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PORTUGAL

NOTÍCIAS
03 Jan./Fev./Mar. 2009
Publicação trimestral • Série V • P.V.P €1.75

DOSSIER
Campanha da Dignidade: Direitos Humanos = Menos Pobreza

AS FAVELAS NO BRASIL A LIBERDADE DE EXPRESSÃO


Entre a violência e o crime, as mulheres Trinta e cinco anos depois do 25 de Abril
procuram a normalidade ainda há medo entre os portugueses
© Dubin

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ÍNDICE 03. 11. 26.
EDITORIAL DOSSIER EM ACÇÃO JOVEM
Direitos Humanos = Menos
04. Pobreza.
28.
É esta a ideia que está na base
ENTREVISTA da próxima grande Campanha BOAS NOTÍCIAS
Alfredo Bruto da Costa, autor da Amnistia Internacional, que
do livro Um Olhar sobre a vai ser lançada em Maio. “Exija
Pobreza, falou ao “Notícias Dignidade”
29.
da Amnistia Internacional” APELOS MUNDIAIS
sobre as condições de vida na
sociedade portuguesa 20.
PRESTAÇÃO DE CONTAS 32.
07. AGENDA
RETRATO 22.
Guadalupe Marengo, EM ACÇÃO 33.
Directora da Campanha
“Exija Dignidade”, que vai ser
INTERNACIONAL CARTOON
lançada em Maio, é agora um Nas violentas favelas brasileiras,
dos rostos mais influentes da as mulheres procuram uma vida 34.
organização normal. No entanto, estão par-
ticularmente vulneráveis à violên- CRÓNICA
cia perpetuada pelos grupos cri- Rui Costa Pinto, que alega ter
09. minosos e pelas forças policiais. sido vítima de censura 35 anos
EM FOCO depois do 25 de Abril, escreve
“Em nome da liberdade”
24.
EM ACÇÃO NACIONAL
Conhecer por dentro o Núcleo de
Estremoz e o Núcleo do Oeste/
Caldas da Rainha da Amnistia
Internacional Portugal

FICHA TÉCNICA Katia Saura, Lucília José Justino, Nádia


Oliveira, Rede Jovem da Amnistia Internacio-
• Propriedade: Amnistia Internacional nal, Rodrigo de Matos, Rui Costa Pinto, Sara
Portugal Coutinho
• Director: Presidente da Direcção, • Revisão: Cátia Silva, Irene Rodrigues,
Avenida Infante Santo, 42 – 2.º
1350-179 Lisboa
Lucília José Justino Luísa Marques, Pedro Krupenski Tel.: 213 861 652
• Equipa Editorial: Cátia Silva, Irene • Concepção Gráfica e Paginação: Maria
Fax: 213 861 782
Rodrigues, Pedro Krupenski Email: boletim@amnistia-internacional.pt
João Arnaud
• Colaboram neste número: Departamen- • Impressão: Relgráfica Artes Gráficas Os artigos assinados são da exclusiva respon-
to de Angariação de Fundos e Financeiro, sabilidade dos seus signatários.

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Notícias • Amnistia Internacional 03

EDITORIAL
A Dignidade
Por Lucília José Justino, Presidente da Direcção

cuidados sanitários mínimos, sem acesso


a água, alimentação, educação, cuidados “O Homem não é
médicos, abrigo, emprego, sobrevivendo
em pobreza absoluta, sem condições de
uma inutilidade num
vida e sem qualquer futuro diferente em mundo feito, mas o
perspectiva. obreiro de um mundo
No entanto, a pobreza não é uma inevi-
tabilidade, ou uma fatalidade do des-
a fazer”
tino, mas, sobretudo, o resultado de más Leonardo Coimbra
políticas, de maus governos, de violência,
desigualdades e injustiças. É possível lu-
tar contra a miséria, o atraso social e as
iniquidades políticas, mas é necessário
dar visibilidade a essas situações, sen-
sibilizar a opinião pública para esse
combate, defender melhores políticas,
exigir mais transparência pública aos de-
© Privado cisores, responsabilizar os agentes políti-
cos e económicos que a alimentam e, fun-
damentalmente, mobilizar e aumentar a
Este número do Notícias tem como tema
participação cívica na defesa dos direitos
enquadrador a Dignidade, que constitui,
ofendidos, com o envolvimento activo das
também, o objecto da próxima grande
próprias vítimas.
campanha mundial da Amnistia Inter-
nacional. Da dignidade humana em Portugal e da
esperança que o 25 de Abril trouxe, tam-
A Dignidade, enquanto tal, não aparece
bém, nos ocupámos, desde “a madrugada
listada como um dos direitos enunciados
que eu esperava”, como escreveu Sophia.
na Declaração Universal, mas o seu re-
A liberdade de imprensa é abordada na
conhecimento está na base de todos os
perspectiva de um jornalista, que, feliz-
outros, constituindo, segundo refere, o
mente, já não foi visado pelo lápis azul
“fundamento da liberdade, da justiça e
da censura da ditadura – mesmo que em
da paz no mundo”.
democracia muitas questões essenciais
O Artigo 1º da Declaração diz que “todos
continuem longe do grande público.
os seres humanos nascem livres e iguais
em dignidade e direitos”, mas é conhecido Continua a haver muito que fazer. Tam-
de todos, que milhões de pessoas vivem bém a solidariedade é um direito e um
sem usufruto de direitos e em situações dever.
de verdadeira indignidade humana, em Continuamos a contar convosco para ir
particular no que se refere aos direitos mais longe. Nesta Obra.
económicos, sociais e culturais – sem

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04 Notícias • Amnistia Internacional

ENTREVISTA
Alfredo Bruto da Costa, Presidente do Conselho Económico e Social
Desde 2003 à frente do órgão constitucional que promove a participação dos agentes económicos e
sociais nos processos de decisão políticos, Alfredo Bruto da Costa dedica parte da sua vida ao estudo e
investigação sobre questões relacionadas com a pobreza. Autor do livro Um Olhar sobre a Pobreza, falou
ao “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” sobre esta realidade, na véspera do lançamento da
grande campanha da organização: “Exija Dignidade”
Por Cátia Silva

divulgado e que aponta para uma taxa


de pobreza em Portugal na ordem dos
18%...
ABC: Sim. Porque a pobreza não é só a
persistente [que ronda os tais 18%]. Em
muitos casos a pobreza é uma situação
em que a pessoa nasce, vive e morre na
pobreza, mas há outros casos de pessoas
que ao longo da sua vida entram e saem
da pobreza. E esta é uma situação que
deve merecer, por parte das políticas de
combate à pobreza, uma atenção igual
àquela que tem a chamada pobreza per-
sistente.
AI: Isto porque, seja como for, um pobre
é sempre alguém a quem em determi-
nado momento da vida faltam os recur-
sos mínimos para viver. Correcto?
ABC: Sim. Nos meus estudos defino po-
“A pobreza é uma violação breza como sendo uma situação de ca-
aos direitos humanos” rência motivada por falta de recursos.
© AI Portugal
Porque pode haver uma pessoa que tenha
recursos e que viva mal porque não sabe
Amnistia Internacional (AI): Normal- AI: É então tendo isso em conta que diz, administrar o seu dinheiro, ou porque
mente as pessoas associam a pobreza no seu livro Um Olhar sobre a Pobreza: gasta onde não deve e depois não tem
à África Subsariana mas no seu livro Vulnerabilidade e Exclusão Social no para comer, ou porque tem dependências
fala na pobreza em Portugal. Falamos Portugal Contemporâneo, que quase com drogas ou álcool, etc.
aqui de um outro tipo de pobreza? metade da população portuguesa
(46%) está vulnerável à pobreza... AI: Não chamaria então pobres a estas
Alfredo Bruto da Costa (ABC): É um grau pessoas, cada vez mais comuns nos
diferente de pobreza. A ideia de pobreza ABC: Exacto. Isso porque no período de dias de hoje, a que muitos chamam
tem sempre por trás a noção de que uma seis anos que estudámos [entre 1995 e «novos pobres»...
pessoa, para viver, precisa de um míni- 2001] quase metade da população por-
mo de condições de vida. Os estudos de tuguesa tinha sido pobre em pelo menos ABC: Digo que são pessoas que vivem
pobreza tentam ver, em cada sociedade, um ano. carenciadas, mas não por razões de po-
o que é que constitui esse mínimo abaixo breza. Nem toda a carência é pobreza, no
AI: Isso explica a disparidade entre meu modo de ver. E convém distinguir
do qual uma pessoa não vive com digni-
esse valor e um outro que tem sido esta das outras situações, porque as
dade.

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Notícias • Amnistia Internacional 05

soluções são muito diferentes. Para uma africana, importa referir que a quase ABC: O Banco Alimentar é um indicador
pessoa que vive mal porque não tem re- totalidade dos pobres portugueses não de oscilações. O que eles dizem é que nos
cursos, tenho de resolver o problema da têm qualquer forma de aquecimento, últimos tempos tem aumentado o núme-
carência imediata, mas isso não basta, que quase 40% não possui banheira ou ro de pessoas que não iam ao Banco Ali-
pois tenho de fazer com que a pessoa se chuveiro e que quase 30% não tem re- mentar e agora vão.
torne auto-suficiente. Se uma pessoa tem trete em casa...
AI: Teremos então hoje mais casos
recursos e não sabe utilizá-los correcta-
ABC: É verdade, mas o que para mim foi pontuais e menos de pobreza perma-
mente, a solução não passa por isto.
o mais curioso nas condições de habita- nente?
AI: No seu livro fala ainda de um outro bilidade é que fizemos um gráfico onde
ABC: Antes era uma pobreza mais per-
tipo de pobres, que, apesar de traba- se demonstra quais as condições entre
sistente, sim. Agora há mais pessoas a
lharem, de terem um salário, são po- os pobres e quais as condições de habi-
passar pela pobreza. Há sobretudo os-
bres porque não recebem o suficiente tabilidade entre os não pobres. O que se
cilações. Além disso, com os efeitos da
para satisfazerem as suas necessi- verifica é que as duas curvas são parale-
crise, o tipo de pobreza vai ser ainda
dades básicas... las [ou seja, quando uma é maior, a outra
mais diversificado.
também é]. Dá a impressão de que, na-
ABC: Exactamente, mas este não é um
quilo em que somos fracos, são aspectos AI: Há quem diga ainda que com o de-
novo tipo de pobres e não é uma situa-
estruturais da sociedade. E nesses as- senvolvimento das novas tecnologias
ção que esteja ligada à crise. É antiga
pectos a curva dos pobres é mais baixa, temos hoje um outro tipo de pobreza,
em Portugal e é um caso de pobreza per-
o que é natural. em termos de capacidades, de infoex-
sistente.
clusão...
AI: No seu livro fica ainda provado que
ABC: A pobreza é sempre um problema de
há maior incidência de pobres na zona “A ideia de pobreza tem capacidades. É a teoria do Amartya Sen
rural (57,5% dos pobres), quando mui- sempre por trás a noção de [economista indiano], que olha para os
tas vezes se associa a pobreza aos bair-
ros degradados das grandes cidades
que uma pessoa, para viver, recursos como um meio para adquirir ca-
precisa de um mínimo de pacidades para funcionar normalmente
(onde estão 38,4% dos pobres)...
na sociedade. Por outro lado, há uma
ABC: Exacto. Normalmente o que acon-
condições de vida” outra maneira de olhar para o problema
tece, embora isto esteja a deixar de ser da pobreza, pensando na liberdade, um
costume, é pensarmos que nos meios AI: Sim, mas também é verdade que direito fundamental. É outra vez a ideia
rurais as pessoas conseguem aguentar- sendo a curva dos pobres sempre mais de Amartya Sen, que diz que uma pessoa
-se melhor, porque há uma solidariedade baixa, as condições em que vivem ajuda que tem fome não é livre. Primeiro, não
informal, ao nível de parentes e vizinhos, a perpetuar a sua situação de pobreza. é livre de comer e, consequentemente,
coisa que não acontece nos centros ur- Não é assim? Por exemplo, uma crian- para fazer muitas outras coisas. Por isso
banos. A minha ideia é que nas cidades ça que não tem luz não pode estudar, eu costumo dizer que não faz sentido de-
o pobre está mais isolado e não pode alguém que vive numa casa fria adoece fender o direito à liberdade, sem defender
contar com grandes ajudas informais. mais vezes e falta mais à escola ou ao o direito às condições para o exercício da
Nesse aspecto pode ser diferente o rural trabalho... liberdade. Assim chegamos à conclusão
do urbano, embora haja quem diga que a de que a pobreza é uma violação aos di-
solidariedade informal em Portugal tam- ABC: Claro. Uma das noções importantes reitos humanos.
bém está a cair em desuso. no conceito de pobreza é que as carên-
cias não aparecem isoladas. Há uma AI: Uma dedução lógica, mas só a 4 de
AI: Essa solidariedade é tanto mais im- rede de carências. Uma puxa as outras. Julho do ano passado a pobreza foi as-
portante se ressalvarmos que as pes- Isto porque a maior parte das coisas sim reconhecida pela Assembleia da
soas que estão mais vulneráveis à po- de que precisamos temos de comprar República, na resolução n.º 31/2008. Os
breza são as crianças e jovens (73%) no mercado. Para isso precisamos de Estados, ou os Governos, já entendiam
e os idosos (cerca de 70%). Ou seja, dinheiro. Assim, se não tenho dinheiro a pobreza como uma violação aos di-
pessoas dependentes. suficiente, sou carenciado em todos os reitos humanos?
ABC: Exactamente, embora o que tam- aspectos que dependam de ter dinheiro ABC: Não, ou melhor, pelo menos não de
bém tenha sido curioso ver nos estudos para ir comprar no mercado. forma tão clara. E mesmo a resolução da
é que a pobreza atinge todas as idades. AI: Recentemente, a Presidente do Ban- Assembleia da República adoptada não
Nenhum grupo etário fica livre da pobre- co Alimentar veio registar um aumento foi clara. Diz que pode conduzir a que a
za, mas efectivamente a vulnerabilidade no número de pedidos de ajuda. Mas no pobreza seja vista como uma violação
está mais nos extremos. seu livro é apontado que no primeiro aos direitos humanos, mas não afirma
estudo sobre pobreza em Portugal, de que, em si própria, a pobreza constitui
AI: O seu livro apresenta ainda dados
Manuela Silva, que data do tempo da uma violação aos direitos humanos. Para
chocantes relativos às condições de
ditadura, já se falava em pobres. Temos mim, a Assembleia da República não foi
habitabilidade em Portugal. Assim,
hoje mais ou menos pobreza? tão longe quanto seria desejável.
apesar de estarmos longe da realidade

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06 Notícias • Amnistia Internacional

AI: Mas mudaria alguma coisa ter ido caminho a seguir... solidariedade tem de ser uma coisa ins-
mais longe? titucionalizada e os mecanismos mais
ABC: Sim, porque a taxa de pobreza po-
directamente relacionados com isso são,
ABC: Pode mudar, se depois se tirarem de ter baixado, mas não sabemos se foi
por um lado, os impostos, por outro, a se-
as consequências políticas disso, ou devido às políticas adoptadas ou a outros
gurança social.
seja, se a ideia for depois convertida em factores, como o crescimento económico,
legislação. etc. AI: A esse nível pagariam mais os que
mais podem...
AI: Isso passaria, por exemplo, por AI: Estamos então, em termos de políti-
definir uma linha de pobreza para Por- cas públicas, talvez numa fase ainda ABC: Claramente.
tugal? embrionária. No entanto, defende tam-
AI: Perante as soluções que aponta e
bém que a sociedade tem um papel
ABC: Poderia ser, porque ao definirmos diante do que tem sido feito, o que é
muito importante no combate à po-
isso estaríamos a definir tacitamente possível esperar para o futuro em ter-
breza...
um limiar de pobreza para Portugal. mos da pobreza em Portugal?
Temos hoje o Rendimento Social de In- ABC: Muito importante mesmo...
ABC: A esperança depende de vários fac-
serção [que pretende contribuir para a
AI: Numa entrevista que deu ao jornal tores, alguns dos quais não dependem
satisfação das necessidades essenciais
Sol, publicada na edição de 7 de Feve- de nós. Por exemplo, a nossa economia
e favorecer a inserção laboral, social e
reiro, afirma que “se transferíssemos depende muito das exportações e se
comunitária], mas este não garante que
4% do consumo dos não pobres para os países para onde exportamos se re-
o seu valor seja o suficiente para viver,
os pobres, não havia necessidade de traírem a esse nível, não podemos fazer
porque a lei não exige que este esteja re-
recursos em Portugal”... nada senão o que algumas empresas es-
ferenciado àquilo que é necessário para
tão a fazer: diversificar, ou seja, exportar
uma pessoa viver. Seria um avanço muito ABC: Exactamente. E a nível mundial é
para outros países que não estão ainda
grande definir o limiar da pobreza. até mais impressionante. Se transfe-
tão afectados pela crise. Mas este é só
rirmos 1% do consumo dos 20% mais
um factor que contribui para a pobreza.
ricos para os 20% mais pobres, duplica
“Se transferíssemos 1% do o consumo destes últimos. E falamos do
Um segundo tem a ver com a nossa Ban-
consumo das pessoas 20% ca, que tem de estar estabilizada para
consumo e não dos rendimentos.
que o crédito seja normalizado. E a ter-
mais ricas para as 20% mais AI: Sendo tão simples assim, o que falta ceira condição para um futuro melhor é
pobres, duplicava o consumo para se passar à prática? Os portu- cada um de nós ver o que pode fazer para
destes últimos” gueses não estariam dispostos a aju- vencer a crise e não ficar à espera que
dar? seja o Governo ou outros a resolverem. E
ABC: Li um artigo de uma socióloga por- esta é uma atitude que não é muito cor-
AI: Mesmo sem esse valor definido, sa- rente em Portugal. Também importante,
bemos que ao nível da pobreza estamos tuguesa, publicado há alguns anos, onde
dizia que a ideia de que em Portugal há, mas mais a longo prazo, é preciso haver
na cauda da Europa, certo? alterações no próprio sistema financeiro,
de forma geral, uma “almofada” de apoio
ABC: Estamos na cauda, embora Portugal e ajuda, é falsa. que deu provas de que estava completa-
não seja necessariamente o último. Faz mente entregue aos “bichos”. É preciso
concorrência com a Grécia, às vezes com AI: Os portugueses, de forma geral, são uma fiscalização e uma regulação muito
a Irlanda,... Mas sim, é um dos que tem pouco solidários? mais séria.
taxas de pobreza mais altas. Nos últimos ABC: A solidariedade dos portugueses
10 ou 15 anos temos vindo a reduzir esta existe para coisas eventuais, por exem- Entrevista completa em:
taxa, mas a um ritmo muito baixo. plo, quando há uma campanha do Banco www.amnistia-internacional.pt
AI: Poderá essa redução estar ligada Alimentar ou de outra coisa. Coisas es- (Aprender/Boletim)
ao facto de o Governo estar mais alerta porádicas. Mas se dissermos que vamos
para a pobreza em Portugal? aumentar os impostos, por motivos de
solidariedade, e que assim sistematica-
ABC: Os valores que nós temos não nos mente todos teríamos de dar, a sociedade
permitem concluir nada, porque o último portuguesa não quer.
valor que temos é de 2005. Os inquéritos
que são utilizados para estudar a taxa de AI: E para si, a solução para a pobreza
Os temas abordados nesta entrevista ba-
pobreza produzem resultados com uma passaria por esse aumento dos impos- searam-se no estudo coordenado por Al-
décalage muito grande. O importante tos? fredo Bruto da Costa, com o apoio de Isabel
seria os Governos terem inquéritos que Baptista, Pedro Perista e Paulo Carrilho, re-
ABC: Sim, também. Não quer dizer que ao alizado entre 1995 e 2001. A investigação
fossem rápidos, que nos permitissem nível voluntário não se recolham muitos está publicada no livro Um Olhar Sobre a
avaliar uma política na primeira metade fundos, mas isso torna a solução depen- Pobreza: Vulnerabilidade e Exclusão So-
do ano seguinte à sua aplicação. dente da maior ou menor boa vontade. cial no Portugal Contemporâneo, editado
Não resolve o problema. Eu defendo que a em Junho de 2008 pela Gradiva.
AI: Seria essencial para perceber o

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Notícias • Amnistia Internacional 07

RETRATO
Guadalupe Marengo, Directora da Campanha “Exija Dignidade”
À frente do grande desafio da organização
Guadalupe Marengo chegou a Inglaterra com quase trinta anos. Estava longe de imaginar que iria traba-
lhar para a Amnistia Internacional, mas o seu espírito voluntário e activista trouxe-a para a promoção
dos direitos humanos. Hoje, é uma das pessoas mais influentes na organização não governamental, pois
dirige a próxima Campanha, denominada “Exija Dignidade”
Por Cátia Silva

Guadalupe Marengo chegou à AI quando não conseguia perceber como é que os


tinha 35 anos. “A minha língua materna nossos vizinhos não viam que isto era
e o conhecimento que tinha da região injusto e cruel. Aquele incidente teve
fizeram com que conseguisse um lugar um grande impacto sobre mim e eu
no Programa Regional das Américas2”, senti que sem justiça social o mundo
recorda. Mexicana de nacionalidade, nunca será um lugar melhor”.
chegara a Inglaterra com quase trinta
anos para fazer uma Pós-Gradução em
Linguística Aplicada, depois de se ter O TRABALHO ENQUANTO CAMPAIGNER
licenciado em Literatura Inglesa na Quando se candidatou à Amnistia In-
Universidade da Cidade do México. Não ternacional, Guadalupe Marengo con-
chegou a terminar a pós-graduação e, correu então ao Programa Regional das
movida pela paixão, não voltou a deixar Américas, enquanto campaigner, um
o país, tendo ficado a fazer um mestrado dos cargos essenciais na organização
em Políticas e Direitos das Mulheres. Foi não governamental. Quando lhe pedimos
© Amnistia Internacional
aqui que o seu rumo mudou, apesar de o para explicar em que consiste a função
trabalho em benefício dos outros, e prin- que exerceu durante 15 anos, diz: “um
No próximo dia 28 de Maio, a Amnistia cipalmente das mulheres, fazer já parte campaigner é alguém que entende o
Internacional (AI) vai lançar mais uma da sua vida enquanto voluntária. problema, neste caso a violação que é
campanha1, desta vez em nome da “Quando cheguei a Inglaterra, envolvi- cometida aos direitos humanos, e que
dignidade humana e da erradicação da -me no apoio a mulheres latino-ameri- analisa o tipo de pressão que precisa
pobreza do mundo. “Exija Dignidade” é canas que tinham sofrido de violência de ser exercida, e sobre quem, para
o nome pelo qual vai ficar conhecida a doméstica neste país e juntei-me a um que essa violação termine. As suas
campanha que, durante pelo menos seis grupo de apoio que visitava mulheres tácticas são cruciais para conseguir
anos, vai levar mais longe o trabalho da latino-americanas em prisões. Além a mudança”, reconhece. Porém, esta
organização não governamental (ONG). disso, sou uma feminista e estive en- só é efectivamente possível quando os
Guadalupe Marengo, de 50 anos de idade, volvida em várias ONG de mulheres”, activistas de todo o mundo3 se juntam
casada e mãe de um rapaz de 11 anos, resume. Uma vontade de ajudar que para enviar apelos ou petições às enti-
vai estar à frente deste importante passo terá muito provavelmente herdado da dades apontadas pelos campaigners.
para a Amnistia Internacional e, espera- sua mãe. “Enquanto criança vi a minha Guadalupe Marengo começou por se
mos, desta mudança para o mundo. “É mãe chorar quando os nossos vizinhos, dedicar às violações aos direitos huma-
um grande desafio, mas estou conven- num bloco de andares da classe média, nos cometidas na Argentina, tendo de-
cida que é crucial fazermos campanha lhe disseram que a família que estava a pois feito campanha pelo Brasil e, mais
para terminar com as violações aos ajudar, ao dar abrigo, tinha de deixar o tarde, pela Bolívia, entre outros países
direitos humanos que fazem com que edifício. Estas pessoas viviam num táxi latino-americanos. O último país a que
as pessoas continuem pobres”, disse que a minha mãe descobriu um dia e se dedicou na equipa das Américas foi o
em entrevista ao “Notícias da Amnistia sabia que ao serem expulsas do pré- Peru, que durante os anos 80 e 90 pas-
Internacional Portugal”. dio iam voltar a ficar sem abrigo. Ela sou por uma violenta guerra civil, onde

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08 Notícias • Amnistia Internacional

© Amnistia Internacional
Guadalupe Marengo fala à comunicação social enquanto campaigner do Programa Regional das Américas da Amnistia Internacional.

eram comuns os desaparecimentos e as sofrem também de insegurança e de voltada para alguns países, em destaque pela sua
execuções extrajudiciais. Violações que exclusão social. Todos os seus direitos violação constante aos direitos humanos, de que
são exemplo a China, o Irão, entre muitos outros.
eram cometidas tanto pelo Estado, como têm de ser protegidos se pretendemos
A terceira forma de acção é a de que lhe falamos
pelo grupo armado de oposição conhecido erradicar a pobreza”, defende. neste Retrato: as Campanhas, que são projectos
por Sendero Luminoso. “Perante dificul- desenvolvidos a longo prazo e que têm um objec-
Reconhecendo então que muitas das
dades tão terríveis para a população tivo concreto e pré-determinado. Actualmente,
violações aos direitos humanos são a Amnistia Internacional faz Campanha pelo
civil, a Amnistia Internacional estava a
cometidas sobre os mais pobres, a Am- Controlo ao Comércio de Armas, pelo Combate
trabalhar a tempo inteiro para acabar
nistia Internacional vai trabalhar para ao Terrorismo com Justiça, pelo Fim da Violência
com as atrocidades que vinham de
acabar com os problemas que ajudam sobre as Mulheres, pela Não Discriminação e pela
ambos os lados”, recorda. Um trabalho Abolição da Pena de Morte.
a perpetuar a pobreza. Um número in-
que exigiu grande rigor, objectividade e
findável de situações que, nesta fase de 2. A Amnistia Internacional tem programas re-
imparcialidade. Qualidades pelas quais
arranque da campanha, foram restringi- gionais que abrangem todo o mundo e que estão
a organização é internacionalmente re- divididos em: Américas, Médio Oriente e Norte de
das a três grandes áreas de actuação.
conhecida. África, Europa e Ásia Central, Ásia e Pacífico e, por
“Iremos focar-nos nas violações liga- último, África.
das à mortalidade maternal, que atinge
sobretudo mulheres desfavorecidas e 3. A Amnistia Internacional conta com mais de
À FRENTE DA CAMPANHA DA DIGNIDADE 2,2 milhões de membros e apoiantes em todo o
marginalizadas. Iremos também focar- mundo, unidos em torno de um mesmo movimento
Em Julho de 2008 o destino de Guada- -nos nos direitos das pessoas que e de um mesmo objectivo: promover e defender
lupe Marengo torna a mudar, quando é vivem em bairros degradados, pois se os direitos humanos de todas as pessoas. Estes
nomeada para dirigir a Campanha “Exi- hoje a maioria das pessoas vive em am- activistas são chamados a intervir, em diversas
ja Dignidade”, que a partir de 28 de Maio bientes urbanos, muitas das que vivem ocasiões, pelas várias secções da organização,
irá levar a Amnistia Internacional por um presentes em mais de 70 países do mundo. A Am-
em pobreza habitam instalações infor-
nistia Internacional Portugal é uma delas.
caminho até agora inexplorado: o com- mais erguidas nas cidades ou em seu
bate à pobreza4. Para a dirigente, esta redor. Iremos, por último, focar-nos 4. Até hoje, a Amnistia Internacional nunca tra-
expansão do trabalho da AI faz todo o balhou assuntos relacionados com a Pobreza, ten-
não apenas na responsabilidade do Es-
do esta temática estado sempre associada a ONG
sentido. “A Amnistia Internacional tra- tado de assegurar a todas as pessoas de cooperação e voltadas para o desenvolvimento.
balhou sempre para os mais desfavore- uma vida com dignidade, mas também Entre as temáticas que mais facilmente associa-
cidos. No Peru, por exemplo, o relatório na responsabilidade das empresas e no mos à AI, estão: os prisioneiros de consciência, a
da Comissão de Verdade e Reconcilia- papel que as corporações devem as- pena de morte, as crianças-soldado, a violência
ção sobre os 20 anos de conflito desco- sumir para fazer deste um mundo me- sobre as mulheres, o comércio de armas, os de-
saparecimentos forçados, os refugiados, os povos
briu que a grande maioria das vítimas lhor para todas as pessoas”5. indígenas, a justiça internacional e o combate
vivia numa situação de pobreza. Agora, ao terrorismo com justiça. A pobreza vem agora
com a Campanha Exija Dignidade, va- juntar-se a este trabalho.
mos fazer campanha por todos os seus 1. O trabalho da Amnistia Internacional pode ser
dividido em três formas de acção ou em três gru- 5. Para saber mais sobre a Campanha “Exija
direitos, porque pessoas a viver em po- pos-alvo. Primeiro, a que é feita em nome de pes- Dignidade” da Amnistia Internacional, não perca
breza sofrem privações – como a falta soas individuais que sofreram violações aos seus o Dossier desta revista.
de acesso à educação e à saúde –, mas direitos enquanto seres humanos. Uma segunda

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Notícias • Amnistia Internacional 09

EM FOCO
FRANÇA E ÁUSTRIA AGENTES DA POLÍCIA ACIMA DA LEI ropa, nos dois países a maioria dos casos
não chega sequer a tribunal e os que con-
seguem transitar para um processo ju-
dicial acabam por se deparar com um
sistema muito tendencioso.
Acrescente-se ainda que a Amnistia
Internacional registou uma tendên-
cia crescente, por parte da polícia, de
acusar criminalmente as vítimas de
abusos que denunciam os maus tratos
e a discriminação de que foram vítimas.
As acusações referem alegados insultos
e agressões aos agentes policiais. Uma
situação que tem contribuído para o
aumento dos sentimentos de injustiça
© AP/PA Photo/Baz Ratner e de impunidade por parte dos cidadãos
dos dois países, quando o papel prepon-
A França e a Áustria são dois dos países Uma realidade particularmente alar- derante dos agentes da polícia exigiria
que têm estado na mira da Amnistia In- mante na Áustria, onde o racismo está confiança e cooperação de toda a socie-
ternacional, pela conduta da sua polícia. fortemente institucionalizado, tanto na dade.
Em dois relatórios recentemente publica- polícia, como no sistema judicial. Mais informações sobre estas situações
dos, para cada um dos países, ficou clara Apesar de muitos destes crimes terem sido nos relatórios da Amnistia Internacional
a impunidade que de facto existe para os denunciados às autoridades, as investi- disponíveis na Internet: “France: The
agentes policiais destes Estados. Mortes gações continuam a ficar muito aquém Search for Justice”, publicado em 2005,
ilegais, espancamentos, abusos raciais dos padrões estipulados pela lei interna- “Public Outrage: Police Officers Above
e uso excessivo da força são algumas cional. Como exemplo, refira-se que em the Law in France”, de 2009, e “Victim
das muitas queixas que foram ouvidas França, em 2005, foram apresentadas or suspect: A question of colour. Racial
pela Amnistia Internacional no terreno. A 663 queixas, que resultaram em apenas Discrimination in the Austria Justice
maioria, destaque-se, provém de mino- 16 despedimentos. Segundo o investiga- System”, de 2009.
rias étnicas ou de cidadãos estrangeiros. dor da Amnistia Internacional para a Eu-

BIELORRÚSSIA Segundo informações que chegaram à


Amnistia Internacional, em 2008 o país
A Amnistia Internacional congratulou-
-se com a decisão do Supremo Tribunal
UMA MANCHA NEGRA NA executou pelo menos quatro pessoas e do Peru, que no passado dia 07 de Abril
EUROPA uma quinta foi sentenciada à pena capi- considerou Alberto Fujimori, presidente
tal. Tudo isto, acrescente-se, num Estado do país na década de 90, culpado pelos
onde a tortura é usada para obter “con- crimes de que estava acusado. O ex-di-
fissões” e onde as execuções são secre- rigente foi assim condenado a 25 anos
tas, não chegando sequer, muitas vezes, de prisão por ter mandado assassinar
atempadamente ao conhecimento dos 15 pessoas, em Barrios Altos, em 1991,
familiares do condenado. Uma verda- por ter programado a morte de nove
© MaanImages / Magnus Johansson deira mancha negra num continente que estudantes e do seu professor, em 1992,
poderia estar livre da pena de morte. em La Cantuta e por, no mesmo ano, ter
A Bielorrússia, país da ex-União Sovié- mandado sequestrar um jornalista e um
tica independente desde 1991, continua empresário. A condenação é um marco
a ser o único país da Europa a executar PERU histórico na luta contra a impunidade na
pessoas como forma de punição pe- América Latina.
FINALMENTE FEITA JUSTIÇA
los crimes (alegadamente) cometidos.

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10 Notícias • Amnistia Internacional

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Notícias • Amnistia Internacional 11

DOSSIER
Campanha - “Exija Dignidade”
Chegaram tempos de mudança. No ano 2000, os Estados das Nações Unidas definiram oito Objectivos
de Desenvolvimento do Milénio, mas poucos progressos foram registados. Neste ano de 2009, a Amnistia
Internacional propõe uma nova estratégia

© Genna Naccache
Na favela Rocinha, no Brasil, um casal sai com o filho de casa enquanto se desenrola uma operação policial, que já se tornou rotina no bairro.

O mapa mundo que apresentamos nas Um apelo que dá nome àquela que é a ocorrer em muitos Estados e que, acr-
próximas duas páginas é esclarecedor. maior Campanha alguma vez lançada editamos, ajudam a perpetuar a pobreza
Nove anos depois de terem sido definidos pela Amnistia Internacional, que tem no mundo.
os oito Objectivos de Desenvolvimento também um dos objectivos mais am-
Para a Amnistia Internacional, acabar
do Milénio, quando os Estados de todo o biciosos de sempre: quebrar o ciclo de
com este flagelo exige quebrar o ciclo que
mundo perceberam que era fundamen- pobreza, que é também um dos Objecti-
o rodeia e mantém, ou seja, solucionar
tal unir esforços e tornar o planeta Terra vos de Desenvolvimento do Milénio. Para
as violações aos direitos humanos que
mais equitativo, continuamos com uma tal, não iremos actuar no terreno, como
estão na sua origem e são perpetuadas
geografia extremamente desigual. Na o fazem dezenas de outras organizações
por decisores políticos e outros actores
verdade, vários estudos revelam que o não governamentais, chamadas de de-
internacionais. Situações que fogem ao
mundo está hoje mais desproporcional, senvolvimento. A Amnistia Internacional
controle das próprias vítimas de pobreza
com os países mais ricos a distancia- vai aliar-se a elas, mas vai lutar com as
e que fazem com que alguém que vive
rem-se dos mais pobres. Por tudo isto, a suas próprias “armas”: fazendo lobby,
com um dólar por dia dificilmente deixe
Amnistia Internacional traçou uma nova junto dos Governos e de outros actores
de ser pobre. Em primeiro lugar, porque
estratégia para os próximos seis anos e internacionais, como as empresas pri-
não tem recursos. Não tem água potável
vai “gritar”, já partir do próximo dia 28 vadas; e denunciando violações graves
que lhe dê saúde ou electricidade que lhe
de Maio: EXIJA DIGNIDADE ! aos direitos humanos que continuam a
permita estudar. E não tem, para além

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12 Notícias • Amnistia Internacional

disso, uma sociedade que o apoie. Vive à todos dependem de decisões às quais a participação activa das populações
margem, excluído, sem acesso à justiça estes não têm acesso. Por isso, a Amnis- nas decisões políticas que afectam as
ou à informação, ferramentas essenciais tia Internacional vai pressionar para que suas vidas e, assim, criar as condições
para exigir os seus direitos. Além disso, sejam adoptadas decisões que acabem para que sejam tomadas decisões con-
a maioria dos pobres vive uma insegu- com a pobreza. Porque erradicá-la não trárias àquelas que directa, ou remota-
rança diária. Considerados marginais depende só de ensinar as populações a mente, geraram a pobreza. Vamos juntos
pelas autoridades, ficam entregues aos pescarem. É preciso ir mais longe e: res- exigir um mundo diferente. Vamos “Exi-
grupos criminosos que se movimentam ponsabilizar os que cometem os abusos gir Dignidade”, para que em 2015, meta
nas zonas onde habitam. aos direitos humanos que perpetuam a definida pelos Objectivos de Desenvolvi-
pobreza; facilitar o acesso dos pobres aos mento do Milénio, a geografia mundial
Falta de recursos, exclusão social e in-
recursos de que precisam para lutarem seja bem diferente da que mostramos
segurança são então três aspectos de
pelos seus próprios direitos; e encorajar em seguida.
uma mesma realidade: a dos pobres. E

O DESENVOLVIMENTO HUMANO NO MUNDO


Nove anos depois de terem sido delineados os oito Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e de os Estados terem assumido respon-
sabilidades ao nível da erradicação da pobreza, do acesso universal à educação primária, de cuidados básicos de saúde para todas
as pessoas, entre outros factores de desenvolvimento humano, esta continua a ser a realidade do mundo em que vivemos

CONDIÇÕES DE HABITABILIDADE
População com acesso a saneamento adequado1 (2004)

Chade • 9%
Eritreia • 9%
Burquina Faso • 13%
Etiópia • 13%
Níger • 13%
Camboja • 17%
Gana • 18%
Guiné • 18%

População com acesso a fonte de água adequada1


(2004)

Etiópia • 22%
Afeganistão • 39%
Papua Nova Guiné • 39%
Camboja • 41%
Chade • 42%
Guiné Equatorial • 43%
Moçambique • 43%

ACESSO À EDUCAÇÃO
Crianças que completam a educação População que completa o ensino secundário 1
primária2 (2000-2007) (2005)

Republica Centro Africana • 24% Moçambique • 7%


Burquina Faso • 31% Níger • 8%
Chade • 31% Guiné-Bissau • 9%
Níger • 33% Burquina Faso • 11%
Afeganistão • 38% Chade • 11%
República Democrática do Congo • 38% Mauritânia • 15%
Moçambique • 42% Uganda • 15%

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Notícias • Amnistia Internacional 13

POBREZA E FOME CUIDADOS BÁSICOS DE SAÚDE


População abaixo do limiar da Taxa de Mortalidade Infantil, entre Taxa de Mortalidade Maternal,
pobreza1 crianças com menos de 5 anos2 na gravidez ou durante o parto2
(Com menos de $1 dólar americano por dia (por cada 1.000 nascimentos - 2006) (por cada 100.000 nascimentos - 2005)
1990-2005)
Serra Leoa • 270 Serra Leoa • 2.100
Nigéria • 70,8% Angola • 260 Afeganistão • 1.800
República Centro Africana • 66,6% Níger • 253 Níger • 1.800
Zâmbia • 63,8% Libéria • 235 Chade • 1.500
Madagáscar • 61% Mali • 217 Angola • 1.400
Níger • 60,6% Chade • 209 Somália • 1.400
Ruanda • 60,3% República Democrática do Congo • 205 Ruanda • 1.300
Burquina Faso • 204
Crianças com menos de 5 anos mal
nutridas2 (2000-2006)

Índia • 44%
LEGENDA
Iémen • 41%
Níger • 40% Elevado Nível de Desenvolvimento Humano
Bangladesh • 39%
Nepal • 39% Médido Nível de Desenvolvimento Humano
Sudão • 38% Baixo Nível de Desenvolvimento Humano

1 Dados retirados do Human Development Report 2007/2008, publicado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. Acessível em http://hdr.undp.org/en/
2 Dados retirados do Atlas Online do Índice de Desenvolvimento Humanos, elaborado pelo Banco Mundial. Acessível em http://devdata.worldbank.org/atlas-mdg/

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14 Notícias • Amnistia Internacional

MAIS DIREITOS HUMANOS = MENOS POBREZA

© Mark Henley_PANOS PICTURES


Um rapaz sai para ir buscar água, num dos maiores bairros degradados da Índia.

Face ao mundo desigual que os mapas acesso das populações aos recursos que pobreza” a três problemas de direitos
continuam a apresentar quando estu- continuam a faltar para que mudem de humanos que muito têm contribuído para
damos o índice de desenvolvimento vida e assegurar a sua participação nos a persistência de um mundo desigual: a
humano, para a Amnistia Internacional processos de decisão política. Só mudan- mortalidade maternal, uma vez que em
está na altura de mudar de estratégia, do estas realidades, que “encurralam” a muitos países as mulheres são a fonte de
para que até 2015 se consigam, efecti- pobreza, é possível contribuir para a sua sustento da sociedade; os bairros degra-
vamente, alcançar os oito Objectivos de erradicação. dados, que são uma das faces mais
Desenvolvimento do Milénio e erradicar a visíveis da pobreza; e a impunidade na
Nesta fase de arranque da campanha,
pobreza do mundo. A perspectiva tem de qual muitas empresas privadas operam
agendada para o próximo dia 28 de Maio,
ser a dos direitos humanos. E os objecti- e que tem contribuído para um desenvol-
a Amnistia Internacional vai começar por
vos a alcançar são três: responsabilizar vimento muito pouco sustentável. Saiba
aplicar a sua “estratégia de combate à
os que violam estes direitos, garantir o mais. Indigne-se. “Exija Dignidade”!

MORTALIDADE tivessem tido acesso, no momento certo,


a assistência médica adequada. É esta
26 mulheres grávidas. Na base desta
discrepância está a pobreza, que afecta
MATERNAL a realidade a que se dá o nome de mor-
talidade maternal e à qual a Amnistia In-
estas mulheres e os países onde vivem.

MORRER DEMASIADO CEDO Para que se perceba a ligação, refira-se


ternacional se vai dedicar, nos próximos
que em muitos Estados só há hospitais
A cada minuto que passa há uma mulher anos, com maior atenção.
nas grandes cidades, quando milhares
que morre de complicações relacionadas Um dos números mais esclarecedores de pessoas vivem nas zonas rurais. As
com a gravidez ou o parto. Um flagelo no que diz respeito a este flagelo é o que estradas estão frequentemente intransi-
que podia ser prevenido indica que 95% das mulheres que mor- táveis e não há ambulâncias para fazer
A cada ano que passa, mais de meio rem por complicações relacionadas com o transporte. Para estas populações o bi-
milhão de mulheres morrem por compli- a gravidez ou o parto habitam em países lhete de autocarro é, só por si, um preço
cações relacionadas com a gravidez ou em desenvolvimento. Nos chamados Es- demasiado elevado. Obstáculos que, ao
com o parto. As condições em que pere- tados Ocidentais, as estatísticas aler- longo dos anos, têm distanciado os mais
cem variam: sozinhas, em casa, quando tam que uma em cada 25.000 mulheres pobres dos cuidados médicos básicos.
procuram cuidados médicos, ou já nas pode falecer por motivos relacionados
No caso da mortalidade maternal, o pro-
camas de hospital. Para todas foi de- com a maternidade. Na África Subsari-
blema é ainda mais grave se pensarmos
masiado tarde. Hoje estariam vivas, se ana o risco de morte é de uma em cada
que a morte destas mães significa, em

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Notícias • Amnistia Internacional 15

muitas sociedades, o fim do sustento de


famílias inteiras. Segundo a Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e
a Agricultura, as mulheres produzem en-
tre 60 a 80% da alimentação nos países
em desenvolvimento. Assim, assegurar o
fim da mortalidade maternal é essencial
quando se procura erradicar a pobreza
do mundo.

DIREITOS HUMANOS VIOLADOS


Combater a mortalidade maternal exige
pensar nas suas causas e pôr fim às vio-
lações aos direitos humanos que estão
na sua génese.
Um dos principais é o direito à vida, que
continua a não ser igual para homens e
mulheres. Um segundo é o direito das
mulheres determinarem quando en-
gravidar. Segundo as agências das Na-
ções Unidas, uma em cada três mortes
relacionadas com o parto ou a gravidez © Aubrey Wade_PANOS PICTURES
podiam ser prevenidas se as mulheres Uma mãe aguarda a chegada de uma enfermeira numa clínica local na República Democrática do Congo.
pudessem decidir sobre a sua própria
sexualidade. Isto explica-se, desde logo,
enquanto houver Estados que proíbem de aborto. Uma meta possível se houver
com os mais de 19 milhões de abortos
o divórcio ou onde o acesso à educação vontade política, como provaram, nos
realizados todos os anos sem segurança,
e ao emprego é desigual, pois isto torna últimos anos, as Honduras e o Bangla-
que causam a morte a 68.000 mulheres.
as mulheres dependentes dos maridos. desh. Segundo as Nações Unidas, reduzir
Além disso, 200 milhões, em todo o mun- Pouco também pode ser alterado se con- a mortalidade maternal em 75% até
do, continuam a não ter acesso a méto- tinuarem a existir tradições como a mu- ao ano 2015 custa seis mil milhões de
dos contraceptivos. É o que acontece às tilação genital feminina, que acarretam dólares americanos por ano. Uma quan-
raparigas que, em alguns Estados, são graves riscos. Formas de violação dos tia irrisória se pensarmos na partilha de
obrigadas a casar demasiado cedo com direitos humanos que continuam a tra- custos e nas vidas femininas que seriam
homens muito mais velhos. E às mulheres çar o destino de milhares de mulheres em poupadas e que iriam permitir o progres-
que, em muitos outros países, não podem várias partes do mundo e das sociedades so nos países em desenvolvimento, uma
decidir sobre a sua vida sexual, sendo os que dependem delas para o progresso. vez que as mulheres têm, efectivamente,
próprios serviços médicos a negarem o um papel preponderante.
acesso aos métodos contraceptivos se
Um outro passo importante para o fu-
não houver permissão do marido. Mesmo OS PRÓXIMOS PASSOS turo é assegurar que todas as mulheres
quando esta existe, há sociedades onde o
As medidas necessárias para salvar as possam controlar as suas vidas sexuais
seu uso não é, de todo, aprovado.
vidas de milhares de mulheres que mor- e reprodutivas, tendo acesso a métodos
Factores potenciadores da mortalidade rem todos os anos são conhecidas há contraceptivos e a planeamento familiar.
maternal aos quais é preciso somar a mais de seis décadas. Segundo a Orga- Uma realidade que exige mudanças pro-
falta de cuidados médicos adequados. nização Mundial de Saúde, 73% da mor- fundas em muitas sociedades, mas para
Uma realidade que, por vezes, se deve à talidade maternal resulta de seis cau- a qual muito contribuiria os Governos
discriminação, seja de género, pois em sas principais: infecção, hemorragias, permitirem a participação das mulheres
alguns Estados as mulheres são vistas eclampsia e emergências associadas à na criação de políticas e programas
pelos médicos como ignorantes, seja por pressão alta, ao excesso de horas de tra- públicos que lhes são dirigidos. Uma
motivos raciais ou étnicos, pois as mino- balho e a abortos não seguros. Situações última medida imprescindível quando
rias nem sempre têm acesso igualitário que podiam ser facilmente prevenidas. se procura um futuro diferente em ter-
à saúde. Noutros casos, a violação do di- mos de mortalidade maternal é ter em
Tendo isto em conta, é essencial exigir
reito à assistência médica deriva sim- conta as necessidades dos profissionais
aos Governos que garantam nascimen-
plesmente do facto de não existirem no de saúde, garantindo que têm condições
tos assistidos por profissionais de saúde
país serviços públicos de qualidade. de trabalho dignas e seguras, bem como
e serviços de obstetrícia de qualidade
Mesmo que isto melhore, nada mudará para toda a população, mesmo em casos salários justos.

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16 Notícias • Amnistia Internacional

A Amnistia Internacional promete nos os bairros degradados não são um pro- comummente justificadas com o facto
próximos anos promover estas boas blema exclusivo dos países em desen- destas instalações serem ilegais. Há,
práticas. Mas cabe a cada um de nós volvimento. Para que se perceba como no entanto, muitos outros países que
pressionar os actores internacionais para está alastrado pelo mundo, refiram-se aparentemente disponibilizam serviços
que ponham fim às violações aos direitos os bairros de comunidades ciganas na básicos a toda a sociedade, mas que os
humanos que continuam a matar, todos Europa, em países como a Roménia e a colocam em locais inacessíveis para as
os anos, milhares de mães. Esteja atento. Eslováquia, ou as zonas povoadas por populações mais pobres.
Indigne-se. “Exija Dignidade”! indígenas no Canadá e na Austrália, ou
O isolamento é, aliás, uma das carac-
ainda os bairros pobres dos Estados Uni-
terísticas mais marcantes dos bairros
dos da América, como Nova Orleães, que
degradados, seja para o fornecimento
em 2005 chocou o mundo. Instalações
de bens ou serviços, ou para questões
BAIRROS informais onde vivem pessoas privadas
de recursos, excluídas da sociedade e in-
de segurança. Os seus habitantes vivem

DEGRADADOS seguras num território onde quem dita as


leis são as actividades criminosas. Obs-
ameaças diárias. Desde logo, pelos gru-
pos criminosos que proliferam nestas
OS DIREITOS HUMANOS DEVIAM zonas, que rivalizam e utilizam os habi-
táculos que as impedem de saírem do
MORAR AQUI tantes para múltiplos abusos aos seus
ciclo de pobreza em que se encontram.
direitos humanos, obrigando-os até a
Há, em todo o mundo, mil milhões de entrar no mundo do crime. Estes, por sua
pessoas a viver em bairros degradado. vez, não têm opção, pois em alguns Es-
Uma realidade que tem urgentemente de DIREITOS HUMANOS VIOLADOS
tados as autoridades policiais só entram
ser alterada Combater a pobreza no mundo passa nos bairros degradados para aumenta-
Em todo o mundo, há cerca de 200.000 também por acabar com os bairros rem a violência. Exemplo esclarecedor
comunidades a que podemos chamar degradados, ou melhor, por resolver as é o das favelas brasileiras, conhecidas
bairros degradados, ou guetos, ou bairros violações aos direitos humanos que se pelas incursões policiais nas quais to-
de lata, ou estabelecimentos informais, perpetuam no seu interior. dos os habitantes são tratados (ou mal
ou, como dizem os brasileiros, favelas. Desde logo, a falta de recursos e de tratados) como criminosos.
Seja qual for a denominação, a realidade condições de vida, pois todos os ci- Noutros Estados, como em Angola ou no
é sempre a mesma: habitações degrada- dadãos têm direito a serviços básicos, Camboja, é frequente a polícia entrar
das, falta de saneamento básico, água como o saneamento, a água potável, nas instalações informais munida de
não potável, serviços de electricidade de os cuidados de saúde e a educação. Há retroescavadoras, procurando expulsar
fraca qualidade, sobrelotação e níveis Estados que negam estes recursos só a os moradores para erguer luxuosos pro-
elevados de violência. Realidades que determinadas raças ou etnias, outros jectos de reconstrução urbanística. Os
caracterizam os bairros degradados e restringem o acesso a todos os habi- mais afortunados são colocados em zo-
às quais a Amnistia Internacional se vai tantes dos bairros degradados. Atitudes nas periféricas, longe das escolas que as
dedicar com mais atenção nos próximos
anos, porque se a pobreza é hoje um dos
problemas mais graves do mundo, os
estabelecimentos informais são a sua
forma mais visível de manifestação.
Segundo estimativas de várias organiza-
ções, há hoje pelo menos mil milhões de
pessoas a viverem nas condições acima
descritas. Mulheres, homens e crianças
que nasceram em bairros degradados,
mas procuram, no dia-a-dia, manter a
normalidade num ambiente onde são al-
vos fáceis para as mais variadas viola-
ções aos direitos humanos. As previsões
indicam ainda que em 2030 serão já
dois mil milhões os habitantes dos bair-
ros degradados. Números que crescem à
medida que as cidades se desenvolvem
e se desinveste nas zonas rurais, que
os conflitos armados se propagam e os
desastres naturais se tornam mais fre-
quentes. © Amnistia Internacional
Ao contrário da mortalidade maternal, Uma das muitas crianças que vivem nos bairros degradados do Camboja.

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Notícias • Amnistia Internacional 17

crianças frequentavam e dos empregos


dos seus pais, porém, o mais comum é RESPONSABILIDADE
os desalojados ficarem entregues à sua
sorte. Para estes, e para todos os outros
EMPRESARIAL
habitantes dos bairros degradados, a É TEMPO DE PÔR FIM À FALTA DE RESPONSABILIZAÇÃO
justiça não é solução, pois está inaces- A globalização deu às empresas um poder e uma influência sem precedentes, abrindo-
sível. Como vimos, também não podem -lhes caminho para terrenos promissores. Uma oportunidade que poderia ter contribuído
recorrer às autoridades policiais e, me- para o fim da pobreza, mas que tem ajudado a acentuá-la
nos ainda, aos decisores políticos. Estão
assim “encurralados” no ciclo de po-
breza onde nasceram.

OS PRÓXIMOS PASSOS
Um futuro sem pobreza exige acabar com
todas as violações aos direitos humanos
que limitam as vidas dos habitantes dos
bairros degradados.
Em primeiro lugar, é urgente apelar
aos Governos para que assegurem o
acesso equitativo de todas as pessoas
aos serviços que deveriam ser públicos,
como sejam: educação primária, cuida-
dos básicos de saúde, acesso a água po-
© Maude Dorr
tável e a resolução das mais prementes
carências alimentares. Uma exigên-
cia fundamental numa altura em que Fábrica da Union Carbride, de onde em 1984 um acidente libertou toneladas de químicos mortíferos, em Bhopal, na Índia. Entre 7 a 10
mil pessoas morreram de imediato e muitas mais ficaram afectadas.
muitos Governos começam a privatizar
estes serviços, demitindo-se ainda do No Gana, uma ruptura numa mina da e influência junto de muitos Governos.
seu dever de fiscalizar se estão a chegar Omai Gold Mines Ltd. contaminou um Uma realidade que, como referimos, podia
a todos os cidadãos. dos maiores rios do país, afectando o ajudar a solucionar a pobreza, tivesse a
Também essencial quando se almeja um ambiente e as populações. Não houve liberalização sido acompanhada da res-
futuro diferente para os mais pobres é compensação para as vítimas, tal como ponsabilização social dos investidores.
acabar com os desalojamentos forçados. tem acontecido em muitos países onde Pelo contrário, temos assistido a desres-
A solução para os problemas urbanís- operam empresas multinacionais. A sua peitos vários aos direitos humanos e a
ticos das “novas cidades”, que estão a actividade surge repleta de esperança, uma impunidade que os tem permitido.
ser erguidas em várias partes do mundo, com a criação de postos de trabalho e Isto afecta, sobretudo e uma vez mais,
não pode anular os direitos humanos das a melhoria da economia, que possibilita os mais pobres.
pessoas que aí habitavam. Mesmo quan- serviços públicos de qualidade. No en-
A título de exemplo, refira-se que, para
do desalojar é o único recurso disponível, tanto, a realidade tem sido outra, com
que muitas empresas desenvolvam a
estes têm de ser realizados nos termos dezenas de empresas a violarem os di-
sua actividade de extracção de recur-
da lei e com a garantia de alternativa reitos humanos dos habitantes e os Go-
sos naturais, centenas de pessoas têm
viável para os moradores, bem como uma vernos a renegarem a sua missão de os
sido deslocadas à força para terrenos
compensação financeira justa. Para tudo proteger. Tudo isto em nome de negócios
longínquos, perdendo as suas raízes e as
isto, é essencial o diálogo. Os habitantes rentáveis, mas pouco transparentes. É
suas formas tradicionais de subsistên-
locais têm de ter um papel activo nos a esta actividade empresarial, que tem
cia. Mesmo quando não são desaloja-
processos de tomada de decisão políti- ajudado a acentuar a pobreza, que a
das, acabam, muitas vezes, por ter de
cos que os afectam tão directamente. Amnistia Internacional vai dedicar, nos
abandonar as suas terras, seja porque a
próximos anos, particular atenção.
A Amnistia Internacional promete nos indústria criada ergue em seu redor ci-
próximos anos promover estas boas As principais preocupações com a ac- dades que destroem os recursos naturais,
práticas. Mas cabe a cada um de nós tividade das empresas prendem-se com seja porque estes se esgotaram com a
pressionar os actores internacionais para a extracção de recursos naturais em exploração. Também comum é ocorrerem
que ponham fim às violações aos direitos países em desenvolvimento. Na maioria desastres, como o do Gana.
humanos que continuam a perpetuar a das vezes, as violações aos direitos dos
Para além destes problemas, a activi-
pobreza nos bairros degradados. Esteja habitantes são cometidas por privados
dade das empresas pode transformar
atento. Indigne-se. “Exija Dignidade”! estrangeiros que, com a globalização e a
negativamente a realidade social lo-
abertura dos mercados, ganharam poder

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18 Notícias • Amnistia Internacional

cal. Primeiro, porque as indústrias de OS PRÓXIMOS PASSOS actividades de empresas estrangeiras


extracção de recursos costumam exigir nas suas terras. É fundamental dialogar,
mão-de-obra essencialmente mascu- As violações aos direitos humanos per- prevenindo assim muitos problemas so-
lina, que tem de vir de vários locais, o petuadas por empresas privadas são de ciais. Além disso, as populações têm de
que frequentemente contribui para pro- fácil solução, se houver vontade política ter acesso à justiça, para que sintam que
liferar a violência sexual e as doenças e for dado poder às populações para exi- os seus direitos estão garantidos e para
sexualmente transmissíveis. Além disso, girem justiça. que, quando tal não acontece, possam
tem-se tornado clara a ligação entre a Isto exige, primeiro, que os Governos recorrer aos Tribunais e exigir compen-
actividade de algumas empresas e os assumam as suas responsabilidades e sações.
conflitos armados que incendeiam os ter- controlem a actividade dos privados que Por último, é fundamental que algumas
ritórios onde operam. Assim se percebe o operam no seu território, seja na fase ini- empresas mudem radicalmente a sua
contributo dos privados para perpetuar a cial – analisando os projectos propostos forma de actuação e a percepção que
pobreza no mundo. não apenas pelo seu lucro, mas pelo im- têm dos Estados em desenvolvimento,
pacto social e ambiental que poderão ter criando projectos que visem não apenas
–, na fase de implementação – fiscali- o lucro desenfreado, mas que promovam
DIREITOS HUMANOS VIOLADOS zando se estão a ser cumpridos os com- uma acção sustentável. Os privados po-
Combater a pobreza exige monitorizar o promissos assumidos e se as populações dem, na verdade, contribuir para erradi-
trabalho das empresas multinacionais e estão a ser afectadas –, e, quando são car a pobreza do mundo, ajudando os Es-
as violações aos direitos humanos que cometidos abusos aos direitos humanos, tados e as populações a carregarem este
frequentemente cometem. responsabilizando as empresas e exigin- “fardo” que tem sido demasiado pesado
do compensações para as vítimas. Me- para apenas um ou dois actores.
Por tudo o que foi referido, são claros os didas que poderão implicar, em alguns
abusos que podem advir da actividade Estados, a criação de enquadramentos A Amnistia Internacional promete, nos
das empresas, que visam sempre as legais mais fortes. Acrescente-se que próximos anos, promover boas práticas
populações locais. Uma realidade que este papel activo dos Governos se torna empresariais. Mas cabe a cada um de
tem deixado centenas de pessoas depen- ainda mais importante em relação aos nós pressionar os actores internacionais
dentes dos serviços públicos do Estado. serviços públicos privatizados. para que ponham fim às violações aos
Uma situação que se agrava se pen- direitos humanos que continuam a per-
sarmos que muitos Governos têm vindo Para que o futuro possa ser diferente, é petuar a pobreza em nome de negócios
a privatizar estes serviços em nome da também preciso que as populações se- muito lucrativos, para muito poucos.
eficiência económica e que tal não é fis- jam ouvidas pelos Governos e participem Esteja atento. Indigne-se.“Exija Digni-
calizado, sendo comum estes não chega- em todas as fases de decisão, planea- dade”!
rem, deliberadamente, a determinadas mento, implementação e avaliação das
franjas da sociedade. Era o que fazia a
empresa Dar es Salaam, por exemplo, na
Tanzânia, pois fornecia água às popula-
ções mas não abastecia as mais pobres.
Violações aos direitos humanos perante
as quais os Governos, comummente,
cruzam os braços, o que resulta numa
total impunidade para as empresas que
operam no seu território. As populações,
por sua vez, pouco ou nada podem fazer,
pois normalmente os visados estão ex-
cluídos da sociedade. Não têm, primeiro,
recursos para exigirem justiça. Além
disso, esta está, em muitos países, mi-
nada pela corrupção, pelos interesses e
por sistemas legais ineficazes. Segundo
as Nações Unidas, em 2008 quase dois
terços da população mundial não tinha
acesso efectivo à justiça. Além disso, a
grande maioria fica também excluída
dos processos de decisão políticos que
permitem a entrada de empresas mul-
tinacionais nas suas terras. Factos que
tornam impossível estas pessoas muda- © Kadir van Lohuizen
rem a realidade que lhes é imposta. Gás explode numa exploração de petróleo no Niger Delta, na Nigéria, em Fevereiro de 2008.

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Notícias • Amnistia Internacional 19

A ESTRATÉGIA cas que afectam as suas vidas.


Tudo isto, reforce-se, vai ser exigido em
infantil e materna; eliminar do Planeta

EM PORTUGAL Portugal e no estrangeiro, porque vive-


mos num mundo global, onde o simples
doenças graves; conseguir um mundo
mais sustentável e alcançar uma parce-
ria global.
bater de asas de uma borboleta pode
As temáticas referidas nas páginas an- causar um tufão do outro lado do mundo. A parceria com a REAPN
teriores – a mortalidade maternal, os Contamos também consigo. Esteja aten- A Amnistia Internacional Portugal asso-
bairros degradados e a responsabilidade to. Indigne-se. “Exija Dignidade”! ciou-se à organização não governamen-
social das empresas – são as três áreas tal para o desenvolvimento REAPN-Rede
de actuação da Amnistia Internacional Europeia Anti-Pobreza, que tem quase
OS PRIMEIROS PASSOS vinte anos de experiência a lidar com
nesta fase de arranque da Campanha
global em nome da Dignidade Humana. Nesta fase inicial da Campanha da Di- a pobreza em Portugal. Juntos vamos
A secção portuguesa da Amnistia Inter- gnidade da Amnistia Internacional, a realizar um estudo de opinião que visa
nacional vai acompanhar de perto estas secção portuguesa começou por esta- traçar o retrato da sociedade portugue-
realidades internacionais, mas vai tam- belecer parcerias com três entidades es- sa e perceber quais os seus problemas
bém actuar em território nacional, porque pecializadas em assuntos de pobreza em mais graves, quais as populações mais
erradicar a pobreza do mundo exige uma Portugal. Com a ajuda destes parceiros, afectadas, quais as violações aos direi-
acção em todos os países, mesmo nos esperamos desenvolver projectos que tos humanos na origem destas situações,
chamados Ocidentais, dos quais faz ajudem a erradicar definitivamente este entre muitos outros parâmetros que per-
parte Portugal. A estes é preciso exigir flagelo de todo o mundo. mitirão traçar os próximos passos desta
exactamente o mesmo que vai ser exigido Campanha da Dignidade.
A parceria com a Objectivo 2015
nos Estados considerados em desenvol- A Amnistia Internacional Portugal asso- A parceria com o Instituto Marquês de
vimento. Primeiro, responsabilização dos ciou-se à organização Objectivo 2015, Valle Flor
vários actores, Governo e empresas, pelos que em Portugal desenvolve a Cam- A Amnistia Internacional Portugal asso-

© Ok Tedi Mine CMCA Review


Uma mina de cobre na Papua Nova Guiné, que descarregava para o rio toneladas de lixo industrial.

abusos aos direitos humanos cometidos panha do Milénio das Nações Unidas, ciou-se ao Instituto Marquês de Valle
no país ou nos territórios onde actuam, com o objectivo de pressionar os Gover- Flôr, que há mais de 50 anos se dedica
seja ao nível dos negócios ou em termos nos e de sensibilizar a opinião pública às populações mais desfavorecidas nos
de cooperação e ajuda humanitária. Em para os oito Objectivos de Desenvolvi- países de língua oficial portuguesa e que
segundo lugar, assegurar que os mais mento do Milénio. Isto porque muitas tem uma vasta experiência na análise de
pobres, em Portugal e no mundo, tenham pessoas continuam a não saber que os políticas europeias e nacionais. Juntos
acesso aos recursos necessários para Estados das Nações Unidas assumiram vamos exigir dos Governos maior respon-
saírem do ciclo de pobreza em que se en- o compromisso de, até 2015, erradicar sabilidade e coerência nas suas obriga-
contram. Por último, encorajar e permitir a pobreza do mundo; adquirir ensino ções e nas decisões tomadas em relação
que todas as pessoas participem activa- primário universal; alcançar a igualdade à pobreza e aos direitos humanos.
mente nas decisões políticas e económi- de género; acabar com as mortalidades

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20 Notícias • Amnistia Internacional

Nesta edição do “Notícias da Amnistia Internacional Portugal”, tornamos a apresentar uma análise da
situação financeira da secção portuguesa da organização
Por Departamento de Angariação de Fundos e Financeiro

SITUAÇÃO ECONÓMICA E O resultado final do passado ano de 2008 Fruto da boa situação financeira da Sec-
FINANCEIRA foi de €110.713,62, pois ao saldo apre- ção, estão em dia todos os pagamentos
sentado na Tabela 1 (€123.337,79) devem a fornecedores e ao Estado.
Após apresentação, na edição ante- retirar-se €5.861,62 referentes a amor-
rior da revista, dos dados referentes aos tizações, €6.464,27 correspondentes ao RECEITAS € 698.670,90
primeiros oito meses de 2008, são agora saldo da conta de proveitos e custos fi-
apresentados os totais do ano, após fecho DESPESAS € 575.333,11
nanceiros e €298,28 relativos ao imposto
da contabilidade da Amnistia Internacio- sobre o rendimento do exercício. SALDO € 123.337,79
nal (AI) Portugal.
TABELA 1 - Receitas e Despesas - 2008

CONSIGNAÇÃO DO IRS AI. Veja como em: www.irs2009amnistia. AMORTIZAÇÃO DO EMPRÉSTIMO


com. A si não custa mesmo nada. DO SECRETARIADO INTERNA-
Como tem sido divulgado, todos os con-
tribuintes podem doar 0,5% do seu IRS à VALOR RECEBIDO PELA AI
CIONAL
AI, sem qualquer custo, uma vez que este 2008 (referente a 2007) € 44.218,36 Na sequência do empréstimo contraído
montante é retirado do valor que ficaria pela AI Portugal ao Secretariado Interna-
2009 (referente a 2008) € 47.742.99
para o Estado. De seguida apresentamos cional (sede da AI, em Londres), no ano de
Nº DE DECLARAÇÕES CORRESPONDENTE
os valores recebidos em 2008 e 2009 2006, no valor de €230.000, foi no pas-
pela secção portuguesa da organização, 2008 (referente a 2007) 1.009
sado mês de Fevereiro feita a amortização
fruto desta consignação do imposto liqui- 2009 (referente a 2008) 1.221 de mais uma parcela do empréstimo, no
dado. Se ainda não fez o seu IRS, não se TABELA 2 - Valores recebidos em 2008 e 2009 referentes aos valor de €75.000.
esqueça, faça também o seu donativo à 0,5% da consignação do IRS.

CONSIGO VAMOS MAIS LONGE excluídas as desistências ou cancela- enquanto apoiantes e activistas.
Evolução de Membros e Apoiantes mentos.
Apesar de se verificar um aumento no
Como sabe, a AI enquanto organização O projecto de angariação de fundos “Face número de apoiantes ao longo dos anos,
não governamental depende sobretudo do to Face”, realizado já em mais de 20 ci- continua a ser uma preocupação cons-
contributo dos seus membros e apoiantes. dades portuguesas, retomou o trabalho no tante a adopção de estratégias de fideliza-
No gráfico 1 pode observar a evolução do passado dia 18 de Fevereiro, tendo sido ção, para que todos os nossos apoiantes e
número de membros e apoiantes entre os já registados 536 novos apoiantes, neste membros possam manter-se informados,
anos de 2005 e 2008. Os números referi- primeiro trimestre do ano. Agradecemos, sentindo-se parte da Al, enquanto agen-
dos na tabela incluem apenas apoiantes e mais uma vez, às mais de 10.000 pes- tes principais do seu crescimento, bem
membros activos, ou seja, que continuam soas que, desde 2006, pararam nas ruas como activistas de direitos humanos.
a fazer o seu donativo, estando por isso para nos ouvir, juntando-se a esta causa,
A AI Portugal continua também a imple-
mentar e testar novas estratégias de an-
12000 gariação de fundos, paralelas ao Projecto
11.378
10000
8.132 “Face to Face”, de modo a garantir a esta-
8000 bilidade financeira quando este terminar,
6000 em 2011. Exemplos deste tipo de acções
4.101
4000 são a campanha com a Payshop, a ade-
1.777
2000 são à Kazoo e a acção com os Magnolia
0 Caffé, a decorrer entre 8 de Abril e 8 de
Ano 2005 Ano 2006 Ano 2007 Ano 2008 Maio em Lisboa.
© Amnistia Internacional Portugal
GRÁFICO 1 - Evolução do número de membros e apoiantes activos entre 2005 e 2008 Procure-nos!

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EM MAIO E JUNHO, É MAIS FÁCIL FAZER UM
DONATIVO À AMNISTIA INTERNACIONAL

BASTA PROCURAR A BANDEIRA


COM O SÍMBOLO payshop

E DOAR 1 EURO OU MAIS À DEFESA E


PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS!

A payshop é um serviço que permite o pagamento de várias contas domésticas, o carregamento de


telemóveis, títulos de transporte, entre outros serviços. Disponível numa rede nacional de mais de
3.600 Agentes (papelarias, tabacarias, quiosques...), este serviço permite também fazer donativos
para a Amnistia Internacional Portugal, nos meses de Maio e Junho. Com o valor mínimo de apenas
1 EUR, o Agente payshop efectua o registo no terminal e como prova do seu donativo, entrega-lhe
um recibo comprovativo (dedutível no IRS/IRC).
Procure o agente payshop mais perto de si em www.payshop.pt. E divulgue pelos seus amigos e
familiares.

A AMNISTIA INTERNACIONAL PORTUGAL, enquanto Organização Não Governamental, depende ex-


clusivamente da ajuda dos seus membros e apoiantes, bem como dos donativos de todos os ac-
tivistas para quem a defesa e a promoção dos direitos humanos são fundamentais num mundo
que é cada vez mais desigual.

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22 Notícias • Amnistia Internacional

Brasil: A Violência no Feminino


A complexa realidade das favelas brasileiras tem um enorme impacto no quotidiano feminino, obrigando
as mulheres a desempenhar papéis muito diferentes daqueles que habitualmente lhes pertencem. São
vidas levadas por entre a violência e a luta, que se repetem de cidade em cidade
Por Sara Coutinho

© Ricardo Moraes © Ricardo Moraes


Os habitantes da favela Complexo do Alemão, no Brasil, protestam contra mais uma incursão policial.

Todos nós julgamos conhecer a realidade TANTAS MULHERES, UMA tes de droga, por se ter recusado a reve-
da violência urbana no Brasil através de HISTÓRIA lar o paradeiro do seu marido.
filmes como Cidade de Deus, Cidade dos
“Eu vivo dopada, tomo remédio de Kátia tranca os seus filhos em casa
Homens ou o mais recente Tropa de Elite.
maluco! Aquele Diazepan para dormir. quando vai para o trabalho. Tem medo
Os filmes não estão errados. Nem nós. No
Porque se estou lúcida não consigo que, se saírem, possam ser seduzidos a
entanto, a realidade das favelas do Bra-
dormir, com medo. Dopada, pego na juntar-se a um qualquer grupo crimino-
sil, principalmente aquela que as mulhe-
minha filha, me jogo no chão para me so. Não pode pagar a ninguém para que
res carregam diariamente, está longe de
proteger do tiroteio, e durmo a noite tome conta deles.
qualquer imaginário. Sente-se na pele e
açambarca toda a espécie de sentimen- toda. Se minha filha perder a chupeta Patrícia vê-se forçada a atravessar a
tos. Porém, no feminino, significa deixar [na rua], ela vai chorar a noite toda, cidade para fazer exames pré-natais.
o medo para trás e, através da impulsão porque deu oito horas da noite eu não São viagens longas, dispendiosas e in-
de uma força desconhecida, lutar por ob- saio mais de casa”. convenientes, mas o centro de saúde lo-
jectivos no dia-a-dia. Joana e Maria têm 14 anos. Quase todos cal fica numa área controlada por uma
os dias passam horas escondidas de- facção rival.
Através de relatos recebidos pela Am-
nistia Internacional sobre a experiência baixo da cama para escapar aos tiroteios Estas são histórias de vida que se repe-
das mulheres com a violência urbana diários entre os grupos criminosos da tem em várias cidades do Brasil e que
brasileira, desfilam histórias de dor e de sua comunidade. ilustram a batalha diária de todas as
luta, lembrando que a brutalidade entre O filho de Bárbara foi morto pela polí- mulheres que, por entre a violência do
os homens também traz consequências cia. Ela chora sempre que conta os anos crime e a da polcia, têm que continuar
profundas e desconcertantes para a vida e os tormentos de tentar fazer com que os as suas vidas e criar os seus filhos em
das mulheres, a partir das quais se dão agentes responsáveis sejam presentes à comunidades socialmente excluídas.
os sucessivos recomeços das famílias justiça. A sua luta ainda continua. Porém, motivadas pelas suas lutas pes-
que se desintegram por morte ou prisão soais, têm vindo a desempenhar um
A filha de Paula foi morta por trafican-
de um pai ou de um filho.

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Notícias • Amnistia Internacional 23

papel preponderante na busca por pro- como meios de apoio. Nas últimas duas tia dos direitos das mulheres. Por exem-
tecção e promoção de direitos e de aces- décadas, assistimos a um aumento si- plo, o Governo de Lula da Silva criou uma
so universal à justiça. gnificativo do número de mulheres a dar Secretaria Especial para a Mulher, que
entrada no sistema prisional, sendo que se espera que, em breve, se transforme
uma grande parcela delas é encarcerada em Ministério, demonstrando claramente
LEI MARIA DA PENHA por problemas relacionados com o tráfico que a administração brasileira tem olha-
Maria da Penha suportou anos de violên- de drogas e porte de arma. do com mais respeito para a problemáti-
cia nas mãos do marido, até ao dia em ca dos direitos da mulher.
A relação entre as mulheres e os trafi-
que este a baleou, deixando-a paraplé- cantes de droga, em comunidades bastan- Está em marcha outra medida conhecida
gica. Apelou para tribunal e apesar de o te controladas por grupos criminosos, é como PRONASCI, um programa nacional
acusado alegar que havia sido atacada muito complexa: elas têm vindo a sentir- para o combate à insegurança. Entre os
durante um assalto, Maria da Penha -se atraídas por eles, na mesma medida principais eixos do Pronasci destacam-
marcou o seu nome naquele que foi um em que permanecem um dos seus alvos se a valorização dos profissionais de
grande passo legal para as mulheres no principais. A tendência observada nos segurança pública; a reestruturação
Brasil: em 2001, a Comissão Interameri- últimos anos mostra que as mulheres e do sistema penitenciário; o combate à
cana de Direitos Humanos, após avaliar as jovens adolescentes, em troca de pro- corrupção policial e o envolvimento da
o seu caso, concluiu que o país falhou tecção e status social, têm vindo a inte- comunidade na prevenção da violência.
no seu dever de proteger as mulheres e grar os gangues criminosos em cada vez Além dos profissionais de segurança
que o mesmo se devia não apenas a uma maior número, funcionando, na maioria pública, o Pronasci tem também como
tendência nítida de tolerância para com dos casos, como correios de droga ou público-alvo jovens dos 15 aos 24 anos
a violência doméstica, mas também à de armas, e até mesmo como moeda de à beira da criminalidade, que se encon-
ineficácia do sistema judicial. Maria da troca em pagamentos de dívidas. tram ou já estiveram em conflito com a
Penha Maia Fernandes ficou imortalizada lei, presos ou egressos do sistema pri-
Uma das centenas de reclusas da peni-
como precedente que levou à criação de sional.
tenciária Talavera Bruce (Rio de Janeiro),
uma lei, em 2006, que responsabiliza o
de 31 anos, condenada por tráfico de A Amnistia Internacional congratula-se
Estado a agir com a devida diligência em
droga, foi atraída pelo status social: “Eu com as iniciativas, no entanto, temos a
casos de violência doméstica.
acho que tudo é a embriaguez do po- convicção profunda que é imperativo que
No entanto, apesar de ter sido um passo der, do sucesso...as meninas acham que tanto a criação do Ministério da Mulher,
inovador, a desconfiança em relação às o cara que tá portando uma arma, ele como a implementação do PRONASCI
instituições do Estado é frequente entre pode dar uma posição para ela de des- sejam medidas, de facto, eficazes e di-
as mulheres, uma vez que os seus direi- taque”. Já Beatriz, com apenas 17 anos reccionadas para a resolução dos pro-
tos são violados pelo próprio sistema de e condenada por porte de arma e assalto blemas das mulheres e não apenas
várias maneiras: através do apoio a práti- à mão armada, terá sido apenas mais meras declarações de intenções. É par-
cas policiais que resultam em execuções uma das muitas meninas e mulheres ticularmente importante que o PRONASCI
extrajudiciais; através da perpetuação de que são escolhidas pelos traficantes por tenha em consideração as diferenças de
um sistema que demonstra que o acesso estarem menos sujeitas a serem revista- género já que, uma vez que as mulheres
à justiça é, além de profundamente das, dada a predominância de agentes fazem parte do problema, não é possível
desigual, praticamente impossível; e do sexo masculino – numa tentativa de deixá-las de fora da solução.
através da condenação dessas mulheres controlar o tráfico de droga, é habitual os
a cenários de privação económica inten- residentes das favelas serem sujeitos a
sa uma vez que estas se vêem forçadas, Saiba mais pelo relatório da Amnistia Inter-
revistas à entrada ou saída dos bairros:
na-cional intitulado “Por Trás do Silêncio:
não podendo deixar os filhos ao cuidado “Eu nunca usei arma. Mulher não...é Experiências de Mulheres com a Violência
de ninguém, a ficar em casa, a viver de mais homem. Ah...mas já vi muita me- Urbana no Brasil”, acessível em www.amnis-
rendimentos claramente insuficientes, nina levar arma para o garoto, para ele tia-internacional.pt (Aprender / Revista da Am-
sem receber apoios do Estado. Segundo roubar. Leva até ele, depois ele faz o nistia Internacional).
as próprias, a vergonha maior é a de te- assalto e depois entrega a ela para ela Assista ainda ao documentário “Elas da Fave-
rem que lutar por uma compensação que la”, disponível em www.youtube.com/user/
levar de volta para a favela”. aiportugal
se revela, na grande maioria das vezes,
meramente simbólica.
ORDEM E PROGRESSO
Apesar de todos os relatos que dão conta
VAMOS APELAR EM NOME DAS
AS MULHERES E O CRIME MULHERES BRASILEIRAS
de vidas difíceis, de perdas várias, de
Infelizmente, a precariedade profunda longas lutas e de algumas escolhas er- É urgente apelar às autoridades brasileiras para
obriga as mulheres, enquanto única que tenham em conta as necessidades especí-
radas, o facto é que, tal como se pode
ficas das mulheres que habitam as violentas
fonte de sustento para toda a família, ler na bandeira do Brasil, o país tem favelas existentes no país. Participe enviando
a adiarem as suas lutas por justiça e a feito progressos no sentido da criação de ao Ministro da Justiça o postal que se encontra
afastarem-se das instituições estatais políticas públicas de protecção e garan- no interior desta revista.

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24 Notícias • Amnistia Internacional

NACIONAL
A Amnistia Internacional Portugal do Interior ao Litoral
No seguimento das remodelações que têm ocorrido no “Notícias da Amnistia Internacional Portugal”, esta
secção da revista sofreu uma mudança. Ao invés de apresentarmos as acções realizadas nos últimos
meses pelos grupos e núcleos da organização, como temos feito, vamos em cada edição conhecer por
dentro duas das estruturas locais da Amnistia Internacional, para que fique a saber como funcionam e
para que conheça as actividades planeadas para os próximos meses. Neste número viajamos do Interior
para o Litoral português

NÚCLEO DE ESTREMOZ nos intervalos das sessões do cinema. O organizar tertúlias mensais, no Atejazz
A ILUMINAR O ALENTEJO Núcleo de Estremoz está também a pre- Café, a fazer sessões sobre direitos hu-
parar actividades para Maio, das quais manos em escolas, procurando sensibili-
podemos já anunciar uma sessão pública zar os mais novos, a enviar cartas-apelo,
para falar sobre liberdade religiosa. para que as violações aos direitos huma-
nos terminem e a divulgar a actividade
Acções de promoção dos direitos humanos
da AI. Tudo, garantem, com um enorme
que o núcleo da AI promove desde Janeiro
orgulho. “Sentimo-nos reconfortados
de 2006, embora a ligação à organização
com a ideia de podermos fazer alguma
exista há mais anos. Na altura, recorda
coisa, por pequena que seja, em defe-
Maria do Céu Pires, coordenadora do nú-
sa dos Direitos Humanos. Sentimo-nos
cleo, “lancei o desafio a colegas e ami-
ligados a uma espécie de «cadeia uni-
gos para criarmos um grupo local da AI
versal» em defesa da dignidade dos
Portugal”. Recorde-se que cada secção
seres humanos”. Até porque, “como
da ONG, nos vários países do mundo, tem
pode um ser humano ser feliz convi-
apenas um ou dois escritórios, pelo que
vendo passivamente com a injustiça, a
o seu trabalho só pode chegar a todas
falta de liberdade, a pobreza e todas as
as pessoas se houver vo-luntários que
© AI Portugal outras situações violadoras dos mais
acreditam no movimento e que queiram
Alguns elementos do Núcleo, na Feira das Escolas. elementares direitos?”.
lutar por (e com) ele no resto do país. Céu
Pires conseguiu descobrir quase uma Se é de Estremoz, junte-se ao Núcleo!
A fechar o mês de Março, o Núcleo de
dezena e meia destas pessoas, a maioria Eles estão à sua espera...
Estremoz da Amnistia Internacional (AI)
professores da Escola Secundária Rai-
Portugal esteve na Feira das Escolas, um
nha Santa Isabel, no entanto, não es-
evento de grande visibilidade na região,
conde que este é o maior obstáculo
para divulgar o trabalho da organização
com que o grupo se depara. “A barreira
não governamental (ONG) de defesa e
mais difícil de vencer é o alheamento
promoção dos direitos humanos. Logo
perante os problemas de que tratamos. FICHA TÉCNICA
depois arregaçou as mangas para pre- Núcleo de Estremoz da AI Portugal
As pessoas estão imersas na rotina do
parar a exposição que antecipa os 28
quotidiano e interiorizam a ideia de que
anos da secção portuguesa da AI (que se COORDENADORA: Maria do Céu Pires
não vale a pena fazer nada...”
celebra a 18 de Maio), patente durante
todo o mês de Abril no Teatro Bernardim Para a coordenadora, este é um mal ge- LOCAL DE ENCONTRO: Escola Secundária
Ribeiro, em Estremoz, por ocasião dos ral, mas sente-se muito no interior por- Rainha Santa Isabel
festejos do 25 de Abril. Nesse mesmo tuguês. “Estremoz é uma cidade par- PERIODICIDADE DAS REUNIÕES: Men-
mês, e no mesmo local, vai ser ainda ticularmente fechada. As pessoas têm sais
possível conhecer alguns dos anúncios pouco espírito de cidadania”, lamenta.
CONTACTO: amnistiaetz@gmail.com ou
publicitários feitos pela AI Portugal ao Uma indiferença que não contagia os 13
213 861 652
longo dos anos, que serão transmitidos elementos do núcleo, que continuam a

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Notícias • Amnistia Internacional 25

NÚCLEO DO OESTE apoio importante, e incansável, tem sido


CALDAS DA RAINHA o da comunicação social local, diz Teresa Pode contactar os Grupos e Núcleos da
A DINAMIZAR O LITORAL Mendes. E aconselha: “todos os grupos Amnistia Internacional através de:
deviam explorar esta área, porque a
imprensa local vive das notícias locais GRUPO LOCAL 01 - Lisboa • (coorde-
e as acções de uma organização como nador/a a designar) lenabreu@yahoo.
com
a AI são desejáveis”.
GRUPO LOCAL 03 - Oeiras • Lucília
No entanto, nem tudo corre sempre sobre José Justino: zjustino@gmail.com
rodas e o Núcleo conta com os universais GRUPO LOCAL 06 - Porto • Virgínia
obstáculos da falta de tempo e das com- Silva: amnistia.porto@gmail.com /
aiporto.blogspot.com
plicações de ordem logística. Situações
GRUPO LOCAL 14 - Lourosa • Valde-
que são contornáveis com o esforço e a mar Mota: aigrupo14@gmail.com
dedicação dos nove membros do núcleo GRUPO LOCAL 16 - Ribatejo Norte •
e com a receptividade da população lo- Yvonne Wolf: yvonne_wolff@adsl.xl.pt
cal. “Parece-me que as pessoas ficam GRUPO LOCAL 18 - Braga • José Luís
orgulhosas por terem um Núcleo da AI Gomes: ai18braga@gmail.com
© AI Portugal
Alguns elementos do Núcleo, durante uma acção de rua. na região Oeste”, refere Teresa Mendes, GRUPO LOCAL 19 - Sintra • Fernando
e acrescenta: “percebe-se que reco- Sousa: ai.grupo19@gmail.com /
Resumir, num parágrafo, todas as activi- grupo19aisp.no.sapo.pt
nhecem o trabalho importantíssimo da GRUPO LOCAL 24 - Viana do Castelo •
dades desenvolvidas nos últimos tempos organização e que gostam da facili-
pelo Núcleo do Oeste da Amnistia Inter- Luís Braga: luismbraga@sapo.pt
dade de nos contactarem aqui tão per- GRUPO LOCAL 32 - Leiria • Maria Fer-
nacional (AI) Portugal, revelou-se tarefa to”. Uma proximidade que existe desde nanda Ruivo: fernanda.ruivo@sapo.pt
impossível. Por isso, e para que se per- Novembro de 2002, apesar do núcleo ter GRUPO LOCAL 33 - Aveiro • Joana
ceba a diversidade de acções que desen- sido renovado há cerca de três anos. Na Valente: amnistiaveiro@gmail.com /
volvem, iremos revelar apenas as agen- altura, recorda a coordenadora, o núcleo amnistiaveiro.blogspot.com
dadas para os tempos mais próximos. Já NÚCLEO DE ALMADA • Marlene Oliveira
estava desactivado e “nós fomos con-
nos próximos dias 18 e 28 de Maio, o Nú- da Conceição: ai.nucleoalmada@
vidados para reactivá-lo, fizemos uns gmail.com / ai-nucleoalmada.blog-
cleo dirige um pedido à população local, dias de formação e pusemos mãos ao spot.com
para que acenda uma vela pela Amnistia trabalho”. Desde então, nunca mais NÚCLEO DO OESTE - Caldas da Rainha
Internacional, assinalando assim o seu pararam...Talvez porque, como refere • Teresa Mendes: ai.nucleooeste@
aniversário. Para Junho estão programa- Cipriano, um dos seus activistas, “sinto- gmail.com / aioeste.blogspot.com
das mais duas actividades, uma pelo Dia -me útil por poder ser o instrumento de NÚCLEO DE CASTELO BRANCO (a de-
Mundial da Criança e outra para simular transmissão de valores tão altos como signar) • ai_nucleo_castelobranco@
o massacre que ocorreu na Praça de Ti- yahoo.com / amnistiacastelobranco.
são a defesa dos direitos humanos”.
ananmen, na China, em 1989. A chegada blogspot.com
da época balnear levará depois o Núcleo Faça o mesmo... Junte-se ao Núcleo do NÚCLEO DE CRIANÇAS - Vila Nova de
Oeste da Amnistia Internacional! Famalicão • Vitória Triães, vitoriatri-
para as movimentadas praias da região, aes@msn.com
onde vai estar com uma tenda que visa NÚCLEO DE ESTREMOZ • Maria do Céu
promover os direitos humanos. Pires: amnistiaetz@gmail.com
FICHA TÉCNICA NÚCLEO DE TORRES VEDRAS • Ana
Ideias, bem originais, que são dinami- Núcleo do Oeste / Caldas da Rainha da Lopes: aitorresvedras@gmail.com /
zadas nas ruas das Caldas da Rainha, AI Portugal blog.comunidades.net/aitorresvedras
Alcobaça, Nazaré, Peniche, Lourinhã, NÚCLEO DE MATOSINHOS • Otília
entre outras. Importa acrescentar que o COORDENADORA: Teresa Mendes Gradim Reisinho: amnistia.matosin-
Núcleo da AI está também muito voltado hos@gmail.com / nucleodematosin-
para o trabalho de educação para os LOCAL DE ENCONTRO: Sede, no centro hos.blogspot.com
direitos humanos, nas escolas da região. das Caldas da Rainha NÚCLEO DE GUIMARÃES • Cristina
“Fazemos todo o tipo de acções que nos PERIODICIDADE DAS REUNIÕES: Sempre Lima: amnistia.guimaraes@gmail.
com
pareçam que vão contribuir para que se que necessário GRUPO SECTORIAL EDUCAÇÃO PARA
criem, na população, hábitos de defesa OS DIREITOS HUMANOS • Fernanda
CONTACTO: ai.nucleooeste@gmail.com
dos direitos humanos”, explica Teresa Sousa: mfpsousa@sapo.pt
ou 213 861 652
Mendes, coordenadora do núcleo. Revela CO-GRUPO DA CHINA • Maria Teresa
ainda que, para poderem fazer tantas Nogueira: nogueiramariateresa@
actividades, é comum estabelecerem gmail.com
Realizou-se a 28 de Março a Assembleia Geral
parcerias, “porque há outras organiza- CO-GRUPO DA PENA DE MORTE • Raul
Ordinária da Amnistia Internacional Portugal, que
ções que têm trabalho feito na defesa Gaião: raullealg@gmail.com
não teria sido possível sem o apoio incondicional
GRUPO DE JURISTAS • Sónia Pires:
dos direitos humanos”, como a rede ex da Escola Superior de Comunicação Social. A AI sonia.c.pires@gmail.com
aequo, a PSP, a Associação Forense e a Portugal agradece. As conclusões e deliberações
Associação Património Histórico. Outro estão disponíveis em http://tinyurl.com/cca3au

boletim AI 3 .indd 25 4/17/09 7:37:05 PM


26 Notícias • Amnistia Internacional

JOVEM
Está também nas vossas mãos
Para a Amnistia Internacional Portugal, os jovens são o futuro e a esperança num mundo melhor.
Acreditamos que podem fazer a diferença e, por isso, temos várias acções e ideias pensadas exclusiva-
mente para vocês. Deixamos aqui algumas delas, para que te juntes à Amnistia Internacional. Vem ser
um defensor dos direitos humanos

A REDE DE ACÇÕES URGENTES é enviar cartas. E a tua assinatura tem


DA AMNISTIA INTERNACIONAL muito poder. Junta-te à Rede de Acções
Urgentes Júnior escrevendo para bo-
letim@amnistia-internacional.pt e pas-
sas a receber todas as informação no teu
email. Contamos contigo!

A AMNISTIA INTERNACIONAL
E AS NOVAS FERRAMENTAS NA
INTERNET

© AI Portugal © AI Portugal

Todos os meses, a Amnistia Interna-


OLÁ A TODOS! cional Portugal envia para o email dos
seus mais jovens activistas um caso da
Por fim, a ReAJ, Rede Jovem da Amnistia vida real, uma história de um rapaz ou
Internacional (AI), começa a ser consoli- de uma rapariga igual a nós, que teve a
dada. Após a reunião inicial de apresen- infelicidade de nascer num país onde a
tação, temos vindo a fazer uma formação violação aos direitos humanos faz parte
para que o campo de acção fique bem do quotidiano.
delimitado e para nos podermos vir a co-
nhecer entre nós. Pretendemos esta- Para que se perceba do que estamos a
belecer uma estrutura definitiva muito falar, refira-se que há adolescentes que
em breve, com a eleição de um Coordena- são condenados à morte por roubarem
dor. Entretanto estamos atarefados a ou, mais simplesmente ainda, pela sua A secção portuguesa da Amnistia In-
preparar o lançamento da ReAJ, que em homossexualidade, que é considerada ternacional aderiu às novas formas de
princípio ocorrerá a 18 de Maio, dia em um crime punível com pena capital em comunicação, na Internet, e juntou-se
que a Amnistia Internacional comemora alguns Estados. Há também, em várias ao Twitter. Agora, é mais fácil e rápido
28 anos em Portugal – certamente uma partes do mundo, dezenas de jovens que receber as nossas notícias e estar a par
ocasião adequada para brindarmos a um são detidos ou julgados injustamente, das nossas actividades, em tempo real.
novo e promissor braço da Amnistia. por crimes que não cometeram ou por Procura-nos em https://twitter.com/am-
Vem daí e junta-te a nós! Lutar pelos di- defenderem os direitos humanos. nistiapt, torna-te nosso seguidor e pas-
reitos humanos está nas mãos da nossa sas a receber, na tua página, todas as
Casos, muitos, que envolvem adoles- informações. Com o Twitter, o movimento
geração! Escreve-nos para redejovem. centes e jovens como tu. Não fiques de
amnistia@gmail.com de promoção e defesa dos direitos huma-
braços cruzados. Tudo o que tens de fazer nos pode ser ainda mais activo!

boletim AI 3 .indd 26 4/17/09 7:37:07 PM


Notícias • Amnistia Internacional 27

A Amnistia Internacional Portugal reúne junta o teu grupo de amigos e faz um


todos os seus amigos no Hi5. Aqui po- vídeo de “Parabéns” para a organização GRUPOS DE ESTUDANTES DA
des ficar a conhecer melhor a organiza- não governamental que há quase cinco AMNISTIA INTERNACIONAL POR-
ção não governamental e algumas das décadas promove e defende os direitos TUGAL
acções e campanhas que estão a ser humanos em todo o mundo. (Coordenadores e emails/blogs)
desenvolvidas. Junta-te a nós. Estamos
Envia depois o teu vídeo, com duração
em http://aiportugal.hi5.com/
máxima de 3 minutos, para boletim@ • GE DO COLÉGIO DE SÃO MIGUEL
amnistia-internacional.pt. Faz isto até (Fátima)
A AI Portugal está também na comuni-
ao dia 24 de Maio e depois vê os vídeos Sandra Maurício: ai_csm@live.com.pt
dade virtual Facebook, à qual só podes • GE DO COLÉGIO DIOCESANO DE NOSSA
em http://www.youtube.com/user/ani-
aceder se estiveres registado. Vem co- SENHORA DA APRESENTAÇÃO (Calvão)
versarioamnistia. Os Parabéns que todos
nhecer o nosso perfil e partilhar informa- Jorge Carvalhais: amnistia@colegiocal-
os activistas cantarem vão ser difundi-
ção. Escreve-nos... Os teus comentários vao.org
dos no site oficial da Amnistia Interna-
são importantes! • GE DA ESCOLA BÁSICA 2,3 NUNO
cional (em www.amnistia-internacional.
GONÇALVES, (Lisboa)
pt) precisamente no dia 28 de Maio.
Iolanda Machado: iolandamachado@
OS VÍDEOS DA AMNISTIA IN- Afina a voz e canta! A Amnistia interna- gmail.com
cional agradece! • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
TERNACIONAL ALBUFEIRA
Os vídeos publicitários da Amnistia Inter- Rosaria Rego: grupoestudantes_esa_
nacional Portugal estão todos disponíveis amnistiainternacional@hotmail.com
em www.youtube.com/user/aiportugal. • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA ANTERO
Destacamos os anúncios da campanha DE QUENTAL (S.Miguel, Açores)
“Não à Discriminação”, os vídeos sobre Fernanda Vicente: antero.quental@mail.
telepac.pt
a “Violência Doméstica”, pelo fim da
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
“Intolerância” e ainda a publicidade que
ERMESINDE
visa alertar para a necessidade de “Con- Maria Arminda Sousa: ai-ese@sapo.pt /
trolar as Armas”. ai-ese.pt/vu
Nesta página do YouTube encontrarás • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA FILIPA DE
ainda vídeos de algumas das activi- VILHENA (Porto)
dades realizadas nos últimos tempos Carla Ferreira: carlafariaferreira@
hotmail.com
pela Amnistia Internacional. Visita-nos © AI Portugal
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA MARIA
e partilha os nossos vídeos com os teus LAMAS (Torres Novas)
amigos. Usa-os para ajudar a alertar o Teresa Gomes: teresinha_mfrg@hotmail.
mundo para questões importantes de com
direitos humanos. Passa a palavra! • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA SANTA
MARIA MAIOR (Viana do Castelo)
Cristina Soares: crisoares@hotmail.com
UMA BOA IDEIA PARA A TUA ES- • GE DA FACULDADE DE DIREITO DE
COLA: CANTAR OS PARABÉNS À LISBOA
AMNISTIA INTERNACIONAL Ana Matos Ferreira: nucleoai.fdul@
gmail.com
• GE DO ISCTE
Ana Monteiro: amnistiaiscte@yahoo.com

© AI Portugal

O “NOTÍCIAS DA AMNISTIA
INTERNACIONAL PORTUGAL”
PEDE DESCULPA...
... ao Nelson Évora, Medalha de Ouro
de Triplo Salto dos Jogos Olímpicos de Se ainda não existe um Grupo da Amnistia
Pequim, porque na última edição da re- Internacional na tua escola, podes ser tu
© AI Portugal vista foi publicada a sua fotografia e um a criá-lo. Nós dizemos como. Escreve-nos
pequeno texto onde, por lapso, a última para l.marques@amnistia.internacio-
No próximo dia 28 de Maio, a Amnistia In- frase ficou cortada. Agradecemos uma nal.pt ou telefona para o 213 861 652 e
ternacional completa 48 anos de existên- vez mais o incentivo que o atleta quis fala com Luísa Marques.
cia. Lançamos-te, por isso, um desafio: deixar a todos os activistas da Amnistia.

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28 Notícias • Amnistia Internacional

BOAS NOTÍCIAS
EUA / GUANTÁNAMO dania inglesa, com 30 anos de idade, as torturas de que foi alvo. “Passei por
BINYAM MOHAMED FOI LIBERTADO detido nas instalações norte-americanas uma experiência que nunca esperei
de Guantánamo desde 2004, por ale- encontrar nem nos meus pesadelos
gadamente conspirar com a Al Qaeda e mais sombrios”. Sente, por isso, que
apoiar materialmente o terrorismo. A boa tem o dever de assegurar que o mesmo
notícia, da libertação de Binyam, che- não acontece a mais ninguém. “Não
gou a 23 de Fevereiro, quando aterrou estou a pedir vingança; apenas que a
no aeroporto da força aérea britânica de verdade seja conhecida, para que mais
Norholt. ninguém no futuro tenha que suportar o
que eu suportei”. A Amnistia Internacio-
Recorde-se que o etíope foi sistemati-
nal pede agora ao governo britânico que
camente torturado e privado de vários
investigue as acusações de maus tratos
outros direitos humanos, razão pela
a Binyam Mohamed e a outros detidos de
qual, à chegada a Inglaterra, não con-
Guantánamo.
seguiu enfrentar a comunicação social.
Não quis deixar, no entanto, de expres- No momento da libertação, foram recor-
sar a sua gratidão a todas as pessoas dados os 240 prisioneiros que continuam
que apelaram em seu nome, numa carta em Guantánamo, muitos deles inocentes
divulgada pelo seu advogado. “Eu sei como Binyam. No seu caso, conseguimos
© Privado que não estaria de regresso a casa, no fazer justiça. Obrigada a todos os que
Na edição de Setembro do “Notícias da Reino Unido, se não fosse pelo apoio enviaram apelos em seu nome. As vossas
Amnistia Internacional Portugal” foi de todos. Na verdade, não estaria vivo cartas fizeram toda a diferença!
lançado um Apelo Mundial em nome de sequer”.
Binyam Mohamed, um etíope de cida- Acrescenta, contudo, que não esquece

BRASIL COLÔMBIA ACTUALIZAÇÃO DE CASOS


KATIA CAMARGO FINALMENTE MAIS REFÉNS LIBERTADOS
EM SEGURANÇA
No início de Fevereiro, as FARC (Forças
Há mais de um ano que a brasileira Ka- Armadas Revolucionárias da Colômbia)
tia Camargo e os seus dois filhos, de 11 libertaram mais seis reféns, como tinha
e 15 anos, estavam a ser perseguidos e sido anunciado no final do ano passado.
ameaçados por pessoas ligadas ao as- Os primeiros foram três polícias, Walter
sassinato do seu marido, Luiz Carlos Guarlizo, Alexis Zapata e Juan Uribe,
Barbon, um jornalista morto em Maio de raptados em 2007. Saiu na mesma altura
2007. Recorde-se que era conhecido por em liberdade um soldado, William Cas-
investigar casos de corrupção e crime tro, capturado há dois anos. Os últimos a © Privado

envolvendo oficiais do Estado. serem entregues ao Comité Internacional


Abranches Penicelo • Na última edição
da Cruz Vermelha foram o antigo gover-
Quatro polícias foram detidos pelo seu do “Notícias da Amnistia Internacional
nador Alan Jara, refém desde 2001, e o
assassinato, mas isso não impediu que Portugal” foi lançado um apelo em nome
ex-deputado regional Sigifredo López.
as ameaças continuassem a Katia e aos de Abranches Penicelo, um moçambicano
seus filhos. Felizmente, no seguimento da Para a Amnistia Internacional, que há assassinado a 14 de Agosto de 2007 por
pressão feita pelos membros e apoiantes vários anos faz campanha contra os um grupo de policiais que a vítima con-
da Amnistia Internacional, no passado desaparecimentos forçados, estas são seguiu identificar, no hospital, minutos
dia 5 de Janeiro foram colocados num muito boas notícias, mas é preciso lem- antes de morrer. Um deles foi entretanto
programa de protecção de testemunhas. brar que dezenas de pessoas continuam detido, a 11 de Janeiro de 2009, acusado
reféns das guerrilhas colombianas. De- do crime. E o caso continua, aparente-
vem todos ser imediatamente libertados. mente, a ser investigado.

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Notícias • Amnistia Internacional 29

APELOS MUNDIAIS
O movimento da Amnistia Internacional começou com a indignação do advogado londrino Peter Benen-
son, perante a notícia de prisão de dois jovens portugueses, que no início dos anos 60 brindaram “Viva
à Liberdade”. Hoje Portugal está longe desta realidade, mas em muitos países do mundo há milhares
pessoas que continuam a ser injustamente presas ou condenadas.
Nas páginas seguintes apresentamos quatro situações urgentes de pessoas iguais a nós, que sofreram
violações graves aos seus direitos enquanto seres humanos.
É URGENTE QUE SEJA FEITA JUSTIÇA!
ELAS PRECISAM DA NOSSA AJUDA! E A SUA ASSINATURA PODE FAZER TODA A DIFERENÇA!

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30 Notícias • Amnistia Internacional

GUINÉ EQUATORIAL
Nove pessoas detidas sem qualquer acusação

Marcelino Esono, Santiago Asumu, Juan Ekolo, Filémon Ondó, António Otogo, Beatriz
Ondó e Gerardo Micó, são sete cidadãos da Guiné Equatorial, do partido da oposição
União Popular, que, entre os dias 18 de Fevereiro e 1 de Março, foram detidos sem man-
dato ou acusação na cidade de Bata e em Malabo. Dois outros homens, Norberto Nsue
Micha e Luís Nzo Ondó, do mesmo partido, foram presos a 22 de Março.
As detenções ocorreram no seguimento do ataque ao Palácio Presidencial de 17 de
Fevereiro, que resultou na morte de um dos atacantes após um intenso tiroteio com os
guardas. O Presidente do país, Teodoro Nguema, não se encontrava na residência ofi-
cial, mas dias depois veio dizer, na televisão nacional, que houve cidadãos guineenses
a colaborar e a financiar a tentativa de golpe de Estado. Admitiu não saber quem
foram, mas garantiu que seriam julgados por “agressão e terrorismo”.
As nove pessoas que referimos foram entretanto levadas para a prisão de Malabo, mas
© PRAWA

continuam sem qualquer acusação formal ou julgamento, numa clara contradição com a lei nacional, que exige um mandato de
captura para o aprisionamento e estipula que os presos devem ser informados das acusações de que são alvo e presentes a tribunal
num prazo de 72 horas.
A Amnistia Internacional acredita que os nove foram detidos apenas pela sua filiação política, o que os torna prisioneiros de cons-
ciência. Acrescente-se que não é a primeira vez que alguns deles são presos. Desta vez, pelo menos dois dos nove detidos, Marcelino e
Santiago, denunciaram terem sido torturados durante os interrogatórios. Perante as detenções ilegais, é urgente exigir às autoridades
a libertação imediata dos nove prisioneiros de consciência e investigar os alegados maus tratos. Participe! Contamos consigo.

(Carta-apelo em anexo no interior desta revista, bastando apenas assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data)

RÚSSIA
Caso de Anna Politkovskaya volta ao início

Aos 48 anos, a jornalista e defensora dos direitos humanos russa Anna Politkovskaya
foi assassinada no elevador do prédio onde morava, em Moscovo, a 7 de Outubro de
2006. Refira-se que era conhecida por denunciar as atrocidades cometidas pelo exér-
cito russo contra o povo checheno. Ao mesmo tempo tecia duras críticas ao seu governo,
tornando pública a corrupção entre as estruturas estatais e a brutalidade policial. Pela
sua coragem, era reconhecida em todo o mundo, mas recebia também fortes ameaças,
que culminaram no seu assassinato.
Pouco depois do crime, foi aberto um inquérito na Procuradoria-Geral. Em Junho de
© Katja Tahja 2008 quatro homens foram acusados de ajudarem a organizar o assassinato de Anna.
Segundo a Procuradoria, o ex-polícia Sergei Khadzhikurbanov teria sido o responsável
por contratar os criminosos. Entre eles estariam os irmãos Dzhabrail e Ibragim Makhmudov, que mantinham Politkovskaya sob vi-
gilância. No dia do crime, o primeiro e um outro irmão, Rustam, teriam ido até ao prédio de Anna e cometido o assassinato. Face às
provas reunidas, foram acusados dois irmãos Makhmudov, Sergei Khadzhikurbanov e um ex-tenente-coronel dos serviços secretos
russos, Pavel Riaguzov, por transmitir informações sobre a jornalista aos autores materiais do crime.
O julgamento dos quatro homens começou a 17 de Novembro de 2008, em Moscovo, tendo terminado a 19 de Fevereiro, quando o
júri decidiu que as provas apresentadas suscitavam dúvidas, não sendo suficientes para condenar os réus. O caso regressou ao
Comité de Investigação da Procuradoria-Geral. A Amnistia Internacional lamenta que nada tenha ficado provado, mas, como disse a
advogada de acusação: “Anna não teria querido que alguém fosse sentenciado por um crime que não tivesse cometido”.
Assim, o mais importante agora é apelar para que as investigações prossigam e para que a morte de Anna Politkovskaya não fique
impune. É também fundamental exigir à Rússia maior liberdade para os jornalistas no território. Participe! Contamos consigo.

(Carta-apelo em anexo no interior desta revista, bastando apenas assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data)

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Notícias • Amnistia Internacional 31

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA


Cubana impedida de visitar marido na prisão

Em 1998, o marido de Olga Salanueva, René González, foi detido com outros quatro
homens, todos de nacionalidade cubana, acusados de “actuarem como agentes não
registados de um governo estrangeiro”. O seu julgamento decorreu entre Novembro de
2000 e Dezembro de 2001, tendo René sido condenado a quinze anos de prisão. Ainda
antes disso, Olga foi deportada para Cuba, alegadamente porque o marido recusou
negociar a sua pena, o que permitiria a permanência da família nos Estados Unidos da
América, onde, acrescente-se, estavam legais.
Já em Cuba, em Março de 2002, Olga solicitou às autoridades norte-americanas um
visto temporário para visitar o marido. A entrada foi-lhe concedida, mas poucos dias
antes da viagem o visto foi revogado. Segundo as autoridades, tal prendeu-se com
questões de segurança nacional, pois acreditam que esteja envolvida com o terrorismo
© Privado e a espionagem. Ressalve-se que a cubana nunca foi acusada de nada. Olga tornou
então a pedir vistos temporários, mas estes foram-lhe sempre negados, por nove vezes,
sob diferentes justificações. No passado mês de Março, Olga recebeu a última recusa e foi informada que está permanentemente
inelegível para vistos de entrada no país, ou seja, que nunca mais os poderá solicitar.
Com tudo isto, Olga Salanueva não vê o marido há quase nove anos e a filha mais nova do casal, Ivette, ficou sem ver o pai até 2006,
quando teve idade suficiente para viajar acompanhada de outro familiar. Embora a Amnistia Internacional não tenha tido acesso
às provas nas quais o Governo norte-americano assenta as recusas do visto, impedir a visita dos familiares dos prisioneiros é uma
forma de punição desnecessária e que contradiz os padrões internacionais que exigem o tratamento humano dos detidos.
É imperativo apelar às autoridades norte-americanas para que cumpram as suas obrigações internacionais e permitam que Olga
Salanueva visite o marido. Participe! Contamos consigo.

(Carta-apelo em anexo no interior desta revista, bastando apenas assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data)

MYANMAR
Penas severas para defensores dos direitos humanos

Em Agosto de 2007, as televisões mostravam os protestos no


Myanmar, que terminaram no final de Setembro, com uma violenta
repressão por parte das autoridades. Começou então a caça aos
organizadores das manifestações, o que obrigou muitos a escon-
derem-se. Foi o caso de Htay Kywe, de 40 anos, de Mie Mie, de 39
anos e mãe de duas crianças, e de Zaw Htet Ko Ko, de 28 anos e pai
© Privado © Amnistia Internacional © Privado
de um bebé. A 13 de Outubro de 2007 os três foram detidos na casa
que lhes servia de esconderijo, em Yangon.
Os activistas, e pelo menos mais 32 pessoas, foram acusados de: associação ilegal; distribuição de material escrito sem autorização
da censura; e por criticar o Governo. No total, Htay Kywe e Mie Mie enfrentaram nove acusações e Zaw Htet Ko Ko seis. Antes dos
julgamentos, os arguidos exigiram não irem algemados para a audiência, ser permitida a entrada aos jornalistas e que o julgamento
fosse público. Tudo isto foi ignorado.
Nesta altura, não decorreram ainda todos os julgamentos que os activistas terão de enfrentar, no entanto, registe-se que Htay Kywe
e Mie Mie acumulam já penas que perfazem 65 anos de prisão, enquanto líderes dos protestos, e Zaw Htet Ko Ko foi condenado a
onze anos de detenção. Os três prisioneiros correm ainda sérios riscos de tortura, acreditando-se que alguns tenham já sofrido maus
tratos. Para além disso, está a ser-lhes negado tratamento médico adequado, quando Htay Kywe tem tensão alta e Mie Mie um pro-
blema de coração.
Para a Amnistia Internacional, os três activistas são, na verdade, prisioneiros de consciência, perseguidos e condenados por per-
tencerem ao movimento pró-democracia “Geração de Estudantes de 88” (em memória da revolta que ocorreu nesse ano depois de 26
anos de ditadura militar).
Perante tudo isto, é urgente exigir a libertação imediata dos três activistas e solicitar que recebam tratamento adequado enquanto
estão na prisão. Participe! Contamos consigo.
(Carta-apelo em anexo no interior desta revista, bastando apenas assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data)

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32 Notícias • Amnistia Internacional

AGENDA
INDIE LISBOA 2009 novos, e os seus pais, para a importância Mais informações brevemente em www.
dos brinquedos na formação das crian- amnistia-internacional.pt ou pelo email
ças. As “armas” podem ser entregues na boletim@amnistia-internacional.pt
Amnistia Internacional ou nas escolas
básicas que se associem ao projecto.
Se a escola do seu filho, ou a instituição UM MUNDO REUNIDO
Entre os dias 23 de Abril e 3 de Maio, onde trabalha, ainda não aderiu a esta EM FAMÍLIAS
vai decorrer mais uma edição do festi- iniciativa, escreva-nos para boletim@
val internacional de cinema indepen- amnistia-internacional.pt
dente Indie Lisboa, ao qual a Amnistia
Internacional Portugal está associada há
cinco anos. À semelhança das edições EM NOME DA LIBERDADE
anteriores, vai ser distinguido, no dia 2 DE EXPRESSÃO
de Maio, o filme que melhor representar Quando se assinala o Dia da Liberdade
a dignidade humana, ao qual será en- de Imprensa, a 3 de Maio, a Amnistia In- No próximo dia 28 de Maio, quando a
tregue o Prémio Amnistia Internacional, ternacional e a Associação de Cartoonis- Amnistia Internacional lança a cam-
no valor de 1.000 euros. Quatro curtas tas FECO Portugal realizam uma tertúlia panha “Exija Dignidade”, vai ser inau-
metragens e oito longas estão a concor- para reflectir sobre a temática, que con- gurada uma exposição impactante, que
rer a esta distinção. Mais informações tinua muito actual 35 anos depois do 25 poderá visitar, durante um mês, em fren-
em www.indielisboa.com ou em www. de Abril. O debate servirá de mote para te ao Planetário, em Belém, Lisboa. A
amnistia-internacional.pt. Não perca! a inauguração de uma exposição inter- exposição, que vem pela primeira vez a
nacional de cartoons sobre o tema “A Portugal graças a uma parceria entre a
Liberdade é um Risco”, que estará a- Amnistia Internacional e a empresa Terra
ENTREGA-NOS AS TUAS ARMAS berta ao público na Biblioteca Municipal Esplêndida, percorre o mundo através de
Orlando Ribeiro, em Telheiras, entre os retratos de famílias. O fotógrafo, o alemão
dias 3 e 30 de Maio. Mais informações Uwe Ommer, viajou durante quatro anos
em www.amnistia-internacional.pt por dezenas de países para registar, em
imagens, as famílias de todo o Planeta.
Estas provam, uma vez mais, que apesar
ABERTO CONCURSO PELA de sermos todos diferentes, temos muito
DIGNIDADE HUMANA em comum, neste caso, a família. Uma
A 28 de Maio, quando a Amnistia In- exposição a não perder.
ternacional lança a campanha “Exija
Dignidade”, que visa nos próximos anos
acabar com as violações aos direitos hu- PARABÉNS AMNISTIA
manos que perpetuam situações de po- INTERNACIONAL
breza, a secção portuguesa da organiza- O mês de Maio traz bons motivos para
No âmbito da campanha da Amnistia
ção vai lançar o concurso: “Arte para afinar a voz e cantar os Parabéns. Logo
Internacional “Controlar as Armas”,
a Dignidade”. Dividido em quatro ca- no dia 18, a secção portuguesa da Am-
está a ser lançado um desafio aos mais
tegorias – escultura, pintura, fotografia nistia Internacional completa 28 anos
pequenos activistas para que, até ao fi-
e conto – o concurso dirige-se a artistas, de existência e dez dias depois, a 28 de
nal de Junho, entreguem à organização
profissionais ou amadores. As inscrições Maio, celebra-se a criação da Amnistia
os seus brinquedos que sejam armas.
estão abertas até 15 de Julho e as obras, Internacional por Peter Benenson, em
Estes irão depois ser transformados,
uma por artista, deverão ser entregues 1961. Por isso afine a sua voz e cante.
pela reconhecida artista Joana Vascon-
até 1 de Outubro. Um júri (a anunciar) irá Saiba mais na rubrica “Em Acção Jovem”
celos, numa escultura que será tornada
analisar os trabalhos e distinguir os três desta revista. O Núcleo do Oeste/Caldas
pública no Dia Internacional dos Direitos
melhores de cada categoria, sendo os re- da Rainha da Amnistia Internacional
Humanos, a 10 de Dezembro. Com o
sultados anunciados a 10 de Dezembro, pede ainda que, em ambos os dias, todas
título “A Guerra não é um Brinquedo”,
Dia Internacional dos Direitos Humanos. as pessoas da região acendam uma vela
esta acção pretende sensibilizar os mais

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Notícias • Amnistia Internacional 33

junto à janela. Mais informações sobre sariado das Nações Unidas para os Refu-
estas e outras acções em breve em www. giados. Neste Dia Mundial do Refugiado, TOME NOTA
amnistia-internacional.pt. a Amnistia Internacional vai estar no
Espaço Polivalente da Fundição de Oei-
ras para debater este flagelo, numa ini- • 3 DE MAIO
VAMOS CAMINHAR PARA ciativa da Câmara Municipal de Oeiras. Dia Mundial da Liberdade de Im-
ACABAR COM A FOME No local vai estar também patente uma prensa
Às 10 horas do dia 7 de Junho, o mundo exposição sobre um quarto de século de
• 18 de MAIO
inteiro vai unir-se para mais uma Mar- actividade da secção portuguesa da Am-
cha Contra a Fome. O evento, que se nistia Internacional. Aniversário da secção portuguesa da
Amnistia Internacional
realiza na mesma data e à mesma hora
em centenas de países, tem como objec- • 28 de MAIO
tivo angariar fundos para minimizar as
AINDA HÁ VÍTIMAS DE TORTURA
• Aniversário da Amnistia Interna-
carências alimentares e educacionais No ano em que se assinalam os 25 anos cional
das crianças. Cada pessoa contribui com da criação da Convenção contra a Tortu- • Lançamento do Relatório Anual
cinco euros e vai marchar, em Lisboa e no ra e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, da AI
Porto, com a t-shirt e o boné do evento, Desumanos ou Degradantes, a 26 de Ju- •Lançamento da Campanha “Exija
para que o mundo recorde a urgência de nho, a Amnistia Internacional e o Insti- Dignidade”
acabar com a fome. As inscrições poderão tuto de Ciências Sociais da Universidade • 4 de JUNHO
ser feitas na TNT, empresa organizadora de Lisboa vão reflectir sobre os resultados
Assinalam-se 20 anos sobre o Mas-
do evento em Portugal, em algumas do European Social Survey. Este projecto
sacre de Tiananmen, na China
agências do BES e nas lojas SportZone. consistiu num inquérito, desenvolvido
Mais informações em www.tnt.com entre 2001 e 2005, em mais de 20 países • 20 de JUNHO
da União Europeia, que procurou analizar Dia Mundial do Refugiado
as mudanças de atitudes e de valores na
RELEMBRAR OS MILHÕES • 26 de JUNHO
Europa, ao nível, por exemplo, da imigra-
DE REFUGIADOS ção e da cidadania, entre muitos outros Dia Internacional de Apoio às Víti-
aspectos. Informações mais detalhadas mas de Tortura
No próximo dia 20 de Junho é tempo de
lembrar que, em todo o mundo, há pelo sobre o evento, mais perto da data, em • 17 de JULHO
menos 11 milhões de refugiados e 26 www.amnistia-internacional.pt
Dia Mundial da Justiça
milhões de pessoas deslocadas inter- Internacional
namente, segundo dados do Alto Comis-
Por Rodrigo de Matos
A Dignidade Humana

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34 Notícias • Amnistia Internacional

CRÓNICA
Em nome da liberdade
Por Rui Costa Pinto*

um clima podre em que o direito à indi- Hoje, e face a um primeiro-ministro que


gnação é confundido com um qualquer se julga acima do escrutínio, é preciso
tipo de heroísmo. dizer que a Lei da Rolha não vingará.
Seja qual for o assunto, da vergonha de
Os escândalos financeiros, as fraudes
Guantánamo à negociata do Freeport, da
e as negociatas multiplicam-se, a um
falta de meios à escandalosa morosi-
ritmo vertiginoso, sem uma resposta do
dade dos inquéritos criminais, é preciso
Parlamento, dominado por quem con-
informar mais e melhor, pois só assim o
funde a legitimidade dos mandatos com
medo não vencerá.
a imposição implacável da soma dos
votos. A crescente descredibilização da Hoje, é preciso mais trabalho, rigor e di-
Justiça apenas tem servido para alimen- gnidade profissional, de forma a encarar
tar ainda mais a percepção de impuni- de frente a arrogância, o autoritarismo e
dade em relação aos poderosos. até quem tem o atrevimento de exibir o
gosto por malhar.
Como nunca desde o 25 de Abril, é fun-
damental que os jornalistas não se dei- Hoje, é preciso voltar a dizer: não temos
© Privado xem condicionar. É imperioso falar ver- medo!
dade, estar ao lado do cidadão e impedir
que ele se sinta abandonado e à mercê
Trinta e cinco anos depois do 25 de Abril, o de um aparelho de Estado prepotente e
medo regressou à sociedade portuguesa. partidarizado.
O medo dos cidadãos em participar na
vida do país e dos jornalistas em exercer A falta de transparência ao nível da
o direito constitucional de informar. É pre- governação e do Estado também atingiu
ciso dizê-lo, repeti-lo, as vezes que forem limites intoleráveis. É preciso exigir res-
necessárias, sobretudo quando exis- ponsabilidades sobre a atitude de suces-
te uma ofensiva sem precedentes contra sivos governos em relação aos voos da
a liberdade de imprensa e as liberdades CIA e ao transporte ilegal de prisioneiros
individuais. através de território português. É preciso
exigir respostas sobre a dança de políti-
Já ninguém se surpreende com um pro- cos que saltitam entre o poder Executivo e *O jornalista Rui Costa Pinto trabalhou já para
cesso disciplinar por delito de opinião, as empresas públicas e, agora, – pasme- vários órgãos de comunicação social, como o
com a suspeita de favorecimento de um -se! –, directamente de um banco público ‘Diário de Notícias’, a revista ‘Visão’, o extinto
empresário ou com um discurso desa- para outro privado à custa da promoção semanário ‘O Independente’, entre outros. Ficou
brido de José Sócrates em relação à Co- de empréstimos ruinosos e finos com o recentemente conhecido por ter rescindido um
municação Social. dinheiro dos contribuintes. É preciso exi-
contrato de trabalho com uma revista, ao ter sido
impedido de publicar uma reportagem realizada
Por acção de uma maioria política asfixi- gir decência a quem se agarra à cadeira nos Açores, sobre os voos da CIA em direcção a
ante, e de uma crise global, muitos são de um órgão de Estado ao mesmo tempo Guantánamo, que continha relatos de testemun-
os que têm, novamente, de pagar um que, diariamente, é tratado como um vul- has que tinham avistado prisioneiros agrilhoados
preço por não abdicarem da liberdade de gar meliante. Em suma, é preciso exigir na Base das Lajes. O que não conseguiu denun-
ciar na imprensa, está agora registado no seu
expressão. Contudo, de uma forma geral, respeito pelos princípios de responsabili- livro «Voos ‘Secretos’ CIA — Nos Bastidores da
a maioria prima pela apatia e pelo silên- dade política e o dever de prestar contas Vergonha». Mais informações em www.rcpedi-
cio, em nome da sobrevivência, gerando públicas. coes.com

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