultar na perda do emprego e prejuízo
à riqueza pessoal. Essa postura de moderação leva a retornos inferiores e à
perda potencial de riqueza para os proprietários e, consequentemente, para
as agências.

FIQUE ATENTO
O conflito de agência é um impasse que geralmente acontece quando
os interesses dos acionistas de uma empresa divergem dos de seus gestores.
Ocorre principalmente quando os gestores que acompanham as operações di-
árias da empresa não são os investidores, pois estes últimos tendem a ter uma
visão diferente da que os gestores julgam como positivo, levando em conta o que
veem acontecendo nas atividades da empresa.

1.2. Mercado financeiro


O conhecimento sobre esse mercado é de extrema relevância,
partindo da ideia de que todas as operações financeiras são realizadas

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dentro desse sistema. O conhecimento desse mercado permite ao
administrador realizar uma melhor gestão, provido de informações e dados
que fornecerá subsídios para proteger os diversos ativos financeiros,
exercendo, pois, uma eficiente administração.

Em um sistema econômico, o mercado financeiro apresenta grande


notoriedade ao apresentar a intermediação de recursos financeiros. As
empresas normalmente operam em pelo menos quatro segmentos de
mercado, que são: o mercado monetário, o mercado de crédito, o mercado
de capital e o mercado cambial.

No mercado monetário, também conhecido como mercado de moeda,


ocorrem as captações de recursos à vista, no curtíssimo e no curto prazo. Nesse
mercado, atuam principalmente os intermediadores financeiros, negociando
títulos e criando um parâmetro médio para taxas de juros básicas no mercado.

O mercado de crédito é o segmento que trata e atende às necessidades


de crédito de curto e de médio prazo. Atende ainda os financiamentos de
bens duráveis e de capital de giro.

Já no mercado de capitais, os agentes econômicos focam em


operações mais voltadas para ações e debêntures, mas também atendem
aos créditos de médio e longo prazo.

No mercado cambial, existe a realização de compra e venda de


moedas estrangeiras. Quem atua nesse mercado tem foco no comércio
internacional, sendo que essas operações são realizadas por instituições
financeiras autorizadas, que podem ser tanto bancárias como não bancárias.

Figura 02: As moedas estrangeiras compõem o mercado cambial.

Fonte: <https://bit.ly/2VUh2kD>.

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II | 11


Quanto à política de preços na economia, ocorre a aplicação da
equação dinheiro e tempo. Pode-se citar o valor de um investimento após
um período determinado de tempo sob uma taxa de juros, em outras palavras,
o valor do dinheiro muda ao longo do tempo. Quais são os fatores que
influenciam na diminuição do valor do dinheiro? Principalmente a inflação,
que se dá pelo aumento dos preços em geral, quando os preços sobem, o
valor da moeda diminui, o que baixa o poder de compra.

O risco ou a incerteza sobre o nosso futuro também é um fator que


impacta no valor da moeda. O risco pode aumentar com o passar do tempo,
isto é, o dinheiro que está hoje em mãos é mais valorizado do que a promessa
dele. Ninguém pode prever o futuro, portanto, não existe precisão em saber
se o dinheiro de hoje vai estar disponível amanhã ou se o preço garantido
hoje poderá ser cumprido amanhã, pois não existe nenhuma garantia de
solidez financeira para o futuro. Dessa forma, esses fatores de instabilidade
aumentam o risco de dividendos, e as garantias não podem ser asseguradas
nem para as empresas nem para os investidores.

Os investidores têm preferência pela liquidez, sendo esta de suma


importância tanto para eles como para a empresa. A liquidez funciona mais
como um fator que influencia diretamente na valorização da moeda, pois a
ela é designada a possibilidade de transformar os ativos da empresa em
dinheiro ou poder de compra, ou seja, esses ativos podem ser facilmente
transformados em caixa. Nesse contexto, é importante manter dinheiro em
caixa para imprevistos ou compromissos financeiros ao invés de comprometer
fundos de reserva ou aplicações futuras.

1.3. Mercado de capitais


O mercado de capitais corresponde ao sistema que proporciona
a distribuição de valores mobiliários, isto é, as empresas precisam se
capitalizar de forma mais barata; para isso, eles vendem títulos que compõem
parte de seus patrimônios para investidores interessados, que acontece por
intermédio da bolsa de valores, na comercialização de ações.

As ações, então, são títulos que representam a menor fração do capital


de uma empresa. Desse modo, ao comprar uma ação, um investidor se torna
sócio dessa empresa, passando a ter direito aos dividendos e lucros que
venham a ser distribuídos.

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Essas ações podem ser ordinárias, cujos acionistas têm direito a votos em
assembleias que norteiam o futuro da empresa, e preferenciais, cujos acionistas
não têm o mesmo direito como no caso dos acionistas das ações ordinárias,
porém ele recebe dividendos (participação nos resultados da empresa).

Existem ainda as debêntures, que são títulos emitidos com a intenção


de captar recursos com dois objetivos: proporcionar investimento ou financiar
o capital de giro da empresa. Elas são emitidas por sociedades anônimas.

Figura 03: Negociação de ações na bolsa de valores.

Fonte: <http://bit.ly/2PCUHrS>.

2. Políticas econômicas
A política econômica consiste no conjunto de ações governamentais
que são planejadas para atingir determinadas finalidades, como promover o
crescimento econômico, a estabilidade de preços, entre outras, relacionadas
com a situação econômica de um país, uma região ou um conjunto de países.

A economia dos países é composta por históricos de crescimento e,


respectivamente, pela queda nos índices ou atividades econômicas. Essa
movimentação é refletida diretamente nas vendas das empresas.

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II | 13


2.1. Política monetária
A política monetária é responsável por controlar a taxa de juros
da economia por meio da contratação ou aumento da oferta de moeda. É o
processo de ofertar moeda à economia. Mesmo sendo de extrema importância,
não é correto afirmar que somente a política monetária é importante, e que
somente ela é responsável pelas flutuações e pela estabilidade da economia.
As autoridades monetárias não são, em sistema algum, as únicas que
detêm o controle da política econômica em sua totalidade.

Segundo Lopes e Rossetti (2005, p. 253), “por mais acentuada que


possa ser a tendência monetarista da política econômica, esta interage
com políticas que em geral estão sobre o controle de outros organismos
governamentais”. Entre as outras políticas econômicas governamentais
destacam-se a política fiscal e ainda a política cambial.

FIQUE ATENTO
O controle do governo sobre essa política se dá principalmente pela taxa
de juros. Quanto maior a taxa, menor o consumo interno, pois fica mais caro ad-
quirir um bem financiado, por exemplo, o investimento de capital estrangeiro no
país em busca de ganhos com as altas taxas.
Quanto menor a taxa de juros, maior o consumo interno e menor o in-
vestimento de capital estrangeiro, pois taxas baixas não são atrativas em um
país considerado de risco médio-alto como o Brasil (270 pontos no risco-país em
30/11/2018).

2.2. Política fiscal


A política fiscal trata-se da administração do governo sobre as receitas e
despesas na esfera federal, estadual e municipal. Sua fonte de recursos é advinda
do tributo, composto por impostos, taxas e contribuições de melhorias.

No Brasil, os gastos do governo em um ano fiscal devem seguir a


programação do orçamento elaborado no ano fiscal anterior, aprovado pelo
Congresso Nacional. Devido a esse princípio, um novo imposto ou a alteração
das alíquotas de certos impostos devem ser aprovados pelo Congresso

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Nacional em um ano fiscal, passando a vigorar no ano seguinte. Segundo
Bacha e Lima (2006, p. 33), “a política fiscal é geralmente concebida como
política de controle da demanda agregada. Ela objetiva manter, de forma
aproximada, o equilíbrio entre oferta e demanda agregada, assim como o
nível de preços existentes”.

Segundo Rossetti (1987, p. 240), os instrumentos fiscais referem-se às


despesas e receitas do governo. Do lado das despesas, pode-se dividi-las em
consumo do governo, investimentos do governo e subsídios e transferências.

• Consumo do governo: as despesas do governo classificadas


como consumo referem-se aos pagamentos de funcionários civis
ou militares, aquisição de materiais e contratação de terceiros. Tudo
isso para a produção de serviços de uso coletivo;

• Investimentos do governo: segundo Rossetti (1987), as despesas


classificadas como investimento referem-se àquelas que o governo
faz com o objetivo de aumentar a capacidade de produção de bens
e serviços no país (construção de rodovias, ferrovias, hidrelétricas,
escolas etc.);

• Subsídios e transferências: os subsídios correspondem aos


gastos do governo com o objetivo de garantir aos consumidores
preços mais baixos do que o custo de produção. Com relação às
transferências, Rossetti (1987, p. 241) diz que as parcelas dos pa-
gamentos de transferência classificável como o seguro-desemprego
tem ponderável efeito anticíclico, ajudando a manter os níveis de
demanda agregada em situações conjunturais de recessão. Em
situações opostas, a redução do dispêndio público com este item
exerce, automaticamente, efeitos em direção contrária.

De forma resumida, para ajudar no entendimento, quando o governo


reduz a cobrança do imposto, sobra mais dinheiro no bolso da sociedade, que
passa a comprar mais, o que acaba girando a economia de forma positiva,
porém, quando o governo aumenta a cobrança de impostos, seja sobre a
renda, seja sobre produtos, isso reduz o recurso no bolso da sociedade, que
passa a gastar menos ou perde o poder de compra.

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II | 15


2.3. Política cambial
A política cambial é definida de acordo com o dicionário como tudo
aquilo que configura troca, permuta ou escambo. No âmbito econômico,
principalmente no contexto de mercado financeiro, normalmente significa a
taxa de câmbio entre a moeda nacional e uma moeda estrangeira, ou até
mesmo o movimento de capitais em um determinado período.

Para Garofalo Filho (2005, p. 42), o câmbio é o conjunto de normas,


ações, tradições (usos e costumes) e técnicas aplicáveis às trocas ou ao
câmbio de moedas de diferentes países. O referido autor (2005, p. 13), em
seu dicionário de economia, ainda define câmbio como sendo, “uma operação
financeira que consiste em vender, trocar ou comprar valores em moedas
de outros países ou papéis que representem moedas de outros países”.

Portanto, a política cambial é constituída pela administração das


taxas de câmbio e pelo controle das operações cambiais, tendo como
objetivo central o mercado externo, no sentido de manter equalizado o poder
de compra do país em relação aos outros com os quais ele mantém contato.

Isso interfere na economia devido ao poder de compra que cada


moeda tem, então, por exemplo, se uma empresa vende seus produtos para
o exterior (exportação) e a moeda de seu país é menos valorizada que a
do país de destino, quem está comprando acaba pagando mais barato, o
que é bom para a empresa, pois acaba vendendo mais, porém, é ruim para
a empresa que compra produtos do exterior (importação), pois, no mesmo
cenário, acaba pagando mais caro por isso.

Figura 04: Containers preparados para exportar produtos.

Fonte: <https://bit.ly/2VKgAVY>.

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3. Globalização
A maioria das grandes organizações opera mundialmente, sendo
que elas têm uma boa e simples razão para isso: investir em países do
exterior, visto que isso tem se revelado altamente lucrativo. Nesse cenário,
a mão de obra de baixo custo e a facilidade na transferência de tecnologia
eficiente propiciam vantagens competitivas de preço, além de gerar o desejo
de reduzir riscos.

Como as economias variam de um país para outro, as empresas


conseguem explorar de formas diferentes; existindo mais vendas em um
lugar quando no outro ocorre o contrário, por exemplo, reduz a exposição ao
risco e funciona como uma balança, pois, um país com economia crescente
acaba ajudando a equilibrar as vendas de um país que está com dificuldade.

A globalização tem algumas características básicas como a integração


de mercado, quando alguns produtos deixam de ter nacionalidade aparente,
isto é, os consumidores passam a consumir produtos de empresas de outras
nacionalidades sem sequer saber desse fato. A mudança do modo de
produção também é uma característica importante, pois novas empresas,
com formas e tecnologias diferentes, fazem com que novos profissionais
mais qualificados se formem e isso é repassado para outras empresas que
passam a ter melhor produtividade. Outra característica bem interessante é
a homogeneização cultural. Os países se uniformizam por todo o mundo,
ultrapassando os limites da economia, em que todo o marketing, preços
e condições são adequados a cada país, a cada cultura, e um produto de
determinada marca poderá ser apresentado de formas diferentes, apesar de
se manter o mesmo produto.

De forma geral, os gestores enfrentam novos desafios a cada dia, pois


o que funciona em um determinado mercado poderá não funcionar em outro.

CURIOSIDADE
A marca McDonald’s estava perdendo mercado em um determinado país
da América do Norte e não entendia o porquê dos seus clientes estarem deixan-
do de consumir seus produtos, até que, por meio de uma pesquisa de mercado,
percebeu que seus clientes não eram a favor das embalagens utilizadas pela

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II | 17


marca, pois não eram biodegradáveis, sendo que em todos os outros merca-
dos as embalagens eram iguais, não constituindo um fator que impactasse nas
vendas. Portanto, a empresa teve que se adaptar, mudando suas embalagens e
divulgando isso para voltar a vender. E você, já deixou de comprar um produto de
determinada marca porque a embalagem não era biodegradável?

Figura 05: Globalização – o espaço geográfico torna-se mundial com a


interligação econômica, política, social e cultural.

Fonte: <https://bit.ly/2NXjDHD>.

PRATIQUE
1. Quais as características de um bom gestor financeiro que você considera já
ter ou busca adquirir em seu dia a dia?

18 | ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II


2. Sabendo que todos nós convivemos com os impactos das decisões governa-
mentais com relação às políticas monetárias, fiscais e cambiais, cite alguma
situação real na qual você percebeu que ocorreu esse impacto e em qual das
três políticas ela se encaixa.

3. Diferencie os tipos de ações existentes no mercado de capital.

4. A globalização é responsável pela entrada de vários produtos modernos em


nossa economia. Cite as principais características desse grande fenômeno
econômico.

4. Risco e retorno
Ambientes de total certeza não fazem parte das decisões financeiras,
visto que estas são tomadas pensando no futuro, ou seja, a incerteza é uma
das variáveis que deve ser incluída na análise como um aspecto de grande
importância para o estudo financeiro.

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II | 19


A questão do risco, por exemplo, está ligada à probabilidade de
ocorrer ou não um resultado esperado, revelando possibilidades de perda
ou ganho nos retornos sobre os investimentos realizados, por isso, é um
conceito base dizer que o risco é a capacidade de medir a quantidade de
incerteza que há em uma decisão, caso ela tenha sido tomada com base no
conhecimento sobre as probabilidades ligadas à ocorrência analisada.

O risco é representado, em sua maioria, por algumas medidas


estatísticas bem conhecidas, como o desvio-padrão ou variância,
identificando um valor médio esperado e analisando o comportamento dos
possíveis resultados. Dessa forma, tomando as decisões com base no valor
esperado, o desvio-padrão nos revela a dispersão dos resultados em relação
à média, sendo assim, o risco da análise.

A incerteza deverá ser considerada sempre que não forem conhecidas


as probabilidades de ocorrência dos eventos, tendo como premissa básica
a de que todo investidor espera receber um maior retorno por investir seu
dinheiro em algo que apresente maior risco. “Toda decisão racional de
investimentos tem por fundamento a análise do risco e retorno. Quanto maior
o risco, mais elevado é o retorno desejado.” (ASSAF NETO, 2014, p. 218).
Dimensionar o risco e o retorno de ativos é imprescindível para a tomada de
decisões.

De forma resumida, então, pode-se dizer que o risco é uma medida


de incerteza dos retornos e a possibilidade de perda (ou ganho) financeiro.
É a variabilidade dos retornos associados a um ativo. Os retornos são as
receitas esperadas, ou fluxos de caixa previstos de qualquer investimento. A
análise dos dois formam a base sobre a qual se tomam decisões inteligentes
sobre investimentos.

FIQUE ATENTO
Quando dois investimentos rendem o mesmo retorno, a escolha final deve
ser baseada na avaliação do risco envolvido, devendo ser escolhido aquele com
menor risco. Já quando há dois investimentos com riscos iguais, deverá ser es-
colhido aquele que gerar maior retorno.

20 | ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II


Na relação entre risco e retorno, o retorno sobre o dinheiro deve ser
proporcional ao risco envolvido no projeto. À medida que o risco cresce, o
retorno exigido também é maior.

Figura 06: Relação entre risco e retorno.

RISCO
r3 Linha de
risco/retorno
r2

r1

0
k1 k2 k3 RETORNO
Fonte: Elaborada pelo autor.

O risco é mensurado de acordo com o grau de volatilidade, que é


a quantidade de flutuações que ocorrem com uma série de números ao se
desviarem de sua média, por exemplo:

Série numérica x: 1, 2, 3. Onde sua média é 2.

Série numérica y: 1, 3, 5. Onde sua média é 3.

Sendo assim, a série y é considerada mais volátil que a x, e quanto mais


volátil, mais arriscado é. Imagine que a média é a quantidade de possibilidade
de algo variar e dar errado, então, em x há duas possibilidades de algo dar
errado, já em y, três possibilidades do imprevisto acontecer, portanto, há um
maior risco.

4.1. Cálculo do retorno


Um conceito bem prático para entender o retorno de um investimento
é que este corresponde ao total de ganhos ou prejuízos gerados durante
certo intervalo de tempo. Existem duas formas desse retorno ocorrer:
• Recebíveis gerados ao investidor em forma de lucros, dividendos etc.;
• Valorização do ativo durante o intervalo de tempo em que perma-
necer com o investidor.

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II | 21


Para melhor entendimento, considere a compra de um imóvel
residencial como forma de investimento. O retorno, geralmente, é medido
em termos percentuais, ou taxa de retorno, facilmente encontrado com a
utilização da equação abaixo:

𝑃𝑡 − 𝑃𝑡−1 + 𝐷𝑡 Dividendos + Valorização


𝐾𝑡 = ou simplesmente
𝑃𝑡−1 Investimento

Sendo:

Kt = taxa de retorno do ativo, em certo intervalo de tempo (t);

Pt = preço do ativo ao final do período considerado (t);

Pt-1 = preço do ativo no início do período considerado (t);

Dt = lucro ou dividendo gerado durante o período (t).

Quanto ao exemplo do imóvel residencial, considere que ele foi


adquirido por R$ 100.000 (este seria o investimento, o preço de compra) e
que logo após a aquisição, foi alugado por R$ 2.000 por mês (esse seria o
lucro), e, ao final de 2 anos, o inquilino resolveu comprá-lo por R$ 130.000
(esse é o preço ao final do período) devido à valorização imobiliária à época.
Sendo assim:

130.000 − 100.000 + (24 x 2.000)


Kt =
100.000

30.000 + 48.000
Kt = ➡ 0,78 ou ainda 78% de retorno
100.000

Você pôde entender, então, que a valorização do imóvel entre a data


da compra e a data da venda retornou em R$ 30.000 a mais para o investidor,
assim como os 24 meses de aluguel de R$ 2.000 rendeu mais R$ 48.000 de
lucro a ele, gerando, assim, um total de ganhos de R$ 78.000, que representa
78% do valor investido, que foi de R$ 100.000.

22 | ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II


Figura 07: Imóveis são, historicamente, uma das formas
mais tradicionais de investimento.

Fonte: <https://bit.ly/2F6a9Hd>.

4.2. Cenários e probabilidades


Como já foi mencionado anteriormente, a análise do risco é feita por
meio de um estudo estatístico de suas variáveis, e quando se fala em risco
na administração financeira, é necessário considerar seus principais fatores
de variação, os cenários aos quais o ativo está inserido economicamente e
as probabilidades de cada cenário ocorrer.

Vários itens podem caracterizar os cenários de uma análise, como o


momento político ou econômico de um país, a demanda pelo ativo no momento
da análise, a sazonalidade de produção, as leis de comercialização e subsídios,
entre outros. Ao analisar um investimento, deve-se analisar primeiramente
quais os cenários que poderão influenciar no retorno desse investimento.

CURIOSIDADE
Antes de continuar com o assunto, você deve estar se perguntando por
que os ativos estão sendo utilizados como sinônimo de investimento em vários
momentos do texto. No mercado financeiro, ativo é toda e qualquer coisa que
poderá sofrer investimento e gerar benefícios (lucros) num momento futuro. En-
tão, quando um investidor aplica recursos em ações de uma empresa (ativos), ou
monta um negócio próprio (ativos), ou compra títulos públicos federais (ativos),
ele espera obter retorno do recurso aplicado, por isso a utilização do termo.

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II | 23


Imagine que um determinado investidor está em dúvida sobre onde
aplicar seu dinheiro e está analisando duas possibilidades. Ambas consistiriam
na aplicação de recursos em empresas que têm parte do seu patrimônio no
mercado de ações, com grande parte dos seus produtos consumidos no
mercado interno de seus países.

A empresa W está em um país que passa por uma série de dificuldades


político-econômicas, onde vários escândalos ocorrem, a dívida pública só
cresce e a população está cada vez com menos poder de compra devido
ao desemprego, mas existe uma mudança governamental prevista para dois
anos, que alegra os economistas mundiais. Existem, então, no mínimo dois
cenários; no primeiro projeto de investimento, encontra-se o realista (que leva
em consideração as dificuldades do referido país) e o otimista (que aposta
na possibilidade de o país reverter a situação e melhorar economicamente).

Já a empresa Z está localizada em um país onde a economia está


em crescimento, com muita movimentação de capital estrangeiro, bons
retornos financeiros devido à economia positiva de consumo, porém com uma
previsão de mudança governamental que não tem sido bem avaliada pelos
economistas mundiais. Para o segundo projeto, pode-se encontrar facilmente
outros dois cenários; o realista (que neste caso é uma opção positiva, com
menos riscos) e o pessimista (que aposta que algum acontecimento pode
tirar o país de uma situação economicamente viável para o investimento).

Cada análise tem seu número variável de cenários; o importante é que


os principais estejam sendo contemplados, visto que estes irão dar maior
credibilidade ao resultado do risco e do retorno.

Utilizando, ainda, o exemplo citado, sabendo que ambos os países


estão em uma determinada situação (uma positiva e outra negativa) e que
ainda faltam mais dois anos para uma nova possibilidade de mudança de
governo, pode-se pensar, então, que nos próximos dois anos os países
continuarão na mesma situação, visto que os mesmos governantes poderão
estar no poder. Portanto, o cenário realista deverá ter mais peso na análise
do que o cenário pessimista ou otimista durante esse período.

Esse “peso” irá fazer toda a diferença no resultado final, visto que será
determinante para aumentar ou reduzir a participação de cada cenário; é o que
se chama de probabilidade. A probabilidade de cada cenário acontecer dentro
da análise deve sempre representar, ao final, o somatório de 100%, visto que
podem coexistir vários cenários, porém em busca de apresentar um só resultado.

24 | ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II


A distribuição de probabilidades não se resume a um único evento
esperado, mas a diversas possibilidades de ocorrência. A ideia é dividir os
elementos de incerteza em valores possíveis de se verificar e identificar em
cada um deles, isto é, uma probabilidade de ocorrência de cada elemento.

Para facilitar o entendimento, continuando com a análise do exemplo


citado anteriormente, pode-se sugerir, então, que, para o projeto “W”,
a probabilidade de chances de o cenário pessimista ocorrer é de apenas
10%; o “realista”, de 60%, visto que é o estado mais comum da economia no
momento da análise; e o otimista, de 30%, de acordo com a perspectiva dos
economistas.

Para o projeto “Z”, os cenários “pessimista” e “otimista” têm a


probabilidade de chances de ocorrência de 25%; já a probabilidade do cenário
“realista” continuar é de 50%, visto que a mudança governamental após dois
anos está amedrontando os economistas em suas análises. O que pode ser
visto no quadro a seguir:

Quadro 01: Exemplo de distribuição de probabilidades e cenários.

Projeto W

Cenários Probabilidade de ocorrência

Pessimista 10%

Realista 60%

Otimista 30%

Total 100%

Projeto Z

Cenários Probabilidade de ocorrência

Pessimista 25%

Realista 50%

Otimista 25%

Total 100%
Fonte: Elaborado pelo autor.

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II | 25


MATERIAL
COMPLEMENTAR
A análise de cenários no contexto da gestão de riscos
A análise de cenários pode ser utilizada para auxiliar na tomada de deci-
sões de políticas e no planejamento de futuras estratégias, bem como em con-
siderar as atividades existentes de uma organização. Pode desempenhar um
importante papel em todos os três componentes do processo de avaliação de
riscos, conforme definido nas normas ISO 31000 e ISO/IEC 31010.
Para a identificação e análise de riscos, conjuntos de cenários refletindo,
por exemplo, o “melhor caso”, o “pior caso” e o “caso esperado”, podem ser uti-
lizados para identificar o que poderia acontecer sob circunstâncias específicas e
analisar as consequências potenciais (negativas e positivas) e suas probabilida-
des para cada cenário.
A análise de cenários não pode prever as probabilidades de mudanças,
mas pode considerar as consequências e auxiliar as organizações a desenvol-
verem forças e resiliência necessárias para se adaptar às mudanças previsíveis.
As principais dificuldades na utilização da análise de cenários estão as-
sociadas à disponibilidade de dados e à capacidade dos analistas e tomadores
de decisão de serem capazes de desenvolver cenários realistas que possam
explorar os resultados possíveis.
Os perigos do uso da análise de cenários como uma ferramenta para a
tomada de decisões residem no fato de que os cenários utilizados podem não
ter um fundamento adequado, os dados podem ser especulativos, e resultados
irreais podem não ser reconhecidos como tal.
Fonte: <https://bit.ly/2EQmFcH>.

4.3. O retorno esperado


A medida inicial a aprender no estudo do risco e do retorno é o
valor esperado de cada cenário e distribuição de probabilidade citados na
análise. Tal termo nada mais é que uma média dos resultados esperados,
ponderada pela probabilidade atribuída a cada um deles. Os parâmetros
para o cálculo do retorno esperado são dados pelo somatório de todos os
cenários considerados, sendo que cada um deles deverá ser demonstrado

26 | ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II


por meio da multiplicação das estimativas de retorno de cada cenário, por
suas respectivas probabilidades de ocorrência:

Sendo:

K = Retorno esperado;

K1 = Valor do retorno conhecido considerado;

P1 = Probabilidade de ocorrência de cada evento.

Para visualizar melhor o cálculo anterior, serão dados valores de


retorno conhecidos a partir do exemplo anterior. Admita que a empresa em
questão, do projeto “W”, deverá pagar de retorno apenas 6% do recurso nela
investido se for confirmado o cenário pessimista; 15% de retorno caso o
cenário realista se mantenha e, por fim, 18% de retorno se o cenário otimista
acontecer. Com esses dados, chega-se ao seguinte cálculo:

Kw= (0,06 x 0,10) + (0,15 x 0,60) + (0,18 x 0,30) = 15%

Já para o projeto “Z”, considere um retorno pessimista de 10%; caso o


cenário realista se mantenha, um retorno de 15%; e se o cenário melhorar, for
otimista, um retorno de 20%. Assim, chega-se ao cálculo adiante:

Kw= (0,10 x 0,25) + (0,15 x 0,50) + (0,20 x 0,25) = 15%

Ou seja, multiplicando os percentuais de retorno de cada cenário


pelo percentual de probabilidade respectivo (apresentados na equação
anterior em números decimais), e depois somando todos eles, obtém-
se o retorno esperado da análise. Considerando que nenhum cenário tem
100% de probabilidade de ocorrer, encontrando-se, no caso, o real valor de
contribuição de cada cenário, de acordo com sua probabilidade de ocorrer, e
somando todos os que fazem parte da análise. Trata-se de uma forma prática
e mais segura de considerar todos os dados levantados.

Megliorini e Vallim (2009, p. 70) afirmam que “a análise estatística


procura verificar o grau de incerteza associado a um investimento, para que

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II | 27


se tenha uma noção do quanto ele é arriscado”. Cada investidor tem seu
perfil com relação ao risco. Os mais conservadores se contentam com um
retorno menor, buscando correr menos riscos; já os mais arrojados correm
maiores riscos esperando maiores recompensas. Mas é importante salientar
que todos eles levam em consideração dados estatísticos que servem de
embasamento e segurança para seus investimentos.

4.4. O desvio-padrão como risco


Eis a principal medida de risco, visto que apresenta o grau de
dispersão sobre os retornos esperados em relação à média, ou seja, indica
como os valores se distribuem (se dispersam) em relação a um determinado
ponto central (a média). Caso exista mais de um investimento em análise, é
possível mensurar a volatilidade dos retornos para cada projeto, para que se
possa comparar seus riscos e escolher o que for melhor para o investidor de
acordo com seu perfil.

Para medir estatisticamente a variabilidade dos resultados em termos


de valor esperado, você pode utilizar a seguinte equação:

Sendo:

σ = Sigma (símbolo grego), que representa o desvio-padrão;

Kj = Retorno já conhecido de um ativo em um determinado cenário;

Kj = Retorno esperado do ativo, considerando todos os cenários;

Pj = Probabilidade de um ativo em um determinado cenário.

Aplicando esse formato de cálculo no exemplo já conhecido, encontra-


se o seguinte resultado de dispersão para o projeto “W”:

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Cenários Kj k (kj - k)2 x Prob. ∑ √
Pessimista 6 15 81 8,10
Realista 15 15 0 0,00 10,80 3,29
Otimista 18 15 9 2,70

Ou você pode seguir no mesmo formato da equação, como o


apresentado adiante, no projeto “Z”:

σ= (10 − 15)² x 0,25 + (15 − 15)² x 0,50 + (20 − 15)² x 0,25

σ = 3,54

Para o entendimento da análise dos resultados encontrados, pode-


se dizer que uma parte dos resultados conhecidos é menor que a média,
enquanto que a outra parte, maior que a média. Com base nisso, afirma-se
que aqueles resultados que estão mais próximos da média são os menos
arriscados. Como falado anteriormente, imagine que eles apresentam uma
menor possibilidade de algo dar errado. Nos exemplos calculados, o projeto
“W” apresenta menor dispersão, isto é, menor risco, sendo, então, o projeto
de investimento com as promessas de retorno mais positivas no momento
analisado, mesmo com a descrição de um cenário menos propenso ao título
de melhor proposta de investimento.

CURIOSIDADE

Em época de eleição, os jornais sempre veiculam os resultados das pes-


quisas de intenção de voto, sendo apresentados os percentuais de votos dos
candidatos e, ainda, a margem de erro para mais ou para menos. Essa margem
é o desvio-padrão, que serve para informar a dispersão da intenção de voto dos
eleitores. Por exemplo, se for dito que um candidato tem 20% das intenções de
voto, com margem de erro de 3% para mais ou para menos, pode-se entender
que esse mesmo candidato possivelmente irá receber no mínimo 17% dos votos
(20% - 3%) e no máximo 23% dos votos (20% + 3%).

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II | 29


4.5. Coeficiente de variação
É considerado o balanceamento entre o risco e o retorno, pois
apresenta o risco do projeto em relação ao seu valor esperado. Imagine
que na comparação de dois projetos, todos os resultados encontrados
(dispersões e retornos) sejam diferentes, isso dificultará a definição de qual
deles é o melhor. Para isso existe o coeficiente de variação, que é calculado
da seguinte forma:

σ
CV =

K
Com base nos exemplos anteriores, encontram-se os seguintes
resultados para analisar:

3,29
CVw = = 0,2193 ou ainda 21,93% de risco sobre o retorno esperado.
15
3,54
CVz = = 0,2360 ou ainda 23,60% de risco sobre o retorno esperado.
15

Dessa forma, consegue-se comprovar que o projeto “Z” é realmente


o mais arriscado, pois o coeficiente de variação apresentado por ele é o
maior, ou seja, apresenta mais risco sobre o retorno esperado. Portanto,
quanto menor o valor do coeficiente de variação, melhor é a qualidade do
investimento, do ponto de vista risco e retorno.

MATERIAL
COMPLEMENTAR
Entenda como funciona a relação risco e retorno
Existe um velho ditado que diz: "dinheiro gera dinheiro". Certamente ele
funciona muito bem no Brasil, onde as taxas de juros são elevadas e onde exis-
tem muitas oportunidades de investimento, tanto no mercado financeiro como
em negócios próprios. Porém, na busca de lucros elevados, muitos investidores
acabam se esquecendo de analisar o risco.
De forma geral, retornos mais elevados somente podem ser obtidos quan-
do o investidor está também correndo maiores riscos. A não ser em curtos perí-

30 | ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II


odos de tempo, onde a disseminação de informações pode não funcionar direito,
esta é uma das principais regras do mercado. Portanto, atenção para as promes-
sas de rentabilidade elevada!
A relação entre risco e retorno é simples: ambos andam de mãos da-
das. Basta olhar para o mercado financeiro: enquanto a poupança e os fundos
DI mostram maior segurança, investimentos em ativos mais arriscados, como a
Bolsa, por exemplo, acabam mostrando retornos de longo prazo mais elevados.
O porquê dessa relação pode ser exemplificado fora do mercado finan-
ceiro. Imagine que você montou um novo negócio, que mostre, desde o início,
uma lucratividade elevada. Por algum tempo esta pode ser a situação, mas isso
tende a mudar, a partir do momento em que mais pessoas souberem dessa in-
formação. Se o negócio é bom, rapidamente você ganhará concorrentes, o que
provavelmente pressionará as margens de lucro para baixo.
Da mesma forma que acontece neste exemplo, no mercado financeiro é
o mecanismo de arbitragem que reina. Ou seja, se um investimento apresen-
ta uma relação de retorno elevado e risco baixo, muitos investidores buscarão
aplicar, o que pressionará para baixo o retorno. Um dos principais motivos que
leva muitos investidores a perdas significativas no mercado financeiro é o não
entendimento desta regra. Embora oportunidades interessantes de curto prazo
possam ocorrer, retornos elevados têm que ser necessariamente associados a
riscos mais altos.
Um exemplo é a Bolsa de Valores. Embora as estatísticas mostrem que
a rentabilidade do mercado de ações supere o da renda fixa em grande parte do
mundo, investir em ações traz maiores riscos. Não adianta querer ganhar mais,
se não estiver preparado para assumir a possibilidade de perdas que, cedo ou
tarde, irão ocorrer.
Mesmo dentro de investimentos em renda fixa, retorno mais elevado não
vem sem a contrapartida de riscos maiores. Por exemplo, títulos de dívida corpo-
rativa, como CDBs ou debêntures, em geral, pagam mais que papéis do gover-
no. A resposta é simples: apresentam riscos mais elevados.
Muita gente conhece pessoas que perderam muito em alternativas de
investimento de alta rentabilidade, aparentemente saudáveis, que, no final das
contas, nada mais eram do que esquemas para lesar os mais desavisados.
Como juntar dinheiro não é nada fácil, antes de investir sempre procu-
re analisar os riscos envolvidos. Nesta hora, todo o cuidado é pouco, mesmo
quando amigos ou parentes aparecem com investimentos onde, aparentemente,

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II | 31


o retorno é elevado e o risco baixo. Na dúvida, fique com a sabedoria popular:
"quando a esmola é demais, o santo desconfia".
Fonte: <https://bit.ly/2TCth7X>.

PRATIQUE
5. Qual a premissa básica quanto à relação entre o grau de risco e a exigência
do retorno?

6. Supondo que um certo investidor comprou um caminhão por R$ 250.000 e o


agregou numa empresa de transportes, ganhando, assim, R$ 3.000 por mês,
porém só conseguiu manter o contrato por 15 meses e precisou vender o ca-
minhão por R$ 220.000. Qual foi o retorno que ele conseguiu neste negócio?

7. Considerando que o investidor tem perfil cauteloso e que opta por investimen-
tos menos arriscados, observe os dois ativos adiante: um (ativo A) apresenta
um retorno esperado de 12% e um desvio-padrão de 3%, já o outro (ativo B)
apresenta retorno esperado de 15%, porém com um desvio de 3,5%. Qual
dos dois ativos será a escolha do investidor?

32 | ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA II


8. Considerando a possibilidade de uma nova loja dar certo, um empresário es-
tipulou dois cenários: um otimista, no qual ele consiga 30% de retorno do seu
investimento; e outra pessimista, em que terá apenas 10% de retorno. Con-
siderando que ambos os cenários têm a mesma possibilidade de acontecer,
qual a dispersão a ser apresentada ao empresário?

RELEMBRE
Nesta unidade, você viu que a administração financeira engloba bem mais
que a simples atuação de um setor financeiro em uma empresa, pois depende
de políticas governamentais, comportamento dos mercados, decisões de risco,
variações de câmbio. Além disso, a autonomia do profissional desta área tam-
bém é necessária para o entendimento dos resultados da globalização.
Você também aprendeu que o risco e o retorno estão sempre juntos e
que em qualquer tipo de projeto de investimento, o tamanho de cada um tende
a ser diretamente proporcional. Por isso que em investimentos de menor risco,
também se espera um menor retorno. A análise dos cenários e das probabilida-
des relativos a cada um se mostra essencial para uma análise mais verídica e
com maior possibilidade de acerto, visto que quando o dinheiro está envolvido,
ninguém gosta de perder seu capital.
Lembrando que as principais técnicas para auxiliar na análise do risco e
do retorno são medidas da estatística, que é uma ciência que busca explicar a
frequência das ocorrências de eventos, modelando a incerteza para possibilitar
previsões de dados futuros, tudo em comum com o comportamento do mercado
financeiro.

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REFERÊNCIAS

ASSAF NETO, Alexandre. Curso de administração financeira. 3. ed. São


Paulo: Atlas, 2014.

BACHA, Carlos José Caetano; LIMA, Roberto Arruda de Sousa.


Macroeconomia: teorias e aplicações à economia brasileira. Campinas, São
Paulo: Alínea, 2006.

GAROFALO FILHO, Emilio. Câmbio$ – Princípios básicos do mercado


cambial. São Paulo: Saraiva, 2005.

GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. 7. ed. São


Paulo: Ed. Harbra, 1997.

INFOMONEY. Entenda como funciona a relação risco e retorno. Disponível


em: <https://www.infomoney.com.br/educacao/guias/noticia/485239/
entenda-como-funciona-relacao-risco-retorno>. Acesso em: 15 fev. 2019.

ISO31000.NET. A análise de cenários no contexto da gestão de riscos.


Disponível em: <https://iso31000.net/analise-de-cenarios/>. Acesso em: 15
fev. 2019.

LOPES, João do Carmo; ROSSETTI, José Paschoal. Economia monetária.


9. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

MEGLIORINI, Evandir; VALLIM, Marco Aurélio. Administração financeira:


uma abordagem brasileira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

ROSS, Stephen A.; WESTERFIELD, Randolph W.; JORDAN, Bradford D.


Princípios da administração financeira. São Paulo: Atlas, 1997.

ROSSETTI, José Paschoal. Política e programação econômica. 7. ed. São


Paulo: Atlas, 1987.

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